Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 28 07 2009
---------------------------------------------------------------------------------------------Folha de S.Paulo 28 07 2009
TENDÊNCIAS/DEBATES
Educação e trabalho: um salto para o
futuro
GERALDO ALCKMIN e PAULO RENATO SOUZA
A importância da expansão da
oferta de cursos técnicos e
tecnológicos fica evidente nos
números das pesquisas de
empregabilidade
QUANDO A formação educacional e a profissional andam juntas, a distância
entre o saber e o saber fazer se encurta.
Graças à iniciativa conjunta das secretarias da Educação e de Desenvolvimento
do Estado de São Paulo, o Centro Paula Souza, responsável por 162 escolas
técnicas (Etecs) e 48 faculdades de tecnologia (Fatecs), estendeu a oferta de
cursos técnicos nas escolas de ensino médio, permitindo que, além do ensino
formal, os jovens possam receber capacitação profissional no mesmo ambiente
escolar.
Sem nenhum gasto com a construção de novos prédios, salas de aula hoje
existentes em escolas da Secretaria Estadual da Educação serão utilizadas à
noite para a promoção de cursos técnicos que possibilitem aos jovens o
exercício de uma profissão.
Já no segundo semestre deste ano, foram abertas 6.520 vagas para
capacitação técnica em 74 escolas estaduais, beneficiando comunidades de 45
diferentes municípios.
O uso compartilhado das salas de aula também está sendo adotado em
unidades de ensino da capital. Como resultado de convênio firmado entre o
governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab, outras 600 vagas foram
abertas em dez centros educacionais unificados (CEUs), com o objetivo de levar
o ensino técnico também às escolas da rede municipal.
No início de 2010, serão preenchidas outras 9.265 vagas, assegurando, em um
ano e meio, a mais 27 mil jovens -além dos 135 mil matriculados no ensino
técnico das unidades do Centro Paula Souza- o direito à educação e à
qualificação para o trabalho.
Hoje, a formação educacional vinculada ao trabalho tem se mostrado
extremamente positiva para o efeito de garantir vantagem competitiva aos
jovens que procuram emprego, pois tem logrado prepará-los de forma
condizente com as exigências atuais do mundo do trabalho.
Com esse propósito, os cursos a serem agora oferecidos nas escolas da rede
estadual de ensino, bem como nos CEUs da capital, a exemplo das Etecs e
Fatecs do Estado, foram definidos em consonância com as demandas dos
setores produtivos das regiões onde o ensino técnico é implantado, como forma
de capacitar os alunos para o desempenho de atividades no mercado de
trabalho local.
As aulas terão duração de três semestres e serão voltadas para a formação de
profissionais para a atuação no setor de serviços, com foco em gestão de
negócios, informação e comunicação. No total, são oferecidas 12 habilitações:
administração, logística, contabilidade, secretariado, marketing, comércio,
serviços jurídicos, seguros, serviços imobiliários, informática, rede de
computadores e informática para internet.
A importância da expansão da oferta de cursos técnicos e tecnológicos fica
evidente nos números das pesquisas de empregabilidade. A cada 10 alunos que
estudam nas Etecs, 8 estão empregados em até um ano após a conclusão do
curso. Nas Fatecs, são 9 em cada 10 egressos, o que comprova que esse é o
ensino que vira emprego.
Além disso, o processo seletivo para os candidatos aos cursos conta com um
sistema de pontuação acrescida, que concede bônus de 10% para quem estuda
ou já concluiu o ensino médio em escola pública e de 3% para
afrodescendentes, podendo chegar a 13% caso o aluno se encaixe nessas duas
situações.
Estatísticas apontam que quase 80% dos alunos da rede do ensino técnico
paulista são oriundos de escolas públicas e têm renda familiar de até cinco
salários mínimos, o que justifica ainda mais a iniciativa que ora se procura
implementar, como meio de promover maior inclusão social em favor de jovens
dos segmentos mais humildes da sociedade.
É dessa forma, por meio da união de esforços, que o poder público cumpre sua
obrigação constitucional de oferecer educação gratuita e de qualidade para a
população.
A formação básica conciliada com a qualificação profissional representa um
salto para o futuro, com a formação de bons profissionais para o mundo do
trabalho, proporcionando aos jovens a possibilidade de contribuir com o
desenvolvimento do Estado e do nosso país.
GERALDO ALCKMIN FILHO , 56, médico, é secretário de Desenvolvimento do Estado de São
Paulo. Foi governador do Estado de São Paulo (2001-2006).
PAULO RENATO COSTA SOUZA , 63, economista, é secretário da Educação do Estado de São
Paulo. Foi ministro da Educação (governo FHC), reitor da Unicamp (1986 a 1890) e secretário da
Educação do Estado de São Paulo (governo Montoro).
--------------------------------Valor Econômico 28/07/2009
Salário e câmbio
Antonio Delfim Netto
Um dos aspectos mais interessantes da tabela é o quase espetacular aumento
das exportações alemãs (superado apenas pelo espetacular crescimento das
chinesas), que haviam sofrido muito com a reunificação. Elas passaram de 30%
do PIB, em 1999, para cerca de 45% em 2008. Um aumento de quase 15% do
PIB em apenas 9 anos. Até a reunificação (iniciada com dramáticos problemas
em 1991), a economia alemã havia sido das mais dinâmicas e estáveis entre as
grandes do mundo. Depois sofreu grandes tropeços internos e externos.
Um fato notável é que a recuperação de 2006 só foi percebida a partir do
segundo trimestre daquele ano. As estimativas de crescimento, feitas pelos
economistas da OECD em junho, ainda projetavam para a Alemanha 1,8%. Isso
mostra como o "passado" controla o "futuro", necessariamente, na projeção
dos que supõem poder antecipá-lo. Aparentemente, a recuperação da taxa de
crescimento está ligada ao aumento da relação exportações/PIB, depois de
2003. A que se deve tal fato, se a taxa de câmbio alemã, através do euro, está
"amarrada" às taxas dos outros membros da zona do euro, que recebem
porcentagem substancial das exportações alemãs?
Boa parte da explicação se deve às modificações factuais (autorizadas ou não
pela legislação, mas sempre obtidas por acordos estimulados pelo governo,
entre empresários e trabalhadores) verificadas no mercado de trabalho alemão
e que os franceses apelidaram de "glaciation salariale allemande". Esta é
revelada no gráfico que mostra os aumentos anuais dos salários do setor
privado de 2000 a 2008, na Alemanha, na Itália e na França.
Ele mostra que o esperto aumento da competição alemã (a despeito do
congelamento dos câmbios nominais dentro do euro) deve-se, pelo menos em
parte, à moderação salarial que corrigiu o câmbio real da Alemanha (a relação
salário/câmbio) com relação aos dos seus competidores. Ela tornou as
exportações alemãs mais competitivas no mercado interno dos "outros" e mais
difíceis as exportações dos "outros" países da zona para o mercado alemão (as
importações alemãs).
Como é evidente, tal estratégia acomoda-se mal dentro da Comunidade
Econômica Europeia, uma vez que aumenta a demanda interna alemã (mas não
estimula no mesmo passo as importações alemãs) e aumenta a penetração
alemã nas outras grandes (e pequenas) economias, reduzindo a demanda
interna atendida pela produção nacional de cada um. Parte do crescimento da
Alemanha pôde dar-se, assim, à custa de uma redução do crescimento dos
parceiros, que não acompanharam a "glaciation salariale" devido a problemas
institucionais e estruturais (regulação protetora exagerada e diferenciada
dentro da comunidade, forças sindicais diferentes etc.), que agora parecem
estar diminuindo. O problema dos "outros" no mercado mundial é ainda
agravado pela valorização do euro frente ao dólar, o que dificulta suas
exportações para fora da comunidade.
