LUISA CLASEN SILVA
A ABORDAGEM ADULTA EM FILMES DE ANIMAÇÃO INFANTO-JUVENIS
Trabalho de conclusão de curso apresentado como
requisito parcial para obtenção do grau de bacharel
em Cinema e Vídeo pela Faculdade de Artes do
Paraná.
Orientador: Demian Garcia
CURITIBA
2012
RESUMO
Os filmes longa-metragem de animação, em sua grande maioria, são voltados para o
público infanto-juvenil. Desde sempre, as animações fascinaram mais crianças do que
adultos. Hoje em dia, com exceção de alguns poucos com temáticas adultas, esta é a
situação observada no mercado de cinema internacional: filmes de animação são para
crianças. Entretanto, pode-se notar que muitas das animações infantis têm se
comunicado diretamente com adultos e o sucesso destas obras recentes (a partir de
1990) é crescente entre públicos diversificados. O objetivo desde trabalho é estudar mais
atentamente os diversos pontos onde há uma intervenção para que o filme comunique-se
melhor com adultos (casting, trilha sonora, mensagens adultas e versão brasileira) e
entender qual é a postura de cada estúdio analisado (The Walt Disney Company, Pixar
Studios e Dreamworks Animation Studios), relacionando o contexto atual com suas
origens e seus fundadores. A readequação das obras infanto-juvenis para o universo
adulto é, sim, proposital e movida por princípios comerciais e também ideológicos.
Palavras-chave: Longa-metragem, animação, Disney, Pixar, Dreamworks, público-alvo,
infanto-juvenil, dublagem, casting, trilha sonora, piada, star system.
ABSTRACT
Animation feature films are, in general, targeted to a younger audience. Since always,
animation has fascinated kids more often than adults. Nowadays, with a few exceptions
aimed at the adult audience, this is the situation in the international film circuit: animation
feature films are for children. However, juvenile animations are now communicating
directly with adults and the success of those recent movies (since 1990) is growing in
different segments of moviegoers. The purpose of this essay is to study more thoroughly
the various aspects where there is an intervention so that the movie communicates better
with adults (casting, soundtrack, adult themes and references and Brazilian dubbing) and
to understand which is the protocol of each studio analyzed (The Walt Disney Company,
Pixar Studios, Dreamworks Animation Studios), relating the current context with their
origins and founders. The adaptation of juvenile movies to the adult universe is, in fact,
purposeful and driven by commercial and ideological principles.
Key-words: Feature film, animation, Disney, Pixar, Dreamworks, target audience, juvenile,
dubbing, casting, soundtrack, pun, star system.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................5
1 A ANIMAÇÃO ANTES.......................................................................................................6
2 A ANIMAÇÃO AGORA......................................................................................................9
2.1 CASTING........................................................................................................................9
2.2 TRILHA SONORA.........................................................................................................11
2.3 MENSAGENS ADULTAS..............................................................................................13
2.4 VERSÃO BRASILEIRA.................................................................................................16
3 PERFIL DOS ESTÚDIOS................................................................................................21
CONCLUSÃO.....................................................................................................................23
REFERÊNCIAS..................................................................................................................26
5
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é analisar e categorizar suas características adultas
através de exemplos em filmes recentes (feitos de 1990 até 2012). Por razões práticas, o
estudo se restringe a produção de três grandes estúdios: Disney, Pixar e Dreamworks.
Dentro deste recorte histórico e regional, há a busca pelo diálogo com adultos nestes
filmes.
Atualmente, o preconceito de que filmes de animação são apenas para crianças
tem diminuído. Com a produção de longas animados de drama adulto, como Mary e Max
e Persépolis, em diversos países, a divulgação destes vem sendo ampliada. O estímulo
do eixo artístico tem possibilitado pequenas mudanças na produção cinematográfica
comercial. Os filmes Up – Altas Aventuras e Wall-E já trazem momentos dramáticos
fortes.
Esta é a área abordada neste trabalho: a que concerne os adultos. Os filmes ditos
para crianças têm tomado cada vez mais formas adultas: piadas de duplo sentido,
referências de cenário e texto, vozes conhecidas dos mais velhos e até mesmo trilhas
sonoras que lembram filmes antigos. As crianças que assistem aos filmes não percebem
e se divertem da mesma maneira, mas os adultos que as acompanham não precisam
mais “tolerar” os filmes; eles gostam.
Nos próximos três capítulos, falarei sobre o contexto do nascimento e consolidação
da animação como gênero cinematográfico em Hollywood, sua época de ouro e
destrincharei todas as áreas que permeiam o universo adulto nos longas de animação
recentes: Casting, Trilha Sonora, Mensagens Adultas e Versão Brasileira. Por último, há
uma análise de estilo de cada um dos estúdios analisados, traçando padrões e
encontrando possíveis motivos para as decisões estéticas e conceituais na produção de
suas animações.
Devido
à
dificuldade
em
encontrar
material
para
pesquisa,
baseei-me
majoritariamente em depoimentos dos extras dos filmes em DVD (Making of), alguns
livros, artigos e um filme, em particular, que não é exibido em nenhum outro lugar senão
no museu do próprio Walt Disney (One Man's Dream – cujo filme é homônimo), localizado
no parque de diversões Disney's Hollywood Studios. Há uma cópia não-oficial no YouTube
para futuras consultas, a qual está incluída nas referências ao fim do trabalho.
6
1 A ANIMAÇÃO ANTES
Antes de começar a pensar em longas-metragens de animação recentes, é preciso
olhar para as origens deste gênero. Este capítulo fala sobre o início da animação, os
primeiros filmes longa-metragem e a consolidação do estilo Disney.
O cinema teve suas origens na área de fotografia, mas combinou efeitos óticos já
conhecidos. Já existiam brinquedos de ilusão que podem ser considerados um esboço de
animação. Nesta época, os truques eram populares entre crianças e adultos, pois eram
curiosidades. Entretanto, nenhum destes truques teve real influência temática para a
história da animação. A maior semelhança entre eles e os primeiros filmes é a curiosidade
que o espectador tinha pela imagem desenhada em movimento (ou, no caso de stop
motion, objetos em movimento). Os primeiros curtas animados eram experimentos de
linguagem que tinham enredo, mas que não traziam histórias elaboradas ou emoções
humanas mais complexas ou com nuances. Os personagens de animações eram, em
geral, alegres e inquietos, e sua jornada era simples: situação, conflito e resolução (com
final feliz).
O cinema sonoro trouxe muito para o desenvolvimento da animação. Não era
costumeiro usar letreiros para os textos nos filmes animados, pois isto era contornado
visualmente, com a própria “performance” do personagem. Um grande marco para a
história da animação mundial foi Steamboat Willie (1928), de Walt Disney. Este curta foi o
terceiro a ser protagonizado pelo rato Mickey e a primeira animação a ter som gravado e
sincronizado. Era comum que os curtas tivessem uma trilha musical que acompanhasse
os movimentos dos personagens, além dos sons de foley. Isto se vê em muitos curtas
sem falas ou com pouco texto.
Walt Disney já era um grande nome das animações da era de ouro (dos anos 1920
aos anos 1940), mas logo surgiram concorrentes: a Warner Brothers Cartoons foi fundada
em 1930 e oferecia maior liberdade para seus animadores criarem, enquanto nos estúdios
Disney, as direções eram sempre de Walt Disney. Dos estúdios Warner, teve destaque a
série Merrie Melodies, que era semelhante a Silly Symphony de Disney, e trazia
personagens novos a cada episódio, muitas vezes sem nome ou mesmo falas. As
histórias eram simples e curtas, com personagens dançantes e muita música.
Um grande momento para a história do cinema de animação foi o longa-metragem
Branca de Neve e os Sete Anões (1937). A adaptação de Walt Disney para o conto
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folclórico popularizado pelos irmãos Grimm é considerada o primeiro longa-metragem de
animação, mas na verdade já havia outros oito filmes lançados anteriormente. Branca de
Neve é um marco, pois obteve grande sucesso de bilheteria e foi mundialmente
conhecido. No lançamento do filme, havia tapete vermelho e pessoas fantasiadas como
os personagens, para receber a equipe e o elenco. Esta forma de encarar o filme de
animação modificou a produção cinematográfica deste gênero. Antes dela, as animações
que passavam nos cinemas eram curtas e eram exibidas antes de outros filmes, ou seja,
elas eram “brindes”. Foi a partir de A Branca de Neve que as animações começaram a ser
encaradas como o produto principal, atraindo os espectadores para o cinema
especialmente para isso.
O público-alvo do primeiro longa de Disney não eram as crianças. Apesar de A
Branca de Neve ter piadas ingênuas, ele é um romance como outros. A produção encarou
diversos obstáculos e preconceitos, pois os críticos indagavam sobre quem iria querer
pagar para ver desenhos em movimento por mais de dez minutos.
