Título: Aristóteles e a educação: como motivar o aluno a aprender por si mesmo? Autores: Susana Aparecida da Silva (PUC-SP) Marcos Eduardo Melo dos Santos (UNICAMP) Apresentação oral. Área temática: 1. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem Resumo: Este trabalho propõe uma reflexão filosófica em torno da relação de três conceitos aristotélicos significativos para a área da educação: emoção, amor e imitação. Uma reflexão contextualizada desses conceitos pode contribuir para a tarefa do professor em motivar o aluno no processo de aprendizado. O pathos (emoção ou paixão), é relevante para a reflexão da prática pedagógica pois, o conhecimento é absorvido através dos sentidos (Metafísica I,1), e estes são simultaneamente gerados e motivados pelas emoções que influenciam tanto o processo do conhecimento quanto o movimento de benevolência (Política, 1340a15). É justamente nessa união entre o conhecimento e o amor que o aprendizado pode ser pensado de um modo profícuo na filosofia aristotélica (Ética a Nicômaco. 153-4). A mímese, um conceito básico para a teoria aristotélica da educação, decorre do amor, pois na Paidéia, quem ama imita, quem imita, aprende. Mover a vontade (o amor ou a benevolência) do aluno para o conteúdo proposto é fundamental para o aprendizado. Somente assim, a pedagogia ativa, tão em voga nas reflexões filosóficas da prática pedagógica, tem eficácia. O presente projeto de pesquisa visa propor uma reflexão filosófica do processo de aprendizado com a finalidade de extrair da obra de Aristóteles alguns princípios úteis para a reflexão em torno do estímulo no aluno da vontade de aprender, pois O mestre deve estar ciente de que amor e conhecimento nascem na mesma fonte e caminham para o mesmo mar. Palavras-chave: Filosofia da Educação; Aristóteles; emoção; amor; imitação. Problema A motivação da vontade do aluno no sentido do aprendizado tem sido o principal objetivo e o principal problema tanto nas abordagens ativas quando passivas de aprendizado. Interessar o aluno a querer aprender o que deve ser aprendido é o problema a ser discutido na presente comunicação. Para objetivar esse escopo fundamental da arte de educar, alguns escritos atribuídos ao filósofo grego Aristóteles parecem conter respostas que apesar da antiguidade de sua origem, afrontam problemas atuais, que nem sempre estão alicerçados nas questões técnicas inerentes ao tempo, mas na própria natureza do homem enquanto animal político e racional. Objetivos A presente comunicação visa ressaltar algumas ideias de Aristóteles que podem contribuir para a ação pedagógica no sentido de refletir sobre a tarefa de educar. Este trabalho propõe uma reflexão filosófica em torno da relação de três conceitos aristotélicos significativos para a área da educação: emoção, amor e imitação. Uma reflexão contextualizada desses conceitos pode contribuir para a tarefa do professor em motivar o aluno no processo de aprendizado. O pathos (emoção ou paixão), é relevante para a reflexão da prática pedagógica pois, o conhecimento é absorvido através dos sentidos (Metafísica I,1), e estes são simultaneamente gerados e motivados pelas emoções que influenciam tanto o processo do conhecimento quanto o movimento de benevolência (Política, 1340a15). É justamente nessa união entre o conhecimento e o amor que o aprendizado pode ser pensado de um modo profícuo na filosofia aristotélica (Ética a Nicômaco. 153-4). A mímese, um conceito básico para a teoria aristotélica da educação, decorre do amor, pois na Paidéia, quem ama imita, quem imita, aprende. Mover a vontade (o amor ou a benevolência) do aluno para o conteúdo proposto é fundamental para o aprendizado. Somente assim, a pedagogia ativa, tão em voga nas reflexões filosóficas da prática pedagógica, tem eficácia. O presente projeto de pesquisa visa propor uma reflexão filosófica do processo de aprendizado com a finalidade de extrair da obra de Aristóteles alguns princípios úteis para a reflexão em torno do estímulo no aluno da vontade de aprender, pois O mestre deve estar ciente de que amor e conhecimento nascem na mesma fonte e caminham para o mesmo mar. Metodologia O método de pesquisa será bibliográfico, por meio de levantamento e comparação de fontes. O texto grego utilizado quando isto se tornar necessário será o da edição bilíngüe (grego e inglês) publicada pela Harvard Univesity Press e disponível na Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Serão também consultadas algumas traduções para o português listadas infra. Para a análise da conceituação de imitação, amizade e pathos, aplicada à área da educação, consultar-se-ão autores que são a bibliografia especializada no estudo da obra de Aristóteles sob ponto de vista pedagógico, tais como Boto, Camps, Cassin, Chauí, Cunha, Frankena, Hourdakis, Marcondes, Pagotto-Euzebio, Reale, Ruiz, Schmied-Kowarzik e Wilson, cujas publicações estão listadas na bibliografia. Fundamentação e justificativa teórica Aristóteles, devido sua ampla e profunda obra, tem sido um dos autores fundamentais para a filosofia da educação. Embora o Estagirita não tenha escrito nenhuma obra especificamente sobre a prática pedagógica (Ruiz, 1969:11), verifica-se que algumas de suas obras gozam de inegável relevância para a reflexão dos educadores. Suas teorias pedagógicas encontram-se esparsas nos seus escritos exotéricos (sobre retórica e dialética) e nos escritos esotéricos (sobre as temáticas mais diversas). Os primeiros tratam da arte de persuadir e da argumentação assim como da sua teoria do conhecimento. Os segundos são compostos de comentários sobre aspectos da atividade pedagógica assim como escritos sobre diversos temas nos quais, Aristóteles aplica o papel ao tratar de física, matemática, ética e política (Cunha, 2007:71). Diversos autores tem comentado a obra de Aristóteles sob o ponto de vista da reflexão pedagógica. Marrou (1981:374) afirmava que a obra de Aristóteles segue sem originalidade a esteira dos escritos de Isócrates e Platão. Entretanto, vários autores têm contestado essa afirmação, pois “Aristóteles poderia ser caracterizado como o politólogo e o médico da educação, que sente a necessidade de formular uma teoria de caráter reformador e fisiopedagógico, de maneira metódica e em profundidade, permanecendo mais realista do que seu mestre Platão” (Hourdakis, 2001:11). Para Marcondes (2002:69-70), a obra de Aristóteles se caracterizou por “um esforço de elaboração de uma concepção filosófica própria que não se confunde com a de seus antecessores”. Ademais, deve-se evitar o preconceito de que as teorias aristotélicas pedagógicas visassem apenas à pedagogia passiva. Aristóteles estava bem ciente de que a Paidéia consiste em uma prática (práxis), que deve produzir (poíesis), e sobre a qual se pode teorizar (epistéme) (Cunha, 2007). Para Aristóteles, a educação deve produzir uma imitação, pois o aluno deve captar as coisas que devem ser aprendidas com o mestre, não somente teóricas, mas também as habilidades. É nesse sentido que o conceito aristotélico da imitação aplicado à Paidéia, não somente ressalta a importância do papel exemplar do professor aos olhos do aluno, mas também a prática de exercícios de preferência lúdicos (Política, 1336a23-30), que tendo em vista paradigmas corretos e as narrativas motivacionais (Política, 1336a30-32), estimulem o aluno no aprendizado. De fato, segundo Aristóteles: “todos os homens têm mais amor ao que eles próprios produziram, como os pais e os poetas” (Ética a Nicômaco, IV.1). Assim também o aluno. Mas não é somente a pura mimese que faz com que a reflexão sobre a motivação do aluno em aprender pode ser iluminada pela filosofia aristotélica. Nota-se em várias passagens a relação dos conceitos de conhecimento e amor: “Podemos admitir a distinção entre prazeres corporais e prazeres da alma tais como o amor à honra e o amor ao estudo; pois quem ama uma dessas coisas deleita-se naquilo que ama, não sendo o corpo de nenhum modo afetado, e sim a mente” (Ética a Nicômaco, III. 10). É justamente tornado o aluno amante do objeto a ser apreendido que se faz com que este se torne agente do seu próprio aprendizado. Mas para tornar alguém amante, alguns conceitos expostos por Aristóteles merecem especial destaque a fim de que se possa mover a vontade (a benevolência) do aluno ao objeto do conhecimento. A obra de Aristóteles apresenta diversos conceitos úteis para a reflexão da prática pedagógica. Na Ética a Nicômaco (1094a26-b9), Aristóteles discutiu os princípios e a finalidade da educação do cidadão centrada na prática de hábitos bons (virtudes) em vista da felicidade individual (Ética, 1179b31-34). Analogamente, na Política, afirma que a inserção do educando na polis (cidade), dá-se pela instrução, a Paidéia (Aristóteles. Política, 