UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATUS SENSU EM CLÍNICA MÉDICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS EPILEPSIA EM CÃES Andresa Pinto dos Santos Rio de Janeiro, set. 2006 ANDRESA PINTO DOS SANTOS Aluna do Curso de Especialização Latus Sensu em Clínica Médica e Cirurgia em Pequenos Animais EPILEPSIA EM CÃES Trabalho Monográfico de conclusão de curso de Especialização Latus sensu em Clínica Médica e cirúrgica de pequenos animais (TCC), apresentado à UCB côo requisito parcial para obtenção de título de Especialista em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, sob a orientação do Prof. Paulo Souza Júnior. Rio de Janeiro, set. 2006 EPILEPSIA EM CÃES Elaborado por Andresa Pinto dos Santos Aluna do curso de Especialização Latus Sensu em Clínica Médica e Cirúrgica em Pequenos Animais Foi analisado e aprovado com grau: --------------------------. Rio de Janeiro, 04 de setembro de 2006. Membro Membro Prof. Orientador Presidente Rio de Janeiro, set. 2006 RESUMO: A epilepsia em cães é uma afecção comum na rotina clínica. O presente trabalho faz uma revisão sucinta sobre a fisiopatogenia, causas, diagnóstico e tratamento da doença. Ênfase é dada as alternativas de tratamento através do uso de novas drogas ou da associação delas. ABSTRACT: Canine epilepsy is common problem in clinical rotine. This paper wrote a brief review about fisiopatogeny, causes, diagnostic and treatment of epilepsy. Enphasys is given to treatament alternatives such as new drugs or association of then. iv 1. INTRODUÇÃO: Na Clínica Médica Veterinária a maior parte das queixas relacionadas a alterações neurológicas é de proprietários com animais que apresentam crises convulsivas. CHRISMAN (1985) define a epilepsia como um distúrbio cerebral caracterizado por convulsões recidivantes, que pode ser devido a um defeito bioquímico hereditário ou ser adquirida por algum dano cerebral que resulte em um foco de neurônios com limiar alterado. 2. FISIOPATOGENIA DA EPILEPSIA: As crises epiléticas sempre constituem indício de uma função anormal do prosencéfalo. A disfunção pode ser devido a uma lesão primária no cérebro ou secundária a uma anormalidade metabólica. LORENZ e KORNEGAY (2006) afirma que “as crises epiléticas representam descargas hipersincrônicas anormais de neurônios corticais. Há um desequilíbrio entre os mecanismos excitatórios e inibitórios que favorecem o início súbito da excitação. O ácido gama-aminobutírico (GABA) e o glutamato são os principais agentes neurotransmisores inibitórios e excitatórios”. De acordo com CHRISMAN et al (2005) a epilepsia pode ser classificada como idiopática ou herdada, sintomática ou secundária e secundária provável ou adquirida. Quadro 1: Classificação da epilepsia: Descrição História EPILEPSIA IDIOPÁTICA (*) EPILEPSIA SINTOMÁTICA EPILEPSIA SINTOMÁTICA PROVÁVEL Ataques convulsivos sem lesão estrutural subjacente no cérebro Ataques convulsivos causados por uma lesão estrutural identificável no cérebro Ataques convulsivos tidos como resultantes de uma lesão estrutural no cérebro, embora não se consiga identificar Cão de raça pura, de 6 meses a 5 anos de idade, podem ou não ser conhecidas convulsões na linhagem familiar, presume-se que seja genética Cão de raça pura ou não, maior de 6 meses de idade, pode haver história prévia de trauma em cabeça, infecção, neoplasia ou alteração do desenvolvimento como Cão de raça pura ou não, maior de 6 meses de idade, suspeita-se de dano cerebral residual decorrente de um distúrbio intra ou extracraniano anterior hidrocefalia (*) De incidência mais comum em cães. Fonte: Adaptado de CHRISMAN (1985); CHRISMAN et al (2005); LORENZ e KORNEGAY (2006). 3. CAUSAS: As crises epiléticas podem ser causadas por qualquer processo que altere a função neuronal normal. De maneira semelhante a todas as doenças neurológicas, o diagnóstico diferencial é formulado em categorias amplas. 