A PELE, A SOFROLOGIA E A ESTÉTICA INTRODUÇÃO Para falar de sofrologia e estética é necessário aceitar o risco do desconhecido. Isto aconteceu-me como um desafio fantástico no ano de 1999. Eu estava a trabalhar numa farmácia quando observei o grande número de marcas de cosméticos usados que os clientes procuravam e os resultados obtidos. Nessa altura, também frequentava o ciclo de sofrologia radical. Cedo percebi que esta ciência era transversal à vida, fosse no plano pessoal ou profissional. Então constatei que a sofrologia poderia adicionar uma maior consciência corporal e gestão de energia e stresse, tanto ao profissional como ao cliente, e que a estética tinha muito a ganhar quando o descobrisse. Tendo sido convidada por uma marca de cosméticos para uma formação inovadora, aceitei e durante os anos de 1999 a 2005, estive no Porto, em Lisboa e depois no Brasil. Esta partilha é baseada nesta experiência. A PELE Sob o ponto de vista anatómico e histológico vou apenas aflorar o tema pois a pele é a principal razão de nossa conferência. A pele é um órgão composto por várias camadas de tecidos. Tem três camadas principais: a epiderme, a derme e a hipoderme. É a principal barreira de protecção do organismo. É o maior órgão do corpo e um dos mais importantes. Para um adulto tem uma superfície de 2m² e pesa cerca de 5 kg. A s suas funções são muito importantes. A pele é a primeira barreira de protecção do corpo. Devido à sua especial textura e composição, protege os órgãos internos de um rauma físico, mecânico ou químico. A sua fisiologia interfere com o metabolismo. Com a ajuda do Sol, a pele está presente na síntese da vitamina D que nos é vital. Pelo seu contacto directo com o sangue e a linfa, é uma importante reserva de energia do corpo e relaciona-se com o bom funcionamento imunológico. É na manutenção da estabilidade térmica que podemos encontrar uma das suas principais funções. Outras são a respiração cutânea e a função excretora. A pele, a sofrologia e a estética II Jornada Italo-Ibérica – 2012 Maria Hélia Viegas Esta faz-se através das secreções sudoríperas e sebáceas que libertam toxinas para o exterior. Apesar de as trocas gasosas se fazerem em mínimas quantidades, se a sua integridade estiver danificada em percentagens elevadas, o trabalho das glândulas sudoríperas que estabilizam a temperatura fica impedido e o nosso corpo sobreaquece, o que faz com que os nossos órgãos vitais entrem em falência. Por último a função táctil. A pele está cheia de terminações nervosas que nos permitem explorar tudo à nossa volta através do toque. Estes receptores reagem em função de estímulos diferentes e em áreas distintas no cérebro. Temos uma especial sensibilidade à pressão, à temperatura e à dor. A pele, fronteira entre a nossa intimidade e o mundo exterior, é também a porta para a nossa consciência. É o órgão mais sensível e tem em si um dos nossos cinco sentidos: o tacto. Enquanto os outros quatro sentidos estão localizados no primeiro sistema, este abrange todo o corpo. A pele não é apenas um invólucro comporta-se como o espelho da alma. Ela reflecte o nosso estado psíquico. O toque tem uma importância primordial no sentir e no desenvolvimento harmonioso do ser ligado à vida afectiva. Ele estimula a libertação da dopamina e endorfina, hormonas do prazer. São ditos populares muito habituais em Portugal “estar mal na sua pele” ou “ter os nervos á flor da pele”. A pele guarda na sua memória todas as carícias desde o nascimento assim como todas as ausências, todas as feridas da vida. A ESTETICISTA A esteticista quer os melhores resultados para a sua cliente usando os produtos que tem no seu gabinete. E nos dias que correm, qual a melhor rentabilidade? A esteticista não sofronica Olhemos para a situação antes da sofrologia A Maria tem uns anos de experiência. O seu gabinete foi montado com sucesso mas nos dias que hoje correm ela chega a casa estoirada! Umas ferias faziam-lhe bem... Tem principalmente dores nas costas, pescoço tenso e frequentemente lhe dói a cabeça. Durante os tratamentos achou as clientes chatas e irritantes. Estava sem paciência. O trabalho normalmente fá-la distrair-se dos seus problemas pessoais mas há dias em que não dá. Não vê com bons olhos o futuro... cheio de nuvens, a anunciar um temporal que ela dispensava ter que lidar... A pele, a sofrologia e a estética II Jornada Italo-Ibérica – 2012 Maria Hélia Viegas A esteticista sofronica Joana tem o seu gabinete há já alguns anos mas ela entende que pode sempre fazer mais e inovar. Aproveitou a oportunidade que a marca de cosmética com a qual trabalha lhe proporcionou e fez uma formação de sofrologia aplicada à estética. Ao conhecer e praticar repetidamente esta ciência de técnicas simples, Joana pôde integrar e usufruir dos benefícios da Sofrologia em si mesma para transmitir ano seu trabalho, não só com a voz mas também com as suas mãos. Decidiu praticar consigo o que aprendeu e, não só rapidamente se sentiu muito melhor, como também verificou resultados no seu trabalho. O que mudou na sua atitude ? 1. desenvolveu as suas próprias qualidades de percepção interior, obteve uma boa noção do seu esquema corporal, o que a levou a compreender melhor o corpo da outra pessoa 2. desenvolveu um diagnóstico mais objectivo e real. Passou a ter em conta, ao observar alguém, que não existem emoções, mesmo ligeiras, sem expressão somática (pode melhor captar, o gesto, a palavra, a mímica da sua cliente) 3. todos os seus sentidos ficaram mais alerta, em que o tacto tem especial relevo neste campo (A PELE TAMBÉM FALA). Tomou consciência de que as mãos são instrumentos indispensáveis. É com elas que a esteticista vai sentir o que a voz não diz. Com o toque e as reacções naturais do seu cliente, vai revelar-se o que havia a acrescentar e pouco a pouco o trabalho que a mão executa ajuda a desfazer as resistências que muitas vezes aparecem associadas a certos clientes ou a certos tratamentos que podem criar apreensões ou ansiedades. 