A velha "economia social de mercado" da Alemanha Ocidental, que enfatizava a
liberdade dos mercados, o respeito ao equilíbrio fiscal e as virtudes da
competição, mas cuidava da "justiça social", produziu o "milagre" alemão.
Acabou gestando uma formidável sociedade do "bem estar", que tirou
fantástico proveito da globalização e resistiu aos incríveis desequilíbrios gerados
pela reincorporação física da Alemanha Oriental, em 1991. Esta, com 40 anos
de controle do partido comunista, conseguira voltar ao século XVIII!
Desde então foi crescendo (sob o estímulo do governo) a ideia de uma
negociação salarial mais moderada entre sindicatos de trabalhadores e
empresas, em troca de uma certa estabilidade no emprego, valor importante
numa economia que em 2008 tinha 8% de desemprego. Em 2003, no governo
Schröder, foi proposta uma reforma da previdência social e da legislação
trabalhista (a chamada "Agenda 2010"), de caráter claramente liberal: redução
de impostos e da carga sobre os salários para reduzir os custos do trabalho.
Sua sucessora, Angela Merkel (que ainda não demonstrou grande paixão
europeia), prossegue numa inteligente e cuidadosa flexibilização do mercado de
trabalho que, com a crise de 2008, parece estar encontrando seus limites.
Certamente, a experiência alemã é cheia de ensinamentos para os governos e
para os sindicatos, se souberem entender o "jogo cooperativo" que ela envolve.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da
Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras
E-mail [email protected]
-----------------------------------Valor Econômico 28 07 2009
A vez dos países emergentes
Yoshiaki Nakano
O cenário que começa a emergir da crise financeira global é de uma
recuperação lenta e hesitante nos Estados Unidos, Europa e Japão, com
desemprego elevado por muitos anos e forte elevação das suas dívidas
públicas. O comércio mundial deverá permanecer por longo período deprimido
devido, principalmente, ao fim do consumismo americano, com as famílias já
elevando a taxa de poupança em sete pontos percentuais em relação ao PIB,
queda muito forte em bens dependentes de crédito e muitos países
privilegiando os empregos e mercados domésticos. Por outro lado, os países
emergentes estão apresentando recuperação mais rápida e países como a
China estão retomando crescimento em níveis surpreendentes. Este quadro já
refletiu na expectativa dos investidores que, em busca de elevados retornos,
direcionam seus recursos para países emergentes e para as commodities que
vêm também apresentando recuperação surpreendente. Como ficará o Brasil
neste quadro?
A recessão nos Estados Unidos, Europa e Japão deverá ser mais profunda e
durar mais do que as experiências cíclicas anteriores do período pós-guerra,
afinal, foi o colapso do sistema financeiro que causou a contração da economia
real, e não o contrário. A recuperação deverá ocorrer somente a partir de
meados de 2010, com crescimento muito lento e hesitante posteriormente.
Imensos desequilíbrios terão que ser removidos para a economia voltar a
funcionar normalmente. Muitos destes estarão operando para reduzir a taxa de
crescimento destes países pelo menos no médio prazo, tais como redução no
endividamento, desalavancagem e aumento da taxa de poupança do setor
privado e política fiscal restritiva, necessária depois dos imensos déficits fiscais
em 2009 e 2010.
As economias emergentes importaram a crise. O seu sistema financeiro não
entrou em colapso e foi a queda nas suas exportações, devido à queda na
demanda nos países desenvolvidos, que provocou a desaceleração das suas
economias. A China, por exemplo, está apresentando uma recuperação
surpreendente em forma de V, ainda que ninguém espere que volte a crescer a
taxas pré-crise. Os países emergentes, ao acumularem reservas, tornaram-se,
em maior ou menor grau, menos dependentes do financiamento externo. E,
principalmente países com grande população, como a China, Índia e o Brasil,
cada um de forma específica, estão explorando o mercado doméstico para
promover a recuperação.
Em princípio, o alto potencial de crescimento dos países emergentes não foi
afetado pela crise financeira global. Este potencial vem do processo de
"catching-up", importando bens de capital e tecnologia para construir uma
estrutura produtiva moderna, competitiva e realocando trabalhadores para
empregos mais produtivos e melhor remunerados. Isso vem gerando grandes e
contínuos ganhos de produtividade e um mercado doméstico dinâmico. A queda
drástica no crédito externo e fluxo de capitais não afetará o seu crescimento
potencial, pois estes países de alto crescimento com política cambial agressiva
manterão superávit em transações correntes, o que no passado lhes permitiu
acumular reservas cambiais gigantescas, constituindo seguro contra a própria
crise.
Duas consequências importantes decorrem deste quadro: a manutenção de
elevadas taxas de retorno nos investimentos nos emergentes e rápido
crescimento da demanda de commodities. Ao atrair investidores em busca de
alto retorno, disputará recursos financeiros com países mais ricos e deficitários
e, certamente, provocará elevação na taxa real de juros de longo prazo. Como
os países emergentes já haviam se tornado os maiores consumidores de
commodities, respondendo com quase 60% do consumo global de petróleo e
quase 70% do consumo de metais e alimentos, deverão manter em rápido
crescimento a sua demanda. Assim, além do menor fluxo de capitais, o cenário
será de taxa real de juros mais elevadas e preços de commodities também
elevados.
A questão central é: como o Brasil deve se posicionar neste cenário? Que
ajustes na política macroeconômica devemos adotar para garantir um
crescimento sustentado e estável? Tomemos a China como referência: os
chineses já se posicionaram mantendo a sua taxa de câmbio fixa ao dólar,
ganhando competitividade global adicional com a depreciação do dólar e, com
isso, estão substituindo importações. Além disso, estão implementando um
vigoroso programa fiscal anticíclico, deslocando gradualmente o dinamismo
para o mercado doméstico. Como há folga fiscal, não estão comprometendo o
futuro. Utilizando parte de seus US$ 2 trilhões de reservas para comprar
empresas no exterior, vão continuar ampliando sua participação no comércio
mundial. A característica de sua política é que a taxa real de câmbio estável e
competitiva é utilizada como instrumento estratégico de longo prazo para
manter elevada a sua taxa de poupança, mantendo a sua independência em
relação aos recursos financeiros externos. As políticas monetária e fiscal são
anticíclicas e utilizadas como instrumentos de curto prazo para garantirem a
estabilidade da economia.