3.1. Idiopáticas: A epilepsia idiopática, anteriormente chamada de epilepsia verdadeira, não tem qualquer causa patológica demonstrável e pode ser hereditária. Embora possa acometer uma série de espécies, os estudos mais abrangentes foram aqueles realizados em seres humanos e cães. Segundo CHRISMAN (1985) suspeita – se que as convulsões em epilepsia idiopática são devidas a um defeito bioquímico nos neurônios corticais ou em grupos de neurônios subcorticais ou em seu meio circundante mais próximo, de modo que ocorrem, periodicamente, descargas espontâneas. A primeira crise de um animal com epilepsia primária normalmente ocorre entre 6 meses e cinco anos de idade. O clínico pode fazer o diagnóstico de crises epiléticas idiopáticas apenas excluindo outras causas. Nenhum achado diagnóstico positivo pode confirmar o diagnóstico. LORENZ e KORNEGAY (2006) afirma que a raça (quadro 2), idade e o histórico podem ser altamente sugestivos, especialmente na presença de histórico familiar de crises epiléticas. Quadro2: Raças com epilepsia idiopática RAÇAS COM FATOR GENÉTICO COMPROVADO OU ALTAMENTE SUSPEITO ALTA INCIDÊNCIA DE DISTÚRBIOS CONVULSIVOS Boxer Cocker Spaniel Collie Golden Retriever Setter Irlandês Labrador Rretriever Shinauzer miniatura Poodle São Bernardo Husky Siberiano Fox Terrier de pêlo áspero Beagle Dachshund Pastor Alemão Cão de Laboratório de Horak FONTE: LORENZ e KORNEGAY (2006) 3.2. Degenerativa: As deficiências em enzimas específicas induzem ao metabolismo celular anormal com acúmulo de produção de metabólitos no interior dos neurônios. Essas doenças de armazenamento podem produzir crises epiléticas como parte da síndrome clínica. LORENZ e KORNEGAY (2006) afirma que “a lissencefalia é o distúrbio de armazenamento mais comum em cães”. 3.3. Do Desenvolvimento: Distúrbios deste grupo podem ou não ser hereditários, mas são distinguidos da epilepsia primária por acarretar alterações patológicas demonstráveis no cérebro. Segundo LORENZ e KORNEGAY (2006) A hidrocefalia é o distúrbio de desenvolvimento mais comum, que provoca crises epiléticas. 3.4. Inflamatórias/ Infecciosas: Qualquer doença inflamatória ou infecciosa tem o potencial de provocar crises epiléticas se ela invadir o prosencéfalo. De acordo com LORENZ e KORNEGAY (2006) o vírus da cinomose é provavelmente a causa infecciosa mais comum de crises epiléticas no cão e que meningoencefalomielite granulomatosa é a causa inflamatória comum de crises epiléticas em cães. CHRISMAN (1985) afirma que as crises podem ocorrer sem nenhuma doença clínica visível ou ocorrer muito tempo depois da resolução de uma doença clínica. 3.5. Metabólicas: As convulsões podem estar associadas a diversos distúrbios metabólicos como hipoglicemia, hipocalemia, hipomagnesemia, hipóxia, alterações hepáticas, falência renal em estágio final, desequilíbrios ácido – básicos, particularmente a alcalose, e distúrbios de osmolaridade . LORENZ e KORNEGAY (2006) afirma “as síndromes hipoglicêmicas e a hepatoencefalopatia são as doenças mais comuns dessa categoria”. 3.6. Neoplásicas: CHRISMAN (1985) “Processos neoplásicos primários ou metastáticos que afetam o córtex cerebral e o tronco cerebral podem resultar em convulsões associadas a alterações de comportamento”. LORENZ e KORNEGAY (2006) defende que a atividade convulsiva é gerada por uma anormalidade nos neurônios, adjacentes à neoplasia, que são comprimidos ou recebem irrigação sanguínea insuficiente. Os tumores cerebrais não são eletricamente ativos. As crises epiléticas podem ser o primeiro sinal de tumor cerebral afirma LORENZ e KORNEGAY (2006). A neoplasia como causa de crises epiléticas é relativamente comum em cães com mais de cinco anos de idade e a incidência aumenta à medida que o animal amadurece 3.7. Nutricionais: As crises epiléticas podem ser a manifestação terminal de uma série de distúrbios nutricionais. As vitaminas do complexo B são as mais freqüentemente incriminadas. LORENZ e KORNEGAY (2006) diz que “a deficiência de Tiamina em cães provoca hemorragia e necrose no tronco cerebral”. 