Julia Kerr Catunda Machado Adolescentes brasileiros infectados pelo HIV: características epidemiológicas e adesão terapêutica Dissertação apresentada ao curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina São Paulo 2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Julia Kerr Catunda Machado Adolescentes brasileiros infectados pelo HIV: características epidemiológicas e adesão terapêutica Dissertação apresentada ao curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina Área de concentração: Pediatria Orientadora: Professora Dra. Veronica Coates São Paulo 2009 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Machado, Julia Kerr Catunda Adolescentes brasileiros infectados pelo HIV: características epidemiológicas e adesão terapêutica./ Julia Kerr Catunda Machado. São Paulo, 2009. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Medicina. Área de Concentração: Pediatria Orientador: Veronica Coates 1. HIV 2. Terapêutica 3. Cooperação do paciente 4. Epidemiologia 5. Adolescente 6. Estudos retrospectivos BC-FCMSCSP/53-09 À minha querida família, com amor: Aos pais, Sonia e Pedro, e ao irmão João Pedro; Ao José Carlos e ao nosso bebê; À avó Marila e aos tios Roberto, Ricardo e Flávia; À Ana Maria e Assírio; À afilhada Sofia e seus pais, Juliana e André. “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios” Salmo 103:2 AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Veronica Coates, pelo incentivo, confiança e paciência. À querida Profa. Dra. Maria José Carvalho Sant’Anna, pela participação, amizade e apoio sempre presentes. À Dra. Flávia Jacqueline Almeida, pela colaboração fundamental na realização desta dissertação. À Dra. Maria Fernanda Bádue Pereira, pela colaboração na coleta de dados. À Dra. Sílvia Regina Marques, pela colaboração na realização da pesquisa bibliográfica. Ao tradutor Pedro Valladão Catunda, pela versão deste trabalho para a língua inglesa. Ao Prof. Dr. Eitan Naaman Berezin, Profa. Dra. Lília Freire Rodrigues de Souza Li, Profa. Dra. Regina Célia Lucizani Müller e Profa. Dra. Silvana Brasília Sacchetti, membros do exame de qualificação, por sua valiosa contribuição no aprimoramento deste estudo. Às amigas Dra. Roberta Machado Rissoni, Dra. Andrea Kussama Matsunaga, Dra. Ana Cláudia Guersoni e Dra. Fernanda Stella de Almeida pelo apoio e incentivo. À Rosângela Arrabal, secretária do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas de São Paulo, por toda paciência e orientação. À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, pela oportunidade de realizar o curso de pós-graduação. À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela manutenção da estrutura necessária à realização deste trabalho. Ao Departamento de Pediatria, pela oportunidade de continuar aprendendo. Aos pacientes e seus responsáveis, pela motivação deste estudo. Ao CAPES, pelo auxílio financeiro na realização deste trabalho. Abreviaturas e Símbolos AIDS .......... Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ARV ........... Antirretrovirais AZT ........... Zidovudina CD4 ........... Linfócitos T CD4+ COHERE ... Collaboration of observational HIV epidemiological research Europe DNA ........... Ácido Desoxirribonucléico EUA ........... Estados Unidos da América F ................ Sexo feminino HAART ...... Terapia antirretroviral altamente ativa HIV ............ Vírus da imunodeficiência humana HTLV-III ..... Vírus linfotrópico humano de leucemia de células T tipo III LAV ........... Vírus associado à linfadenopatia log ............. Logaritmo LT-CD4+ ... Linfócitos T CD4+ M ............... Sexo masculino n ................ Número de pacientes p ................ Nível de significância RNA ........... Ácido Ribonucléico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1 1.1 Adolescência......................................................................................................4 1.1.1 Adolescência e HIV......................................................................................4 1.2 Breve histórico do vírus e tratamento.................................................................6 1.2.1 Evolução do tratamento ARV.......................................................................7 1.3 Situação atual da Infecção pelo HIV e da AIDS .................................................8 1.3.1 Situação no mundo(7) ...................................................................................8 1.3.2 Situação no Brasil(8) .....................................................................................9 1.3.3 Transmissão Vertical ...................................................................................9 1.4 Adesão terapêutica ..........................................................................................11 1.5 Revelação do diagnóstico ................................................................................12 2 OBJETIVOS...........................................................................................................14 3 CASUÍSTICA E MÉTODO .....................................................................................15 4 RESULTADOS.......................................................................................................18 5 DISCUSSÃO ..........................................................................................................23 6 CONCLUSÕES ......................................................................................................28 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................29 FONTES CONSULTADAS.....................................................................................36 RESUMO ...............................................................................................................37 ABSTRACT............................................................................................................38 APÊNDICE.............................................................................................................39 1 INTRODUÇÃO A adolescência, definida pela Organização Mundial de Saúde como o período que vai dos 10 aos 19 anos completos(1), apresenta características comportamentais peculiares. É quando ocorre a busca e desenvolvimento da própria identidade, que cursa com oposição aos pais, questionamento dos valores aprendidos na infância e flutuações de humor. Nesta fase surge a necessidade de fantasiar um futuro imaginário e sair do presente, acompanhada da sensação de invulnerabilidade e onipotência. Desenvolve-se o exercício da sexualidade e existe a necessidade de pertencer a um grupo(2). Tudo isso gera inúmeros conflitos em relação a uma doença crônica e estigmatizante como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que precisa de grande comprometimento pessoal para ter boa evolução. Passar pela adolescência infectado pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) apresenta desafios específicos não apenas aos jovens, como também para suas famílias e cuidadores(3,4). É necessário refletir sobre adesão terapêutica, posologia, revelação do diagnóstico e planejamento de vida, além de decisões do adolescente sobre o tratamento, relacionamentos, intimidade, escolaridade e carreira profissional(5,6). Há aproximadamente 33 milhões de pessoas infectadas pelo HIV em todo o mundo. A porcentagem global de adultos infectados continua estável desde 2000, mas o número absoluto de soropositivos está aumentando. Isso se deve ao maior tempo de vida proporcionado pelo tratamento, além do número de infecções novas superar o de mortes(7). Desde a década de 80 até junho de 2008, o Ministério da Saúde notificou 506.499 casos de AIDS no Brasil, sendo 11.079 em jovens de 13 a 19 anos e 17.304 em menores de 13 anos(8). Nas últimas três décadas, desde o aparecimento dos primeiros casos de AIDS, assistimos a enorme avanço dos métodos terapêuticos, que transformaram a evolução da doença de debilitante e fatal em crônica e controlável(9,10). A Terapia Anti Retroviral Altamente Ativa (HAART), combinação de drogas antirretrovirais que bloqueiam a replicação do HIV em diferentes estágios de seu ciclo vital, provou ser 2 capaz de aumentar a expectativa e qualidade de vida, além de diminuir o risco de transmissão(11). Para alcançarmos estes