RV: Nós estamos a praticamente um ano da criação da REPAM, que realizou-se em Brasília em setembro passado. No encontro será feita uma avaliação da caminhada até aqui. O senhor poderia destacar alguns momentos e passos importantes dados neste um ano? “Sim. Certamente alguns encontros foram fundamentais para se continuar este trabalho e o próprio comitê central que está, digamos assim, organizando os eixos fundamentais de atuação da REPAM em toda esta região. E sobretudo esta decisão que foi tomada de fazer um encontro com os Bispos não brasileiros, destas outras oito nações, que também tem região amazônica, portanto nesta Pan-amazônica, e de fazer esta reunião em Bogotá. Por que em Bogotá? Primeiro se pensava em fazer em Manaus, depois decidimos e entendemos que era melhor fazer em Bogotá, porque estes países todos, este bispos, têm menos familiaridade com Manaus e com o Brasil. Então, fazer em Bogotá, onde fica o CELAM, estes bispos se sentirão muito mais em casa, poder ir lá para Bogotá, na sede do CELAM, para podermos então propor e discutir esta fundação da REPAM, da Rede, e de como ela pode ser um serviço também para o trabalho deles na sua região amazônica. Então esta foi uma decisão que a meu ver, foi muito importante em termos, digamos assim, de acolher melhor, desde o início, estes bispos que ainda não tinham nenhum contato maior com este caminho todo que levou à fundação da Rede. Então esta foi uma das coisas importantes. Outra atividade que se realizou foi a presença da Rede no encontro que houve na Organização dos Estados Americanos, onde esteve um dos nossos representantes, indo levar a questão dos direitos humanos aqui da região, sobretudo em relação aos indígenas, aos ribeirinhos e tudo mais. E foi uma presença que foi portanto assinalada, foi muito bem acolhida, foram muito bem acolhidos. Este foi um dos passos que foi feito. E outro, que nós também estaremos agora que o Papa irá aos Estados Unidos, nós também estaremos lá presentes nestes dias em que ele estará em Washington e em New York. Também por causa, mais uma vez por causa dos direitos humanos, para que a nossa presença assinale também de novo às Organizações das Nações Unidas, nesta questão indígena, sobretudo a questão dos direitos humanos de modo geral nesta região. E não é apenas os indígenas, mas também a questão do tráfico humano, que é uma outra questão muito séria também aqui na Amazônia. Então o fato de o Papa estar alí e nós estarmos junto, isto também assinalará esta, digamos assim, este apoio que o Papa continua nos dando a este trabalho todo e nós achamos isto tudo muito importante. RV: São bem nove países envolvidos na Rede Pan-Amazônica. Quais tem sido as maiores dificuldades encontradas na consolidação da Rede, pensemos à questão das distâncias, às dificuldades de comunicação pelas dimensões da Amazônia, entre as dioceses.... “Em alguns países as Conferências Episcopais estão começando a fazer um programa especial, específico para a sua área amazônica, estão mais assim, digamos, no começo deste trabalho. Então aí, nós de fato conseguir fazer este trabalho junto com eles e de integrá-los na Rede sem prejudicar e sem, digamos assim, ser um peso para o trabalho deles. Mas caminhando junto com eles na medida em que eles também estão fazendo este caminho, caminharmos juntos, muito mais do que querer propor o que tem que fazer, enfim, tudo isto. Pois se trata de uma rede. Eu sempre digo que a REPAM não é uma Conferência Episcopal Pan-Amazônica, ela é uma rede de apoio entre as Igrejas e a sociedade e o povo, nas suas grandes questões, também nas suas grandes aspirações no futuro. Então isto é um dos, digamos assim, desafios que nós temos. Certamente um desafio também é a comunicação. Mas isto também aqui no Brasil é igual. Mesmo os nossos bispos, aqui da floresta e outros lugares mais distantes. Não é fácil esta comunicação e manter viva esta consciência da existência da REPAM e dizer que a REPAM é um serviço que pode e quer ser um serviço que os ajude e não os atrapalhe no seu caminhar. Entre isto, certamente nós temos estes desafios da distância, a questão do tempo e do espaço, que aqui domina muito. Exatamente porque são regiões ainda pouco povoadas, relativamente. Então isto tudo são situações com que se pode e deve contar, sem sonhar com um mundo diferente, não, é este aqui, esta é a Amazônia de hoje que nós temos e é nesta Amazônia que nós devemos ser um serviço válido para as grandes questões. São alguns dos desafios. Outra coisa que ultimamente tem se integrado e tem se trazido para dentro da Rede, mas que já existia antes, são as questões da Igreja e a mineração. Houve já vários encontros, tanto do CELAM como da CLAR também, a questão