ID: 62157653
05-12-2015
Tiragem: 33074
Pág: 10
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 10,54 x 30,26 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Mais de 100 clínicos
ficaram sem
vaga para fazer
especialidade
Saúde
Romana Borja-Santos
Ordem e estudantes de
Medicina temem “geração
de indiferenciados”. Muitos
dos médicos só podem
voltar a concorrer em 2017
Dos cerca de 1700 internos de Medicina que podiam candidatar-se ao
concurso nacional de acesso a uma
especialidade, cujo prazo terminou
ontem, mais de 100 ficaram de fora
por já não existirem vagas. O alerta
já tinha sido dado antes, tanto pela
Ordem dos Médicos (OM) como pela
Associação Nacional de Estudantes
de Medicina, que estão preocupadas
com a criação de uma “geração de
indiferenciados”. Além disso, insistem que o concurso decorreu com
“irregularidades”, como as vagas não
terem sido devidamente publicitadas no tempo previsto na lei, com
algumas alterações introduzidas já
no segundo dia de concurso.
Em resposta ao PÚBLICO, a Associação Central do Sistema de Saúde
(ACSS) lembra que é a própria Ordem
que define as vagas consoante a capacidade das instituições e diz que
inicialmente existiriam apenas cerca de 1300, valor que cresceu após
contacto com as unidades e com
a Ordem. A ACSS justifica assim o
atraso da lista final, dizendo que foi
a própria Ordem a entregar a actualização só a 23 de Novembro, e nega
erros na colocação de candidatos.
Contudo, segundo a OM, as 1569 vagas foram ocupadas antes do último
dia do concurso que arrancou a 23
de Novembro. “No momento em que
os jovens médicos, que estiveram envolvidos na escolha da especialidade,
foram tratados de forma indigna e
Estudantes exigem medidas
abusiva por parte da ACSS, é profundamente lamentável que 113 médicos
não tenham tido a possibilidade de
continuar a sua formação específica, ao não terem tido acesso a uma
especialidade”, reagiu o presidente
do Conselho Regional do Norte da
Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, em comunicado.
Logo no arranque do concurso, o
responsável tinha referido ao PÚBLICO que havia o risco de várias pessoas ficarem de fora, mas, sobretudo,
criticou a ACSS pela forma como
conduziu o processo em cima da hora. “Não é aceitável a existência de
médicos indiferenciados, nem para
a qualidade da Medicina nem para
os doentes”, insistiu Miguel Guimarães. “Os jovens médicos prejudicados têm o direito a exigir perante os
ministérios da Educação e da Saúde,
o acesso a formação médica especializada, dadas as expectativas criadas
perante a sociedade civil, ao fixarem
o numerus clausus, num número demasiado elevado para as nossas reais
capacidades formativas”, afirmou.
O mapa completo das especialidades disponíveis deveria ter sido publicado em Diário da República com
dez dias de antecedência para que
os interessados pudessem analisar
os lugares nas várias zonas do país.
Mas o concurso arrancou apenas 48
horas depois de a ACSS ter finalmente publicado online as listas — com
algumas alterações posteriores. No
primeiro dia, houve mesmo problemas com a plataforma informática,
o que obrigou alguns médicos a preencherem manualmente a inscrição
— com a Ordem a denunciar o risco
de erro deste procedimento.
Também o presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) lamentou ao PÚBLICO
que o concurso tenha avançado nos
actuais moldes e que não se tenha
ainda repensado o número de vagas
de acesso a Medicina. Alberto Abreu
da Silva alertou que há duas possibilidades, defendendo que ambas são
negativas: “Os médicos sem acesso
a especialidade terão de ficar a trabalhar como tarefeiros em Urgências
até poderem concorrer de novo ou
emigram”.
Segundo o responsável da ANEM,
há um novo concurso em Junho do
próximo ano, mas, como a maior parte dos candidatos não fez o exame de
Novembro, estão impedidos de concorrer e só voltam a ter uma oportunidade em Junho de 2017. Além disso, tanto a Ordem dos Médicos como
a ANEM avisam que este problema
será recorrente nos próximos anos.
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Mais de 100 clínicos ficaram sem vaga para fazer especialidade