O BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO FONTE DE CRÉDITOS DE CARBONO: O CASO DA USINA JALLES MACHADO S/A . DE GOIANÉSIA-GO Elizabete Fernandes Gomes1 Antônio Pasqualetto2 Universidade Católica de Goiás, Departamento de Engenharia RESUMO Objetivou-se demonstrar o cenário atual dos problemas que podem ser causados pelo excesso dos gases do efeito estufa sobre o clima. São abordados alguns aspectos a origem por questões climáticas, e apresentadas possíveis soluções para a redução dos gases do efeito estufa através de projetos de seqüestro de carbono realizados no setor Sucroalcooleiro através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL estabelecido pelo Tratado de Quioto. Palavras-Chave: gases do efeito estufa, créditos de carbono, cana-de-açúcar, álcool, bagaço da cana-deaçúcar. ABSTRACT It was objectified to demonstrate the current scene of the problems that can be caused by the excess of the gases of the effect greenhouse on the climate. Some aspects are boarded the origin for questions climatic, and presented possible solutions for the reduction of the gases of the effect greenhouse through projects of carried through carbon kidnapping in the Sucroalcooleiro sector through the Mechanism of Clean Development MDL established for the Treated one to Quioto. Key- words: gases of the effect greenhouse, credits of carbon, sugar cane-of-sugar, alcohol, bagasse of the sugar cane-of-sugar. 1- INTRODUÇÃO De acordo com Teixeira (2004), a atmosfera é constituída por uma mistura de gases, predominantemente o nitrogênio (N2) e o oxigênio (O2), além de vários outros gases como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hezafluoreto de enxofre (SF6) e as famílias dos perfluorcarbonos – compostos complementares fluorados –, em especial perfluormetano (CF4), perfluoretano (C2F6) e hidrofluocarbonos 1 Graduanda em Engenharia Ambiental – UCG, [email protected] Eng. Agro., Prof. Orientador Dr. Antônio Pasqualetto, Universidade Católica de Goiás - UCG, [email protected] 2 2 (HFCs) (UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE. UNFCCC, 2001), constituem os gases de efeito estufa. Esses gases têm a finalidade de reter o calor, mas os mesmos gases em quantidades excessivas podem causar sérios problemas ao mundo. Portanto, há preocupação mundial devido ao possível aumento de temperatura da Terra relacionado ao efeito estufa que, por sua vez, está relacionado com o aumento de CO2 na atmosfera. Conhecer em detalhes o ciclo do carbono, a nível global, as fontes e os principais sumidouros de CO2 no planeta, passou a ser assunto de interesse científico e econômico. São inúmeras as dificuldades encontradas em prever exatamente como esse efeito estufa nos afetaria, devido principalmente a complexidade sistêmica do clima global. Entretanto, algumas ações sintomáticas têm-se evidenciado, entre elas, os regimes de chuva e vento prevalecidos por centenas de anos sem grandes mudanças estabelecendo uma condição de sobrevivência da população humana, estão sofrendo alterações significativas. Na expectativa de estabilizar a concentração desses gases foi adotada em 1992 a Convenção do Clima tendo como objetivo essencial o controle das concentrações de gases causadores do efeito estufa (GEE) na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrôpica perigosa no sistema climático. Na perspectiva de atingir tal objetivo foram estabelecidas metas de controle de emissão desses gases, em especial o CO2, onde os países desenvolvidos terão que estabelecer medidas para diminuir as emissões em até 5% em relação aos níveis de 1990, até o período entre 2008 e 2012 (Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, 2005). Neste cenário surge o Protocolo de Quioto como a principal tentativa da maioria dos países de estabelecimento de uma regulamentação de normas ambientais internacionais, evitando que a poluição atmosférica persista nos níveis atuais. Alguns países como o Brasil podem se beneficiar, por possuírem tecnologias limpas, fator importantíssimo na contribuição da redução dos gases causadores o efeito estufa, além de poder vender essa tecnologia através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), este mecanismo consiste em que cada tonelada de CO2 deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento poderá ser comercializada no mercado mundial, criando um novo atrativo para redução de emissões globais. 3 Há necessidade de países industrializados entre eles os Estados Unidos, considerado o maior poluidor, ratifiquem o Protocolo de Quioto, sendo que o país é o líder no desenvolvimento de tecnologias responsáveis pela redução da emissão de gases poluentes, porém o mesmo se recusa a ratificar, devido o fato de que seu Presidente George W. Bush não concordar que a China e a Índia não possuam limites para a emissão de gases poluentes. Contudo, o Protocolo que a partir de 2005 tornou-se Tratado de Quioto abre espaço para um novo mercado, o comércio de carbono Este comércio é fruto dos créditos de carbono provenientes de projetos que prevê a redução de emissão de gases de efeito estufa ou aumento de remoção de CO2, implementadas em Partes Não Anexo I, que irão gerar Reduções Certificadas de Emissões (RCEs). (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL, 2002). 