do problema da mineração na Pan-Amazônia. E isto também está sendo agora acompanhado pela Rede. Tanto assim que agora também já houve uma reunião sobre Igreja e mineração em Brasília, onde também a Rede estava envolvida”. RV: A REPAM, neste sentido, tem desafios importantes pela frente, até porque mexe com grandes interesses econômicos, como a mineração, por exemplo... “Exatamente. Mas como diz o Papa, nós queremos ser simples e queremos ser abertos ao diálogo, sem deixar de ser proféticos. Quer dizer, aquilo que tem de ser denunciado, não podemos deixar de fazê-lo. Mas também não nos furtar de escutar mesmo os que pensam diferente de nós. E isto é muito importante. A REPAM também quer fazer isto. O Papa é sempre muito aberto e isto o Papa sempre diz: nós temos que ouvir os que pensam diferente, os que oferecem resistência. Também a eles nós devemos ouvir e cresce com este, digamos, cresce a intenção de entender por que estas pessoas e instituições tem tais resistências, enfim. Quais os motivos que há por detrás, para de fato se poder fazer um diálogo válido, que não seja superficial. E a REPAM, certamente, quer trilhar este caminho, com muita simplicidade e com os recursos que ela tem, mas ela tem este espírito de ser aberta, também de discutir, não apenas denunciar, mas também de discutir os vários projetos de desenvolvimento, enfim, e outras questões que afetam, digamos, problematicamente esta região toda, os grandes problemas. Mas este espírito aberto, o Papa nos ensina muito. Ser profetas não significa apenas denunciar, mas significa também ser abertos, escutar, ouvir, e, enfim, ser até às vezes capaz de se enriquecer com o diálogo e ter posições mais lúcidas e objetivas do que simplesmente denunciando”. RV: Em se tratando de Papa Francisco, podemos dizer que a Encíclica Laudato Si vai totalmente de encontro aos objetivos da REPAM... “Para nós foi um presente caído do céu, de fato. Para todo mundo. Sempre digo que não é um documento somente para a Igreja, só para a Amazônia, é para o mundo inteiro e a sociedade de modo geral, está acolhendo bem o que ele colocou. Dificilmente você encontra alguém que tenha propostas que contradizem frontalmente, enfim, mas tem isto também. Mas ela está sendo bem acolhida, sobretudo pela sua...ela é carismática, ela tem uma visão ampla, ela tem uma visão global, ela tem uma visão que ultrapassa o econômico, o social, cultural, para ser também e ter uma visão ética sobre estas questões, uma visão religiosa sobre estas questões todas, pois envolve o ser humano em toda a sua integralidade. E também o planteta em toda a sua integralidade, e não só florestas, etc, biodiversidades, mas sobretudo o ser humano que está alí, as populações que estão alí, as populações originárias que viveram e vivem ainda nas florestas e que nos podem de fato ajudar a entender tudo isto. Então, acho que a Encíclica realmente foi uma luz num momento muito problemático, o Papa diz que é urgente, não se pode mais esperar, já devia ter sido feito e portanto, se ter coragem para tomar decisões que vão revolucionar um pouco a forma da economia, da produção, da distribuição, do cuidado com a natureza, com a água, com o ar, com a terra, a contaminação, o lixo, enfim, enfim. E sobretudo, então, também a vegetação, a preservação das florestas, das árvores, que são a grande riqueza que sustenta o planeta no seu dia-a-dia”. RV: No dia 19 será lançada uma edição conjunta da Laudato Si editada pela REPAM, a CNBB e Arquidiocese de Manaus.... “É uma iniciativa muito importante, porque hoje em dia, facilmente você é levado de novidade para novidade. Então de repente apareceu a Laudato Si, todo mundo se entusiasmou, leu, etc, achou muito válida, mas depois dos acontecimento o mundo continua, traz outros acontecimentos, os noticiários estão cheios de outras coisas e você, a cada dia, passa para um outro capítulo, por assim dizer, vira a página e tem outra coisa. Então, manter viva a presença e a luz desta Encíclica, também no meio de nosso povo, levá-la ao conhecimento, levá-la a que sociedade toda se interesse, sobretudo as nossas comunidades, as nossas famílias se interessem, porque elas todas têm, digamos, desafios éticos a realizar, porque interessante é que o Papa aponta quanta coisa eu pessoalmente posso fazer, quanta coisa minha família pode fazer, quanta coisa minha comunidade, minha paróquia, a minha escola, a minha cidade podem fazer em relação a tudo isto. Realmente, assim, é muito concreto. Então, manter viva esta presença da Encíclica no meio do nosso povo é um desafio constante que nós temos que sempre de novo retomar e se não retoma ela acaba aos poucos sendo atropelada e, enfim, enterrada, por tantas outras coisas”.