3.8. Tóxicas: Muitos intoxicantes químicos causam convulsões em animais. Segundo CHRISMAN (1985) uma intoxicação deve ser considerada quando o animal apresenta estado epilético e não tem história prévia de convulsões. O diagnóstico depende geralmente do histórico, da identificação da substância tóxica a partir de uma análise de tecidos corpóreos ou de conteúdo intestinal e da resposta ao tratamento. De acordo com LORENZ e KORNEGAY (2006) as intoxicações por organofosforados e hidróxitriptofano (chocolate), são os de ocorrência mais comum, na clínica veterinária. 3.9. Traumática: As crises epiléticas podem ser observadas imediatamente após o traumatismo craniano agudo, como resultado de uma lesão neuronal direta. As crises pós- traumáticas podem ocorrer muitas semanas a alguns anos depois do dano à cabeça. O foco desenvolve-se secundariamente a uma cicatriz no cérebro, no local da lesão inicial. A anormalidade focal pode ser identificada no eletroencefalograma. 4. DIAGNÖSTICO: A maioria dos animais com crises epiléticas apresenta um histórico semelhante de convulsões episódicas. Por essa razão que LORENZ e KORNEGAY (2006) afirma que são úteis um protocolo de diagnóstico e um plano de controle e tratamento. O exame físico pode ser útil para detectar uma doença em outros sistemas do organismo, que podem estar afetando o cérebro e causando convulsões secundárias ou concomitantes afirma CHRISMAN (1985). CHRISMAN (1985) diz que “um déficit neurológico encontrado no exame, que não foi relatado na história, pode ser um processo em desenvolvimento associado a uma doença ativa ou uma lesão antiga que é resídua; de alguma lesão prévia, que também produziu um foco convulsivo”. Recentemente em nova publicação CHRISMAN et al (2005) afirmou que “a anamnese constitui o aspecto mais importante da avaliação de um animal com ataques convulsivos, pois geralmente apenas o proprietário observa eventos convulsivos e o exame neurológico em animais com epilepsia idiopática é freqüentemente normal”. Um banco de dados mínimo faz a triagem da doença neurológica primária e dos distúrbios metabólicos ou sistêmicos. TESTE DIAGNÓSTICOS: Ataques convulsivos generalizados episódicos Cão de raça pura, início com 1 a 5 anos de idade. Ataques convulsivos progressivos e incidiosos por vários meses. Exame neurológico normal entre os ataques. Hemograma, bioquímica sérica, urinálise, ácidos biliares séricos. Supor epilepsia idiopática. Iniciar terapia anticonvulsiva Hemograma, bioquímica sérica, urinálise, ácidos biliares séricos, Tomografia computadorizada, Ressonância magnética, Análise de líquor Testes clínicopatológicos e outros testes diagnósticos anormais Distúrbios extracranianos (ou seja, intoxicações, Cães, início em < 1 ano ou em > de 5 anos. Exame neurológico normal entre os ataques. Testes clínicopatológicos normais. Exame neurológico normal, Anãlise de líquor, TC E RM normais. Epilepsia sintomática provável (danos residuais) ou idiopática Hemograma, bioquímica sérica, urinálise, ácidos biliares séricos, Tomografia computadorizada, Ressonância magnética. Análise de líquor. Testes clínicopatológico normais. Exame neurológico normal ou anormal, TC, análise de líquor,RM anoemais. Epilepsia sintomática (por ex. encefalite, traumatismo na hipoglicemia, encefalopatia hepática, etc) cabeça, neoplasia ou hidrocefalia 5. ESTADO EPILÉTICO: O estado epilético pode ocorrer independentemente da causa dos ataques convulsivos, é freqüentemente precipitado por redução ou interrupção de uma terapia anticonvulsiva de manutenção ou se os níveis séricos da