Página 1 de 12 ANÁLISE DE CONJUNTURA ANOS 1980, 1990 E 2000 23 DE JUNHO DE 2012 Elaborado por Eduardo Magalhães Página 2 de 12 Análise de conjuntura política, econômica e sindical – anos 80, 90 e 2000 03 Antecedentes 03 Estrutura sindical varguista 04 Anos 80 05 Esgotamento do regime militar e transição democrática 05 Hiperinflação, Planos Econômicos e o fim do Milagre 06 Ação sindical limitada pela legislação 07 Política salarial nos anos 80 07 Avanço sindical nos anos 80 – CUT e OLT – Comissão de Fábrica 08 Anos 90 08 Presidente eleito, Estado Mínimo e Plano Real 08 Mudanças no mundo do trabalho 09 O sindicalismo nos anos 90 10 Anos 2000 11 Avanços: políticas sociais, distribuição de renda, crescimento econômico e geração de emprego e renda 11 Centrais sindicais reconhecidas e valorização do salário mínimo 11 Avanço das negociações e ganhos reais 12 Página 3 de 12 Análise de Conjuntura: política, econômica e sindical – anos 80, 90 e 2000 Antecedentes Ao final dos anos 70 e início dos anos 80 o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (Smabc) renovou o movimento sindical brasileiro iniciando um processo de resistência social onde, ao mesmo tempo em que reivindicava a reposição das substanciais perdas salariais1 da categoria, questionava a falta de liberdade decorrente da ditadura militar e a legislação que beneficiava somente a reprodução do capital. Surge então, o chamado novo sindicalismo. O termo novo sindicalismo identifica um sindicalismo realizado por meio de estratégias que rompiam e superavam a estrutura sindical oficial fundada por Getúlio Vargas nos anos 30. Tratava-se, a herança varguista, de um movimento sindical totalmente depende do Estado e por isso controlado por ele, quer dizer, pelo próprio Getúlio Vargas. Não só a título de ilustração lembremos que o primeiro Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas foi Lindolfo Collor. Este, além de ter apoiado diretamente Vargas na Revolução de 30, também é avô do atual senador e ex-presidente Fernando Collor. É igualmente importante sublinhar que Getúlio Vargas iniciou seu primeiro governo em 1930 por meio de um golpe, a já referida Revolução de 30, e em 1937 deu novo golpe sobre o golpe, instalando uma ditadura que foi até 1945. Esse foi o período do Estado Novo. Em 1950 é eleito presidente pelo voto direto e em 1954, segundo a versão oficial, suicida-se. 1 Ao final do chamado milagre econômico brasileiro (1968 a 1973) a inflação, inicialmente camuflada pelo Ministro da Fazenda Delfim Neto e pelo Presidente da República Emílio Garrastazu Médici, foi descoberta. Tem, portanto início a luta sindical pela reposição de 34,1% no ano de 1977. Página 4 de 12 Estrutura sindical varguista O movimento sindical brasileiro, no início dos anos 30, já apresentava um significativo grau de organização e conquistas, fruto não só, mas principalmente, da tradição e experiência trazidas ao nosso país pelos imigrantes europeus – especialmente italianos e espanhois - desde o final do século XIX 2. Na época, o anarquismo era o fundamento do movimento sindical e logo em seguida surgiram os comunistas. Várias greves e movimentos importantes já haviam ocorrido, por exemplo, a Greve Geral iniciada em São Paulo em 1917 – que chegou a ter 45 mil trabalhadores parados em várias cidades brasileiras, fundação de vários sindicatos, realização de congressos e até a fundação de uma central sindical, a CGT – Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil. Getúlio Vargas resolveu barrar o crescimento do movimento sindical. Para isso, criou o Ministério do Trabalho em 1930 e no ano seguinte, através do já referido Lindolfo Collor, a Lei de Sindicalização (Decreto 19.770), a CLT em pleno Estado Novo, o Imposto Sindical Compulsório entre outras ferramentas de controle. Resumidamente, podemos caracterizar o período sindical varguista com os seguintes pontos: Os recursos dos sindicatos não podiam mais serem utilizados durante as greves; O sindicato não poderia mais desenvolver atividades políticas; Delegados do Ministério do Trabalho passariam a participar das assembleias dos trabalhadores; Proibido o direito à sindicalização dos funcionários públicos; Em 1939 é criado o Imposto Sindical. Enfim, o período varguista garantiu uma larga fonte de recursos aos sindicatos e ao mesmo tempo os manteve em uma camisa-de-força, impedindo-os de avançar, crescer e se desenvolver por si próprios. O sindicato se torna um aparelho do Estado e não um instrumento livre e legítimo dos trabalhadores. 