A reação no meio industrial, no entanto, foi menos entusiástica, sendo,
naquele meio, consenso de todos que Disney talvez tivesse ido longe
demais dessa vez. Um cartum de cinco ou dez minutos era uma coisa. Mas
ninguém, acreditavam eles, aguentaria assistir a um longa-metragem
animado de um conto de fadas gótico. Branca de Neve tornou-se
rapidamente conhecido como a loucura de Disney, nos bastidores e nos
escritórios executivos dos principais estúdios. (ELIOT, 1995, p. 128)
Os filmes de Disney que se seguiram vieram para provar que não apenas os
desenhos em movimento são envolventes, como podem até mesmo fazer o espectador se
emocionar. Na trajetória de Disney observa-se que o estúdio não se decidia entre o
público adulto e o infantil, portanto os filmes foram tomando caráter mais infantil
naturalmente. Depois de A Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Pinóquio (1939), o
estúdio experimentou com Fantasia (1940), filme que não traz uma narrativa clássica.
Este havia sido um enigma para a audiência e foi então que decidiu-se retomar o rumo
dos primeiros longas, fazendo assim as histórias ficarem mais hollywoodianas. Dumbo
(1941) emocionou o público e em seguida Bambi (1942).
Duas áreas onde Disney se destaca são as animações com animais
antropomorfizados e os filmes de princesa. Os animais eram parte do imaginário Disney
desde antes do próprio Mickey. Walt Disney vislumbrava desde cedo como transformar
animais em personagens mais amigáveis e maleáveis para animar, por causa de sua
profissão de cartunista. Já os contos de fada se tornaram uma marca registrada dos
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estúdios Disney durante todo o século XX, sendo inclusive uma das áreas que mais
geram lucro do merchandising. Há também uma Corte Real, da qual fazem parte 10 das
protagonistas Disney: Branca de Neve (A Branca de Neve – 1937), Cinderela (Cinderela –
1950), Aurora (A Bela Adormecida – 1959), Ariel (A Pequena Sereia - 1989), Bela (A Bela
e a Fera - 1991), Jasmine (Aladdin - 1992), Pocahontas (Pocahontas - 1995), Mulan
(Mulan - 1998), Tiana (A Princesa e o Sapo – 2009) e Rapunzel (Enrolados – 2010), tendo
esta última sido coroada em Outubro de 2011.
Na segunda metade do século, com os movimentos feministas, houve uma
readequação do padrão de princesa Disney. O trio anterior (Branca de Neve, Cinderela e
Aurora) consistia em princesas clássicas, que nada faziam além de esperar seu príncipe
encantado. A partir de A Pequena Sereia, o estúdio começa a representar as personagens
femininas com mais iniciativa, lutando por seus sonhos. Recentemente, também houve
uma mudança proposital na composição dos títulos. Foi observado que filmes com títulos
mais “femininos” tinham menor bilheteria (como no caso de Encantada e A Princesa e o
Sapo), por isso houve a modificação (Enrolados e os futuro lançamentos Valente e
Frozen). O fato dos estúdios Disney estarem conectados com as mudanças da sociedade
está relacionado à evolução dos filmes de animação da Disney e de outros estúdios
também (Pixar e Dreamworks) que veremos nos próximos capítulos.
9
2 A ANIMAÇÃO AGORA
Neste capítulo, serão abordadas as quatro áreas em que se observa uma forte
intervenção adulta na linguagem de longas de animação: Casting, Trilha Sonora,
Mensagens Adultas e Versão Brasileira.
2.1 CASTING
A escolha de atores para dublar os personagens é sempre muito importante na
hora da produção de um longa-metragem de animação. Este processo se inicia muito
antes do filme realmente sair do papel. Muitas vezes, os atores também inserem sua
própria personalidade nos personagens e sugerem modificações no roteiro (SEINFELD,
20071). Os atores são a alma do personagem, eles dão a voz antes mesmo dos traços
existirem. Por isso, o casting reflete o que a produção tem como objetivo. Determinados
profissionais estão associados a este ou aquele papel e são reconhecidos por certo
público.
Quando atores como Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz e John Lithgow
são escalados para dar vida aos protagonistas de Shrek (Dreamworks), esta decisão não
é acaso. Mike Myers é notório ator e roteirista de comédias adultas, como a série Austin
Powers. Que tipo de encanto ele teria sobre crianças? Eddie Murphy é outro ator de
comédia e stand-up muito conhecido entre o público adulto, com poucos papeis na área
de cinema infanto-juvenil. Cameron Diaz e John Lithgow são ainda mais extremos: não
são originalmente de comédia, muito menos de cinema infanto-juvenil. Esta é uma
corroboração dos aspectos extra-fílmicos com o tema do filme: a desconstrução de contos
de fada. Enquanto os estúdios Disney têm a tradição de fazer contos de fada virarem
realidade, com uma enorme bagagem de filmes com protagonistas princesas, a produção
de Dreamworks busca o oposto: provocar riso e ironizar a perfeição dos contos de fada 2.
Para isso, nada mais natural do que apostar em um elenco cômico e com fama entre o
público adulto.O texto dos atores é cheio de ironias em relação ao universo mágico
perfeito e muitas vezes eles falam exatamente o que o público pensou, como no caso de
1 Em entrevista para os extras do DVD Bee Movie – A história de uma abelha.
2 Houve uma tentativa de sátira por parte da Disney aos filmes de princesa em Encantada, porém com
humor bem mais leve e infantil.
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uma princesa ser feia, o lord ser anão e o castelo ser uma compensação pra “alguma
coisa” -- uma piada claramente adulta.
Em Kung Fu Panda (2008), também do estúdio Dreamworks, temos um elenco
fortemente conhecido dos adultos: Jack Black dá voz ao personagem principal e seus
companheiros de dublagem são Dustin Hoffmann, Angelina Jolie, Seth Rogen, Lucy Liu,
Jackie Chan e Michael Clarke Duncan. Jack Black é conhecido por seus irreverentes
filmes com pitadas de rock'n'roll -- Escola de Rock e Tenacious D -- e seu humor muito
peculiar, visando o público adulto em comédias como Nacho Libre, Ano Um e Trovão
Tropical. A escolha de Jack Black como Po tem a ver com seu humor, mas também com
sua persona. Quem melhor para fazer piadas com o fato de ser gordo do que um
comediante gordo? Todos os adultos que conhecem o trabalho do ator conhecem suas
recorrentes piadas e seu estilo, portanto traz mais vida ao personagem 3D Po.
A decisão de trazer Dustin Hoffmann, Angelina Jolie, Seth Rogen, Lucy Liu, Jackie
Chan e Michael Clarke Duncan para o elenco é totalmente voltada para o público adulto.
Enquanto podemos dizer que Jack Black tem um humor acessível a crianças, com filmes
levemente infantilizados, não se pode nem comparar com este casting. Todos estes
atores (com exceção de Seth Rogen e Jackie Chan) são conhecidos por trabalharem em
filmes de drama e seus personagens no filme não são cômicos, ao contrário da maioria
dos personagens em animações infantis. Mesmo Seth Rogen, comediante, não interpreta
um personagem cômico em Kung Fu Panda. O peso de carregar as piadas é todo de Jack
Black.
Interessante referência a uma das inspirações de concepção para Kung Fu Panda
é a escolha de Jackie Chan. Sua migração para Hollywood trouxe projetos diferentes,
como sua série animada de TV, As Aventuras de Jackie Chan, e vários filmes que
misturam ação com comédia, como A Hora do Rush, Bater ou Correr e suas
continuações. Entretanto, Jackie Chan é uma figura icônica do cinema de ação oriental.
Não tão forte quanto foi Bruce Lee para os filmes de kung fu, mas ainda assim muito
relevante. Por isso também foi convidado em 1998 para dar voz ao general chinês Lee
Shang, parceiro romântico de Mulan da Disney.
Em Enrolados (2010), Disney tenta resgatar novamente o universo das princesas,
que voltou com força em A Princesa e o Sapo (2009). Para o elenco, é convidada para
voz de Rapunzel a atriz Mandy Moore, conhecida por suas performances em filmes de
comédia adolescente e Zachary Levi é a voz de Flynn Rider, seu par romântico. O ator
ficou conhecido nos últimos anos por encarnar jovens protagonistas deslocados de seu
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status quo, como na série Chuck. A escolha desta dupla de vozes jovens tem uma razão
muito clara: Enrolados retoma o universo Disney de princesas que ficou parado em 1998
com a última “princesa”, Mulan. Além de atrair crianças ao cinema por ser um filme de
animação, o filme também atrai as crianças de outra época, as que cresceram assistindo
aos filmes originais de princesas. Este público, hoje em idades entre 16 e 22 anos
(podendo variar, afinal o filme transcende sua época, sendo visto e revisto em DVD e
VHS) conhece obras audiovisuais tipicamente adolescentes, e a identificação com as
vozes de Mandy e Zachary é imediata. Já no Brasil, a adaptação não seguiu a mesma
linha, buscando Luciano Huck como dublador de Flynn Rider (celebridade popular
brasileira que não é ator, nem dublador, nem cantor, tendo sido substituído nas músicas
do filme). Verdade é que o grande talento nacional neste elenco foi o de Sylvia Salustti,
com sua bela dublagem e afinação impecável para os números musicais. Jogadas de
marketing da Disney Brasil à parte, fato é que a estratégia de atrair jovens para um filme
de princesa foi um sucesso. Afina,l consolidou-se novamente a produção de filmes de
princesas pelos estúdios Disney com a promessa de Valente e Frozen (sem tradução
brasileira por enquanto, será a adaptação da história da Rainha do Gelo, do mesmo autor
do conto original A Pequena Sereia, Hans Christien Andersen).
