CONSULTA DE ENFERMAGEM AO PORTADOR DE HANSENÍASE EM
HOSPITAL REFERÊNCIA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA - PB
Daniele de Souza Vieira1
Carla Cristina Pimentel da Mota2
Jaqueline de Oliveira Sousa3
Leiliane Teixeira Bento Fernandes4
Daiane Medeiros da Silva5
Eixo temático: Vulnerabilidade social
RESUMO
Introdução: A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, transmitida por vias aéreas
superiores e representa um importante problema de saúde pública, não somente pelo
grande número de pessoas que acomete, mas também pelas incapacidades advindas da
doença. Como integrante da equipe de saúde o enfermeiro exerce um papel importante
ao cuidar dos portadores de hanseníase na consulta de enfermagem, pois atua na
prevenção, controle e tratamento da doença e exerce a função de apoiador das questões
físicas, psicológicas e emocionais. Objetivo: Diante disso, esse estudo objetiva relatar
às experiências vivenciadas em um Hospital referência em doenças infectocontagiosas
na Paraíba, no tocante a assistência prestada ao portador de hanseníase durante
consultas de enfermagem. Metodologia: Trata-se de um relato da experiência
vivenciada por estudantes de Enfermagem durante aulas práticas de uma disciplina da
graduação em enfermagem da UFPB, realizado em maio de 2012, tendo como base a
observação de consultas de enfermagem a pacientes portadores de hanseníase em um
centro de referência situado no município de João Pessoa. Resultados: As consultas de
enfermagem consistem no diálogo e na escuta qualificada ao portador de hanseníase
como forma de torná-lo sujeito ativo no controle da doença. A mesma consiste na
anamnese do cliente, orientação e educação em saúde relacionada ao processo da
doença, fornecimento dos medicamentos, notificação do caso novo e elaboração da
evolução de enfermagem. Conclusão: A consulta de enfermagem é uma atividade
independente e tem como objetivo propiciar condições para melhorar a qualidade de
1
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]
3
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]
4
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]
5
Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]
2
vida do cliente, portanto esta precisa estar pautada no diálogo e na escuta qualificada.
Sabe-se que a não adesão ao tratamento é uma das principais causas de permanência da
doença, dessa forma o enfermeiro configura-se em um ator essencial para eliminação da
hanseníase no Brasil.
Palavras-chaves: Consulta e enfermagem; Hanseníase; Assistência integral a saúde.
INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa que representa um importante
problema de saúde pública, não somente pelo grande número de pessoas que acomete,
mas também pelas incapacidades advindas da doença. Sabe-se que o seu tempo de
incubação é longo, portanto trata-se de uma doença silenciosa que demora a ser
diagnosticada e tratada, resultando na longa proliferação dos bacilos e da
contaminação1.
Manifesta-se por lesões cutâneas e comprometimento dos nervos superficiais,
causando dores ou espessamento dos nervos periféricos, diminuição ou perda de
sensibilidade e/ou da força motora nas áreas com a inervação afetada2.
Em 2009, foram diagnosticados 36.884 casos novos confirmados no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação no Brasil. Contudo, as regiões do Brasil com
maior endemicidade são as regiões Norte, Centro-oeste e Nordeste3. Dado preocupante,
visto que, se percebe que a hanseníase ainda é no Brasil uma doença endêmica.
Esta patologia poderia ser considerada uma doença relativamente comum, caso
não acometesse os troncos neurais periféricos podendo causar incapacidades físicas e
não ocorressem surtos de agudização. Dessa forma, a hanseníase afeta a qualidade de
vida dos pacientes por prejudicar a vida diária e as relações interpessoais, causando
grande impacto social e psicológico.
Sabe-se que ela é uma doença antiga que acometeu muitas vítimas submetidas a
preconceito, pois eram mantidos isolados nos leprosários; e que sua forma de
transmissão é por vias aéreas superiores. Contudo, atualmente ela tem tratamento e cura,
e as vítimas de hanseníase são tratadas em casa, acompanhadas pelos profissionais da
equipe multiprofissional da Unidade de Saúde de Família (USF).
O tratamento da hanseníase baseia-se na poliquimioterapia (PQT), este é
fundamental para o seu controle e após semanas de tratamento interrompe a transmissão
da doença, quebrando a cadeia epidemiológica, e prevenindo incapacidades físicas 2.
