XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL DESCRIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE DUAS ESPÉCIES DE PIMELODUS LACÉPÈDE, 1803 (SILURIFORMES, PIMELODIDAE) DA BACIA DO RIO TOCANTINS, BRASIL. Thiago Costa e Silva1,2, Phamela Bernardes Perônico2, Paulo Henrique Franco Lucinda1,2, Frank Raynner Vasconcelos Ribeiro3 ¹Laboratório de Ictiologia Sistemática da Universidade Federal do Tocantins 2Núcleo de Estudos Ambientais, Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ecótonos, Universidade Federal do Tocantins. 3Universidade Federal do Oeste Do Pará - UFOPA. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO As intensas alterações ambientais junto ao alto endemismo da bacia do rio Tocantins, sendo que das 600 espécies estimadas para a bacia 30% são endêmicas (Lima & Caires, 2011), aumenta o risco de extinção, resultando em prejuízos incalculáveis para a biodiversidade e conseqüências rígidas em aspectos sociais, econômicos e ecológicos (Leprieur et al., 2008). Desta forma, a gestão da biodiversidade é essencial para aumentar a chance de sobrevivência das espécies no ambiente (Dudgeon, et al., 2006) e compete, primeiramente, na compreensão das espécies envolvidas, considerando perspectivas evolutivas, ecológicas, funcionais, biogeográficas e taxonômicas a fim de definir planejamentos e estratégias para conservação da biodiversidade aquática (Kottelat, 1998; Strecker, et al., 2011). Neste sentido, a taxonomia confere em descobrir, descrever, classificar as espécies e estas pesquisas se tornam emergenciais em detrimento a crise da biodiversidade (Kottelat, 1998). As espécies pertencentes ao gênero Pimelodus são pouco conhecidas, sendo que muitas espécies são incluídas neste gênero, principalmente devido à diversidade morfológica, a falta de caracteres específicos para diagnóstico e a diversidade nos padrões de coloração, dificultando estabelecer quais características realmente diferenciam as espécies entre si (Lundberg & Littmann, 2003). Os estudos de caracterização e revisão taxonômica da ictiofauna na bacia do rio Tocantins tem resultado na descoberta de novas espécies e isto é relevante, haja vista o aumento de usinas hidrelétricas construídas nesta bacia o que proporciona alterações intensas no sistema aquático. OBJETIVO O objetivo deste trabalho foi descrever duas espécies de Pimelodus presentes na bacia do rio Tocantins e avaliar suas distribuições. MATERIAL E MÉTODOS Foram analisados exemplares de Pimelodus coletados na bacia do Tocantins e adotado a taxonomia tradicional para as tomadas de medidas e contagens das estruturas. A elaboração de tabelas de estatística descritiva básica foi realizada com auxílio do programa DATAX (versão 4.2) sendo possível analisar as diferenças e sobreposições das 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL espécies. De todos os lotes de peixes foram tomados o comprimento padrão do menor e maior exemplar, e de quase todos os indivíduos registrados na bacia foram tomadas 32 medidas e 9 contagens. Para os padrões de distribuição de cada espécie foi construído por meio de referências cartográficas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estes mapas foram realizados através do software de geoprocessamento ArcGis 9.2. RESULTADOS Nesta pesquisa foram descobertas duas novas espécies de Pimelodus para a bacia do Tocantins. A espécie Pimelodus spA pode ser diferenciada de grande parte dos seus congêneres por apresentar séries de máculas escuras sobre os lados e região mediano dorsal do corpo e esta espécie difere dos seus congêneres, com máculas sobre o corpo, por apresentar as máculas maiores que orifício da narina. Além disso, difere por apresentar menor comprimento da cabeça, maior largura da boca e comprimento do focinho. A espécie Pimelodus spB difere de grande parte dos seus congêneres por apresentar pequenas pintas escuras sobre os lados e região mediano dorsal do corpo e difere