VARIAÇÕES TERMO-HIGROMÉTRICAS HORÁRIAS EM ECOSSISTEMA DE MANGUEZAL,
DURANTE ÉPOCA SECA NA REGIÃO BRAGANTINA, NO ESTADO DO PARÁ
Rommel Benicio Costa da Silva
Universidade Federal do Pará - Centro de Geociências
Departamento de Meteorologia - Campus Universitário do Guamá - Rua Augusto Corrêa Nº 1
Belém-Pará - CEP 66.000-000 [email protected]
Antonio Carlos Lôla da Costa
Universidade Federal do Pará - Centro de Geociências
Departamento de Meteorologia - Campus Universitário do Guamá - Rua Augusto Corrêa Nº 1
Belém-Pará - CEP 66.000-000 [email protected]
ABSTRACT
At drought time, an intensive collection of thermo-higrometric data was accomplished in three
different areas: natural growth of mangroves, degraded growth of mangroves and urban area, in the municipal
district of Bragança-shovel. The observed values of temperature of the air were larger in the urban area, by virtue
of the concrete of the sidewalks and buildings, vehicles, people and other heating sources. As the relative humidity
of the air, the largest values happened in the natural growth of mangroves, due to vegetation were evident shading
in this area. The great differences among those three areas, showing the need of preservation of the swamp
environment.
INTRODUÇÃO
O município de Bragança-PA fica localizado à nordeste do estado do Pará, com uma área de 3.258
km2, latitude de 01º 03’S e longitude de 46º46’W e de Belém-PA, cerca de, aproximadamente, 200km. Foram
utilizadas três áreas distintas para efetuarem-se estudos micrometeorológicos. Os possíveis efeitos da conversão de
manguezal em área degradada e os contraste entre áreas de mangue natural e mangue degradado (devastado) e área
urbana, possivelmente influenciam de modo distinto no clima. Com o objetivo de fornecer o embasamento
necessário para o estudo micrometeorológico nestas três áreas experimentais, foi escolhida a Praça das Bandeiras
no centro da cidade de Bragança para representar a área urbana. A área de mangue degradado fica a 16 km da área
experimental urbana, adjacente à estrada que liga Bragança a Vila de Ajuruteua, às margens do Oceano Atlântico.
Como mangue natural, fixou-se a área localizada a 31 km de distância da área experimental urbana, próxima a
terceira ponte de acesso à Vila de Ajuruteua, no local conhecido como Furo do Chato.
A área experimental urbana apresenta-se cercada por construções antigas. A circulação de pessoas
e trânsito são representativos do fluxo característicos da cidade, sendo a área influenciada pelo efeito de brisa
devido a cidade localizar-se às margens do Rio Caeté.
A área de manguezal degradado apresenta aspecto plano, com modificações estruturais de caráter
total devido ao desmatamento facilitado pelo acesso, através da estrada. A ausência de árvores favorece a exposição
do substrato com alguns troncos de árvores e pequenos arbusto, já que a textura do substrato é menos espessas e a
tonalidade é cinza claro.
Na área experimental de manguezal natural a classe de cobertura vegetal do mangue é do tipo
exuberante, denso e alto, com altura média das árvores em torno de 18m. Sob o ponto de vista estrutural o
manguezal natural é do tipo arbóreo de dossel semi-fechado, sobre vaza de maré. O substrato orgânico dessa
comunidade vegetal é espesso com tonalidade de cinza escuro e textura granular. A área de manguezal natural
possui aspecto quase plano, cuja superfície é revestida por altas concentrações de matéria orgânica particulada e
decomposta, misturada a partículas sedimentares de origem mineral, mas devido a devastação das áreas pelos
colonos, para o estabelecimento da Agricultura e Pecuária, origina-se uma vegetação mais baixa, denominada
Capoeira. Esse tipo de vegetação é predominante na Zona Bragantina.
2300
A região Bragantina é recortada por um grande número de rios, desaguando alguns diretamente no
Oceano Atlântico, outros de menor importância levam suas águas para a baia do Marajó. Atualmente é muito
discutido o problema de degradação ambiental, em todas as partes do mundo. Quando se fala em Amazônia, a
repercussão e maior e quase sempre exagerada. A região de manguezais ainda é pouco estudada, sob o aspecto de
variáveis meteorológicas, trazendo sempre dúvidas sobre o comportamento dessas variáveis, em áreas naturais e
áreas degradadas. Considera-se aqui uma área natural, aquela que, apesar de haver extrativismo de caranguejo (uma
das maiores atividades do local), não foi alterada com relação à vegetação e uma área degradada aquela que já
sofreu a interferência do homem, no aspecto de retirada da vegetação. Já à uma área urbana aquela que sofre
influência das construções civis, homem, veículos, etc...