objetivos, são necessários altos níveis de adesão ao tratamento, pelo menos 95%(12-14). Neste contexto, adesão pode ser definida como a proporção de comportamentos relacionados à saúde que correspondem às recomendações médicas(13). Quando essa condição não é respeitada, o nível sérico da medicação permanece em doses sub-ótimas, permitindo a multiplicação do HIV. Essa situação pode levar ao desenvolvimento e sobrevivência de cepas resistentes às drogas disponíveis, levando à perda de eficácia não apenas do medicamento em uso, mas também de outros que possam apresentar padrão de resistência cruzada e ocasionalmente de toda uma classe de drogas(15). Jovens de 15 a 24 anos representam aproximadamente 45% das novas infecções por HIV no mundo(7). Estudos norte-americanos recentes sugerem que a maioria dos adolescentes e adultos jovens com idades de 13 a 24 anos seja infectada sexualmente: os de sexo masculino através de relação homossexual, sendo apenas uma pequena porcentagem por uso de drogas injetáveis ou relação heterossexual; as de sexo feminino através de relação heterossexual, com mínima porcentagem de uso de drogas injetáveis(16). Dados brasileiros até 2005 mostravam que entre jovens de 10 a 19 anos do sexo masculino 33% da transmissão era atribuída ao uso de drogas injetáveis, 21% a relações homossexuais e 14% a relações heterossexuais. Na mesma faixa etária para o sexo feminino a transmissão por relação heterossexual representava 70% e o uso de drogas injetáveis 13% das novas infecções(17). Mundialmente, 370.000 crianças e adolescentes menores de 15 anos foram infectados pelo HIV em 2007, aumentando o número de soropositivos de aproximadamente 1,6 milhão em 2001 para cerca de 2,0 milhões. Estima-se que mais de 90% das crianças infectadas tenham adquirido o vírus por transmissão vertical (durante o parto, aleitamento materno ou gravidez). Uma pequena fração da transmissão em crianças é causada por transfusão de sangue e hemoderivados, abuso sexual, seringas contaminadas ou atividade sexual (sendo esta última significativa entre adolescentes)(7). 3 Sem tratamento, ocorre rápida progressão para AIDS no primeiro ano de vida em aproximadamente 20% das infectadas pelo HIV(18). A introdução da HAART levou a declínio significativo da morbidade e mortalidade em crianças(19,20), sendo que a falha terapêutica está frequentemente relacionada a adesão inadequada(21,22). Com tratamento, muitas estão chegando à adolescência; algumas com má evolução clínica, porém a maioria com grande expectativa de vida(23,24). Graças ao progresso dos conhecimentos pediátricos, o número de adolescentes com doenças crônicas tem aumentado consideravelmente(25,26). Esses jovens têm maiores chances de sofrer isolamento psicossocial e ter baixa autoestima, sendo frequentemente associados a comportamentos de risco como abandono escolar, drogadição e atividade sexual desprotegida(27-29). É comum haver dificuldade de adesão entre adolescentes com doenças crônicas, mais ainda no uso dos antirretrovirais (ARV)(30). AIDS está comumente associada a déficit cognitivo, doença e morte dos pais, desestruturação familiar, depressão e distúrbios de comportamento(31,32). Além disso, eles podem precisar de esquemas terapêuticos complicados devido a experiências de tratamentos anteriores(33). A toxicidade e complexidade dos ARV são desafios substanciais no contexto de vida dos pacientes(34,35). Por outro lado, sabemos que a resposta à HAART depende da sensibilidade do vírus aos ARV e de adesão quase perfeita(33,36). A redução da carga viral (número de cópias do RNA do vírus HIV-1 na circulação) é o parâmetro mais rápido para avaliação da resposta ao tratamento(37,38). Para avaliar a adesão, são descritos métodos diretos e indiretos, de acordo com a forma de mensuração. Cada um tem vantagens e desvantagens, porém nenhum fornece uma avaliação precisa. Os métodos diretos ou objetivos são mais dispendiosos e de difícil aplicação, como os dispositivos eletrônicos de monitoramento, medição de níveis sorológicos dos medicamentos, entre outros. Os métodos indiretos ou subjetivos abrangem a avaliação de parâmetros laboratoriais de resposta terapêutica através de carga viral e CD4, auto-relato, contagem de pílulas, adesão estimada pelo profissional de saúde, entre outros. Na falta de um 4 padrão-ouro, acredita-se que a combinação de diferentes métodos seja o melhor caminho para aferir a adesão(13). 1.1 Adolescência A adolescência é um período fundamental do processo de desenvolvimento humano que representa a transição entre a infância e a idade adulta. Caracteriza-se principalmente pela transformação, que ocorre de forma integrada nos campos biológico, psicológico e social. Com a puberdade surgem caracteres sexuais secundários e ocorre o estirão de crescimento. A menarca e a semenarca inauguram a capacidade reprodutiva. O pensamento infantil, limitado ao raciocínio concreto, é enriquecido pelo raciocínio abstrato, que permite ao jovem elaborar hipóteses, deduzir e interpretar os fatos à sua volta. Sua atenção está voltada para o autoconhecimento, a busca da identidade pessoal e sexual, de independência e autonomia. Muito voltado para si mesmo, o adolescente atravessa a chamada “onipotência juvenil”, quando tende a assumir posições radicais e se tornar mais agressivo e contundente. A oposição constante lhe confere uma sensação de independência. Após este movimento de confronto, o jovem terá condições de encontrar seus referenciais e formar opiniões próprias(39). 1.1.1 Adolescência e HIV Os adolescentes infectados pelo HIV constituem uma população heterogênea no que se refere à forma e idade em que ocorreu a transmissão, com conseqüências para suas condições clínicas, imunológicas, psicossociais, culturais e histórico de tratamento. 5 Os que se infectaram por transmissão vertical podem ser diagnosticados na infância ou adolescência, com variações no comprometimento imunológico e na exposição aos ARV. Em geral encontram-se nos estágios iniciais da puberdade, podendo ocorrer retardo puberal e alterações no desenvolvimento somático e emocional. Os que tiveram diagnóstico durante a infância frequentemente apresentam vínculos sólidos com o serviço de saúde e cuidadores por estarem em tratamento há muitos anos. Os principais desafios encontrados na assistência a esse grupo são a revelação do diagnóstico, orfandade, desestruturação familiar e início da atividade sexual. Parte desse grupo atinge a adolescência exposto a múltiplos regimes ARV, apresentando vários efeitos adversos, com reduzidas opções terapêuticas e necessidade de acesso a novas drogas. A fantasia de invulnerabilidade, própria do adolescente, pode levá-lo a criar dificuldades para assimilar seu diagnóstico e seguir um esquema terapêutico, comparecer ao serviço de saúde e realizar exames laboratoriais, rotinas que podem entrar em conflito com sua maneira mágica de se relacionar com o tempo e com a idéia de indestrutibilidade e cura. A atitude contestadora e transgressora associada à busca de independência costumam dificultar uma boa adesão ao tratamento. Os adolescentes que adquiriram o HIV por transmissão horizontal são mais velhos, em geral estão nos estágios finais da puberdade e foram recentemente infectados, tendo tido pouca ou nenhuma exposição aos ARV. Costumam apresentar vínculos frágeis com o serviço de saúde e cuidadores. Frequentemente apresentam agravos sociais diversos, problemas escolares e de inserção profissional. Grupos marginalizados como a população de rua, os profissionais do sexo e os usuários de drogas têm ainda maiores dificuldades de acesso aos serviços de saúde, e quando chegam aos mesmos apresentam estados mais avançados da infecção. Muitos deles recebem o diagnóstico durante o acompanhamento pré-natal, agravando a situação de maternidade/paternidade na adolescência. 6 Existe ainda um grupo significativo de adolescentes em que a origem da infecção não é clara, o que pode sinalizar dificuldade especial na abordagem e acompanhamento desses jovens e seus familiares. A identificação com o grupo de pares, tão importante nesse período da vida, pode ser prejudicada se o adolescente se sentir “diferente”. Sua autoestima pode estar fragilizada pela doença, pela imagem corporal ou pelos efeitos da medicação usada. Muitos adolescentes em acompanhamento queixam-se de solidão, preconceito e discriminação(40). 