ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 A PRODUÇÃO TEXTUAL DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Anaísa Nantes de ARAÚJO (IC – UEMS/EMI Pa’ Chiquito Chiquito Pedro) Drª Elza Sabino da Silva BUENO (UEMS) O presente artigo tem por objetivo analisar os elementos de coesão textual (referencial, correferencial, seqüencial e outros) presentes nos textos escritos de alunos de 5ª e 8º séries do ensino fundamental de uma escola municipal de Dourados-MS. Verificará ainda as dificuldades enfrentadas pelos alunos no momento de redigir os seus textos. INTRODUÇÃO O texto é a mediação de que dispomos para manter viva, seja na escola ou fora dela – a troca de experiência, o trabalho de reflexão, a vontade de criar e a tentativa de comunicar informações e necessidades do dia a dia. Se o entendermos como a reflexão das experiências vividas, reconhecemos que, enquanto leitores, participamos diretamente desse trabalho de construção textual. Sendo o texto um mediador do saber, pode-se dizer que é um instrumento privilegiado, não tanto pelos conteúdos que oferece, mas porque traz uma lição metodológica, enquanto realiza um movimento contínuo de reflexão. Vale lembrar que para se redigir um texto, o escritor necessita de leitura, sem a qual não terá a percepção do seu conjunto significativo, pois a única maneira de chegar a tal percepção é lendo, refletindo e analisando diferentes tipos de textos. Partindo do princípio acima mencionado sobre a concepção de texto, enquanto assunto para reflexão, este trabalho pretende discutir e refletir sobre os processos de construção da escrita em alunos de 5ª e 8ª séries do ensino fundamental da Escola Municipal Maria Rosa A. S. Câmara, situada no município de Dourados – MS, acrescentando que o trabalho com a linguagem se constitui em um dos eixos básicos da educação, dada sua importância para a formação do sujeito leitor e para a interação com as outras pessoas da sociedade na construção de conhecimentos cognitivos. O motivo pelo qual foram escolhidos alunos de 5ª e 8ª séries do ensino-fundamental se dá pelo fato de serem séries em que há uma relação direta dos conteúdos com o desenvolvimento cognitivo do aluno. A 5ª é uma série de abertura do ensino-fundamental e a 8ª é a série de fechamento e início do ensino médio. Desse modo, é possível verificar aspectos de diferenciação na produção textual, já que cada série possui níveis distintos de conhecimento. Lembrando que na 5ª série, a atividade de produção incide sobre o texto narrativo, ou seja, os alunos estão mais habituados a escrever histórias, dadas as características da série. Já os alunos da 8ª série utilizam-se da tipologia dissertativa para produzir os seus textos. As temáticas desenvolvidas nos textos dos alunos dizem respeito à economia, política e sociedade. A problemática em foco é a argumentação. No entanto, as propostas dadas aos alunos, foram de textos narrativo e dissertativo. Trabalhar com texto supõe um cuidado especial com as etapas da leitura e com o modo de entendê-las. Os alunos, habituados aos subprodutos da cultura de consumo que não possibilitam o uso da imaginação criadora, criam hábitos perceptivos restritos e conservadores, induzindo à passividade, descartam trabalho que implique maior esforço e crítica para vencer dificuldades. Por outro lado, eles têm direito ao acesso a textos literários ou textos que lhe solicite atitudes, participação e envolvimento direto nas atividades desenvolvidas, seja na sala de aula ou fora dela. ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 Para uma melhor distribuição dos dados estudados, este trabalho está organizado em três partes. A primeira trata da importância da leitura para a formação do aluno, a segunda refere-se à fundamentação teórica, que consiste em apresentar as tipologias textuais utilizadas no ensino-aprendizagem. Na terceira analisaram-se as redações dos alunos e a apresentamos a discussão dos resultados. A conclusão e a bibliografia. A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO Sabedores do valor da leitura para o cidadão e para a sociedade; propomos uma reflexão sobre a sua prática, ciente de que ler um texto é determinar padrões de conhecimento para sua compreensão, assumindo-o como instrumento para conhecer o mundo que nos cerca. Vale ressaltar que a principal finalidade da leitura é manter relação com as suas diversas modalidades, lembrando que ela tem por objetivo adquirir conhecimentos, uma vez que a leitura pode ser casual e espontânea. As pessoas não estão habituadas a encarar a leitura como um processo abrangente, que envolve leitor/autor, não se empenha em entender e analisar o que lêem, neste sentido, vale lembrar que aprender a ler não é uma tarefa simples, pois exige uma postura crítica, sistemática, uma disciplina intelectual por parte do leitor, e esses requisitos básicos serão adquiridos por meio de práticas constantes de leitura, releitura, análise e interpretação de textos. Os livros, de modo geral, expressam a forma pela qual os autores vêem o mundo: para entendê-los é indispensável não só penetrar em seu conteúdo básico, mas também ter sensibilidade para identificar os vários níveis de significação, várias interpretações das idéias expostas e o contexto de época, em cada texto lido. Para penetrar no conteúdo, apreender as idéias expostas e a intencionalidade subjacente ao texto, é fundamental que o leitor estabeleça um “diálogo” com o autor, que se transforme em co-autor para reelaborar o texto e “reescrever o mundo”, como salienta Freire, 1984 (apud FÁVERO, 1997, p.22) “de alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente” Ao lado da renovação verificada no campo intelectual, evidenciam-se problemas particulares da sociedade que atingem a leitura, principalmente o referente que se convencionou chamar de “crise de leitura”. Esta denominação abarca dois grandes elencos de dificuldades: por um lado, a constatação das carências no campo da educação, incluindo-se as deficiências do processo de alfabetização nas escolas, por outro, a concorrência dos meios de comunicação de massa que afastam o público da matéria escrita e criam outros hábitos de consumo prejudiciais à relação do leitor com o social, cultural. Atribui-se à leitura um valor positivo absoluto: ela traria benefícios óbvios e indiscutíveis ao individuo e à sociedade – forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimento cultural, de ampliação das condições de convívio social e de interação verbal e comunicacional. Ler e escrever são práticas sociais básicas em todas as sociedades letradas, independentemente do tempo médio a elas dispendido e do contingente de pessoas que as praticam cotidianamente. Dentro