O cenário é favorável para o Brasil. Temos um grande potencial de crescimento
do mercado doméstico, somos grande exportadores de commodities e temos
uma complexa estrutura industrial já montada no país. Mas o período de
bonança externa acabou com crise e deverá prevalecer o novo cenário descrito
acima. O Brasil vem ampliando a participação de commodities nas suas
exportações e, com regime de câmbio flutuante, o real está cada vez mais
atrelado ao preço das commodities, tornado-se uma moeda com
comportamento anticíclico. A crise financeira e a retirada da pauta da inflação
nos trouxe uma grande oportunidade para flexibilizar a política monetária e
para levarmos o patamar de juros próximo ao nível internacional. Neste caso,
ainda que com flutuações cíclicas, a taxa de câmbio no longo prazo poderia
equilibrar o setor externo. Infelizmente, o Copom acaba de anunciar que não é
para onde vamos caminhar. Em plena recessão e sem nenhum risco
inflacionário no horizonte, o Banco Central está cedendo às pressões do
mercado financeiro, anunciando que 8,75% é uma taxa adequada às
circunstâncias atuais. Com isso continuamos com a taxa real de juros num
patamar dos mais altos do mundo, permitindo a apreciação da taxa de câmbio,
tornando esta pró-cíclica, e tornando a indústria manufatureira vulnerável não
só a flutuações imprevisíveis da taxa de câmbio, mas também a acirrada
competição estrangeira. No curto prazo, a demanda dos emergentes por
commodities pode dar fôlego à recuperação, mas no longo prazo vamos
comprometer o "catching-up", pois este envolve aprendizagem tecnológica e
diversificação da indústria, possível com exportação de manufaturados. Com
apreciação cambial, voltaremos também a ter crises de balanço de
pagamentos. Em relação ao nosso eterno problema fiscal, estamos longe de ter
equilíbrio de longo prazo para ajudar a alcançar o equilíbrio externo e podermos
atuar no curto prazo de forma anticíclica.
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas
(SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas - FGV/EESP.
-------------------------------------------Valor Econômico 28/07/2009
Os governos precisam ser incentivados a mudar
Gastos brasileiros são pró-cíclicos
ou anticíclicos?
Alexandre Manoel Angelo da Silva e Angelo José
Mont'Alverne Duarte
Uma mudança institucional é necessária para incentivar os governos a
se comportarem de maneira anticíclica
Há uma considerável gama de estudos empíricos que analisam como os
componentes da despesa pública de países da América Latina respondem a
choques no produto, se de forma pró-cíclica ou anticíclica. Em geral, ao utilizar
diversas categorias de gasto e períodos amostrais distintos, os autores desses
estudos concluem que o gasto público se comporta de maneira pró-cíclica. A
título de ilustração, ver Gavin & Perotti (1997); Kaminsky, Reinhart & Végh,
(2004); Alesina & Tabellini (2005); Ellery-Jr & Gomes (2005); Akitoby et.alli.
(2006).
A literatura justifica o caráter pró-cíclico da política fiscal em países em
desenvolvimento sob pelo menos dois argumentos. Uma primeira razão estaria
relacionada a restrições de liquidez enfrentadas por essas economias. Nos
períodos de expansão, a oferta de crédito é mais abundante e os governos
poderiam tomar empréstimos com maior facilidade e com isso elevar os
dispêndios públicos. Por sua vez, nas recessões, a escassez da oferta de crédito
limita o crescimento dos gastos públicos (Gavin & Perotti (1997) e Kaminsky,
Reinhart & Vegh (2004)).
Uma segunda linha de argumentação reside na literatura de economia política.
Lane & Tornell (1998), por exemplo, defendem a existência do "efeito
voracidade", ou seja, nos períodos de expansão, os recursos públicos são
maiores e a disputa por uma parcela excedente desses recursos se intensifica,
o que obriga os governos a acomodarem as demandas dos diversos grupos por
meio da expansão dos gastos.
Diante dessa fatídica tendência de se encontrar gastos pró-cíclicos nos países
em desenvolvimento, decidimos promover uma análise na receita e na despesa
primária (exclui a parte financeira do orçamento público, tais como juros e
correções monetárias), no investimento e no consumo do governo federal
brasileiro, de modo a verificar se esses itens se comportaram de maneira pró
ou anticíclica em relação ao PIB per capita do Brasil, no período 1901 a 2006.
De fato, no âmbito da esfera federal brasileira, investigamos empiricamente
qual é a relação entre esses componentes do orçamento público e o PIB per
capita, durante o Século XX e limiar do Século XXI.
Nossa pesquisa foi eminentemente descritiva e exploratória (de dados) do
ponto de vista econométrico, que formalmente não testou qualquer modelo
teórico. Destaque-se que, além dos resultados aqui expostos, outras análises e
referências bibliográficas poderão ser encontradas no Texto de Discussão (TD)
a ser publicado pelo Ipea, sob o título "Variáveis Fiscais e PIB Per Capita no
Brasil: Relações Vigentes entre 1901 e 2006".
Nesse TD, em particular, investigamos se a relação encontrada entre as
variáveis fiscais aludidas e o PIB per capita altera-se ao longo do tempo. Nesse
sentido, estimamos modelos autorregressivos univariados e multivariados com
a técnica Markov Switching. Esta técnica permite estimar modelos em que as
variáveis se relacionam de maneira diferente em distintos regimes fiscais, de
forma que os parâmetros desses modelos mudam de acordo com o regime em
vigor. Assim, esses modelos levam em consideração possíveis relações de nãolinearidades, já que a imposição de linearidade entre cada variável investigada
e seus valores passados e os valores defasados das outras variáveis
selecionadas é feita apenas em cada regime de maneira separada, de modo
que os dados descrevem o comportamento entre as variáveis de uma forma
mais flexível. Ademais, destaque-se que questões de endogeneidade ou
causalidade reversa entre as variáveis são contempladas quando se utiliza essa
técnica.
Assim, de acordo com os resultados encontrados em nossa pesquisa, pelo
menos três considerações podem ser feitas.
Primeiro, observando-se as médias das taxas reais de crescimento auferidas
por meio dos modelos estimados, pode-se sugerir que o governo federal tende
a se comportar de forma perdulária. De fato, nos períodos em que os regimes
fiscais se mostraram significativos do ponto de vista estatístico, enquanto a
taxa real de crescimento das despesas primárias crescia a uma média de 7,7%
a.a., o PIB per capita crescia em média 5,09% a.a. Em outras palavras, no
Século XX e limiar do Século XXI, em média, os gastos do governo federal
cresceram em uma proporção maior que o aumento de riqueza da sociedade.
Segundo, no Brasil, ao longo do período em análise, observa-se um único
regime fiscal de ciclicalidade, que é o regime pró-cíclico - aumento (diminuição)
da renda per capita leva a aumento (diminuição) da despesa - entre a despesa
primária e o PIB per capita, datado em diversos períodos do século passado, o
que corrobora os resultados encontrados em diversos estudos empíricos para a
América Latina, conforme mencionado no início deste artigo.
Terceiro, os resultados sugerem que um aumento de 1% na taxa real de
crescimento da despesa primária do governo federal no ano anterior implica
diminuição de aproximadamente 2,7% no crescimento da taxa real de
crescimento do PIB per capita. Portanto, como se evidencia, em relação à
ciclicalidade, concluímos que os gastos primários do governo federal se
comportaram de maneira pró-cíclica em relação ao PIB per capita, no Século XX
e no limiar do Século XXI.
Dito isso, em tempos de crise e muitas discussões fúteis, cabe concluir
destacando ao menos uma reflexão que inferimos de nossa pesquisa. Será que
adianta discutir se a política fiscal do governo "A" ou "B" é pró-cíclica ou
anticíclica? Em outras palavras, será que as raízes da natureza pró-cíclica de
nossos gastos estão em puras escolhas do Poder Executivo?
Enfim, de maneira geral, cremos que, no Brasil, no âmbito do governo federal,
enquanto não houver mudanças legais (institucionais) que criem incentivos
para que os governos se comportem de maneira anticíclica, a diferença da
política fiscal de um governo "A" para um governo "B" residirá apenas na
escolha dos premiados, de modo que as despesas primárias do governo federal
tenderão naturalmente a se comportar de maneira procíclica.