1332a33-35). A educação, não somente torna a vida do cidadão feliz na esfera individual, em razão da transmissão e da formação de hábitos bons (virtudes), mas também da própria sociedade (Boto, 2002:302), que se torna feliz em razão da prática de comportamentos adequados à vida na cidade (Hourdakis, 2001:9). E não somente o bem comum, mas também a própria unidade do corpo social (Aristóteles. Política, 1263b36-37). A educação deve ser exercida pelo estado, não pela família (1179b20-21), pois “o homem é fruto da cidade, da sua paideia, e por decorrência toda criação humana terá a cidade como origem e – é importante não esquecer – como propósito ou, pelo menos, referência” (Pagotto-Euzebio, 2010:201). Na Política, também constata-se uma fisiopedagogia, entendida como o processo educacional adaptado às diversas fases do desenvolvimento etário do corpo humano. Por outro lado, a teoria do conhecimento de Aristóteles, sobretudo alguns conceitos explicados no Sobre a alma e no Órganon, também tem sido um assunto abordado, especialmente no tocante ao acesso ao conhecimento através dos sentidos externos (visão, audição, tato, paladar e olfato), o papel da memória e a transmissão dos conhecimentos técnicos através de exercícios práticos (práxis). Nota-se nesse sistema, coerente para alguns e incoerente para outros autores, que há muitos conceitos úteis para a reflexão filosófica da prática pedagógica. Carlota Boto seleciona alguns conceitos “como categorias operatórias” que se mostram “interessantes e factíveis para se pensar o ato de educar”, entre os quais apresenta a amizade (amor) e a imitação (Boto, 2002:291). É justamente esses conceitos, alinhados às reflexões de Aristóteles a respeito do pathos, que também tem sido aplicado à prática da educação, uma vez que uma das maiores preocupações do educador deve ser justamente fazer com que o aluno se motive a aprender, que ame o conhecimento. Considerações conclusivas O amor em Aristotéles não se restringe à necessária relação harmoniosa entre os docentes (Nóvoa, 1991:25) e entre aluno e professor, e não somente à docência da virtude da amizade tão útil para a sociedade (Boto, 2002:302) mas compreende também a relação da vontade (amor ou benevolência) para com o que vede ser apreendido (Ética a Nicômaco. 153-4). Essa motivação é exercida justamente na vontade do aluno. Mover o aluno a amar o conteúdo que se pretende transmitir seria uma das chaves da motivação para o conhecimento. Para mover o amor do aluno, deve-se deitar especial atenção sobre o pathos (emoção). Segundo Carvalho, Aristóteles demonstra, em diversas passagens, estar especialmente interessado na educação do lado cognitivo das emoções. Em seu ponto de vista, emoções não são forças cegas e selvagens. São reações inteligentes, identificam uma personalidade, estando relacionadas a crenças e, portanto, sensíveis a uma modificação cognitiva através da educação. É necessário ao homem virtuoso cultivar suas emoções e, frequentemente, elas são modificadas no curso da vida. Portanto, emoções e desejos são também sensíveis ao raciocínio e ao ensinamento. Os jovens, por exemplo, se caracterizam pela sua reação emocional e não pelo raciocínio. Mas como as emoções são cognitivas eles estão aptos, desde cedo, à educação moral. Um jovem pode aprender princípios que guiarão suas reações mesmo que estes não sejam ainda completamente compreendidos. Entre as várias influências sobre o caráter moral, a educação musical é escolhida para ter um tratamento especial exatamente por causa de seu papel único no desenvolvimento de bons hábitos e na formação do caráter através de estímulos emocionais adequados (Carvalho, 2010:49). Ora, para amar algo, é preciso conhecer, mas é preciso ter contado de uma forma atraente, pois nada há no intelecto que não tenha entrado através dos sentidos (Sobre a alma). De fato, não é somente o conhecimento que penetra na alma através dos sentidos. Os sentidos também estimulam o amor, pois conforme afirma Aristóteles, “a visão corporal é o princípio do amor sensitivo” (Ética. 9.5.3), de forma que pela contemplação da beleza ou bondade se move simultaneamente o amor e o conhecimento, não somente a fim de que o aluno aprecie o belo e a arte (Política. 