2. CONCEITUAÇÕES Na expectativa de um melhor entendimento deste artigo faz-se necessário, inicialmente, algumas abordagens conceituais de termos que serão citados com freqüência no decorrer do texto. O termo “Protocolo de Quioto”, por exemplo, é um instrumento jurídico internacional complementar e vinculado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - CQNUMC, que traz elementos adicionais à Convenção. (MDL, 2002). Criado em 1977, em forma de um protocolo, reúne, hoje, 141 países, todos membros da Convenção – CQNUMC. O acordo define para os países signatários metas de redução da emissão de gases de efeito estufa, em especial o gás carbônico (CO2), a serem atingidas no período de 2008 a 2012. Para entrar em vigor, o Tratado precisava ser ratificado por países responsáveis por pelo menos 55% das emissões globais. (Revista Brasileira de Saneamento e Meio Ambiente – BIO, 2005) O Protocolo de Quioto, adotado na Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, e em vigor desde fevereiro de 1997, estabeleceu metas aos países industrializados para que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sejam reduzidas em 5%, na média, com relação aos níveis verificados no ano de 1990. Essas metas são diferenciadas entre as partes, devem, em princípio, ser atingidas no período de 2008 a 2012 (MCT, 2005). São essas metas de redução dos países industrializados que geram a 4 demanda primária, base do mercado de crédito de carbono, cujo valor total estimado é muito variado, pois, dependem de uma série complexa de fatores políticos, tecnológicos e econômicos. O Protocolo de Quioto afetará praticamente todos os principais setores da economia, é considerado o acordo sobre o meio ambiente e desenvolvimento sustentável de maior projeção já adotado. Isso é um sinal de que a comunidade internacional está disposta a encarar a realidade e começar a tomar ações concretas para minimizar o risco da mudança do clima. Os negociadores do Protocolo só foram capazes de dar esse passo importante depois de enfrentar difíceis questões. A partir do Protocolo de Quioto alguns termos ganharam evidência nas discussões sobre as questões climáticas em todo o planeta. Porém, o que significa esses termos? • Créditos de carbono: são certificados que autorizam o direito de poluir. O princípio é simples. As agências de proteção ambiental reguladoras emitem certificados autorizando emissões de toneladas de gases poluentes. Inicialmente, seleciona-se indústrias que mais poluem no País e a partir daí são estabelecidas metas para a redução de suas emissões. O sistema de créditos de carbono irá fazer com que as empresas reduzem a quantidade de emissão dos gases causadores do efeito estufa. Existem vários exemplos de projetos que originam créditos de carbono, reflorestamento e estabelecimento de novas florestas, fontes renováveis de energia, eficiência e conservação de energia, aterros sanitários e projetos agropecuários. • Mercado de carbono: são mecanismos de flexibilização para o cumprimento das metas de redução de gases estabelecidos pelo Protocolo de Quioto, Comércio de Emissões, Implementação conjunta, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Entre os três mecanismos utilizados pelos países industrializados para o cumprimento das metas da Convenção, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é o que envolve a participação de países em desenvolvimento, objetiva a mitigação das emissões de gases nos países em desenvolvimento, na forma de sumidouros, investimentos em tecnologias limpas, eficiência energética (racionalização do uso de energia), florestamento e reflorestamento, fontes alternativas de energia, entre outras atividades, gerando créditos de carbono que podem ser comercializados com os países industrializados. Deve-se ressaltar que o MDL não é simplesmente um instrumento comercial onde o poluidor paga: os 5 projetos nesta linha devem contemplar impacto sócio-econômico benéfico, ser passível de transferência de tecnologia e contribuir para o desenvolvimento sustentável. • Comércio de emissões: este mecanismo permite que dois países sujeitos a metas de redução de emissões façam um acordo pelo qual o país A que tenha diminuído suas emissões para níveis abaixo da sua meta, possa vender o excesso das suas reduções para o país B, que não tenha alcançado tal condição. • Implementação conjunta: outro dos mecanismos do Protocolo de Quioto, pelo qual uma Parte Anexo I pode transferir para ou adquirir de qualquer outra Partes Anexo I unidades de redução de emissões – UREs (Unidades de Reduções de Emissões) a fim de cumprir seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões de gases de efeito estufa. (MDL, 2002). • MDL: pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os países do Anexo I (países ricos) poderão desenvolver projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável de países em desenvolvimento, de modo a ajudar a redução de suas emissões. Essas iniciativas gerariam créditos de redução