15 Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775 DESENVOLVIMENTO E CONTROLE DE QUALIDADE DE CÁPSULAS CONTENDO CAPTOPRIL 25 mg DEVELOPMENT AND QUALITY CONTROL OF CAPSULES CONTAINING CAPTOPRIL 25 mg BERNARDES, Mariana Louise Peterson1; MUELLER, André2; GEBARA, Karimi Sater2. Resumo A adoção de medidas para a verificação da qualidade dos medicamentos deve ser uma preocupação constante dos consumidores e das agências reguladoras oficiais, principalmente quanto a farmácias de manipulação, por possuírem um controle de qualidade diferente aos produzidos em escala industrial. O objetivo desta pesquisa foi desenvolver formulações com diferentes excipientes contendo captopril 25 mg e comparar a qualidade das mesmas entre si. Para verificar a qualidade das formulações desenvolvidas foram realizados testes de peso médio, dissolução, uniformidade de conteúdo e doseamento, todos conforme os padrões descritos na Farmacopéia Brasileira. No teste de peso médio, dissolução, doseamento e uniformidade de conteúdo todas as formulações apresentaram resultados de acordo com o padrão de qualidade desejado. Palavras-chave: captopril, cápsulas, controle de qualidade, desenvolvimento de formulações, excipientes farmacêuticos. Abstract The adoption of measures to check the quality of medicines should be a concern for consumers and official regulatory agencies, mainly in homeopathic pharmacies because they have a different quality control to those produced on an industrial scale. The objective of this research was to develop formulations with different excipients containing captopril 25 mg and compare the quality of them. To check the quality of the developed formulations were accomplished tests of weight, dissolution, content uniformity and assay, all according to the Brazilian Pharmacopoeia patterns. In the weight test, dissolution, assay and content uniformity, all formulations showed results according with the standard of quality desired. Key-words: captopril, capsules, quality control, development of formulations, pharmaceutical excipients. 1 Discente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados / MS. Contato: [email protected] 2 Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados / MS. E-mail para contato (do orientador): [email protected] BERNARDES, Mariana Louise Peterson; MUELLER, André; GEBARA, Karimi Sater 16 Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775 Introdução As formas farmacêuticas sólidas administradas por via oral são amplamente prescritas na prática médica. A manipulação, principalmente de cápsulas, permite a aquisição de medicamentos com um custo inferior aos medicamentos industrializados, além de dosagens personalizadas e a oportunidade de manipular medicamentos não existentes no mercado farmacêutico (AZEVEDO et al.2008; FEITOSA et al. 2006). O Brasil é um dos países que mais se destaca na produção de medicamentos, e nos últimos anos se tornou ainda mais competitivo como a introdução de medicamentos genéricos e manipulados. Com a expansão do setor magistral houve um aumento na necessidade de melhoria da sua qualidade. Enquanto em inúmeras atividades produtivas a garantia de qualidade e os controles de processo estão consolidados, neste segmento os avanços ocorrem mais devido às mudanças na legislação sanitária do que em função das forças do mercado. Para assegurar sua existência, a farmácia magistral necessita de um arsenal de procedimentos visando garantir a qualidade dos seus produtos (SILVA et al.; 2008). O termo “controle de qualidade” abrange todos os princípios que devem ser seguidos pelos fabricantes e autoridades governamentais para garantir a qualidade dos medicamentos. Dentre os objetivos do controle de qualidade está a obtenção de medicamentos cada vez melhores, mais eficazes e seguros, menos tóxicos e mais estáveis (SANTORO,1988; BRASIL, 2007). As farmácias de manipulação vem sendo criticadas sistematicamente por diversos setores, como a Anvisa, devido ao seu controle de qualidade inferior ao feito nos medicamentos em escala industrial, principalmente quanto ao estudo do produto final, que se tornam praticamente inviáveis, pois exigem equipamentos específicos e uma quantidade de produto que permita a realização de amostras representativas. A qualidade dos medicamentos manipulados dependem quase que estritamente do processo de produção, ao mencionar o controle de processo, a legislação determina que seja verificado os peso médio e o coeficiente de variação de todas as cápsulas produzidas pelas farmácias. (SILVA, et al. 2008; BRASIL, 2005). Para a manipulação de cápsulas é necessário o uso de insumos inertes e adjuvantes, utilizados no processo da produção para permitir que o fármaco exerça sua atividade terapêutica. No caso da formas farmacêuticas sólidas podem ser incorporados aos fármacos excipientes como: estabilizantes, corantes, flavorizantes, diluentes ou espessantes, aglutinantes, deslizantes, lubrificantes e