2.2 TRILHA SONORA
O filme é um produto audiovisual. Portanto, as imagens têm igual importância ao
som. A escolha de trilhas musicais para os longas de animação dão o tom do público que
eles visam. Considerando a longeva tradição das animações Disney em compor músicas
para os filmes, o público em geral consiste em adultos que ainda estão apegados a
infância e querem ter contato novamente com este universo lúdico. Já os estúdios que
apostam em usar músicas já conhecidas, estão mirando em um público adulto que não
tem a mesma mentalidade: eles querem se divertir com um filme, não necessariamente
recordando suas infâncias.
O compositor de trilhas sonoras originais, John Powell, iniciou sua carreira em
longas de animação com FormiguinhaZ (1998). Desde então, se envolve em trabalhos de
longas de ação livre (Evolução, Sr. E Sra. Smith, P.S. Eu te Amo, Encontro Exposivo,
entre outros) e animações como Shrek, Como Treinar Seu Dragão, A Fuga das Galinhas,
Kung Fu Panda, Bolt – O Supercão, Era do Gelo, etc. Seus trabalhos em filmes infanto-
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juvenis de animação não se distingue muito dos filmes adultos: todos trabalham com
composições próprias unidas a um ou outro sucesso pop. No caso de Shrek, a trilogia é
recheada de canções revisitadas, como On The Road Again (de 1976, composta por Willy
Nelson), You Belong to Me (de 1952, escrita por Pee Wee King, Redd Stewart e Chilton
Price), I'm a Believer (de 1966, composta por Neil Diamond), entre outras. O toque de
saudosismo na obra faz com que os dois públicos se relacionem com a trilha: os adultos
porque já conhecem essas canções e as crianças pelo toque jovem e moderno dos novos
arranjos.
Outro compositor é o de Wall-E e também de Procurando Nemo: Thomas Newman.
Este nome não é famoso no meio de longas de animação, mas sim em filmes de ação
livre. Newman também é o compositor das trilhas de Histórias Cruzadas, À Espera de Um
Milagre, Beleza Americana, Um Sonho de Liberdade, A Dama de Ferro, Foi Apenas Um
Sonho, entre outros. As trilhas de Wall-E e Procurando Nemo têm muitas referências a
músicas já conhecidas do público adulto, como Garota de Ipanema, Beyond the Sea, Also
Sprach Zarathustra e La Vie en Rose.
O Rei Leão foi um filme que chamou a atenção por causa de sua trilha sonora.
Elton John foi convidado a compor as músicas para esta nova adaptação de Hamlet,
enquanto Hans Zimmer encabeçava a parte da trilha original instrumental. O resultado
foram dois prêmios da Academia justamente para ambos os profissionais. O trabalho de
música está tão alinhado com a filosofia Disney quanto com as raízes africanas que
inspiraram a trama. A título de curiosidade, em determinada cena quando está preso,
Zazú canta uma música que é parte da atração mais famosa dos parques de diversão
Disney: It's a Small World.
Já no lado oposto a estes compositores, há Randy Newman e Alan Menken,
profissionais de música que são famosos por seus trabalhos na animação. Randy
Newman é conhecido por trabalhos como Toy Story, Monstros S.A., Vida de Inseto e A
Princesa e o Sapo. A carreira de Alan Menken, por si só, já diz muito. Vencedor de oito
prêmios da Academia (por Pocahontas, Aladdin, A Bela e a Fera e A Pequena Sereia),
Menken tem a habilidade de combinar suas músicas com o tom das animações. Suas
músicas têm humor quando é necessário e são dramáticas nos momentos certos.
Um filme que, particularmente, chamou a atenção pela trilha sonora foi Lilo e Stitch
(2002). Contando com diversas músicas de Elvis Presley, o filme tem um toque de
novidade, pois este é o cantor favorito da personagem principal, Lilo. A trilha original é
composta por Alan Silvestri, compositor de diversas trilhas para filmes de ação livre, como
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Náufrago (2000), Forrest Gump (1994) e até mesmo o recente Vingadores (2012).
Silvestri tem uma influência jovem e faz trilhas que chamam atenção, inclusive já foi
indicado a dois prêmios da Academia (por Expresso Polar e Forrest Gump). A escolha de
Elvis como trilha musical foi algo surpreendente, pois não se imagina que esta trilha se
relacione com o público infantil. Entretanto, a música serviu também como apoio para a
trama, onde se estabelece que Lilo é uma garota diferente, que não se encaixa no grupo
social dela.
2.3 MENSAGENS ADULTAS
Um nível de compreensão dos longas-metragens de animação muito sutil é o das
referências visuais ou temáticas nos personagens e cenários. Nem sempre são óbvios e
frequentemente pouca atenção é dada a eles. Pode-se inclusive considerar que eles são
um presente para os expectadores mais atentos.
Um filme com várias referências imagéticas é Wall-E (Disney/Pixar), de 2008. Por
sua origem de ficção científica, ele traz lembranças de filmes deste gênero mais antigos,
para a audiência mais velha identificar pontos comuns. Um dos personagens, o Piloto
Automático, é essencialmente inspirado no computador HAL 9000, de 2001: Uma
Odisseia no Espaço (1968). Seu comportamento é semelhante ao do personagem que o
inspirou (traidor do próprio mestre) e sua aparência está completamente relacionada ao
design de HAL 9000. Ele, como sua inspiração, também fala com o comandante da nave
e é a mente por trás do comando. Na cena em que vemos os quadros de todos os
comandantes que a nave já teve, há o Piloto Automático atrás de todos eles. Essa
mensagem não é captada por crianças, mas o subtexto está lá.
Em Hércules (1997) temos um filme recheado de referências ao universo adulto:
American Express, Rolex, franquias de produtos (como as papetes e squeezes do herói)
e, além disso, uma história baseada na mitologia grega, que é de conhecimento popular.
Piadas com o calcanhar de Aquiles, Édipo, Jasão e até mesmo arroz à grega (na versão
brasileira) permeiam a trama principal. Hércules é uma história de luta e amor, mas
também um retrato da sociedade nos anos 1990, consumista e ligada em celebridades.
Hércules, depois de obter reconhecimento, mora em uma mansão próxima a de outras
personalidades importantes, onde fãs alucinadas pulam seu muro para arrancar um
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pedaço de sua roupa.
Um tema adulto fortemente abordado em Os Incríveis é o casamento desgastado e
a suspeita de traição do marido. No começo do filme, Helena faz esforços para
transformar a casa em um lar, enquanto Beto está visivelmente deprimido em um
emprego medíocre. Quando surge a proposta misteriosa para trabalhar de super-herói, o
Sr. Incrível aceita, retoma seu vigor e se empenha para voltar à forma física. Esta
mudança de comportamento influencia positivamente o casamento de ambos, pois vemos
cenas em que o casal está mais carinhoso, demorando para se despedir de manhã.
Quando Helena encontra traços de uma possível vida dupla, vai descobrindo informações
(incompletas até o terceiro ato) que indicam uma traição de Beto. Sente ciúmes e vai
atrás de seu marido na ilha secreta onde ele estava. Ao ver Mirage, fica enfurecida,
achando que ela era o objeto de desejo de seu marido. Após esclarecida a situação, a
personagem da Sra. Incrível tem muita profundidade dramática, pois não se esquece de
tudo rapidamente, ainda sente inseguranças e mágoas.
Em Up – Altas Aventuras, o protagonista é Carl Fredricksen, um idoso
recentemente enviuvado que não quer deixar sua casa para dar lugar a um edifício. Por
causa deste conflito, resolve realizar seu sonho de conhecer a América do Sul. O primeiro
ato do filme (que, na verdade, poderia ser chamado de prólogo) é a apresentação do
personagem e de sua vida antes de perder sua esposa. Neste começo, o filme segura a
audiência inteiramente, pois todos ficam encantados e depois dilacerados com o rumo do
romance. Após a morte de Ellie, a trama toma formas mais infantis, trazendo Russell, o
garoto escoteiro que quer muito ganhar sua última medalha por ajudar um idoso. Em meio
a quid pro quo, piadas e brigas, conhecemos o personagem de Russell em detalhes mais
profundos: a ausência dos pais, a carência de uma figura paterna e a admiração pelo Sr.