para os países do Anexo I e, ao mesmo tempo, ajudariam os países em desenvolvimento com recursos financeiros e tecnológicos adicionais para financiar atividades sustentáveis e de redução das emissões globais. (BIO, 2005). • Seqüestro de carbono: consiste na captura e fixação do gás carbônico (CO2) pelas plantas, que associado com outros elementos, resulta em substâncias complexas, dentre as quais a própria madeira. O conceito de seqüestro de carbono foi consagrado pela Conferência de Quioto, em 1997, com finalidade de conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera, visando a diminuição do efeito estufa e também faz parte do MDL proposto na convenção clima, aprovada na Rio 92 e ratificada por centenas de países em Quioto (1997). (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, 2005). • Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima CQNUMC (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC): convenção negociada sob a égide das Nações Unidas, adotada durante a Rio-92 e cujo principal objetivo é a estabilização dos níveis de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. (MDL, 2002). • Partes: podem ser países isoladamente ou blocos econômicos, como por exemplo, a União Européia. 6 • Partes Anexo I: integrado pelas Partes signatárias da Convenção e pelos países industrializados da antiga União Soviética e do Leste Europeu. A Divisão entre Partes Anexo I e Partes Não Anexo I tem como objetivo separar as partes segundo a responsabilidade pelo aumento da concentração atmosférica de gases de efeito estufa. As Partes Anexo I possuem metas de limitação ou redução de emissões. (MDL, 2002). • Partes Não Anexo I: todas a Partes da CQNUMC não listadas no Anexo I, entre as quais o Brasil, que não possuem metas quantificadas de redução de emissões. (MDL, 2002). • Linha de Base (Baseline): no âmbito do MDL, a linha de base de uma atividade de projeto do MDL é o cenário que representa, de forma razoável, as emissões antrôpicas de gases de efeito estufa por fontes que ocorreriam na ausência da atividade de projeto proposta. As RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) serão calculadas justamente pela diferença entre emissões da linha de base e emissões verificadas em decorrência das atividades de projeto do MDL. (MDL, 2002). • RCEs: etapa final do projeto, representam as reduções de emissões de gases de efeito estufa decorrentes de projetos de MDL, são expressas em toneladas, podem ser utilizadas por Parte Anexo I como forma de cumprimento parcial de suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. (MDL, 2002). 3. OS DESDOBRAMENTOS NO BRASIL O Brasil possui uma matriz energética considerada limpa e possui várias iniciativas de projetos que se destinam a esse mercado: biogás metano de aterro sanitário e dejeto animal, carvão vegetal para siderúrgica, biodiesel, casca de arroz e bagaço de cana como fonte de energia e floresta plantada (de grande e pequena escala, incluindo a agrofloresta). Por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica vem sendo estimulado o aumento da participação das fontes alternativas na matriz energética brasileira. O Centro Nacional de Referência em Biomassa, com base na produção de 267 mil toneladas de cana-de-açúcar para uso na co-geração de energia a partir do bagaço de cana, em substituição ao uso de combustível fóssil, estima um 7 potencial energético de 3.852 MW, com tendência a chegar a 20 mil MW (Lima e DePolli, 2005) O uso de dejetos suínos para co-geração de energia através da captura do biogás metano constitui outro alvo de interesse para projetos do MDL. A suinocultura no Brasil, que ocupa posição de destaque no ranking mundial de carne, apresenta um potencial médio de produção de 0,1064 m3 de biogás/kg de dejeto. Uma matriz suína produz em média 150 litros de dejetos por dia, gerando de 7 a 8 créditos de carbono por ano (O POPULAR, 2005). Óleos vegetais extraídos da mamona, do babaçu, do dendê, da soja, do algodão, do girassol, do amendoim, entre outros, constituem uma importante e estratégica opção para a redução do uso de óleo diesel, e, consequentemente, projetos que envolvam o uso de maquinaria à base desses biocombustíveis podem vir a ser potenciais projetos de MDL. As florestas desempenham um papel importante na remoção de CO2 da atmosfera, justificando a inclusão de reflorestamento e florestamento entre as atividades elegíveis ao MDL. Consideram-se aqui projetos de florestas de crescimento rápido, de recomposição vegetal de áreas degradadas, e outras modalidades visando ao seqüestro de carbono atmosférico. O desmatamento, principalmente com queimadas, é um grave emissor, porém, o uso sustentável da floresta e a agricultura sem fogo propiciam alternativas importantes para o controle de emissões de gases. O manejo do solo é fator condicionante na estocagem de carbono, podendo conservar ou aumentar este estoque do manejo, como no plantio direto, em que o Brasil é líder mundial. O seqüestro de carbono no solo, embora não seja uma atividade contemplada no MDL, tem sido comercializado no mercado interno americano na bolsa de Chicago (Chicago Climate Exchange) (Lima e De-Polli, 2005). O Brasil é um modesto emissor de carbono (figura 1), seu principal sistema energético vem de usinas hidrelétricas que não emitem dióxido de carbono. O país está numa posição de menor poluidor mundial com 6,6 bilhões de ton/ano (ver figura 1), enquanto os Estados Unidos lidera no ranking com 186,1 bilhões de ton/ano como principal poluidor e que se nega assinar o Protocolo de Quioto (CEBDS). 