de seus congêneres, com máculas escuras sobre os lado do corpo, por apresentar máculas pequenas, sendo que todas nunca são maiores que o orifício da narina e esta espécie apresenta de seis a doze series de máculas sobre o corpo. A distribuição de Pimelodus spA é em grande parte restrita à porção alta da bacia, enquanto que Pimelodus spB apresenta distribuição nas porções média e alta da bacia. DISCUSSÃO Os resultados deste estudo revelam a importância da taxonomia, haja vista que foram descobertas duas espécies de Pimelodus na bacia do rio Tocantins. Além disso, o estudo taxonômico junto a distribuição de espécies, permitiram aludir que Pimelodus spA apresenta uma distribuição restrita e os impactos ambientais, promovidos principalmente pelas usinas hidrelétricas, podem promover implicações irreversíveis a esta espécie. Provavelmente esta espécie apresente comportamento mais especializado e podendo ser mais suscetível a mudanças ambientais expressivas. A espécie Pimelodus spB apresenta variações intra-específicas em relação ao padrão de colorido com três variações bem distintas, entretanto, alguns lotes são intermediários o que inviabiliza separar as três variações como três espécies novas. Esta espécie apresenta distribuição nas porções alta e média da bacia e mesmo com essa maior capacidade de distribuição são necessárias medidas para atenuar os impactos nos sistemas hídricos, pois a longo prazo os efeitos dessas mudanças podem reduzir sua distribuição. Principalmente por serem espécies novas, são imprescindíveis esforços para a melhor compreensão da biologia destas espécies e como respondem as mudanças ambientais. CONCLUSÃO A caracterização taxonômica do gênero Pimelodus permite a compreensão da composição de espécies de peixes na bacia do rio Tocantins e a real situação da ictiofauna mediante as mudanças hidrológicas. Provavelmente Pimelodus spA apresente maior risco de extinção por apresentar uma distribuição restrita, visto que a bacia do rio Tocantins está passando por um processo intenso de represamento. Trabalhos com perspectivas taxonômicas permitem ampliar a efetividade dos planejamentos conservacionistas, reavaliar e reconhecer áreas prioritárias para que sejam realizados mais estudos nestas áreas e propor medidas que atenuem os impactos, no entanto, isto é viável somente se existir conectividades entre as perspectivas evolutivas, ecológicas, funcionais e biogeográficas (Strecker, et al., 2011). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL DUDGEON, D., ARTHINGTON, A.H., GESSNER, M.O., KAEABATA, Z.I., KNOWLER, D.J., LÉVÊQUE, C., NAIMAN, R.J., PRIEUR-RICHARD, A.H., SOTO, D., STIASSNY, M.L.J., SULLIVAN, C.A. 2006. Freshwater biodiversity: importance, threats, status and conservation challenges. Cambridge Philosophical Society, Biol. Rev. 81, 163 - 182pp. KOTTELAT, M. 1998. Systematics, species concepts and the conservation of freshwater fish diversity in Europe, Italian Journal of Zoology, 65:S1, 65-72pp. LEPRIEUR, F., BEAUCHARD, O., BLANCHET, S., OBERDORFF, T., BROSSE, S. 2008. Fish Invasions in the World’s River Systems: When Natural Processes Are Blurred by Human Activities. PLOS Biology, Vol. 6, 04040410pp. LIMA, F. C. T. & CAIRES, R. A. 2011. Peixes da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, bacias dos rios Tocantins e São Francisco, com observações sobre as implicações biogeográficas das "águas emendadas" dos rios Sapão e Galheios. Biota Neotropica, 11 (1): 231 - 250pp. LUNDBERG, J. G. & LITTMANN, M. W. 2003. Family Pimelodidae (Longwhiskered catfishes). Pp. 432-446. In: Reis, E. R.; S. O. Kullander & C. Ferraris Jr (Eds.). 2003. Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre, Edipucrs. 729p. STRECKER, A., Olden, J.D., WHITTIER, J.B., PAUKERT, C. 2011. Defining conservation priorities for freshwater fishes according to taxonomic, functional, and phylogenetic diversity. Ecological Applications, 21 (8), 3002 - 3013pp. 3