695 ESTUDO DA COMPOSIÇÃO DO AEROSSOL ATMOSFÉRICO DE PONTE NOVA Odair Alonso e Maria de Fátima Andrade Depart. de Meteorologia-IAG-USP Caixa Postal 30627 São Paulo INTRODUÇÃO Neste trabalho, dentro do Experimento Meteorológico 111 do projeto Radasp lI, procuramos caracterizar o aerossol atmosférico(AA) de Salesópolis e identificar e quantificar suas fontes através da utilização do modelo receptor MBM (Modelo de Balanço de Massa). MÉTODOS DE AMOSTRAGEM E ANÁLISE Para coletar o aerossol utilizou-se amostrador de particulado fino e grosso (AFG) que é um aparelho de filtragem que utiliza dois filtros em sequência de tal forma que o primeiro, com furos de 8um, retém o particulado de diâmetro aerodinâmico superior a 2.5um. O segundo filtro da sequência tem furos de 0.4um e retém particulado inferior a 2.5um. Uma estrutura chamada "inlet" é sobreposta ao amostrador AFG para impedir a entrada de particulado superior a 15um, que são os inaláveis pelo organismo. A soma do material particulado fino (MPF) com o material particulado grosso (MPG) denomina-se material particulado inalável (MPI). A amostragem consistia em um sistema de coleta com dois AFGs, sendo um para cada direção (norte ou sul). As bombas de aspiração estavam ligadas a válvulas solenóides acionadas quando um anemêmetro apontava a direção adequada (norte ou sul) e os 3 amostradores eram trocados quando um total de 20m de ar eram coletados. Os amostradores foram montados a 3. 5m do solo numa fazenda do DAEE no cinturão verde de S.P. a aproximadamente 50Km a leste do centro de São Paulo , aproximadamente 30Km do oceano e pouco mais de 800m de altitude.Havia uma fábrica de papel (uma das maiores da América do Sul) a 18 Km a NW e uma siderúgica a 20Km W em região escarpada e com bastante vegetação. As amostragens foram realizadas de 12/02/89 a 20/02/89 resultando na coleta de 5 amostras correspondentes a direção N e 3 amostras de S tanto para o MPG quanto para o MPF. 696 Os filtros foram submetidos a Análise Gravimétrica e Análise PIXE (Particle Induced X-Ray Emission). A análise Gravimétrica constituiu-se na pesagem dos filtros antes e após a coleta onde, por diferença, determina-se a massa amostrada. Os filtros foram submetidos a Análise PIXE (Tabacniks, 1983) pãra determinação de seus elementos-traços constituintes. RESULTADOS I.Análise Gravimétrica Na tabela I temos a concentração por cada filtro coletado. TABELA 1 Identificação e concentração em ug/m 3 das amostras coletadas, para a Matéria Particulada Fina, Grossa e Inalável. AFG DIR INÍCIO PN02 N 12/02 PN03 N 14/02 PN05 N 17/02 PNII N 20/02 PN13 N 22/02 MPF 5.8 7.8 9.4 12.1 8.3 MÉDIA 8.7 DESV.PADR. 2.1 MPG 8.7 8.1 5.8 8.4 8.4 7.9 1.0 MPI 14.5 15.9 15.3 20.5 16.6 16.6 2.1 PN01 PN04 PN06 4.6 10.5 12.6 MÉDIA 9.2 DESV.PADR. 3.3 6.8 5.4 11.5 7.9 2.6 11.4 16.0 24.1 17.2 5.2 S S S 12/02 16/02 20/02 Observa-se analisando a média para as duas direções que a concentração média do MPI está abaixo do valor 50 ug/m 3 considerado como padrão americano para qualidade aceitável do ar. A penetração da BM é observável na maioria dos dias na Estação Meteorológica do IAG-USP, localizada a 60km do oceano e a 800m de altitude; porém, a predominância do vento NW para o período de amostragem dificultou a penetração da BM, impedindo que encontrássemos diferenças para a amostragem de norte e sul. 2. Análise PIXE As figuras 1 e 2 apresentam os histogramas das concentrações médias em ng/m 3 dos elementos traços de acordo com a direção do vento. O K, que é traçador de vegetação, queima de madeira e fábrica de papel, predominou de norte, provavelmente devido à fábrica de papel, a maior quantidade de vegetação 697 continente a dentro e queimas locais. O Ni e V apareceram somente no MPF sendo, possivelmente gerados a longas distâncias e oriundos de queimas de óleo residual. O Si e o AI são traçadores de solo e apresentaram um maior aporte de sul para o MPG. O S foi obtido em quantidades enormes para MPF evidenciando contribuição exógena com componente de sul, possivelmente traçando a emissão de 40km sudoeste da Represa Billinqs fortemente eutrofizada e da pluma de veículos e indústrias de S.P. 3. Análise com MBM Com o objetivo de