NINA
UM FILME DE HEITOR DHALIA
UMA PRODUÇÃO GULLANE FILMES
26th Moscow International Film Festival (Rússia)
Prêmio da Critica
3rd LacinemaFE Film Festival (NYC)
Prêmio de Melhor Direção
33rd International Film Festival Rotterdam (Holanda)
"um dos Hits do Festival"
10th Los Angeles Film Festival (USA)
"uma combinação de Dostoiévski com David Linch e o estilo violento dos Mangás japonêses"
8th Puchon International Fantastic Film Festival (Coréia)
“uma combinação de Franz Kafka e David Lynch. O resultado é uma obra surpreendentemente real
e única”.
Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira (Portugal).
Prêmio Revelação em Longa-Metragem
8th Encuentro Latinoamericano de Cine - Festival el Cine Lima (Peru)
Prêmio de Melhor Fotografia
53rd Melbourne International Film Festival (Austrália)
17th Helsinki Film Festival (Finlândia)
Festival de Cinema de Marrakesh (Marrocos)
Festival de Havana (Cuba)
Festival de Bratislava.
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
A PROTAGONISTA
A ANTAGONISTA
OS PERSONAGENS
O DIRETOR
O ROTEIRO
A FOTOGRAFIA
A DIREÇÃO DE ARTE
OS DESENHOS
A MÚSICA
OS PRODUTORES
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
O LIVRO
SÃO PETESBURGO, SÉCULO XIX:
RASKOLNIKÓV, UM ESTUDANTE POBRE, DESENVOLVE UMA TEORIA QUE DIVIDE OS HOMENS
ENTRE “ORDINÁRIOS” E “EXTRAORDINÁRIOS”. AO SE ENQUADRAR NA SEGUNDA OPÇÃO,
LEGITIMA A IDÉIA DE ASSASSINAR UMA VELHA AGIOTA E USURÁRIA. ESSE POLÊMICO
PERSONAGEM DE DOSTOIÉVSKI, CIVILIZADO E ANIMALESCO, MERGULHA NA CULPA E
PASSA POR EXPERIÊNCIAS TRANSFORMADORAS.
O FILME
SÃO PAULO, SÉCULO XXI:
NINA, UMA MENINA DE SENSIBILIDADE AGUDÍSSIMA E MENTE FRAGILIZADA, ALUGA UM
QUARTO NO APARTAMENTO DE EULÁLIA, UMA VELHA MESQUINHA E EXPLORADORA. COM O
CORAÇÃO EXASPERADO POR TEORIAS E ANSIEDADES, ELA DEFENDE O DIREITO DE VIVER
SEGUNDO A VONTADE PRÓPRIA E COMETE UM CRIME HEDIONDO, COMO SE NÃO HOUVESSE
CAMINHADO COM AS PRÓPRIAS PERNAS.
SINOPSE REDUZIDA
Nina, jovem de sensibilidade agudíssima e mente fragilizada, procura meios de sobrevivência
numa metrópole desumana. A proprietária do apartamento onde mora, Dona Eulália, uma velha
mesquinha e exploradora, parece tirar prazer em esmagar a vontade da sua inquilina exaurida.
O que faz uma pessoa extraordinária quando alguém ordinário quer acabar com ela?
Nina, em meio a desenhos que faz em toda parte e vivendo a agitada cena eletrônica de São
Paulo, mergulha nos fantasmas de seu sub consciente até acabar envolvida num crime.
Uma combinação de Crime e Castigo de Dostoiévski, o visual soturno dos filmes de suspense e as
animações violentas que lembram os Mangás Japoneses.
O longa-metragem de estréia do diretor Heitor Dhalia é um retrato pungente da desintegração
psicológica diante um mundo frio e sádico.