droga forem afetados por interação entre drogas afirma CHRISMAN et al (2005) LORENZ e KORNEGAY (2006) afirma que “se o animal apresenta convulsões múltiplas ou reentrantes, estas precisam ser interrompidas, independente mente da causa, antes mesmo de avaliar mais precisamente o animal”. Ataques convulsivos que duram mais de 10 minutos ou ocorrem em sucessão devem ser considerados emergência médica. O estado epilético resulta em hipóxia devido a dificuldade de respirar ocasionada por contrações musculares graves, a hipóxia pode causar edema cerebral acarretando danos cerebrais irreversíveis ou morte de acordo com CHRISMAN (1985). Pode se desenvolver insuficiência renal como resultado de rabdomiólise ou mioglobinúria secundária à atividade muscular prolongada. 6. TRATAMENTO: 6.1. Controle do estado epilético: O Estado epilético resulta em uma emergência séria, que pode resultar na morte do paciente. Existem protocolos para o tratamento do Estado Epilético: • Interromper a crise epilética com terapia anticonvulsivante imediata; administração de Diazepan por via endovenosa na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg, até uma dose máxima de 10mg/cão em cães. Se as crises epiléticas não forem controladas, aplicar fenobarbital sódico por via endovenosa na dose de 2-4mg/kg em intervalos de 30 minutos, até uma dose máxima de 10-15mg/kg. • Estabelecer via aérea patente, se necessário fornecer oxigênio. • Fixar um cateter IV,retirar sangue para hematologia e análise bioquímica, iniciar fluidoterapia. Mensurar glicemia assim que possível. Em casos de hipoglicemia administrar dextrose 50% IV, em doses de 2-3ml para raças toy e 50ml para raças gigantes. • Monitorar a temperatura corporal, se ela permanecer elevada, maior que 40,5C, resfriar o animal com gelo até a temperatura de 39,4C. • Assim que as crises epiléticas estiverem sob controle, avaliar o animal em busca da etiologia das crises convulsivas. Caso encontre a causa, tratar a doença específica. Iniciar terapia anticonvulsivante de manutenção. 6.2. Terapia Anticonvulsiva de Manutenção: A terapia anticonvulsivante de manutenção é indicada para tratamento das crises recidivantes ou intensas, especialmente se tenderem a se acumular. As drogas anticonvulsivas mais comuns usadas em cães são Fenobarbital e Brometo de potássio(KBr), afirma CHRISMAN et al (2005) . Estes agentes atuam aumentando a condutância de Cl ativada pelo GABA, o que intensifica sua ação inibitória. O Fenobarbital é o fármaco inicial de escolha para o tratamento das crises epiléticas em cães. De acordo com LORENZ e KORNEGAY (2006) a dose usual de ataque é de 2,5mg/kg por via oral, duas vezes ao dia. CHRISMAN et al (2005) recomenda o uso da dose citada acima de Fenobarbital oral para o controle de ataques convulsivos dentro de 72 horas, se os ataques não forem controlados em 7 dias pode-se aumentar a dose em até 5mg/kg a cada 12 horas. O Fenobarbital é eficaz, barato e conveniente para administração. Alguns animais se tornam tolerantes ao fenobarbital após alguns meses, a dose deve ser aumentada para manter os níveis séricos efetivos. A função hepática de cães que fazem uso de fenobarbital deve ser monitorada com a dosagem de sais biliares a cada 3 a 6 meses durante o primeiro ano de tratamento. Segundo CHRISMAN (1985) Fenotiazínicos, narcóticos, anti-histamínicos, outras drogas depressoras do SNC, ácido valpróico e cloranfenicol podem aumentar os efeitos do fenobarbital e causar sedação e depressão respiratória graves. O Brometo de potássio é seguro e eficaz em cães. Representa terapia alternativa de primeira escolha para o fenobarbital, é comumente utilizado como anticonvulsivante inicial em cães de grande porte. A dosagem inicial do KBr é de 20- 40mg/kg por dia; são necessárias duas a três semanas para atingir os níveis terap6euticos. O estado de equilíbrio é atingido em cerca de quatro meses. No caso de ataques convulsivos em grupos freqüentes, o KBr pode ser combinado inicialmente com fenobarbital, 1-2mg/kg por via oral a cada 12 horas. Quando o KBr começa a fazer efeito, os animais ficam freqüentemente sedados, neste momento pode-se reduzir o fenobarbital em 10% a cada 7 dias até a sedação se resolver. Pode-se reduzir gradualmente a dose do Fenobarbital nos meses seguintes e, depois interrompê-la caso os ataques estejam controlados. 