CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
MÓDULO – PEDIATRIA
AULA - Adolescência
Professor José Moacir
Adolescência existe como fase de desenvolvimento muito antes de ter sido reconhecida
e conceitualizada por G Stanley Hall, 1904, nos EUA.
No tempo da cultura sumeriana, 400 a 300 aC, o primeiro caso de delinqüência juvenil
foi registrado em placas de barro.
O “Dicionário de Inglês de Oxford” registra a palavra no século XIV.
Rousseau, em “Emile” (1762), comentou: “Nós nascemos , por assim dizer, duas vezes;
nascemos para a existência e nascemos para a vida; nascemos um ser humano e
nascemos um homem”.
Em todas as culturas e em todos os tempos, a entrada na adolescência é marcada por
rituais de iniciação, ritos de passagem.
Aborígenes australianos e alguns povos africanos circuncidam os adolescentes. A
tatuagem é usada no Pacífico Sul. Mudanças no estilo do cabelo e roupas são comuns
em algumas tribos indígenas da América do Sul.
Alguns outros rituais são bastante mais traumáticos e violentos e representam a
capacidade do menino de suportar calado a dor e expressa sua prontidão para a
virilidade.
Os ritos de passagem para meninas são, em geral, menos severos. Na tribo Cheyenne,
nos EUA, a menina, após seu primeiro período menstrual, pintava o corpo de
vermelho e se envolvia com a fumaça de um incenso especial para, após esse processo,
se isolar com sua avó por 4 dias.
Puberdade
Explosão hormonal que culmina com maturidade sexual completa.
Mudança nos sistemas reprodutivos (caracteres sexuais primários):
- Aumento dos testículos e pênis, nos homens;
- Aumento dos ovários, útero e vagina, nas mulheres.
Mudança nas características sexuais secundárias:
- Alteração do tom de voz e crescimento de barba nos homens;
- Desenvolvimento das mamas nas mulheres;
- Crescimento de pêlos corporais em ambos os sexos.
Estágios de Tanner do desenvolvimento puberal
Estágio 1 – sempre descreve o estágio pré adolescente
Estágio 2 – descreve os primeiros sinais da mudança puberal
Estágio 3 e 4 – descrevem as etapas intermediárias
Estágio 5 – descreve as características adultas finais
Esses estágios servem não só para descrever o progresso normal através da
puberdade, mas também para avaliar o índice de desenvolvimento de cada criança.
Desenvolvimento sexual das meninas
As primeiras etapas são, sem dúvida, as mudanças iniciais das mamas e pêlos
pubianos, seguidas por um pico no salto de crescimento. Só então, vem a menstruação
– menarca. Com a menarca coincide a parada de crescimento em estatura das
meninas.
A menarca costuma ocorrer entre 11 e 15 anos.
Entre os séculos XIX e XX a idade da menarca caiu quase 4 meses por década. Em
1840 a idade da primeira menstruação era ao redor de 17 anos. Em 1970 passou para
13 anos e desde então estacionou. A maioria dos autores atribui essa mudança ao
estilo de vida e também à dieta, em particular a um aumento na ingestão de proteínas.
Não só o final da puberdade ocorre mais cedo. Isso ocorre, também, com o início da
puberdade. Estudos norte americanos têm demonstrado que esse adiantamento ocorre
de forma desigual entre as raças, com as meninas negras iniciando a puberdade quase
1 ano a menos que as meninas brancas.
A menarca não assinala, entretanto, a maturidade sexual completa. Em cerca de 2/3
dos ciclos no primeiro ano e em, aproximadamente, metade dos ciclos do segundo e
terceiro anos (após a menarca), nenhum óvulo é produzido. A fertilidade adulta
completa se desenvolve apenas após alguns anos.
Isso torna qualquer método contraceptivo baseado no ritmo pouco confiável.
Desenvolvimento sexual dos meninos
Em geral os meninos começam a produzir espermatozóides viáveis entre 12 e 14 anos,
ainda antes de atingir o pico do estirão do crescimento.