O objetivo deste trabalho é estudar o comportamento da temperatura do ar e da umidade relativa do
ar em ecossistema de manguezal da região Bragantina, no estado do Pará, durante período de estiagem na área em
estudo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a obtenção dos dados, foram utilizados abrigos meteorológicos instalados nas três áreas
(urbana, manguezal natural e degradado), contendo um psicrômetro convencional, sendo também instalados
geotermômetros a diversas profundidades. Na área de manguezal degradado, colocou-se o abrigo meteorológico
cerca de 150m de distância da rodovia que liga a cidade de Bragança à vila de Ajuruteua, em uma área totalmente
em fase de degradação, juntamente com os geotermômetros a diferentes profundidades (2cm, 5cm, 10cm, 20cm e
30cm). As coletas foram feitas durante as 24 horas, de hora em hora, no período de 25 a 27 de outubro de 1997. Já
na área de mangue natural o abrigo foi instalado em uma torre micrometeorológica, montada dentro do mangue
natural, na altura, padrão, de 1,20m da superfície. As coletas também foram efetuadas durante as 24 horas, com
observações horárias, no mesmo período, juntamente com as informações (leituras) dos geotermômetros. E na área
urbana, o abrigo meteorológico ficou instalado na Praça das Bandeiras, onde as coletas foram feitas durante as 24
horas, juntamente com as demais observações feitas nas demais áreas, acima relatadas. Os dados obtidos, durante o
período, foram transformados em médias horárias, para análises comparativas, e posteriormente essas informações
serão de grande utilidade para fins de conscientização da sociedade local, sobre a importância do meio ambiente e
sobre a utilização do potencial do ecossistema estudado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na microrregião Bragantina, a temperatura do ar apresenta uma pequena variação anual, com as
máximas, médias e mínimas oscilando entre 29,8ºC e 32,8ºC; 25,2ºC e 26,7ºC; 20,4ºC e 22ºC, respectivamente.
Estas baixas oscilações térmicas anuais, no âmbito individual das categorias de temperatura, devem-se ao fato da
pequena variação na inclinação dos raios solares durante todo o ano. Porém, é evidente que grandes amplitudes
térmicas diárias são verificadas, principalmente na estação menos chuvosa, que se estende de junho a dezembro,
sendo tais amplitudes superiores a 10ºC. Os valores médios mensais de umidade relativa do ar apresentam-se
sempre elevados durante todo o ano, variando entre 77% e 91%. De forma análoga à temperatura do ar, sua
amplitude diária pode apresentar valores elevados, principalmente na estação menos chuvosa daquela região.
1. TEMPERATURA DO AR:
A Figura abaixo mostra a variação da temperatura do ar nas três áreas de estudo. Durante o período
noturno há uma queda de temperatura, sendo que a mínima temperatura registra-se às 06:00h, para as três áreas e
que o decréscimo de temperatura foi mais acentuado na área de manguezal devastado, seguido pela área urbana. Os
valores de temperatura do ar, durante a noite, na área de manguezal natural foram maiores que nas outras áreas
devido esta área possui maior poder de retenção da radiação em função de sua vegetação, Durante o dia, na área
urbana, ocorre o fenômeno inverso, devido apresentar maior temperatura, em virtude do concreto das calçadas e
edificações, veículos, pessoas e outras fontes de aquecimento. Quando se comparam durante o dia, as temperaturas,
a área degradada e a área natural apresentam valores idênticos nos horários que correspondem ao período entre
08:00h e 10:00h, e às 14:00h, a área natural apresenta valores maiores no horário que correspondem ao período
entre 11:00h e 13:00h. A partir das 15:00h até às 07:00h da manhã do outro dia as temperaturas são maiores na área
natural, devido a floresta reter a radiação recebida. A amplitude diurna média na área degradada foi de 8,0ºC, a da
área urbana foi de 9,6ºC, enquanto que na área natural foi de 3,6ºC.
2301
34
Temp. Ar (ºC)
32
30
28
26
Devastado
Natural
Urbana
24
22
20
1
3
5
7
9
11 13
Horas
15
17
19
21
23
Figura 01. Variação Média Horária da Temperatura do Ar em Área Urbana, Manguezal Natural e
Manguezal Devastado.
2. UMIDADE RELATIVA DO AR:
Na Figura abaixo, a umidade relativa do ar é maior no manguezal natural durante todo o dia. Isso
ocorre porque no manguezal natural há vegetação predominante, favorecendo o sombreamento, onde o albedo
(poder de refletividade) é menor do que na área urbana e degradada. Comparando-se a situação de saturação do ar,
nas três áreas, no manguezal degradado a saturação esteve mais longe de ser alcançado, atingindo um mínimo de
58% às 14:00h e um máximo de 85% às 06:00h. Na área natural a maior umidade relativa foi de 97% que ocorreu
entre 02:00h e 07:00h da manhã e a menor de 67% às 10:00h. Na área urbana a maior umidade relativa foi de 94%
às 06:00h da manhã e a menor foi de 55% às 12:00h. A amplitude diurna média da Umidade Relativa do Ar na área
natural foi de 30%, na área degradada foi de 27% e na área urbana foi de 39%.