1.2 Breve histórico do vírus e tratamento Os primeiros casos de AIDS foram descritos em 1981, nos Estados Unidos, a partir da identificação de infecções oportunistas em homossexuais masculinos: pneumonia por Pneumocystis jiroveci, anteriormente conhecido como Pneumocystis carinii, e sarcoma de Kaposi(41-43). Publicações seguintes descreveram a doença em hemofílicos, indivíduos em uso de hemoderivados, usuários de drogas endovenosas, crianças nascidas de mães infectadas e parceiras sexuais de homens infectados(15). O vírus só foi identificado em 1983, quando um grupo de virologistas do Instituto Pasteur de Paris, chefiados por Montagnier, isolou-o do linfonodo de um paciente com linfadenopatia persistente, denominando-o LAV (Lymphadenopathy Associated Vírus)(44). No mesmo ano, um grupo americano liderado por Robert Gallo identificou um vírus com características iguais às do isolado francês e denominou-o HTLV-III (Human T Cell Leukemia Lymphotropic Virus Type III)(45). Em 1986, o Comitê Internacional de Taxonomia dos Vírus propôs a designação HIV (Human Immune Deficiency Vírus)(46). No mesmo ano, um outro vírus, semelhante ao já então caracterizado, foi isolado de dois pacientes com AIDS originários da África ocidental, sendo denominado HIV-2(47). 7 O HIV é um dos vírus que apresenta a maior taxa de mutação conhecida. Esta alta taxa de mutação traz conseqüências importantes. No campo da resposta imune ao HIV, a variabilidade genética pode levar ao aparecimento de variantes que escapam ao sistema de defesa humoral ou celular. No campo da terapia ARV, esta alta taxa de variabilidade genética pode gerar variantes menos suscetíveis às drogas(15). 1.2.1 Evolução do tratamento ARV Licenciado para uso humano em 1987 pela Food and Drug Administration, órgão que controla a produção de remédios e alimentos nos Estados Unidos, a Zidovudina (AZT) tornou-se a primeira sustância aprovada para tratamento da AIDS. Já em 1989 foi relatada resistência do vírus a esta medicação, e desde então observa-se resistência a todos os ARV disponíveis, bem como resistência cruzada(15). A partir de 1996 desenvolveu-se a HAART, combinação de medicamentos contra a AIDS, inaugurando uma nova fase. Atualmente dispomos de 19 drogas ARV para tratamento de crianças e adolescentes no Brasil(40). O número de drogas usadas e sua combinação podem variar imensamente, resultando em esquemas posológicos muito diversos para cada paciente. Frequentemente somam-se ainda aos ARV drogas contra infecções oportunistas e outras. 8 1.3 Situação atual da Infecção pelo HIV e da AIDS 1.3.1 Situação no mundo(7) Após quase três décadas de epidemia, a AIDS continua a desafiar todos os esforços da humanidade. Atualmente, para cada duas pessoas que começam a tomar drogas ARV, outras cinco se tornam infectadas. Apenas em 2007, aproximadamente 33 milhões de pessoas viviam infectadas pelo HIV em todo o mundo e 2,0 milhões morreram de causas relacionadas a ele. O número anual de novas infecções caiu de 3,0 milhões em 2001 para 2,7 milhões em 2007(7). O resumo global estimado da epidemia do HIV/AIDS até dezembro de 2007 pode ser visto no quadro 1: Quadro 1. Resumo global da epidemia do HIV/AIDS até dezembro de 2007(7) Número de pessoas TOTAL vivendo com HIV/AIDS Adultos (a partir de 15 anos) 31 milhões Crianças (até 14 anos) 2,0 milhões Novas infecções pelo HIV TOTAL em 2007 Adultos (a partir de 15 anos) Crianças (até 14 anos) Mortes por AIDS em 2007 TOTAL 33 milhões 2,7 milhões 2.330.000 370.000 2,0 milhões Desde o início da epidemia, o HIV já causou aproximadamente 25 milhões de mortes no mundo todo e gerou profundas modificações demográficas nos países mais intensamente acometidos. A África subsaariana continua sendo a região mais afetada, abrigando 67% de todas as pessoas infectadas pelo HIV e 75% das mortes por AIDS em 2007. 9 As mulheres respondem por metade de todas as pessoas infectadas pelo HIV no mundo. Nos últimos 10 anos, a proporção mundial de mulheres infectadas estabilizou-se, mas em muitas regiões o número absoluto está aumentando(7). 1.3.2 Situação no Brasil(8) Desde o início da década de 80 até junho de 2008, o Ministério da Saúde notificou 506.499 casos de AIDS no Brasil. Desse total, 333.485 foram identificados no sexo masculino e 172.995 no sexo feminino. O número de óbitos pela doença acumulados até 2007 é de 205.409. Observa-se que a razão de sexo (M:F) no Brasil vem diminuindo ao longo da série histórica, passando de 15,1:1 em 1986 para 1,5:1 em 2006. Esse fenômeno é acompanhado por um número cada vez maior de crianças atingidas. Com relação às gestantes, foram notificados 41.777 casos desde 2000. Observa-se incremento mais intenso do número anual de notificações até 2004, e mais discreto a partir de então. Em menores de 13 anos, em 2007, a transmissão vertical foi responsável por 91% das infecções. Quanto às principais categorias de exposição entre homens em 2007, as relações sexuais responderam por 72% dos casos de AIDS, com maior prevalência nas relações heterossexuais, que é de 44%. Entre as mulheres, a transmissão do HIV se deu predominantemente pela via sexual, 96%(8). 1.3.3 Transmissão Vertical O primeiro caso de transmissão vertical no Brasil foi notificado em 1985 e até junho de 2008 foram registrados 11796 casos nesta categoria(8). A transmissão vertical do HIV ocorre pela passagem do vírus da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação, sendo que cerca de 35% 10 dessa transmissão ocorrem durante a gestação, 65% acontecem no periparto e há um risco acrescido de transmissão através da amamentação de 7% até 22% por exposição (cada mamada). Com uma prevalência de 0,41% de infecções pelo HIV em gestantes, estimase que 12.456 recém-nascidos sejam expostos ao HIV anualmente. A taxa de transmissão vertical do HIV, quando não são realizadas todas as intervenções de profilaxia, atinge cerca de 25% dos recém-nascidos de gestantes infectadas pelo HIV, podendo ser reduzidas a níveis entre 1 e 2% com a aplicação de medidas adequadas durante o pré-natal e puerpério. Essas intervenções são: o uso de antirretrovirais a partir da 14ª semana de gestação; utilização de AZT injetável durante o trabalho de parto; realização de parto cesáreo, quando indicado; AZT oral para o recém-nascido exposto, do nascimento até 42 dias de vida e inibição de lactação associada ao fornecimento de fórmula infantil até os seis meses de idade. Em estudo multicêntrico no Ministério da Saúde, conduzido pela Sociedade Brasileira de Pediatria, a taxa estimada de transmissão vertical do HIV no Brasil em 2004 foi de 6,8%, variando entre 13,4% na região Norte e 4,3% na região CentroOeste. Observou-se que em locais onde as medidas profiláticas preconizadas pelo Ministério da Saúde foram implantadas na rotina do pré-natal as taxas de transmissão vertical foram reduzidas a menos de 2%. Legislação, tecnologia e insumos para redução da transmissão vertical do HIV já existem e são disponibilizados pelos governos federal, estaduais e municipais, porém a análise dos dados vem demonstrando marcadas diferenças regionais nas taxas de incidência e de transmissão vertical, num claro reflexo de que são necessárias medidas efetivas para sua redução a índices aceitáveis(48). 