Fredricksen. Estes temas pertencem, sim, ao universo infantil, mas não tão
explicitamente. As crianças podem se identificar com o pai ausente de Russell, mas
apenas os adultos compreendem verdadeiramente o impacto disso na vida do garoto e na
consciência de Carl.
No longa FormiguinhaZ (1998), dos estúdios Dreamworks, existe o debate sobre
luta de classes e opressão do mais fraco. Muito se falou, à época do lançamento do filme,
sobre o quanto o mesmo e Vida de Inseto (1998) são similares. Isso se deve
simplesmente a uma ruptura de artistas com os estúdios e reapropriação de ideias
concebidas em conjunto. De qualquer maneira, os dois filmes têm abordagens diferentes.
No elenco de FormiguinhaZ, temos Woody Allen dublando Z, a formiga personagem
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principal. Seu texto todo é criado com humor e ironias, particulares à maneira de Allen
escrever seus roteiros. Na trama, Z descobre o plano dos formigas-soldados para inundar
o formigueiro e “purificar” a raça, mantendo apenas as formigas mais fortes e mais aptas
para que a colônia tivesse 100% de aproveitamento. A mensagem que o público infantil vê
é que até mesmo uma pequena formiga é importante, todos têm seu valor. Já para o
público adulto, isto dialoga diretamente com eventos no passado da história da
humanidade, de segregação racial e tomada de poder.
Outro ponto interessante onde os dois longas de 1998 se diferenciam muito é que,
no caso de Vida de Inseto, há outras espécies de insetos na história. Os vilões são os
gafanhotos (poderiam ser uma cigarra, de acordo com o conto folclórico, mas gafanhotos
têm um forte simbolismo de destruição), o circo é composto por vários insetos diferentes,
com talentos diferentes. A ameaça ao formigueiro não está dentro, está do lado de fora.
Torna-se, então uma questão de ataque, ao contrário de FormiguinhaZ, onde os
personagens principais não sabiam em quem confiar, pois a traição estava ao lado da
rainha. O uso de cores mais vibrantes em Vida de Inseto também é mais atraente para o
público infantil, que aceita comprometer a veracidade (afinal, não existem formigas azuis
ou roxas), o que não é tão facilmente aceito pelo público adulto, mesmo que
inconscientemente.
Outro filme onde pode-se ver a luta contra o status quo (assim como Z lutou, como
Flit lutou) é Bee Movie – A História de Uma Abelha (2007). A concepção original do filme
foi do comediante Jerry Seinfeld, em conjunto com Steven Spielberg, que adotou o projeto
de maneira fascinada. Barry é uma abelha operária, e em vésperas de decidir sua função
vitalícia na colmeia, faz um pequeno passeio para o lado de fora, onde existem ameaças
por ele desconhecidas. O caso de Bee Movie não é apenas um casting voltado para o
público adulto, mas também um roteiro muito inteligente, com muito sarcasmo e sacadas
de stand-up comedy bolado para adultos. Neste caso, o filme infantil torna-se uma
desculpa para os adultos irem assistir a uma animação, pois pode-se dizer que o filme é
muito mais para adultos do que para crianças. O material cômico de Seinfeld fez muito
sucesso nos anos 1980 e 1990, com a ascenção do stand-up em outros países e com seu
seriado de televisão que foi amado e acompanhado do começo ao fim no mundo todo. Ao
terminar a série, Jerry Seinfeld se afastou da grande mídia e concentrou-se em seus
pequenos shows de stand-up. Para o grande público, ele esteve sumido. Portanto, com o
lançamento de Bee Movie, muitos adultos e adolescentes que conheciam o seriado foram
atrás do humor de Seinfeld. O resultado do filme é composto por indagações do cotidiano
16
e referências a personagens do nosso mundo, como o caso da abelha Larry King, quando
Barry é entrevistado e diz “os humanos têm um apresentador muito parecido com você.
Tem até esse painel de LED (...)”. Piadas com personalidades famosas (Sting, Ray Liotta)
e sátiras a advogados. Quando Barry descobre que os humanos cultivam abelhas para
produção de mel (numa cena pós-apocalíptica de miséria e sofrimento), ele resolve
processar a humanidade. Será mesmo que este é um tema que as crianças
compreendem completamente ao assistirem ao filme? A temática é adulta, o ciúme que
Ken sente de Vanessa com Barry é ingênuo, mas tem seus clichês de situações de casal.
O que também nos traz a outra questão: não há vilão na história. Um filme infantil sem
vilão declarado é um sinônimo de confusão e fracasso, certo? Pelo contrário, Bee Movie
propicia a discussão sobre o meio-ambiente (tema muito popular na época de produção
do filme e até mesmo hoje em dia) e sobre como nossas ações influenciam nosso meio.
Barry, ao vencer o processo e impedir que humanos produzissem mel com “trabalho
escravo”, faz com que todas as abelhas parem de trabalhar, pois elas já têm mel
sobrando. Entretanto, de acordo com a previsão de Albert Einstein (que é citado no filme),
a vegetação começa a definhar, pois a ação das abelhas era necessária para o
ecossistema. Não apenas a coleta de néctar, mas a polinização também faz parte do
delicado circuito. Quebrando-o, não há flora.
Bee Movie é absolutamente carregado de piadas adultas, é até mesmo incrível que
seja um filme infantil, pois sua compreensão não é plena por parte das crianças. A
sequência final, no avião, tem todos os aspectos do sitcom de Seinfeld. Uma abelha
viajando no banco do avião, rendendo o piloto e o copiloto e tendo que pilotar sozinho
com sua amiga humana até o aeroporto, onde eles encontram uma grande flor e pousam
o avião como se fosse uma abelha. Esta é a essência do humor de Jerry Seinfeld.
2.4 VERSÃO BRASILEIRA
O Brasil é um país com tradição em dublagem, devido ao decreto Nº 544 de 31 de
Janeiro de 1962, que determinou, entre outras coisas, o seguinte:
Art. 8º A exibição de filmes estrangeiros nas emissoras de televisão requer a
obrigatoriedade de dublagem em português.
§ 1º Excetuam-se desta obrigatoriedade os filmes estrangeiros de reportagens telejornalísticas bem como desenhos animados.
§ 2º a obrigatoriedade constante neste artigo entrará em vigor 1(um) ano após a
17
publicação do presente Decreto. (BRASIL, 1962)
Desde então, os estúdios de dublagem brasileiros se aprimoraram na técnica de,
não apenas traduzir para o português brasileiro, mas de adaptar o filme ao público
brasileiro. Diversas piadas, referências e ditados não fariam sentido se fossem traduzidos
ao pé da letra, mas a dublagem brasileira encontrou sua própria linguagem e dinâmica de
fazer a sua própria versão do filme. Ironicamente, justo o que não era obrigatório
(desenhos animados) tornou-se o segmento da dublagem mais comum e melhor aceito.
Constatou-se imediatamente que não fazia sentido legendar programas animados para
crianças (que muito provavelmente não conseguiria ler) enquanto a dublagem estava
sendo feita em outros materiais audiovisuais. Foi assim que a dublagem de animação
entrou na programação brasileira.
Muitas vezes o processo de dublagem é acompanhado de perto pelo estúdio,
especialmente em se tratando de filmes de animação, que aplicam muito dinheiro na obra
e devem ter retorno deste investimento. Os responsáveis pela supervisão da dublagem
são enviados da própria produtora ao estúdio, e não entendem português. Cabe ao diretor
de dublagem fazer adaptações e explicá-las aos supervisores estrangeiros. Este processo
também determina o nível de liberdade que o diretor de dublagem terá em sua tradução e
os atores em suas performances. Alguns estúdios fazem muitas exigências e acabam por
não dar espaço para improvisação e criação. É deste tipo de postura que saem filmes
considerados “mal-dublados”: a pauta é tão restritiva, que o filme fica duro, sem a leveza
que os próprios atores tiveram durante as gravações.
Já quando a dublagem é deixada por conta do diretor e dubladores, com pouca ou
nenhuma supervisão das majors, os trabalhos ficam mais criativos e despojados. Há
espaço para piadinhas brasileiras, referências que apenas o nosso público entende, etc.
Muitos exemplos desta liberdade criativa são vistos em filmes Disney e Pixar,
especialmente quando são filmes “secundários”, com pouca notoriedade ou visibilidade
segundo o julgamento do estúdio. Paradoxalmente, por serem deixados mais livres, estes
filmes em suas versões dubladas fazem tanto sucesso que acabam sendo muito mais
conhecidos no Brasil do que em qualquer outro lugar do mundo.