APRESENTAÇÃO
UMA IMAGEM REVIVIDA
POR PAULO BEZERRA
Para Dostoiévski, a humilhação de um ser humano é uma questão absolutamente inaceitável. Ela
justifica qualquer ato na defesa de sua dignidade ofendida. Heitor Dhalia tomou essa idéia de
empréstimo ao romance Crime e Castigo e fez dela o enredo de NINA. Ambientado na São Paulo
de hoje, o filme narra a história de Nina, jovem pobre, que procura diariamente um meio de
sobrevivência na sociedade desumana de hoje e só esbarra em adversidades. Mora num quarto
alugado. A senhoria Eulália, velha decrépita e reencarnação da velha usurária morta por
Raskólnikov em Crime e Castigo, humilha Nina a todo instante, viola sua correspondência,
confisca-lhe um dinheiro que a mãe lhe enviara, tranca a geladeira a cadeado para impedir-lhe o
acesso aos alimentos ali guardados, cada um com a etiqueta "Eulália", símbolo do poder de
compra e do direito ao consumo e à humilhação do semelhante.
Mas Nina tem reservas éticas e humanas, é sensível à humilhação do seu semelhante. Recusa o
dinheiro "fácil" da prostituição, dá o único que tem a um taxista que espancava uma mulher que
não lhe pagara a corrida, e aí ela repete a atitude de Raskólnikov, que deixa na janela do velho
Marmieládov os últimos centavos que possuía para saciar a fome das crianças. Cresce o choque
com Eulália e o mundo ao redor, intensifica-se a tensão, o mundo interior de Nina vai se
desintegrando, em sua mente cruzam-se os episódios mais chocantes de Crime e castigo e
fantasmas da sua própria infância. A tensão chega ao clímax quando Eulália resolve despejá-la e
lhe apresenta o futuro inquilino para o seu quarto.
Desesperada, Nina mata Eulália. Isso acelera a desintegração do seu psiquismo; começam as
alucinações auditivas, depois as visuais, um homem lhe aponta a bengala como que lhe
imputando o crime, como o estranho o fez com Raskólnikov. Realidade e fantasmagoria se
cruzam, o mundo interior de Nina se desintegra de vez.
Paulo Bezerra estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, já
traduziu do russo quarenta e cinco obras nos campos da filosofia, psicologia, teoria literária e da
ficção. Fez a primeira tradução do Crime e Castigo do russo para o português.
A PROTAGONISTA
NASCIDA NO PARANÁ, GUTA STRESSER COMEÇOU NO TEATRO, AOS 13 ANOS DE IDADE.
MAS FEZ FAMA NA TELEVISÃO, COMO PERSONAGEM DO SERIADO DE TELEVISÃO A GRANDE
FAMÍLIA, DA REDE GLOBO. NINA, PERSONAGEM-TÍTULO DO FILME DE HEITOR DHALIA, É
SEU PRIMEIRO TRABALHO COMO PROTAGONISTA NO CINEMA.
Nina é a primeira personagem protagonista que você faz no cinema?
O que achou do desafio e da responsabilidade de interpretar um personagem inspirado em
Rashkolnikov, de Crime e Castigo?
Sim, é a minha primeira protagonista. Bom, eu sempre gostei de desafios. Foi muito difícil
mergulhar no universo sombrio do personagem, é impossível passar ileso. Em alguns momentos,
foi bem doloroso, mas extremamente rico e inspirador. A responsabilidade é enorme,
Rashkolnikóv é único. Nunca tentei fazer a versão feminina do personagem, usei-o, sim, como
fonte de inspiração e pesquisa, como um muso, como se Nina tivesse lido o Crime e Castigo e se
identificado completamente com o protagonista, com suas angústias, teorias e até com sua
loucura.
Como trabalhou na preparação do personagem? Houve muita interferência do Heitor Dhalia
nesse processo?
Trabalhei com Nina desde a primeira idéia do Heitor. Como a personagem foi criada por ele para
mim, eu acompanhei todos os tratamentos do roteiro. Então, já pensava nela dois anos antes de
filmar e minha concepção da personagem foi acompanhando o amadurecimento do roteiro. A partir
de dezembro de 2002, a um mês do início das filmagens, nos concentramos em ensaios diários
com todos os atores com quem eu contraceno. O Heitor esteve presente em todas as fases de
construção da personagem, sempre encaminhando o trabalho de preparação para filmar com a
mesma firmeza com que dirigiu o set, com seu olhar clínico e seus conselhos preciosos. Uma
verdadeira parceria.
Você se relaciona desta mesma forma com seus personagens no teatro e na televisão?