desintegrantes. Todas essas classes são de extrema importância para a produção de formas farmacêuticas sólidas pois auxiliam na ação dos fármacos (ANSEL et al., 2000). O captopril na forma de cápsulas é amplamente produzido e comercializado em farmácias de manipulação e utilizado como anti- hipertensivo e vasodilatador na insuficiência cardíaca. (MARCATTO et al., 2006). Este medicamento trata-se de um inibidor da ECA, importante elemento na regulação, a curto e a longo prazo, da pressão sangüínea arterial. (VALENTINI, 2002). Os inibidores ECA impedem a formação de angiotensiona II, bloqueando o sistema renina-angiotensina (VALENTINI, 2002). Sua absorção ocorre no trato gastrintestinal, apresentando biodisponibilidade de 62-65%. A excreção é realizada predominantemente pelos rins, através da filtração glomerular e secreção tubular. Sua metabolização gera metabólitos inativos (SOARES, 2006). No presente trabalho foi realizado a manipulação e o controle de qualidade de cápsulas contendo o principio ativo captopril e diferentes excipientes, escolhido após avaliação de suas características e compatibilidade com captopril. Foram realizados os testes de dissolução, uniformidade de conteúdo, peso médio e doseamento, avaliando assim quais BERNARDES, Mariana Louise Peterson; MUELLER, André; GEBARA, Karimi Sater 17 Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775 formulações proporcionaram resultados mais satisfatórios quanto á qualidade das mesmas quando comparadas entre si, assegurando a eficácia e segurança dessas formulações quando comercializadas e utilizadas pela população. Material e Métodos para o desenvolvimento de cápsulas contendo captopril. As amostras foram comparadas entre si. Foram preparadas três formulações contendo captopril 25mg como demonstrado na tabela 1, na Farmácia Unigran do Centro Universitário da Grande Dourados, obedecendo as Boas Práticas de Manipulação. Foi realizado o levantamento de adjuvantes e excipientes farmacotécnicos Tabela 1- Formulações contendo captopril 25 mg. Formulação 1 Formulação 2 Bissulfito de sódio 0,1 % Bicarbonato de sódio 2% Estearato de magnésio 1% Estearato de magnésio 1% Manitol 30% Aerosil 1% Celulose microcristalina q.s.p Amido q.s.p 100% 100% Formulação 3 Aerosil 1% Amidoglicolato de sódio 4% Bissulfito de sódio 20% Amido 20% Celulose microcristalina q.s.p 100% Determinação de peso em formas farmacêuticas: Pesou-se individualmente 20 cápsulas e determinou-se o peso médio, desvio padrão e coeficiente de variação, limite de tolerância inferior e superior aceitável para as cápsulas. Dissolução: retirou-se uma alíquota do meio de dissolução, que estava a uma rotação de 50 rpm por 20 minutos. Mediu-se a absorbâncias em 212nm utilizando o mesmo solvente para o ajuste do zero. Calculou-se a quantidade de captopril dissolvida no meio, comparando as leituras obtidas com as da solução de captopril padrão na concentração de 0,0025%(p/V) preparada em ácido clorídrico 0,1M. O aparelho utilizado nesta técnica foi o dissolutor (Dissoludor Nova Ética; Modelo: 299/6; N° de Série: 10004/05) e as leituras foram realizadas no espectrofotômetro(Espectrofotômetro FEMTO; Modelo: 700S; N° de Série: 700S0402049). Uniformidade do conteúdo: pesou-se 10 cápsulas de cada preparação, após este pó foi transferido para um balão de 50 ml com água, e aguardou-se a total desintegração, adicionou-se mais 25 ml do solvente. Passou-se pelo ultrassom por 15 minutos e agitou-se mecanicamente por mais 15 minutos apos completou-se o volume com o mesmo solvente. Homogeneizou-se e filtrou. Diluiu-se, sucessivamente, com o mesmo solvente, até concentração de 0,002%(p\V). Preparou-se a solução padrão na mesma concentração, da mesma forma. Mediu-se a absorvância das soluções resultantes em 212nm, utilizando mistura de etanol e água para ajuste do zero. Calculou-se a quantidade de captopril em cada cápsula, a partir das leituras obtidas. Doseamento: foram pesadas 20 cápsulas de cada amostra. Em seguida foi pesado em um papel alumínio uma quantidade de pó equivalente a 25mg de captopril e transferiu-se quantitativamente para um balão volumétrico de 100mL contendo em seu interior cerca de 30mL de HCl 0,1, sendo agitado até completa dissolução. Completou-se o volume com HCl 0,1N e homogeneizou-se. Em seguida centrifugou-se (Centrifuga CELM; Modelo: Combate; Série: 2500) e posteriormente efetuou-se a leitura no espectrofotômetro no BERNARDES, Mariana Louise Peterson; MUELLER, André; GEBARA, Karimi Sater 18 Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775 mesmo comprimento de onda da solução de referência. Após levou o valor obtido para a curva padrão e verificou o valor da concentração encontrada na amostra, por fim, calculou-se o teor (%) de princípio ativo (AMARAL; VILELA, 2002). Resultados e Discussão De acordo com os valores obtidos no teste de peso médio todas as formulações estavam dentro dos padrões admitidos pela Farmacopéia Brasileira, ou seja, todas