4. a sua recuperação entre tratamentos tornou-se mais fácil e rápida e, por saber ler o seu corpo, passou a chegar ao final do dia menos fatigada 5. conseguiu criar mais tempo disponível para estar realmente presente no tempo que passa com os seus clientes, o que lhe permite sorrir, escutar com mais atenção e paciência, … 6. passou a ter uma postura firme que fortalece o seu autocontrole e a sua autoprotecção 7. conquistou uma paz e serenidade interiores, uma natural segurança e confiança em si mesma. Integrou um outro estado de consciência que flui de si para o exterior sem esforço. Aprendeu a Ser. 8. conhece melhor os seus clientes e é capaz de orientar o seu trabalho num sentido mais positivo e mais rentável. A prática diária está a beneficiar não só o seu trabalho como a sua vida particular e social. A pele, a sofrologia e a estética II Jornada Italo-Ibérica – 2012 Maria Hélia Viegas O CLIENTE E que vantagens para a cliente ao escolher um gabinete com uma esteticista com formação em sofrologia? Antes de mais, há que encontrar um gabinete com ambiente agradável (não significa luxoso) que permita proporcionar desde logo, uma sensação de conforto, harmonia e acolhimento. Em segundo lugar, o cliente deve procurar uma esteticista com a qual se possa estabelecer uma aliança de confiança e que lhe proporcione tranquilidade. O cliente é aquele que se entrega ao outro. Ele paga a alguém para que este faça um trabalho que ou não quer fazer ou não pode e os laços que se criam podem ser muito enriquecedores. É muito provável que o cliente seja alguém muito acostumado a fazer muitas coisas e a dar muito de si mesmo e que não saiba parar e saborear o tempo. Às vezes mais urgente que a estética, ele procura receber uma atenção sofrológica e necessita que alguém o ensine como descobrir os valores para uma vida melhor. A SOFROLOGIA Para o nosso século, a angústia é conhecida como uma das patologias mais graves da população mundial, pois é através dela que nascem praticamente todas as outras doenças. A sofrologia é hoje aplicada a pessoas saudáveis como profilaxia social e tornou-se uma ferramenta contra esta ameaça. - o princípio do esquema corporal como realidade vivida Ninguém melhor do que a profissional de estética, para proporcionar um bom relaxamento da pessoa que tem em mãos. Para que sinta o seu corpo, sem angústias, sem emoções negativas. Com um bom relaxamento, a respiração faz-se de forma tranquila e a pessoa sente-se melhor. Permitir que o outro possa desfrutar esses momentos tão agradáveis, deixa subtilmente instalar já um grande objectivo que é o de atenuar os receios e relativizar os incómodos que possam estar associados a uma determinada técnica utilizada, seja ela qual for (desde uma massagem até à depilação). É o começo de uma gestão de stresse de uma forma simples e subtil. - o princípio da realidade objectiva A esteticista não deverá só preocupar-se em modificar e melhorar o aspecto da pessoa, mas sobretudo fazer aparecer quem realmente ela é e ajudá-la a gostar A pele, a sofrologia e a estética II Jornada Italo-Ibérica – 2012 Maria Hélia Viegas de si a aceitar-se. Acontece frequentemente a pessoa ter uma visão distorcida de si mesma. Ao longo das sessões, o cliente aprende a relativizar as emoções, reduzindo-as às suas proporções, desdramatizando e modificando o seu comportamento perante os problemas. - o princípio de acção positiva O próprio facto da cliente querer oferecer a si mesma aqueles momentos deve ser bem valorizado. O seu amor próprio existe. A esteticista fará o resto. Com a sua voz apaziguadora (terpnos logos), com uma atenção quase maternal, utilizará as palavras que lhe restituirão a calma, a tranquilidade, a paz e a harmonia. Assim o cliente permite que alguém cuide dele e recorda esse bom hábito que é receber, parar e descansar. - o princípio da adaptabilidade O encontro entre duas pessoas é sempre complexo. Mas a sofrologia permite deixar surgir aquele que somos com total autenticidade, sem censura, num ambiente pleno de aceitação e bem-estar. A sofrologia permite adaptar as técnicas para assegurar a comodidade da pessoa. As técnicas que despertaram maior atenção e que viemos a saber que foram as mais aplicadas, foram: as 3 técnicas-chave, a sofro-substituição sensorial e a sofro-aceitação progressiva. CONCLUSÃO A estética tem em si uma série de factores que a tornam ideal para a aplicação da sofrologia no cliente. Tanto este como o profissional podem vir a beneficiar uma grande melhoria na sua qualidade de vida. O facto de eu ter conhecido a sofrologia, faz-me perceber a responsabiidade que tenho em poder acrescentar estes conhecimentos a determinadas profissões, como o caso da estética, e poder dar a escolher novas direcções que, por sua vez, podem alterar o percurso das pessoas para uma maior positividade. Como não havia uma estrutura em Portugal que apoiasse este projecto, este ficou suspenso e ficou congelado no tempo. Agora com a Escola de Santarém vamos procurar conhecer o feedback destes últimos 7 anos para que não continue a existir esta sensação de responsabilidade adiada que nunca ficou esquecida. A pele, a sofrologia e a estética II Jornada Italo-Ibérica – 2012 Maria Hélia Viegas