Porém, apesar dos esforços pelos profissionais de saúde, a meta de eliminação para o
país ainda não foi atingida e um dos fatores para sua permanência são os casos não
diagnosticados, responsáveis pela manutenção de fontes de contágio na população4.
A Atenção Básica de Saúde (ABS) está cada vez mais acolhendo os portadores
desta patologia. Como a USF é composta por uma equipe mínima de saúde, e como o
tratamento para a hanseníase requer medidas que devem ser compartilhadas por todos os
profissionais de saúde, nada melhor do que cuidar do cliente neste âmbito.
Nesta perspectiva, a figura da enfermagem está sendo cada vez mais necessária
no acompanhamento de clientes portadores de hanseníase e na busca de diagnóstico de
casos na área que atua. É por meio da consulta de enfermagem que o enfermeiro pode
observar os sinais e sintomas da hanseníase e encaminhar os casos suspeitos para o
dermatologista ou requisitar exames para a confirmação, como também realizar o
acompanhamento do tratamento mensalmente, seja no Hospital ou na USF. Freitas5 expõe
que o enfermeiro é historicamente um profissional atuante na prevenção, controle e
tratamento da doença, configurando-se um ator essencial para eliminação da hanseníase
no Brasil.
A consulta de enfermagem é um momento de encontro e comunicação entre o
usuário e o profissional da saúde, tendo como foco a comunicação terapêutica e a
educação em saúde. Tendo em vista, que identifica e atende as necessidades de saúde do
cliente, como também oferece oportunidades de aprendizagem recíproca de forma a
construir um vínculo, regido por confiança e compromisso entre ambos. Principalmente
quando se trata de clientes acometidos por doenças infectocontagiosas, deve-se
prevalecer uma visão holística e humanizada do mesmo, partindo-se do fornecimento de
apoio no que diz respeito à questão física, psicológica e emocional6. Tendo em vista, que
a hanseníase é uma doença estigmatizante que acarreta transtornos físicos e psicológicos7.
Com base neste contexto, as ações realizadas na consulta de enfermagem são de
suma importância para o cliente portador de hanseníase, pois buscam melhorar as
condições de saúde, orientar e promover educação em saúde e evitar possíveis
agravamentos derivados da doença.
Portanto, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência vivenciada no
Complexo Hospitalar Dr. Clementino Fraga (CHCF) a partir da observação da
assistência prestada durante a consulta de enfermagem e inspeção e avaliação sensitiva
para prevenção de incapacidades.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de um estudo descritivo que relata a experiência
vivenciada por estudantes de Enfermagem no Hospital, com base na observação de
consultas de enfermagem após diagnóstico médico a pacientes portadores de hanseníase
no Complexo Hospitalar Dr. Clementino Fraga. Este é resultado da vivência no campo
teórico-prático da disciplina de Saúde do Adulto e do Idoso I pertencente à grade
curricular do curso de graduação em enfermagem na Universidade Federal da Paraíba. O
embasamento teórico utilizado neste manuscrito consiste em documentos online
hospedados na base de dados Scielo e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Para a pesquisa
foram utilizados os seguintes descritores: Consulta de enfermagem; Hanseníase;
Assistência integral a saúde.
RELATANDO A EXPERIENCIA
A experiência a ser relatada é resultado da observação de consultas de
enfermagem com clientes portadores de Hanseníase realizada no Complexo Hospitalar
Dr. Clementino Fraga, centro de referência na Paraíba em diagnóstico e tratamento de
doenças infectocontagiosas como: hanseníase, tuberculose, AIDS e outras DST’s.
A partir dessa experiência, tivemos oportunidade de assistir consultas realizadas
por enfermeiras do Hospital. Os clientes se consultavam com a enfermagem após a
confirmação do diagnóstico de hanseníase dado pela dermatologista do serviço, se
tratando da consulta do “Caso Novo”, ou mensalmente durante o tratamento para tomar
a dose diretamente observada dos fármacos neste caso, as consultas eram agendadas
previamente no mês anterior.
A primeira consulta ao cliente portador de hanseníase com a enfermagem,
consulta do “Caso Novo”, inicia-se pela anamnese do cliente, onde são recolhidas
informações pessoais do cliente, realizadas indagações a respeito do tempo em que
surgiram os primeiros sintomas da doença, bem como, qual a atitude tomada pelo
cliente ao descobrir que estava infectado pela enfermidade.