desse contexto, vale lembrar que a criança já chega à escola trazendo uma linguagem internalizada. É o desempenho oral dessa linguagem que se manifesta com maior freqüência no início de sua escolarização, pois ela é iniciante na aquisição da linguagem escrita, portanto, neste período, em relação ao seu desempenho lingüístico, observa-se uma defasagem entre o domínio do código oral e do código escrito, haja vista que ela construirá o ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 seu conhecimento acerca da leitura e escrita, de maneira mais sistemática, na escola. Outro fator importante a mencionar aqui é que as experiências das pessoas com a leitura e a escrita variam muito conforme a classe social a que pertencem. Em certas famílias, a leitura e a escrita fazem parte da vida cotidiana: jornais, revistas são lidos e comentados, bilhetes e listas de compra são escritos, cheques são preenchidos, noutras não. Na maioria das famílias de classe menos privilegiada os atos de leitura e escrita são raros ou mesmo inexistem, seja porque as pessoas não aprenderam a ler, seja porque suas condições de vida e de trabalho não exigem o uso da língua escrita. Mesmo sendo menor este contato com a língua escrita, a criança percebe que as pessoas que estão a sua volta lêem e guiam-se pelos escritos. Como comenta Ferreiro (1993) “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, com a escola, mas um processo dos casos anteriores que a antecedem”. Para Vigotsky a “aprendizagem escolar tem um papel decisivo na conscientização da criança e de seus próprios processos mentais” (FREITAS, 1994, p.102). Sem dúvida, a escola tem um papel importante na transmissão do conhecimento histórico-cultural. Pela interação com os pares e com os professores, pelo exercício da linguagem oral e escrita, pelo conhecimento, pela possibilidade de transformação dos conceitos do cotidiano ou conceitos científicos, pela ampliação do meio; enfim, pelo cultivo e difusão das diferentes culturas existentes no seu meio social. Dessa forma, ocorrem particularidades no processo de construção da leitura e escrita por parte do aluno, que requer não só um tempo maior, como também persistência para seu desenvolvimento. Essas condições dizem respeito ao domínio de certos recursos lingüísticos e também de certos procedimentos de organização textual. A própria situação de produção requer um grau maior de atenção e de concentração, não só por envolver mais habilidade no domínio de suas regras, como também pela exigência e precisão na forma e no contexto da mensagem, dados pelo interlocutor. A escola é o espaço de interlocução em que a criança terá a oportunidade de interagir com uma diversidade de textos orais e escritos com tenham características lingüísticas particulares e que possam ser, em muitos aspectos, diferentes dos que fazem parte do seu cotidiano. A aprendizagem da linguagem escrita, embora tenha início fora da escola, encontra nela o lugar de sistematização e ampliação. No entanto, ler e escrever são processos distintos e complementares que exigem diferentes habilidades, competências, ações, que por sua vez, variam de acordo com cada tipo de texto e seu grau de complexidade. E é justamente a possibilidade de ler e produzir diferentes tipos de textos, que os tornará leitores e escritores competentes. A leitura e a escrita possuem múltiplos significados e valores na nossa cultura. Ler pode significar desde atribuir sentido até a simples decodificação. Podemos falar de leitura de mundo, de imagens, de símbolos, de palavras, de livros, entre outras. O mesmo acontece com a escrita: escreve-se o mundo, deixando registros que podem ter diferentes interpretações. Com essas informações o professor poderá desenvolver atividades que mostrem que a leitura e a escrita têm muitos significados e funções e que possibilitam novas descobertas, ampliam as possibilidades de pensar, de conhecer e de registrar o mundo. No dia-a-dia da sala de aula, o professor poderá mostrar que ler é uma das chaves para entrar em outros mundos: reais ou imaginários. Cabe à escola, portanto, ensinar o aluno a ler e escrever estendendo a modalidade oral da linguagem que a criança traz à escola, depois passar a patamar mais complexo que é a escrita. Essa oralidade deve ser estimulada e aprimorada, pois subsidiará para a aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita. 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 Podemos dizer que quase tudo o que se escreve e se lê é redação. Existem redações puras, como a narração, a descrição e a dissertação e redações híbridas, como a narrativodescritiva, a narrativo-dissertativa, a descritivo-dissertativa e a narrativo-descritivodissertativa. Numa redação pura há traços específicos que não se confundem com os de outras modalidades de redação. A narração é marcada pela temporalidade, a descrição pela espacialidade e a dissertação pela racionalidade. O narrador conta fatos que ocorrem no tempo: para tanto, ele não precisa pensar, recordar, imaginar ou ver. O descrevedor retrata entes localizados no espaço. Para isso não precisa pensar; basta sentir e perceber, principalmente ver. O dissertador expõe juízos estruturados racionalmente, necessita pensar e raciocinar. Podemos dizer que o processo narrativo apreende a ocorrência na sua dinâmica temporal. A estrutura descritiva suspende o tempo e capta o ente, na sua espacialidade atemporal. A trama dissertativa articula idéias, relaciona juízos, monta raciocínios e engendra teses. Segundo Castro (1997) narra-se o movimento do objeto. Descreve-se o objeto, em movimento ou em repouso. Disserta-se sobre o objeto ou o movimento dele. Na experiência do dia-a-dia dificilmente somos chamados a fazer narrações, descrições ou dissertações puras. Comumente, pedem-nos que façamos textos híbridos. Cabenos a escolha dos processos, das estruturas, das tramas e dos ângulos. Mais adiante tratamos das diferentes tipologias textuais, comumente, utilizadas no ensino-aprendizagem de línguas e na escritura de textos. 1.1 O TEXTO NARRATIVO Narrar é contar fatos que ocorreram com determinados personagens, em local e tempo definidos, é contar uma história real ou imaginária. Para contar essa história o narrador utiliza-se do foco narrativo que pode ser em 1ª pessoa (narrador-personagem) e/ ou 3ª pessoa (narrador-observador). As formas narrativas mais comumente conhecidas são o romance, a novela e o conto. Em todas elas há o desenvolvimento do enredo envolvendo personagens. No romance e na novela, o enredo é complexo, apresenta vários conflitos e personagens. O conto, por ser uma narrativa breve, apresenta apenas um conflito e poucas personagens. “Para que a narrativa tenha qualidade, o assunto deve ser relatado de forma original e despertar no leitor interesse pelo desenrolar da história. A linguagem precisa ser simples, clara e correta.” (CASTRO, 1997, p.13-14). Depois de escolher o tipo de narrador a ser utilizado, é necessário ainda conhecer os elementos básicos da narração, uma vez que todo texto narrativo conta um fato que se passa em determinado tempo e lugar. Por isso, podemos salientar que a narração só existe à medida que há uma ação praticada por diferentes personagens. Um fato, em geral, acontece por uma determinada causa, desenrola-se envolvendo certas circunstâncias que o caracterizam. É necessário mencionar o modo como tudo aconteceu, isto é, de que maneira o fato ocorreu, pois um acontecimento pode provocar conseqüências que devem ser observadas. Assim, os elementos básicos do texto narrativo são: o FATO (o que se vai narrar), o TEMPO (quando aconteceu), o LUGAR (onde se deu), as PERSONAGENS (quem participou ou observou), a CAUSA (motivo da ocorrência), MODO (como se deu e as CONSEQÜÊNCIAS. Uma vez conhecidos esses elementos, resta saber como organizá-los para elaborar uma narração coerente e coesa. Lembrando que, às vezes, narração e descrição podem caminhar lado a lado, como veremos a seguir. ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 1.2 O TEXTO DESCRITIVO O texto descritivo é aquele em que seqüênciam-se características (aspectos) de objetos e/ou imagens. Porém é raro encontrarmos um texto exclusivamente descritivo. Primeiro, porque o segmento descritivo aparece como expansão do texto narrativo; é como se a descrição nascesse dentro da narração. De fato, numa história se percebe o início da descrição, no momento em que o tempo é suspenso e o espaço deixa de ser fundo para se transformar em figura. Segundo, porque os redatores e escritores não produzem textos descritivos por encomenda. Se alguém faz descrição pura, de ponta a ponta, é técnico; mesmo assim “descrição pela descrição”. Ela aparece como parte de um relatório, de uma pesquisa, entre outras. Descreve-se um objeto. Uma imagem de objeto. De saída, fica claro que não se descreve acontecimento; este se narra ou se conta. Nem se descrevem idéias, muito menos juízo e raciocínio; sobre estes ou com estes, disserta-se. 1.3 O TEXTO DISSERTATIVO A dissertação é uma seqüência de juízos, é articulação de idéias e opiniões, é um conjunto de comentários a respeito de um determinado assunto próprio dos temas abstratos, dos problemas doutrinários, dos discursos jurídicos, das críticas, das teses, demonstra reflexões e uso acertado de conhecimentos, para a explicação e, não raro a sustentação de pontos de vista distintos. Mas, embora dissertação consista em uma demonstração de teses é possível distinguir nela três objetivos: Convencer, dar a conhecer ou explicar, discutir um assunto. Comumente, a dissertação apresenta três partes: introdução: em que se apresenta a idéia central; o ponto de vista sobre o assunto; desenvolvimento: é a fundamentação da idéia central, do ponto de vista a ser defendido. Na elaboração do desenvolvimento, é importante selecionar e ordenar aspectos do assunto para facilitar a organização das idéias. Formas de ordenação: enumeração, contraste, causa, conseqüência e exemplificação; e a conclusa é a idéia central e os aspectos tratados na fundamentação que são retomados, realizando-se uma síntese (CASTRO, 1997, p.144). Sua linguagem deve ser clara, objetiva e pessoal, predominando a modalidade padrão da língua portuguesa. A ordem da apresentação dos argumentos é indispensável para que se chegue à conclusão desejada, daí a necessidade de um plano: ordem, coesão e coerência entre as partes do desenvolvimento e entre a argumentação e exemplificação do texto escrito. 1.4. COESÃO TEXTUAL O texto é considerado uma unidade semântica em que os vários elementos de significação são materializados por meio de categorias lexicais, sintáticas, semânticas e estruturais. Neste sentido vale lembrar que a semântica e o processo por meio do qual utilizamos elementos formais do texto para fazer as ligações necessárias à construção de um contexto, é considerado também uma estratégia cognitiva. As estratégias cognitivas regem o comportamento do leitor e o ato de adquirir conhecimentos. O conjunto desses elementos que formam as ligações do texto é chamado de coesão. A coesão é a estrutura do texto-ligação, harmonia, associação. As ligações coesivas são: repetições, substituições, pronominalizações, uso de dêiticos, elementos estes internos ao texto e que permite fazer uma boa leitura. Halliday & Hasan, 1976 (apud FÁVERO, 1997) apresentam o conceito de coesão textual, como um conceito semântico que se refere às relações de sentido existentes no ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 interior do texto e que o definem como ele se organiza e se torna compreensível. Segundo os autores, “a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser decodificado a não ser por recurso ao outro”. (p.4) Para Beaugrande & Dressler, 1981 (apud FÁVERO, 1997), a coesão concerne ao modo como os componentes da superfície textual - isto é, as palavras e frases que compõem o texto – encontram-se conectadas entre si, por meio de dependências de ordem gramatical. Marcuschi, 1983 (apud FÁVERO, 1997) define os fatores de coesão como “aqueles que dão conta da estruturação da seqüência superficial do texto”, os mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos lingüísticos, relações de sentido. Tais afirmações levam à distinção entre coesão e coerência. Esta diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto. Trata-se, portanto, de um aspecto global, que afeta o texto como um todo, mas que também o transcende na medida em que envolve tanto os interlocutores como a própria situação comunicativa. A coesão, por sua vez, é o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos lingüísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido” (KOCH, 1989). Embora não garanta a obtenção da coerência, a coesão contribui para o seu estabelecimento, pois os elementos lingüísticos da superfície textual servem como “pistas” para que o leitor ative conhecimentos armazenados na memória e possa acompanhar e recompor o raciocínio lógico e comunicativo. 2. METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA 2.1 ESCOLHA DE TEXTOS ESCRITOS POR ALUNOS DE 5ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL Para a presente análise, partindo das considerações sobre produção textual em que optamos por trabalhar com textos escritos por alunos de 5ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal Maria Rosa A. S. Câmara, situada no município da grande Dourados – MS, por ser esta uma série em que se espera que o aluno já tenha adquirido conhecimentos básicos da estrutura lingüística da sua língua materna. Nesta fase do ensino-aprendizagem, os alunos já têm algumas noções de produção e interpretação textual, sabem que a narração contém respostas às questões: Quem? Quando? O quê? Onde? Como? Por quê? E que a seqüenciação dos acontecimentos corresponde à história narrada. Estão em contato com o estudo da sintaxe: concordância verbal, concordância nominal, regência; morfologia: adequação vocabular, conjugação verbal, formas de plural e feminino, emprego adequado de diferentes palavras, variação lingüística e fonologia: ortografia, acentuação e divisão silábica (GERALDI, 2000, p.75-7). Essas noções serão aprofundadas nas séries seguintes. 2.2 ESCOLHA DE TEXTOS ESCRITOS POR ALUNOS DE 8ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL. A escolha de textos de alunos de 5ª série do Ensino Fundamental se deu pelos motivos mencionados no item 2.1, a dos alunos de 8ª séries se deu porque, nesta fase do ensino, o ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 aluno já possui conhecimentos sólidos do sistema lingüístico de sua língua, conhecimentos de morfologia, sintaxe, semântica e do léxico de sua língua materna, lembrando que se trata de uma série de conclusão do ensino-fundamental e início do ensino médio, em que o aluno terá contatos freqüentes com diferentes textos para análise e interpretação. Nesta fase dos estudos os alunos já são capazes de produzir e interpretar textos de diferentes tipologias textuais: texto dissertativo, por exemplo, em que a problemática a ser desenvolvida é a argumentação, ou seja, é importante levar em conta a clareza, a objetividade e a fidelidade aos fatos. (GERALDI, 2000, p.79). 2.3 LEVANTAMENTO DOS TIPOS DE COESÃO TEXTUAL PRESENTES NOS TEXTOS DOS ALUNOS Nos textos produzidos foi possível detectar pelos três tipos de coesão textual: referencial, em que um componente da superfície textual faz referência a outro que já ocorreu. Para esta referência são empregados pronomes pessoais de 3ª pes. (retos/oblíquos), possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, numerais e outros. A coesão referencial pode ser obtida por substituição e por reiteração. A substituição consiste, para Halliday & Hasan, 1976 (apud FÁVERO, 1997), na colocação de um item em lugar de outro ou até mesmo, de uma oração inteira. Assim, é possível substituir uma palavra por um pronome, por um advérbio, ou por outra palavra que lhe seja semântica ou textualmente equivalente. Daí que o recurso coesivo da substituição se subdivide em substituição gramatical e lexical. A substituição de uma palavra por um pronome ou por um advérbio constitui o que vimos aqui chamando de substituição gramatical. É um recurso reiterativo, uma vez que promove a retomada de referências feitas em segmentos presentes no texto. Cria a continuidade necessária à coerência, no caso dos pronomes e à continuidade referencial. A substituição de uma unidade lexical por outra é, também, um recurso coesivo, em que se promove a ligação entre dois ou mais segmentos textuais. Implica o uso de uma palavra no lugar de outra equivalente (ANTUNES, 2005, p.86). Segundo Halliday & Hasan (1976, apud Antunes, 2005), no recurso coesivo da substituição inclui-se também a elipse como um tipo particular de substituição, também chamada de substituição por zero. A reiteração é repetição de expressões no texto. Dá-se pela repetição do mesmo item lexical, sinônimos, hiperônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma relação todo-parte, classe-elemento) e hipônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma relação parte-todo, elemento-classe), expressões nominais definidas (quando há retomadas (repetições) do mesmo fenômeno por formas diversas, esse tipo de reiteração baseia-se no conhecimento do mundo) e nomes genéricos (nomes gerais como “gente”, “pessoa”, “coisa”, “negócio”, “lugar”, “idéia”.) • Coesão recorrencial se dá quando há retomada de estruturas, itens ou sentenças. O fluxo informacional progride e tem por função levar adiante o discurso. Constitui um meio de articular a informação nova à velha. Não se deve confundir recorrência com reiteração. A recorrência tem por função, assinalar que a informação progride, já a reiteração tem por função assinalar que a informação já é conhecida e mantida. Constituem casos de coesão recorrencial: recorrência de termos, paralelismo, paráfrase, recursos fonológicos segmentais e supra-segmentais. • Coesão seqüencial: os mecanismos de coesão seqüencial são os que têm por função fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo informacional. Diferem dos de recorrência, por não haver neles retomada de itens, sentenças ou estruturas. Podem ocorrer por: seqüenciação temporal: para indicar o “tempo do mundo real”. Essa relação pode envolver tempo anterior, tempo posterior, simultâneo, habitua e tempo proporcional. ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 Pode ocorrer por conexão: recurso coesivo que se opera pelo uso dos conectores, que desempenha a função de promover a seqüenciação de diferentes porções do texto. A conexão difere-se dos demais tipos de coesão por envolver um tipo especifico de ligação e sob determinações sintáticas se efetuam por meio de conjunções, preposições e locuções conjuntivas e preposicionais além de advérbios e locuções adverbiais. Segundo Antunes (2005), as gramáticas costumam atribuir aos conectores, um sentido, a partir do qual se pode reconhecer o tipo de relação estabelecida (relação de causa, de tempo, de oposição, de adição, entre outras). O recurso da conexão sobressai quando se considera que os conectores não servem apenas para ‘ligar’, ou para ‘articular’ segmentos. O mais relevante é reconhecer que esses elementos também cumprem a função de indicar a orientação discursivo-argumentativa que o autor pretende emprestar a seu texto. Essas relações podem ser de causalidade, de condicionalidade, de temporalidade, de finalidade, de alternância, de conformidade, de complementação, de delimitação ou restrição, de adição, de oposição, de justificação ou explicação, de conclusão e de comparação. No item 3, trabalhamos a análise dos elementos de coesão presentes nos textos dos alunos. 3 - ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 3.1 ELEMENTOS DE COESÃO PRESENTES NOS TEXTOS DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Verificamos que muitos pesquisadores acreditam que o processo de aquisição da escrita tem início antes de a criança entrar na escola, porque mesmo inseridas em famílias que não produzem muitos momentos de leitura e escrita, elas já se deparam com a realidade da escrita. Partindo do princípio de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita na criança, recorremos à aplicação de atividades em dez alunos em pleno desenvolvendo desse processo, percebemos dados que são relevantes para conhecer o seu nível de aprendizado com relação à leitura e à interpretação textual, atividades primordiais a ser incentivadas por todos os profissionais envolvidos no processo de aprendizagem de língua, seja materna ou estrangeira. Para a presente pesquisa selecionamos textos de cinco alunos da 5ª e cinco da 8ª série do ensino fundamental. Os textos produzidos foram numerados de 5-1 a 5.5 para as da 5ª série e de 8.1 a 8.5 para as da 8ª série para pesquisar os elementos responsáveis pela textualidade. Ao ler e analisar os textos das redações, observamos que ao construí-lo os alunos não fizeram apenas uma soma ou seqüência de frases isoladas, mas se utilizaram de elementos para estabelecer a relação de coesão e coerência textuais, facilitando, dessa forma, a sua compreensão. Os alunos se utilizaram de diferentes elementos formais de textualidade para a formulação das relações coesivas e coerentes, como podemos verificar no trecho destacado: “Era uma vez um garoto chamado João, estava lendo um livro, quando de repente ele escutou um barulho alto, e um cheiro ruim.” (5-1) Verificam-se aqui importantes elementos coesivos como: “Era uma vez”, “estava”, “quando”, “ele” e “e”, que fazem parte da formação dessas relações coesivas e contribuem para a clareza e compreensão do texto. O que podemos apontar também em (8-1): “Num dia quando eu estava passando por uma rua, que era muito suja e deserta; havia uma casa com a porta aberta. Essa porta grande e assombrosa que parecia aquelas de filme de terror, então eu resolvi entrar para ver(...) ”. Elementos como: “Num dia”, “quando”, “que”, “e”, “aquelas”, ”então” e “para”, exemplificam a formação coerente do texto. e constituem a tessitura do texto, fenômeno importante que determina a coesão textual (KOCH, 1989, p.17). ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 REDAÇÃO DA 5ª SÉRIE Nº1 - 5-1 Era uma vez um garoto chamado João, estava lendo um livro, quando de repente ele escutou um barulho alto, e um cheiro ruim. Então ele foi lá na porta para ver o que estava acontecendo, uma enorme fumaça branca estava entrando dentro da casa. E o barulho eram duas pessoas que estava cortando árvores da floresta e o João estava falando para eles pararem de cortar árvores, eles não obedeceram e continuaram cortando árvores, e no final não tinha quase mais árvores. E o João ficou muito triste pela natureza. E o tempo passou. João plantou sementes de árvores novas, e o passar do tempo as sementes começaram a crescer e se desenvolverem bem. E o passar dos anos já eram árvores grandes, e fortes. João ficou homem crescido e virou um militar para cuidar das árvores novas e as que estão mais velhas e fracas, e para continuar plantando árvores e outros tipos de árvores frutíferas. Fim!!! REDAÇÃO DA 8ª SÉRIE N°1 - 8-1 “Um sonho que poderia ser realidade” Num dia quando eu estava passando por uma rua, que era muito suja e deserta; havia uma casa com a porta aberta. Essa porta grande e assombrosa que parecia aquelas de filme de terror, então eu resolvi entrar para ver o que tinha lá dentro. Fui dando um, dois, três passos bem devagar, quando eu ouvi: - Uai, uai socorro!!! Neste momento eu entrei para ver o que estava acontecendo, atrás dessa porta havia um laboratório cujo doutor era um louco chamado Lucas. Ele havia prendido um menino numa cadeira elétrica e estava dando choque neste menino. Nesse laboratório havia muita sujeira, tenha de aranha e muitos bichos era um lugar horrível. Eu resolvi me esconder para ver o que mais esse louco iria fazer, ele estava usando o menino para fazer uma esperiência. Quando ele ligou o aparelho para dar choque no menino eu gritei: - Ai, socorro. Pare com isso. Na hora ele parou e veio ver quem é que estava ali, Lucas me pegou eu e colocou no lugar do menino. E deu tanto choque que eu desmaiei, quando acordei estava num castelo me casando com um lindo príncipe. Mas isso era sonho, e quando acordei já era 6:50 estava atrasada para vir a escola, e agora estou aqui contando o meu sonho a você. Segundo Fávero (1997), as relações coesivas podem ser classificadas em: referencial, recorrencial e seqüencial. A coesão referencial pode ser por substituição ou reiteração. A coesão por substituição subdivide-se em gramatical e lexical. Para exemplificar a gramatical, citamos o trecho das redações 5-1 e 8.1 em que o autor se utilizou da repetição de vocábulos (árvores/meninos) para dar ênfase à veracidade dos fatos descritos: “Então ele foi lá na porta para ver o que estava acontecendo (...) e o João estava falando para eles pararem de cortar árvores, eles não obedeceram e continuaram cortando árvores, (...)” Neste caso temos “ele” (João), “eles” (duas pessoas), que substituem a referência dada anteriormente por pronomes. Para exemplificar a coesão por substituição, destacamos o trecho da redação 5.2: “Quando parou a chuva, eu continuei indo para minha casa. Derrepente, eu ouvi um barulho estranho (...), porque tirando aqueles barulhos esquisitos, também as luzes tinham se apagado.” em que ocorrem três pronomes: “minha”, “aqueles” e “se”, todos em substituição a ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 um determinado termo antecedente. Porém, vale lembrar que estes pronomes não têm o mesmo referente textual: o pronome minha retoma a referência feita a ele mesmo aqueles retoma a referência feita ao barulho e o pronome se que se refere às luzes que tinham se apagado. REDAÇÃO DA 5ª SÉRIE Nº2 - 5-2 A porta Numa noite chuvosa, Willian estava voltando da escola, derrepente eu decidi ir para de baixo de uma cobetura. Quando parou a chuva, eu continuei indo para minha casa. Derrepente, eu ouvi um barulho estranho perto de uma casa, e daí eu já fiquei apavorado, porque tirando aqueles barulhos esquisitos, também as luzes tinham se apagado. Então numa casa a porta estava se abrindo de trais daquela porta, saiu uma fumaça. Eu cheguei bem pertinho dela e pensei, se de trais daquela porta era um paraíso. Lá fui eu, entrei lá dentro, quando eu vi o que tinha lá dá vontade de correr já, era um simitério. Todos os mortos estava saindo de seus tumulo e estava vindo em minha direção. Eu sai que nenhum doido correndo, gritando. Eu sai fechei a porta e os mortos continuaram batendo. Só foi quando eu cheguei em casa que se senti aliviado. E nunca mais voltei lá naquela casa, e não passei mais poraquela rua. A substituição lexical implica no uso de uma palavra no lugar de outra que lhe seja equivalente. Substituir uma palavra por outra supõe um ato de interpretação, de análise, com o objetivo de se avaliar a adequação do termo substituído quanto ao que se pretende com relação ao sentido do texto. Em relação à repetição, a substituição oferece uma vantagem, que é aquela em que se podem acrescentar informações acerca de uma referência já introduzida anteriormente, como no exemplo a seguir: “neste momento eu entrei para ver o que estava acontecendo, atrás dessa porta havia um laboratório cujo doutor era um louco chamado Lucas. (...) Eu resolvi me esconder para ver o que mais esse louco iria fazer...” Observe na redação 8-1 acima, como a substituição do nome Lucas possibilita que se saiba mais acerca da pessoa em questão (o doutor, Lucas, esse louco) e deixa o texto mais informativo. Na classificação de Halliday & Hasan, 1976 (apud ANTUNES, 2005), a elipse aparece como um tipo particular de substituição, que os autores chamam de substituição por zero. Vimos o efeito coesivo de substituições pronominais, que promovem a articulação entre as partes diferentes do texto, possibilitando que se volte a uma mesma referência sem que seja necessário repetir literalmente o mesmo termo. A elipse vem ampliar essas possibilidades de retomadas, ou seja, às opções de retomar um segmento anterior pela repetição ou pela substituição de uma palavra ou de um segmento maior. Vejamos o trecho a seguir “todos viviam felizes, pois a bruxa que tomava conta daquele lugarejo foi presa em uma garafa mágica (...). Fui muito bem tratada, pois tudo que eu imaginava havia naquele lugar, fiquei o tempo todo sendo carregada (...).” retirado de 5-4, em que, o primeiro verbo ir tem como sujeito a expressão a bruxa, o segundo e o terceiro referem-se ela mesma, isto é, à narradora. Naturalmente à elipse se soma a ocorrência de outro recurso coesivo, que é o paralelismo, criado pelas formas verbais (foi, fui, fiquei). Percebe-se que a elipse permitiu a necessária reiteração do tema sem onerar o texto com repetições não-funcionais. REDAÇÃO DA 5ª SÉRIE Nº4 - 5-4 A porta dos sonhos ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 Certo dia eu sonhei que, eu avistava uma porta. As pessoas falavam que na porta havia coisas muito boas. Eu pensei muito, se eu entrava ou não entrava naquela porta. Um dia eu entrei na porta dos sonhos. Era uma cidadezinha linda, onde as casas tinham formatos estranhos... Em todas elas, havia jardins com flores gigantes... Uma maravilha! E, para me receber havia muitos duendes. Eles moravam em casas com formatos de chaleiras, botas, maças, aboboras, chocolate e etc. Todos viviam felizes, pois a bruxa que tomava conta daquele lugarejo foi presa em uma garrafa mágica por uma menina que todos diziam que parecia comigo. Fui muito bem tratada, pois tudo que eu imaginava havia naquele lugar, fiquei o tempo todo sendo carregada pelos duendes, que faziam a maior festa. Uma fada que cuidava daquele lugarzinho me deu um par de sapatos dansantes, que me levavam aonde eu quisece, e também me levaria de volta para a porta dos sonhos. Ai eu tive que ir daí me acordei com minha mãe me chamando para ir a escola. Como em 5.1 e 8.1, aqui também, a repetição (eu/me) é usada para enfatizar a veracidade atribuída aos fatos descritos, vejamos o trecho: “então fui entrando e aquela luz me cubrido quando me dei conta que já havia entrado olhei para traz a porta havia sumido então comecei a andar não havia nada quando olhei para baixo é meu chefe estava (...)”, da redação 8.2 em que as cadeias coesivas sinalizam a continuidade do texto e vão sendo formadas por diferentes recursos, entre eles a elipse. REDAÇÃO DA 8ª SÉRIE N°2 - 8-2 Em um mundo imaginário Um certo dia, estava indo para meu trabalho, como sempre pelo mesmo caminho, como sempre fui chegando lá reparei em minha sala que havia uma porta que era da despensa, mas dentro dela havia uma luz envolvente a porta estava entreaberta então fui entrando e aquela luz me cubrido quando me dei conta que já havia entrado olhei para traz a porta havia sumido então comecei a andar não havia nada quando olhei para baixo é meu chefe estava de frauda e chupeta mas o que é isso os funcionários dançando, gritando tudo fora do lugar então andei para frente, na escola os alunos ensinavam os professores então gritei fechei os olhos e abi de novo quando finalmente acordei no mundo em que eu vivia não no grande mundo imaginário em que sonhei. Na reiteração se tem a repetição que corresponde a todo e qualquer empenho por fazer reaparecer no texto algumas palavras ou seqüências ocorridas anteriormente. Por isso, a repetição constitui um recurso reiterativo, requisito exigido pela coerência. “Derrepente, eu ouvi um barulho estranho perto de uma casa, e daí eu fiquei apavorado, porque tirando aqueles barulhos esquisitos, também...” (5-2) Na dimensão da funcionalidade da repetição, podemos lembrar que, a repetição de palavras é um recurso inevitável dada a artificialidade de se atribuir sinônimos ou equivalentes. “Então numa casa a porta estava se abrindo de trais daquela porta, saiu uma fumaça. Eu cheguei bem pertinho dela e pensei, se de trais daquela porta era um paraíso.” (5-2) Na redação 5.1 há reiteração por hiperônimos e hipônimos, em que o primeiro elemento mantém com o segundo uma relação parte-todo, elemento-classe: “eles não obedeceram e continuaram cortando árvores, e no final não tinha quase mais árvores. E o João ficou muito triste pela natureza”. ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 A coesão recorrencial tem por função assinalar que a informação progride; neste trecho ressaltamos o paralelismo em que ocorre o uso de termos do mesmo campo lexical: “Fui dando um, dois, três passos bem devagar, quando eu ouvi: - uai, uai socorro!!! Neste momento(...)” (8-1) Neste caso podemos verificar nas palavras destacadas “uai, uai” o uso de termos dando ênfase, intensificação (DRESSLER, 1982, p.34-5, apud FÁVERO, 1997) aos fatos narrados. Os mecanismos de coesão seqüencial também têm por função fazer progredir o texto. Assim como os de recorrência, diferem-se por não haver neles retomada de itens, sentenças ou estruturas. Para Fávero (1997), a coesão seqüencial divide-se em seqüenciação temporal e por conexão. Antunes (2005) usa, em sua teoria, apenas a coesão por conexão, incluindo a seqüenciação temporal como sendo um recurso semântico nomeado como relação de temporalidade por conexão. “A conexão se efetua por meio de conjunções, preposições e locuções conjuntivas e preposicionais, bem como por meio de alguns advérbios e locuções adverbiais.” (p.140), como podemos verificar no trecho a seguir “um certo dia quando vi uma porta aberta fiquei muito curioso em conhecer do outro lado, então fui entrando quando eu tinha percebido estaria (...)” Neste trecho da redação 8-1 “Um certo dia” e “quando” marca a temporalidade no texto. Em 5-3: “Depois que eu entrei por essa porta a minha vida mudou para melhor (...). E quando eu passei por essa porta lá dentro era um sonho, (...)”. REDAÇÃO DA 5ª SÉRIE Nº3 - 5-3 Nesse quadro, estou vendo uma porta que vai para um mundo, bem tranqüilo e que lá a única coisa que você precisa é usar a imaginação. Depois que eu entrei por essa, porta a minha vida mudou para melhor e que aqui agente so basta usar a imaginação e o sonho e esquecer as coisas ruins, e pensar nas coisas boas. E quando eu passei por essa porta lá dentro era um sonho, a coisa mais linda que todo mundo precisa conhecer. E tambem, quando eu entrei pela porta lá dentro eu vivi coisas emosionantes, me diverti muito, experimente você tambem. Vocêes tambem deviam usar sua imaginação e seu sonho, você não estará perdendo nada. Segundo Fávero (1997) a seqüenciação por conexão pode ser estabelecida por relações de temporalidade, por relações de disjunção ou chamada de relação de alternância (ANTUNES, 2005), que pode ocorrer de duas maneiras: em primeiro lugar, sinalizada pelo ou exclusivo implica que os elementos em alternância se excluem mutuamente, como no exemplo 5-4: “Eu pensei muito, se eu entrava ou não entrava naquela porta”. Também em 8-4 temos: “E a nuvem significa algo relacionado com uma situação que não pode ser prevista e mudada, mas que não se sabe no que vai dar, se é uma boa ou ruim situação, (...)”. REDAÇÃO DA 8ª SÉRIE N°4 - 8-4 Além da porta. Na minha opinião a porta significa uma oportunidade que todos nós temos um dia ou até muitas vezes dependendo da pessoa da vida dela do meio em que ala vive e etc. E a nuvem significa algo relacionado com uma situação que não pode ser prevista e mudada, mas que não se sabe no que vai dar, se é uma boa ou ruim situação, por que as nuvens podem causar uma chuva que pode ser uma coisa boua ou uma coisa ruim e quase imprevisívelis. E os significado dos dois juntos é que isso é uma oportunidade inprevisível. A alternância também pode ser inclusiva, ou seja, por ela os elementos envolvidos não ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 se excluem; pelo contrário, se somam. Ocorre se o conteúdo de um dos segmentos ou de ambos for verdadeiro, diferentemente da alternância exclusiva. A relação de delimitação ou restrição se manifesta quando uma oração delimita ou restringe o conteúdo de outra. “Fui muito bem tratada,(...) fiquei o tempo todo sendo carregada pelos duendes, que faziam a maior festa.”(5-4) nesse exemplo os duendes a que o autor se refere não é todo e qualquer duende, mas apenas aqueles que a carregaram. “Uma fada que cuidava daquele lugarzinho(...)” (5-4) O mesmo observa-se neste outro exemplo: o que está em referência é apenas a fada que cuidava daquele lugarzinho. Essa relação é sinalizada pelo pronome relativo. Em 8-3: “(...) estava no meio de uma festa a fantasia com um som muito alto e com umas músicas que eu nunca tinha escutado (...).” Neste caso o pronome se restringe especificamente àquelas músicas referidas. A relação de complementação ocorre sempre que um segmento funciona como termo complementar de outro. Essa relação vem sinalizada por conectores como que, se, como. “(...) a parede começou a ficar preta e branca e num circulo, parecia que estava tudo rodando, passei por lá (...).” em que no exemplo na redação 5-5, o segmento destacado funciona como complemento do verbo da oração anterior. Também em 8-3: “Ele disse que era um monte de inscetos misturado”. A relação de adição - os conectores que expressam essa relação articulam termos, orações ou frases cujos conteúdos se adicionam: a verdade de um não inclui a verdade de outro. Como se pode ver neste exemplo em 5-3: “E também quando eu entrei pela porta lá dentro eu vivi (...).” Em 8-5: “Quando ela terminou de falar a perna dela começou a criar pelo e o cabelo caindo e cresceu dois chifres em cada peito, saiu um braço nas orelhas e os olhos ficaram vermelhos (...)” REDAÇÃO DA 5ª SÉRIE N°5 - 5-5 Mundo dos sonhos Um dia, eu passei pela porta quando de repente, a parede começou a ficar preta e branca e num circulo, parecia que estava tudo rodando, passei por lá, a parede ficou toda desenhada quando saiu um coelho leveu um susto ao ver aquele colho falando, me levou para comer um lanche. Quando guardas-de-baralho me pegou e me levou para o castelo. Quando uma bruxa que tinha o coração de pedra e quem conseguise quebrar esse coração de pedra ia voltar o amor p/ todos. A bruxa falou: - Levem para o calabolso, depois vou ver o que fazer com ela. No dia seguinte a bruxa mandou me pegarem, ainda bem que eu tinha fugido. Descobri que atras disso tudo quem fez o feitiço já estava morto e que para quebrar tinha que pegar um fio de cabelo da bruxa, consegui e acabei com o coração de pedra de todo mundo. E viveram felizes para sempre. REDAÇÃO DA 8ª SÉRIE N°3 - 8-3 Festa a fantasia Um certo dia quando vi uma porta aberta fiquei muito curioso em conhecer do outro lado, então fui entrando quando eu tinha percebido estava no meio de uma festa a fantasia com um som muito alto e com umas músicas que eu nunca tinha escutado e já arrumei uma fantasia de um estranho, ele me chamou para dançar e me ofereceu um copo de cerveja borbolhando e fumaçando quando bebi ele me perguntou: - A cerveja esta boa Com muito espanto: O que é isso? Ele disse que era um monte de inscetos misturados. Com nojo sai correndo de lá de dentro da festa e voltei para minha casa muito ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 assustado e minha mãe me pergunta: - Por que esta assustado. Nem respondi e fui tomar um banho e dormir. REDAÇÃO DA 8ª SÉRIE N°5 - 8-5 A imaginação Num certo dia, eu Alan, estava dando uma volta com a milha Ferrari, quando vi uma menina pedindo uma carona, parei ao lado e disse: - Você pode dar-me uma carona? Respodi que sim, ela entrou no carro e perguntei: - A onde você mora? - Moro no convento da cidade de Fátima do Sul. Quando ela terminou de falar a perna dela começou a criar pelo e o cabelo caindo e cresceu dois chifres em cada peito, saiu um braço nas orelhas e os olhos ficaram vermelhos e o nariz cresceu, mas ela me falou para eu não entrar naquela porta e apontando com o dedo no posto de gasolina e que tinha uma porta entre aberta com uma nuvem saindo dela. Eu fiquei corioso e entrei, quando vi um lugar lindo, gente de 4 perna com 5 braço, 3 olhos, cachorro brincando com gato, onde não a guerra e só paz. A relação de oposição se manifesta pelas expressões que, na gramática tradicional, são conhecidas como adversativas e concessivas. Temos na redação de número 8-4 o seguinte exemplo: “E a nuvem significa algo relacionado com