2 A primeira greve de operários que se tem notícia no Brasil foi protagonizada por tipógrafos da cidade do Rio de Janeiro no ano de 1858, portanto, antes mesmo do final da escravidão em nosso país. Página 5 de 12 Anos 80 Esgotamento do Regime Militar e Transição Democrática Em 1979, a “Nova Lei Orgânica dos Partidos Políticos” extingue o bipartidarismo, acabando dessa forma com a Arena e o MDB. A intenção do último general da ditadura, Figueiredo, alguns podem dizer, era avançar para um país democrático. Entretanto, essa análise pode ser questionada. Em primeiro lugar é difícil entender como um regime ditatorial pode, livre e naturalmente, transitar para a democratização sem deixar de negar a si mesmo. Em segundo lugar, entendemos que o fim do bipartidarismo tinha como intenção dividir a oposição agrupada, até então, no MDB. Criando-se vários outros partidos – a oposição englobava desde a esquerda marxista até grupos de centro e social-democratas – o bloco que se opunha ao governo da ditadura ficaria enfraquecido. A situação, por sua vez, continuaria agrupada em um único partido. A Arena virou PDS. A oposição, concentrada no MDB, se dividiu em PT, PMDB, PP, PDT e PTB. Outro “golpe” do governo refere-se às eleições municipais. Deveriam ocorrer em 1980, mas alegando falta de estrutura dos partidos recém criados, a ditadura militar adiou para 1982. Assim, deu uma sobrevida aos prefeitos e vereadores, maioria de apoio ao governo. Proibiu as ligações partidárias para evitar união da oposição e criou o voto vinculado para tentar municipalizar a eleição estadual. O Brasil saiu da ditadura para ser governado por um dos mais importantes e ativos apoiadores da própria ditadura militar O governo militar estava consciente de seu próprio esgotamento e por isso tentou liderar de maneira absoluta a transição que pretendia ser lenta, gradual e segura – nas palavras do ideólogo da ditadura Golbery de Couto e Silva. O objetivo era não perder o controle, em outras palavras, não permitir que o povo organizado – ou não – tomasse as rédeas do processo de transição. Assim, o projeto de emenda constitucional do Página 6 de 12 Deputado Federal Dante de Oliveira que pretendia garantir eleições diretas não foi aprovado na Câmara e as eleições, como sabemos, foi indireta. Entre Maluf e Tancredo vence este último, mas não leva. Assume o seu vice, Sarney. Apesar de a ditadura ter tido grande influência sobre a transição não é possível afirmar que a controlou de forma absoluta. De 1964 a 1985 inúmeros grupos combateram, inclusive com a própria vida, a ditadura militar. O movimento sindical brasileiro, não devemos nos esquecer, surgiu dentro da própria ditadura (1978) da mesma forma que o movimento por uma nova Constituição Federal e mesmo o movimento pelas eleições diretas. Iniciado em 1983 estima-se que levou mais de 5 milhões de pessoas às ruas entre janeiro e abril de 1984. Hiperinflação, Planos Econômicos e o fim do Milagre Vários planos econômicos foram colocados em prática na segunda metade dos anos 80 para controlar a inflação que em 1985 chegou a 235%. Tivemos o Plano Cruzado I e II, o Plano Bresser, o Plano Verão e os dois Planos Collor. Em 1991, ao final de toda essa odisseia econômica, a inflação anual atingiu o percentual de 1.476,56%. Portanto, os referidos planos não obtiveram sucesso algum, pelo contrário. O povo empobrecia e os ricos ficavam mais ricos 3. A década de 80 ficou conhecida como a “década perdida”. A “década perdida”, por sua vez, foi fruto do fim do “milagre econômico”. Entre 1968 a 1973 o governo militar empreendeu o PED (Plano Estratégico de Desenvolvimento). Fundamental recordar que durante tal fase econômica o presidente da República foi o General Médici. Conforme sabemos, o mais duro e autoritário. Resumidamente, o crédito interno era abundante e os estratos médios da população podiam consumir fartamente. Além disso, as empresas e o governo investiam. Este criou importantes programas e obras de infra-estrutura fundamentais para a continuidade do processo de industrialização brasileira. A economia brasileira crescia a 3 Em 1960 os 10% mais pobres do Brasil possuíam 1,9% da renda nacional e os 10% mais ricos 39,6%. Em 1989 o primeiro grupo caiu para 0,8% e o segundo para 50%. Fonte: IBGE, FGV. Jornal Folha de São Paulo (1989). Página 7 de 12 taxas elevadíssimas (comparáveis hoje as da China). Obviamente também obras faraônicas e inviáveis causaram prejuízos aos cofres públicos, consequências da corrupção. O crédito