Comunicação e Expressão
Unidade 1: Texto e contexto
Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo
Texto e contexto
Nesta unidade, você vai encontrar pessoas que precisam adequar seus textos
às situações de comunicação em que estão inseridas. Para tanto, será preciso
estudar os seguintes temas principais: interlocutores; texto e gênero textual e
funções da linguagem.
E agora, o que eu faço?
Ao passar para a terceira fase de seleção de uma vaga para a empresa X,
Marta ouviu a seguinte instrução de André, um dos selecionadores de
candidatos: “prepare, para amanhã, uma apresentação oral de quinze minutos,
sobre qualquer tema que você achar oportuno”. Ela foi para casa e ficou
pensando no objetivo daquilo e chegou à conclusão de que seria avaliada por
sua capacidade de se expressar em público, sua desinibição, sua facilidade em
falar com clareza, em ser lógica, em parecer natural, enfim, um turbilhão de
ideais tomou conta de sua cabeça. Agora seu problema era: o que fazer?
A situação vivida por Marta acontece com as pessoas com frequência: é
preciso “fazer o relatório”, “a lista de compras”, “ligar para o namorado”,
“conversar com a amiga sobre o que aconteceu ontem”. Desde as situações
mais banais às mais complexas, como a que Marta está passando, os
indivíduos, o tempo todo, vivem situações comunicativas e, a partir delas,
interagem com os outros.
Ao interagirmos com as pessoas, estamos organizando a linguagem: o que e
por que vamos dizer, para quem, movidos por determinados objetivos. Todos
esses desejos, vontades, valores que temos materializam-se nas situações de
comunicação. Assim, somos responsáveis pelo que dizemos e pelo modo
como o fazemos. As formas como nos expressamos são, de alguma forma,
controladas. Isso é o que chamamos de locutor: quando alguém organiza sua
interação em direção a alguém em dado contexto; já o receptor ou alocutário é
essa pessoa que vai nos ouvir, mas não de forma passiva. Ela também tem
valores, objetivos, vontades. Disso podemos concluir que, na comunicação, as
pessoas se colocam como interlocutoras, pois estão, o tempo todo,
materializando seus interesses na comunicação, se responsabilizando pelo que
dizem.
A seguir, serão apresentadas as definições de locutor, alocutário e
interlocutores, extraídas do Dicionário de análise do discurso.
Locutor e alocutário: “o locutor é o sujeito falante responsável pelo ato de
linguagem e, portanto, exterior a este. Opõe-se, nessa mesma relação de
exterioridade, ao sujeito que acolhe o ato de linguagem, que pode ser
designado nos termos de receptor ou alocutário”.
Definição de interlocutores: são “os parceiros de uma troca verbal, em que
cada um deles toma a palavra. O interlocutor é sempre considerado como
aquele que está, ao mesmo tempo, na posição de um ato de comunicação e de
poder tomar a palavra em seu turno”.
Testando 1
Na situação vivida por Marta, pode-se afirmar que:
a) Marta é o locutor, pois ela pede orientações a André sobre o que deve
ser feito na apresentação.
b) André é o alocutário, pois orienta Marta sobre o que deve ser feito.
c) Marta é o alocutário, pois recebe o que André diz e, de forma ativa,
pensa sobre a situação.
d) André é o locutor, pois está interessado em ouvir o que Marta tem a
dizer.
e) Marta e André são locutores, pois ambos expressam seus pontos de
vista e inquietações na situação em que estão inseridos.
Feedback: na situação, Marta ouve o que André diz. Ele materializa, em sua
fala, seus objetivos, portanto é o locutor, o responsável por suas próprias
palavras. Já Marta é o alocutário, uma vez que interage com o que André diz,
não sendo passiva na situação.
O problema do Pedro é o nosso
Pedro é morador da cidade de São Paulo, vítima das enchentes que todos os
anos assolam a cidade. Foi diversas vezes à subprefeitura de seu bairro
questionar o que pode ser feito para que o córrego perto de sua casa não
transborde nos dias de tempestade. Porém nada acontecia após o registro de
suas reclamações. Pedro então, assistindo a um noticiário, resolveu que
deveria procurar um jornal, para que pudesse explicar o que acontecia e ver se,
com essa pressão, alguém tomava uma providência. Contudo, não sabia como
fazer. Escreveria uma carta? Para quem? Que palavras usar? Como começar
esse texto?
Pedro, da mesma forma que Marta, está inserido em uma situação
comunicativa. Ele tem um problema e quer resolvê-lo: para tanto, precisa
organizar a linguagem para se expressar com clareza. Ele vai produzir um
texto. Mas esse texto tem características próprias, que é justamente o ponto
que Pedro está questionando nesse momento. Chamamos de “gênero textual”
cada modo de organizar a linguagem, de acordo com as situações
comunicativas que vivenciamos. No caso dele, o gênero chama-se “carta”.
Conceito de texto: segundo Diana L. P. Barros, o texto “pode ser tanto um
texto linguístico, indiferentemente oral ou escrito – uma poesia, um romance,
um editorial de jornal, uma oração, um discurso político, um sermão, uma aula,
uma conversa de crianças –, quanto um texto visual ou gestual – uma
aquarela, uma gravura, uma dança – ou, mais frequentemente, um texto
sincrético de mais de uma expressão – uma história em quadrinhos, um filme,
uma canção popular.”
Conceito de gênero textual: na definição de Marcuschi, é “uma noção
propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em
nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas
definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição
característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são
inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão,
carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula
expositiva, reunião de condomínio e assim por diante”.
Uma carta é um gênero com algumas características: normalmente escrito em
1ª pessoa, nela seu autor diz o que pretende, dá informações, se dirige a
alguém. Ele também precisa assinar e datar o texto. Há muitos outros gêneros.
Na verdade, no dia a dia, estamos usando gêneros o tempo todo: escrevemos
bilhetes, torpedos, recados no Facebook, temos conversas ao telefone,
organizamos listas, lemos notícias na internet. Em suma: a linguagem está
sempre organizada em um dado gênero textual e saber escolher qual é o mais
adequado para a situação e como ele funciona é muito importante.
Voltemos ao caso de Marta. Ela fará uma “apresentação oral”. Esse também é
um gênero, com características diferentes da carta. Ela precisará conhecer o
modo de organização desse texto para que se apresente da melhor forma e
atinja seus objetivos.
Importante!
Todo profissional precisa se comunicar bem. Para tanto, dominará alguns
gêneros que usa no dia a dia, seja para ler ou escrever, e, assim, atingirá seus
objetivos. Essa consequência virá também porque, ao escolher o gênero certo
para o momento correto, correspondemos às expectativas da situação. É mais
ou menos como “usar a roupa certa para cada ocasião”.
Boxe – texto de opinião
Um gênero bastante comum que organizamos é o texto de opinião. Conheça
algumas de suas características, de acordo com o jornalista Eugenio Bucci:
1. Defina que opinião irá defender
De acordo com Bucci, antes de começar a escrever um artigo de opinião, o
estudante deve definir o tema que deseja abordar com o texto. “Um artigo nada
mais é do que a defesa de uma ideia. Por isso, é muito importante o jovem ter
em mente o que pretende escrever e começar a reunir os argumentos
necessários para criar essa defesa”, disse. No caso do Concurso Tempos de
Escola, os estudantes deverão escrever sobre a importância da leitura em sua
vida.
O jornalista ressalta, ainda, que é preciso ter uma opinião formatada. “Para
escrever artigos de opinião, é obrigatório tê-la. E ter opinião é difícil, é muito
raro. Normalmente, o que temos por aí são repetidores de opinião”.
2. Monte uma sequência de argumentos
Como toda defesa de opinião depende de argumentos, Bucci recomenda que o
aluno defina uma sequência para conduzir sua tese. “Cada parágrafo deve
conter um argumento, incorporando o anterior e preparando o seguinte. Como
se pode ver, um artigo de opinião é construído, é preparado, não é algo que sai
assim, sem mais nem menos, da cabeça do autor. O bom artigo de opinião é
escrito e reescrito várias vezes antes de ser publicado”, explicou.
3. Evite escrever em primeira pessoa
Por mais que o objetivo do artigo seja defender uma opinião, o jornalista sugere
que o aluno evite escrever em primeira pessoa. “A primeira pessoa pode até
atrapalhar. Se você quer convencer alguém de alguma coisa, tente não ficar
falando de você mesmo o tempo todo”. Outro ponto importante, lembra Bucci, é
tomar cuidado para não misturar os tempos verbais.
4. Seja claro para o leitor
O professor recomenda que, ao escrever, o aluno sempre tenha em mente
quem irá ler o artigo. “As principais características de um artigo de opinião são:
clareza, elegância e simplicidade na argumentação. Ideias boas são lógicas.
Lembre-se, diante de um bom artigo de opinião, quem deve se sentir inteligente
é o leitor, não você”, explicou.
5. Busque referências
Bucci explica que o estudante pode buscar referências em qualquer lugar, não
somente em outros artigos. “Se ele opina sobre arte, deverá buscá-la na arte,
mas não somente, porque a arte está em tudo. Para escrever, não precisamos
olhar somente para coisas escritas. A inspiração deve vir do dia a dia, do que
está ao redor. E, claro, o aluno deve olhar tudo com o senso crítico apurado”,
disse.
Disponível
em:
http://www.homolog.blogeducacao.web305.kinghost.net/2013/07/eugenio-bucci-fala-sobrecomo-escrever-um-bom-texto-de-opiniao/. Acesso em julho de 2013.
Funções da linguagem
O que é linguagem?
Define-se como linguagem qualquer sistema de signos socializado. Nesse
sentido, podemos falar em linguagem da moda, linguagem do jornalismo,
linguagem
televisiva,
linguagem
cinematográfica,
linguagem
culinária,
linguagem fotográfica, entre muitas outras. Desse modo, é possível perceber
que as linguagens são formas de expressão humanas, representando valores
de grupos de uma dada sociedade, que podem variar no tempo, no espaço etc.
Em cada situação de comunicação, a linguagem organiza-se de acordo com certos
objetivos. A partir dela, estaremos pondo em funcionamento uma ou mais funções
da linguagem. Para Jakobson, cada função da linguagem está ligada a um dos
elementos da comunicação.
CONTEXTO (função referencial)
REMETENTE
MENSAGEM (função poética) DESTINATÁRIO (função conativa)
CANAL (função fática)
CÓDIGO (função metalinguística)
Sintetizando as funções da linguagem, temos:
– É quando o texto, numa dada situação comunicativa, centram-
Função Emotiva
se no emissor.
Expresso, neste momento, meu sentimento de gratidão por toda a história que
passei nessa empresa, todas as oportunidades que fizeram de mim o profissional
que sou hoje.
Função Conativa
– É quando o texto, numa dada situação comunicativa, centram-
se no receptor/destinatário.
Função Poética
– Diferentemente do que se pode imaginar, a função poética não
deve ser associada apenas à poesia. Todo uso de linguagem que procura ir além
apenas do sentido imediato da mensagem. É quando o texto é construído de forma
mais sugestiva, despertando o imaginário do receptor.
Função Referencial
- Também chamada de denotativa, está ligada ao contexto da
situação de comunicação. Não diz respeito ao “eu” emissor nem ao “você”
receptor; associa-se ao “ele” ou “isso”, qualquer outra pessoa, assunto,
acontecimento.
Função Fática -
Centrada no contato. São textos compostos para iniciar,
manter ou encerrar uma dada comunicação. Segundo Vanoye, “a função fática
manifesta essencialmente a necessidade ou desejo de comunicar”.
- Alô! - Oi, Antônio, é a Clara, tudo bem? - Tudo bem e você? - Não estou ouvindo direito...
- É, a ligação parece longe...
Função metalinguística - Centrada no código. Novamente segundo Vanoye,
“Tudo o que, numa mensagem, serve para dar explicações ou precisar o
código utilizado pelo destinador (ou emissor) concerne a essa função”.
VOLTA: de volta ou Lat. *volta < volvere s. f., acto de regressar a um lugar de onde se
partira; acto de virar ou de se virar; regresso; mudança; movimento circular; giro; circuito;
cada uma das curvas de uma espiral; feitio curvo de objecto; mudança de opinião;
disposição diversa; aquilo que se dá para igualar uma troca; curva; sinuosidade; tira branca
de pano de linho ou de algodão na parte superior do cabeção dos padres, dos seminaristas
e lentes das Universidades; tira de pano ou renda pendente do pescoço, no uniforme de
certos funcionários.
Resumo da unidade
Nesta unidade, centramos atenção nas situações comunicativas que nos
envolvem o tempo todo e em alguns aspectos importantes que precisam ser
considerados para que ela aconteça da melhor forma: como organizamos o
texto para atingir nossos objetivos? Em que gênero devo organizá-lo? Sou
responsável pelo modo como organizo meus textos e nele expresso meus
valores e desejos. A mesma coisa acontece com meu receptor: ele, de forma
ativa, interage com o que digo, materializando, também, seus objetivos em sua
comunicação comigo.
Referências bibliográficas
CHARAUDEAU, P.MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São
Paulo: Contexto, 2004.
BARROS, D. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2011.
MARCUSCHI. L. “Gêneros textuais: definição em funcionalidade”. In: Gêneros
textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
VANOYE, F. Usos da linguagem - problemas e técnicas na produção oral e
escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Sites
http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php – Aqui você encontra diversas
informações sobre os textos argumentativos, em que é preciso dar opinião
sobre um tema.
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=OQPw-xUK_tk – Aqui você encontra uma
explicação didática sobre os gêneros textuais.
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Comunicação e Expressão - Universidade Anhembi Morumbi