11 1.4 Adesão terapêutica A adesão ao tratamento envolve muito mais do que a ingestão de medicamentos. Deve ser compreendida de forma ampla, incluindo estabelecimento de vínculo entre o usuário e equipe de saúde, acesso à informação, acompanhamento clínico-laboratorial, compartilhamento das decisões acerca do tratamento e adequação do tratamento a hábitos e necessidades individuais. O estabelecimento e manutenção da adesão à terapia é meta difícil de ser alcançada em doentes crônicos, mesmo quando o esquema é simples e o paciente sintomático. O comparecimento às consultas marcadas, a ingestão diária de medicamentos, os regimes alimentares adequados e a realização de exames são atividades que exigem envolvimento do paciente e também de seus cuidadores. O adolescente pode apresentar dificuldades de adesão ao tratamento por diversos motivos: paladar ruim, tamanho e quantidade de pílulas, efeitos adversos dos medicamentos, falta de compreensão sobre a necessidade do tratamento, (especialmente quando desconhece seu próprio diagnóstico), receio de sofrer preconceito nos grupos sociais, atitudes oposicionistas e de revolta, inclusive por não aceitar o fato de ser soropositivo(40). O acompanhamento e avaliação da adesão ao tratamento são grandes desafios para quem trabalha em saúde, uma vez que os métodos ou procedimentos disponíveis não fornecem uma avaliação precisa(40). Marhefka et al(49) (EUA, 2006) aferiram a adesão de 54 crianças e adolescentes com idades de um a 13 anos (média sete anos) a partir de dados fornecidos pela farmácia responsável pela entrega da medicação aos pacientes, considerando aderentes aqueles que retirassem 80% ou mais dos ARV prescritos. Os autores ponderam vantagens e desvantagens do método utilizado. Por um lado, obter informações da farmácia é relativamente fácil e tem baixo custo, além de não 12 superestimar a adesão tanto quanto o auto-relato. Porém pode subestimar situações em que a medicação foi retirada mas não consumida e não permite a detecção de dificuldades em relação aos intervalos e às recomendações alimentares. Em estudo brasileiro de 2007, Crozzati(50) observou a concordância das concentrações plasmáticas com a adesão auto-referida à medicação ARV em 76% de 95 crianças e adolescentes com idades de zero a 12 anos (média dez anos). Concluiu que o teste da adesão auto-referida é adequado para identificar os verdadeiros negativos mas pouco sensível para os verdadeiros positivos. Diversos estudos de adesão aos ARV em crianças e adolescentes utilizaram o método do auto-relato. Williams et al(31), em estudo multicêntrico americano (2006), avaliaram a adesão de 2088 pacientes de três a 18 anos (mediana 11 anos) que adquiriram o HIV por transmissão vertical. Murphy DA et al(14) (EUA, 2003) aferiram a adesão de 114 adolescentes de 12 a 19 anos contaminados por relação sexual ou uso de drogas injetáveis. Ambos discutem as limitações da adesão auto-referida, considerando os riscos de superestimativa e incapacidade de detecção de períodos intermitentes de má adesão. A combinação de diferentes métodos tem sido sugerida como a melhor alternativa para aferir a adesão terapêutica. 1.5 Revelação do diagnóstico A revelação do diagnóstico é um aspecto fundamental da assistência ao paciente, que pode influenciar sua maneira de lidar com a doença. Deve ser tratada como um processo gradual, progressivo e contínuo. A abordagem deve ser individualizada e o momento apropriado. O nível de informação e a priorização dos assuntos dependerão do contexto psicossocial e familiar em que o jovem estiver inserido(17). 13 Abadía-Barrero e LaRusso(51) (2006) reforçaram a importância da revelação gradual, de acordo com o nível de entendimento presente em cada idade. Acompanharam 18 crianças com idades de um a 15 anos infectadas por transmissão vertical, que viviam em uma casa de apoio onde não se falava abertamente sobre HIV/AIDS. Observaram que até os seis anos as crianças aprendiam a aceitar a medicação sem questionar sobre a doença, pois as respostas dos adultos eram sempre confusas ou contraditórias. Dos sete aos nove anos podiam perceber o estigma que envolvia a palavra AIDS, mas ainda confusas sobre como aquilo as afetaria. Dos dez aos 12 anos sentiam vergonha e raiva diante da ameaça de estarem associados aos valores sociais negativos atribuídos à AIDS. A ausência de um diálogo honesto as tornava especialmente vulneráveis às mensagens negativas sobre pessoas soropositivas. A partir dos 13 anos, os adolescentes demonstravam entendimento precário sobre as implicações do HIV/AIDS em suas vidas e cinismo em relação ao próprio tratamento, ao futuro e às informações sobre riscos à sua saúde. Na falta de um processo educacional adequado, os adolescentes paravam de acreditar que a AIDS podia ser uma doença grave e fatal, tornando-se vulneráveis a comportamentos de risco como relações sexuais desprotegidas e não adesão ao tratamento. Todos os adolescentes infectados pelo HIV devem ter ciência de seu diagnóstico, independentemente da forma de transmissão. Isso facilita em muito o cuidado continuado(17). Conceber o paciente como sujeito de seu processo saúdedoença deve fazer parte do atendimento integral aos infectados pelo HIV. 14 2 OBJETIVOS Relacionar características epidemiológicas e do tratamento ARV de pacientes adolescentes infectados pelo HIV à adesão terapêutica. 15 3 CASUÍSTICA E MÉTODO Trata-se de estudo descritivo e retrospectivo. Foram revisados os 65 prontuários de adolescentes que tinham diagnóstico de infecção pelo HIV anterior ao período estudado e eram acompanhados no ambulatório de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Sabendo que habitualmente as avaliações não ultrapassam seis meses, estabeleceu-se o período de 14/9/2007 a 28/3/2008, sendo coletados os dados de consultas realizadas nesse intervalo. Foram considerados os prontuários de 46 pacientes com idade de 10 a 19 anos completos. Todos estavam em tratamento com ARV. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Registraram-se os dados de idade, sexo, estágio de desenvolvimento puberal de Tanner, escolaridade, composição do núcleo domiciliar, idade ao diagnóstico, forma de transmissão, conhecimento do diagnóstico, carga viral, tempo de tratamento ARV, primeiro esquema ARV utilizado, quantidade de esquemas ARV utilizados e adesão terapêutica. A escolaridade foi classificada em adequada e atrasada. O conceito de atraso escolar obedeceu às Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, segundo a qual o ensino fundamental obrigatório deve iniciar-se aos seis anos de idade, com duração de nove anos, com mais três anos para concluir o ensino médio. A idade considerada ideal para o ano escolar deve ter sido completada no segundo semestre do ano anterior até o primeiro semestre do ano corrente(52). O exame de quantificação de carga viral de HIV-1 foi realizado pelo Instituto Adolfo Lutz Central de São Paulo, utilizando a técnica b-DNA, kit HIV 3.0 RNA. O limite mínimo de detecção foi de 50 cópias/ml e o máximo 500.000. Devido à ampla variância das medidas de carga viral, os testes estatísticos foram realizados com 16 transformação logarítmica, substituindo as indetectáveis por 49. Não houve medidas superiores ao limite máximo de detecção. Durante o acompanhamento ambulatorial do serviço de Infectologia Pediátrica, o exame de carga viral foi solicitado a cada três ou quatro meses conforme preconizado pelo Ministério da Saúde. Um esquema de três ou mais medicações ARV simultâneas foi definido como HAART. O número de esquemas ARV utilizados levou em conta apenas as mudanças por falha terapêutica. Alterações impostas por intolerância medicamentosa ou interrupção na fabricação de drogas não foram consideradas como um novo esquema. Falha terapêutica foi definida como a ocorrência de deterioração clínica e/ou piora dos parâmetros laboratoriais imunológico e/ou virológico, de acordo com os critérios do Ministério da Saúde(22,37)(Quadro 2). QUADRO 2. Critérios de falha terapêutica(22). Critérios clínicos: - deterioração neurológica; - falha no crescimento e/ou desenvolvimento neuropsicomotor; - novo evento indicativo de progressão clínica (exceto no contexto de reconstituição imunológica). Critérios imunológicos: - mudança de categoria imunológica; - redução maior que 20 a 25% na contagem absoluta de linfócitos T-CD4+ (LT-CD4+) (em relação ao valor mais elevado atingido no esquema atual) em pelo menos duas determinações seriadas, na ausência de infecção recorrente que explique diminuição transitória de LT-CD4+; - para crianças com níveis de LT-CD4+ <15%, decréscimo persistente igual ou maior que 5% (por exemplo: de 15% para 10%, ou de 10% para 5%). Critérios virológicos: - resposta virológica inferior à minimamente aceitável depois de três a seis meses de tratamento: redução <0,7 a 1,0 log, dependendo do esquema ARV utilizado, em relação ao nível inicial; - aumento persistente da carga viral depois do início do tratamento >0,5 log; - retorno persistente da carga viral à detecção depois de um período de indetecção. 