É importante notar que, embora os meninos comecem os primeiros estágios das
mudanças hormonais e as primeiras etapas das mudanças nas características sexuais
primárias quase na mesma época que nas meninas, seu estirão de crescimento vem,
em média, dois anos mais tarde.
Por volta da 5º e 6º séries as meninas costumam ser mais altas que os meninos.
Comportamento sexual do adolescente
As muitas mudanças físicas da puberdade indicam que o jovem está mais forte, mais
ágil e mais bem coordenado do que antes. Essas mudanças possibilitam, sobretudo, o
comportamento sexual maduro.
Estudos recentes apontam que a crianças experimenta seu primeiro sentimento de
atração sexual – hetero ou homossexual – muito cedo no processo puberal, em torno
dos 10 ou 11 anos (McClintock e Herdt, 1996). Entretanto, a maioria não se torna
sexualmente ativa tão cedo.
A maturidade sexual é encarada diferentemente nas diversas culturas. Existem
culturas. Nessas culturas em que o jovem é considerado adulto ao redor dos 14 anos,
casar e ter filhos com essa idade é considerado normal.
A atividade sexual dos adolescentes aumentou bastante, nos Estados Unidos, desde a
década de 1950. Levantamentos realizados nesse país mostram, de maneira
consistente, que pela metade dos alunos do ensino médio já tiveram relação sexual.
O número de adolescentes relatando múltiplos parceiros também aumentou
recentemente. Num levantamento de 1993 do Center for Disease Control, 18,8% de
todos os alunos do ensino médio e 27% dos alunos do último ano relataram já ter tido
4 ou mais parceiros; entre os alunos negros do sexo masculino, o índice equivalente
era 2 vezes maior.
Embora a atividade sexual nos meninos tenha correlação com os níveis de
testosterona, os fatores sociais predizem muito mais da atividade sexual dos
adolescentes do que os hormônios.
Gravidez e contracepção
Ignorância na fisiologia da reprodução.
Falha na educação sexual em casa e nas escolas.
Desconhecimento dos métodos contraceptivos.
Vergonha de ir ao médico e relatar vida sexual ativa
Gravidez na adolescência
Não existe uma conexão necessária entre atividade sexual adolescente e gravidez. É
possível haver um alto índice de atividade sexual com baixo índice de gravidez
adolescente.
Nos países baixos 14/1000 adolescentes (entre 15 e 19 anos) engravidam por ano.
No Canadá 49/1000
Nos EUA 120/1000 (4/5 das quais involuntária)
Homossexualismo na adolescência
Um estudo realizado em 1992, em Minnesota, com 35.000 adolescentes (Ramafedi et
col.) demonstrou que pouco menos de 1% dos meninos adolescentes e 0,4% das
meninas se definiam como homossexuais, mas cerca de 1 em 10 disse estar em dúvida
quanto sua orientação sexual e de 2 a 6 % relataram sentir atração por pessoas do
mesmo sexo.
(Num estudo realizado com adultos americanos 2 a 3% consideravam-se
homossexuais ou bissexuais e quase o dobro disse sentir atração por pessoas do mesmo
sexo).
Seja qual for a causa da homossexualidade, adolescentes homossexuais enfrentam
altos níveis de preconceito e estereotipia. Muitos são verbalmente atacados ou
ridicularizados; cerca de 1/3 é agredido fisicamente pelos colegas (Remafedi et col.).
Em outro estudo, Remafedi demonstra que 4/5 dos adolescentes homossexuais de
Minneapolis pioraram muito seu desempenho escolar e mais de 1/4 abandonou a
escola no ensino médio.
Quem sou eu?
Montemayor e Eisen (1977) realizaram estudo sobre o autoconceito em crianças e
adolescentes de 9 a 18 anos. Os autores descobriram que as crianças com menos idade
ainda empregavam sobretudo qualidades superficiais para se descreverem.