6.3. Outras drogas usadas na terapia anticonvulsiva de manutenção: Segundo PODELL (2004), com o surgimento de novas drogas para o tratamento da epilepsia humana; houve um aumento de opções terapêuticas e oportunidades de avaliar o uso dessas drogas na medicina veterinária. PODELL (2004), propõe novas estratégias para a terapia antiepilética que incluem: modular a ação do GABA sobre a membrana neuronal; reduzir a transmissão excitatória; regula a contudância de cátions pela membrana neuronal; diferente do mecanismo de ação do fenobarbital e brometo de potássio; drogas de eleição no tratamento da epilepsia. Infelizmente, grandes limitações existem na seleção dessas drogas na medicina veterinária, como: toxicidade; tolerância; farmacocinética inapropriada e custo. 6.3.1. Fenitoína sódica: Antigamente denominada como difenilidantoína, a fenitoína é um derivado da hidantoína , não é considerada uma anticonvulsivante geral, como o fenobarbital, afirma DE ANGELIS (1979) . Segundo BOOTH Y McDONALD (1992) esta droga está aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para o uso em cães, no controle de convulsões epileptiformes. SANDERS e YEAR (1978) e LORENZ e KORNEGAY (2006) afirmam que a droga produz um efeito estabilizador sobre as junções sinápticas, que em geral permitem a transmissão fácil de impulsos nervosos em limiares baixos; conseqüentemente o nível de excitabilidade sináptica diminui e/ou se estabiliza. Possui uma meia-vida curta, e é fracamente absorvida pelo trato gastrintestinal do cão. Ocorre ação anticonvulsivante da droga apenas após o acúmulo da fenitoína proveniente de uma série de doses. FARBNBACH (1984) diz que “a fenitoína é muito menos eficaz no cão do que o fenobarbital no controle de convulsões epiléticas” e SHUWARTZ- PORCHE (1985) acrescenta que isso se dá por sua meia vida curta demais no cão o que dificulta a manutenção de concentrações adequadas da droga no plasma e no sistema nervoso central. Pode-se administrar a fenitoína na dose de 25 a 30mg/kg, VO, a cada 6 horas na tentativa de obter níveis séricos terapêutico de 10 a 20 µg/ml após 2 semanas. Os efeitos colaterais da fenitoína no cão são moderados, por ela ser rapidamente metabolizada segundo CUNNINGHAM (1984). As vezes pode ocorrer incoordenação transitória e sedação excessiva, um grau moderado de polifagia, polidipsia e poliúria em alguns animais. Em estudos feitos por NASH (1977) foram descritas hepatite, icterícia e morte em um cão, após o uso clínico de fenitoína, entretanto, esse animal inicialmente recebeu primidona para o controle de convulsões. Hepatite tóxica e colestase estão associadas a administração da fenitoína combinada com o fenobarbital e/ou primidona afirmam BUNCH (1987) e LORENZ e KORNEGAY (2006). Quando administrada de maneira isolada, não pode ser considerada uma droga satisfatória para o tratamento da epilepsia no cão. De acordo com FREY e LOSCHER (1980) e FREY (1986) pode –se considerar o uso da fenitoína como última opção em cães que não respondem ao tratamento com o fenobarbital de maneira satisfatória. Novas hidantoínas, como a albutoína e metoína, foram sintetizadas, numa tentativa de encontrar um antiepiléptico melhor do que a fenitoína; até o momento, esse esforço não teve êxito, afirma BOOTH e McDONALD (1992). A Fenitoína pode ser encontrada no mercado sob a forma de comprimidos de 100mg ou ampolas de 5ml com 50mg/ml com nome comercial de Hidantal. 