Sim,tenho a mesma relação com as personagens, independente do veículo. Mas Nina, sem
dúvida, foi a personagem que me deu mais trabalho até hoje, tanto pela complexidade quanto pela
quantidade de cenas. Ela só não está em uma seqüência do filme, a do sonho do cavalo.
O que achou de contracenar com Myriam Muniz? Como foi o relacionamento entre vocês
duas enquanto filmavam?
A Myrian é uma Deusa, trabalhar com ela foi sensacional. Ela é dionisíaca.
Nosso relacionamento foi ótimo. Ela fazia altares, dava presentes para todos, é muito querida.
A ANTAGONISTA
ATRIZ E PROFESSORA DE INTERPRETAÇÃO, MYRIAM MUNIZ DÁ DIMENSÃO TRÁGICA À
AVARENTA E USURÁRIA EULÁLIA, QUE EXPLORA E ABUSA PSICOLOGICAMENTE DE NINA.
Eulália, a velha avarenta que explora e tortura Nina, já teve dias melhores. Conseguiu ser
proprietária de um apartamento na região central quando o lugar era valorizado. E dali nunca
mais saiu. Arrasta-se pelos dias, sem anseios, vivendo num niilismo absoluto. Ninguém poderia
viver esse papel de construção tão complexa tão bem quanto Myriam Muniz, uma dama do teatro
que transformou o cinema em uma de suas principais atividades recentemente.
Antes de se dedicar à carreira de atriz, Myriam Muniz foi faxineira, enfermeira, fez dança e
estudou teatro. Passou a se dedicar inteiramente à interpretação em 1962, logo depois de
terminar o curso da Escola de Arte Dramática e entrar no Teatro Oficina. Foram anos de palco,
interpretando desde clássicos como Shakespeare, Molière, Gogol até autores brasileiros como
Dias Gomes, Augusto Boal e outros. Fundadora do Teatro Escola Macunaíma, Myriam passou boa
parte dos últimos anos se dedicando a dar aulas e formar novos talentos.
Teve uma breve passagem pela televisão, no final dos anos 1960, quando integrou o elenco de
Nino, o Italianinho. A experiência fez com que desenvolvesse uma aversão, que durou até
recentemente, quando aceitou o convite para participar da série Brava Gente, do SBT, e logo em
seguida da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, no papel da zelosa mãe de Marco Nanini.
Também atuou em Os Maias, de Luiz Fernando Carvalho, adaptação para a televisão do romance
de Eça de Queiróz.
O cinema veio antes, em 1965, quando fez Cléo e Daniel, de Roberto Freire.
Trabalhou regularmente, alternando suas peças de teatro a filmes como Macunaíma (1969), de
Joaquim Pedro de Andrade, Mar de Rosas (1976) e Das Tripas Coração (1980), ambos de Ana
Carolina. Depois de um longo intervalo, que durou mais de uma década, voltou a filmar,
encadeando dois filmes seguidos: Alô? (1996), de Mara Mourão, e Amélia (1998), de Ana
Carolina. O papel de Eulália, em Nina, marca seu retorno ao cinema, após um breve intervalo.
aversão, que durou até recentemente, quando aceitou
da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, no papel da zelosa mãe de
OS PERSONAGENS
Sabrina Greve é SOFIA, que nutre uma paixão explícita por Nina, de quem é companheira de
festas, badalações noturnas e outras paradas da cena underground.
Luiza Mariani encarna a ALICE, uma garota de classe média que se vira na rua, se prostituindo,
quando o dinheiro fica curto e a necessidade bate.
Wagner Moura faz o papel do CEGO, um homem extremamente inteligente e sagaz, que esconde
sua esperteza na aparente fragilidade da cegueira.
Guilherme Weber dá vida a ARTHUR, o rapaz reacionário e sádico que visita o apartamento de
Eulália e sente um prazer perverso em desalojar Nina.
Abrahão Farc assume a figura do VELHO acusardor, que persegue Nina pelas ruas da cidade e
pode ser definido como a projeção do medo e da culpa da personagem.
Lázaro Ramos e Matheus Nachtergaele são os PINTORES, a dupla cômica responsável pela
pintura de um apartamento no prédio onde a ação do filme se passa.