8 Figura 1.TÍTULO Quadro Geral das Emissões Mundiais de CO2 (de acordo com levantamentos da ONG World Resources Institute – EUA) Total de emissões em bilhões de toneladas de CO2 desde 1950 Brasil Autrália México África do Sul Cazaquistão Polônia Canadá Índia Ucrânia Japão China Rússia União Européia Estados Unidos 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 (fonte: CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) Tudo isso deixa o Brasil numa situação bastante favorável, uma vez que a nossa maior fonte de energia provem da água dos rios e reservatórios. Além disso, temos uma tecnologia bastante desenvolvida para a elaboração de álcool. Até o bagaço da canade-açúcar pode ser aproveitado para o fornecimento de energia natural. Outra vantagem do nosso país é a geografia e o clima, que nos permite criar novas florestas e investirmos consideravelmente em reflorestamento. 4. O SETOR SUCROALCOOLEIRO O Brasil obteve bastante êxito nos últimos anos na produção de combustível limpo, como o caso do álcool, o país possui território, condições favoráveis de clima e solo para produzí-lo comercialmente em larga escala para importação e exportação. As técnicas de cultivo de cana vem cada vez mais sendo aperfeiçoadas e novas tecnologias foram criadas como a construção de motores a álcool e os bicombustíveis. O acordo, que se insere no Protocolo de Quioto, no que diz respeito à redução de gases do efeito estufa, permitirá a produção de 100 mil carros a álcool, que irão aumentar o consumo de álcool hidratado em 430 milhões de litros por ano, (GAZETA MERCANTIL, 2002) podendo reduzir em até 40% do carbono que seria emitido na 9 queima de gasolina (Gazeta Mercantil, 2001) com isso, a produção e a venda de carros a álcool ganham um poderoso estímulo, podendo garantir um lugar definitivo na indústria automotiva nacional e internacional, em razão das altas do preço do petróleo, a diferença ficou altamente favorável ao carro a álcool. O setor sucroalcooleiro do Brasil está encontrando um novo mercado por meio da comercialização de créditos de carbono para os países desenvolvidos. Os países industrializados precisam reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012 (MCT, 2005). As usinas de açúcar e álcool poderão contribuir bastante para a redução de emissões de gases do efeito estufa, através da produção de energia limpa, como o álcool e a energia elétrica através do aproveitamento do bagaço da cana. Além de render lucros com a produção de açúcar e álcool e agora a energia elétrica, ela poderá contribuir com a redução dos gases do efeito estufa, e ainda se beneficiar do mecanismo de troca de emissões previsto no Protocolo. A energia produzida por meio do bagaço da cana pode contribuir não só para reduzir as emissões de gases poluentes, mas também para diversificar a matriz energética brasileira, que recentemente passou pela ameaça de apagão, durante a crise energética de 2001 (CUNHA, 2003). O Brasil consolida-se como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Nas safra 2004/05, a estimativa é de que sejam colhidos 327,14 milhões de toneladas, 9,27% mais que na safra anterior. Em Goiás, o crescimento é de 7,4% no volume de cana colhida, 9,22% na produção e 30,53% na produção de álcool hidratado (O Popular, 2005). Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar e Álcool no Estado de Goiás (Sifaeg), Igor Montenegro Celestino Otto, o crescimento da safra reflete no bom desempenho do setor, impulsionado pela maior demanda de álcool em todo o mundo, como forma de reduzir os níveis de poluição do meio ambiente, em função da maior produção de veículos com motores bicombustível. COLOCAR NOTA DE RODAPÉ INFORMANDO SOBRE O IGOR, TITULAÇÃO E FUNÇÃO 4.1. Co-geração de energia através do bagaço da cana-de-açúcar. A produção de energia de co-geração consiste na energia térmica e elétrica de forma simultânea e seqüenciada a partir do mesmo combustível - o bagaço da cana-de- 10 açúcar. Numa primeira etapa, o bagaço é queimado em caldeiras e gera vapor. O vapor de alta pressão alimenta uma turbina que produz energia elétrica, enquanto o vapor de baixa pressão é utilizado no processo produtivo da usina. A cogeração com bagaço depende do fornecimento de biomassa para as caldeiras da usina. Se houver uma interrupção no suprimento de bagaço, por exemplo, devido à falta no fornecimento de cana-de-açúcar à usina, as caldeiras não poderão produzir vapor. (JALLES MACHADO S/A., 2006c). As usinas de co-geração exigem um investimento relativamente baixo. Depois de instalada, praticamente não há despesa com combustível - que é o próprio bagaço da cana. Outra vantagem é que a energia produzida nas usinas não depende de linhas de transmissão e já