68 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO — Cuidado para não fatigar o cérebro de sua filha — advertiu a visitante. A sra. Mumford sorriu. Ela sabia que o cérebro de Catherine dificilmente se cansaria. Quando a garota tinha cinco anos de idade, em 1834, começou a ter aulas regulares com a mãe. O livro que as duas mais liam juntas era a Bíblia, que Catherine lera inteiramente oito vezes antes do décimo segundo aniversário. Mas a vida não era só trabalho. Quando o pai viajava a negócios para lugares muito distantes de Boston, Lincolnshire, onde moravam, às vezes a levava com ele. — Você gostaria de aprender a montar? — perguntou o pai, quando Catherine tinha uns nove anos. Os olhos de Catherine brilharam. — Claro, papai! Puxando-a junto ao seu joelho, deu as rédeas à filha, mas também continuou segurando-as suavemente, para o caso de precisar frear o cavalo, se este disparasse a correr. CATHERINE BOOTH 69 — É fácil — disse ele —, basta deixar o cavalo seguir o seu próprio ritmo. O animal trotava com firmeza. — Agora vamos tentar coisas mais difíceis — sugeriu o pai, num ponto mais tranqüilo da estrada. — Puxe a rédea direita suavemente e veja o que acontece. O cavalo virou-se para a direita e continuou a trotar. — Agora faça o mesmo com a rédea esquerda. A menina fez isso e ficou encantada quando o cavalo imediatamente obedeceu a sua instrução e virou-se para a esquerda. — Mamãe! — chamou, quando voltaram para casa naquela tarde. — Eu já sei andar a cavalo! O papai me deixou montar e conduzir o coche! — É… Catherine leva jeito com cavalos — replicou o pai. A sra. Mumford encarou a filha: — Você adora animais, não? Foi porque Catherine adorava animais que ficou de coração partido ao saber que seu cão se- 70 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO ria sacrificado. Catherine tinha doze anos e achou difícil dizer quanto ficou aborrecida, embora tivesse orado a esse respeito. Logo depois do triste acontecimento, a menina começou a freqüentar a escola. Adorou! Mas aquela liberdade durou pouco; ela teve um problema na coluna e precisou ficar o ano inteiro de cama. — O que você gostaria de fazer hoje? — perguntava a mãe toda manhã depois da lição, já ciente da resposta. — Estou muito satisfeita com meus livros — era a resposta diária da garota. Em um ano Catherine leu livros que a maioria dos adultos nunca chegaria a ler. Passado esse período, e quando já estava melhor da coluna, ela já havia lido livros bem grossos e sérios sobre Deus. Nos anos seguintes, seu desejo era aprender mais sobre o Senhor. Ele a amava realmente? Ela precisava de seu perdão? Como poderia saber se ia para o céu? Quando fez dezessete anos, a verdade ficoulhe evidente. Jesus a amava de fato. Sim, ela realmente precisava ser perdoada. Também sabia que CATHERINE BOOTH 71 ia para o céu, porque isso é o que a Bíblia diz que acontece àqueles que crêem em Jesus. Ela estava convencida de que a Bíblia é a verdade. Catherine estava feliz, enfim! Catherine e a mãe participavam de um culto, três anos mais tarde, e foi nessa oportunidade que conheceram William Booth, um aprendiz de penhorista. No entanto, quando se apaixonou por Catherine,William estava prestes a se tornar pastor itinerante. Durante seis anos, o jovem casal trocou correspondência. Primeiro escreviam uma vez por semana, depois duas vezes por semana, depois quase todos os dias, até que se casaram em 16 de junho de 1855. Ambos tinham 26 anos de idade. “Como você está lidando com todas essas viagens?”, perguntou a sra. Mumford a Catherine numa das cartas. A filha respondeu, no dia seguinte: “Querida mamãe, as viagens de William não são tão cansativas como a senhora pode pensar. Em geral pas- 72 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO samos cerca de um mês em cada lugar; as pessoas são hospitaleiras e nos deixam muito à vontade aonde quer que vamos. Conheci vários lugares interessantes onde nunca havia estado. Hull estava repleta de vendedoras de peixes. Elas percorrem toda a praia, dependendo do lugar onde estão os arenques. Em seguida fomos para Sheffield, onde se faz cutelaria, depois passamos um mês em Halifax. Por favor, não se preocupe com o fato de viajarmos com freqüência, mamãe. William cuida de mim maravilhosamente bem”. — Pediram-me para ser superintendente em Gateshead — disse William à mulher alguns