17 A aferição da adesão foi realizada pela equipe de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo, baseada na combinação de três métodos indiretos: - avaliação dos parâmetros laboratoriais de resposta terapêutica: carga viral e contagem de LT-CD4+; - auto-relato, considerando as respostas do paciente e acompanhante ao questionário “abordagem da adesão” (Quadro 3); - estimativa dos profissionais de saúde, que traduz a impressão geral da equipe sobre o paciente, levando em conta sua assiduidade, interesse e postura(53). A adesão foi classificada em três níveis: boa, duvidosa e ruim. QUADRO 3. Questionário “abordagem da adesão”. Nos últimos 3 dias, quantas doses esqueceu de tomar? O acompanhante sabe as doses e horários? Existe dificuldade para tomar a medicação? Alguém vê o paciente tomando a medicação? Para análise descritiva das variáveis qualitativas foram usadas porcentagens e para variáveis quantitativas medidas resumo (média, desvio-padrão, mediana, mínimo e máximo) e Boxplot. No estudo de associação entre variáveis foram utilizados os testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney, além da correlação de Spearman. O nível de significância (α) considerado foi 5%. As análises foram feitas nos programas Epi Info versão 3.4.1 e SPSS versão 13.0 for Windows. 18 4 RESULTADOS A idade dos pacientes variou de dez a 19 anos completos, sendo a média e a mediana iguais a 14 anos. Cinqüenta por cento eram do sexo feminino. O registro do estágio de Tanner estava ausente ou incompleto na imensa maioria dos prontuários, impossibilitando a utilização desse dado. A escolaridade foi considerada atrasada em 50% dos pacientes. Quanto à composição do núcleo domiciliar, 63% dos pacientes moravam com seu pai e/ou mãe biológicos, 30% com outros familiares e 7% com pais adotivos. A idade média ao diagnóstico foi de cinco anos (mínimo um mês e máximo 15 anos) e a mediana quatro anos. A forma de transmissão foi predominantemente vertical (85%), com 15% de contaminação desconhecida. Oitenta e três por cento dos pacientes conheciam seu diagnóstico de infecção pelo HIV. A mediana da carga viral à época da análise do prontuário foi de 3,17log (1,69 - 5,16), sendo a média 3,09log. A média e a mediana de tempo de tratamento foram iguais a 8 anos, sendo o mínimo três meses e o máximo 15 anos. Trinta e nove por cento dos pacientes iniciaram o tratamento com três drogas ARV (esquema triplo=HAART), 41% com duas drogas (esquema duplo) e 20% com uma única droga (monoterapia). 19 O número de esquemas ARV utilizados por cada paciente foi em média quatro (Desvio Padrão 3,2), variando de um a 14, com mediana de três. Vinte e dois por cento usaram apenas um esquema ARV, 30% usaram dois a três esquemas, 33% quatro a seis e 15% usaram sete ou mais esquemas. A adesão terapêutica foi considerada boa em 48% dos pacientes, duvidosa em 26% e ruim nos outros 26%. Não houve diferença significativa da adesão em relação à idade, idade ao diagnóstico ou tempo de tratamento ARV (Tab. 1). Não foi observada associação da adesão com sexo, escolaridade, composição do núcleo domiciliar, forma de transmissão, conhecimento do diagnóstico ou primeiro esquema ARV utilizado (Tab. 2). TABELA 1. Medidas resumo da idade, idade ao diagnóstico, carga viral (log), tempo de tratamento e número de esquemas ARV utilizados para cada nível de adesão terapêutica. Medidas resumo Adesão Terapêutica p Boa Duvidosa Ruim Idade (anos) 0,7425 Média 14,05 14,97 13,83 Desvio Padrão 2,45 3,39 2,39 Mediana 13,70 14,03 13,68 Idade ao diagnóstico (anos) 0,4461 Média 6,23 4,67 4,74 Desvio Padrão 4,26 4,91 3,33 Mediana 4,46 2,67 4,67 Carga Viral (log) 0,0001* Média 2,26 3,59 4,11 Desvio Padrão 0,94 1,07 0,97 Mediana 1,69 4,02 4,37 Tempo de tratamento (anos) 0,4471 Média 7,14 9,33 8,95 Desvio Padrão 4,74 3,15 3,38 Mediana 7,28 9,34 9,23 Número de Esquemas ARV 0,0124* Média 2,91 4,08 5,83 Desvio Padrão 3,08 1,88 3,86 Mediana 1,00 4,50 4,00 *p<0,05 = estatisticamente significante 20 TABELA 2. Características dos pacientes distribuídas pela classificação da adesão terapêutica. Características n (%) Boa 46 (100%) Masculino 23 (50%) Feminino 23 (50%) Escolaridade 46 (100%) Adequada 23 (50%) Atrasada 23 (50%) Núcleo domiciliar 46 (100%) Pais biológicos 29 (63%) Familiares 14 (30,5%) Pais adotivos 3 (6,5%) Forma de transmissão 46 (100%) Vertical 39 (84,8%) Desconhecida 7 (15,2%) Conhecimento do diagnóstico 46 (100%) Sim 38 (82,6%) Não 8 (17,4%) Primeiro esquema ARV 46 (100%) Monoterapia 9 (19,6%) Terapia Dupla 19 (41,3%) HAART 18 (39,1%) Dados apresentados em n (%). Adesão Terapêutica Duvidosa Ruim Sexo 11 (48%) 11 (48%) 5 (22%) 7 (30%) 7(30%) 5 (22%) 12 (52%) 10 (43%) 7 (31%) 5 (22%) 4 (17%) 8 (35%) 17 (59%) 5 (36%) 0 8 (27%) 4 (28%) 0 4 (14%) 5 (36%) 3(100%) 17 (43%) 5 (71%) 10 (26%) 2 (29%) 12(31%) 0 17 (45%) 5 (63%) 10 (26%) 2 (25%) 11(29%) 1 (12%) 5 (56%) 4 (21%) 13 (72%) 2 (22%) 6 (32%) 4 (22%) 2 (22%) 9 (47%) 1 (6%) A carga viral mostrou-se associada à adesão terapêutica, com p=0,0001. Não houve diferença significativa de carga viral entre os pacientes que tiveram adesão duvidosa e ruim (Graf. 1, Tab. 1). 21 GRÁFICO 1. Distribuição de carga viral (log) de acordo com a adesão terapêutica representada pelo diagrama de boxplot. p=0,1488 *p=0,0026 *p=0,0000 Duvidosa *p<0,05 = estatisticamente significante O número de esquemas ARV utilizados estava associado com a adesão terapêutica (p=0,012). Não houve diferença estatisticamente significante do número de esquemas ARV utilizados entre quem apresentou adesão duvidosa e ruim (Gráf. 2, Tab. 1). 22 GRÁFICO 2. Distribuição do número de esquemas ARV utilizados de acordo com a adesão terapêutica representada pelo diagrama de boxplot. *p<0,05 = estatisticamente significante 23 5 DISCUSSÃO Vivemos a terceira década da epidemia de AIDS. Os avanços desenvolvidos no tratamento da infecção pelo HIV transformaram o prognóstico e a expectativa de vida dos soropositivos. Crianças infectadas chegaram à adolescência e enfrentam o desafio de conciliar um tratamento que não admite falhas com o processo de busca e desenvolvimento da própria identidade, envolvidos pelo estigma, preconceito e discriminação social. A atmosfera de segredo dificulta passos fundamentais do desenvolvimento como pertencer a um grupo ou exercitar a sexualidade(54). É típico da adolescência o chamado “pensamento mágico”, que traz uma sensação de invulnerabilidade. Assim, temos adolescentes soropositivos que acreditam que não serão atingidos pela doença, por isso abandonam o tratamento, até que a imunodeficiência se manifesta de maneira incontestável obrigando-os a voltar ao serviço de saúde. O número de adolescentes cadastrados no ambulatório de Infectologia Pediátrica à época desta pesquisa era 65, porém apenas 46 (70,8%) estavam em seguimento regular. Outras características próprias da adolescência também comprometem a adesão ao tratamento. Sua personalidade instável pode obedecer ou desafiar as recomendações médicas. Há uma contradição de papéis, ora de uma criança dependente, ora de um indivíduo auto-suficiente. É comum o adolescente fantasiar um futuro imaginário e sair do presente, como se assistisse passivamente à própria vida acontecer. Existe ainda uma distorção de percepção do tempo, levando à postergação dos cuidados com a saúde em nome de urgências irracionais. Em nosso levantamento, a idade não apresentou relação com a adesão terapêutica. Giacomet et al(55) (2003) também não encontraram associação entre a idade e a adesão terapêutica aferida por auto-relato em estudo multicêntrico italiano envolvendo 129 crianças e adolescentes com idades de 4 meses a 17 anos (mediana 8 anos). Mellins et al (2004)(34), utilizando o método do auto-relato em 77 crianças e adolescentes de três a 13 anos (média 8 anos), e Williams et al (2006)(31) 24 relacionaram o aumento da idade à má adesão. Estudo multicêntrico europeu COHERE de 2008 mostrou pior resposta virológica em crianças, alertando para possível associação à resistência viral(56). Em nossa pesquisa, a adesão não apresentou diferença entre sexos, enquanto Williams et al (2006)(31) associaram o sexo feminino à não adesão. Em estudos multicêntricos realizados com adultos, Nicastri et al(57) (2005) não encontraram diferenças entre sexos, enquanto Collazos et al(58) (2007) associaram o sexo feminino a melhor resposta ao tratamento, considerando os parâmetros virológico e imunológico. A escolaridade não se mostrou associada