Mulan (1998) foi um filme da Disney que tentou revigorar a linha das princesas,
mas que ao receber críticas étnicas perdeu força. As princesas Disney já estavam
vislumbrando sua queda e Mulan veio com tantos estigmas (primeira princesa oriental,
primeira princesa que não é princesa de verdade, primeira princesa que se veste de
18
homem e luta, em vez de esperar por seu príncipe) que não cumpriu sua função:
reencaminhar o rumo dos filmes de princesa. Seja porque o público não estava pronto (o
feminismo, ou falta de machismo, ainda não atingiu todas as camadas da sociedade, por
isso uma princesa lutar pode ser visto como indesejável ou arrojado demais) ou porque a
própria nação da China criticou a adaptação da tradicional história folclórica, Mulan
encerrou mais um capítulo dos filmes de princesas Disney. Foi apenas onze anos mais
tarde que o estúdio trouxe novamente uma princesa (desta vez com mais estigmas
étnicos, mas para um público mais preparado), Tiana de A Princesa e o Sapo (2009). Na
época de Mulan, o filme tinha uma abordagem nova, com uma princesa ativa, ao contrário
das passivas Cinderela, Branca de Neve, Bela e Aurora, além dos muitos traços cômicos.
Seus personagens de apoio (Mushu, seu dragão, Cri-Lee, seu grilo, e os colegas de
exército) transbordam piadas e trejeitos de comédia. Mushu, afinal de contas, é dublado
em seu original por Eddie Murphy, não poderia ser diferente. A dublagem brasileira tinha,
então, o desafio de adaptar piadas e maneirismos. Considerando que Mário Jorge é o
dublador brasileiro não apenas de Mushu, mas também de todos os filmes de Eddie
Murphy no Brasil, a adaptação foi natural. Os traços mais marcantes de Mushu são seu
despojamento e seus coloquialismos. Sua conversa é leve, cômica e despretensiosa. Em
certo momento, ele tenta acalmar o cavalo de Mulan gritando “calma, Mimosa!”,
desdenhando sua imponência através do humor.
Assim como a escolha de atores é importante para a versão original, na dublagem
isto não é diferente. Cada voz transmite determinadas emoções ou personalidades. A
escolha de trazer atores famosos (não necessariamente dubladores) é puramente
comercial da parte do estúdio (Disney, Warner, Universal, etc). Ter um ator “global” na
dublagem do filme certamente aumenta sua popularidade junto ao público, pois eles
conhecem o rosto por trás das vozes. Infelizmente, nem sempre a escolha deste casting é
feita baseada em mérito (quem dubla melhor), mas sim em quem mais tem a ver com o
personagem original (Luciano Huck como o príncipe de nariz grande de Enrolados,
Camila Pitanga como a sensual nativa de O Caminho para El Dorado). Entretanto, muitas
escolhas são acertadas e, nas mãos do diretor de dublagem certo, o resultado fica ainda
melhor que o original, aos olhos do público brasileiro.
O primeiro exemplo é A Nova Onda do Imperador (2000). O filme é irreverente, tem
piadas non-sense, músicas no meio da trama e um narrador-personagem absolutamente
egocêntrico, o que confere um caráter cômico ao longa. O personagem principal, Kuzko, é
dublado pelo ator de cinema e televisão Selton Mello. Já tendo dublado vários outros
19
produtos audiovisuais, ele considera a dublagem um aprendizado de artes cênicas
(MELLO, 20003). Neste longa da Disney, sua voz foi muito bem-recebida e não foi
descaracterizada. Apesar de Selton interpretar Kuzko, sua voz fica praticamente igual, o
que dá uma personalidade brasileira ao filme. O elenco de apoio é composto por Marieta
Severo e Humberto Martins, ambos atores de cinema e televisão voltados para o público
adulto, como Selton Mello. Marieta Severo dá voz a Yzma, ex-conselheira do imperador
que trama seu assassinato. Era necessário uma voz mais velha (afinal, a idade dela é
uma piada frequente no filme) e a decisão de trazer esta atriz conhecida do público adulto
fez o filme ter um ar familiar e cômico (afinal, o contraste da graciosidade de Marieta com
a feiúra de Yzma mora na cabeça do espectador). Este foi seu primeiro trabalho de
dublagem (o que poderia ter sido um erro), mas foi extremamente bem-sucedido. Assim
como Humberto Martins, que também nunca havia dublado e tem uma performance muito
satisfatória. O assistente de Yzma é Kronk, dublado por Guilherme Briggs. Este dublador
é um caso à parte. Briggs nunca atuou em cinema, televisão ou teatro, sempre foi apenas
dublador. Entretanto, suas performances são tão marcadas por seu bom-humor e
espontaneidade, que sua ascensão foi rápida e o reconhecimento do público fez seu
nome conhecido (algo muito incomum para os dubladores). Responsável pela dublagem
de Freakazoid em seriado homônimo, Dagget de Os Castores Pirados, Buzz Lightyear da
trilogia Toy Story, Cosmo de Os Padrinhos Mágicos, Babão de Eu Sou o Máximo e vários
outros desenhos (seriados ou longas) que marcaram a infância da geração entre os anos
1980 e 1990, Briggs é o símbolo do culto à dublagem. Seu trabalho espontâneo e
irreverente transcendeu sua voz e passou para as vozes de outros dubladores (em sua
maioria cariocas, pois a dublagem carioca é conhecida por ser mais “flexível” que a
paulista), através de suas direções de dublagem. São recorrentes as imitações de Silvio
Santos, Mickey Mouse, Scooby-Doo e outros ícones em suas performances. Mesmo que
este elemento não esteja no original, a dublagem de Briggs faz com que ela soe natural e
ainda acrescente uma piada que no roteiro original não existia. Kronk, de A Nova Onda do
Imperador, é um caso onde a voz de Briggs deu a elasticidade ao personagem que o
roteiro previa, mas que a dublagem original falhava em passar. O personagem é grande e
forte, mas sua personalidade é infantil e ingênua; e este contraste é percebido na versão
brasileira. O trio principal deste filme (Kuzko, Ysma e Kronk) é emblemático e traz boas
risadas do começo ao fim, em uma comédia muito jovem e inovadora (especialmente para
os padrões da Disney).
3 Em entrevista para os extras do DVD A nova onda do imperador.
20
Mais um exemplo de um ator famoso do público adulto que ganhou espaço numa
animação infantil foi Chico Anysio. Em Up – Altas Aventuras (2009), Chico foi convidado
para fazer a versão brasileira do “Seu” Fredricksen, interpretado originalmente por Edward
Asner, ator mais conhecido por trabalhos de dublagem do que de atuação em live action.
O primeiro protagonista Disney da terceira idade recebeu uma voz famosa, para atrair
ainda mais o público. A voz grave e madura de Chico Anysio está presente, porém com
pouco espaço para sua comédia. O filme é, em sua maioria, um drama pesado e não
seria fiel encaixar improvisos humorísticos. No fim, o trabalho de direção de dublagem foi
tão bem-feito que o público esqueceu-se de que Chico Anysio não era dublador, que
aquele era seu primeiro trabalho na área.
21
3 PERFIL DOS ESTÚDIOS
Este capítulo traz reflexões sobre a postura dos estúdios Disney, Pixar e
Dreamworks em inserir subtexto adulto em seus longas infantis.
Os estúdios de animação são muito fiéis às suas origens e é possível entender seu
comportamento quando entendemos seus fundadores. O primeiro, Walt Disney Animation
Studios, é o mais antigo. Fundado em 16 de Outubro de 1923 pelos irmãos Walt e Roy
Disney, produziu, por muitos anos, filmes curtos para serem exibidos nos cinemas antes
de filmes longa-metragem. Em 1937 lança o primeiro longa-metragem de animação, A
Branca de Neve e os sete anões. Antes disso, em 1928, Disney foi quem produziu o
primeiro desenho animado com som sincronizado, Steamboat Willie.
Não faço filmes especialmente dedicados às crianças. Chamemos a criança
de inocência. Mesmo o pior de nós não é desprovido de inocência, ainda
que ela esteja profundamente enterrada. Em minha obra, tento alcançar e
falar a essa inocência – Walt Disney (ELIOT, 1995, epígrafe)
Desde suas origens, vê-se que Disney abraça novas tecnologias, mas sua ousadia
de linguagem é quase inexistente. As obras de Disney são conservadoras, trazendo
adaptações de histórias infantis antigas, dos Irmãos Grimm e de folclore europeu. Os
personagens principais são sempre inocentes que caem nas garras de um vilão
maniqueísta, e no final os bonzinhos acabam felizes e o vilão tem seu merecido castigo. É
claro que os longas iniciais de Disney faziam parte de outro contexto, competindo,
inclusive, com a Era de Ouro de Hollywood. Entretanto, conforme o tempo passou, seus
novos administradores, produtores e diretores seguiram o legado que Walt Disney deixou,
tentando ser o mais fiel possível às tradições do estúdio, sem deixar de se adaptar aos
novos públicos. Alguns filmes com pitadas de humor não deram certo no cinema, como
Nem que a Vaca Tussa e Atlantis, o que levou o estúdio a mudar a abordagem, voltando
às origens com filmes de princesa, como A Princesa e o Sapo e Enrolados.