Selton Mello é o NAMORADO DE ANA, uma figura assessória em sua vida, presente apenas para
confortá-la e provê-la de sexo quando necessário.
Milhem Cortaz interpreta CARLÃO, vendedor ambulante que ganha a vida comercializando
quinquilharias nas ruas da cidade e ajuda Nina comprando mercadoria usada dela.
Juliana Galdino assume o papel de ANA, conectada com todos os acontecimentos da noite e
eventual traficante de drogas.
Renata Sorrah aparece em cena no papel de uma PROSTITUTA completamente bêbada,
maltratada por um taxista rude e grosseiro.
O DIRETOR
NASCIDO NO RECIFE, EM PERNAMBUCO, HEITOR DHALIA MUDOU-SE PARA SÃO PAULO EM
1993, ONDE MORA ATÉ HOJE. REDATOR PUBLICITÁRIO, TRABALHOU NAS PRINCIPAIS
AGÊNCIAS DE PROPAGANDA BRASILEIRAS, TENDO CRIADO E PRODUZIDO MAIS DE CEM
FILMES. ESTRÉIA NO CINEMA EM 1999, PRIMEIRO COMO ASSISTENTE DE ALUÍZIO
ABRANCHES NO LONGAMETRAGEM UM COPO DE CÓLERA, DEPOIS COMO ROTEIRISTA DE AS
TRÊS MARIAS E, FINALMENTE, COMO DIRETOR DO CURTA CONCEIÇÃO. NINA É SUA
ESTRÉIA NA DIREÇÃO DE LONGAS.
Como surgiu a idéia de adaptar e atualizar Crime e Castigo para o cinema? E porque a
escolha recaiu sobre o clássico de Dostoiévski?
> Li Crime e Castigo há 10 anos e de alguma forma o livro permaneceu dentro de mim. Depois de
2 ou 3 anos da primeira leitura, eu ainda lembrava claramente da atmosfera do livro. Então, numa
noite de febre criativa, surgiu a idéia de fazer um filme que dialogasse de alguma forma com este
livro. Meu avô sempre dizia "Leia os clássicos". Isso provavelmente também me influenciou. Por
que Crime e Castigo? Não sei. A idéia surgiu sem explicação e tomou conta de tudo. Sempre fui
fascinado pela psicologia dos personagens de Dostoéviski.
Por que decidiu transformar Rashkolnikov em uma mulher, Nina?
> A transformação de Rashkolnikov em NINA deve-se basicamente a uma razão. A idéia de fazer
este filme surgiu da minha vontade de trabalhar com a Guta Stresser, atriz que conheci no teatro,
em uma peça do Hector Babenco, e que me impressionou por sua vontade de correr riscos. Isso
também proporcionou um certo distanciamento da obra. Jamais teria a pretensão de adaptar
Dostoéviski. Vejo o NINA como um caderno de anotações sobre Crime e Castigo. Me sinto como
um estudante de pintura que vai ao museu e, fascinado por um quadro do Rembrant, tenta captar
de alguma maneira a essência do gênio em seu pequeno caderno de esboços.
E por que inserí-la no contexto da cena underground paulistana?
> Rashkolnikov é um personagem que está a margem da sociedade. Ele se distancia cada vez
mais do "Establishment". Desta maneira, procurei situar Nina como fazendo parte de um grupo de
pessoas que vivem no limite da dita normalidade, pessoas que contestam de alguma forma os
conceitos estabelecidos e aceitos pela maioria. O underground paulistano, e o centro da cidade,
com toda sua miséria humana, me pareceu adequado para retratar essa atmosfera sombria.
Nina foi um filme muito planejado. Como trabalhou durante a elaboração do projeto, a préprodução e a produção?
> Nina foi um filme obsessivo em muitos sentidos. Uma dessas obsessões foi a preparação. O
filme foi totalmente planejado. Tivemos 12 tratamentos de roteiro, fizemos storyboards de todas
as cenas e criamos todo o conceito visual do filme antes da pré-produção. Isso se deu sobretudo
pela dificuldade da nossa proposta: fazer um filme que não fosse apenas o ponto de vista da
personagem, mas sim o reflexo distorcido de sua mente doentia.
