FACT SHEET A garantia da posse comunitária da floresta: seus custos e benefícios. Os exemplos do Brasil e Guatemala. O que significa garantir os direitos de posse da floresta? Significa garantir a populações indígenas e comunidades que vivem na floresta o direito de gerir, controlar e usar as suas terras e recursos florestais com segurança. Garantir a posse dá à população local uma segurança maior de que o governo irá respeitar o direito dessas pessoas, além de protegê-las contra outros que queiram tomar a posse ou controlar as terras e seus recursos. Quais áreas geográficas foram incluídas no estudo? No Brasil, o estudo analisou Terras Indígenas legalmente reconhecidas que cobrem mais de 111 milhões de hectares, ou seja, um quarto da Amazônia, que representa 13% de todo o território do Brasil. Na Guatemala, incluiu nove Concessões Florestais Comunitárias estabelecidas numa área protegida, a Reserva da Biosfera Maia. A Reserva foi criada em 1990 e cobre 2,08 milhões de hectares. As nove concessões comunitárias ocupam 332 mil hectares. Quais sāo os custos associados com a garantia da posse florestal? No Brasil, os custos considerados incluem gastos dos governos nacional e local na gestão, operação e monitoramento das Terras Indígenas e um financiamento da organização nāo-governamental The Nature Conservancy para os planos de manejo. Na Guatemala, os custos incluem contribuições nacionais e internacionais para a criação das Concessões Florestais Comunitárias na Reserva da Biosfera Maia; monitoramento e fiscalização governamental e comunitária; termos de produção de madeira. No entanto, não foi possível incluir todos os custos possíveis devido à limitação de dados. No Brasil, por exemplo, são desconhecidos os custos associados com o cumprimento do Direito Constitucional dos Povos Indígenas às Terras Indígenas. Qual é o impacto da garantia da posse florestal no desmatamento? Garantir a posse incentiva a população local a investir trabalho e recursos para manter a saúde da floresta que pertence aos residentes, que mantêm a expectativa de ganhos e benefícios a partir dos recursos florestais no futuro. As taxas de desmatamento, portanto, tendem a ser menores em áreas onde as pessoas têm a posse garantida do que em áreas onde esse direito é frágil. Como o desmatamento influencia as mudanças climáticas? As florestas são o segundo maior sumidouro de carbono no planeta - os oceanos vêm em primeiro lugar. A floresta amazônica, por exemplo, armazena de 90 bilhões a 140 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente à emissão global induzida pelo homen no período entre 9 e 14 anos, com base nos dados atuais. Quando as florestas são desmatadas ou queimadas, todo esse carbono que elas armazenaram é liberado na atmosfera, o que contribui para as mudanças climáticas. Em todo o globo, cerca de 15% das emissões de gases estufa vêm do desmatamento. Qual é o principal benefício da garantia de posse florestal apontado pelo estudo? O principal benefício apontado é a quantidade de desmatamento evitado e o valor das emissões de carbono que foram evitadas. A análise das Concessões Florestais Comunitárias na Guatemala também incluiu benefícios associados com o manejo sustentável de madeira e outros produtos florestais não madeireiros. Existem ainda outros benefícios sociais e econômicos, mas a dificuldade de avaliá-los financeiramente é maior e não foram incluídos no estudo. Esses benefícios incluiriam os ganhos trazidos pelo aumento da ação coletiva e diminuição dos conflitos, e os serviços ecossistêmicos como a prevenção de incêndios e biodiversidade. Como o estudo determinou o total de desmatamento e emissões de carbono que foram evitados? • Nos países analisados, os pesquisadores compararam as taxas de desmatamento nas florestas onde a população local tem a garantia da posse às taxas nas florestas onde o direto da posse é frágil. A partir desses dados, os pesquisadores contabilizaram a quantidade anual de desmatamento evitado em cada país. • Como os cientistas também sabem a quantidade de carbono estocado por hectare nessas florestas, eles multiplicaram a área de desmatamento evitado pelas toneladas de carbono estocado para determinar o total de carbono que deixou de ser emitido em cada área. Como o estudo chegou a um valor monetário? • A comunidade global que estuda mudanças climáticas chegou a um acordo básico sobre o “custo social do carbono”. Ele representa o custo dos danos evitados quando uma tonelada de CO2 deixa de ser emitida. Os tipos de prejuízos considerados incluem danos à saúde humana, à infraestrutura e aos serviços ecossistêmicos. O governo dos Estados Unidos avalia que o custo social do carbono é de US$ 41 por tonelada de CO2. • Portanto, o estudo multiplica o número total de toneladas de emissões de carbono que foram evitadas em cada país por US$ 41. O valor foi projetado por um período de 20 anos. Quais são as principais conclusões do estudo em relação aos benefícios e custos da garantia de posse florestal? • A garantia da posse florestal no Brasil e na Guatemala pode evitar a emissāo de 5,4 bilhōes de toneladas de CO2 num período de 20 anos. • No Brasil, o valor total da mitigação de carbono varia entre US$ 161,6 bilhões e US$ 193,9 bilhões. Em outras palavras, isso quer dizer que um investimento de US$ 19 por hectare nos dias de hoje renderia, em 20 anos, o equivalente a US$ 1.473 em benefícios. • Na Guatemala, o valor total da mitigação de carbono e produção florestal sustentável varia entre US$ 647,9 milhões e US$ 863 milhões. Um investimento de US$ 63 nos dias de hoje renderia US$ 1.899 em benefícios. Sob uma perspectiva de custo-eficácia, como o investimento para garantir a posse florestal se compara a outros métodos de mitigação das mudanças climáticas? O custo estimado para evitar a emissão de uma tonelada de CO2 no Brasil é de US$ 0,39. Na Guatemala, essa relação é de US$ 2,26/tCO2. Ambos os valores estão muito abaixo do custo social do carbono, que é de US$ 41/tCO2. Portanto, em comparação com outras medidas tecnológicas, o investimento para garantir a posse florestal parece ser uma medida muito mais eficaz em termos de custo para mitigar as mudanças climáticas.