entra direto na rede distribuidora com os níveis adequados de tensão. A produção elétrica nas usinas de açúcar e álcool, em sistemas de cogeração que usam o bagaço de cana como combustível, é uma prática tradicional deste segmento, em todo o Mundo. O que diferencia seu uso, é a eficiência com que o potencial do bagaço é aproveitado. (AMBIENTE BRASIL, 2005). No Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar, a cogeração nas usinas de açúcar e álcool também é uma prática tradicional, produzindo-se entre 20 a 30 kWh por tonelada de cana moída, como energia elétrica e mecânica, esta última usada no acionamento direto das moendas (AMBIENTE BRASIL, 2005). Uma contribuição adicional para o desenvolvimento sustentável nacional inclui o fato que a cogeração com bagaço desempenha um importante papel no desenvolvimento econômico do país, já que a indústria brasileira de cana-de-açúcar gera cerca de 1 milhão de empregos e é um agronegócio com significativa participação no balanço comercial do país. Além de disso, atividades de projeto de bagaço contribuem para apoiar o modelo competitivo do setor elétrico brasileiro. (JALLES MACHADO S/A., 2006c). 5. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA Na história da Usina de Açúcar Jalles Machado, o fundador Sr. Jalles Machado, que foi um deputado federal no início do século 20, defendeu o uso do etanol desde daquele tempo como uma forma de suprir o interior do país com um combustível 11 ambientalmente correto. Seu filho Dr. Otávio Lage de Siqueira disseminou o estilo de administração do pai pela empresa. (JALLES MACHADO S/A., 2006c). Em 1980, o ex-governador do estado de Goiás, Dr. Otávio Lage de Siqueira, iniciou o movimento para criar na cidade de Goianésia uma destilaria de álcool carburante, produto na época, incentivado pelo Governo, através do programa PROÁLCOOL. (JALLES MACHADO S/A., 2006a). Aos 14 dias do mês de novembro de 1980, era realizada a solenidade de fundação da destilaria denominada Goianésia Álcool S/A., localizada à Rodovia GO 080 Km 71,5 Zona Rural, Fazenda São Pedro, começando a mais nova e próspera empresa da região. Além da produção de álcool, em 18 de maio de 1993, a empresa passou a fabricar açúcar, alterando sua denominação social para “Jalles Machado S/A. Açúcar e Álcool”. Em 01 de fevereiro de 2000, através da Assembléia geral Extraordinária (AGE), arquivada na junta comercial do Estado de Goiás (JUCEG) sob o nº 52000119733 foi alterada a denominação social para Jalles Machado S/A. (JALLES MACHADO S/A., 2006a). Em sua primeira safra, 1983, a destilaria produziu um total de álcool de 13.795.796,00 litros, dez anos depois (1993) passou a fabricar açúcar, totalizando em sua primeira safra 737.349,40 sacas de açúcar, e passando sua produção de álcool para 56.852.251,72 litros, aumentando a cada ano sua produção de açúcar e álcool. (JALLES MACHADO S/A., 2006b). Em 2001, com a instalação de uma caldeira de alta pressão, a empresa, passa a produzir energia para exportação em sua própria unidade industrial através da implantação do sistema de cogeração de energia com o aproveitamento do bagaço da canade-açúcar, chegando a exportar 3.956,92 Mwh de energia neste ano. Em 2003 foi ampliada a capacidade de cogeração para 26.806,92 Mwh de energia. No mesmo ano iniciou a validação do “Projeto de Cogeração com Bagaço Jalles Machado (PCBJM)”, para a comercialização dos créditos de carbono gerados através do Mecanismo Desenvolvimento Limpo (MDL) no Mercado Mundial de Carbono. (JALLES MACHADO S/A., 2006b). 6. METODOLOGIA O local de estudo centrou-se na empresa Jalles Machado S/A. localizada na cidade de Goianésia-GO. Pesquisou-se artigos científicos, livros, revistas, dados da própria 12 empresa, dentre outras literaturas e fontes. O período de pesquisas abrangeu as safras de 1994 a 2005, e para a avaliação foram consultados diversos setores da empresa, bem como o Comparativo de Safras – 2006. As variáveis de estudo foram área colhida e produtividade da cana e seus respectivos derivados desta área; a produção geral do bagaço e sua destinação; produção total de energia da co-geração bem como sua distribuição na empresa e a exportação do excedente; a quantidade de energia despachada para a rede e o número de horas de operação dos motores de irrigação, desde 2001 até o término do último período de obtenção dos créditos. A grande maioria dessas variáveis foram utilizadas como ponto de partida essencial para chegar aos créditos de carbono. Os participantes do projeto são Jalles Machado S/A. e Econergy Brasil Ltda. e Corporação Andina de Fomento (CAF) – Netherlands Clean Development Facility (NCDF), um consignatário do Governo Holandês para comprar reduções de emissão de Projetos de MDL na América Latina. As Partes participantes – Brasil como Parte Não Anexo I e Holanda como Parte Anexo I (JALLES MACHADO S/A., 2004). O monitoramento do PCBJM consiste, basicamente, no registro da quantidade de energia vendida à rede e a quantidade de horas que cada motor opera. A consistência dos dados é garantida por leituras mensais dos equipamentos. A Jalles Machado é responsável por quantificar o total de