A escolha da Guta Stresser foi fundamental para o filme. Como trabalhou com ela e qual a
relação que se estabeleceu entre vocês dois?
> A minha relação com a Guta Stresser foi bastante intensa e complexa. Durante três anos,
discutimos sobre o roteiro e sobre a complexidade psicológica da personagem. Depois, vieram os
ensaios e por fim as filmagens.
Durante quase todo este tempo, estivemos juntos criativamente. Porém, em um determinado
momento, Guta mergulhou inteiramente no escuro mundo da Nina. E ela precisou fazer isso
sozinha. Foi um processo doloroso, muito difícil para nós dois. Isso tudo está impresso no filme.
Submergimos do mergulho e a nossa relação é igual a de antes do filme.
O ROTEIRO
JORNALISTA POR FORMAÇÃO, MARÇAL AQUINO COMEÇOU CARREIRA COMO REPÓRTER E
REDATOR, ANTES DE SE DEDICAR À LITERATURA E AO CINEMA.
PUBLICOU, ENTRE OUTROS LIVROS, O AMOR E OUTROS OBJETOS PONTIAGUDOS, PELO
QUAL RECEBEU O PRÊMIO JABUTI. EM PARCERIA COM BETO BRANT, ATUOU COMO
ROTEIRISTA DOS FILMES OS MATADORES, AÇÃO ENTRE AMIGOS E O INVASOR.
COM HEITOR DHALIA, DESENVOLVEU O ROTEIRO DE NINA.
Depois de trabalhar como parceiro de Beto Brant, como foi encarar o trabalho com Heitor
Dhalia?
Foi ótimo trabalhar com o Heitor. Ele é um grande artista. Tem uma concepção pessoal de
cinema, uma inquietação artística contagiante e uma capacidade de concentração que poucas
vezes vi. E uma curiosidade e paixão muito grandes pela coisa. Dividir a criação de NINA com ele
foi um aprendizado. Nesse caso, como se tratava da primeira vez em que trabalhei com o texto de
outro autor - um dos maiores do mundo, o Dostoiévski – foi uma experiência que me acrescentou
muito.
Qual a importância de Crime e Castigo para a sua formação? Como encarou o desafio de
fazer uma adaptação e atualizar o livro?
Li Crime e Castigo quando tinha uns 16 anos. Ficou pra mim como um dos livros fundamentais.
Dostoiévski é o mestre dos personagens que se ajoelham diante da vida. Aquele olhar para o
patético e para o escuro do humano torna o livro uma experiência transformadora. Crime e
Castigo é uma obra essencial. Trabalhar à sombra de um livro como esse é sempre desafiador. E
ousado. Acho que nos saímos bem.
Como foi o processo de trabalho com o Heitor Dhalia?
> A idéia dele sempre foi trabalhar com absoluta liberdade em relação ao livro. Tanto que não
falamos em adaptação e sim em um filme livremente inspirado no livro. A intenção era, acima de
tudo, capturar a atmosfera de Crime e Castigo. Aquela coisa paranóica, culpa e loucura levando
as pessoas a gestos extremados. A partir dessa abordagem, escrevemos vários tratamentos do
roteiro, à medida que o Heitor ia estabelecendo os conceitos, a concepção do filme.
Vendo o filme, você reconhece o resultado do seu trabalho?
> Deu pra ver que o roteiro, adequado à concepção artística do filme, está lá na tela, íntegro. A
história está muito bem contada, com um requinte maravilhoso. E tem um grau de realização
espetacular, O Heitor fez um filme que vai mexer com a cabeça das pessoas. Vendo o filme, fiquei
muito feliz por estar envolvido. É um privilégio.
A FOTOGRAFIA
RESPONSÁVEL PELA DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA, JOSÉ ROBERTO ELIEZER IMPRIME ÀS
IMAGENS DO FILME UM CLIMA DE MISTÉRIO E ANGÚSTIA, TRADUZINDO O CONVULSIVO
ESTADO PSICOLÓGICO DA PERSONAGEM.
A fotografia de NINA busca traduzir visualmente os estados psicológicos da personagem. O
movimento da câmera nunca é gratuito, está sempre a serviço da narrativa. Uma cinematografia
ao mesmo tempo clássica e moderna. O processo utilizado foi o super 35mm, com ampliação ótica
para o formato Scope. Com exceção dos créditos e animações, o filme é cem por cento ótico.