à adesão terapêutica em nosso estudo, embora Williams et al(31) (2006) tenham encontrado relação de escolaridade inadequada com não adesão ao tratamento. Esse dado pode ter sofrido influência do sistema de ensino vigente no ensino público brasileiro, que não reprova alunos por mau rendimento, apenas por faltas. O desempenho e interesse escolar dizem respeito, entre outras questões, ao projeto de vida do adolescente, assunto relevante quando tratamos de uma doença incurável. Observamos em algumas famílias uma postura de descrédito em relação ao futuro do jovem devido à doença. Nossos dados não encontraram diferença da adesão terapêutica em relação ao núcleo familiar, porém apenas 7% da amostra residia com pais adotivos, o que pode ter dificultado a comparação. Na cidade de São Paulo, os pacientes que vivem em instituições são encaminhados para outros serviços, justificando o grande percentual encontrado de jovens que viviam com seus pais(63%) ou familiares (30%). Williams et al(31)(2006), Giacomet et al(55)(2003) e Marhefka et al (2006)(49) relacionaram a presença de pais adotivos ou cuidadores que não sejam familiares com maior adesão terapêutica. O contexto familiar dos jovens que adquiriram HIV de sua mãe merece atenção especial. O convívio com outro(s) soropositivo(s) na família e o modo como eles lidam com a questão influencia enormemente o comportamento do adolescente. Percebemos maior adesão ao tratamento entre os filhos de mães também 25 aderentes. Ao contrário, quando a mãe abandona o próprio tratamento, não toma as medicações corretamente ou precisa de internações frequentes, observamos atitude semelhante no(a) filho(a). O falecimento dos pais também costuma ter impacto negativo sobre o jovem, gerando sensação de impotência e desânimo frente à doença(59). A idade média ao diagnóstico foi de 5 anos, com mediana de 4 anos, refletindo falhas no diagnóstico pré-natal para a amostra estudada. Em nosso estudo, não encontramos associação entre adesão terapêutica e idade ao diagnóstico. Nossos pacientes adquiriram o vírus em sua maioria (85%) por transmissão vertical, o que está de acordo com a literatura, considerando a idade do diagnóstico. No Brasil, a prevalência de transmissão vertical foi de 84,5% em menores de 13 anos, até junho de 2008. Pacientes de 13 anos ou mais responderam por 2,4% dos casos de transmissão vertical notificados em 2008 no Brasil(8). Neste estudo, selecionamos adolescentes já seguidos no serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo, onde a idade máxima para iniciar acompanhamento é de 13 anos. Acreditamos que isso tenha contribuído para a taxa de transmissão vertical que encontramos. Não observamos relação entre a forma de transmissão e a adesão terapêutica em nosso levantamento. Também na literatura não encontramos diferença de adesão em relação à forma de contaminação pelo vírus(14,34,36,60). Entre os sete pacientes de transmissão desconhecida, dois receberam transfusão sanguínea e dois tinham história de internação hospitalar na década de 90. Os outros três tinham pai ou tio infectado pelo HIV, sendo que um paciente apresentou condiloma perianal. Em nenhum caso foi possível comprovar transmissão sexual. Nosso trabalho não mostrou associação da adesão terapêutica com o conhecimento do diagnóstico, o que pode ter sido influenciado pelo grande número de pacientes (83%) que conheciam sua condição de soropositividade. A literatura é controversa ao relacionar conhecimento do diagnóstico com adesão ao tratamento. 26 Williams et al (2006)(31) também não encontraram associação da adesão com o conhecimento do diagnóstico. Butler et al (2009)(62) não encontraram diferença significativa da qualidade de vida antes e depois da revelação do diagnóstico. Marques et al (2006)(61) e Battles et al (2002)(59) observaram repercussão positiva da revelação do diagnóstico sobre os cuidados de saúde. Por outro lado, Giacomet et al 2003(55) encontraram menor adesão entre as crianças que sabiam seu diagnóstico. Outrossim, Biadgilign et al (2008)(60) e Marhefka et al (2006)(49) relacionaram melhor adesão entre pacientes que não conheciam seu diagnóstico. Alguns pacientes infectados pelo HIV são órfãos desde muito pequenos, criados por seus familiares: tios e avós, principalmente. São famílias que herdaram vários problemas, como cuidar de uma criança com mal sem cura e marginalizado pela sociedade, além da responsabilidade de explicar ao menor o que isto significa. É frequente a família criticar os pais diante do jovem, culpando-os pela doença e morte. Algumas escondem o diagnóstico da criança e até inventam outra patologia para justificar a quantidade de consultas, exames e remédios. Várias razões explicam esta atitude, entre elas culpa e vergonha. Às vezes o jovem descobre a doença por si desencontradas, mesmo: ele lendo primeiro rótulos dos ARV desconfia e depois soropositividade. Abadía-Barrero e Larusso (2006) (51) e ouvindo tem informações certeza de sua encontraram reações piores em adolescentes que descobriram o diagnóstico sozinhos. A revelação da doença à criança ou adolescente é um momento delicado e importante, que merece cuidado especial tanto por parte da equipe de saúde como da família e cuidadores. Em nosso estudo, a adesão terapêutica apresentou associação significativa com a carga viral, fato já bem documentado em outros estudos(14,31,63-65). Não encontramos associação do tempo de tratamento com a adesão terapêutica em nosso estudo. Marhefka et al (2006)(49) associaram melhor adesão terapêutica à menor duração do HAART. A comparação da adesão terapêutica entre os que iniciaram com diferentes esquemas ARV (monoterapia, terapia dupla ou HAART) não mostrou diferença 27 estatisticamente significante. Giacomet et al (2003)(55) associaram maior adesão terapêutica ao uso de HAART. Os pacientes do nosso estudo não tiveram o diagnóstico de HIV e nem iniciaram o tratamento ao mesmo tempo. Isso explica a heterogeneidade encontrada no primeiro esquema ARV utilizado, pois cada um usou o que havia disponível à época do início de seu tratamento. Encontramos menor número de esquemas antirretrovirais usados entre os pacientes que tinham melhor adesão terapêutica (Gráf. 2), achado semelhante ao de Souza et al(66), reforçando a importância da adesão para evitar falha terapêutica. A adesão aferida por método indireto realizada em nosso estudo apresentou associação com a carga viral e o número de esquemas ARV utilizados, mas não com as características epidemiológicas dos adolescentes. Esses resultados podem ter sido influenciados pelo pequeno número de pacientes, o que limitou a análise estatística. A adesão excelente é fundamental para obter a redução de morbimortalidade que o HAART oferece. Isso pode ser dificultado por questões psicossociais que surgem com força na adolescência, somadas aos desafios próprios da AIDS. Num país como o Brasil que proporciona acesso universal aos ARV, fazem-se necessárias políticas públicas de atenção global à saúde do jovem e sua família ou cuidadores, com abordagem multiprofissional capaz de reconhecer e encaminhar as particularidades da doença nesta fase de vida(67,68). 28 6 CONCLUSÕES As características epidemiológicas de idade, sexo, escolaridade, composição do núcleo domiciliar, idade ao diagnóstico, forma de transmissão e conhecimento do diagnóstico não apresentam associação com a adesão terapêutica dos pacientes estudados, bem como o tempo de tratamento ARV e primeiro esquema ARV utilizado. Neste estudo, os pacientes que apresentam melhor adesão terapêutica têm menores valores de carga viral e utilizam menor número de esquemas ARV. 29 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) World Health Organization. [online]. Adolescent health. [citado 12 mar 2009]. Disponível em: http://www.who.int/topics/adolescent_health/en/ 2) Knobel M. Visão psicológica da adolescência normal. In: Coates V, Beznos GW, Françoso LA. Medicina do adolescente. 2ª ed. São Paulo: Sarvier;2003. P. 39-44. 3) DeLaMora P, Aledort N, Stavola J. Caring for adolescents with HIV. Curr HIV/AIDS Rep. 2006 Jul;3(2):74-8. 4) Hubbard M. Dealing with the obstacles in adhering to highly active antiretroviral therapy. J Assoc Nurses AIDS Care. 2006 JanFeb;17(1):18-25. 