Alexandre Manoel Angelo da Silva é pesquisador do Ipea.
Angelo José Mont´Alverne Duarte é analista do Bacen cedido ao
Ministério da Fazenda.
-----------------------------------Valor Econômico - 28/07/2009
"Política do governo fez país sofrer
pouco" O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, disse que o Brasil deve ter cautela
com medidas de estímulo fiscal. Ele está certo?
João Saboia: Creio que ele conhece pouco a economia brasileira e não está
levando em consideração que o custo da dívida pública está se reduzindo
bastante com a queda dos juros, abrindo espaço para a manutenção do
equilíbrio fiscal mesmo com redução da receita e aumento dos gastos.
Valor: O governo deve adotar novas medidas de redução de impostos, para
tentar garantir mais crescimento? Há espaço para novos aumentos de gastos?
Saboia: Os indicadores disponíveis apontam para um segundo semestre bem
mais favorável que o primeiro. Com isso, o governo deverá aos poucos reduzir
os estímulos fiscais do primeiro semestre, especialmente na área tributária.
Com relação aos gastos, sou favorável a que o governo privilegie os
investimentos públicos em vez dos gastos correntes, compensando em parte os
investimentos privados, que tiveram grande redução neste ano.
Valor: O governo reduziu a meta de superávit primário de 3,8% para 2,5% do
PIB neste ano. É factível?
Saboia: A tendência das autoridades é sempre apresentar dados otimistas. É
possível que o resultado final fique abaixo disso.
Valor: A atividade econômica parece ter reagido melhor do que se esperava no
fim do ano passado. Qual o papel que a política fiscal deve ter para a variação
do PIB neste ano?
Saboia: Não tenho nenhuma dúvida de que a política fiscal do governo
implementada no primeiro trimestre foi a principal responsável pelo fato de o
país ter sofrido relativamente pouco, comparado com o resto do mundo. Uma
das vantagens do Brasil é o tamanho de seu mercado interno, e a política fiscal
teve um papel muito importante para segurar o nível de consumo interno. O
caso da indústria automobilística é exemplar.
Valor: Qual a perspectiva para a política fiscal em 2010? É possível fazer um
superávit de 3,3% do PIB?
Saboia: 2010 é um ano eleitoral, e é bem provável que os gastos públicos
permaneçam em expansão. O superávit pode aumentar em relação a 2009,
mas não muito.
Valor: O governo reduziu fortemente o superávit primário e não houve reações
significativas do mercado. A questão da solvência fiscal do país saiu de cena?
Saboia: A solvência fiscal é um elemento importante e nunca sairá de cena.
Como os juros caíram bastante, não há mais necessidade de superávits
primários tão elevados e o mercado entendeu isso. A solvência fiscal pode ser
garantida com superávits primários bem menores que os anteriores.
Valor: Os investimentos cresceram 25% de janeiro a maio, mas eles atingiram
apenas R$ 9,276 bilhões. Por que a União ainda investe tão pouco?
Saboia: Gastar pode ser mais difícil do que se imagina, especialmente quando
considerados os investimentos, que necessitam de planejamento, licitações,
ações na Justiça. O período de tempo entre a decisão de investir e sua
realização pode ser muito grande. Apesar da importância do PAC para o
governo, a maior parte dos projetos está atrasada em relação a seus
cronogramas originais devido às dificuldades inerentes à realização dos
investimentos públicos.
Valor: O governo aumentou fortemente os gastos correntes, acelerou os
investimentos e concedeu desonerações tributárias importantes neste ano. Isso
caracteriza uma política fiscal anticíclica bem executada? Por quê?
Saboia: Uma política fiscal anticíclica, no caso de uma recessão, passa pelo
aumento dos gastos e redução dos impostos e é exatamente isso que o
governo está fazendo conforme argumentado acima. Seu sucesso pode ser
medido pelo comportamento da economia brasileira quando comparado com os
nossos vizinhos.
Valor: As despesas correntes do governo vêm crescendo a um ritmo acelerado
neste ano, superior a 20%. Quais as consequências para a economia desse
aumento de gastos correntes?
Saboia: O lado positivo é que o aumento dos gastos correntes estimula a
economia por seu efeito realimentador, especialmente através dos gastos dos
agentes beneficiados pelo aumento da despesa corrente. Keynes já ensinava
isso desde os anos 30 do século passado, através do multiplicador dos gastos
do governo ou mesmo da redução dos impostos.
Valor: Em que medida a política fiscal atual restringe as perspectivas futuras de
crescimento do país?
Saboia: Pelo lado dos impostos, não vejo nenhum problema, pois a carga fiscal
do país é relativamente elevada e a redução atual poderá eventualmente ser
compensada no futuro, quando a economia se recuperar. No caso dos gastos, a
situação é distinta, pois em alguns casos os gastos se tornam definitivos, como
no aumento dos salários do funcionalismo público. De qualquer forma, não vejo
nenhuma ameaça ao futuro do país por conta da política fiscal que o governo
usa neste ano.
Valor: Os gastos com pessoal e encargos sociais cresceram mais de 20% de
janeiro a maio. É um movimento preocupante?
Saboia: Sou favorável à valorização do funcionalismo público em geral. O
problema com os atuais reajustes é que houve um compromisso do governo
antes da crise que fica muito difícil de reverter. Creio que com a recuperação do
economia já em 2010 a arrecadação deverá aumentar de modo que
provavelmente não haverá dificuldades para o governo absorver o aumento da
folha de pessoal. Para uma resposta mais precisa, contudo, seria necessário
verificar o custo da folha nos próximos anos.
Valor: O próximo governo receberá um país melhor ou pior do ponto de vista
fiscal do que recebeu o presidente Lula?
Saboia: Se lembrarmos da situação do país no fim de 2002, quando o câmbio
explodiu e os juros eram elevadíssimos, com enormes pressões sobre o déficit
público, o saldo é bastante favorável à situação atual. A menos que ocorra algo
inesperado até o fim de 2010, a situação encontrada pelo sucessor do
presidente Lula, tanto na economia como um todo quanto do ponto de vista
fiscal, será bem mais favorável que a deixada por FHC.
Valor: Quais serão os principais desafios na política fiscal para o próximo
presidente?
Saboia: Creio que a principal dificuldade será levar o país a algo semelhante ao
que ocorria em 2008, até o mês de setembro, quando a economia crescia a
uma taxa da ordem de 6% anuais. Do ponto de vista fiscal, o principal desafio é
realizar uma reforma tributária que seja mais justa, beneficiando os Estados
mais pobres e a população de baixa renda, que é a que paga
proporcionalmente mais impostos. Será muito difícil convencer os Estados mais
ricos a abrirem mão de sua situação privilegiada em benefício dos menos
desenvolvidos, o que resultaria num desenvolvimento mais equilibrado para o
conjunto do país.
---------------------------------------Folha de S.Paulo - Guilherme Barros - 28/07/2009
Acordo para Itaipu elevará tarifa, diz
Tendências
O acordo estabelecido entre os governos do Brasil e do Paraguai sobre as
sobras da energia paraguaia de Itaipu deve elevar as tarifas para os
consumidores brasileiros. A afirmação é do economista Walter De Vitto, da
consultoria Tendências.