"O mundo de Nina é quase em preto e branco, como os desenhos que ela produz”, diz José
Roberto Eliezer, diretor de fotografia do filme. "Pouca cor, muito contraste, e a busca constante
de texturas, tanto nos ambientes como na própria luz. A imagem é densa, escura, mas carregada
de detalhes. O desafio da fotografia é enxergar na escuridão. O que não se vê é tão importante
uanto o que se vê."
Parceiro de Heitor Dhalia desde o curta-metragem Conceição, Eliezer foi uma escolha quase
natural para a função em NINA. Zé Bob, como é conhecido no meio, começou carreira como
assistente e estreou na direção de fotografia de longa-metragem com o Filme Demência (1986),
de Carlos Reichenbach
Outros créditos de Zé Bob como fotógrafo incluem Cidade Oculta (1986), de Chico Botelho; Anjos
da Noite (1988), de Wilson Barros; A Dama do Cine Shanghai (1988), de Guilherme de Almeida
Prado, e A Grande Arte (1992), de Walter Salles.
Atualmente, ele trabalha na finalização de Cafundó (2003), de Clóvis Bueno e Paulo Betti, e do
documentário Person (2003), de Marina Person.
Entre seus projetos futuros está a realização da fotografia de A Dona da História, de Daniel Filho.
A DIREÇÃO DE ARTE
ESTREANTES, AKIRA GOTO E GUTA CARVALHO ASSINAM JUNTOS A CONCEPÇÃO ARTÍSTICA
DE NINA, QUE PRESCINDE DAS CORES E PERCORRE DESDE O ESTILO MODERNO ATÉ O
CLÁSSICO, PASSANDO PELO UNDERGROUND.
A arte do filme revela a maneira como Nina enxerga o mundo, mais sombrio, sem cores, opressor
e estranho. Akira Goto e Guta Carvalho, que estréiam como diretores de arte, foram os
responsáveis por essa concepção visual. "O desafio foi criar, junto com a fotografia, essa
atmosfera pertubadora", explica Goto. "A idéia era representar nos cenários e locações o estado
psicológico da personagem", completa Guta.
Foi um processo de trabalho longo, que durou quase dois anos e foi sendo desenvolvido junto
com o roteiro. Praticamente todas as soluções visuais, desde os cenários até as mínimas
texturas, foram testadas em desenhos de produção e em programas de computador. Nenhum
elemento que aparece em cena foi escolhido gratuitamente.
Todo o material usado na construção dos cenários foi adquirido em demolição. Com isso, obtevese a sensação de gastura, de passagem do tempo, de um clima decadente próprio da velha
usurária Eulália.
Ambientes amplos, pé direito alto, corredores largos, escadas em caracol, cores dessaturadas,
luzes esmaecidas. Todos esses elementos indicam o estado de opressão constante em que vive
Nina. Neste sentido, podese dizer que a arte do filme tem um sentido expressionista.
OS DESENHOS
ESCRITOR E AUTOR DE QUADRINHOS, O PAULISTA LOURENÇO MUTARELLI É RESPONSÁVEL
PELOS DESENHOS FEITOS POR NINA, QUE ILUSTRAM AS ANIMAÇÕES QUE PONTUAM O
FILME.
ESCRITOR E AUTOR DE QUADRINHOS, O PAULISTA
Lourenço Mutarelli, talvez o maior desenhista de histórias em quadrinhos em atividade hoje no
Brasil, deu a NINA o elemento fundamental – a tradução da alma da personagem principal do
filme em imagens ao mesmo tempo aterradoras e reveladoras. Seus desenhos mostram com
simpatia, dor e humor a complexidade da vida dos muitos miseráveis espalhados pela cidade de
São Paulo. Seus personagens, sempre lançados num mundo hostil, refletem a tragédia da vida
humana. Eles estão à nossa volta, em todos os lugares, mas principalmente dentro de nós.
Com o domínio da técnica nanquim, Mutarelli construiu uma obra ao mesmo tempo intuitiva e
filosófica, permeada por figuras que hipnotizam e propagam o desespero ao refletir o estado de
espírito daqueles que se sentem desgraçados.
