6 Terça-feira 4 de agosto de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia Para cima do tubarão Se o surfista tivesse ficado desesperado, tinha morrido; ele foi lá e bateu no tubarão; temos de enfrentar o tubarão Acordo todo dia antes das sete da manhã. Gosto de trabalhar. Sempre gostei. Trabalho muito. Se numa crise o líder segue trabalhando igual, não corta os próprios custos, não foca produtividade e processo, quem vai acreditar que tem uma crise? Mas não adianta se desesperar. O desesperado morre afogado. Se aquele surfista do tubarão tivesse ficado desesperado, tinha morrido. Ele foi lá e bateu no tubarão. Nós temos de enfrentar o tubarão. O dinheiro sumiu dos lugares onde tradicionalmente estava ou diminuiu. No caso do meu setor, a crise é menor no middle market, e há muitas novas empresas surgin- do pelo Brasil. Eu nunca viajei tanto. Tem uma aeromoça da TAM que acha que eu sou artista porque me vê sempre sentado no assento 11D, que tem mais espaço para a perna. Mas viajo mais é na Azul, porque só a Azul voa para alguns dos lugares que tenho ido. Sabe aqueles lugares do Brasil que o Brasil tradicionalmente esnobava? Ah, meu amigo, vá procurar a crise onde tem Sicredi. Vá a Luiz Eduardo Magalhães, na fronteira da Bahia. Dá uma olhada no grupo Ale na “Maiores e Melhores”. Já ouviu falar no grupo Iron House, de Pernambuco? Da água de coco Obrigado, na Bahia? Eu não sou Poliana. A crise é brava, é dura, mas temos de ser mais duros e inteligentes do que ela. Uma das ferramentas que ajudam muito a gerir tudo isso, pois há muito a fazer e só 24 horas no dia, é o WhatsApp. Como nosso grupo tem mais de 3.000 pessoas e várias empresas, não dá para ficar o tempo todo em reunião. Por isso, em cada empresa, faço um grupo no WhatsApp e vou acompanhando tudo on-line e em tempo real. É incrível como funciona. O WhatsApp é a melhor sala de guerra da crise. É fundamental também ter visão setorial. Não dá para cuidar só do seu próprio negócio. É preciso cuidar do seu setor. Mais do que nunca, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. E a propaganda pode ajudar muito numa crise. O Brasil tem um dos melhores parques publicitários do mundo. Em São Paulo, no Rio, em todas as regiões, a publicidade brasileira produz uma das melhores propagandas do planeta. As empresas brasileiras vão precisar da ajuda dessa criatividade para vender mais, com menos verba. Por isso, aonde eu vou, eu falo de nossas empresas e falo também de empresas que me inspiram, como a Almap, de Marcello Serpa, o Banco de Eventos, de José Victor Oliva, a TV1, de Sérgio Motta Melo, a GAD, de Porto Alegre, a Ampla, do Recife. Enfim, agências de gente guerreira e competente que fará a diferença e ajudará a sair deste momento difícil. Tenho também focado muito a gestão de nossos talentos. Nessas horas, precisamos de Silvio Santos e Faustão em nossas organizações. Temos de ser verdadeiros animadores. Espalho mensagens anticrise até nos banheiros. Celebro cada miniconquista. Porque senão a gente fica todo dia celebrando a crise. Para fazer tudo isso, é preciso trabalhar ainda mais. Mas a hora do almoço é sagrada. Eu vou fazer ginástica, almoço no escritório e volto renovado para a luta. Trabalhar é gostoso. Sobretudo quando se ama o que faz. Eu amo muito o que faço. E só gosto de trabalhar com quem gosta de trabalhar e ama o que faz. Na minha churrascaria, não aceito vegetarianos. Esta coluna está sendo finalizada às 7h09 da manhã. Bom dia, crise. Vamos à luta. Vamos para cima do tubarão. Publicitário e presidente do Grupo ABC SERVIÇOS PÚBLICOS Da escola às lojas, entidades recomendam negociar prazo Patrícia Comunello [email protected] Entidades ligadas ao comércio e às escolas particulares no Estado