era fácil na medida em que os juros internacionais estavam baixos. Com a crise do petróleo em 1973 4 os juros mundiais aumentaram muito e a dívida externa do Brasil, ao longo dos 21 anos de ditadura militar, passou dos 4 bilhões a 100 bilhões de dólares. Em 1982 o modelo brasileiro está falido e o país vai ao FMI. Interessante observar que a dívida externa com essa instituição financeira foi paga somente em 2006 por Lula que também empresta à instituição 10 bilhões de dólares. Ação sindical limitada pela legislação Ao mesmo tempo a ação sindical estava limitada pela legislação, o que impedia uma efetiva reivindicação por parte dos trabalhadores. Trata-se da chamada lei antigreve decretada em 01º de Junho de 1964 (4.330) por Castello Branco. Proibia na prática a greve, inclusive qualquer tipo de reunião pública. Ou seja, nem mesmo uma assembleia poderia ser realizada. Também impedia a realização de greve a LSN – Lei de Segurança Nacional que em 1981 forneceu os argumentos jurídicos (incitação à desordem e desobediência civil) para condenar a três anos de prisão Lula e mais 10 diretores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A mudança constitucional veio somente em 1988, cabendo ainda a sua posterior regulamentação. A limitação da legislação para a ação sindical é especialmente fruto de todo o conjunto de normais criado pelo período varguista. Política Salarial nos anos 80 Os governos militares avaliaram que o processo inflacionário, acelerado desde 1962, era produto dos aumentos salariais acima do aumento da produtividade. Ou seja, o Brasil passava por uma inflação de demanda. A solução encontrada foi simplesmente reduzir o poder de compra dos trabalhadores, isto é, reajustar os salários em níveis 4 O Brasil importava 85% do petróleo que consumia. Hoje não só é autosuficiente como se tornou exportador. Página 8 de 12 inferiores ao do custo de vida. Os reajustes salariais passaram a ser compostos por uma média da inflação passada, a inflação futura e o crescimento da produção (taxa de produtividade e PIB). Todos sempre subestimados, vide a inflação de 1973 que oficialmente variou 13,7% e na verdade chegou 26,6%. Isso velou à luta pela reposição dos 34,1% em 1978. Avanço sindical nos anos 80 – CUT e OLT – Comissão de Fábrica O Smabc inovou outra vez privilegiando a OLT (Organização por Local de Trabalho) com a criação, na Ford, da primeira comissão de fábrica em 1981. Em 1983 é fundada a CUT (Central Única dos Trabalhadores) que, além de enfrentar os limites da ditadura militar, também questiona o sindicalismo oficial. O então chamado novo sindicalismo resiste à situação posta propondo uma nova forma de atuação. A CUT apesar de não ser oficialmente reconhecida, passa a ser reconhecida de fato. Anos 90 Presidente eleito, Estado Mínimo e Plano Real A última eleição direta para presidente havia sido a de Jânio Quadro e o vice João Goulart. Em 1989 Lula e Collor, neto do primeiro Ministro do Trabalho e de família tradicional alagoana. Lula, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC concorria pela primeira vez, em uma série de quatro vezes até ser eleito em 2002 e reeleito em 2006. Em 1989, como sabemos, Collor saiu vencedor. A dupla Collor-FHC nos anos 90, apesar do entreato Itamar, colocou em prática no Brasil aquilo que se convencionou chamar de Neoliberalismo. O Neoliberalismo é um produto do liberalismo clássico do século 18 de Adam Smith. Nos anos 60 passo a se usar o termo neoliberalismo para designar a absoluta liberdade de mercado, portanto, com o mínimo possível de participação do Estado na economia, somente em questões extremamente necessárias, ou seja, em atividades que a iniciativa privada não se interesse em desenvolver. O nomeado Consenso de Página 9 de 12 Washington é um conjunto de medidas neoliberais colocadas em prática no mundo a partir do início dos anos 90. Estamos falando do Estado Mínimo. Entre suas principais medidas econômicas estão: corte de despesas públicas (inclusive sociais) para diminuir o déficit público; privatização; desregulamentação do setor financeiro; congelamento dos salários – inclusive do mínimo; supervalorização do mercado e negação da participação do Estado; flexibilização das leis trabalhistas e abertura econômica repentina. Isso causou: desemprego, baixa oferta de crédito, baixo poder de compra dos trabalhadores e diminuição de gastos públicos sociais. Junto a todo o cenário econômico negativo, o Plano Real efetivamente diminui a inflação, mas todos os outros