6.3.2. Primidona: No início da década de 1950, a primidona foi usada em medicina veterinária para o controle de acessos convulsivantes no cão, logo após sua introdução em medicina humana para uso clínico. A primidona é basicamente metabolizada a fenobarbital e uma pequena porção, a feniletilmalonamida. O fenobarbital é o componente básico encontrado no soro e admite-se que ele seja o principal agente ativo. Segundo SCHWARTZ-PORCHE et al (1982), apenas a primidona e o fenobarbital são eficazes no tratamento da epilepsia no cão; a eficácia da primidona para pacientas com crises epiléticas vem sendo demonstrada há anos; no entanto , diversos estudos indicam que esse fármaco apresenta pouca ou nenhuma vantagem sobre o fenobarbital. BOOTH E McDONALD (1992) afirmam que primidona é bem menos tolerada que o fenobarbital, devido ao seu potencial de induzir hepatotoxicidade. Observam-se efeitos colaterais sedativos idênticos no cão após o tratamento com fenobarbital ou primidona. A primidona pode induzir nistagmo, náuseas, sonolência e ataxia. No cão a primidona induz lesão hepática progressiva, manifestada por aumentos nos valores enzimáticos do fígado. Devido ao desenvolvimento de tolerância gradativa ou progressiva, conseqüente á indução enzimática microssomia, ás vezes o controle das convulsões no cão só pode ser obtido com doses orais de 50mg/kg (doses inicias de 1030mg/kg/ VO/ a cada 8 horas); as concentrações sanguíneas de fenobarbital, que é o metabólito da primidona mais bem monitorado, devem ser de 25-40µg/ml, para obter o controle ideal de convulsões com o mínimo de efeitos colaterais afirma CUNNINGHAM et al (1983). Segundo BOOTH e McDONALD (1992) os comprimidos de primidona devem ser administrados diretamente ao cão; recomenda-se que a redução na dose seja feita de modo progressivo e a terapia jamais deve ser interrompida abruptamente. No mercado esta droga é encontrada com nome comercial de Mysoline, caixa com comprimidos de 250mg e Primidon, na forma de comprimidos de 100mg e 250mg. 6.3.3. Levetiracetam: O levetiracetam é uma nova droga antiepilética, recentemente aprovada pelo FDA; atua acentuando a inibição do GABA, afirma ISOHERRANEN (2001). Segundo ISOHERRANEN (2001), em humanos essa droga tem grande eficiência no tratamento de pacientes com crises epiléticas parciais e generalizadas, tem um baixo potencial de interação com outras drogas e é excretada por filtração glomerular com reabsorção tubular. O metabolismo do levetiracetam em outras espécies ainda não é bem descrito. Na medicina veterinária sabe-se que esta droga pode ser usada como fármaco complementar para crises epiléticas parciais e generalizadas, com poucos efeitos colaterais com dose diária sugerida de 500 a 4.000mg afirma LORENZ e KORNEGAY (2006). 6.3.4. Gabapentina: A gabapentina é um fármaco estruturalmente semelhante ao GABA, embora o seu mecanismo de ação não se possa explicar unicamente por uma ação gabamimética. Segundo SANCHO-RIEGE (2002) em humanos é bem absorvida por via oral e possui uma cinética linear até doses de 1.800mg/dia, mostrou eficácia quer em politerapia como em monoterapia, e é particularmente vantajosa em populações especiais como idosas crianças e doentes hepáticos. Já em cães a gabapentina tem meia vida curta com eliminação em 3 a 4 horas; os níveis séricos efetivos para uma ação anticonvulsiva eficiente podem ser muito difíceis de se atingir, mesmo que a droga seja administrada a cada 6 horas; a dose recomendada para a tentativa de controle anticonvulsivo é de 6 a 15mg/ kg/ VO/ a cada 6 horas, podendo ser usada em terapia combinada com fenobarbital em animais refratários afirmam MATAR et al (2000) e LORENZ e KORNEGAY (2006). Segundo LORENZ e KORNEGAY(2006) seu maior efeito colateral é provocar sedação e que