O acerto entre os dois países envolve o aumento do valor pago pelo Brasil pela
comercialização da energia excedente do Paraguai de US$ 3,17/MWh para US$
9,51 o MWh.
"Se esses termos forem levados a cabo sem outros ajustes, os consumidores do
mercado cativo vão arcar com o custo da elevação do valor adicional pago ao
Paraguai", diz De Vitto.
Outro fator que pode impulsionar a alta das tarifas é se parte da energia
produzida em Itaipu for destinada ao mercado livre, que atende grandes
consumidores. Nesse caso, as distribuidoras do mercado cativo terão que
substituir a energia de Itaipu pela de outros geradores, diz a consultoria.
"Dificilmente haverá disponibilidade para contratação de energia hidrelétrica a
curto prazo, o que implicará a necessidade de adquirir eletricidade gerada pelas
térmicas, que tem custo mais elevado."
Para minimizar a alta dos preços ao consumidor, De Vitto defende que o
governo brasileiro associe o cronograma de venda da energia do Paraguai ao
mercado livre com a entrada em operação de novas hidrelétricas, como a usina
de Belo Monte.
A absorção do aumento das tarifas pelo Tesouro Nacional, no entanto, não é
bem-vista pelo economista. "Não é uma medida desejável, já que cria
distorções de preço não só no mercado de energia mas em outros setores da
economia, que teriam de arcar com esse custo via pagamento de impostos."
--------------------------------------O Globo - Miriam Leitão - 28/07/2009
Preço da concessão
O maior problema do acordo com o Paraguai não é a concessão em si ao país
vizinho, que pode e merece ter o apoio brasileiro para o seu desenvolvimento.
Há dificuldades técnicas concretas: hoje as distribuidoras do Sudeste são
obrigadas a comprar de Itaipu. Deixarão de ser? Há também uma questão
política: a concessão brasileira não encerrará a pressão paraguaia.
O governo brasileiro diz que o aumento de 213% no preço pago pelo Brasil na
cessão de energia não será repassado aos consumidores do país. Ora, é preciso
desconhecer o básico em economia para achar que existe um preço que
ninguém paga.
Se o Paraguai vai receber mais de US$ 200 milhões a mais por ano, o dinheiro
sairá de algum lugar. Se não for da tarifa, sairá do Tesouro. E o Tesouro somos
todos nós contribuintes. Portanto, será pago pelos brasileiros.
É bom lembrar que a cessão de energia é apenas uma parte do que se paga ao
Paraguai. A Eletrobrás paga o preço de US$ 42,5 por megawatt/hora, mas
sobre isso há também royalties, encargos de administração e supervisão. A
cláusula de cessão de energia é um outro acréscimo que está no anexo C do
acordo.
A lei que obriga as distribuidoras brasileiras a comprar a energia gerada por
Itaipu é de 1973. Fica uma dúvida: se o Paraguai pode vender parcelas
crescentes de energia no mercado livre, como fica a obrigatoriedade das
distribuidoras? Há outra dúvida já resolvida.
O Brasil aceitou que o Paraguai possa usar, ao vender no mercado livre, a
mesma estrada que se usa atualmente: o sistema integrado de Furnas. O
problema é que no mercado livre não há preço mínimo, a energia tem que ser
contratada, o preço oscila, e tanto sobe quanto desce.
O próprio fato de entrar mais energia no mercado livre pode derrubar o preço.
Está entrando aí Jirau, que apostou no mercado livre para oferecer preço mais
baixo na licitação. E a recessão está reduzindo o consumo. Como o Paraguai
depende dessa receita para cobrir boa parte do orçamento público, é bom que
isso fique muito claro, antes que haja problemas.
O Brasil também concordou que Itaipu construa para o Paraguai, com
empréstimo do BNDES, a linha de transmissão de Ciudad del Este a Assunção,
de 500 kv.
O Paraguai terá 13 anos para pagar. A obra é necessária e justa. Afinal, o país
que tem essa quantidade de energia tem também um suprimento deficiente
que provoca apagões diários no verão, e não tem insumo para atrair
investimentos.
Esta é a melhor parte do projeto do governo brasileiro para a negociação. Não
era justo nem sustentável essa situação. Porém, não pode ser visto pelo
Paraguai como compensação por uma suposta “usurpação” brasileira. Tem que
ficar claro que é uma ação de boa vontade porque interessa a todos o
desenvolvimento paraguaio.
O governo Lula negocia de forma errada com os países menores da região.
Parece ter uma culpa original, como se tivesse vergonha de ser grande, ou
acreditasse no discurso de ocasião de que somos imperialistas. O Brasil não é.
Em todo esse processo, desde a negociação do acordo, a construção da usina, a
operação de forma compartilhada do empreendimento, em todos os detalhes, o
Brasil não se comporta como uma potência colonialista. Pelo contrário.
O Paraguai de vez em quando ameaça ir a cortes internacionais discutir o
tratado. Ora, que vá. O Brasil deveria querer que não pairem dúvidas sobre a
legitimidade do acordo, porque como ficará claro que o tratado é juridicamente
perfeito, o país poderá fazer suas propostas em bases mais maduras.
O presidente Lugo tem problemas. Falarei dos problemas políticos. Sua base
política é pulverizada em vários pequenos partidos, de diversas tendências,
algumas bem radicais. Ele precisa, para manter um mínimo de governabilidade,
do apoio do adversário Lino Oviedo. O general que já tentou um golpe no
passado, já morou no Brasil, e voltou para fazer política legalmente no país,
virou o pêndulo. Ele aceita dar apoio ao governo — mas não quer cargos —
mas estuda caso a caso esse respaldo.
Lugo tem feito um governo considerado pelos analistas como “medíocre”, não
tem quadros de competência comprovada, e a máquina continua dominada pelo
vetusto Partido Colorado, que está no poder desde os tempos da ditadura de
Stroessner.
Lugo precisa apresentar o acordo assinado neste fim de semana como uma
redenção nacional, como uma prova de ele venceu o gigante, como nunca
antes na história desse Paraguai. Desta forma ele se fortalece, mas ao mesmo
tempo fortalece a ideia de que o Brasil é devedor de compensações ao país.
Logo, os paraguaios concluirão que isso não basta, que outras exigências
podem ser feitas.
Querer o desenvolvimento do Paraguai, todos querem.
Mas não temos compensações a fazer. O Brasil ao decidir pela construção de
Itaipu naquele ponto, e não em outra parte do rio, ganhou um pouco mais de
potência, mas também criou para o Paraguai um ativo que ele não tinha ainda.
O Brasil emprestou o dinheiro para o Paraguai integralizar a parte dele; pegou
empréstimos internacionais; deu o aval do Tesouro; construiu a usina; e divide
a administração da empresa de forma paritária. Não tem do que se
envergonhar.
----------------------------------------Folha de S.Paulo 28 07 2009
CRISE
Obama faz apelo para Pequim gastar
mais e reduzir exportação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com a economia global ainda em recessão, o presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, fez ontem um apelo à China para que o país asiático aumente
seus gastos internos e reduza o ritmo de exportações, com o objetivo de ajudar
na retomada do crescimento global.
O encontro, em Washington, aconteceu em meio a tensões em torno da política
de desvalorização do yuan (a moeda chinesa), do crescente déficit dos EUA e
do saldo negativo do país no comércio com a China.
Ao abrir o encontro de dois dias entre representantes dos dois países, Obama
disse que EUA e China precisam superar desconfianças mútuas e aprofundar a
cooperação em diversos temas, como a crise global e as mudanças climáticas.