5) Fielden SJ, Sheckter L, Chapman GE, Alimenti A, Forbes JC, Sheps S, et al. Growing up: perspectives of children, families and service providers regarding needs of older children with perinatally-acquired HIV. AIDS Care. 2006 Nov;18(8):1050-3. 6) Ledlie SW. The psychosocial issues of children with perinatally acquired HIV disease becoming adolescents: a growing challenge for providers. AIDS Patient Care STDS. 2001 May;15(5):231-6. 7) Joint United Nations Programme on HIV/AIDS. [online]. 2008 Report on the global AIDS epidemic. [citado 10 mar 2009]. Disponível em: http://www.unaids.org/en/KnowledgeCentre/HIVData/GlobalReport/200 8/2008_Global_report.asp 8) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Boletim epidemiológico – Aids e DST. Ano V nº 1 – Brasília (DF); Ministério da Saúde; 2008 [online]. [citado 14 ago 2009]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/data/documents/storedDocuments/%7BB8EF5D AF-23AE-4891-AD36-1903553A3174%7D/%7B31A56BC6-307D-4C88922D-6F52338D0BF4%7D/Boletim2008_vers%E3o1_6.pdf 9) Abadía-Barrero CE, Castro A. Experiences of stigma and access to HAART in children and adolescents living with HIV/AIDS in Brazil. Soc Sci Med. 2006 Mar;62(5):1219-28. 10) Rouet F, Fassinou P, Inwoley A, Anaky MF, Kouakoussui A, Rouzioux C, et al. Long-term survival and immuno-virological response of African HIV-1 infected children to highly active antiretroviral therapy regimens. AIDS. 2006 Nov 28;20(18):2315-9. 30 11) Montaner, J. [online]. Conquering AIDS – if we have a HAART. [Entrevista a Julie-Ann Backhouse] UBC Reports. 2008 Feb 7;54(2). [citado 10 março 2009]. Disponível em: http://www.publicaffairs.ubc.ca/ubcreports/2008/08feb07/haart.html 12) Shah CA. Adherence to high activity antiretroviral therapy (HAART) in pediatric patients infected with HIV: issues and interventions. Indian J Pediatr. 2007 Jan;74(1):55-60. 13) Sociedade Brasileira de Infectologia. Manual de Boas Práticas de Adesão HIV/AIDS – Atualização 2008. 14) Murphy DA, Sarr M, Durako SJ, Moscicki AB, Wilson CM, Muenz LR. Barriers to HAART adherence among human immunodeficiency virusinfected adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 2003 Mar;157(3):24955. 15) Almeida FJ. Características moleculares do HIV-1 em crianças e adolescentes. Tese (Mestrado). São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2005. 16) U.S. Department of health and human services. [online]. National Institutes of Health. National Institute of Allergy and Infectious Diseases. HIV Infection in Adolescents and Young Adults in the U.S. May 2006. [citado 14 ago 2009]. Disponível em: http://www.niaid.nih.gov/factsheets/hivadolescent.htm 17) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Manual de rotinas para assistência de adolescentes vivendo com HIV/Aids. Brasília (DF); Ministério da Saúde; 2006. 18) Goetghebuer T, Haelterman E, Le Chenadec J, Dollfus C, Gibb D, Judd A, et al. Effect of early antiretroviral therapy on the risk of AIDS/death in HIV-infected infants [abstract]. AIDS. 2009 Feb 2. 19) Matida LH, Moncau JE, Succi RC, Barreira D, Kalichman AO, Marcopito LF. Impact of early diagnosis and free access to HAART for perinatally acquired AIDS, São Paulo, Brazil. In: 15th International Conference on AIDS [online abstracts] Bangkok, Thailand, 2004 Jul 11-16. [citado 10 março 2009]. Disponível em: http://gateway.nlm.nih.gov/gw/Cmd?GMExpandedItem%26loc=nccs 20) Puthanakit T, Oberdorfer A, Akarathum N, Kanjanavanit S, Wannarit P, Sirisanthana T, et al. Efficacy of highly active antiretroviral therapy in HIV-infected children participating in Thailand’s national access to antiretroviral program. Clinical Infectious Diseases. 2005 Jul;41(S1):S100-7. 31 21) Glikman D, Walsh L, Valkenburg J, Mangat D, Marcinak JF. Hospitalbased directly observed therapy for HIV-infected children and adolescents to assess adherence to antiretroviral medications. Pediatrics. 2007 May;119(5):e1142-8. 22) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Guia de tratamento clínico da infecção pelo HIV em pediatria. 3ª Ed. Brasília (DF); Ministério da Saúde; 2006. 23) Rodríguez de Schiavi MS. El pediatra em los tiempos del Sida – 20 años después. Arch Argent Pediatr. [online]. 2007 Set-Out;[citado 13 mar 2009];105(5):387-9. Disponível em: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S032500752007000500003&lng=pt&nrm=iso 24) Matida LH, Marcopito LF, Succi RCM, Marques HHS, Della Negra M, Grangeiro A, et al. Improving survival among Brazilian children with perinatally-acquired AIDS. Braz J Infect Dis. [periódico online] Salvador, 2004 Dez; [citado 13 mar 2009]; 8(6):419-23. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141386702004000600005&lng=pt. 25) Alvin P, de Tournemire R, Anjot MN, Vuillemin L. Chronic illness in adolescence: ten pertinent questions. Arch Pediatr. 2003 Apr;10(4):360-6. 26) Buhlmann U. Chronic disease and adolescence. Schweiz Med Wochenschr. 1992 Jan 25;122(4):88-93. 27) Geist R, Grdisa V, Otley A. Psychosocial issues in the child with chronic conditions. Best Pract Res Clin Gastroenterol. 2003 Apr;17(2):141-52. 28) Choquet M, Du Pasquier Fediaevsky L, Manfredi R. Sexual behavior among adolescents reporting chronic conditions: a French national survey. J Adolesc Health. 1997 Jan;20(1):62-7. 29) Suris JC, Resnick MD, Cassuto N, Blum RW. Sexual behavior of adolescents with chronic disease and disability. J Adolesc Health. 1996 Aug;19(2):124-31. 30) Garvie P, Lawford J, Flynn PM, Gaur AH, Belzer M, McSherry GD, et al. Development of a directly observed therapy adherence intervention for adolescents with human immunodeficiency virus-1: application of focus group methodology to inform design, feasibility, and acceptability. J Adol Health. 2009 Feb;44(2):124-32. 32 31) Williams PL, Storm D, Montepiedra G, Nichols S, Kammerer B, Sirois PA, et al. Predictors of adherence to antiretroviral medications in children and adolescents with HIV infection. Pediatrics. 2006 Dec;118(6):e1745-57. 32) Rotheram-Borus MJ, Stein JA, Lester P. Adolescent adjustment over six years in HIV-affected families. J Adol Health. 2006 Aug;39(2):174-82. 33) Purdy JB, Freeman A, Martin SC, Ryder C, Elliott-DeSorbo DK, Zeichner S, et al. Virologic response using directly observed therapy in adolescents with HIV: an adherence tool. J Assoc Nurses AIDS Care. 2008;19(2):158-65. 34) Mellins CA, Brackis-Cott E, Dolezal C, Abrams EJ. The role of psychosocial and family factors in adherence to antiretroviral treatment in human immunodeficiency virus-infected children. Pediatr Infect Dis J. 2004 Nov;23(11):1035-41. 35) Melchior R, Nemes MIB, Alencar TMD, Buchalla CM. Desafios da adesão ao tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil/Challenges of treatment adherence by people living with HIV/AIDS in Brazil. Rev Saúde Pública. [periódico online] São Paulo, 2007 Dec; [citado em 13 março 2009]; 41(supl2). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102007000900014&lng=pt. 36) Rudy BJ, Murphy DA, Harris R, Muenz L, Ellen J. Patient-related risks for nonadherence to antiretroviral therapy among HIV-infected youth in the United States: a study of prevalence and interactions. AIDS Patient Care STDs. 2009;23(3):1-10. 37) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Recomendações para terapia antiretroviral em adultos e adolescentes infectados pelo HIV: 2005/2006. 6ª Ed. Brasília (DF); Ministério da Saúde; 2007. 38) Song R, Jelagat J, Dzombo D, Mwalimu M, Mandaliya K, Shikely K, et al. Efficacy of highly active antiretroviral therapy in HIV-1-infected children in Kenya. Pediatrics. 2007 Oct;120(4):e856-61. 39) Gherpelli MHBV, coordenadora. Viver positivamente: manual de atenção a educação sexual de crianças e adolescentes portadores do HIV. São Paulo: Instituto Kaplan; 1998. 66p. 40) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Recomendações para terapia antirretroviral em crianças e adolescentes infectados pelo HIV: manual de bolso. Brasília (DF), 2009. 33 41) Masur H, Michelis MA, Greene JB, Onorato I, Stowe RA, Holzman RS, et al. An outbreak of community-acquired Pneumocystis carinii pneumonia. N Engl J Med. 1981;305:1431-8. 42) Gottlieb MS, Schroff R, Schanker HD, Weisman JD, Fan PT, Wolf RA, et al. Pneumocystis carinii pneumonia and mucosal candidiasis in previously healthy homosexual men. N Engl J Med. 1981;305:1425-31. 