o custo da droga limita seu uso na medicina veterinária. É encontrada na forma comercial como Gabapentina em cápsulas de 300mg; Neurontin cápsulas de 300mg e 400mg; Progresse cápsulas de 300mg e 400mg. 6.3.5. Clonazepam: Segundo SCHERKL e FREY (1986) “o clonazepam é um derivado benzodiazepínico de atuação rápida”, e que pode ser usado no tratamento de emergência do estado epilético no cão afirmam FREY e LOESCHER (1995). No tratamento antiepilético de manutenção, pode ser utilizado para o controle de crises epiléticas refratárias em curto prazo, em conjunto com fenobarbital. De acordo com SCHERCKL, KURUNDI e FREY (1989) atualmente é utilizado durante o período em que o KBr está atingindo nível terapêutico. Animais desenvolvem rapidamente dependência pela ação nas enzimas microssomais hepáticas serem muito estimuladas, o que favorece a ocorrência de hepatotoxicidade em animais que fazem uso dessa droga por tempo mais prolongado. Esta droga é encontrada com nome comercial de Rivotril, nas apresentações gotas (2,5mg/ml) e comprimidos (0,5mg e 2,0mg). 6.3.6. Topiramato: Estimula a inativação dos canais de cálcio, acentua a atividade do GABA e reduz a excitabilidade mediada pelo glutamato. Segundo BARRERA-NIETO (2002) em humanos é considerado um antiepilético dotado de múltiplos mecanismos de ação e bom perfil farmacocinético, nos diferentes tipos de epilepsia infantil. Na medicina veterinária esta droga ainda está em estudo para seu uso no tratamento antiepilético em cães, sabe-se que pode ser usada como fármaco complementar para crises epiléptica parcial e generalizadas de acordo com BOOTH e McDONALD (1992). Desarranjos gastrintestinais e irritabilidade são seus efeitos colaterais mais importantes, afirma LORENZ e KORNEGAY (2006). A dose recomendada é de 5 a 10mg/kg/ VO/ a cada 12 horas. É encontrado no mercado com nome comercial de Topamax sob a forma de comprimidos de 25,50 ou100mg e cápsulas de 15 ou 25mg. 6.3.7. Ácido Valpróico: Quando usado em terapia conjunta com fenobarbital, é útil em um número limitado de casos. Possui meia vida curta e níveis terapêuticos difíceis de serem atingidos. A dose recomendada é de 60mg/ kg em associação com fenobarbital; essa associação pode ter como efeito colateral o aumento do risco de hepatotoxicidade. Seu custo também limita seu uso na medicina veterinária. 6.3.8. Outras Drogas: BOOTH e McDONALD (1992) e FREY (1986) afirmam que outros agentes antiepiléticos, raramente usados na medicina veterinária, estão disponíveis na medicina humana para tratamento de vários distúrbios convulsivantes do SNC. Sua eficácia e segurança na medicina veterinária não estão estabelecidas na maioria dos casos. São elas a Zonisimida, parametadiona, e novas hidantoínas como a albutoína e metoína de acordo com LORENZ e KORNEGAY (2006). 7. CONCLUSÃO: Na rotina clínica de pequenos animais, os casos de epilepsia são cada vez mais freqüentes. O sucesso terapêutico desses casos depende da cooperação dos proprietários e do estabelecimento de uma meta de redução das convulsões, sem necessariamente elimina-las por completo. O Fenobarbital ainda é a droga anticonvulsivante da primeira escolha, porém outros fármacos vêm sendo estudados para casos de refratariedade ao fenobarbital ou insucesso com monoterapia. Desses novos fármacos que surgem com alternativos, o Clonazepam e o Topiramato parecem ser os mais apropriados para uso em cães. A curta meia vida plasmática e o custo são os principais fatores limitantes para o uso das demais drogas no cão. REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS AITKEM, M.M.; HALL, E.; SCOTT, L.; DAVOT, J.L.; ALLEN, W.M. Liver-related biochemical changes in serum of dogs being treated with phenoberbitone. Veterinary Record, vol. 153 – pag. 13-16 , 2003. BOOTH, N.H.; McDONALD, L.E. 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