horas de operação dos motores elétricos de irrigação, e a energia vendida é uma responsabilidade fundamental da CELG, que é a rede onde a EMPRESA faz conexão. Realizou-se o cruzamento com as informações de variáveis de estudo, a fim de visualizar aquelas de maior relevância. Os resultados foram agrupados, quantificados e analisados baseados em estatística básica, de forma a elaborar tabelas e gráficos tornandoos passíveis de interpretação e posterior discussão. Para determinar a redução de emissão devido ao deslocamento do diesel, as horas de operação das bombas elétricas de irrigação são monitoradas e multiplicadas pelo fator de emissão da linha de base, para isso, as horas são convertidas para MWh e posteriormente em redução de ton CO2 através do fator de conversão. O fator de conversão é definido pelo DCP – Documento de Concepção de Projeto, e a forma que é obtida esses valores são informações estratégicas e confidenciais não sendo publicamente disponíveis. Para o cálculo das Reduções de CO2 ano foi utilizado as equações 1, 2 e 3 como é demonstrado a seguir: 13 Dados: • Constante 746 -> conversão da potência em Watt; • Fator de conversão: 0,2677. Equação 1: P= Pm(CV) * 746 / 1000 (KW) Equação 2: E= P(KW) * t(horas) / 1000 (MWh) Equação 3: RtonCO2= 0,2677 * E(MWh) (ton) Onde: • P= potência total do motor (KW) • Pm= potência do motor (CV) • E= quantidade de energia consumida (MWh) • t= tempo trabalhado (horas) • RtonCO2= total de reduções de CO2 ano (ton) O cálculo das reduções de ton CO2 ano da indústria é baseado nos dados de geração de eletricidade (Energia exportada em MWh) da Jalles Machado, a energia exportada é multiplicada pelo coeficiente de emissão da margem combinada (fator de conversão) que é o mesmo utilizado para os motores de irrigação. Depois de ser feito a conversão das horas do motores elétricos para MWh, é possível obter a quantidade de energia exportada da cogeração para a irrigação, logo, é somado a quantidade total de energia exportada da indústria (MWh) e dos motores elétricos da irrigação (MWh), com isso, é possível obter a quantidade de reduções de CO2 ano da empresa multiplicando o total de energia exportada pelo fator de conversão. 7. RESULTADOS E DISCUSSÃO O PCBJM é uma atividade de projeto de energia renovável conectada a rede, deslocando energia da rede utilizando eletricidade gerada a partir de fontes renováveis (bagaço) e assim resultando em redução de emissão de gases de efeito estufa no setor energético. Um período de sete anos foi escolhido, começando em abril de 2001. A tecnologia utilizada é o modelo do ciclo de vapor Rankine, adotada no mundo inteiro e disponível no Brasil. O PCBJM espera trazer benefícios sociais, ambientais e econômicos, e dessa forma contribuir para os objetivos de desenvolvimento sustentável do Governo Brasileiro (JALLES MACHADO S/A., 2004). 14 A empresa Jalles Machado S/A. possui 32.380 hectares de área disponível para cultivo da cana-de-açúcar para a safra de 2006, porém esta área não é completamente utilizada no plantio da cana, o solo onde é plantado a cana é utilizado por um período médio de 5 anos, após esse período é feito sua recuperação por um tempo médio de 1 ano através do plantio de leguminosas como a soja e a Crotalária juncea. A empresa encontra-se em sua 24ª safra, desde sua fundação até os dias atuais e a cada ano está aumentando gradativamente sua produção. Dos resultados obtidos e mostrados no quadro 1, percebeu-se que, nas safras subseqüentes a produtividade por hectare plantado tem diminuído, resultando em perda de produção, a explicação para essa diminuição está relacionada a vários fatores, dentre eles, alguns principais como: a expansão para áreas de menor fertilidade, a concentração de grandes volumes de chuvas por curto período de tempo, e as atividades mecanizadas que são pouco eficientes na melhoria das condições físicas e químicas do solo. Quadro 1. Comparativo de Safras desde 1994 até 2005. CANA PERÍODO ÁREA DIAS DE COLHIDA SAFRA PRODUÇÕES PRODUTIVIDADE MOIDA BAGAÇO (TON) HECTARE (TON) BAGAÇO CRU (TON) COGERAÇÃO HIDROLISADO ANO INÍCIO TÉRMINO 1994 12/05/1994 08/11/1994 191 9.612 96 918.722,56 244.705,00 242.013,79 2.691,21 1995 26/04/1995 10/11/1995 199 10.623 100 1.062.297,94 245.599,32 239.268,12 6.331,20 1996 08/04/1996 05/12/1996 242 14.874 89 1.326.186,77 337.132,18 326.197,21 10.934,97 1997 21/04/1997 28/11/1997 222 15.288 92 1.412.295,61 407.465,05 394.131,03 13.334,02 1998 24/04/1998 16/11/1998 207 15.843 80 1.267.438,07 353.016,67 351.355,63 1.661,04 1999 03/05/1999 03/10/1999 154 14.513 67 967.235,94 268.323,14 266.536,76 1.786,38 2000 24/04/2000 22/10/2000 182 14.537 78 1.133.746,24 313.665,38 312.257,92 1.407,46 2001 23/04/2001 30/11/2001 222 17.198 77 1.332.158,24 391.623,62 391.623,62 0 2002 17/05/2002 22/11/2002 190 18.192 71 1.296.575,17 360.340,76 355.457,94 4.882,82 2003 25/05/2003 30/11/2003 190 19.198 78 1.505.125,72 431.963,75 431.963,75 0 2004 04/05/2004 30/10/2004 180 22.305 71 1.576.052,53 461.190,78 461.190,78 0 2005 02/05/2005 28/10/2005 180 21.583 73 1.575.562,18 434.382,73 434.382,73 0 Fonte: Jalles Machado S/A. – Setor de Controladoria. Tabela Modificada. Para cada tonelada de cana é gerado em média 275 Kg de bagaço (28% em média), sendo que a cada safra, obtém-se maior volume de bagaço, resultando em grandes quantidades de resíduos, entretanto, recentemente é todo utilizado na cogeração para o aproveitamento energético (ver produção de bagaço da cana na figura 1). 15 Produção de Bagaço de Cana 500.000,00 450.000,00 400.000,00 Ton / ano 350.000,00 BAGAÇO CRU 300.000,00 250.000,00 CO-GERAÇÃO 200.000,00 HIDROLISADO 150.000,00 100.000,00 50.000,00 0,00 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Período de Safra Figura 1. Jalles Machado S/A. 1994 – 2005. O setor sucroalcooleiro, historicamente, sempre explorou a biomassa (bagaço) de uma maneira ineficiente, utilizando caldeiras de baixa pressão para abastecer a própria empresa, e a partir de 1988 começou a utilizar uma pequena quantidade para a hidrólise como ração animal (figura 1). Em 2001 foi ampliada a capacidade da cogeração de energia através da implantação de uma caldeira de alta pressão, com isto o excedente de energia que é chamado de energia exportada passou a ser comercializada para a CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz, e ainda gerar créditos de carbono comercializados com o Governo Holandês. A figura 1 representa a destinação final do bagaço, a maior parte dele sempre foi utilizada na cogeração e um pequeno percentual na hidrólise, outra quantidade é estocada no próprio pátio da usina de forma estratégica, com a finalidade de dar início à próxima safra. Nem sempre é possível medir a quantidade estocada, faz –se uma estimativa entre 5.000 a 15.000 toneladas de bagaço. Com relação à irrigação, o uso de óleo diesel como combustível para os motores de irrigação sempre foi considerado a opção mais comum quando investimentos em irrigação foram necessários, para áreas não muito grandes e tempo de operação relativamente curto, o uso de irrigadores a diesel é consideravelmente barato. No entanto, devido ao aumento da área plantada e o tempo de operação dos irrigadores, é também aumentado o uso de motores elétricos para a irrigação é favorável, entretanto ela requer a existência de linhas de transmissão que pode tornar o projeto inviável, mas investimentos 16 no PCBJM abriram as portas para Jalles Machado expandir linhas de transmissão interna para distribuir energia para os motores elétricos e, dessa forma, aumentar a irrigação. A empresa a cada safra tende a aumentar sua produção, portanto, há o aumento da lavoura, e, respectivamente a necessidade adicional da irrigação, que será feita pelos novos motores elétricos. No entanto, os 25 geradores a diesel da empresa, os quais já estavam instalados anteriormente, continuam a operam, podendo ser substituídos gradativamente por motores elétricos, enquanto isso os novos motores atendem a nova demanda de irrigação. A empresa começou a produzir energia exportada em de 2001, e em 2003 foram adquiridos 6 novos motores elétricos, onde começou-se a computar as horas operadas e suas respectivas reduções de CO2. Quatro diferentes valores de capacidade dos motores são utilizados: 100CV, 150CV, 200CV, 250CV (Quadro 2), são instalados em diferentes locais, o que significa diferentes necessidades de potência para bombear em diferentes recalques ou distâncias. Quadro 2. Produção de horas e reduções de CO2 dos motores de irrigação 2003 – 2005. HORAS TRABALHADAS DOS MOTORES ELÉTRICOS REDUÇÃO DE CO2/ANO (Ton) MOTOR POTÊNCIA 2003 2004 2005 TOTAL 2003 2004 2005 TOTAL 10.805 100 CV 3376 3219 2778 9373 67,42 64,28 55,48 187,18 10.806 100 CV 3063 3665 3223 9951 61,17 73,19 64,36 198,72 10.807 100 CV 3001 3223 3196 9420 59,93 64,36 63,83 188,12 11.044 150 CV 1699 1355 1695 4749 50,89 40,59 50,77 142,25 10.791 200 CV 1800 2006 1845 5651 71,89 80,12 73,69 225,70 11.045 250 CV 1838 1734 1359 4931 91,76 86,57 67,85 246,18 403,07 409,12 375,98 1188,15 O quadro 2 representa os 6 motores com suas respectivas potências e a quantidade de horas operadas. A quantidade reduzida de CO2 varia conforme a potência de cada motor, enquanto maior for à potência, maior será o consumo de energia e também as reduções de CO2 (Quadro 2). Os motores da Jalles Machado contribuíram com uma redução média de 396,05 ton de CO2/ano e juntos 1.188,15 ton de CO2. A contribuição de reduções da irrigação é muito pequena se comparada com as reduções da energia exportada da indústria (figura 2). 17 Reduções de CO2 14.000,00 ton CO 2/ano 12.000,00 10.000,00 8.000,00 INDÚSTRIA 6.000,00 MOTORES ELÉTRICOS 4.000,00 2.000,00 0,00 2001 2002 2003 2004 2005 Período de Safras Figura 2. Reduções de CO2. 