O BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR
COMO FONTE DE CRÉDITOS DE CARBONO:
O CASO DA USINA JALLES MACHADO S/A . DE GOIANÉSIA-GO
Elizabete Fernandes Gomes1
Antônio Pasqualetto2
Universidade Católica de Goiás, Departamento de Engenharia
RESUMO
Objetivou-se demonstrar o cenário atual dos problemas que podem ser causados pelo
excesso dos gases do efeito estufa sobre o clima. São abordados alguns aspectos a origem por questões
climáticas, e apresentadas possíveis soluções para a redução dos gases do efeito estufa através de projetos de
seqüestro de carbono realizados no setor Sucroalcooleiro através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MDL estabelecido pelo Tratado de Quioto.
Palavras-Chave: gases do efeito estufa, créditos de carbono, cana-de-açúcar, álcool, bagaço da cana-deaçúcar.
ABSTRACT
It was objectified to demonstrate the current scene of the problems that can be caused by
the excess of the gases of the effect greenhouse on the climate. Some aspects are boarded the origin for
questions climatic, and presented possible solutions for the reduction of the gases of the effect greenhouse
through projects of carried through carbon kidnapping in the Sucroalcooleiro sector through the Mechanism
of Clean Development MDL established for the Treated one to Quioto.
Key- words: gases of the effect greenhouse, credits of carbon, sugar cane-of-sugar, alcohol, bagasse of the
sugar cane-of-sugar.
1- INTRODUÇÃO
De acordo com Teixeira (2004), a atmosfera é constituída por uma mistura
de gases, predominantemente o nitrogênio (N2) e o oxigênio (O2), além de vários outros
gases como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hezafluoreto
de enxofre (SF6) e as famílias dos perfluorcarbonos – compostos complementares
fluorados –, em especial perfluormetano (CF4), perfluoretano (C2F6) e hidrofluocarbonos
1
Graduanda em Engenharia Ambiental – UCG, [email protected]
Eng. Agro., Prof. Orientador Dr. Antônio Pasqualetto, Universidade Católica de Goiás - UCG,
[email protected]
2
2
(HFCs) (UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE.
UNFCCC, 2001), constituem os gases de efeito estufa. Esses gases têm a finalidade de
reter o calor, mas os mesmos gases em quantidades excessivas podem causar sérios
problemas ao mundo.
Portanto, há preocupação mundial devido ao possível aumento de
temperatura da Terra relacionado ao efeito estufa que, por sua vez, está relacionado com o
aumento de CO2 na atmosfera. Conhecer em detalhes o ciclo do carbono, a nível global, as
fontes e os principais sumidouros de CO2 no planeta, passou a ser assunto de interesse
científico e econômico.
São inúmeras as dificuldades encontradas em prever exatamente como esse
efeito estufa nos afetaria, devido principalmente a complexidade sistêmica do clima global.
Entretanto, algumas ações sintomáticas têm-se evidenciado, entre elas, os regimes de
chuva e vento prevalecidos por centenas de anos sem grandes mudanças estabelecendo
uma condição de sobrevivência da população humana, estão sofrendo alterações
significativas.
Na expectativa de estabilizar a concentração desses gases foi adotada em
1992 a Convenção do Clima tendo como objetivo essencial o controle das concentrações
de gases causadores do efeito estufa (GEE) na atmosfera num nível que impeça uma
interferência antrôpica perigosa no sistema climático. Na perspectiva de atingir tal objetivo
foram estabelecidas metas de controle de emissão desses gases, em especial o CO2, onde os
países desenvolvidos terão que estabelecer medidas para diminuir as emissões em até 5%
em relação aos níveis de 1990, até o período entre 2008 e 2012 (Ministério da Ciência e
Tecnologia – MCT, 2005).
Neste cenário surge o Protocolo de Quioto como a principal tentativa da
maioria dos países de estabelecimento de uma regulamentação de normas ambientais
internacionais, evitando que a poluição atmosférica persista nos níveis atuais. Alguns
países como o Brasil podem se beneficiar, por possuírem tecnologias limpas, fator
importantíssimo na contribuição da redução dos gases causadores o efeito estufa, além de
poder vender essa tecnologia através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),
este mecanismo consiste em que cada tonelada de CO2 deixada de ser emitida ou retirada
da atmosfera por um país em desenvolvimento poderá ser comercializada no mercado
mundial, criando um novo atrativo para redução de emissões globais.
3
Há necessidade de países industrializados entre eles os Estados Unidos,
considerado o maior poluidor, ratifiquem o Protocolo de Quioto, sendo que o país é o líder
no desenvolvimento de tecnologias responsáveis pela redução da emissão de gases
poluentes, porém o mesmo se recusa a ratificar, devido o fato de que seu Presidente
George W. Bush não concordar que a China e a Índia não possuam limites para a emissão
de gases poluentes.
Contudo, o Protocolo que a partir de 2005 tornou-se Tratado de Quioto abre
espaço para um novo mercado, o comércio de carbono Este comércio é fruto dos créditos
de carbono provenientes de projetos que prevê a redução de emissão de gases de efeito
estufa ou aumento de remoção de CO2, implementadas em Partes Não Anexo I, que irão
gerar Reduções Certificadas de Emissões (RCEs). (Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo - MDL, 2002).
2. CONCEITUAÇÕES
Na expectativa de um melhor entendimento deste artigo faz-se necessário,
inicialmente, algumas abordagens conceituais de termos que serão citados com freqüência
no decorrer do texto.