estavam de acordo com a variação admitida para cápsulas duras de peso inferior a 300 mg, que é de ± 10%, com coeficiente de variação ≤ 5%. Foi possível ainda observar que as maiores variações de pesos foram encontradas na formulação 2. Os resultados relativos à determinação do peso médio são apresentados na Tabela 2. Tabela 2: Valores de pesos médios para cápsulas contendo captopril 25 mg. Amostras Formulação 1 Formulação 2 Formulação 3 Peso médio 164, 70 148,2 173,40 Desvio Padrão 3,75 1,59 2,88 CV (%) 2,28 1,07 1,65 Limite inferior 148,23 133.38 156,39 Limite superior 181,17 163,02 190,74 Conforme SIM SIM SIM CV - Coeficiente de variação Para o teste de dissolução todas as amostras estavam de acordo com os padrões estabelecidos pela Farmacopeia Brasileira, que diz que em 20 minutos mais de 80% do medicamento deve ter sido dissolvido no meio ácido clorídrico 0,1 M como meio dissolução (37 ± 0,5 ºC), cesta como aparato, velocidade de agitação de 50 rpm e comprimento de onda igual a 212 nm. Os valores são apresentados na Figura 1. Figura 1- Porcentagem de fármaco liberado após 20 minutos de dissolução. Os valores obtidos no trabalho de Azevedo et al.(2008), realizados de acordo com a mesma tecnica obtiveram valores semelhantes para formulaçoes contendo BERNARDES, Mariana Louise Peterson; MUELLER, André; GEBARA, Karimi Sater 19 Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775 captopril 25 mg. Independentemente da condição empregada, verificou-se que os percentuais de cedência com quantificação espectrofotométrica foram superiores aos da cromatográfica. Com relação ao método de quantificação, a extensa e fácil utilização da espectrofotometria pode justificar o seu emprego, entretanto, este método não permite a determinação do dissulfeto de captopril, por esta razão os percentuais de cedência foram superiores a 100% e os perfis de dissolução apresentaram-se com maior variabilidade (AZEVEDO et al. 2008). Comparando as formulaçoes testadas foi possivel verificar diferenças significativas quando se analisava uma e outra. Sendo qua a formulação 1 foi a que apresentou maior percentagem de cedencia do farmaco, que pode ter sido ocasionada devido aos excipientes utilizados em sua formulação. A presença do amido que atua como diluente e desagregante presentes nas formulaçoes 1 e 3, tende a facilitar a dissolução (AZEVEDO, 2007). Para o teste de uniformidade de conteúdo todas as formulações foram aprovadas de acordo com os padrões da Farmacopéia Brasileira, que diz que o limite aceitável pra uniformidade de dose é entre 90 e 110%. Os valores são demonstrados na Figura 2. Figura 2- Gráfico demonstrando as concentrações da uniformidade de conteúdo das formulações contendo captopril. Administração de um medicamento com concentração de princípio ativo acima da concentração declarada na fórmula pode representar um sério risco de intoxicação para o paciente (LINSBINSKI et al. 2008). Os valores para uniformidade de conteúdo obtidos no trabalho de Linsbinski et al. (2008), foram semelhantes aos encontrados no presente trabalho demonstrando a eficácia da técnica utilizada. A celulose microcristalina presentes nas formulações 2 e 3, por sua partículas estarem na forma de granulados, fornecem melhor fluidez para o produto e BERNARDES, Mariana Louise Peterson; MUELLER, André; GEBARA, Karimi Sater 20 Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775 uniformidade de peso (BARACAT et al. 2001). No teste de doseamento todas as formulações ficaram dentro dos padrões estabelecidos pela Farmacopéia Brasileira, que é de 90 a 110%. Os valores são apresentados na Figura 3. Figura 3- Porcentagem de principio ativo contido nas formulações de captopril 25 mg, detectadas através da técnica de doseamento. Os valores do teste quando comparado ao realizado utilizando a titulometria como demonstrado no trabalho de Pasa, et al. (2008) foram semelhantes, demonstrando a confiabilidade dos resultados obtidos. Os resultados obtidos através da calorimetria exploratória diferencial não evidenciaram a ocorrência de interações entre o captopril e celulose microcristalina, e Aerosil®. Os resultados sugerem que estes excipientes podem ser utilizados em formulações contendo o fármaco. ( BAZZO ; SILVA. 2005). excipientes no preparo de formulações contendo captopril. A realização do controle de qualidade é indispensável para a garantia de medicamentos seguros e eficazes para a população. Conclusões AZEVEDO, R. C. P. et al. Desenvolvimento e validação do ensaio de dissolução para captopril em cápsulas magistrais por clae. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. vol. 44, abr./jun., 2008. Baseado nos testes de qualidade realizados nas formulações foi possível observar que as três formulações obtiveram resultados aceitáveis demonstrando uma qualidade adequada e validando o uso destes Referências Bibliográficas AMARAL, M. P. H.; VILELA, M. A. P. 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