anos mais tarde. “Seria bom se nos fixássemos num lugar, embora tenha adorado nossas viagens”, pensou ela por um momento. Os sermões de William ainda os levavam para longe ocasionalmente. Na ausência do marido, entretanto, Catherine se ocupava de seus afazeres, afinal, ela havia começado a se dedicar a um ministério. Tudo começou quando ela resolveu CATHERINE BOOTH 73 falar do Senhor Jesus a mulheres na rua. Não demorou muito e já estava envolvida na obra. — Estou muito surpresa comigo mesma — disse a William, quando o marido retornou de uma viagem de duas semanas. Ele ficou ansioso para saber o que o aguardava. — Parece que o Senhor está me chamando para falar de Jesus a pessoas alcoólatras. No começo fiquei muito nervosa, mas ele colocava as palavras certas na minha boca, e agora descobri que posso me aproximar dessas pessoas e lhes falar do Senhor Jesus. William não ficou tão surpreso quanto Catherine havia ficado. Ele observara que a mulher se envolvia cada vez mais nesse trabalho, embora já tivesse filhos para cuidar — “Aonde isso levaria?” — indagava-se. De Gateshead, a família se mudou para o sul e, finalmente, para Londres. Mais convites chegavam para Catherine falar, e bem menos para William. Foi uma época difícil para eles. Certa 74 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO noite, ela estava sentada próximo à lareira quando ele entrou. — Oi, Catherine — disse, ajeitando-se em sua poltrona —, quando passei pelos bares hoje à noite, tive a impressão de ouvir uma voz me perguntando “onde mais você quer encontrar pessoas precisando do evangelho de Jesus senão num lugar como este?”. Acho que o Senhor está me chamando para trabalhar aqui, no lado leste de Londres, com esses homens e essas mulheres. Catherine olhou fixamente para o fogo. “De onde virá o dinheiro para nos sustentar? É certo que esses homens dos bares não nos poderão sustentar com comida e roupas, muito menos agora que mais um bebê está a caminho”, pensou, mas não foi o que respondeu ao marido. — O Senhor nunca nos desamparou. Se ele quiser que você faça esse trabalho, ele nos sustentará. William escreveu para um jornal cristão, relatando seus planos: “Como a maioria das pessoas em áreas como esta não tem acesso à igreja, nós iremos até elas e realizaremos cultos onde quer CATHERINE BOOTH 75 que estiverem, ao ar livre, em teatros e outros lugares também. Iremos aonde as pessoas estão, não vamos esperar que venham até nós”. E foi assim que teve início o Exército de Salvação. Em 1870, depois de um grande esforço para levantar recursos, foi inaugurado, em uma das regiões mais carentes de Londres, o Galpão Missionário do Povo. — Quando acontecem as reuniões? — perguntou um visitante a Catherine no início do culto. — Estamos aqui todas as noites — foi a surpreendente resposta. — Sempre haverá uma porta aberta para pessoas necessitadas. É por isso que temos uma cozinha para preparar sopa para nossos visitantes. Você faz idéia de quantas pessoas famintas vivem por aqui? O visitante tirou algumas libras da carteira e entregou a Catherine. — Tome isto — disse. — É para os legumes da sopa de amanhã. O Exército de Salvação alcançava os pobres e necessitados, levando as boas-novas de Jesus 76 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO numa das mãos e um prato de sopa e roupas na outra. Onde houvesse pessoas famintas, lá estava o Exército para alimentá-las. Onde houvesse pessoas com frio, lá estava o Exército para agasalhá-las. Onde houvesse pessoas necessitadas de Jesus, lá estava o Exército para dizer que Jesus as amava, a ponto de ter dado a vida por elas. William veio a ser o General Booth, um general do exército de Jesus. Catherine também recebeu um título, Mãe do Exército. Os Booth nunca esqueceram seu chamado para ajudar pessoas dependentes de álcool; estes eram tratados com tanto amor que jamais encontrariam em outro lugar. Homens e mulheres receberam amor do Exército de Salvação, do General, da Mãe do Exército e do Senhor Jesus Cristo. — Conte-me como são as reuniões do Exército de Salvação — pediu um amigo escocês a Catherine, quando enviou uma oferta para o ministério. — Se você estivesse em Londres — respondeu —, nos reconheceria imediatamente, por cau- CATHERINE BOOTH 77 sa de nosso uniforme e de nossa bandeira. Os homens usam quepe, e as mulheres, boina, com os dizeres: “Exército de Salvação”. Nossas reuniões são dinâmicas, alegres, com muitos cânticos e aleluias, não há nada de triste nem monótono nos cultos. As pessoas vêm da rua e entram, atraídas pela música animada e pelos louvores alegres. A maioria das pessoas é pobre, e muitas jamais entrariam numa igreja comum, mas todas são bem-vindas ao Exército. As mulheres e as crianças têm um lugar especial. As oficiais mulheres pregam no Exército da mesma maneira que os oficiais homens, e realizamos cultos especiais para crianças. — Você gostaria de sair às ruas conosco esta noite? — perguntou Catherine a uma visitante que viera conhecer o trabalho da igreja. — O que eu teria de fazer? — quis saber a jovem. — Os soldados saem de dois em dois às ruas que lhe são designadas, em busca de pessoas carentes. Você vai encontrar mulheres expulsas de casa pelo marido, às vezes usando apenas a rou- 78 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO pa de dormir e um casaco, e quase sempre acompanhada dos filhos. Você vai encontrar jovens que discutiram com os pais e fugiram de casa. E também vai encontrar homens e mulheres com problemas mentais, pessoas que precisam ser resgatadas. A mulher parecia horrorizada. — Mas nunca falei com pessoas assim antes. Eu não saberia o que dizer. Catherine Booth a olhou firme e perguntou: — Há quanto tempo você é cristã? — Oito anos. — E nunca estendeu a mão às pessoas que mais precisam de você? — perguntou a Mãe do Exército, com um misto de espanto e tristeza. A expressão da jovem se abrandou. — Não — respondeu. — Nunca fiz isso antes. Mas vou fazer hoje à noite, e vou fazer isso de agora em diante. Mais tarde, naquela mesma noite, as duas mulheres se encontraram novamente na cozinha comunitária. A visitante estava cheia de entusiasmo. CATHERINE BOOTH 79 — Deus usou você hoje à noite? — perguntou Catherine Booth. A companheira fez que sim. — Sem dúvida, ele não só me usou, mas também me ensinou uma lição. — Qual foi? — quis saber a mulher mais velha. Sorrindo, a visitante resumiu em palavras o que uma noite nas ruas significou para ela. — Descobri que ser cristão significa ser como Jesus, e hoje à noite eu fiz o que ele fez, estendi a mão e ofereci amor aos excluídos, mas há uma coisa que gostaria de lhe perguntar. Catherine ficou curiosa. — Sei que sua família é grande — disse. — Como você conseguiu educar seus filhos e ainda assim dedicar-se à obra do Senhor? Eles não se sentiram negligenciados? A Mãe do Exército sorriu, pensando nos filhos. — Sempre arranjei tempo para meus filhos — respondeu. — Sabe, eles são o primeiro campo missionário que Deus me deu. Todos se converteram e todos, com exceção de um, são oficiais do Exército de Salvação. 80 DEZ MENINAS QUE MUDARAM O MUNDO — Obrigada, isso responde a minha pergunta. Além de Mãe do Exército, você é uma mãe de verdade para seus filhos. l Você sabia? Catherine nasceu em 1929, exatamente um ano antes da inauguração da primeira estrada de ferro de transporte de passageiros da Inglaterra. Durante centenas de anos, a maneira mais rápida de se deslocar era a cavalo ou numa carruagem puxada por um cavalo. Catherine e seu pai viajavam assim, de coche. As estradas de ferro trouxeram a maior mudança de que as pessoas tinham notícia em se tratando de meios de transporte e, quando Catherine estava com cinqüenta anos, a maioria dos países mais importantes do mundo já tinha estradas de ferro, e todo ano se construíam mais ferrovias. Lembre-se: Catherine levou o amor de Deus a pessoas que nunca recebiam amor de ninguém. Ela cuidou de embriagados, alimentou famintos, vestiu pessoas sem-teto e lhes falou de Jesus. CATHERINE BOOTH 81 Aprenda com Catherine a amar pessoas rejeitadas e esteja pronta para arregaçar as mangas e trabalhar duro no reino de Deus! Pense nisto: Olhe ao seu redor e veja o que você poderia fazer para demonstrar o amor de Deus de maneira prática. Por que não doar a uma instituição de caridade alguns brinquedos ou roupas que não lhe servem mais, ou fazer uma atividade para arrecadar dinheiro e ajudar os sem-teto? Você poderá divertir-se e, ao mesmo tempo, ajudar as pessoas. Vamos orar? Senhor Jesus, abra meus olhos para eu enxergar que ao meu redor há pessoas que precisam de ajuda e mais ainda, precisam do Senhor. Mostre-me como posso agir para fazer diferença. Ajude-me a falar e fazer o que é certo. Amém.