O termo “Protocolo de Quioto”, por exemplo, é um instrumento jurídico
internacional complementar e vinculado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima - CQNUMC, que traz elementos adicionais à Convenção. (MDL,
2002). Criado em 1977, em forma de um protocolo, reúne, hoje, 141 países, todos
membros da Convenção – CQNUMC. O acordo define para os países signatários metas de
redução da emissão de gases de efeito estufa, em especial o gás carbônico (CO2), a serem
atingidas no período de 2008 a 2012. Para entrar em vigor, o Tratado precisava ser
ratificado por países responsáveis por pelo menos 55% das emissões globais. (Revista
Brasileira de Saneamento e Meio Ambiente – BIO, 2005)
O Protocolo de Quioto, adotado na Convenção das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, e em vigor desde fevereiro de 1997, estabeleceu metas aos países
industrializados para que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sejam reduzidas em
5%, na média, com relação aos níveis verificados no ano de 1990. Essas metas são
diferenciadas entre as partes, devem, em princípio, ser atingidas no período de 2008 a 2012
(MCT, 2005). São essas metas de redução dos países industrializados que geram a
4
demanda primária, base do mercado de crédito de carbono, cujo valor total estimado é
muito variado, pois, dependem de uma série complexa de fatores políticos, tecnológicos e
econômicos.
O Protocolo de Quioto afetará praticamente todos os principais setores da
economia, é considerado o acordo sobre o meio ambiente e desenvolvimento sustentável
de maior projeção já adotado. Isso é um sinal de que a comunidade internacional está
disposta a encarar a realidade e começar a tomar ações concretas para minimizar o risco da
mudança do clima. Os negociadores do Protocolo só foram capazes de dar esse passo
importante depois de enfrentar difíceis questões.
A partir do Protocolo de Quioto alguns termos ganharam evidência nas
discussões sobre as questões climáticas em todo o planeta. Porém, o que significa esses
termos?
•
Créditos de carbono: são certificados que autorizam o direito de poluir. O princípio é
simples. As agências de proteção ambiental reguladoras emitem certificados autorizando
emissões de toneladas de gases poluentes. Inicialmente, seleciona-se indústrias que mais
poluem no País e a partir daí são estabelecidas metas para a redução de suas emissões. O
sistema de créditos de carbono irá fazer com que as empresas reduzem a quantidade de
emissão dos gases causadores do efeito estufa. Existem vários exemplos de projetos que
originam créditos de carbono, reflorestamento e estabelecimento de novas florestas, fontes
renováveis de energia, eficiência e conservação de energia, aterros sanitários e projetos
agropecuários.
•
Mercado de carbono: são mecanismos de flexibilização para o cumprimento das
metas de redução de gases estabelecidos pelo Protocolo de Quioto, Comércio de Emissões,
Implementação conjunta, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Entre os três
mecanismos utilizados pelos países industrializados para o cumprimento das metas da
Convenção, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é o que envolve a
participação de países em desenvolvimento, objetiva a mitigação das emissões de gases
nos países em desenvolvimento, na forma de sumidouros, investimentos em tecnologias
limpas, eficiência energética (racionalização do uso de energia), florestamento e
reflorestamento, fontes alternativas de energia, entre outras atividades, gerando créditos de
carbono que podem ser comercializados com os países industrializados. Deve-se ressaltar
que o MDL não é simplesmente um instrumento comercial onde o poluidor paga: os
5
projetos nesta linha devem contemplar impacto sócio-econômico benéfico, ser passível de
transferência de tecnologia e contribuir para o desenvolvimento sustentável.
•
Comércio de emissões: este mecanismo permite que dois países sujeitos a metas de
redução de emissões façam um acordo pelo qual o país A que tenha diminuído suas
emissões para níveis abaixo da sua meta, possa vender o excesso das suas reduções para o
país B, que não tenha alcançado tal condição.
•
Implementação conjunta: outro dos mecanismos do Protocolo de Quioto, pelo qual
uma Parte Anexo I pode transferir para ou adquirir de qualquer outra Partes Anexo I
unidades de redução de emissões – UREs (Unidades de Reduções de Emissões) a fim de
cumprir seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões de gases de
efeito estufa. (MDL, 2002).
•
MDL: pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os países do Anexo I (países
ricos) poderão desenvolver projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável de
países em desenvolvimento, de modo a ajudar a redução de suas emissões. Essas
iniciativas gerariam créditos de redução para os países do Anexo I e, ao mesmo tempo,
ajudariam os países em desenvolvimento com recursos financeiros e tecnológicos
adicionais para financiar atividades sustentáveis e de redução das emissões globais. (BIO,
2005).
•
Seqüestro de carbono: consiste na captura e fixação do gás carbônico (CO2) pelas
plantas, que associado com outros elementos, resulta em substâncias complexas, dentre as
quais a própria madeira. O conceito de seqüestro de carbono foi consagrado pela
Conferência de Quioto, em 1997, com finalidade de conter e reverter o acúmulo de CO2 na
atmosfera, visando a diminuição do efeito estufa e também faz parte do MDL proposto na
convenção clima, aprovada na Rio 92 e ratificada por centenas de países em Quioto (1997).
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, 2005).
•
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima CQNUMC
(United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC): convenção
negociada sob a égide das Nações Unidas, adotada durante a Rio-92 e cujo principal
objetivo é a estabilização dos níveis de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera
num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. (MDL,
2002).
•
Partes: podem ser países isoladamente ou blocos econômicos, como por exemplo, a
União Européia.
6
•
Partes Anexo I: integrado pelas Partes signatárias da Convenção e pelos países
industrializados da antiga União Soviética e do Leste Europeu. A Divisão entre Partes
Anexo I e Partes Não Anexo I tem como objetivo separar as partes segundo a
responsabilidade pelo aumento da concentração atmosférica de gases de efeito estufa. As
Partes Anexo I possuem metas de limitação ou redução de emissões. (MDL, 2002).
•
Partes Não Anexo I: todas a Partes da CQNUMC não listadas no Anexo I, entre as
quais o Brasil, que não possuem metas quantificadas de redução de emissões. (MDL,
2002).
•
Linha de Base (Baseline): no âmbito do MDL, a linha de base de uma atividade de
projeto do MDL é o cenário que representa, de forma razoável, as emissões antrôpicas de
gases de efeito estufa por fontes que ocorreriam na ausência da atividade de projeto
proposta. As RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) serão calculadas justamente pela
diferença entre emissões da linha de base e emissões verificadas em decorrência das
atividades de projeto do MDL. (MDL, 2002).
•
RCEs: etapa final do projeto, representam as reduções de emissões de gases de efeito
estufa decorrentes de projetos de MDL, são expressas em toneladas, podem ser utilizadas
por Parte Anexo I como forma de cumprimento parcial de suas metas de redução de
emissão de gases de efeito estufa. (MDL, 2002).
3. OS DESDOBRAMENTOS NO BRASIL
O Brasil possui uma matriz energética considerada limpa e possui várias
iniciativas de projetos que se destinam a esse mercado: biogás metano de aterro sanitário e
dejeto animal, carvão vegetal para siderúrgica, biodiesel, casca de arroz e bagaço de cana
como fonte de energia e floresta plantada (de grande e pequena escala, incluindo a
agrofloresta).
Por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica vem sendo estimulado o aumento da participação das fontes alternativas na matriz
energética brasileira. O Centro Nacional de Referência em Biomassa, com base na
produção de 267 mil toneladas de cana-de-açúcar para uso na co-geração de energia a
partir do bagaço de cana, em substituição ao uso de combustível fóssil, estima um
7
potencial energético de 3.852 MW, com tendência a chegar a 20 mil MW (Lima e DePolli, 2005)
O uso de dejetos suínos para co-geração de energia através da captura do
biogás metano constitui outro alvo de interesse para projetos do MDL. A suinocultura no
Brasil, que ocupa posição de destaque no ranking mundial de carne, apresenta um
potencial médio de produção de 0,1064 m3 de biogás/kg de dejeto. Uma matriz suína
produz em média 150 litros de dejetos por dia, gerando de 7 a 8 créditos de carbono por
ano (O POPULAR, 2005).
Óleos vegetais extraídos da mamona, do babaçu, do dendê, da soja, do
algodão, do girassol, do amendoim, entre outros, constituem uma importante e estratégica
opção para a redução do uso de óleo diesel, e, consequentemente, projetos que envolvam o
uso de maquinaria à base desses biocombustíveis podem vir a ser potenciais projetos de
MDL.
As florestas desempenham um papel importante na remoção de CO2 da
atmosfera, justificando a inclusão de reflorestamento e florestamento entre as atividades
elegíveis ao MDL. Consideram-se aqui projetos de florestas de crescimento rápido, de
recomposição vegetal de áreas degradadas, e outras modalidades visando ao seqüestro de
carbono atmosférico. O desmatamento, principalmente com queimadas, é um grave
emissor, porém, o uso sustentável da floresta e a agricultura sem fogo propiciam
alternativas importantes para o controle de emissões de gases.
O manejo do solo é fator condicionante na estocagem de carbono, podendo
conservar ou aumentar este estoque do manejo, como no plantio direto, em que o Brasil é
líder mundial. O seqüestro de carbono no solo, embora não seja uma atividade
contemplada no MDL, tem sido comercializado no mercado interno americano na bolsa de
Chicago (Chicago Climate Exchange) (Lima e De-Polli, 2005).
O Brasil é um modesto emissor de carbono (figura 1), seu principal sistema
energético vem de usinas hidrelétricas que não emitem dióxido de carbono. O país está
numa posição de menor poluidor mundial com 6,6 bilhões de ton/ano (ver figura 1),
enquanto os Estados Unidos lidera no ranking com 186,1 bilhões de ton/ano como
principal poluidor e que se nega assinar o Protocolo de Quioto (CEBDS).
8
Figura 1.TÍTULO
Quadro Geral das Emissões Mundiais de CO2
(de acordo com levantamentos da ONG World Resources Institute – EUA)
Total de emissões em bilhões de toneladas de CO2 desde 1950
Brasil
Autrália
México
África do Sul
Cazaquistão
Polônia
Canadá
Índia
Ucrânia
Japão
China
Rússia
União Européia
Estados Unidos
0
20
40
60
80
100 120 140 160 180 200
(fonte: CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável)
Tudo isso deixa o Brasil numa situação bastante favorável, uma vez que a
nossa maior fonte de energia provem da água dos rios e reservatórios. Além disso, temos
uma tecnologia bastante desenvolvida para a elaboração de álcool. Até o bagaço da canade-açúcar pode ser aproveitado para o fornecimento de energia natural. Outra vantagem do
nosso país é a geografia e o clima, que nos permite criar novas florestas e investirmos
consideravelmente em reflorestamento.