Pinta com traços detalhados, quase barrocos, mas, ironicamente, alcança com clareza única o
retrato perfeito do submundo da grande cidade. Um modelo perfeito para refletir, com seus
desenhos, que compõem o "caderno de Nina" e formam os inserts que pontuam a trama, animados
pela LOBO, o processo de loucura que toma conta da personagem ao longo do filme.
Com suas imagens, Mutarelli consegue alcançar um paralelismo temático e uma sensibilidade
semelhante à proposta em Crime e Castigo. Ele desenha e escreve com desesperança absoluta a
condição humana. Traduz a alma dos homens, perdida num universo sombrio, cruel e intenso,
traço que o aproxima das grandes obras da literatura. Seus personagens, como Nina, conseguem
muitas vezes a redenção pela loucura, com um cinismo pela vida que ao mesmo tempo os
aprisiona e os liberta.
Como o próprio artista define em sua mais famosa criação, a HQ Transubstanciação, "não é a luz
na escuridão, mas sim o momento em que nossos olhos passam a enxergar nas trevas. Um retrato
dos dias que vislumbrei o esboço do inferno". E para entendê-lo, basta lembrar uma de suas
citações em Eu te amo Lucimar: "A desgraça faz dos seres o que eles são". Seu primeiro
romance, Cheiro do Ralo, está sendo adaptado por Heitor Dhalia e Marçal Aquino para o cinema.
A MÚSICA
NA TRILHA SONORA DE NINA, ANTÔNIO PINTO USA FORMA CLÁSSICA MISTURADA À MÚSICA
ELETRÔNICA PARA ACOMPANHAR ESTADO DE ANGÚSTIA CRESCENTE DA PERSONAGEM
PRINCIPAL.
Antônio Pinto transforma a trilha sonora em uma experiência sensorial, acompanhando o
crescente estado de angústia de Nina. Para isso, mistura elementos das trilhas clássicas, que
usam cordas e outros elementos musicais, à música eletrônica, gênero identificado com a
personagem. O resultado se encaixa perfeitamente à narrativa, incorporando-se à dramaturgia
como um elemento indispensável para entender o que se passa no universo em que vivem a
protagonista e sua nêmesis, a velha Eulália.
"Quando o Heitor me convidou para fazer o filme, eu pensei nessa transposição do Raskolnikov
para São Paulo, como uma menina, na cena underground", conta Antônio Pinto. "A trilha era para
ser totalmente eletrônica, sem concessão nenhuma. Só que, durante o processo, acabei vendo a
Nina com outro olhar. Parti para outro princípio. Optei por uma forma mais tradicional, com o uso
de cordas e outros elementos, aliada à música eletrônica. Era o que melhor vestia o filme."
Pianista e compositor, Antônio Pinto estreou como autor de trilhas sonoras em Terra Estrangeira,
de Walter Salles, a convite de Jacques Morelembaum.
Daí em diante, não parou mais. A parceria com Salles se estendeu em O Primeiro Dia, Central do
Brasil e Abril Despedaçado. Outros créditos do compositor incluem Onde a Terra Acaba, de Sérgio
Machado e Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles.
Em Novembro de 2003, um dos mais importantes eventos voltados para a música feita para o
cinema, a 3ª edição do "World Soundtrack Awards", que acontece dentro do Flanders International
Film Festival, reservou para Antônio Pinto o prêmio "WSA Discovery of the Year", pela trilha de
Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, categoria destinada aos novos talentos que surgem no
setor.
OS PRODUTORES
NINA MARCA A ESTRÉIA DE CAIO GULLANE E FABIANO GULLANE COMO PRODUTORES SOLO,
DEPOIS DE MAIS DE DEZ ANOS DE EXPERIÊNCIA COMO DIRETORES DE PRODUÇÃO,
PRODUTORES EXECUTIVOS E CO-PRODUTORES DE IMPORTANTES FILMES
BRASILEIROS.
NINA chegou às mãos dos irmãos Caio e Fabiano Gullane através do próprio diretor Heitor Dhalia.