As enfermeiras perguntam aos clientes também a respeito dos sinais e sintomas
que os mesmos apresentam no momento e orientam como minimizá-los; questionam a
respeito do conhecimento que eles têm sobre a doença e fornecem informações
complementares sobre a forma de contágio, transmissão, tratamento e as consequências
do abandono do mesmo; educa sobre a realização do autocuidado como forma de evitar
agravos; orientam sobre a importância do acompanhamento dos “contatos” (pessoas do
convívio diário) na USF do seu bairro para que haja readministração da vacina BCG, caso
estes não tenham manifestações da patologia ou consulta a dermatologista nos casos que
apresentarem sintomatologia.
Posteriormente as enfermeiras passam a uma nova etapa que se refere ao
tratamento em específico. Nela, costumam explicar aos clientes sobre a doença, de acordo
com a sua forma clínica: Paucibacilar ou Multibacilar, de acordo com a classificação
operacional da hanseníase, e este diagnóstico é fornecido pela dermatologista. É a partir
deste diagnóstico que o cliente passa a utilizar o esquema adequado, ou seja, o Esquema
Paucibacilar (PB) ou Multibacilar (MB) que tem duração de 6 e 12 meses,
respectivamente.
Após confirmação do esquema as enfermeiras informam ao cliente os nomes dos
medicamentos, o tempo, a forma de utilizá-los e fornecem os medicamentos. O esquema
PB se trata do uso de Rifampicina mensalmente, diretamente observado, e Dapsona
diariamente, durante os 6 meses, enquanto que o esquema MB trata-se de uma
Poliquimioterapia (PQT) constituindo dos
antibióticos Rifampicina e Clofazimina,
usados mensalmente e diretamente observados, e Dapsona diariamente durante 12 meses.
Ao concluir a orientação referente à medicação e o seu uso, as enfermeiras
informam aos acometidos sobre os efeitos colaterais dos fármacos e que seu
acompanhamento se dará na USF do seu bairro, pela enfermeira responsável. Para os
clientes que moram no interior do Estado há a remarcação da consulta para o próximo
mês.
Por fim as enfermeiras preenchem uma ficha de notificação, retiram uma Xerox
da mesma para anexar no prontuário dos clientes no Hospital e notificam o caso novo ao
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Nesta mesma oportunidade
as enfermeiras encaminham, quando possível, os clientes para a consulta com a
fisioterapeuta para a Avaliação Simplificada das Funções Neurais e Complicações, como
forma de avaliar a capacidade sensitiva do portador, além de prescreverem o
encaminhamento para o cliente se cadastrar na USF do seu bairro e lá ser acompanhado e
receber a medicação mensalmente.
Quando se trata de acompanhamento mensal, as enfermeiras do serviço, indagam
aos clientes a respeito do surgimento de efeitos colaterais, se os mesmos estão realizando
o tratamento corretamente, se houve melhora nos sinais e sintomas e se há alguma
dúvida. Por fim, entregam a medicação suficiente para 28 dias. Há no Hospital muitos
clientes do interior do estado, então as enfermeiras buscam sempre associar as suas
remarcações com um dia que eles têm transporte para trazê-los, para assim evitar o atraso
da medicação.
DISCUTINDO A EXPERIENCIA
A consulta de enfermagem é um momento de encontro entre o indivíduo e o
profissional da saúde, por isso é um instrumento importante na assistência aos clientes.
Quando realizada de maneira correta, ou seja, por meio de escuta qualificada, ela pode
oferecer ao profissional a compreensão das condições de vida do doente, neste caso, o
portador de hanseníase.
É na primeira consulta de enfermagem, a consulta de "Caso Novo", que ocorre
todas as orientações sobre a hanseníase, seu tratamento e as formas de autocuidado.
Duarte8 relata que o tempo médio da consulta deveria variar de uma a duas horas,
dependendo de fatores como: idade, escolaridade, incapacidades instaladas e
necessidades manifestadas pelos clientes. As consultas de seguimento devem durar,
em média, 30 minutos.