1337b25-26;1338a41-b2), mas, sobretudo a educação em suas diversas disciplinas. Não somente as artes visuais são úteis para a educação, mas Aristóteles (Política, 1337b29-35) também apontava a música como um dos conteúdos e das estratégias pedagógicas principais (paideumata). Daí a relação intrínseca e inseparável entre o amor, a emoção e o conhecimento e seu papel imprescindível no aprendizado. Quem ama, aprende melhor o que ama. Daí, resulta a relação do pathos e da sensibilidade, que devem fazer com que o aluno se interesse pelo conteúdo proposto. Trata-se de um conceito fundamental ao tratar do processo da formação do homem, de tal modo que Wald não hesitou em escrever: As paixões humanas foram um tema importante da filosofia antiga e medieval. Emoções como o amor e o medo não afetam somente as nossas ações, mas também os nossos juízos. E mais: sua força de captação da realidade vai ale da capacidade da razão humana (Wald, 2010:9). Com as emoções atendidas, o aluno pode amar o que se transmite, e assim, poderá ter um aproveitamento maior ao adquirir um conhecimento.1 O grande desafio do educador seria então tornar o conhecimento objeto de amor do aluno. Mas, segundo Aristóteles, há condições a serem preenchidas a fim de que algo seja amado. Ora, nem tudo parece ser amado, mas apenas o estimável, e este é bom, agradável ou útil. Mas o útil, em suma, é aquilo que produz algo de bom ou agradável, de modo que são o bom e o útil que são estimáveis como fins. Os homens amam, então, o que é bom em si ou o que é bom para eles? Os dois entram por vezes em conflito. E o mesmo pode-se dizer no tocante ao agradável. Ora, pensa-se que cada um ama o que é bom para ele, e o que é bom é estimável em si mesmo, enquanto o que é bom para cada um é estimável para ele; mas cada homem ama não o que é bom para ele, e sim o que parece bom. Isso, contudo, não vem ao caso; limitar-nos-emos a dizer que ele é ‘o que parece estimável’ (Ética a Nicômaco, VIII.2) O educador não deve fazer com que o conteúdo seja amável, mas que pareça estimável. Pois as questões de amor e amizade no processo educativo têm 11 “Todos os homens tem naturalmente o desejo de saber. O prazer que nos causam as percepções dos nossos sentidos é uma prova desta verdade. Agradam-nos por si mesmas, independentemente de sua utilidade, sobretudo as da vista. Com efeito, não somente quando temos intenção de obrar, senão até quando nenhum objeto prático nos propomos, preferimos, por assim dizer, o conhecimento visível a todos os que não dão os demais sentidos. A razão é que a vista, melhor que os outros sentidos, não dá a conhecer os objetos e nos descobre entre eles grande número de diferenças” (Metafísica, I,1). uma inferência direta sobre a formação do aluno em diversos aspectos, como bem sintetiza Cunha, a amizade assume também valor pedagógico, na medida em que aquelas virtudes podem ser prendidas numa relação, seja entre iguais, seja entre diferentes, tornando-se confiança, o pressuposto da verdadeira Educação e da verdadeira filosofia. [...] Suas [dos alunos] disposições intelectivas e de caráter imitam a ação do filósofo, até certo ponto, no processo constitutivo de si mesmos, não apenas quando nutrem por ele um sentimento de amizade, como também quando buscam, nos instrumentos da poiésis, da retórica, da analítica e da dialética disponibilizados pelo mestre, os meios para alcançar a verdadeira felicidade (Cunha, 2007:71-72). É justamente tendo como pressuposto a abrangência da noção de amor no processo pedagógico que faz com que os conhecimentos teórico e técnico sejam transmitidos com maior eficácia (Hourdakis, 2001:15). O pathos (emoção), segundo a Retórica, permite com que o orador mova as emoções do ouvinte para persuadi-lo aderir a um dos lados de uma causa (Rhetorica, I, 1354a). O uso do pathos, entendido como o uso de apelos emocionais para alterar o julgamento do ouvinte, age justamente sobre a vontade, sobre o amor. Mas isso não significa de que a teoria aristotélica contribua apenas para a educação passiva ao aprimorar o discurso do mestre. O amor gera ação: “Acresce que o amor é como a atividade, e ser amado assemelha-se à passividade” (Ética a Nicômaco, IX,7). A teoria aristotélica se concentra na formação de hábitos, inclusive a virtude do amor, pois “a ação que leva a cabo inclui uma dose de contemplação e de teoria, mas não é contemplação pura, a qual seria privativa dos deuses e não de humanos para quem a ação é inevitável” (Camps, 1996:92). Conforme observa Boto, “por virtude, Aristóteles