"O relacionamento entre EUA e China vai moldar o século 21, o que o torna tão
importante como qualquer outro relacionamento bilateral no mundo", disse
Obama. "Essa realidade deve dar respaldo à nossa parceria"
No início da conferência, tanto Obama como o secretário do Tesouro norteamericano, Timothy Geithner, exortaram a China a encorajar o consumo
interno, mas não repetiram o antigo apelo para que o país asiático permita a
valorização do yuan.
"Enquanto os norte-americanos poupam mais e os chineses podem gastar mais,
nós podemos colocar o crescimento mundial em uma base mais sólida. Porque,
se a China se beneficiou de investimentos substanciais e exportações
lucrativas, também poderá ser um enorme mercado para produtos
americanos", disse Obama.
--------------------------------------
ECONOMIA & OUTRAS NOTÍCIAS
Folha de S.Paulo 28 07 2009
Recessão no Brasil acabou em
maio, avaliam bancos
A recessão brasileira terminou em maio. Após dois trimestres seguidos de
retração, que caracterizaram recessão técnica no país, a economia brasileira
voltou a se expandir exatamente no centro do segundo trimestre, de acordo
com diferentes estudos dos bancos Bradesco e Itaú Unibanco.
Segundo o Bradesco, com os dados até maio, o PIB do segundo trimestre já
apontava um crescimento de 1,7% em relação aos primeiros três meses deste
ano. Até abril, os resultados eram negativos.
Já os economistas do Itaú Unibanco detectaram em maio uma alta de 2,3% do
PIB em relação a abril, o que também sugere a primeira expansão trimestral da
economia após a crise. Os dados fazem parte de uma nova pesquisa, que segue
a metodologia do IBGE, para estimar o PIB mensal, já livre de efeitos sazonais.
Em abril, a pesquisa apurara retração de 0,7% em relação a março.
Para Octavio de Barros, diretor de pesquisas do Bradesco, os números mostram
que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a sair da crise. A recessão é
caracterizada tecnicamente por economistas com dois trimestres seguidos de
retração. De acordo com o IBGE, a economia encolheu 0,8% no primeiro
trimestre e 3,6% no último trimestre de 2008.
Segundo Barros, a saída do Brasil da recessão é algo para ser comemorado,
mas que era previsível dados os sinais de que o país e alguns emergentes
sairiam antes da crise por conta de seus grandes mercados domésticos. "A ação
do governo foi importante para a recuperação, principalmente a atuação dos
bancos públicos", disse ele.
Desde janeiro, o levantamento do PIB mensal do Itaú Unibanco mostra uma
recuperação lenta da economia. A novidade em maio foi que o indicador do Itaú
se expandiu de forma mais vigorosa. "Do jeito que as coisas estão caminhando,
não só teremos crescimento, como um crescimento bem positivo [no segundo
trimestre]. A gente captou uma coisa que não se via antes. Tínhamos vários
indicadores mensais, como produção industrial e dados do varejo, mas que não
davam o quadro completo", afirmou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú
Unibanco.
Na previsão do Itaú, o PIB deve ter crescido entre 1,5% e 2% no segundo
trimestre de 2009 em relação ao período anterior. Para o Bradesco, a alta pode
ser de até 2,2%.
Apesar da recuperação a partir de maio, o PIB deste ano ainda deve registrar
queda de pelo menos 0,5%, em razão da forte desaceleração do início do ano.
Para 2010, as previsões são bastante otimistas, de crescimento superior a 4%,
de acordo com o Bradesco.
Os dados desagregados do indicador calculado pelo Bradesco mostram que a
demanda doméstica foi a responsável pelo desempenho favorável, enquanto o
setor externo ajudou a jogar a atividade para baixo.
Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú, a redução das alíquotas de IPI para o
setor automobilístico foi um dos propulsores do crescimento entre abril e junho.
Ele afirma que o incentivo levou a indústria a uma expansão mensal média de
1,5% de janeiro a maio -excluindo o setor, a variação recua para 0,6% ao mês.
O segundo fator da recuperação foi o ajuste nos estoques da indústria. Isso
porque, no início da crise, a produção caiu mais rapidamente do que a
demanda, como uma reação para impedir uma formação indesejada de
estoques. Com a recuperação da demanda, a indústria teve de voltar a produzir
mais para não ter problemas de entrega. "E isso ocorreu entre abril e junho,
elevando a taxa de crescimento da produção industrial", disse Bicalho.
O segundo fator foi o ajuste nos estoques da indústria. Finalmente, houve uma
recuperação de volumes exportados e preços das commodities, com a
retomada da demanda chinesa. A previsão é que as exportações sigam como
principal fator de recuperação no segundo semestre.
Para o Itaú, os indicadores de junho já divulgados mostram recuperação da
economia em diversos setores, com destaque para vendas no varejo e para a
produção industrial. Na avaliação do banco, o crescimento verificado no
segundo trimestre de 2009 pode ser até em ritmo mais vigoroso do que a
média vista no período anterior à crise. Por outro lado, a expectativa é a de
que, na segunda metade do ano, esse ritmo se desacelere novamente.
--------------------------------O Estado de S.Paulo - 28/07/2009
Por Sarney, Lula tenta rachar PT no
Senado Preocupado em perder o apoio do PMDB na CPI da Petrobrás, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva desautorizou ontem o líder do PT no Senado, Aloizio
Mercadante (SP). Em reunião do grupo de coordenação do governo, Lula
afirmou que mantém o aval ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),
e disse que a nota assinada por Mercadante na sexta-feira, reiterando o pedido
de licença do aliado peemedebista, não reflete a posição do PT.
Articulador político do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, José
Múcio Monteiro, não escondeu a contrariedade de Lula com o líder do PT. "O
que nós avaliamos é que isso não é um movimento do PT", insistiu Múcio.
"Imaginamos que seja o posicionamento de um ou dois senadores."
O movimento do governo tem o objetivo de conter o mal-estar provocado no
PMDB com a nota divulgada por Mercadante há quatro dias. No texto de dez
linhas, o senador considerou "grave" a revelação de que Sarney - alvejado por
uma avalanche de denúncias - atuou para que o então diretor-geral do Senado
Agaciel Maia reservasse uma vaga para Henrique Bernardes. O contratado era
namorado de Maria Beatriz, neta de Sarney, conforme revelou o Estado.
A nota foi interpretada pelo Planalto como mais um gesto para dar satisfação
aos eleitores. Dos 12 senadores da bancada petista, dez serão candidatos nas
eleições do ano que vem e têm recebido fortes cobranças de suas bases pelo
apoio a Sarney.
De qualquer forma, Lula também precisava jogar água no caldeirão do PMDB e
escalou Múcio para a tarefa. "O presidente conversou com a bancada do PT 15
dias antes de tudo isso acontecer e não sentiu que o pedido de licença era uma
posição de todos os senadores de seu partido", comentou Múcio.
Na prática, o vaivém do PT em relação à crise no Senado dura mais de um
mês. Oito dos 12 senadores petistas são a favor do afastamento de Sarney posição já manifestada em outras notas -, mas, como foram enquadrados pelo
Planalto, protagonizam uma espécie de contorcionismo verbal, pois não podem
se juntar à oposição para tirar o senador do posto.
Apesar de manter o aval a Sarney por avaliar que o apoio é necessário para a
governabilidade e para eleger a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à
Presidência, em 2010, Lula foi orientado a amenizar os elogios feitos ao aliado
em seus discursos. Avaliações reservadas do Planalto indicam que o presidente
"já fez tudo o que podia fazer" por Sarney e deve, agora, dizer que toda a
investigação cabe ao Senado. Ao contrário da expectativa do governo, o
recesso parlamentar não serviu para esfriar a crise.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que conversará com
os senadores do partido, na próxima semana. Será mais uma tentativa de
acertar um discurso único em relação a Sarney. "Tudo o que foi denunciado
tem de ser apurado, mas pedir o afastamento de Sarney é o mesmo que propor
um golpe", afirmou Berzoini. O deputado já havia demonstrado irritação com
Mercadante no último dia 8, quando a bancada do PT no Senado pedira o
afastamento de Sarney. "Produziram uma nota com vocação arqueológica,
defasada no tempo", alfinetou Berzoini, na ocasião. Procurado pelo Estado,
Mercadante não foi localizado ontem para comentar o assunto.
-----------------------------Valor Econômico - 28/07/2009
No pré-sal, 32% dos poços abertos são
pouco viáveis
Maior província petrolífera encontrada no mundo nos últimos 30 anos, a
Petrobras encontrou no pré-sal da bacia de Santos campos gigantes como Tupi,
onde a estatal estima existirem 5 a 8 bilhões de barris de petróleo
recuperáveis. Contudo, a área do pré-sal, apontada como "bilhete premiado"
pela Petrobras e pelo governo federal, que prepara um novo marco regulatório
do país, também tem poços secos. Mesmo assim os índices de sucesso
exploratório ali são até melhores que a média da indústria mundial, que é de
25% a 30%.
Até agora o único fracasso conhecido no pré-sal da bacia de Santos era da
Exxon, no poço Guarani, perfurado no bloco BM-S-22 da bacia de Santos e
onde a gigante americana também encontrou o reservatório batizado de Azulão
em janeiro. Pelo site ANP, outras perfurações ao longo do pré-sal também não
acharam óleo.
A classsificação dos poços pelas empresas no Brasil obedece a uma portaria da
ANP, a número 76, editada em 2000, e que regulamenta os procedimentos a
serem adotados para reclassificar os poços. Entre outras categorias, a regra
estabelece códigos que informam desde a profundidade até o resultado da
perfuração. Por essa regra, por exemplo, um poço portador de petróleo ou gás,
ou de ambos, "é todo poço incapaz de permitir a produção em quantidades
comerciais, independentemente das facilidades de produção na área (...)".
Nesse caso ele deve ser reclassificado como 5. A mesma portaria diz que poço
seco "é todo poço onde não se caracterizou a presença de petróleo móvel e/ou
gás natural (...), devendo ser reclassificado como 6. Pela portaria, o resultado
seria um sucesso se fosse classificado como "poço descobridor de nova área
produtora (código 1), ou descobridor de nova jazida (código 4).
Ao comunicar a descoberta de Corcovado, em abril deste ano, a BG e a
Petrobras informaram que a perfuração foi feita em reservatórios do pré-sal a
uma profundidade de 800 metros a uma distância de aproximadamente 130
quilômetros da costa do estado de São Paulo. A área fica um pouco fora, ou na
franja, da faixa de 200 por 800 quilômetros delimitada inicialmente pela
Petrobras para marcar a área do pré-sal.
A estatal tem 60% do bloco BM-S-52, onde foi furado o poço, e transferiu a
operação para a BG apenas na fase exploratória devido a escassez de sondas
de perfuração. No Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da ANP,
este poço recebeu o código 6-BG-6P SPS. No resultado informado ao BDEP após
a perfuração da jazida mais profunda está a informação: "seco sem indícios de
petróleo". No poço 6-BRSA-639-ESS (ou Baleia Franca) foi informado como
resultado que o poço é "produtor subcomercial de óleo e gás".
Procurada pelo Valor, a BG respondeu, por meio da assessoria, que "Corcovado
1 tem óleo e o segundo poço ainda está sendo perfurado". Também procurada,
a assessoria da Petrobras informou que estava com dificuldades para responder
aos questionamentos, o que ficou para hoje. Para evitar que a informação fosse
divulgada pelo blog da estatal, a decisão do jornal foi encaminhar as perguntas
verbalmente.
--------------------------Correio Braziliense - 28/07/2009
Sarney contrata equipe para salvar
imagem
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiu reagir ao que
considera uma campanha midiática para retirá-lo do cargo. Uma equipe de 15
jornalistas foi contratada há três semanas para fazer parte de um bunker de
contrainformação. Os profissionais analisam diariamente o noticiário dos
jornais, municiando os assessores de imagem de Sarney. Com base na análise
dos jornalistas, o gabinete de crise do presidente do Senado elabora um
“relatório de intervenção” para rebater as reportagens. Contratados
inicialmente até novembro, os jornalistas do bunker trabalham todos os dias,
até mesmo nos fins de semana. O pagamento pela tarefa, segundo um dos
contratados, será feito em dinheiro vivo, forma encontrada para não deixar
rastros diretos do vínculo com o presidente do Senado.
A estrutura foi montada num shopping center do Lago Norte, a 10km da Casa
que Sarney preside. O objetivo principal é vencer a guerra de informação. Para
isso, os jornalistas, a maioria recém-formada, abastecem endereços eletrônicos
com opiniões favoráveis ao parlamentar. Blogs de jornalistas políticos e redes
sociais como Twitter e Orkut são os alvos. A orientação é publicar comentários
positivos a respeito do político e questionar a isenção dos veículos de imprensa
que denunciam a família Sarney. A tática é usar nomes falsos para participar do
debate, de preferência comuns, como “Maria Mercedes” e “Raimundo Nonato”.
No Orkut, a comunidade Guarnicê Maranhão - referência a uma das
manifestações folclóricas do estado, o bumba meu boi - foi criada com esse fim.
“Aqui, se encontram aqueles que amam o Maranhão”, aponta a descrição do
endereço. No Twitter, a página de “guarnice_ma” elogia a biografia de Sarney e
questiona as críticas feitas pelos jornais. Até o início da noite de ontem, a
página contava com 61 seguidores e acompanhava outros 356 perfis. Somente
na segunda-feira, foram publicados, até o começo da noite, 27 comentários,
todos favoráveis ao presidente do Senado. “Jornais estão fazendo tudo o que
for possível para derrubar Sarney”, dizia um dos textos.
Ferramentas
A orientação, segundo um jornalista contratado, é obter o maior número de
seguidores para, assim, aumentar a área de influência. A equipe também
rastreia, por meio de uma ferramenta da internet, todos os comentários
postados no Twitter que envolvam Sarney.
Sem saber do propósito real do trabalho, os profissionais foram recrutados
numa seleção realizada mês passado, no Hotel Eron, próximo à Torre de TV.
Quem distribuiu currículo no Senado foi sondado para as vagas. Eles tiveram
que fazer uma prova de 30 questões de português, inglês e conhecimentos
sobre a conjuntura política atual. Também fizeram parte do questionário
perguntas sobre afinidade partidária ou visão pessoal sobre política. Os
candidatos que acertaram 25 ou mais questões foram convocados para um
treinamento e, só após três dias de palestras, souberam o que fariam: reverter
a imagem negativa de Sarney na internet.