4. O SETOR SUCROALCOOLEIRO
O Brasil obteve bastante êxito nos últimos anos na produção de combustível
limpo, como o caso do álcool, o país possui território, condições favoráveis de clima e solo
para produzí-lo comercialmente em larga escala para importação e exportação. As técnicas
de cultivo de cana vem cada vez mais sendo aperfeiçoadas e novas tecnologias foram
criadas como a construção de motores a álcool e os bicombustíveis.
O acordo, que se insere no Protocolo de Quioto, no que diz respeito à
redução de gases do efeito estufa, permitirá a produção de 100 mil carros a álcool, que irão
aumentar o consumo de álcool hidratado em 430 milhões de litros por ano, (GAZETA
MERCANTIL, 2002) podendo reduzir em até 40% do carbono que seria emitido na
9
queima de gasolina (Gazeta Mercantil, 2001) com isso, a produção e a venda de carros a
álcool ganham um poderoso estímulo, podendo garantir um lugar definitivo na indústria
automotiva nacional e internacional, em razão das altas do preço do petróleo, a diferença
ficou altamente favorável ao carro a álcool.
O setor sucroalcooleiro do Brasil está encontrando um novo mercado por
meio da comercialização de créditos de carbono para os países desenvolvidos. Os países
industrializados precisam reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em pelo menos
5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012 (MCT, 2005). As usinas
de açúcar e álcool poderão contribuir bastante para a redução de emissões de gases do
efeito estufa, através da produção de energia limpa, como o álcool e a energia elétrica
através do aproveitamento do bagaço da cana. Além de render lucros com a produção de
açúcar e álcool e agora a energia elétrica, ela poderá contribuir com a redução dos gases do
efeito estufa, e ainda se beneficiar do mecanismo de troca de emissões previsto no
Protocolo.
A energia produzida por meio do bagaço da cana pode contribuir não só
para reduzir as emissões de gases poluentes, mas também para diversificar a matriz
energética brasileira, que recentemente passou pela ameaça de apagão, durante a crise
energética de 2001 (CUNHA, 2003).
O Brasil consolida-se como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar.
Nas safra 2004/05, a estimativa é de que sejam colhidos 327,14 milhões de toneladas,
9,27% mais que na safra anterior. Em Goiás, o crescimento é de 7,4% no volume de cana
colhida, 9,22% na produção e 30,53% na produção de álcool hidratado (O Popular, 2005).
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar e
Álcool no Estado de Goiás (Sifaeg), Igor Montenegro Celestino Otto, o crescimento da
safra reflete no bom desempenho do setor, impulsionado pela maior demanda de álcool em
todo o mundo, como forma de reduzir os níveis de poluição do meio ambiente, em função
da maior produção de veículos com motores bicombustível. COLOCAR NOTA DE
RODAPÉ INFORMANDO SOBRE O IGOR, TITULAÇÃO E FUNÇÃO
4.1. Co-geração de energia através do bagaço da cana-de-açúcar.
A produção de energia de co-geração consiste na energia térmica e elétrica
de forma simultânea e seqüenciada a partir do mesmo combustível - o bagaço da cana-de-
10
açúcar. Numa primeira etapa, o bagaço é queimado em caldeiras e gera vapor. O vapor de
alta pressão alimenta uma turbina que produz energia elétrica, enquanto o vapor de baixa
pressão é utilizado no processo produtivo da usina. A cogeração com bagaço depende do
fornecimento de biomassa para as caldeiras da usina. Se houver uma interrupção no
suprimento de bagaço, por exemplo, devido à falta no fornecimento de cana-de-açúcar à
usina, as caldeiras não poderão produzir vapor. (JALLES MACHADO S/A., 2006c).
As usinas de co-geração exigem um investimento relativamente baixo.
Depois de instalada, praticamente não há despesa com combustível - que é o próprio
bagaço da cana. Outra vantagem é que a energia produzida nas usinas não depende de
linhas de transmissão e já entra direto na rede distribuidora com os níveis adequados de
tensão.
A produção elétrica nas usinas de açúcar e álcool, em sistemas de cogeração
que usam o bagaço de cana como combustível, é uma prática tradicional deste segmento,
em todo o Mundo. O que diferencia seu uso, é a eficiência com que o potencial do bagaço
é aproveitado. (AMBIENTE BRASIL, 2005).
No Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar, a cogeração nas
usinas de açúcar e álcool também é uma prática tradicional, produzindo-se entre 20 a 30
kWh por tonelada de cana moída, como energia elétrica e mecânica, esta última usada no
acionamento direto das moendas (AMBIENTE BRASIL, 2005).
Uma contribuição adicional para o desenvolvimento sustentável nacional
inclui o fato que a cogeração com bagaço desempenha um importante papel no
desenvolvimento econômico do país, já que a indústria brasileira de cana-de-açúcar gera
cerca de 1 milhão de empregos e é um agronegócio com significativa participação no
balanço comercial do país. Além de disso, atividades de projeto de bagaço contribuem para
apoiar o modelo competitivo do setor elétrico brasileiro. (JALLES MACHADO S/A.,
2006c).
5. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA
Na história da Usina de Açúcar Jalles Machado, o fundador Sr. Jalles
Machado, que foi um deputado federal no início do século 20, defendeu o uso do etanol
desde daquele tempo como uma forma de suprir o interior do país com um combustível
11
ambientalmente correto. Seu filho Dr. Otávio Lage de Siqueira disseminou o estilo de
administração do pai pela empresa. (JALLES MACHADO S/A., 2006c).
Em 1980, o ex-governador do estado de Goiás, Dr. Otávio Lage de Siqueira,
iniciou o movimento para criar na cidade de Goianésia uma destilaria de álcool carburante,
produto na época, incentivado pelo Governo, através do programa PROÁLCOOL.
(JALLES MACHADO S/A., 2006a).
Aos 14 dias do mês de novembro de 1980, era realizada a solenidade de
fundação da destilaria denominada Goianésia Álcool S/A., localizada à Rodovia GO 080
Km 71,5 Zona Rural, Fazenda São Pedro, começando a mais nova e próspera empresa da
região. Além da produção de álcool, em 18 de maio de 1993, a empresa passou a fabricar
açúcar, alterando sua denominação social para “Jalles Machado S/A. Açúcar e Álcool”.
Em 01 de fevereiro de 2000, através da Assembléia geral Extraordinária (AGE), arquivada
na junta comercial do Estado de Goiás (JUCEG) sob o nº 52000119733 foi alterada a
denominação social para Jalles Machado S/A. (JALLES MACHADO S/A., 2006a).
Em sua primeira safra, 1983, a destilaria produziu um total de álcool de
13.795.796,00 litros, dez anos depois (1993) passou a fabricar açúcar, totalizando em sua
primeira safra 737.349,40 sacas de açúcar, e passando sua produção de álcool para
56.852.251,72 litros, aumentando a cada ano sua produção de açúcar e álcool. (JALLES
MACHADO S/A., 2006b).
Em 2001, com a instalação de uma caldeira de alta pressão, a empresa,
passa a produzir energia para exportação em sua própria unidade industrial através da
implantação do sistema de cogeração de energia com o aproveitamento do bagaço da canade-açúcar, chegando a exportar 3.956,92 Mwh de energia neste ano. Em 2003 foi ampliada
a capacidade de cogeração para 26.806,92 Mwh de energia. No mesmo ano iniciou a
validação do “Projeto de Cogeração com Bagaço Jalles Machado (PCBJM)”, para a
comercialização dos créditos de carbono gerados através do Mecanismo Desenvolvimento
Limpo (MDL) no Mercado Mundial de Carbono. (JALLES MACHADO S/A., 2006b).
6. METODOLOGIA
O local de estudo centrou-se na empresa Jalles Machado S/A. localizada na
cidade de Goianésia-GO. Pesquisou-se artigos científicos, livros, revistas, dados da própria
12
empresa, dentre outras literaturas e fontes. O período de pesquisas abrangeu as safras de
1994 a 2005, e para a avaliação foram consultados diversos setores da empresa, bem como
o Comparativo de Safras – 2006.
As variáveis de estudo foram área colhida e produtividade da cana e seus
respectivos derivados desta área; a produção geral do bagaço e sua destinação; produção
total de energia da co-geração bem como sua distribuição na empresa e a exportação do
excedente; a quantidade de energia despachada para a rede e o número de horas de
operação dos motores de irrigação, desde 2001 até o término do último período de
obtenção dos créditos. A grande maioria dessas variáveis foram utilizadas como ponto de
partida essencial para chegar aos créditos de carbono.
Os participantes do projeto são Jalles Machado S/A. e Econergy Brasil
Ltda. e Corporação Andina de Fomento (CAF) – Netherlands Clean Development Facility
(NCDF), um consignatário do Governo Holandês para comprar reduções de emissão de
Projetos de MDL na América Latina. As Partes participantes – Brasil como Parte Não
Anexo I e Holanda como Parte Anexo I (JALLES MACHADO S/A., 2004).
O monitoramento do PCBJM consiste, basicamente, no registro da
quantidade de energia vendida à rede e a quantidade de horas que cada motor opera. A
consistência dos dados é garantida por leituras mensais dos equipamentos. A Jalles
Machado é responsável por quantificar o total de horas de operação dos motores elétricos
de irrigação, e a energia vendida é uma responsabilidade fundamental da CELG, que é a
rede onde a EMPRESA faz conexão.
Realizou-se o cruzamento com as informações de variáveis de estudo, a fim
de visualizar aquelas de maior relevância. Os resultados foram agrupados, quantificados e
analisados baseados em estatística básica, de forma a elaborar tabelas e gráficos tornandoos passíveis de interpretação e posterior discussão.
Para determinar a redução de emissão devido ao deslocamento do diesel, as
horas de operação das bombas elétricas de irrigação são monitoradas e multiplicadas pelo
fator de emissão da linha de base, para isso, as horas são convertidas para MWh e
posteriormente em redução de ton CO2 através do fator de conversão. O fator de conversão
é definido pelo DCP – Documento de Concepção de Projeto, e a forma que é obtida esses
valores são informações estratégicas e confidenciais não sendo publicamente disponíveis.
Para o cálculo das Reduções de CO2 ano foi utilizado as equações 1, 2 e 3 como é
demonstrado a seguir:
13
Dados:
•
Constante 746 -> conversão da potência em Watt;
•
Fator de conversão: 0,2677.
