A Remuneração do Capital e do Trabalho numa Pequena Empresa Alfredo Fonceca Peris Durante a realização de minha atividade como consultor de empresas, tenho atendido empresas de todos os tamanhos, dentro da realidade da região onde atuo, no caso a Região Oeste do Paraná. Já prestei serviços para empresas que tinham apenas um empregado e empresas com mais de quinhentos empregados. Empresas agropecuárias, industriais, comerciais e prestadoras de serviços. Em todas, somente fui chamado porque sua direção acreditava ter pelo menos um problema para o qual não conseguiam sozinhos encontrar uma solução. Além de ajudar a direção dessas empresas na identificação do problema, para ver se realmente o problema era aquele que o empresário julgava ter ou identificar o real problema, tenho estudado essas empresas procurando um objetivo principal que é descobrir como efetivamente as empresas conseguem se tornar viáveis, dentro de nossa realidade local. Penso que este seja o maior problema encontrado pelas empresas, mais particularmente as pequenas e médias. Parece simples, porém viabilizar uma pequena empresa é um desafio muito grande. Torná-la viável e iniciar um processo de crescimento e, durante esse processo, continuar sendo viável, aí se constitui num desafio para gigantes. Significativa parte das empresas quebra exatamente no momento em que iniciam um processo de expansão. É temeroso afirmar que exista somente uma causa para explicar a viabilidade ou não de uma pequena empresa ou apontar especificamente um pequeno grupo de causas. Mesmo porque, a viabilização de uma pequena empresa que, normalmente, explora um ou, no máximo, dois negócios, pode advir de várias causas. Porém indicar que existe uma ou duas causas maiores que abrigam as pequenas causas ou explicações da viabilidade parece fazer mais sentido. Nessa direção, tenho observado que o caminho pode estar na separação das remunerações em dois grupos: a do capital investido e a do trabalho dispensado. Sendo mais específico: quando da constituição de uma empresa, com o objetivo de explorar um ou mais negócios, sempre há o investimento de uma importância, por pequena que seja, de capital, ou seja, trabalho acumulado. Quer seja ele em espécie ou sob a forma de bens como um imóvel, uma máquina, um conjunto de ferramentas, um veículo ou uma determinada quantidade em mercadorias, por exemplo. Da mesma forma, uma ou mais pessoas passam a despender seu tempo para essa empresa com o objetivo de explorar um ou mais negócios prospectados. Assim constituída a empresa, a partir do momento em que ela abre suas portas para oferecer seus bens ou serviços ao mercado, ela passa a ter uma necessidade de remunerar não somente o tempo despendido pelas pessoas que nela trabalham, mas, igualmente, o volume de capital investido, independente da forma como ele foi integralizado na empresa. E aí parece estar uma das maiores dificuldades de entendimento dos empreendedores, qual seja, procurar a ocupação tanto do fator trabalho quando do fator capital de tal forma que os mesmos consigam, separado ou em conjunto, se viabilizarem. Dando um exemplo: uma mulher que opte por investir parte de suas economias, amealhada ao longo da vida, no momento em que os filhos não precisem mais de forma decisiva de sua ajuda e cuidados, na abertura de uma pequena loja de confecções. Fato corriqueiro e comum em muitas cidades. Vocês já observaram quantas mulheres fazem isso? Igualmente já observaram que uma parte significativa dessas pessoas acaba fechando as portas num prazo de até no máximo dois anos após a abertura, amargando além de uma decepção um relativo prejuízo financeiro? E por que, na maioria das vezes, isso acontece? Conforme já disse anteriormente, são muitas as causas, porém tenho observado que a falta de percepção de que, num caso como esses e que se aplica a uma série de outros, a preocupação com a remuneração dos fatores é decisiva. No nosso exemplo, por pequena que a loja seja, necessitará, além do trabalho da empreendedora, de pelo menos mais um funcionário, normalmente mais uma mulher. A partir da contratação de uma funcionária, já passa a ser o trabalho de duas pessoas que precisam ser remunerados. Além do volume de capital investido que também precisa remuneração. E aí o entendimento é, na maioria das vezes, de que por meio da compra e venda de mercadorias, geralmente com um volume pequeno de capital, seja suficiente para remunerar todos os fatores envolvidos. Pequenos volumes de capital proporcionam pequenos ganhos, menos que proporcional a grandes volumes. O empreendedor, nesse caso, costuma focar suas atenções para a mercadoria e não para o trabalho. E aí a viabilização não vem e ele não consegue descobrir por que isso acontece. Tenho sugerido a essas pessoas - e aproveito para lançar o questionamento para que mais pessoas ajudem a pensar essa questão- que foquem suas atenções para a conjugação de esforços no sentido de fazer o volume de capital disponível agir conjuntamente com o volume de mão de obra disponível. Dando um exemplo mais específico: se você possui uma pequena loja tem, portanto, um pequeno espaço em um imóvel que precisa ser remunerado, da mesma forma tem um volume de capital investido em mercadorias, móveis e equipamentos que igualmente precisam ser remunerados e tem uma, duas ou mais pessoas com todo o tempo disponível para o negócio que igualmente precisam ser remuneradas. Nesse caso, você precisa ocupar esse tempo, tanto das pessoas quanto da estrutura disponível para aumentar a remuneração. E o desafio é: trabalhar mais e obter mais renda da ocupação do tempo e da habilidade das pessoas do que aguardar que do próprio capital investido - que fica ali parado à espera de alguém que venha comprar as mercadorias – venha a renda necessária para remunerar todos os fatores envolvidos. E como trabalhar mais se o empreendimento, no nosso caso aqui citado, a pequena loja de confecções, for pequena, contar com um pequeno estoque de mercadorias e ficar num bairro onde tenha igualmente um pequeno público alvo? Nesse caso, a viabilização começa pelo seu próprio estudo. Antes de abrir a loja, gaste uma importante parte do tempo procurando respostas para essas perguntas que você, fatalmente, fará depois da abertura da loja. Isso já é trabalho despendido na busca pela viabilidade. Primeiro: qual o volume de capital disponível para o investimento? Segundo: qual o melhor lugar, entre os disponíveis, para a abertura da loja? Terceiro: após a adequação do espaço físico escolhido e da compra de máquinas, equipamentos, ferramentas, móveis, abertura da empresa, quanto sobrará do capital para a compra de mercadorias? Quarto: quais mercadorias meu público alvo gostaria de encontrar em minha loja? Quinto? onde posso adquirir essas mercadorias? Sexto: qual o custo para adquirir essas mercadorias como, por exemplo, despesas de viagem para fazer compras? Se após obter todas essas respostas, chegar à conclusão de que é possível viabilizar o negócio, o próximo passo é alugar o imóvel, caso ele não seja próprio, fazer as adequações, adquirir e instalar todos os móveis, máquinas e equipamentos, abrir a empresa e efetuar as compras. Durante esse processo, iniciar o trabalho de divulgação e, após toda essa etapa, fazer a inauguração e começar a trabalhar. Uma vez aberta a loja, não dá para ficar tomando chimarrão e aguardando os clientes virem, naturalmente, como se tivessem a obrigação de vir. Você precisará prestar um conjunto de serviços ao cliente para poder atraí-lo e fidelizá-lo para que, toda vez que precisar algum produto ligado ao seu segmento de negócios, procure você e sua loja e não o concorrente. Isso inclui, muitas vezes, ligar para o cliente antes de viajar para fazer compras e verificar se ele precisa ou quer fazer-lhe alguma encomenda; observar o que os clientes que vêm até a loja procuram e efetuar compras direcionadas para esses clientes; quando retornar das compras ligar novamente para avisar que a encomenda dele chegou; caso o cliente não possa vir até a loja ir até ele e levar sua encomenda; aprender a fazer pequenos consertos, como pregar botões, passar as roupas, fazer barra em calças e em mangas de blusas, para adequá-la às necessidades do cliente; enfim, mais que simplesmente comprar e vender; prestar serviços ao cliente utilizando o tempo disponível das pessoas alocadas no empreendimento. Nesse caso, você estará conjugando capital e trabalho em busca de remuneração que possa viabilizar o capital investido e o tempo despendido pelas pessoas. Pense nisso com carinho antes de tomar a iniciativa de investir seu capital e seu tempo em um novo empreendimento. Caso já seja um pequeno empreendedor, igualmente essas dicas podem lhe ajudar. Alfredo Fonceca Peris é Sócio Diretor da Peris Consultoria Empresarial Ltda. http://www.perisconsultoria.blogspot.com/ Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados.