AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Resumo Este texto apresenta as estratégias de estudo e aprendizagem utilizadas por alunos, do nono ano ensino fundamental, em escolas de maior e menor IDEB. As informações foram coletadas mediante a aplicação de questionário (N=213), composto por situações hipotéticas relativas à memorização, elaboração e controle durante o estudo. As respostas dos alunos foram analisadas com o auxílio do software SPSS. Os resultados apontam que os alunos das escolas de maior IDEB mencionam mais estratégias de memorização e controle do estudo. Já na escola de menor IDEB a elaboração no estudo foi a alternativa de maior opção. Sugere‐se que esses achados se constituam em investigações de cunho observacional a fim de verificar como essas estratégias de estudo e aprendizagem vem sendo privilegiadas e desenvolvidas no cotidiano escolar. Palavras‐chave: Estratégias. Estudo. Aprendizagem. Alunos. Nono ano. Viviane Terezinha Koga Universidade Estadual de Ponta Grossa [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga Introdução As pesquisas realizadas na educação básica apontam para uma queixa dos professores frente à falta de interesse dos alunos e a sua omissão na realização de atividades escolares (PREDIGER, BERWANGER, MÖRS, 2009, TREVISOL, 2007; OLIVEIRA et al., 2004). De modo geral parece que os alunos, adotam atitudes passivas diante da aprendizagem esperando dos professores argumentos convincentes e aulas interessantes que possam motivá‐los a estudarem (ALVES‐MAZZOTTI, 2006). Essa postura se deve ao modelo de ensino baseado na transmissão de informações. O aprendizado pressupõe o protagonismo do aluno e “o conhecimento configura‐
se num organizador do diálogo entre quem aprende e quem ensina” (BARTALO, GUIMARAES, 2008, p. 2‐3). “Conhecer um objeto é atuar sobre ele para o transformar e transformar‐se. É a partir dessas transformações que nasce o conhecimento” (ROSSO; TAGLIEBER, 1992, p. 40). A crítica de Delval (1998, p. 160) destaca que “a escola se preocupa mais com os resultados do que com os procedimentos e as estratégias utilizadas pelos alunos para a resolução de problemas”. As atividades escolares, por sua vez, são encaradas pelos alunos como monótonas e incompreensíveis e a estratégia que predomina é a memorização dos conteúdos, sem articulação com os conhecimentos trazidos pelos alunos. Nesse sentido, percebe‐se que por mais que os professores afirmem ter o objetivo de desenvolver a capacidade de raciocínio dos seus alunos, na prática esses aspectos parecem ser pouco privilegiados (METTRAU; MATHIAS, 1998). Contudo, “encaminhar os alunos em direção à construção ativa de conhecimentos supõe uma sólida formação teórica, psicológica e pedagógica” [...] e “pressupõe que os próprios professores tenham praticado esta metodologia” (ROSSO; TAGLIEBER, 1992, p. 38). Como uma possível decorrência desse cenário, chama‐se a atenção para os alarmantes resultados da educação básica, expressos pelos sistemas de avaliação externa. Os relatórios do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) classificam os alunos brasileiros em níveis baixos de competências acadêmicas em leitura, matemática e ciências, quando comparados com os colegas dos demais países latino‐
americanos (WAISELFISZ, 2009; OCDE, 2000). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga Simultaneamente autores apontam que há uma relação positiva entre a utilização de estratégias de estudo e aprendizagem e um melhor desempenho acadêmico (BUSNELLO; JOU; SPERB, 2012). Os alunos que fazem uso dessas estratégias: a) têm menores dificuldades ao processar informações, de diversos campos do saber como português, matemática e ciências (BORUCHOVITCH, 2007); b) apresentam maiores facilidade ao regular os aspectos afetivo‐emocionais, sendo, portanto, menos ansiosos na execução de tarefas escolares (COSTA; BORUCHOVITCH, 2004); e, c) expõem um melhor desempenho acadêmico (RIBEIRO, 2003). Circulando entre esses pressupostos e detendo‐se principalmente no último, este texto busca relacionar as estratégias de estudo e aprendizagem, utilizadas espontaneamente pelos alunos, do nono ano do ensino fundamental, com o desempenho das suas escolas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Conhecer as estratégias de estudo dos alunos se constitui num passo de fundamental importância para: a) enriquecer a capacidade do processo de ensino‐aprendizagem; b) prevenir possíveis dificuldades de aprendizagem, e, c) avançar no desenvolvimento de uma teoria mais abrangente acerca do desempenho escolar (BORUCHOVICHT, 1999). As estratégias de estudo se caracterizam como métodos, técnicas ou ferramentas utilizadas pelos alunos. “Pressupõem uma sequência de atividades, operações ou planos orientados” a fim de adquirir um conhecimento de forma reflexiva (SANTOS; BORUCHOVICHT, 2011, p.287). Para Piaget (1975) a construção do conhecimento se dá por meio da consciência. O aprender é condicionado à ação do sujeito, o aluno aprende “por força das ações que ele mesmo pratica” (BECKER, 2003, p.14). O papel do aluno é o de ator do processo de construção de conhecimentos. Ele é quem traça metas, planos e objetivos de estudo e desenvolve estratégias. Seleciona, resume, sublinha as ideias principais de um texto, anota as palavras‐chave e lê em voz alta com o intuito de facilitar o processo de aquisição, armazenamento e utilização do conhecimento. A maioria das investigações sobre as estratégias de estudo e aprendizagem, originárias de países desenvolvidos, centra‐se em estudantes universitários. No entanto, nos últimos anos houve uma expansão dessas pesquisas, envolvendo os alunos da educação básica (SCHLIEPER, 2001; CRUVINEL; BORUCHOVITCH, 2004; COSTA; X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga BORUCHOVITCH, 2004; GOMES; BORUCHOVITCH, 2005; SERAFIM, 2009). Entre os achados, nota‐se que grande parte dos alunos não têm estratégias definidas de estudo e aprendizagem e que, por vezes, aqueles estudantes que as têm utilizam‐nas de forma inadequada, devido à ausência de conhecimentos mais estruturados sobre o tema (BORUCHOVITCH, 2010). Santos e Boruchovicht (2011, p. 287) chamam a atenção que não basta o aluno ter estratégias de estudo e aprendizagem, ele necessita saber como, quando e por que utilizá‐las. E ainda controlar a sua maior ou menor eficácia e modificá‐
las em função da tarefa. Diante da importância de conhecer as estratégias de estudo e aprendizagem utilizadas pelos alunos do ensino fundamental, o presente estudo tem como objetivo apresentar as estratégias de estudo e aprendizagem utilizadas por alunos, do nono ano, de escolas de maior e menor IDEB. A escolha pelo nono ano decorre desses estudantes participarem da Prova Brasil que entra na composição do IDEB e também por esses alunos, do nono ano, estarem próximos da faixa etária de 15 anos, a qual participa do PISA. Tem‐se como hipótese inicial que os alunos de escolas que se colocam de maneira diferente frente ao IDEB, têm estratégias de estudo distintas. As estratégias de estudo e aprendizagem avaliadas pelo PISA O processo de aprendizagem é inerente à vida humana. Possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades necessárias para a adaptação e transformação do meio (KLIMENKO; ALVAREZ, 2009). A todo o momento estamos aprendendo. Aprendemos a comer, a falar, a andar, e, ao chegar à escola, o aluno se depara com outro problema: aprender determinados conteúdos. Ao estudar determinadas matérias como português, matemática e ciências, que possuem diferentes características, o aluno deve‐se assumir como ator. Dito de outra forma é necessário que o aluno tenha um papel ativo no desenvolvimento de estratégias diferenciadas de estudo e aprendizagem. A escola, por vezes, parece não ser capaz de ensinar tudo aquilo que o aluno precisa saber ao longo da vida. Para que se tenham bons aprendizes, ao longo da vida, a escola deve ser capaz de: a) ensinar o aluno a aprender de forma organizada; b) desenvolver no aluno a capacidade de estudar de forma autorregulada; c) capacitar os X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga alunos para o aprendizado contínuo; e, d) desenvolver intervenções a fim de superar as dificuldades de aprendizagem. Rosso e Taglieber (1992) chamam a atenção para o fato de que na escola os alunos podem deixar de aprender determinados conteúdos considerados importantes, vindo a fazê‐lo mais tarde. Entretanto, “seria um prejuízo lastimável e irremediável se, ao passar pela escola o aluno não aprender a pensar e a construir conhecimentos” (p. 45). Aprender a pensar implica desenvolver a autonomia durante o aprendizado, bem como a capacidade de organização, gerência e decisão no estudo. A estratégia empregada para aprender um determinado conteúdo pode ser classificada em: cognitiva e metacognitiva. A primeira tem a ver com o processamento da informação, memorização, elaboração e organização, ou seja, ações concretas de codificação e retenção da nova informação. Já as estratégias metacognitivas, são aquelas mais abstratas, podem ser descritas como avanço cognitivo, no qual o aluno regula conscientemente e controla a própria aprendizagem (BORUCHOVITCH, 1993). Neste texto, serão discutidas três estratégias de estudo: a memorização, a elaboração e o controle. As duas primeiras se caracterizam como cognitivas e a terceira como metacognitiva. Essa opção se deve ao fato destas serem contempladas no PISA. A memorização caracteriza‐se pelo armazenamento da informação através da repetição. Essa estratégia faz com que a nova informação seja pouco processada. Ela “produz representações literais do conhecimento” e não é capaz de fazer com que o aluno alcance a compreensão necessária (OCDE, 2005, p. 142). Mesmo assim, ela é bastante utilizada para a extração de informações. O seu uso, ainda, é comum em matérias que exigem uma maior retenção e armazenamento de informações, como, por exemplo, as línguas estrangeiras. Contudo, há que se ressaltar que fatores externos, como a irritação com o professor ou mesmo com os colegas, e ainda alguns outros fatores próprios do conteúdo, como a semelhança entre duas disciplinas, podem refletir negativamente no processo de memorização. Assim, é preferível que matérias com estruturas semelhantes, como matemática e física, por exemplo, não sejam estudadas uma após a outra. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga Já a elaboração é uma estratégia que conduz a uma compreensão mais aprofundada e detalhada do conteúdo. A sua utilização permite que o aluno estabeleça conexões e consiga pensar em soluções alternativas (OCDE, 2005). Consiste no relacionamento de uma nova informação aos conhecimentos já adquiridos anteriormente. Por meio da elaboração é possível compreender novos conceitos e encontrar novos meios de chegar à resposta (OCDE, 2005). Durante muito tempo as investigações voltadas para o estudo e o aprendizado concentraram a sua atenção na cognição e na motivação dos alunos, como os principais determinantes do sucesso escolar. Após a década de 1970, os processos metacognitivos, introduzidos por Flavell e colaboradores, começaram a ganhar força. O termo metacognição é relativamente novo na literatura e ainda não possui uma definição consensual. Refere‐se ao conhecimento que o sujeito tem acerca dos seus próprios conhecimentos. Diz respeito à organização, a avaliação e a regulação dos processos cognitivos (RIBEIRO, 2003; JOU; SPERB, 2006). As estratégias metacognitivas têm a ver com o controle do estudo e do aprendizado. “Ao fazer uso da metacognição, o sujeito torna‐se um espectador de seus próprios modos de pensar e das estratégias que emprega para resolver problemas” (DAVIS et al, 2005, p. 211‐212). O controle não se caracteriza apenas como o conhecimento sobre a cognição, mais que isso ele “é entendido como uma fase de processamento de alto nível que é adquirido e desenvolvido pela experiência e pelo acumulo do conhecimento específico” (JOU; SPERB, 2006). Segundo Ribeiro (2003) reconhecer a dificuldade de uma atividade e ter consciência da não compreensão de determinados conteúdos é uma habilidade que diferencia alunos que têm bom desempenho escolar daqueles que não tem. Assim, “bons alunos são os mais aptos na regulação do seu progresso cognitivo” (RIBEIRO, 2003, p. 109). O controle constitui‐se, ainda, como um pré‐requisito para que o aluno aprenda ao longo da vida. “Assim, é suposto que a prática da metacognição conduz a uma melhoria da atividade cognitiva e motivacional e, portanto, a uma potencialização do processo de aprender” (RIBEIRO, 2003, p. 110). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga Procedimentos Metodológicos A presente pesquisa foi realizada em três escolas estaduais da cidade de Ponta Grossa‐ PR. Optou‐se por investigar essas escolas em virtude dos resultados alcançados por elas no IDEB, nos anos 2005, 2007 e 2009. As escolas A e B obtiveram resultados acima da média projetada para esse período, enquanto a escola C ficou abaixo dos resultados esperados. Esses três estabelecimentos de ensino compõem o universo de 43 escolas da rede estadual de Ponta Grossa‐ PR (PARANÁ, 2012). A amostragem, considerando a autorização expressa de divulgação das informações, foi de 213 alunos matriculados no nono ano do ensino fundamental. Destes 57,7% (N=123) são das escolas A e B e 42,3% (N=90) da escola C. Nas escolas A e B 65% dos alunos disseram já ter ficado para recuperação, enquanto na escola C apenas 50% dos alunos afirmaram o mesmo. No que se refere à reprovação observou‐se que apesar dos alunos, da escola C, afirmarem ficar menos para recuperação, 33% deles assinalou já ter reprovado. Em contrapartida, nas escolas A e B onde os alunos disseram ficar mais para recuperação, 27% assinalaram que já foram reprovados. Sobre o estudo, apurou‐se que nas escolas A e B apenas 3% dos alunos afirmaram que não estudam regularmente fora da escola, enquanto na escola C 23% dos alunos. Por fim, ao serem questionados a respeito do tempo médio que dedicam ao estudo semanalmente, observou‐se que os alunos das escolas A e B afirmam que estudam em média 3,13 horas, enquanto os alunos da escola C dizem estudar em média 2,17 horas. Como instrumento para a coleta das informações foi apresentado aos alunos, no ano de 2010, um questionário composto por 14 situações hipotéticas relativas a estratégias de estudo e aprendizagem, retiradas dos relatórios do PISA (OCDE, 2000). Em cada uma dessas frases os alunos deveriam assinalar se concordavam plenamente/ concordavam/ discordavam ou discordavam plenamente do fato proposto. As quatro primeiras frases diziam respeito à estratégia de memorização durante o estudo: (1) Repasso alguns pontos das matérias tantas vezes que sinto que posso respondê‐las dormindo. (2) Quando estudo as matérias, tento decorar as respostas dos exercícios. (3) Para lembrar o caminho para resolver uma questão, repasso os exemplos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga diversas vezes. (4) Para aprender os exercícios, tento lembrar‐me de cada etapa de um procedimento. As outras cinco frases eram referentes à elaboração durante o estudo: (1) Quando estou respondendo exercícios, muitas vezes penso em novas formas de chegar a sua resposta. (2) Imagino como a matéria que eu aprendi pode ser utilizada no dia‐a‐dia. (3) Tento compreender novos conceitos das matérias relacionando‐os a coisas que já sei. (4) Quando estou resolvendo um exercício, muitas vezes penso sobre como a solução pode ser aplicada a outras questões interessantes. (5) Quando aprendo uma disciplina, tento relacionar o trabalho a coisas que aprendi em outras matérias. E, ainda, as cinco últimas frases eram referentes à estratégia metacognitiva do controle durante o estudo: (1) Quando estudo para uma prova, tento determinar as partes mais importantes que devo aprender. (2) Quando estudo uma matéria, esforço‐me para verificar se me lembro do trabalho já realizado. (3) Quando estudo, tento identificar quais os conceitos que ainda não compreendi de maneira adequada. (4) Quando não consigo entender alguma, sempre procuro mais informações para esclarecer o problema. (5) Quando estudo uma matéria, começo determinando exatamente o que preciso aprender. Análise das informações coletadas Após a aplicação dos questionários foi elaborado um banco de dados, o qual contemplou as respostas dos alunos. Esse banco de dados foi analisado com o auxílio do software SPSS (Statistical Package for Social Sciences) que se caracteriza como um dos programas mais empregados na análise de dados estatísticos (BRUNI, 2009). A partir de uma abordagem quali‐quantitativa obteve‐se como resultado a tabela 1, na qual é apresentado um comparativo da porcentagem de alunos das escolas de menor e maior IDEB que disseram utilizar cada uma das estratégias de estudo e aprendizagem. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga TABELA 1: Estratégias de estudo Concordo Discordo Concordo Discordo X2 Plenamente Plenamente MEMORIZAÇÃO Repasso alguns pontos das matérias tantas vezes que sinto que posso respondê‐las dormindo Menor IDEB 3,3% 23,3% 53,3% 20,0% 4,248 Maior IDEB 8,9% 27,6% 42,3% 21,1% Quando estudo as matérias, tento decorar as respostas dos exercícios. Menor IDEB 16,7% 60,0% 15,6% 7,8% 5,577 Maior IDEB 24,4% 43,9% 22,8% 8,9% Para lembrar o caminho para resolver uma questão, repasso os exemplos diversas vezes. Menor IDEB 18,9% 50,0% 24,4% 6,7% Maior IDEB 23,6% 44,7% 26,8% 4,9% Para aprender os exercícios, tento lembrar‐me de cada etapa de um procedimento. Menor IDEB 41,1% 40,0% 15,6% 3,3% Maior IDEB 40,7% 44,7% 10,6% 4,1 ELABORAÇÃO 1,248 1,367 Quando estou respondendo exercícios, muitas vezes penso em novas formas de chegar a sua resposta. 1,010 Menor IDEB 24,4% 35,6% 25,6% 14,4% Maior IDEB 20,3% 33,3% 28,5% 17,9% Imagino como a matéria que eu aprendi pode ser utilizada no dia‐a‐dia. 11,860 Menor IDEB 32,2% 34,4% 24,4% 8,9% Maior IDEB 13,8% 45,5% 24,4% 16,3% Tento compreender novos conceitos das matérias relacionando‐os a coisas que já sei. 2,786 Menor IDEB 15,6% 40,0% 32,2% 12,2% Maior IDEB 19,5% 46,3% 26,8% 7,3% Quando estou resolvendo um exercício, muitas vezes penso sobre como a solução pode ser aplicada a outras questões interessantes. 4,513 Menor IDEB 13,3% 41,1% 26,7% 18,9% Maior IDEB 10,6% 48,8% 30,9% 9,8% Quando aprendo uma disciplina, tento relacionar o trabalho a coisas que aprendi em outras matérias. 2,860 Menor IDEB 11,1% 35,6% 32,2% 21,1% Maior IDEB 10,6% 34,1% 41,5% 13,8% CONTROLE Quando estudo para uma prova, tento determinar as partes mais importantes que devo aprender. 5,22 Menor IDEB 45,6% 36,7% 13,3% 4,4% Maior IDEB 54,5% 36,6% 4,9% 4,1% Quando estudo uma matéria, esforço‐me para verificar se me lembro do trabalho já realizado. 2,309 Menor IDEB 23,3% 61,1% 12,2% 3,3% Maior IDEB 31,7% 52,0% 13,8% 2,4% Quando estudo, tento identificar quais os conceitos que ainda não compreendi de maneira adequada. 1,633 Menor IDEB 31,1% 43,3% 22,2% 3,3 Maior IDEB 29,3% 48,0% 17,1% 5,7% Quando não consigo entender alguma, sempre procuro mais informações para esclarecer o problema. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
Menor IDEB Maior IDEB 35,6% 28,5% 38,9% 47,2% 16,7% 21,1% 8,9% 3,3% X Anped Sul
AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga 5,117 Quando estudo uma matéria, começo determinando exatamente o que preciso aprender. 9,001 Menor IDEB 21,1% 51,1% 21,1% 6,7% Maior IDEB 39,8% 39,0% 17,9% 3,3% Nota: Consideraram‐se como valores estatisticamente significativos aqueles que tiveram X² ≥ 3,84. Ao analisar a tabela 1, podem ser verificados valores estatísticamente significativos. Contudo, há que se ressaltar que, por vezes, a escolha dos alunos por uma dessas frases pode não corresponder ao que realmente eles fazem durante o estudo. A tabela 1 revela que na escola de menor IDEB os alunos resistem mais a memorização, eles buscam compreender o significado dos conteúdos que aprendem na escola. Já os alunos das escolas de maior IDEB concordam que, ao estudar, repassam alguns pontos da matéria tantas vezes que sentem que podem respondê‐los dormindo. Esses alunos armazenam as informações por meio da repetição, aprendem de forma mecânica, e não buscam, por conseguinte, uma construção cognitiva acerca dos conteúdos estudados. Os relatórios do PISA evidenciam que os alunos brasileiros utilizam bastante a memorização no estudo. Entretanto, a simples memorização dos conteúdos é preocupante na medida em que as novas informações serão pouco processadas. Para Cantelli (2000), isso é fruto de um ensino baseado na mera transmissão de conteúdos desinteressantes e incompreensíveis. Contudo, esta estratégia de estudo é eficaz para o desempenho em avaliações e para que esses alunos sejam aprovados na escola, pois ao mesmo tempo em que eles afirmam memorizar, há uma porcentagem maior de alunos aprovados em relação aqueles da escola de menor IDEB. Quanto à elaboração observa‐se que ela é mais presente nas escolas de menor IDEB. Segundo Delval (1998, p. 159), a elaboração durante o estudo “pressupõe uma reconstrução”. Os alunos da escola de menor IDEB conseguem relacionar as novas informações aos conhecimentos adquiridos anteriormente, eles buscam compreender os novos conceitos e procuram novas formas de chegar à resposta (OCDE, 2005). Parece haver um esforço desses alunos na medida em que eles tentam estabelecer ligações entre o conteúdo do estudo e o seu cotidiano. Em outras palavras, os alunos da escola de menor IDEB procuram compreender, de forma mais aprofundada e X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga detalhada, o significado do que aprendem na escola. Eles são capazes de estabelecer conexões com outras informações e apresentam maior facilidade para pensar em soluções alternativas (OCDE, 2005). A elaboração no estudo pode ser motivada pelas ideologias referente ao estudo como também pelas questões socioeconômicas nas quais esses sujeitos estão imersos. Os alunos das escolas de menor IDEB vivem em uma região mais desprovida economicamente. Ao representarem o estudo esses alunos expõem atitudes positivas e expressam uma percepção utilitarista, na qual o estudo é visto como importante para conseguir um emprego no futuro, ou seja, é representado como uma forma de ascensão social. Estudar para os alunos das escolas de menor IDEB significa ter melhores condições de vida. Assim ao refletir sobre a materialidade do estudo, esses alunos se dedicam mais a ele e buscam compreender o significado daquilo que estudam em virtude do que almejam conseguir por meio dele (KOGA, 2012). A elaboração também pode ter relação com o método utilizado pelos professores ao ensinar os conteúdos na escola. No entanto, por vezes os docentes, não dão a devida atenção para isso e acabam automatizando os mecanismos de resolução de problemas (DELVAL, 1998; RIBEIRO, 2003). Por fim, no que se refere à estratégia de controle, nota‐se que ela se fez mais presente entre os alunos das escolas de maior IDEB. Isso nos dá indicativos de que eles compreendem o porquê das tarefas e conseguem planejar a aplicação das mesmas. Ao estudar esses alunos utilizam e alteram de forma consciente as estratégias de estudo (RIBEIRO, 2003). Na medida em que concordam com a frase de que começam determinando exatamente o que precisam aprender, os alunos das escolas de maior IDEB reconhecem que quando estudam vão direto ao ponto. Eles conseguem organizar, avaliar e regular os seus processos cognitivos. Contudo, o controle no estudo pode ter relação com o maior acompanhamento do processo de estudo e aprendizagem no ambiente escolar e familiar dos alunos das escolas de maior IDEB. Esses alunos representam o estudo a partir de uma percepção negativa, eles expressam em suas falas situações de cobrança sofridas durante o estudo, “a mãe manda estudar”, “a professora manda estudar”, eu “devo estudar” (KOGA, 2012). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga Isso nos faz pensar que, por vezes, os alunos das escolas de maior IDEB adotam estratégias de controle estudo não pelo desenvolvimento cognitivo acerca dessa estratégia, mas devido ao que lhes é exigido em relação ao estudo no âmbito em que eles se encontram. Contudo, o controle no estudo favorece uma menor reprovação dos alunos nessas escolas, além de ser um pré‐requisito para que eles aprendam ao longo da vida, visto que ao sair da escola necessitarão administrar o seu aprendizado por conta própria e de forma autônoma. Considerações finais Na presente investigação, assumiu‐se o propósito de identificar as estratégias de estudo e aprendizagem utilizadas por alunos, do nono ano, de escolas de maior e menor IDEB. Para tanto, foi realizado um estudo exploratório, pautado em uma abordagem quali‐quantitativa, tendo no software SPSS um auxílio para a análise dos dados. A hipótese inicial considerou que a disparidade das escolas no IDEB poderia indicar diferentes estratégias de estudo e aprendizagem. Por isso a pesquisa confrontou as respostas dos alunos em escolas de maior e de menor IDEB. Os achados deste estudo possibilitaram comprovar tal hipótese, na medida em que os alunos, das escolas de maior e menor IDEB, expõem a utilização de diferentes estratégias de estudo e aprendizagem. Os alunos das escolas de maior IDEB apontam mais para a memorização durante o estudo. Há indícios, portanto, de que nessas escolas são priorizadas uma maior retenção e armazenamento dos conteúdos, fato esse que, por um lado, pode significar um melhor desempenho em avaliações externas, mas, por outro, não contribui para uma aprendizagem significativa dos conteúdos. No que concerne à estratégia de elaboração, constatou‐se que os alunos da escola de menor IDEB afirmam que conseguem relacionar melhor uma nova informação aos conhecimentos adquiridos anteriormente. A utilização dessa estratégia pode ser decorrente de uma maior idealização do estudo como sendo importante para conseguir um emprego no futuro. No que diz respeito ao controle no estudo, verificou‐se que os alunos, das escolas de maior IDEB, afirmam ter conhecimentos sobre como agir ao estudar um X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga conteúdo. Eles concordam que ao estudar determinam exatamente o que precisam aprender, reconhecem as dificuldades de compreender determinadas atividades e ainda garantem ter consciência da não compreensão de determinados conteúdos. É possível que, nas escolas de maior IDEB, os alunos tenham um maior controle e administrem mais o estudo, em virtude de existirem nessas escolas e nas famílias desses alunos maiores mecanismos de cobrança. Assim, devido à maior exigência esses alunos adotam a estratégia de controle do estudo, mas não necessariamente têm um desenvolvimento cognitivo acerca dessa estratégia. Ao chegar próximo da conclusão deste texto cabe ressaltar que o mesmo, verificou apenas o relato do uso de estratégias de estudo e aprendizagem por parte dos alunos e não a sua utilização efetiva. Nesse sentido, destaca‐se a importância e a necessidade de desenvolver pesquisas de cunho observacional a fim de verificar como essas estratégias vêm sendo privilegiadas e desenvolvidas no cotidiano escolar. De acordo com Davis et al. (2005) “o problema da escola é que se tende a supor, nela, que os alunos já são capazes de operar cognitivamente”. Assim, os docentes se sentem liberados da tarefa de ensinar a pensar, preocupando‐se, quase que exclusivamente, em veicular as informações. Contudo, o trabalho do professor não deve se limitar à transmissão de conhecimentos. Em qualquer nível de ensino, o docente precisa incentivar os seus alunos para que eles desenvolvam e utilizem diferentes estratégias de estudo e aprendizagem. Piaget (1975) alerta que o professor precisa criar situações que facilitem a invenção do aluno, pois assim ele se tornará mais autônomo e terá mais vontade de estudar ao tomar consciência da sua própria capacidade (BARTH, 1987; MORAIS; VALENTE, 1991). “O aluno tem que aprender o aprender, cabe ao professor ensinar isso, deixando‐o aprender” (BECKER, 2003, p. 16). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS EM ESCOLAS DE MAIOR E MENOR IDEB. Viviane Terezinha Koga Referências ALVES MAZZOTTI, A. J. O “aluno da escola pública”: o que dizem as professoras. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 217, p. 349‐359, set./dez. 2006. BARTALO, L.; GUIMARÃES, S. E. R. Estratégias de estudo e aprendizagem de alunos universitários: um estudo exploratório. Informação & Informação, Londrina, v.13, n.2, p.1‐
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