A maioria dos jornalistas receberá R$ 1,8 mil mensais por seis horas de
trabalho. No início do mês, receberam adiantado uma ajuda de custo de R$ 200
para gastos com transporte. A equipe conta ainda com coordenadores e dois
advogados para consultas jurídicas. Há um monitoramento intenso da imprensa
do Maranhão e do Amapá, respectivamente a base política e eleitoral do
presidente do Senado. Nesses estados, quase 300 veículos de comunicação,
entre rádios, televisões, jornais impressos, revistas e sites, são analisados. A
expectativa é que a estrutura seja ampliada na próxima semana, quando
termina o recesso - e a pressão política contra a permanência de Sarney vai
aumentar. Procurada pela reportagem, a assessoria de Sarney na Presidência
do Senado negou o trabalho de contrainformação. “Asseguramos que da parte
da Presidência do Senado não houve contratação de jornalistas”, apontou a
assessoria da imprensa do senador.
Comunidades
Para rebater denúncias e críticas ao presidente do Senado, o bunker de
contrainformação possui uma comunidade no Orkut e um perfil no Twitter. Nos
blogs de política, a tática consiste em inserir comentários se valendo de
pseudônimos. Cada um dos sites possui internautas assíduos. Em um deles, por
exemplo, “Cordeiro Vargas” defendeu José Sarney: “O PSDB e o DEM através
de seus membros estão a (sic) 6 anos batendo insistentemente no presidente e
seu governo, na maioria das vezes de maneira totalmente irresponsável,
criando boatos e distorcendo fatos, aí quando o Lula resolve lembrá-los de
alguns erros e distorções do desgoverno que tiveram, esbravejam e se põem a
espernear dizendo que é insensatez do presidente.”
---------------------------------Folha de S.Paulo - 28/07/2009
Aliado deu emprego no STJ para neta
de Sarney Antes de pedir emprego para o namorado no Senado, a neta de Sarney (PMDBAP) Maria Beatriz ocupou por dois anos cargo de confiança no gabinete da
presidência do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ainda cursando direito,
recebia mais de R$ 6 mil por mês.
Na época, o STJ não exigia nível superior dos ocupantes de cargos por
indicação política, informou ontem a assessoria do tribunal.
Maria Beatriz, que teve diárias pagas por duas viagens internacionais no
período -aos Estados Unidos e à Austrália- trabalhou como assessora
internacional de 2004 a 2006, de acordo com a assessoria.
Maria Beatriz foi nomeada pelo então presidente do STJ, Edson Vidigal. Hoje
inimigo político dos Sarney, Vidigal foi nomeado pelo antigo aliado.
Vidigal incluiu Maria Beatriz em homenagem a servidores com "elevado espírito
público, competência, presteza e iniciativa".
Em seu blog, tem feito campanha pelo afastamento de Sarney da presidência
do Senado. "O Poderoso Chefão não percebe que está com prazo de validade
vencido", dizia ontem. Procurado desde sexta-feira, não quis se manifestar.
A Folha deixou recado no escritório onde Maria Beatriz trabalha, mas não
obteve resposta
-------------------------------------------------O Globo - 28/07/2009
Governo defende Sarney e desautoriza
Mercadante
O Palácio do Planalto desautorizou publicamente, ontem, o líder do PT no
Senado, Aloizio Mercadante (SP), que na semana passada divulgara nota em
que sugeria o afastamento do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), do
cargo, por considerar graves os indícios concretos da participação dele na
edição de um ato secreto para nomear o namorado da neta para um cargo no
Senado.
Após reunião da coordenação política com o presidente Lula, ontem de manhã,
o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), apostando num
possível racha, afirmou que a nota não representa a vontade da bancada de 12
senadores, mas apenas de um ou dois petistas. O líder do PT não se
manifestou.
- O que avaliamos é que isso não é um movimento do PT. Imaginamos que seja
um posicionamento de um ou dois senadores. Como o Senado está em recesso,
muitos estão fora, estamos esperando que a poeira abaixe para conversarmos
na próxima semana. Precisamos ver se houve um movimento da bancada
inteira, visto que o presidente conversou com a bancada 15 dias antes disso
tudo acontecer - disse Múcio.
O ministro afirmou que o governo lamenta a situação vivida por Sarney, mas
entende que o Senado “tem todos os pré-requisitos e todos os poderes” para
resolver a crise. Sobre a hipótese de afastamento de Sarney, Múcio disse que a
Casa decidirá “o que for melhor para o país”. E reafirmou o apoio do governo
ao senador: - Não tenha dúvida nenhuma.
Segundo relatos, Lula ficou contrariado com a divulgação da nota em pleno
recesso, classificandoa de inoportuna. Para o governo, Mercadante reavivou
uma polêmica com o PMDB que estava superada. Na nota, o líder defende a
apuração das conversas telefônicas de Sarney - combinando com o filho
Fernando a contratação do namorado da neta - e diz que a bancada do PT
“reafirma a sua posição de que o melhor caminho seria o pedido de licença da
presidência da Casa por parte do senador José Sarney”.
Para evitar um desgaste ainda maior de Lula, ficou acertado ontem que o
comando do PT tentará enquadrar a bancada e assumirá a defesa de Sarney.
Com o fim do recesso, dirigentes petistas devem procurar senadores do partido
para mostrar que a posição da bancada pode interferir na aliança presidencial e
na governabilidade.
Líder teria apoio de 7 dos 12 senadores petistas
Depois que o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), criticou
duramente a nota de Mercadante, ontem foi a vez do líder do PT na Câmara,
Cândido Vaccarezza (SP): - Apoio integralmente a visão do presidente Lula,
contrária ao afastamento de Sarney, que não está sendo empecilho para
qualquer investigação.
É preciso separar o que são as denúncias sobre as empresas da família Sarney
do seu mandato de presidente do Senado. No exercício do mandato, não existe
quebra de decoro.
Mercadante evitou polemizar. A interlocutores disse que a nota reflete o
sentimento da maioria da bancada, mas reconheceu que não houve consulta a
todos. No entanto, diferentemente do que disse Múcio, a posição do líder
contaria hoje com o apoio de sete dos 12 senadores da bancada.
Entre os que também apoiam publicamente o afastamento de Sarney estão
Tião Viana (AC), Marina Silva (AC) e Eduardo Suplicy (SP). Internamente,
também mostram desconforto com a permanência de Sarney no cargo Flávio
Arns (PR), Paulo Paim (RS) e Fátima Cleide (RO).
Paim não foi consultado por Mercadante, semana passada, mas não discorda do
colega. Ele diz que a nota anterior, que também pedia a licença de Sarney, foi
discutida pela bancada. E questões como o apoio à convocação de reunião
extraordinária do Conselho de Ética são “posição individual de outros”.
- A posição da bancada continua sendo a da última reunião - disse Paim.
De folga em um sítio no interior de São Paulo, Mercadante não atendeu aos
pedidos de entrevistas. Em seu twitter, as últimas postagens são sobre livros.
A assessores, disse que consultou a líder do governo no Congresso, Ideli
Salvatti (PT-SC), e ela teria concordado. Serys Schlessarenko (PTMT)
concordou com o teor da nota. Suplicy, que ajudou a consultar os senadores,
afirmou que todos com quem conversou concordaram: - Se o ministro José
Múcio conversar com a bancada, ele vai ver que não apenas um ou dois apoiam
a nota, que ela representa, sim, o pensamento de todos. Eu mesmo conversei
com o senador João Pedro (AM) por telefone, na Palestina, e ele concordou com
o teor.
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