43) Durack DT. Opportunistic infections and Kaposi’s sarcoma in homosexual men. N Engl J Med. 1981;305:1465-7. 44) Barre-Sinoussi F, Chermann JC, Rey F, Nugeyre MT, Chamaret S, Gruest J, et al. Isolation of a T-lymphotropic retrovirus from a patient at risk for acquired immune deficiency syndrome (AIDS). Science. 1983;220:868-70. 45) Gallo RC, Sarin OS, Gelmann EP, Robert-Guroff M, Richardson E, Kalyanaraman VS, et al. Isolation of human T-cell leukemia virus in acquired immune deficiency syndrome (AIDS). Science. 1983;220:865-7. 46) Coffin J, Haase A, Levy JA, Montagnier L, Oroszlan S, Teich N, et al. What to call the AIDS virus? Nature. 1986;321:10. 47) Clavel F, Guétard D, Brun-Vézinet F, Chamaret S, Rey M, SantosFerreira MO, et al. Isolation of a new human retrovirus from West African patients with AIDS. Science. 1986;233:343-6. 48) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Plano Operacional para redução da transmissão vertical do HIV e da Sifilis. Brasília (DF), 2007. 49) Marhefka SL, Tepper VJ, Brown JL, Farley JJ. Caregiver psychosocial characteristics and children’s adherence to antiretroviral therapy. AIDS Patient Care STDS. 2006 Jun;20(6):429-37. 50) Crozatti MTL. Adesão ao tratamento anti-retroviral na infância e adolescência. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; 2007. 51) Abadía-Barrero CE, Larusso MD. The disclosure model versus a developmental illness experience model for children and adolescents living with HIV/AIDS in São Paulo, Brazil. AIDS Patient Care STDS. 2006 Jan;20(1):36-43. 34 52) Brasil. Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB. [online] Brasília (DF), 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm#art3 (10 mar 2009) 53) Vreeman RC, Wiehe SE, Pearce EC, Nyandiko WM. A systematic review of pediatric adherence to antiretroviral therapy in low-and middle-income countries. Pediatr Infect Dis J. 2008 Aug; 27(8):68691. 54) Spinardi JR, Machado JKC, Sant’Anna MJC, Passarelli MLB, Coates V. Adolescer com HIV: saber, conhecer e conviver. Adolescência & Saúde. 2008 Jul;5(2):7-14. 55) Giacomet V, Albano F, Starace F, de Franciscis A, Giaquinto C, Gattinara GC, et al. Adherence to antiretroviral therapy and its determinants in children with human immunodeficiency virus infection: a multicentre, national study. Acta Paediatr. 2003 Dec;92(12):1398402. 56) Collaboration of Observational HIV Epidemiological Research Europe (COHERE) Study Group. Response to combination antiretroviral therapy: variation by age. AIDS. 2008 Jul 31;22(12):1463-73. 57) Nicastri E, Angeletti C, Palmisano L, Sarmati L, Chiesi A, Geraci A, et al. Gender differences in clinical progression of HIV-1 infected individuals during long-term highly active antiretroviral therapy. AIDS. 2005 Mar 24;19(6):577-83. 58) Collazos J, Asensi V, Cartón JA. Sex differences in the clinical, immunological and virological parameters of HIV-infected patients treated with HAART. AIDS. 2007 Apr 23;21(7):835-43. 59) Battles HB, Wiener LS. From adolescence through young adulthood: psychosocial adjustment associated with long-term survival of HIV. Journal of Adolescent Health. 2002 Mar;30(3):161-8. 60) Biadgilign S, Deribew A, Amberbir A, Deribe K. Adherence to highly active antiretroviral therapy and its correlates among HIV infected patients in Ethiopia. BMC Pediatr. 2008;8:53. 61) Marques HHS, Da Silva NG, Gutierrez PL, Lacerda R, Ayres JRCM, Della Negra M, et al. A revelação do diagnóstico na perspectiva dos adolescentes vivendo com HIV/AIDS e seus pais e cuidadores. Cad Saúde Pública. [periódico online] Rio de Janeiro, 2006 Mar; [citado 13 mar 2009]; 22(3):619-29. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X2006000300017&lng=pt. 35 62) Butler AM, Williams PL, Howland LC, Storm D, Hutton N, Seage GR, et al. Impact of disclosure of HIV infection on health-related quality of life among children and adolescents with HIV infection. Pediatrics. 2009 Mar;123(3):935-43. 63) Martin S, Elliott-DeSorbo DK, Wolters PL, Toledo-Tamula MA, Roby G, Zeichner S, et al. Patient, caregiver and regimen characteristics associated with adherence to highly active antiretroviral therapy among HIV-infected children and adolescents. Pediatr Infect Dis J. 2007 Jan;26(1):61-7. 64) Malee K, Williams PL, Montepiedra G, Nichols S, Sirois PA, Storm D, et al. The role of cognitive functioning in medication adherence of children and adolescents with HIV infection. J Pediatr Psychol. 2009 Mar;34(2):164-75. 65) Haddad M, Inch C, Glazier RH, Wilkins AL, Urbshott G, Bayoumi A, et al. Patient support and education for promoting adherence to highly active antiretroviral therapy for HIV/AIDS. Cochrane Database Syst Rev. 2000;(3):CD001442. 66) Souza E, Santos N, Valentini S, Silva G. Falbo A. Perinatally HIV infected adolescents: long-term quality of life, clinical, immunological and virological outcomes[abstract]. Rev Antiviral Therapy. 2009;6:117. 67) Howland LC, Storm DS, Crawford SL, Yunsheng M, Gortmaker SL, Oleske JM. Negative life events: risk to health-related quality of life in children and youth with HIV infection. JANAC. 2007 Jan;18(1):3-11. 68) Pontali E. Facilitating adherence to highly active antiretroviral therapy in children with HIV infection: what are the issues and what can be done? Paediatr Drugs. 2005;7(3):137-49. 36 FONTES CONSULTADAS Normatização para apresentação de dissertações e teses. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 2004. 37 Machado JKC. Adolescentes brasileiros infectados pelo HIV: características epidemiológicas e adesão terapêutica. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2009. RESUMO Nas últimas três décadas, desde o aparecimento dos primeiros casos de AIDS, assistimos a enorme avanço dos métodos terapêuticos, que transformaram a evolução da doença de debilitante e fatal em crônica e controlável. Crianças infectadas estão chegando à adolescência e trazendo desafios específicos não apenas aos jovens, como também para suas famílias e cuidadores. Este estudo retrospectivo descreveu as características epidemiológicas e do tratamento de 46 pacientes adolescentes infectados pelo HIV acompanhados em serviço universitário especializado, relacionando-as à adesão terapêutica aferida pela combinação de três métodos indiretos. As características epidemiológicas de idade, sexo, escolaridade, composição do núcleo domiciliar, idade ao diagnóstico, forma de transmissão e conhecimento do diagnóstico não apresentaram associação com a adesão terapêutica, bem como o tempo de tratamento e o primeiro esquema antirretroviral (ARV) utilizado. Os pacientes que apresentaram melhor adesão terapêutica tinham menores valores de carga viral e utilizaram menor número de esquemas ARV. Palavras-chave: 1. HIV 2. Terapêutica 3. Cooperação do paciente 4. Epidemiologia 5. Adolescente 6. Estudos retrospectivos 38 Machado JKC. Brazilian adolescents infected by HIV – epidemiologic characteristics & adherence to treatment. Thesis. Sao Paulo: School of Medical Sciences of Santa Casa de Sao Paulo; 2009. ABSTRACT Over the last three decades since the first AIDS cases appeared we have witnessed a huge progress in therapeutic methodologies transforming the evolution of the disease from debilitating and fatal into chronic and controllable. Infected children are arriving at adolescence and bringing specific challenges not only to youngsters but also to their families and caregivers. This retrospective study sets forth epidemiological and treatment characteristics of 46 HIV-infected adolescents followed in a specialized university service relating said characteristics to therapy adherence assessed through a combination of three indirect methods. Epidemiological characteristics regarding age, sex, school level, household composition, age of diagnosis, mode of infection and knowledge of diagnosis did not reveal any association with therapy adherence, nor with treatment time and the initial antiretroviral scheme. Patients with good therapy adherence presented lower viral load and used a smaller number of antiretroviral schemes. Keywords: 1. HIV 2. Therapeutic 3. Patient compliance 4. Epidemiology 5. Adolescent 6. Retrospective studies 39 APÊNDICE Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo