Crise, negociação coletiva e Justiça do Trabalho Francisco Rossal de Araújo Juiz do Trabalho, Professor de Direito do Trabalho e Economia Política da UFRGS Vivemos momentos de apreensão crise econômica que varre o mundo, pois empresas fecham suas portas, demitem crise econômica que varre o mundo trabalhadores, criando problemas sem precedentes desde 1929. Mais do que nunca, cresce a importância da Justiça do Trabalho como mediadora dos conflitos entre patrões e empregados. É aqui que entra o papel dos juízes na Varas do Trabalho ou desembargadores no Tribunal. Nossa atividade passa a ser de conciliadores diante de uma situação grave que afeta as partes. De um lado está o capital que enfrenta uma crise sem precedentes de outro, os trabalhadores exigindo o legítimo direito de manter seus postos de trabalho. O Juiz do Trabalho precisa levar em consideração os interesses dos empregados, pais e mães de família, filhos e de pessoas que precisam sobreviver. Também deve considerar as condições dos empresários, pressionados por dívidas operacionais, bancárias, com empréstimos muitas vezes impagáveis por causa de juros altíssimos. Diante da crise, a Justiça do Trabalho se inova. Temos o dever de encontrar um meio termo que represente o equilíbrio nas delicadas relações de capital e trabalho. E isto exige um discernimento do que venha a ser Justiça e conhecimento da realidade. Aparentemente, o conflito é jurídico, mas por detrás existe um conflito de interesses. Os sindicatos de trabalhadores passam a ter um papel diferente daquele que tinham há décadas. Ao invés de palavras de ordem de cunho político, precisam garantir postos de trabalho. Líderes acostumados a exigir, precisam transigir. Os sindicatos patronais são obrigados negociar e encontrar uma solução para ambas as partes. Do contrário, perdem o investimento que fizeram em treinamento de mão-de-obra, e que leva anos para ser recuperado. Entre as duas partes está a Justiça do Trabalho que tem o dever de promover a conciliação. As soluções passam pela negociação coletiva, que é o melhor meio de resolver conflitos trabalhistas. O importante é dar condições para uma empresa sobreviver e manter empregos, sem que seja destruída a dignidade do trabalhador. Na hora da crise, a racionalidade é aliada para evitar atropelos e soluções radicais e injustas. A Justiça do Trabalho cumpre um papel de conciliadora de conflitos e busca a paz social. É preciso ter em conta que a crise passará e teremos de sobreviver aos maus tempos com uma postura digna de todos.