Equação 1:
P= Pm(CV) * 746 / 1000
(KW)
Equação 2:
E= P(KW) * t(horas) / 1000
(MWh)
Equação 3:
RtonCO2= 0,2677 * E(MWh)
(ton)
Onde:
•
P= potência total do motor (KW)
•
Pm= potência do motor (CV)
•
E= quantidade de energia consumida (MWh)
•
t= tempo trabalhado (horas)
•
RtonCO2= total de reduções de CO2 ano (ton)
O cálculo das reduções de ton CO2 ano da indústria é baseado nos dados de
geração de eletricidade (Energia exportada em MWh) da Jalles Machado, a energia
exportada é multiplicada pelo coeficiente de emissão da margem combinada (fator de
conversão) que é o mesmo utilizado para os motores de irrigação.
Depois de ser feito a conversão das horas do motores elétricos para MWh, é
possível obter a quantidade de energia exportada da cogeração para a irrigação, logo, é
somado a quantidade total de energia exportada da indústria (MWh) e dos motores
elétricos da irrigação (MWh), com isso, é possível obter a quantidade de reduções de CO2
ano da empresa multiplicando o total de energia exportada pelo fator de conversão.
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O PCBJM é uma atividade de projeto de energia renovável conectada a
rede, deslocando energia da rede utilizando eletricidade gerada a partir de fontes
renováveis (bagaço) e assim resultando em redução de emissão de gases de efeito estufa no
setor energético. Um período de sete anos foi escolhido, começando em abril de 2001. A
tecnologia utilizada é o modelo do ciclo de vapor Rankine, adotada no mundo inteiro e
disponível no Brasil. O PCBJM espera trazer benefícios sociais, ambientais e econômicos,
e dessa forma contribuir para os objetivos de desenvolvimento sustentável do Governo
Brasileiro (JALLES MACHADO S/A., 2004).
14
A empresa Jalles Machado S/A. possui 32.380 hectares de área disponível
para cultivo da cana-de-açúcar para a safra de 2006, porém esta área não é completamente
utilizada no plantio da cana, o solo onde é plantado a cana é utilizado por um período
médio de 5 anos, após esse período é feito sua recuperação por um tempo médio de 1 ano
através do plantio de leguminosas como a soja e a Crotalária juncea.
A empresa encontra-se em sua 24ª safra, desde sua fundação até os dias
atuais e a cada ano está aumentando gradativamente sua produção. Dos resultados obtidos
e mostrados no quadro 1, percebeu-se que, nas safras subseqüentes a produtividade por
hectare plantado tem diminuído, resultando em perda de produção, a explicação para essa
diminuição está relacionada a vários fatores, dentre eles, alguns principais como: a
expansão para áreas de menor fertilidade, a concentração de grandes volumes de chuvas
por curto período de tempo, e as atividades mecanizadas que são pouco eficientes na
melhoria das condições físicas e químicas do solo.
Quadro 1. Comparativo de Safras desde 1994 até 2005.
CANA
PERÍODO
ÁREA
DIAS DE
COLHIDA
SAFRA
PRODUÇÕES
PRODUTIVIDADE
MOIDA
BAGAÇO (TON)
HECTARE
(TON)
BAGAÇO
CRU (TON)
COGERAÇÃO
HIDROLISADO
ANO
INÍCIO
TÉRMINO
1994
12/05/1994
08/11/1994
191
9.612
96
918.722,56
244.705,00
242.013,79
2.691,21
1995
26/04/1995
10/11/1995
199
10.623
100
1.062.297,94
245.599,32
239.268,12
6.331,20
1996
08/04/1996
05/12/1996
242
14.874
89
1.326.186,77
337.132,18
326.197,21
10.934,97
1997
21/04/1997
28/11/1997
222
15.288
92
1.412.295,61
407.465,05
394.131,03
13.334,02
1998
24/04/1998
16/11/1998
207
15.843
80
1.267.438,07
353.016,67
351.355,63
1.661,04
1999
03/05/1999
03/10/1999
154
14.513
67
967.235,94
268.323,14
266.536,76
1.786,38
2000
24/04/2000
22/10/2000
182
14.537
78
1.133.746,24
313.665,38
312.257,92
1.407,46
2001
23/04/2001
30/11/2001
222
17.198
77
1.332.158,24
391.623,62
391.623,62
0
2002
17/05/2002
22/11/2002
190
18.192
71
1.296.575,17
360.340,76
355.457,94
4.882,82
2003
25/05/2003
30/11/2003
190
19.198
78
1.505.125,72
431.963,75
431.963,75
0
2004
04/05/2004
30/10/2004
180
22.305
71
1.576.052,53
461.190,78
461.190,78
0
2005
02/05/2005
28/10/2005
180
21.583
73
1.575.562,18
434.382,73
434.382,73
0
Fonte: Jalles Machado S/A. – Setor de Controladoria. Tabela Modificada.
Para cada tonelada de cana é gerado em média 275 Kg de bagaço (28% em
média), sendo que a cada safra, obtém-se maior volume de bagaço, resultando em grandes
quantidades de resíduos, entretanto, recentemente é todo utilizado na cogeração para o
aproveitamento energético (ver produção de bagaço da cana na figura 1).