O que atraiu os dois produtores foi a possibilidade de falar de uma personagem envolvida com
problemas muito discutidos atualmente: a opressão da grande metrópole, a necessidade do
dinheiro, o isolamento, a falta de relações afetivas, a distância da família. "São situações que
podem ser identificadas com pessoas que conhecemos", explica Fabiano. "É claro que, no filme,
tudo e todos foram ficcionados.
Mas temos a sensação de que o mundo modermo, frio, funcional e escasso de tempo, deve gerar
muitas Ninas por aí. Sabemos que se trata de uma proposta de realização diferente e estamos
muito motivados pelo desafio de levá-la ao mercado."
Com vasta experiência no mercado audiovisual brasileiro, a Gullane Filmes tem como principais
características a escolha de projetos de qualidade, o incentivo de novos talentos e a realização
de produções com orçamentos otimizados.
Segundo Caio, a produtora tem também como um dos principais objetivos, o acompanhamento do
projeto até o final de sua carreira. "Trabalhamos com tanto empenho na fase de comercialização
quanto na fase de produção", explica ele.
Os produtores assinaram a direção de produção e a produção executiva de importantes filmes
brasileiros, a partir da década de 1990. Entre seus créditos recentes estão: Carandiru, de Hector
Babenco, em co-produção com a Columbia Tristar, Sony Pictures Classic e Globo Filmes; Bicho
de 7 Cabeças, de Laís Bodanzky, em co-produção com a Italiana Fabrica Cinema - Benneton
Group, e Castelo Rá-Tim-Bum - O Filme, de Cao Hamburger.
Em 2004, a Gullane Filmes se prepara para produzir o novo filme de Cao Hamburger, Goleiro
(título provisório), com roteiro do diretor em parceria com Cláudio Galperin e Bráulio Mantovani. E
também o filme de longa metragem sobre Família Schurmann, que neste ano comemora 20 anos
de aventura e lança sua próxima grande viagem, além de Querô, de Carlos Cortez, sobre obra de
Plínio Marcos.
FICHA TÉCNICA
Direção: Heitor Dhalia
Produção: Caio Gullane e Fabiano Gullane
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia
Dramaturgia e Pesquisa: Christiane Riera
Direção de Fotografia: José Roberto Eliezer – ABC
Direção de Arte: Akira Goto e Guta Carvalho
Montagem: Estevan Santos
Música: Antonio Pinto
Desenhos: Lourenço Mutarelli
Animações: Lobo e Vetor Zero
Figurino: Juliana Prysthon e Veronica Julian
Maquiagem: Gabi Moraes
Casting e Preparação de Elenco: Chico Accioly
Direção de Produção: André Montenegro
Coordenação de Pós Produção: André Ristum
Som Direto: Romeu Quinto
Desenho de Som: Alessandro Laroca e Armando Torres Jr
Produção Executiva: Caio Gullane e Fabiano Gullane
Coordenação Executiva: Sônia Hamburger e Egle Tubelis
Story Board: Edevilson Guilherme
Foto Still: Alexandre Ermel
Coordenação de Lançamento: Manuela Mandler e Luciana Farias
FICHA ARTÍSTICA
Elenco
Guta Stresser
Nina
Myrian Muniz
Eulália
Juliana Galdino
Ana
Sabrina Greve
Sofia
Luiza Mariani
Alice
Guilherme Weber
Arthur
Wagner Moura
Cego
Lázaro Ramos
Pintor
Matheus Nachtergaele
Pintor
Maria Luisa Mendonça
Sonho do cavalo
Renata Sorrah
Prostituta
Selton Mello
Amigo da Ana
Chris Couto
Sonho do cavalo
Milhem Cortaz
Carlão
Abrahão Farc
Velho
Aílton Graça
Policial
Nivaldo Todaro
Policial
Eduardo Semerjian
Policial
Walter Portela
Policial
Cor, 35 mm, Janela: 2:35 (scope)
Som: ótico/Dolby digital
Brasil, 2004 , 83 min
Assessoria de Imprensa
ProCultura/F&M - Assessoria de Comunicação
Flavia Arruda Miranda ([email protected])
Margarida Oliveira ([email protected])
Flávia G. Yamane ([email protected])
(11) 3061-5330
www.ninaofilme.com.br
visite a exposição virtual: www.nina7pecados.com.br
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