caracterizarmos as fontes desse AA foi aplicado o MBM às concentrações elementares para cada caso analisado: o programa CMB7.0 operando em microcomputadores, fornecido pela EPA-USA (agência de proteção ambiental americana) e que traz a relação de assinaturas de fontes (Core, 1985). utilizamos para a fonte solo o perfil descrito por Lawson para o aerossol do solo de várias regiões do Brasil e da America do Sul (Lawson,1978). O CMB é um modelo receptor onde cada concentração da espécie química é uma contribuição linear de diversas fontes. Como as fontes compartilham de elementos comuns mas com ponderações peculiares, o CMB distribui de todas as formas possíveis os elementos, de acordo com as características de cada fonte e considera o restante como massa não explicada. Na tabela 2 concluímos que contribuíram para o MPG: queima de madeira, sulfatos e solo e, para o MPF: sulfatos, queima de madeira e solo. TABELA 2. Contribuição das fontes identificadas pelo MBM, apresentadas em porcentagem da matéria particulada medida (%) • MATERIAL PARTICULADO GROSSO FONTES SOLO OLEO SULFATOS MADEIRA PAPEL %MASSA X2 PNSU4 3.20 0.07 12.39 13.86 PNSU1 1.28 0.02 23.89 44.23 PNSU6 4.83 0.01 6.95 12.99 PNN03 4.38 0.03 9.58 26.77 PNN05 3.76 0.0 0.0 8.43 44.57 29.5 3.4 69.4 17.34 24.8 2.96 40.98 48.96 56.8 8.3 PNN011 2.29 0.09 7.03 16.40 1.39 27.2 2.48 PNN013 2.95 0.0 5.44 17.44 .25.8 2.01 698 Continuação da tabela '2: MATERIAL PARTICULADO FINO FONTES PNSU4 SOLO 0.31 OLEO 0.25 SULF. 59.47 MADEIRA 10.31 PAPEL PNSU1 0.33 0.0 64.80 19.38 14.08 PNSU6 0.96 0.37 56.64 12.88 PNN02 0.22 0.12 27.05 5.92 PNN03 0.42 0.25 40.97 14.50 PNN05 0.44 0.25 75.32 10.95 PNN011 1.08 0.34 43.35 9.14 PNN013 1.43 0.0 32.87 7.47 12.19 %~SSA 70.4 98.6 70.9 33.3 56.1 87 53.9 54 X 0.9 3.7 1.31 1.76 0.95 1.06 2.5 13.53 A fonte OLEO se refere a queima de óleo residual, SULF. a fonte sulfatos, MADEIRA a queima de madeira e PAPEL a indústria de papel. O baixo valor para x 2 indica que as fontes foram bem ajustadas. Estas fontes foram as que melhor explicaram o perfil dos elementos medidos após várias tentativas, sempre levando em conta as características físicas da reg1ao. Para a amostra PNN05, correspondente ao período de 17/02 a 20/02, temos uma grande participação da fonte fábrica de papel (MPG) coincidente com a verificação da não entrada de brisa no dia 17/02 (Manuscritos do IAG) intensificando a pluma de N. CONCLUSÃO A metodologia se mostrou satisfatória e as assinaturas e outras premissas assumidas pelo aplicativo americano se mostraram coerentes quando confrontadas com a realidade. O problema do não aparecimento do mar como fonte no CMB pode ser atribuído a dif~culdade de medir o Na devido as incertezas para esse elemento no método PIXE. Um problema que podemos ressaltar foi a baixa estatística de dados. Seria necessária uma experiência que compreendesse um período maior de amostragem. REFERÊNCIAS Core, J. E., J.J. Shah, J. A. Cooper e D. Safreit (1985). Receptor Model Source composition Library. U. S . Environmental Protection Agency. Research Triangle Park, N.C. Tabacniks, M. H.(1983): Calibração do sistema PIXE-SP de análise elementar. Dissertação de mestrado apresentada ao IFUSP. Lawson,D. ,1978: Chemistry of the natural aerosol: a case study in South America. Dissertação apresentada na "Florida State University" para a obtenção do título de Doutor. 699 FIGURA 1. DA ELEMENTOS-TRAÇOS ANÁLISE PIXE PARA A CONSTITUINTES REGIÃO DA MPG OBTIDOS ATRAVÊS DE PONTE NOVA, SALESÓPOLIS. OS VALORES PARA CONCENTRAÇÃO ESTÃO EM NG/M 3 PARA A DIREÇÃO NORTE E DIREÇÃO SUL. 350 CONCENTRACAO (ng/m3) ------_._-- .- - - - - - - - - - ._---"-- 300 260 ~ , 200 f 160 - --~ :: -: -- 100 ~ l 60 O 11.. Na Mg AI ~ -.l- 51 P ~ '...L-_::: _ ~........... :d.._J~~ . .7J ~~ 5 CI K NORTE FIGURA DA 2. ELEMENOS-TRAÇOS ANÁLISE PIXE PARA A Ca TI Cr Fe Cu Zn ~1ij SUl; CONSTITUÍNTES REGIÃO Mn DE DA MPF OBTIDOS ATRAVÊS PONTE NOVA, SALESÓPOLIS. OS VALORES PARA CONCENTRAÇÃO ESTÃO EM NG/M 3 PARA A DIREÇÃO NORTE E DIREÇÃO SUL. 140 CONCENTRACAO (ng/m3) ------------ 120 100 -; ao :::-; I§ 60 40 z lâ 1 l~ I:;; ;; :- / 1:::- 20 O ::: I~..Na AI Si SilO JIIl::a-o_=__ ~ ....k:a .~ Ca V Mn K TI _NORTE Fe ~SUL