15
Produção de Bagaço de Cana
500.000,00
450.000,00
400.000,00
Ton / ano
350.000,00
BAGAÇO CRU
300.000,00
250.000,00
CO-GERAÇÃO
200.000,00
HIDROLISADO
150.000,00
100.000,00
50.000,00
0,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Período de Safra
Figura 1. Jalles Machado S/A. 1994 – 2005.
O setor sucroalcooleiro, historicamente, sempre explorou a biomassa
(bagaço) de uma maneira ineficiente, utilizando caldeiras de baixa pressão para abastecer a
própria empresa, e a partir de 1988 começou a utilizar uma pequena quantidade para a
hidrólise como ração animal (figura 1). Em 2001 foi ampliada a capacidade da cogeração
de energia através da implantação de uma caldeira de alta pressão, com isto o excedente de
energia que é chamado de energia exportada passou a ser comercializada para a CPFL –
Companhia Paulista de Força e Luz, e ainda gerar créditos de carbono comercializados
com o Governo Holandês.
A figura 1 representa a destinação final do bagaço, a maior parte dele
sempre foi utilizada na cogeração e um pequeno percentual na hidrólise, outra quantidade é
estocada no próprio pátio da usina de forma estratégica, com a finalidade de dar início à
próxima safra. Nem sempre é possível medir a quantidade estocada, faz –se uma estimativa
entre 5.000 a 15.000 toneladas de bagaço.
Com relação à irrigação, o uso de óleo diesel como combustível para os
motores de irrigação sempre foi considerado a opção mais comum quando investimentos
em irrigação foram necessários, para áreas não muito grandes e tempo de operação
relativamente curto, o uso de irrigadores a diesel é consideravelmente barato. No entanto,
devido ao aumento da área plantada e o tempo de operação dos irrigadores, é também
aumentado o uso de motores elétricos para a irrigação é favorável, entretanto ela requer a
existência de linhas de transmissão que pode tornar o projeto inviável, mas investimentos
16
no PCBJM abriram as portas para Jalles Machado expandir linhas de transmissão interna
para distribuir energia para os motores elétricos e, dessa forma, aumentar a irrigação.
A empresa a cada safra tende a aumentar sua produção, portanto, há o
aumento da lavoura, e, respectivamente a necessidade adicional da irrigação, que será feita
pelos novos motores elétricos. No entanto, os 25 geradores a diesel da empresa, os quais já
estavam instalados anteriormente, continuam a operam, podendo ser substituídos
gradativamente por motores elétricos, enquanto isso os novos motores atendem a nova
demanda de irrigação.
A empresa começou a produzir energia exportada em de 2001, e em 2003
foram
adquiridos 6 novos motores elétricos, onde começou-se a computar as horas
operadas e suas respectivas reduções de CO2. Quatro diferentes valores de capacidade dos
motores são utilizados: 100CV, 150CV, 200CV, 250CV (Quadro 2), são instalados em
diferentes locais, o que significa diferentes necessidades de potência para bombear em
diferentes recalques ou distâncias.
Quadro 2. Produção de horas e reduções de CO2 dos motores de irrigação 2003 – 2005.
HORAS TRABALHADAS DOS MOTORES ELÉTRICOS
REDUÇÃO DE CO2/ANO (Ton)
MOTOR
POTÊNCIA
2003
2004
2005
TOTAL
2003
2004
2005
TOTAL
10.805
100 CV
3376
3219
2778
9373
67,42
64,28
55,48
187,18
10.806
100 CV
3063
3665
3223
9951
61,17
73,19
64,36
198,72
10.807
100 CV
3001
3223
3196
9420
59,93
64,36
63,83
188,12
11.044
150 CV
1699
1355
1695
4749
50,89
40,59
50,77
142,25
10.791
200 CV
1800
2006
1845
5651
71,89
80,12
73,69
225,70
11.045
250 CV
1838
1734
1359
4931
91,76
86,57
67,85
246,18
403,07
409,12
375,98
1188,15
O quadro 2 representa os 6 motores com suas respectivas potências e a
quantidade de horas operadas. A quantidade reduzida de CO2 varia conforme a potência de
cada motor, enquanto maior for à potência, maior será o consumo de energia e também as
reduções de CO2 (Quadro 2). Os motores da Jalles Machado contribuíram com uma
redução média de 396,05 ton de CO2/ano e juntos 1.188,15 ton de CO2. A contribuição de
reduções da irrigação é muito pequena se comparada com as reduções da energia exportada
da indústria (figura 2).
17
Reduções de CO2
14.000,00
ton CO 2/ano
12.000,00
10.000,00
8.000,00
INDÚSTRIA
6.000,00
MOTORES ELÉTRICOS
4.000,00
2.000,00
0,00
2001
2002
2003
2004
2005
Período de Safras
Figura 2. Reduções de CO2. 2001 - 2005
A Jalles Machado tem uma autorização da ANEEL – Agência Nacional de
Energia Elétrica para operar como Produtor Independente de Energia Elétrica (PIE), o qual
é uma firma ou consórcio de firma que podem receber uma concessão ou autorização para
produzir e vender toda ou parte da energia elétrica, por sua conta e risco, como definido
pelo Decreto Federal nº 2003 de 10 de janeiro de 1996.
A autorização da ANEEL, não substitui, ou altera, o requisito da companhia
cumprir com todas as outras leis relevantes, em particular requisitos ambientais. Os
possíveis impactos ambientais da atividade do PCBJM são analisados pela Jalles Machado
e colocados em relatório chamado Relatório Ambiental Simplificado (RAS) e, enviado
para a Agência Goiana de Meio Ambiente (AGMA).
