me a movê-lo de um lado para outro, para cima e para baixo. E provoquei, sem o querer,
a expulsão da placenta.
– Bravos! – pensei. – A natureza deu-me a lição. Agora vejamos isto – e peguei
de novo no cordão, que continuava preso à criança. – Não foi feito para ficar aqui. Tem
que sair –. E tentei repetir a manobra que tivera tanto êxito momentos antes. Mas, por
mais que puxasse, o cordão não se desprendia do umbigo.
Então enrolei o recém-nascido num lençol, acomodei-o na cama e corri ao meu
barraco. Voltei com a navalha de Arthuro e parei diante da criança, refletindo:
– Devo cortar fora isto. Mas não tão perto que possa ferir a criança. E cortei.
O sangue começou a correr.
– Santo Deus, que fiz?
Pensando rápido, vi que a solução seria amarrar depressa a ponta que ficara.
Amarrei. E tudo correu bem. Do fundo do peito, puxei, então, um imenso suspiro.
Depois lembrei-me da água a ferver. E percebi sua razão. Banhei o neném e o
vesti. Nesse momento dei-me conta de que era um homenzinho. Orgulhosa, levei-o à
mãe para que o visse.
– Tome! Olhe-o bem. O seu filho brasileiro. O primeiro da nossa turma.
Landa, que apreensiva acompanhara todos os meus passos desde que o menino
nascera, tornou-o e aconchegou-o a si.
– Brasileiro ou italiano, seria a mesma coisa. É meu filho e isto é tudo. Obrigada,
Karina.
De noitinha, quando os homens voltaram do trabalho, festejaram o acontecimento
com um gole de cachaça.
– Vinho do pobre – disse Paolo.
– Pois eu nunca me senti tão rica! – protestou Landa.
No meu canto, observando tudo, acrescentei:
– E eu nunca me senti tão útil. E orgulhosa, também.
Arthuro levantou a caneca e aplaudiu.
Bravos, Karina! E viva o nosso sangue renascendo no Brasil!
XI
Já antes da aurora se abrir, os grandes panelões oscilavam nas correntes das
trempes armadas no terreiro. O vento, soprando forte, comprazia-se em desviar as
chamas e a tirar fagulhas da lenha crepitante, chamuscando-nos as vestes e a paciência.
Sem me conter, falei a Landa, que me ajudava na peleja:
– Tenho vontade de dar um pontapé em tudo isto. Não sei por que não nos
metemos nas calças dos homens, como fazem as outras e saímos também a abrir
picada.
Landa pôs-se a rir. Sabia do pavor que eu tinha de andar no mato.
– Não fosse a pataca que me pagam e era uma vez Karina soprando fogo, Karina
se enegrecendo, Karina se sapecando.
– Maledeto Tabachi; se não tivesse ido lá, ninguém teria se lembrado de dar com
a pele aqui.
Dei de ombros. Minha mente fazia seus comentários: “Pois não queriam matas?
Aí estão. Não queriam terras? Aí estão. Não queriam ouro? Ah, o ouro... Ganharás o
pão com o suor do teu rosto. E não colhendo ouro no chão. Logo voltarão do trabalho;
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me a movê-lo de um lado para outro, para cima e para baixo. E