aconselham que o funcionalismo busque conversar para fugir de eventuais multas e juros por atrasos no pagamento das contas. Dirigentes do Sindilojas Porto Alegre, Fecomércio-RS e Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS) apostam que vai pesar o relacionamento entre clientes e empresas para dar uma chance e alguns dias para quitar a despesa. Mas é importante, advertem, avisar antes, mesmo que por telefone, no caso das escolas, que podem aplicar eventual custo extra, esclarece o Sinepe-RS. O presidente do sindicato das escolas, Bruno Eizerik, espera que não haja maiores dificuldades. Mesmo após os primeiros dias de escalonamento, Eizerik informou que a entidade não chegou a ser acionada sobre procedimentos. “Cada escola tem sua política, muitas sabem os pais que são servidores públicos. O clima será de diálogo”, projeta. Eizerik lembrou que já há incentivos a quem se adianta no pagamento, com descontos. “Esperamos que as escolas tenham compreensão. Não pagar em dia não é por vontade do pai ou da mãe”, observa. O presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, reforçou “que a crise já estava aí mesmo antes do atraso”. “A medida veio em um momento ruim, mesmo que o efeito financeiro direto seja muito pequeno”, avaliou. Bohn citou que o varejo estadual, sem incluir vendas de automóveis e materiais de construção, movimenta R$ 8,6 bilhões ao mês. Com isso, o déficit de R$ 360 milhões no caixa do Estado para quitar a conta salarial não faria tanta diferença. A sinalização futura, de freio nas decisões sobre novos gastos, é o que começa a alarmar o varejo. Por isso, Bohn considera que projeções para vendas de fim de ano precisarão ser refeitas. No curto prazo, a orientação é que os servidores busquem também as lojas para negociar mais dias, caso não se possa saldar prestações. O presidente do Sindilojas, Paulo Kruse, lembrou que a previsão de parcelamento já teria reduzido em 10% a receita na semana passada. A tolerância com atrasos e despesas financeiras será inevitável, recomenda Kruse, admitindo que a dificuldade será maior com financeiras e cartões, maioria com operações nacionais. Liquidar dívidas e eliminar novos gastos é ordem de especialistas para enfrentar a situação Salão de beleza, jantar fora e até encher o tanque de combustível do automóvel. A ordem é cortar despesas que não são consideradas essenciais. São inegociáveis o pagamento de aluguel ou financiamento habitacional, luz, condomínio, escola e supermercado. Além disso, não adianta se socorrer em saldo de poupança ou outra aplicação financeira que rende menos juros do que o custo de cheque especial ou cartão de crédito se não houver o expurgo de supérfluos. “A atitude é radical, mesmo: cortar todos os gastos possíveis”, avisa o diretor de programas de finanças da ESPM-Sul, o professor Antônio Ricardo Monteiro Marinho. “Se tiver de pegar ônibus por um tempo está valendo. A situação exige equilíbrio no orçamento, se a pessoa ganha R$ 2 mil, tem de viver com esse valor.” Na gestão das finanças, Marinho cita que as pessoas se dividem entre racionais, que costumam ter reserva e viver com o que ganham, e emocionais, suscetíveis ao ímpeto de gastar e se endividar. Ele diz que é preciso rever despesas, trocar dívida em cheque especial e cartão por eventual crédito mais barato e adotar a norma: “Só comprar se tiver dinheiro”. O presidente do Conselho Regional de Economia, Fernando Ferrari Filho, lamentou que o corte de gastos acabou atingindo o lado mais fraco. Ferrari alerta que o momento é o mais adverso, com inflação crescendo, juros de varejo e cartão mais altos e ainda desemprego. “O servidor tem estabilidade, mas pode ter na família alguém que está sem trabalho, o que já afeta a renda.”