2001 - 2005 A Jalles Machado tem uma autorização da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica para operar como Produtor Independente de Energia Elétrica (PIE), o qual é uma firma ou consórcio de firma que podem receber uma concessão ou autorização para produzir e vender toda ou parte da energia elétrica, por sua conta e risco, como definido pelo Decreto Federal nº 2003 de 10 de janeiro de 1996. A autorização da ANEEL, não substitui, ou altera, o requisito da companhia cumprir com todas as outras leis relevantes, em particular requisitos ambientais. Os possíveis impactos ambientais da atividade do PCBJM são analisados pela Jalles Machado e colocados em relatório chamado Relatório Ambiental Simplificado (RAS) e, enviado para a Agência Goiana de Meio Ambiente (AGMA). A CELG juntamente com a Jalles Machado são responsáveis pelas leituras do medidor de eletricidade e emissão de relatório sobre a quantidade de eletricidade despachada a rede em base mensal para CPFL. A energia produzida (quadro 3) são lidas por computadores e enviadas via modem diretamente aos computadores da CELG que, no final do mês, relata a Jalles Machado a quantidade total de energia vendida. 18 Quadro 3. Produção total de energia e respectivas distribuições, bem como o total de reduções de CO2 adquiridos neste período. 2001 – 2005 ENERGIA DISTRIBUIDA PARA INDÚSTRIA E IRRIGAÇÃO (MWh) INDÚSTRIA MOTORES ELÉTRICOS CONSUFATOR DE REDUÇÕES FATOR MO CONVERSÃO REDUÇÕES CONVERSÃO TON CONVERSÃO HORAS (MWh) TON CO2/ANO TON CO2/MWh CO2/ANO TON CO2/MWh ENERGIA (MWh) ENERGIA EXPORTADA (MWh) 2001 25.818 4.352,48 0,2677 1165,16 2002 33.138 9.034,25 0,2677 2418,47 # # # 2003 56.353 26.790,48 0,2677 7171,81 14.777 1.505,69 0,2677 2004 79.062 44.468,32 0,2677 11904,17 15.202 1.528,29 0,2677 409,12 2005 78.104 42.716,54 0,2677 11435,22 14.096 1.404,49 0,2677 375,98 ANO # # # # TOTAL TOTAL ENERGIA REDUÇÕES EXPORTADA INDÚSTRIA E IND. AGR. AGRÍCOLA (MWh) TON CO2/ANO 4.352,48 1.165,16 # 9.034,25 2.418,47 403,07 28.296,17 7.574,88 45.996,61 12.313,29 44.121,03 11.811,20 131.800,54 35.283,00 . Ao deslocar eletricidade baseada em combustíveis fósseis por energia gerada a partir de fontes renováveis e por evitar o consumo de combustíveis fósseis pelas bombas de irrigação a diesel, o projeto PCBJM resulta na redução de emissões de CO2 que são reais, mensuráveis e que dão benefícios de longo prazo para a mitigação da mudança do clima. Uma vez que o projeto seja implementado como planejado,deve atingir as reduções de emissão estimadas. O quadro 3 ilustra a produção total de energia em MWh, a energia exportada e a distribuição para os motores elétricos, bem como suas respectivas reduções de CO2 (Figura 3). Produção e Distribuição de Energia 90.000 Energia (MWh) 80.000 70.000 60.000 PRODUZIDA 50.000 EXPORTADA 40.000 MOTORES ELÉTRICOS 30.000 OUTROS 20.000 10.000 0 2001 2002 2003 2004 2005 Período de Safra Figura 3. Produção total de energia e respectivas distribuições na empresa. 2001 – 2005. 19 Toda energia produzida na Jalles Machado, é consumida na própria empresa, com exceção da exportada que vendida para CPFL, conforme mostra a figura 3. Em média, 48,4% da energia produzida é exportada, 50 % é utilizada em toda a empresa (indústria, administração, refeitório, álcool gel, oficinas, dentre outros), e apenas 1,63% é destinada para os motores de irrigação (Figura 3). CONCLUSÃO A cogeração com bagaço como fonte de energia sustentável não somente contribui para a mitigação do aquecimento global, como também cria uma vantagem competitiva sustentável para a produção agrícola na indústria da cana-de-açúcar no Brasil. Utilizando os recursos naturais disponíveis de modo mais eficiente, a atividade o PCBJM ajuda a aumentar o consumo de energia renovável. Além disso o projeto demonstra a viabilidade da geração de eletricidade como um negócio secundário, e uma nova fonte de receita para indústria açucareira. A característica única de que a geração de energia a partir da cana-de-açúcar no país ocorra nos meses de seca, quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas, que é a mais importante fonte de energia elétrica do país está baixo, faz desse tipo de projeto um complemento ao sistema elétrico nacional e torna a cogeração de energia a partir do bagaço atrativa para potenciais compradores de eletricidade. O tipo de projeto utilizado na Jalles Machado poderia ser implantado em qualquer usina, pois todas elas já usam o bagaço para gerar energia de baixa eficiência (geradores e caldeiras), que não permitem produzir excedente de energia para a venda, nem para outros equipamentos, como irrigadores. Dessa forma, os irrigadores a diesel é bastante aplicado na lavoura de cana-de-açúcar. No caso da Jalles Machado, a expansão do plantio de cana ocorreria com ou sem o projeto de cogeração, em função da alta dos preços do açúcar e álcool. Portanto, o aumento do uso de irrigadores a diesel era um fato. Então, com o aumento da eficiência na cogeração, foi possível vender excedente e alimentar os irrigadores elétricos. O uso da eletricidade do projeto de cogeração evita o aumento de emissões de CO2, podendo com isso contribuir com as reduções de gases do efeito do planeta. 20 REFERÊNCIAS AMBIENTE BRASIL. Fixação de Carbono. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.html&conteudo=. /gestao/fixacao.html> Acesso em 24 ago. 2005. BIONERGIA COGERADORA S/A – Grupo Balbo. Projeto Cana Verde MDL. Disponível em: <http://www.nativealimentos.com.br/cana_verde/bioenergia.php> Acesso em: 18 set. 2005. CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Mercado de Carbono. 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