Vejam relato de menino de 9 anos:
“Meu nome é Bruce. Eu tenho olhos castanhos. Tenho cabelos castanhos. Tenho
sobrancelhas castanhas. Tenho 9 anos de idade. Eu ADORO esportes. Eu tenho 7
pessoas na minha família. Eu tenho uma ótima visão! Tenho um monte de amigos!
Moro na rua...Faço 10 anos em setembro. Tenho um tio de quase 2 metros de altura.
Sou quase o garoto mais esperto da classe. Eu ADORO comida. Eu ADORO a escola”.
Em contraste a isso, vejam a descrição de uma menina de 11 anos, 6ª série:
“Meu nome é A. Sou um ser humano. Sou uma menina. Eu sou uma pessoa sincera.
Não sou muito bonita. Eu me saio mais ou menos nos estudos. Toco violoncelo muito
bem. Toco piano muito bem. Sou um pouco alta demais para minha idade. Gosto de
vários garotos. Gosto de várias garotas. Sou antiquada. Tento ajudar as pessoas.
Estou sempre pronta a fazer amizades. Não sou muito querida por algumas meninas e
alguns meninos. Não sei os meninos gostam ou não de mim”.
A tendência para uma maior abstração na autodefinição continua na adolescência.
Comparem as primeiras duas respostas com esta de uma adolescente de 17 anos:
“Eu sou um ser humano. Sou uma menina, um indivíduo. Eu não sei quem eu sou. Sou
de peixes. Sou uma pessoa melancólica. Sou uma pessoa indecisa. Sou uma pessoa
ambiciosa. Eu sou uma pessoa muito curiosa.. Não sou um indivíduo. Sou uma
solitária. Sou americana (que Deus me ajude) Sou democrata. Sou uma pessoa
liberal. Sou uma radical. Sou conservadora. Sou uma pseudoliberal. Sou atéia. Não
sou uma pessoa classificável (isto é, não quero ser!)”.
Segundo esse estudo, a medida que ficam mais velhos, as crianças e adolescentes se
definem cada vez menos por sua aparência e cada vez mais por aquilo que acreditam e
sentem.
Outra teoria (Erikson) argumenta que o senso de identidade inicial da criança fica
parcialmente solto na puberdade devido a combinação do rápido crescimento
corporal e das mudanças sexuais da puberdade.
A antiga identidade não é mais suficiente. È necessário se criar uma nova identidade,
que sirva para colocar o jovem na variedade de papéis da vida adulta – papéis
profissionais, papéis religiosos, papéis sexuais.
O grupo adolescente passa então a constituir uma base de segurança na qual o jovem
pode avançar para uma solução própria no processo de identidade.
James Marcia (1966;1980) na descrição dos estados de identidade argumenta que
existem dois momentos essenciais na formação dessa identidade adolescente: uma
crise e um comprometimento. Por “crise”, Marcia se refere a um período de tomada
de decisão em que antigos valores e antigas escolhas são reexaminados. Isso pode
ocorrer de maneira tumultuada – crise – ou de maneira gradual. O resultado dessa
avaliação é um comprometimento com algum papel específico, com alguma ideologia.
Para algumas culturas, menos industrializadas, talvez esses padrões de crise e
comprometimento não se apliquem. Com rituais de iniciação muito marcados e,
algumas vezes violentos, acaba não sobrando muitas opções de escolha ao adolescente
senão assumir os papéis da vida adulta e laboral.
As reações e relações com os pais
Adolescente
Família
Sociedade
Família:
Crises de identidade que por que os próprios pais passaram
Ferida narcísica – a competição da mãe com a filha e do pai com o filho
Medo da independência do filho reforçando os laços familiares
Reações de desagrado frente ao comportamento do filho
Insegurança e ansiedade dos pais frente a suas próprias vidas reforçando
inseguranças e ansiedades nos adolescentes.
Problemas comuns da adolescência:
Mortes por acidente de carro
Depressão
Uso de drogas
Suicídio e tentativa de suicídio
Fuga de casa
Delinqüência juvenil
Anorexia nervosa e bulimia
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