“Ironicamente, a reputação de Disney como o mais famoso animador do
mundo resultou muito mais em sua capacidade como merchandiser que
como artista. Foi o acréscimo de som e cor em seus filmes, na hora certa,
[...] que salvaram o Estúdio Disney de uma iminente insolvência. E ninguém
mais que Walt tinha consciência disso e compreendia que os lucros da
comercialização dependiam do sucesso contínuo de seus cartuns.” (ELIOT,
1995, p. 97)
22
O segundo estúdio, Pixar Animation Studios, desde 2006 faz parte da The Walt
Disney Company. Fundado em 1979 como Graphics Group, era parte da Lucasfilm, foi
comprado em 1986 por Steve Jobs e nomeado como é hoje. Uma das pessoas mais
importantes na criação dos filmes foi John Lasseter, Chefe Criativo, diretor de Toy Story 1
e 2, Vida de Inseto e Carros 1 e 2. Lasseter participa ativamente na produção dos novos
longas do estúdio e tem uma postura mais vanguardista em relação aos filmes,
principalmente na parceria Disney/Pixar. A geração dos animadores da Pixar já cresceu
vendo filmes Disney, por isso eles respeitam esta tradição, mas também tentam dar um ar
mais irreverente para os filmes. O resultado são filmes com subtexto adulto, porém sutil.
Por fim, DreamWorks Pictures. Dentre seus fundadores, é importante dar destaque
a Steven Spielberg. Em meados dos anos 1980, Spielberg se envolveu na produção de
desenhos animados em parceria com a Warner Bros, criando Tiny Toons, Animaniacs,
Pinky e o Cérebro, Histeria! e Freakazoid!. Estes desenhos, famosos no Brasil na década
de 1990, traziam muitas piadas de duplo sentido e conteúdo adulto. Com seu estilo nonsense, estas séries animadas conquistaram crianças, adolescentes e adultos. Pode-se
dizer que muito disso se deve a Spielberg, pois este encerrou os projetos frente a um
público que não compreendia plenamente seu material. Nesta época, os desenhos eram
ou para crianças, ou para adultos. Não havia algo entre estes dois públicos, e foi nisso
que Spielberg apostou.
A decisão de inserir subtextos adultos nas animações infantis pode ser cultural,
uma vez em que é cada vez mais comum termos referências a obras anteriores nos
trabalhos (como nos filmes de Quentin Tarantino). Por outro lado, esta iniciativa pode ser
puramente comercial: o público-alvo dos filmes (crianças) não vai ao cinema sozinho, elas
vão acompanhadas de seus pais, avós, tios. A fim de que os adultos não sejam
desmotivados a levarem as crianças para assistir aos filmes, os estúdios inserem uma
nova camada de compreensão do filme: a dos adultos. Na camada superior, há a trama
infantil, com pantomima, músicas originais e alívio cômico ingênuo. Já num nível mais
profundo, existem as referências, piadas de duplo sentido e mensagens que apenas os
adultos compreendem. O interessante destas diversas camadas de entendimento é que o
filme não envelhece para o fã. A criança que se divertia assistindo a determinado filme vai
crescer e começar a entender coisas diferentes daquela obra já tão familiar. O
espectador poderá mergulhar nos níveis de compreensão antes inalcançáveis e reciclar
sua admiração pela obra.
23
CONCLUSÃO
As análises trazidas aqui neste trabalho mostram que há diversos fatores que
enquadram o filme de animação em um panorama mais inclusivo para o público adulto.
Seja através do casting (como no caso de Shrek, Kung Fu Panda e Enrolados), da
escolha da trilha sonora (FomiguinhaZ, Shrek, Wall-E, Procurando Nemo, O Rei Leão,
Lilo e Stitch e os trabalhos de Randy Newman e Alan Menken), de mensagens ou
referências adultas (observadas em Wall-E, Hércules, Os Incríveis, Up – Altas Aventuras,
FormiguinhaZ, Vida de Inseto e Bee Movie – A história de uma abelha) ou das versões
brasileiras dubladas (A Nova Onda do Imperador e Up – Altas Aventuras), os filmes longametragens infanto-juvenis estão mirando na audiência que acompanha o público-alvo no
cinema.
A abordagem adulta em filmes infanto-juvenis é proposital por parte dos estúdios.
Não há dúvidas de que é intencional a escolha de atores conhecidos do público adulto, a
inserção de piadas ou referências que não condizem com o universo infantil e a
reapropriação de termos ou gírias regionais na dublagem. Observando o decadente
interesse dos adultos em levar as crianças até o cinema, os estúdios investem em atrair
estes adultos. Com a televisão e a internet, seria muito mais fácil para o adulto esperar
que o filme saísse em home vídeo para não ter que assistir a um filme desagradável no
cinema. Crendo neste chamariz, os estúdios reposicionaram seus diretores e criaram
obras com diversas camadas de entendimento. E a grande vantagem desta linguagem é
que isto não apenas atrai o público adulto, mas também faz com que o filme resista ao
tempo para seu público original, pois quando as crianças crescem elas continuam
achando graça, desta vez de outras piadas.
Como estudante de cinema, já ouvi diversas pessoas alimentando o velho
preconceito de que animações são obras rasas, sem desenvolvimento de personagens
profundos ou grandes temas. Isto é um equívoco frequente, baseado apenas em poucos
filmes mais antigos ou de qualidade duvidosa. Afinal de contas, há um aumento na
produção cinematográfica de filmes de animação devido a maior acessibilidade das
tecnologias. O mesmo processo ocorreu com o cinema de ação livre e mesmo assim o
público soube eleger seus filmes favoritos.
Além da má-vontade com a própria obra de animação, existe o preconceito com a
dublagem brasileira. Sendo eu mesma estudante desta técnica artística, conheci os dois
24
lados: o de quem não tolera filmes dublados e o de quem ama as versões brasileiras. Há,
sim, dublagens mal-feitas ou com pouco cuidado com o espectador, mas acredito que o
filme, como obra audiovisual, não deve ter elementos textuais. As legendas atrapalham a
contemplação plena do quadro visionado pelo diretor e nós brasileiros acabamos nos
acostumando com esta perda imagética por pura acomodação. Na animação, onde cada
quadro é pensado e feito um a um, a perda de informações é ainda maior. Legendar seria
apenas uma opção caso houvesse um recuo da tela, onde a legenda seria sobreposta
apenas a uma faixa preta, sem cortar o quadro original. Ainda há o problema de
animações feitas para o público infantil serem legendadas. As crianças em geral não lêem
na mesma velocidade das legendas e muitas também ainda não foram alfabetizadas.
Acredito que por este motivo a dublagem se fortaleceu tanto na área de animação,
encontrando menos barreiras do que em filmes de ação livre.
Por fim, sou também amante das animações infantis. Cresci assistindo a todos os
clássicos de Disney e Pixar e nunca deixei de amar esta técnica narrativa. Depois de ver
e rever os filmes, percebo que eles deixam uma marca muito profunda no público. A
relação da animação com o espectador é diferente da de filmes em ação livre. No meu
caso, lembro-me mais corretamente de trechos de filmes de animação (sejam eles da
minha infância ou posteriores) do que de filmes de ação livre que vi recentemente. Ainda
no campo da experiência pessoal, recordo-me de dois filmes que vi no cinema no último
ano: Toy Story 3 e o relançamento de O Rei Leão. Em ambas as sessões, o público era
majoritariamente jovem ou adulto e presenciei muitas pessoas se emocionando ao ver os
filmes. Os longas de animação podem ser mais leves do sentido de terem menos
violência ou temas sexuais, mas a reflexão que eles podem trazer é muito mais séria do
que da maioria dos blockbusters americanos (vide Up – Altas Aventuras, Wall-E, Lilo e
Stitch, Mulan, entre outros). O vínculo que os estúdios observados criam entre seus
espectadores e suas obras é muito forte. Dificilmente encontramos alguém que tenha sido
criança nos anos 1990 e não reconheça a melodia de O Rei Leão, Aladdin ou A Bela e a
Fera. Estes filmes não são apenas elementos passageiros da nossa infância, eles
realmente vivem dentro de nós.
Penso que o objetivo de todo profissional de cinema (seja da parte técnica, artística
ou financeira) é de que seu filme signifique algo para alguém. Que ele faça a diferença na
vida das pessoas e que o resultado transcenda seu tempo. De que outra forma estaria
hoje Walt Disney tão vivo, mais do que outros diretores? O apego emocional que os
longa-metragens de animação criam são admiráveis e poderiam ser um exemplo de
25
afinco e devoção para todos os produtores de conteúdo audiovisual. Para trabalhar em
um projeto de animação, o profissional se dedica integralmente e confia nos outros
membros de sua equipe. O cinema sempre foi uma arte coletiva, mas a animação exige
que cada integrante trabalhe como uma abelha: não necessariamente vendo o resultado
final enquanto ele é feito, mas acreditando que seu trabalho é imprescindível para a obra
que está sendo criada. O esforço coletivo faz a animação funcionar, pois se cada
profissional quisesse se destacar individualmente, o filme não se encaixaria.