uma situação que não pode ser prevista e mudada, mas que não se sabe no que vai dar (...).” A seqüenciação por conexão também pode estabelecer relação de justificação ou explicação, ocorre quando um segmento tem a finalidade de justificar, explicar ou esclarecer um outro segmento. Vejamos o exemplo a seguir em 5-2: “Derrepente, eu ouvi um barulho estranho perto de uma casa, e daí eu já fiquei apavorado, porque tirando aqueles barulhos esquisitos, também as luzes tinham se apagado”. Observar-se que, por meio do conector porque, o escritor justifica o fato de estar apavorado. No exemplo a seguir em 5-4, verifica-se o uso do conector pois que também justifica o segmento anterior, o porquê de todos viverem felizes: “todos viviam felizes, pois a bruxa que tomava conta daquele lugarejo foi presa em uma garafa mágica (...).” A relação de conclusão acontece sempre que, em um segmento, se expressa uma conclusão pelos conceitos expressos no segmento anterior. “(...) de repente ele escutou um barulho alto, e um cheiro ruim. Então ele foi lá na porta para ver o que estava acontecendo, (...).” (5-1). Em 8-3 temos: “(...) fiquei muito curioso em conhecer do outro lado, então fui entrando quando eu tinha percebido (...).” De acordo com as redações analisadas observamos uma relação de conexão, a relação de comparação que se dá quando, em segmentos distintos, pomos em confronto dois ou mais elementos com a finalidade de identificar semelhanças ou diferenças entre eles. Podemos ver no exemplo na redação 5-2: “Todos os mortos estava saindo de seus tumulo e estava vindo em minha direção. Eu sai que nenhum doido correndo, gritando.” em que “que nenhum” pode ser substituído pelo conector como, estabelecendo uma relação de comparação. Além dessas relações de conexão por seqüenciação, também há outras como causalidade, de condicionalidade, finalidade e conformidade, que não apareceram nas redações analisadas. As marcas dos nexos coesivos na superfície do texto não garantem por si só a necessária continuidade do texto. No entanto, essa mesma superfície tem uma clara função mediadora, que sobressai, assim, como pista, que orienta e que indica a trilha do sentido e das intenções pretendidos. ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 Segundo Antunes (2005), a compreensão desses recursos e dessas regras, sobretudo naquilo que se refere à escrita de textos, se apanha também na intimidade com textos escritos, na análise de como eles se organizam, o que põe em evidência a inter-relação entre leitura e escrita. É preciso “ver para crer”, no sentido de que é preciso ver nos textos escritos como as coisas acontecem nessa modalidade, para que tenhamos uma compreensão mais lúcida de seu funcionamento. A análise de textos escritos é, pois, fundamental, é como se abríssemos um motor para ver como as peças se conjugam e fazem a engrenagem funcionar. CONCLUSÃO A comunicação é um dos fatores básicos da existência humana. Ao homem foi dado o dom de se comunicar, de expressar seus pensamentos, emoções, opiniões por meio da palavra, seja falada ou escrita, pois como lembra (CASTRO, 1997) “ao contrário do que se pensa, a palavra escrita não é um dom de iluminados, é uma simples conseqüência do ato de pensar.” A forma e o conteúdo do texto dependem da “intenção” de quem escreve, do objetivo que se quer atingir; a própria escolha das palavras, na composição de um texto, é motivada pela “intenção”. Neste sentido o texto deve apresentar uma ligação lógica entre as palavras, orações, períodos, parágrafos; em que tudo gira em torno de uma idéia principal, utilizando devidamente os elementos coesivos. Com o propósito de aprimorar a linguagem escrita e desenvolver a capacidade de utilizar essa linguagem na produção de diferentes tipos de textos, o trabalho buscou apontar algumas características do processo de elaboração de textos por alunos de 5ª e 8 ª séries do Ensino Fundamental, visando verificar o uso de elementos básicos de coesão textual e verificar também que não só os bem dotados podem produzir bons textos, mas todos com algum esforço podem fazê-lo, uma vez que só se aprende a escrever escrevendo, transmitindo experiências, idéias, emoções; exteriorizando o que está armazenado no interior de cada um. Escrever deve ser um trabalho freqüente; se possível, diário. O importante é encontrar a melhor forma de se expressar, utilizando a linguagem escrita. Ao analisar os dados obtidos, constatamos que a diferenciação no uso dos elementos de coesão nos textos escritos é mínima, tendo em vista que as duas séries diferem no que se refere à organização e estruturação textual. É óbvio que o nível de aprendizado da 8ª série é mais avançado e que esses alunos já são capazes de produzir e interpretar textos de diferentes tipologias textuais (narrativo, descritivo, dissertativo). Vale ressaltar, porém, que de acordo com as análises feitas, algumas redações da 5ª série obtiveram um melhor uso dos elementos de coesão, na estruturação e organização dos textos do que alunos da 8ª série. Nesse contexto verifica-se, com base nas redações analisadas, que alguns alunos até demonstram ler e escrever com competência, mas o fazem porque puderam interagir com a leitura e a escrita nos seus lares privilegiados, com seus pais leitores, e cercados de livros, revistas, jornais. Os que não tiveram esse privilégio conhecendo, muitas vezes, a escrita apenas pelos livros didáticos, contaram com poucas oportunidades de desenvolver a sua criatividade, não porque estudaram nesta ou naquela escola, mas porque não lhes foi delimitado um objetivo claro para que pudessem ler e escrever, como forma de incentivá-los a ler não apenas para a escola, mas para toda a vida. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALMEIDA, João de. Textos em análise. São Paulo: Scortecce, 2001. ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005. ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007 CASTRO, Maria da Conceição. Redação básica. São Paulo: Saraiva, 1997. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerências textuais. São Paulo: Ática, 1997. ______& KOCK, Ingedore G. Villaça. Lingüística textual: introdução. 5 ed., São Paulo: Cortez, 2000. FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1993. FREITAS, M. T. Vigotsky e educação: um intertexto. São Paulo: Hucitec, 1994. GERALDI, João Wanderley. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2000. KOCH, Ingedore Villaça. A Coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989. ______& TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. São Paulo: Cortez, 1999. ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro. Leitura-perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 2002.