A CELG juntamente com a Jalles Machado são responsáveis pelas leituras
do medidor de eletricidade e emissão de relatório sobre a quantidade de eletricidade
despachada a rede em base mensal para CPFL. A energia produzida (quadro 3) são lidas
por computadores e enviadas via modem diretamente aos computadores da CELG que, no
final do mês, relata a Jalles Machado a quantidade total de energia vendida.
18
Quadro 3. Produção total de energia e respectivas distribuições, bem como o total de
reduções de CO2 adquiridos neste período. 2001 – 2005
ENERGIA DISTRIBUIDA PARA INDÚSTRIA E IRRIGAÇÃO (MWh)
INDÚSTRIA
MOTORES ELÉTRICOS
CONSUFATOR DE REDUÇÕES
FATOR
MO
CONVERSÃO
REDUÇÕES
CONVERSÃO
TON
CONVERSÃO
HORAS
(MWh)
TON CO2/ANO
TON CO2/MWh CO2/ANO
TON CO2/MWh
ENERGIA
(MWh)
ENERGIA
EXPORTADA
(MWh)
2001
25.818
4.352,48
0,2677
1165,16
2002
33.138
9.034,25
0,2677
2418,47
#
#
#
2003
56.353
26.790,48
0,2677
7171,81
14.777
1.505,69
0,2677
2004
79.062
44.468,32
0,2677
11904,17
15.202
1.528,29
0,2677
409,12
2005
78.104
42.716,54
0,2677
11435,22
14.096
1.404,49
0,2677
375,98
ANO
#
#
#
#
TOTAL
TOTAL
ENERGIA
REDUÇÕES
EXPORTADA INDÚSTRIA E
IND. AGR.
AGRÍCOLA
(MWh)
TON CO2/ANO
4.352,48
1.165,16
#
9.034,25
2.418,47
403,07
28.296,17
7.574,88
45.996,61
12.313,29
44.121,03
11.811,20
131.800,54
35.283,00
.
Ao deslocar eletricidade baseada em combustíveis fósseis por energia
gerada a partir de fontes renováveis e por evitar o consumo de combustíveis fósseis pelas
bombas de irrigação a diesel, o projeto PCBJM resulta na redução de emissões de CO2 que
são reais, mensuráveis e que dão benefícios de longo prazo para a mitigação da mudança
do clima. Uma vez que o projeto seja implementado como planejado,deve atingir as
reduções de emissão estimadas. O quadro 3 ilustra a produção total de energia em MWh, a
energia exportada e a distribuição para os motores elétricos, bem como suas respectivas
reduções de CO2 (Figura 3).
Produção e Distribuição de Energia
90.000
Energia (MWh)
80.000
70.000
60.000
PRODUZIDA
50.000
EXPORTADA
40.000
MOTORES ELÉTRICOS
30.000
OUTROS
20.000
10.000
0
2001
2002
2003
2004
2005
Período de Safra
Figura 3. Produção total de energia e respectivas distribuições na empresa. 2001 – 2005.
19
Toda energia produzida na Jalles Machado, é consumida na própria
empresa, com exceção da exportada que vendida para CPFL, conforme mostra a figura 3.
Em média, 48,4% da energia produzida é exportada, 50 % é utilizada em toda a empresa
(indústria, administração, refeitório, álcool gel, oficinas, dentre outros), e apenas 1,63% é
destinada para os motores de irrigação (Figura 3).
CONCLUSÃO
A cogeração com bagaço como fonte de energia sustentável não somente
contribui para a mitigação do aquecimento global, como também cria uma vantagem
competitiva sustentável para a produção agrícola na indústria da cana-de-açúcar no Brasil.
Utilizando os recursos naturais disponíveis de modo mais eficiente, a atividade o PCBJM
ajuda a aumentar o consumo de energia renovável. Além disso o projeto demonstra a
viabilidade da geração de eletricidade como um negócio secundário, e uma nova fonte de
receita para indústria açucareira.
A característica única de que a geração de energia a partir da cana-de-açúcar
no país ocorra nos meses de seca, quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas, que é
a mais importante fonte de energia elétrica do país está baixo, faz desse tipo de projeto um
complemento ao sistema elétrico nacional e torna a cogeração de energia a partir do bagaço
atrativa para potenciais compradores de eletricidade.
O tipo de projeto utilizado na Jalles Machado poderia ser implantado em
qualquer usina, pois todas elas já usam o bagaço para gerar energia de baixa eficiência
(geradores e caldeiras), que não permitem produzir excedente de energia para a venda, nem
para outros equipamentos, como irrigadores. Dessa forma, os irrigadores a diesel é bastante
aplicado na lavoura de cana-de-açúcar.
No caso da Jalles Machado, a expansão do plantio de cana ocorreria com ou
sem o projeto de cogeração, em função da alta dos preços do açúcar e álcool. Portanto, o
aumento do uso de irrigadores a diesel era um fato. Então, com o aumento da eficiência na
cogeração, foi possível vender excedente e alimentar os irrigadores elétricos. O uso da
eletricidade do projeto de cogeração evita o aumento de emissões de CO2, podendo com
isso contribuir com as reduções de gases do efeito do planeta.
20
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O BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO FONTE DE