Concluindo, desde que comecei minha pesquisa, me deparei com algo novo, pois
este tema nunca havia sido abordado em nenhum estudo formal ou informal. Minha
grande dificuldade bibliográfica transformou-se então em um universo vasto para ser
explorado e analisado. O processo de elaboração deste trabalho foi incrivelmente
motivante, nostálgico e nem um pouco cansativo. Quando há amor pelo tema, nunca é
demais ler, ver filmes ou pensar a respeito dele. Cinema é devoção em todos os níveis e a
animação é isto e muito mais. É ter o reconhecimento mesmo após anos, é ouvir o público
relembrar falas ou canções, é afetar diretamente a alma do espectador.
26
REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas
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29
Principais Filmes Estudados
A NOVA ONDA DO IMPERADOR. Direção de Mark Dindall. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 2000. DVD (78 minutos), colorido.
A PRINCESA E O SAPO. Direção de Ron Clements; John Musker. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 2009. DVD (97 minutos), colorido.
BEE MOVIE; A história de uma abelha. Direção de Steve Hickner e Simon J. Smith.
Estados Unidos: Dreamworks Studios: Dreamworks Animation SKG, 2007. DVD (91
minutos), colorido.
ENCANTADA. Direção de Kevin Lima. Estados Unidos: Walt Disney Pictures: Buena Vista
Home Entertainment, 2007. DVD (107 minutos), colorido.
FORMIGUINHAZ. Direção de Eric Darnell; Tim Johnson. Estados Unidos: Dreamworks
Animation: United International Pictures (UIP), 1998. DVD (83 minutos), colorido.
HÉRCULES. Direção de Ron Clements; John Musker. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1997. DVD (93 minutos), colorido.
KUNG FU PANDA. Direção de Mark Osborne; John Stevenson. Estados Unidos:
Dreamworks Animation: United International Pictures (UIP), 2008. DVD (90 minutos),
colorido.
LILO & STITCH. Direção de Dean DeBlois, Chris Sanders. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 2002. DVD (85 minutos), colorido.
MULAN. Direção de Tony Brankroft. Estados Unidos: Walt Disney Pictures: Buena Vista
Home Entertainment, 1998. DVD (88 minutos), colorido.
OS INCRÍVEIS. Direção de Brad Bird. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Pixar
Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2004. DVD (115 minutos), colorido.
PROCURANDO NEMO. Direção de Andrew Stanton; Lee Unkrich. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures; Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2003. DVD
(100 minutos), colorido.
SHREK 2. Direção de Andrew Adamson; Kelly Asbury; Conrad Vernon. Estados Unidos:
30
Dreamworks Animation: United International Pictures (UIP), 2004. DVD (93 minutos),
colorido.
SHREK PARA SEMPRE. Direção de Mike Mitchell. Estados Unidos: Dreamworks
Animation: United International Pictures (UIP), 2010. DVD (93 minutos), colorido.
SHREK TERCEIRO. Direção de Chris Miller; Raman Hui. Estados Unidos: Dreamworks
Animation: United International Pictures (UIP), 2007. DVD (93 minutos), colorido.
SHREK. Direção de Andrew Adamson; Vicky Jenson. Estados Unidos: Dreamworks
Animation: United International Pictures (UIP), 2001. DVD (90 minutos), colorido.
TOY STORY 2. Direção de John Lasseter; Ash Brannon; Lee Unkrich. Estados Unidos:
Walt Disney Pictures; Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 1999.
DVD (92 minutos), colorido.
TOY STORY 3. Direção de Lee Unkrich. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Pixar
Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2010. DVD (81 minutos), colorido.
TOY STORY. Direção de John Lasseter. Estados Unidos: Pixar Animation Studios: Buena
Vista Home Entertainment, 1995. DVD (81 minutos), colorido.
UP; Altas aventuras. Direção de Pete Docter. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Pixar
Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2009. DVD (96 minutos), colorido.
VIDA DE INSETO. Direção de John Lasseter, Andrew Stanton. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures; Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 1998. DVD
(95 minutos), colorido.
WALL-E. Direção de Andrew Stanton. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Pixar
Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2008. DVD (98 minutos), colorido.
Filmes de Animação Citados
A BELA ADORMECIDA. Direção de Clyde Geronimi. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1959. DVD (75 minutos), colorido.
31
A BELA E A FERA. Direção de Gary Trousdale; Kirk Wise. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1991. DVD (84 minutos), colorido.
A PEQUENA SEREIA. Direção de Ron Clements; John Musker. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1989. DVD (83 minutos), colorido.
ALADDIN. Direção de Ron Clements; John Musker. Estados Unidos: Walt Disney Pictures:
Buena Vista Home Entertainment, 1992. DVD (90 minutos), colorido.
BOLT; O supercão. Direção de Byron Howard, Chris Williams. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 2008. DVD (96 minutos), colorido.
BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES. Direção de William Cottrell; David Hand; Wilfred
Jackson; Larry Morey; Perce Pearce; Ben Sharpsteen. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1937. DVD (83 minutos), colorido.
CARROS 2. Direção de John Lasseter; Brad Lewis. Estados Unidos: Walt Disney Pictures;
Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2001. DVD (106 minutos),
colorido.
CARROS. Direção de John Lasseter; Joe Ranft. Estados Unidos: Walt Disney Pictures;
Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2006. DVD (117 minutos),
colorido.
CINDERELA. Direção de Clyde Geronimi; Wilfred Jackson; Hamilton Luske. Estados
Unidos: Walt Disney Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1950. DVD (74 minutos),
colorido.
COMO TREINAR SEU DRAGÃO. Direção de Dean DeBlois; Chris Sanders. Estados
Unidos: Dreamworks Animation: United International Pictures (UIP), 2010. DVD (98
minutos), colorido.
DUMBO. Direção de Sam Armstrong; Norman Ferguson; Wilfred Jackson; Jack Kinney;
Bill Roberts, Ben Sharpsteen; John Elliotte. Estados Unidos: Walt Disney Pictures: Buena
Vista Home Entertainment, 1941. DVD (64 minutos), colorido.
ENROLADOS. Direção de Nathan Greno; Byron Howard. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures; Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2010. DVD (100
minutos), colorido.
32
FANTASIA. Direção de James Algar; Samuel Armstrong; Ford Beebe Jr.; Normal
Ferguson; Jim Handley; T. Hee; Wilfred Jackson; Hamilton Luske; Bill Roberts; Paul
Satterfield; Ben Sharpsteen. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Pixar Animation
Studios: Buena Vista Home Entertainment, 1940. DVD (124 minutos), colorido.
MONSTROS S/A. Direção de Pete Docter; David Silverman; Lee Unkrich. Estados
Unidos: Walt Disney Pictures; Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment,
2001. DVD (92 minutos), colorido.
NEM QUE A VACA TUSSA. Direção de Will Finn; John Sanford. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 2004. DVD (76 minutos), colorido.
O CAMINHO PARA EL DORADO. Direção de Bibo Bergeron; Will Finn; Don Paul; David
Silverman; Jeffrey Katzenberg. Estados Unidos: Walt Disney Pictures: Buena Vista Home
Entertainment, 2000. DVD (89 minutos), colorido.
O REI LEÃO. Direção de Roger Allers; Rob Minkoff. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1994. DVD (30 minutos), colorido.
PINÓQUIO. Direção de Norman Ferguson; T. Hee; Wilfred Jackson; Jack Kinney;
Hamilton Luske; Bill Roberts; Ben Sharpsteen. Estados Unidos: Walt Disney Pictures:
Buena Vista Home Entertainment, 1940. DVD (88 minutos), colorido.
POCAHONTAS. Direção de Mike Gabriel; Eric Goldberg. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1995. DVD (81 minutos), colorido.
STEAMBOAT WILLIE. Direção de Ubi Iwerks; Walt Disney. Estados Unidos: Walt Disney
Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 1928. DVD (8 minutos), preto e branco.
VALENTE. Direção de Mark Andrews; Brenda Chapman; Steve Purcell. Estados Unidos:
Walt Disney Pictures; Pixar Animation Studios: Buena Vista Home Entertainment, 2009.
DVD (93 minutos), colorido.
Filmes e Séries de Apoio
2001; Uma odisseia no espaço. Direção de Stanley Kubrick. Estados Unidos, Reino
Unido: Metro-Goldwyn Meyer (MGM); Stanley Kubrick Productions: Warner Home Video,
1968. DVD (141 minutos), colorido.
33
A DAMA DE FERRO. Direção de Phyllida Lloyd. Reino Unido; França: Film4; UK Film
Council; Canal+; CinéCinéma; Goldcrest Pictures; DJ Filmes; Pathé: Pathé International,
2011. DVD (105 minutos), colorido.
A ERA DO GELO. Direção de Chris Wedge; Carlos Saldanha. Estados Unidos: Twentieth
Century Fox Film Corporation; Blue Sky Studios; Twentieth Century Fox Animation: 20th
Century Fox Home Entertainment, 2002. DVD (81 minutos), colorido.