100
U.R.(%)
90
80
70
60
Devastado
Natural
Urbana
50
40
1
3
5
7
9
11
13
Horas
15
17
19
21
Figura 02. Variação Média Horária da Umidade Relativa do Ar em Área Urbana, Manguezal
Natural e Manguezal Devastado.
2302
23
CONCLUSÃO:
A temperatura é um fator importante na contabilização do balanço de energia no interior dos
manguezais, influenciando diretamente na evapotranspiração e demais fluxos energéticos. Os manguezais mantêm
temperaturas bastante diferenciadas dos ambientes periféricos. Por comparações realizadas simultaneamente, da
variação diária da temperatura do ar em manguezal natural, manguezal degradado e área urbana, foram constatadas
temperaturas mais amenas nos espaços ocupados por mangues durante o período diurno, cuja temperatura média no
manguezal natural foi sempre inferior àquelas observadas no manguezal degradado e área urbana. Já no período
noturno a temperatura média no manguezal natural superou os valores observados nas outras áreas.
O manguezal degradado, obviamente tende a se aquecer mais em função do descampado e da
presença de alguns troncos apodrecidos e arbustos em fase de regeneração.
Sendo assim, os bosques de mangues tem a capacidade de reter mais as perdas radiativas em ondas
longas, devido, principalmente, à emissão de energia que fica armazenada na biomassa e a concentração de vapor
d’água abaixo do dossel, ao passo que no manguezal degradado e área urbana ocorre, geralmente, maior perda
radiativa cuja quantidade pode ser amenizada em noites com presença de boa cobertura de nuvens.
Pelas análises realizadas conclui-se que há grandes diferenças nas variáveis meteorológicas em
áreas urbanas, de manguezal natural e manguezal degradado, no município de Bragança-PA. A área natural,
mantendo a sua vegetação, protege o solo pelo sombreamento, o que proporciona menor variabilidade das
temperaturas do ar, do solo e da umidade relativa do ar. O papel da vegetação nesse processo é de manter a energia
mais estável sem grandes variações, já que nas áreas urbanas e degradadas ocorrem os maiores valores absolutos e
as maiores amplitudes, porque há muita variação de energia. Durante o período noturno. A área natural mantém
uma temperatura do ar maior durante a noite e menor durante o dia, em relação às áreas urbanas e degradada. Na
área urbana, durante o período diurno, destaca-se o importante papel das árvores de mangue, localizadas nos
canteiros, na atenuação da radiação solar que incide à superfície. Na área degradada, a temperatura do solo, durante
as 24 horas do dia é maior do que a da área natural. Já a umidade relativa do ar, durante todo o período diurno é
maior no manguezal natural, mantendo uma condição ambiental adequada em função da vegetação.
Este trabalho mostra como é importante manter os manguezais na sua forma natural, em função de
sua vegetação, mantendo o equilíbrio ambiental, proporcionando a manutenção dos seres vivos que lá tem o seu
“habitat”, principalmente os crustáceos, que são um dos meios de sobrevivência da população menos assistida.
Através dos resultados apresentados aqui, ficou bastante evidente certas alterações nos padrões meteorológicos
observados nas três áreas experimentais distintas, além de mostrar como em áreas urbanas a influência do homem,
de construções civis é consideravelmente importante para se ter um ambiente adverso a áreas com maior vegetação.
No entanto, as variáveis termo-higrométricas horárias mostram que é necessário conscientizar a população da
necessidade da preservação da área de manguezal, que irá reverter em seu próprio benefício.
A conscientização, por muitas vezes, defronta-se com a necessidade econômica das famílias que
vivem diretamente dos manguezais, por isso, para que possamos conscientizar estas famílias há a necessidade de se
desenvolver métodos alternativos de sobrevivência em épocas (a da reprodução da espécie) em que a necessidade
de sobrevivência acabe se tornando uma sobrevivência através da caça predatória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, A. C. L.; MORAES, M. C. S.; PRESTES, A. C. Estudo da Variação Média Horária da Temperatura
do Solo em Diferentes Profundidades em Manguezal Natural, 3º Workshop Internacional do Programa
MADAM, Resumo, 1997 – Belém-PA.
RIBEIRO, J. B. M. et al. Variações Meteorológicas em Manguezal Natural, Manguezal Devastado e Área
Urbana (estação menos chuvosa), 3º Workshop Internacional do Programa MADAM, Resumo, 1997 –
Belém-PA.
VIANELLO, R. L. & ALVES, A. R. Meteorologia Básica e Aplicações. Imprensa Universitária, Viçosa-MG,
UFV, 1991.
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