principais índices econômicos não estão positivos (dívida pública, taxa de juros 5 etc). No dia 04 de abril de 2011 o diretor do FMI, Dominique Strauss-Khan em discurso na Universidade de Washington admitiu que, a receita defendida pelo FMI e Banco Mundial nos anos 90 “já é passado” (...) “tudo caiu com a crise” (2008). Em 2008/2009 os governos das potências e dos EUA despejaram trilhões de dólares para salvar a economia da catástrofe. Os efeitos negativos, principalmente para os países que seguiram o receituário do FMI, ainda são graves nos Estados Unidos e nos países da Europa Ocidental, como o alto desemprego e as imensas dívidas públicas. No mesmo dia, 04 de maio, o governo dos Estados Unidos anunciou que no dia 16 de maio vão atingir o limite de sua dívida pública: 14,29 trilhões de dólares. Recordamos que o PIB dos Estados Unidos é de 14,6 trilhões. Mudanças no mundo do trabalho Nos anos 90 a Reestruturação Produtiva criou novas formas de contratação, além da tradicional. Foram normatizados o trabalho temporário, por tempo determinado, banco de horas. Houve, portanto precarização das formas de contratação em um mercado de trabalho já dominado pela informalização. Mesmo para os trabalhadores 5 Em 2002 a taxa de juros estava em 24,9% e em 2010 caiu para 10,25%. Página 10 de 12 formais, a falta de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil, ao contrário dos países europeus, levou a uma situação social bastante grave na medida em que se perdia o emprego e não havia uma estrutura, por parte do Estado Brasileiro, que assegurasse um suporte social enquanto o trabalhador estivesse desempregado. Intensifica-se, além da gestão do trabalho, o processo de gestão do desenvolvimento tecnológico da produção industrial: fechamento de fábricas, deslocamento de empresas para outras regiões, demissões em massa e desemprego crescente. O Plano Real, em julho de 1995, determina também que o reajuste e aumento salariais passam a depender da negociação entre trabalhadores e patrões. O sindicalismo nos anos 90 Na década seguinte, além de aprofundar a OLT, com a criação dos CSEs (Comitês Sindicais por Empresa), o Smabc efetivamente volta os olhos para um espaço maior da sociedade e, em parceria com amplos setores sociais, também cria as Câmaras Setorial e Regional. A Câmara Setorial foi um espaço tripartite para gestão de políticas públicas, no caso para o setor automotivo. Produziu dois importantes acordos fruto do aumento do diálogo social entre as partes. No primeiro os preços dos veículos são reduzidos em 22%, aumentam as vendas e produção e é estabelecida uma política para a manutenção do nível de emprego e proteção dos salários. No segundo acordo é definida uma política para o setor automotivo, aumento na arrecadação de impostos, aumento da produção, reajustes automáticos de salários e aumento real. Página 11 de 12 ANOS 2000 Avanços: políticas sociais, distribuição de renda, crescimento econômico e geração de emprego e renda Políticas FHC Lula Emprego (média anual) 100 mil 1,3 milhão (15 milhões ao total) Pobres 74 milhões 54 milhões Pobreza absoluta (miséria) 35 milhões 20 milhões Universidades e extensões universitárias ZERO 14 universidades Escolas técnicas ZERO 214 Crédito para Habitação R$ 24 bilhões (2002) R$ 80 bilhões (2009) 124 extensões Programas sociais (número 5,1 milhões de famílias atendidas) 12,4 milhões Centrais sindicais reconhecidas e valorização do salário mínimo Entre 1995 e 2002 o aumento real do salário mínimo atingiu 42% e entre 2002 e 2010, 75%. Até então a única central reconhecida era a CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria). Hoje são CUT, Força Sindical, CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores, UGT (União Geral dos Trabalhadores) e CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil). Página 12 de 12 Avanço das negociações e ganhos reais Em suas ações o Smabc continua privilegiando a OLT, demonstrada pelo empenho em solidificar os CSEs 6, bem como a conquista de novos militantes e aperfeiçoamento da formação dos trabalhadores, militantes e dirigentes atuais. Além disso, O Smabc igualmente reconhece a importância da comunicação não só com os trabalhadores da base, mas com a sociedade em geral para a conquista de uma visão hegemônica diferente da hoje estabelecida. É ainda importante destacar no período a conquista dos maiores aumentos reais. 6 Nas eleições de 2011 foram eleitos 271 diretores e diretoras distribuídos entre 88 CSEs e o Comitê dos Aposentados.