compreende uma prática. A virtude não é, portanto, natureza; e não haveria um aprendizado suficientemente eficaz para garantir a ação virtuosa” (Boto, 2002:293). Na verdade, alguns conceitos, “como a virtude, associada às noções do fazer e do agir, torna-se um das noções mais fundamentais da educação no âmbito de uma pedagogia ativa, que ainda hoje constitui o objetivo principal da reflexão pedagógica moderna” (Hourdakis, 2001:11). Com finalidade notoriamente prática, a teoria aristotélica contempla justamente a mímesis (imitação) como um dos princípios fundamentais da educação (Boto,2005:39). A arte e a educação imitam a natureza (Física, 991a15), pois “cada arte e cada educação procura completar as carências da natureza” (Política, 1337a1-2). Esse conceito aplicado em sentido distinto mas semelhante na Retórica, na Poética e na Tragédia,2 também pode ser aplicado na Paidéia, pois na educação como no teatro, “o criador convida o espectador a se envolver com um desempenho, uma mimesis da realidade, e, portanto, por delegação, com a própria realidade” (Mcleish, 2000:18), uma vez que não somente o aluno deve ter o exemplo do professor para que aprender com maior disponibilidade, não somente através do ethos retórico do professor enquanto orador (Cunha, 2007:75), mas também que os conhecimentos são adquiridos de forma mais eficaz através do exemplo, seja por meio das narrativas mitológicas ou históricas, que se tornam exemplos a serem imitados pelos alunos, seja através de paradigmas que o aluno possa imitar, como um exercício, a fim de que possa aprender. Também o jogo se insere na teoria da imitação, uma vez que se imita as regras sérias (Hourdakis, 2001:71). A imitação faz com que o aluno pratique um hábito, esse hábito se torna uma faculdade, pois em muitos casos, procura-se na educação a formação de hábitos bons não somente aqueles ligados ao comportamento moral, mas também aqueles decorrentes do próprio conteúdo escolar, como o hábito de bem escrever bem, de bem falar, entre outros. Segundo Boto, Haveria, por assim dizer, algum envolvimento subjetivo no drama. Este se torna sujeito, para o mestre e para o aprendiz. Daí a magia da ação educativa quando assumimos a confluência proposta por Aristóteles dessa imitação/representação do bom, do belo e do bem – tríade necessária para pensar a formação da virtude ao educar. Trata-se de hábitos; no justo meio, pela prudência do discernimento; alicerçados pela equidade das práticas; e de criações de rotinas e de rituais coletivos, públicos e dirigidos ao bem comum; e , portanto, à felicidade – como se fosse por amizade... (Boto, 2002:310-311). 2 “Segundo o caráter, as pessoas são tais ou tais, mas é segundo as ações que são felizes ou o contrário. Portanto, as personagens não agem para imitar os caracteres, mas adquirem os caracteres graças às ações. Assim, as ações e a fábula constituem a finalidade da tragédia, e, em tudo, a finalidade é o que mais importa” (Aristóteles, Arte Poética, 25). Tornar o aluno um amante do conhecimento seria a chave de leitura, com a qual os escritos de Aristóteles, apresentam princípios e técnicas úteis para reflexão filosófica da prática educativa, pois iluminaria o percurso para produzir no aluno uma motivação para o aprendizado fazendo com que este se torne agente do seu próprio desenvolvimento. Mas cabe ao professor atear a chama inicial do amor ao conhecimento. Se o aluno se torna interessado no seu próprio processo formativo, seu aproveitamento será maior. Ler os textos da Ética de Aristóteles, procurando responder a pergunta de como estimular o aluno amar o conhecimento, seria pertinente para uma tese doutoral, pois a novidade de uma reflexão sob esse diapasão na obra de Aristóteles poderia contribuir para a reflexão filosófica dos educadores em busca do maior aproveitamento dos alunos através da motivação. Referências bibliográficas ANSELMO DE CANTUÁRIA. Proslógio. 2ª ed. Trad. Angelo Ricci. São Paulo: Abril Cultura, 1979. ARISTÓTELES. Art of Rhetoric. Vol. XXII. Loeb classical library, 193. Trad. J. H. Freese. Bilingual version (English/Greek) Bilingual version (English/Latin). Cambridge/London: Harvard University Press, 2011. ______. Ética a Nicômaco. 4 ed. Trad. Mário Gomes Kurry. Brasília: UNB, 2001. ______. Órganon. Trad. Edson Bini, Bauru: EDIPRO, 2005. ______. 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