À ESPERA DE UM MILAGRE. Direção de Frank Darabont. Estados Unidos: Castle Rock
Entertainment; Darkwoods Productions; Warner Bros. Pictures: Warner Home Video,
1999. DVD (189 minutos), colorido.
A FUGA DAS GALINHAS. Direção de Peter Lord; Nick Park. Estados Unidos:
Dreamworks SKG; Pathé; Aardman Animations: Dreamworks Distribution, 2000. DVD (84
minutos), colorido.
A HORA DO RUSH. Direção de Brett Ratner. Estados Unidos: New Line Cinema; Roger
Bimbaum Productions: Warner Home Vídeo, 1998. DVD (98 minutos), colorido.
ANIMANIACS. Criação de Steven Spielberg. Estados Unidos: Warner Bros. Animation;
Amblin Entertainment; Akom Production Company; Freelance Animators Ltd.; KoKo
Enterprises Company Ltd.; Philippine Animation Studio Inc.; StarToons; Tokyo Movie
Shinsha (TMS); Wang Film Productions Company: YTV, 1993-1998. Série de televisão (27
minutos, 95 episódios), colorido.
AS AVENTURAS DE JACKIE CHAN. Criação de John Rogers. Estados Unidos: Adelaide
Productions; Blue Train Entertainment; The Jackie Chan Group; Columbia TriStar
Television: Columbia TriStar Domestic Television; Kids' WB; Sony Pictures Television; The
WB Television Network; YTV, 2000-2005. Série de televisão (30 minutos, 95 episódios),
colorido.
ATLANTIS; O reino perdido. Direção de Gary Trousdale; Kirk Wise. Estados Unidos: Walt
Disney Pictures: Buena Vista Home Entertainment, 2001. DVD (95 minutos), colorido.
BAMBI. Direção de James Algar, Samuel Armstrong; David Hand; Graham Heid; Bill
Roberts; Paul Satterfield; Norman Wright. Estados Unidos: Walt Disney Pictures: Buena
Vista Home Entertainment, 1941. DVD (70 minutos), colorido.
BATER OU CORRER. Direção de Tom Dey. Estados Unidos: Touchstone Pictures;
Spyglass Entertainment; Roger Bimbaum Productions; Jackie Chan Films Limited: Warner
Home Vídeo, 2000. DVD (110 minutos), colorido.
34
BELEZA AMERICANA. Direção de Sam Mendes. Estados Unidos: Dreamworks SKG;
Jinks/Cohen Company: Universal Home Video, 1999. DVD (122 minutos), colorido.
CHUCK. Criação de Josh Schwartz; Chris Fedak. Estados Unidos: College Hill Pictures
Inc.; Fake Empire; Wonderland Sound and Vision; Warner Bros. Television: NBC Universal
Television Distribution, 2007-2012. Série de televisão (43 minutos, 91 episódios), colorido.
ENCONTRO EXPLOSIVO. Direção de James Mangold. Estados Unidos: Twentieth
Century Fox Film Corporation; Regency Enterprises; Pink Machine; Tree Line Films; Dune
Entertainment; New Regency Pictures; Wintergreen Productions: 20th Century Fox Home
Entertainment, 2010. DVD (109 minutos), colorido.
EU SOU O MÁXIMO. Criação de Steven Spielberg. Estados Unidos: Cartoon Network;
Hanna-Barbera Productions: Cartoon Network, 1997-2000. Série de televisão (30 minutos,
50 episódios), colorido.
EVOLUÇÃO. Direção de Ivan Reitman. Estados Unidos: Columbia Pictures Corporation;
Dreamworks SKG; The Montecito Picture Company: United International Pictures (UIP),
2001. DVD (101 minutos), colorido.
FOI APENAS UM SONHO. Direção de Sam Mendes. Estados Unidos: Dreamworks SKG;
BBC Films; Evamere Entertainment; Neal Street Productions; Goldcrest Pictures; Scott
Rudin Productions: Dreamworks Distribution, 2008. DVD (119 minutos), colorido.
FORREST GUMP; O contador de histórias. Direção de Robert Zemeckis. Estados Unidos:
Paramount Pictures: CIC Vídeo, 1994. DVD (142 minutos), colorido.
FREAKAZOID!. Criação de Steven Spielberg. Estados Unidos: Warner Bros. Animation;
Amblin Entertainment: The WB Television Network, 1995-1997. Série de televisão (30
minutos, 24 episódios), colorido.
HISTERIA!. Criação de Steven Spielberg. Estados Unidos: Warner Bros. Animation:
Kids'WB, 1998-2000. Série de televisão (30 minutos, 52 episódios), colorido.
HISTÓRIAS CRUZADAS. Direção de Tate Taylor. Estados Unidos: Dreamworks SKG;
Reliance Entertainment; Participant Media; Imagenation Abu Dhabi FZ; 1492 Pictures;
Harbinger Pictures: Touchstone Pictures, 2011. DVD (146 minutos), colorido.
35
MARY E MAX. Direção de Adam Elliot. Austrália: Melodrama Pictures: PlayArte Filmes,
2009. DVD (92 minutos), colorido.
MERRIE MELODIES; Starring Bugs Bunny and Friends. Direção de Ken Harris; Rudy
Larriva; Tex Avery; Robert Clampett; Arthur Davis; Fritz Freleng; Chuck Jones; Norm
McCabe; Roberto McKimson; Phil Monroe. Estados Unidos: Warner Bros. Animation:
Warner Bros. Television, 1990. Série de televisão (23 minutos, 65 episódios), colorido.
NÁUFRAGO. Direção de Robert Zemeckis. Estados Unidos: Twentieth Century Fox Film
Corporation; Dreamworks SKG; ImageMovers; Playtone: Universal Home Video, 2000.
DVD (143 minutos), colorido.
O EXPRESSO POLAR. Direção de Robert Zemeckis. Estados Unidos: Castle Rock
Entertainment; Shangri-La Entertainment; Playtone; ImageMovers; Golden Mean;
Universal CGI; Warner Bros. Pictures: Warner Home Video, 2004. DVD (100 minutos),
colorido.
O PINKY E O CÉREBRO. Criação de Steven Spielberg. Estados Unidos: Warner Bros.
Animation; Amblin Entertainment: Warner Bros. Television, 1995-1998. Série de televisão
(30 minutos, 57 episódios), colorido.
OS CASTORES PIRADOS. Criação de Mitch Schauer. Estados Unidos: Gunther-Wahl
Productions Inc.; Nickelodeon Productions; Paramount Television: YTV, 1997-2001. Série
de televisão (30 minutos, 64 episódios), colorido.
OS PADRINHOS MÁGICOS. Criação de Butch Hartman. Estados Unidos: Billionfold;
Frederator Incorporated; Nickelodeon Productions: Nelvana Communications, 2001. Série
de televisão (30 minutos, 98 episódios), colorido.
OS VINGADORES. Direção de Joss Whedon. Estados Unidos: Marvel Studios;
Paramount Pictures: Walt Disney Studios Motions Pictures, 2012. DVD (142 minutos),
colorido.
P.S. EU TE AMO. Direção de Richard LaGravenese. Estados Unidos: Alcon
Entertainment; Grosvenor Park Productions; Wendy Finerman Productions: Warner Bros.
Pictures, 2007. DVD (126 minutos), colorido.
PERSÉPOLIS. Direção de Vincent Paronnaud; Marjane Satrapi. França; Estados Unidos:
2.4.7. Films; France 3 Cinéma; The Kennedy/Marshall Company: Europa Filmes, 2007.
DVD (96 minutos), colorido.
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SEINFELD. Criação de Jerry Seinfeld; Larry David. Estados Unidos: Castle Rock
Entertainment; West-Shapiro: Sony Pictures Television, 1990-1998. Série de televisão (23
minutos, 172 episódios), colorido.
SR. E SRA. SMITH. Direção de Doug Liman. Estados Unidos: Regency Enterprises; New
Regency Pictures; Summit Entertainment; Weed Road Pictures; Epsilon Motion Pictures:
Twentieth Century Fox Film Corporation, 2005. DVD (120 minutos), colorido.
TINY TOONS. Criação de Steven Spielberg. Estados Unidos: Warner Bros. Animation;
Amblin Entertainment: Kids'WB, 1990-1992. Série de televisão (30 minutos, 94 episódios),
colorido.
UM SONHO DE LIBERDADE. Direção de Frank Darabont. Estados Unidos: Castle Rock
Entertainment: Warner Home Video, 1994. DVD (142 minutos), colorido.
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