As consultas de enfermagem precisam estar embasadas no diálogo com os clientes
e acompanhantes, pois através do diálogo a enfermagem escuta sobre o desabafo dos
pacientes sobre sua vida e enfermidades as quais estejam ou possam vir a ser acometidos,
além de ser possível compreender os seus comportamentos, podendo está intervindo para
modificar conhecimentos e hábitos equivocados dos mesmos, como também fornecer
apoio psicológico. E quando se trata da consulta com portadores de hanseníase, esta
escuta e posteriormente intervenção é bastante importante para a adesão ao tratamento da
doença. Nunes7 relata que pessoas acometidas pela hanseníase têm necessidade de expor
os seus sentimentos, de falar sobre a doença e relatar suas experiências com os
profissionais de saúde, na busca de amenizar seu sofrimento.
Com base neste contexto, a enfermagem deve valorizar o conhecimento dos
clientes sobre sua patologia, estimulando-o a responder suas indagações, lhes fornecendo
informações necessárias e verídicas sobre a doença, pois eles são os educadores e
orientadores da comunidade em que habitam. Mas, para isso o profissional de saúde deve
ter uma linguagem clara, facilitando a compreensão de informações por eles fornecidas.
Pois, “A linguagem técnica que em muitos casos se faz presente na relação entre os
profissionais e portadores da hanseníase vai de encontro às impossibilidades de apreensão
dessas informações pelos portadores”7.
Duarte2 deixa clara a “importância do esclarecimento dos pacientes quanto aos
vários aspectos da hanseníase, a fim de que compreenda as manifestações clínicas que
vivenciam e a importância da adesão ao tratamento”, além de estimular o autocuidado,
fundamental na prevenção de incapacidades e manutenção de sua saúde. O portador
precisa compreender a sua responsabilidade no tratamento e entender que ele é o sujeito
ativo deste processo e o profissional de saúde deve trabalhar de forma integrada com os
familiares para ampliar o cuidado.
Na consulta, após contemplar as etapas do processo relacionado a informações e
tratamento, o plano de cuidado passa a ser pautado no enfoque às atividades de
autocuidado, preconizadas pelo Ministério da Saúde (MS), onde o cliente necessita
fazer um pacto de responsabilidade pela sua efetividade. Contudo, é necessário
verificar o grau de acometimento da doença, para assim evitar ocorrências
ocasionadas pela perda de sensibilidade, como queimaduras, ressecamento da pele e
olhos, lesões, etc.
Ao orientar sobre o autocuidado o enfermeiro realiza a educação em saúde,
colocando o indivíduo como agente ativo no processo. Sabe-se que a educação para a
saúde é essencial para a prevenção de incapacidades. E no tocante aos portadores de
hanseníase, a educação fornece ao usuário conhecimento indispensável e mudanças de
atitudes pelo autocuidado para prevenir complicações e incapacidades2. O enfermeiro
é o mediador da realização da educação em saúde, e este tem como intuito fortalecer o
usuário e seus familiares para a compreensão, enfrentamento e convívio enquanto
durar o tratamento da hanseníase9.
Em relação ao diagnóstico da hanseníase, Nunes7 relata que é realizado
essencialmente nos serviços de ABS, por meio do exame dermatoneurológico, a partir de
sinais e sintomas da doença, identificado nos usuários da unidade. No entanto, o que
observamos em nossa experiência é que os profissionais de saúde das unidades quando
suspeitam de casos de hanseníase encaminham os clientes para o Hospital Referência do
município, para realizarem os exames dermatológicos e a baciloscopia, e assim
confirmarem o diagnóstico o que contribui para retardo do mesmo culminando em
possível agravamento de incapacidades.
CONCLUSÃO
Neste estudo, buscou-se relatar a experiência de estudantes de enfermagem ao
assistir a consulta de enfermagem aos portadores de hanseníase, conhecendo as ações da
assistência realizadas pelo enfermeiro, no controle da doença. Notamos que o não
diagnóstico da doença e a não adesão ao tratamento são as principais causas da
permanência da doença.
Nota-se que a consulta de enfermagem é uma atividade independente e tem
como objetivo propiciar condições para melhorar a qualidade de vida do cliente10, e esta
precisa está pautada no diálogo e na escuta qualificada. O enfermeiro é um verdadeiro
educador e orientador dos usuários e exerce um papel importante ao cuidar dos
portadores de hanseníase.
Dessa forma, todos os profissionais de saúde aos assistir clientes portadores de
hanseníase, devem ter um olhar especial sobre eles, e estes precisam estar capacitados
para melhor atender ao portador e seus familiares.
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