CAPA ISSN 1646-9046 Volume – 1 Número – 4 Novembro de 2008 Arquivos de Fisioterapia Editorial O Editor Luís Eva Ferreira Cibercondría: à semelhança da hipocondría é uma perturbação comportamental que, neste caso, leva um indivíduo a auto diagnosticar-se e tratar-se utilizando informação recolhida na Internet. Uma primeira referência parece ter vindo a lume na BBC em Abril de 2001 onde o termo "internet print out syndrome" aparece como alternativa à “cyberchondria”. O The New York Times noticia (e discorre) em Novembro deste ano que a Microsoft vai publicar um estudo sobre o assunto. A Wikipédia (anglofona) já tem para este termo alguma informação e o Portal da Língua Portuguesa (da responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) contempla igualmente uma entrada para cibercondría. Quando há cinco anos iniciámos a actividade editorial, depositando na nossa página de Internet - de forma aberta - os nossos conteúdos, estávamos longe de imaginar que tinhamos nas mãos uma rosa cujos espinhos devemos de acautelar. Claro que estamos expectantes quanto às reacções não só da comunidade científica mas, sobretudo, da editorial. Reservar-nos-á o futuro a afixação de avisos, nos nossos artigos (qual maço de tabaco), sobre os possíveis efeitos nocivos dos mesmos quando manuseados por mentes menos esclarecidas? Vamos ver. No nosso “N Reflexões” deste número chamamos à atenção para uma nova perspectiva de intervenção da fisioterapia. Um caso que tive oportunidade de acompanhar veio a revelar-se o tema deste número. Há lugar para a nossa intervenção num mundo de novos nómadas (administradores e gestores de topo de empresas igualmente de topo), errantes semanas a fio pelo mundo, vivendo em aviões e aeroportos? Por último chamo a atenção para o artigo sobre a afasia, onde o termo Comunicação nunca foi tão expressivo. Aplica-se às nossas relações com os utentes e é simultaneamente uma ajuda para dissipar algumas dificuldades de comunicação/trabalho com colegas de outras disciplinas. A todos uma boa leitura O Editor Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº4, Ano 2008, Página I Arquivos de Fisioterapia Nota aos Autores e Leitores Como é sabido, pois está na nossa Carta de Intenções, a propriedade dos artigos publicados pela Arquivos de Fisioterapia (AF) permanece dos seus autores. Nesta filosofia de Imprensa de Acesso Livre (permita-se esta “tradução livre” do conceito), os autores concedem à AF ape-nas a autorização para publicar, guardar, distribuir na íntegra ou em parte, os seus artigos. Assim fazemos notar que, ainda que sendo nós uma fonte para a recolha dessas peças, os seus autores, e não só a AF, devem ser sempre contactados quando estiver em causa a utilização das suas matérias, textos, imagens ou outros elementos, Por outro lado, é sabido que a qualidade e utilidade dos artigos se encontra no local, forma e número de vezes que são citados. Nesse intuito está já ao dispor de todos, Autores e Leitores, na nossa página de Internet um formulário de preenchimento on-line, para que possam ser averbadas as informações referentes às citações dos nossos artigos. Assim podemos simultaneamente, enriquecer o curriculum da comunidade, “completar” os temas por nós publicados e fornecer aos leitores artigos relacionados com os assuntos tratados. Por isso pedimos a todos para que nos informem, através da www.afisioterapia.com sempre que no decurso dos vossos trabalhos citem os artigos da AF. Só assim podemos construir bases sólidas e credíveis de conhecimento. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº4, Ano 2008, Página II Arquivos de Fisioterapia Ficha Técnica Director: Luís Eva Ferreira Editor: Luís Eva Ferreira Editores Adjuntos: João Brites de Sousa Paulo Gaspar Acessoria de Edição: SFC - Consultores Colaboradores: Fátima Belo; Lúcia Pedrosa; José Mata; Marta Freitas; Ana Ferreira; Paulo Geraldo; Manuela Nogueira; Susana Simão; Luís C. Pereira; Leonor Madureira; Ana Santos Francisco; Elsa Silva, Isabel Coutinho. Capa: Fotografia - Lúcia Pedrosa Endereços: Rua Prof. Fernando Gonçalves da Silva, nº 3, 2300-398 Tomar www.afisioterapia.com [email protected] [email protected] ISSN 1646-9046 Tiragem 1000 exemplares Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº4, Ano 2008, Página III Arquivos de Fisioterapia Índice Páginas Editorial I Nota aos Autores e Leitores II Ficha Técnica III Índice 1 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos 2 - 10 Correia, S.; Bárcia, S. Fisioterapia na Saúde Escolar – dos Modelos às Práticas 11 - 28 Uma História de Vida em Fisioterapia 29 - 38 Afasia: Um Problema de Comunicação 39 - 45 Noronha, T.; Vital E. Nogueira, M.; Moreira, P.; Coutinho, I. M. Colaço, D. “N”- Reflexões Há “saudinha” no ar... 46 - 49 Francisco, L.,S. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº4, Ano 2008, Página 1 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos Correia, S.; Bárcia, S. Autores - Correia, Sara Fisioterapeuta - Bárcia, Sónia Fisioterapeuta RESUMO Enquadramento: A Fibromialgia afecta cerca de 2 a 4% da População Portuguesa, e é uma condição sem cura. Contudo, a Fisioterapia assume um papel importante na diminuição do seu impacto e na melhoria da qualidade de vida destes utentes. O exercício físico aeróbio surge como componente integrante da intervenção e mostrou ser benéfico para estes indivíduos; no entanto, há divergência sobre qual o tipo de exercício mais eficaz: programas em solo ou em piscinas terapêuticas. Objectivo: comparar a eficácia do exercício em meio aquático relativamente ao exercício em solo, na diminuição do impacto da Fibromialgia no dia-a-dia dos indivíduos com esta disfunção, medida através da escala de Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Metodologia: pesquisa de estudos datados de 1990 a 2006, nas bases de dados B-on, EBSCO, Medline, PEDro, Science Direct. Resultados: Foram encontrados 36 artigos, dos quais, foram incluídos 6 ensaios clínicos aleatórios com valores entre 4 e 7 na escala PEDro Em 2 dos 6 estudos incluídos, foram contrapostos exercícios de solo com exercícios em meio aquático e foram observadas melhorias em ambos os grupos. Nos restantes 4 estudos, analisados, 2 utilizaram um programa multidisciplinar onde combinaram a realização de exercícios em solo e meio aquático, 1 realizou uma comparação entre exercício em meio aquático e imersão sem exercício, e outro comparou o exercício aquático com nenhum tipo de intervenção. Todos estes estudos mostraram um resultado positivo em termos de diminuição do impacto da Fibromialgia no dia-a-dia destes indivíduos. Conclusões: o exercício físico é benéfico para indivíduos com Fibromialgia, contudo, quando realizado em meio aquático oferece benefícios adicionais, revelando ser superior ao exercício físico em solo, comprovando assim a sua superioridade em termos de eficácia. Palavras Chave: Fibromialgia; Exercício no Solo; Exercício em Meio Aquático; Fisioterapia; Fibromyalgia Impact Questionaire. WWW.AGFISICOS.COM Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 2 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos necessidade Introdução de procurar/delinear uma Em Portugal, as doenças reumáticas estratégia de intervenção (Vitorino, D., 2006) constituem o grupo de doenças com maior ou alternativas efectivas de tratamento que prevalência, afectando cerca de 40% dos minimizem o impacto da Fibromialgia sobre a Portugueses, e são as maiores responsáveis qualidade de vida destes pacientes (Marques, pelo absentismo ao trabalho, ocupando um A. P.,2002). O tratamento convencional para lugar cimeiro no que respeita a custos de esta saúde, quer directos quer indirectos.(Cardoso, inflamatórios, e antidepressivos, no entanto A.,2005; Adams, N., Sim, J. 2005). A estes Fibromialgia faz parte deste grupo e pertence ineficazes (Bailey, A.,1999). Assim, não é ao surpresa sub-grupo das doenças músculo- síndrome métodos que inclui analgésicos, ainda estes são anti- relativamente utentes procurem esqueléticas dolorosas. (Helfenstein, M., 2002; alternativas aos tratamentos tradicionais, Gowans, S.,E., 1999) Afecta 2 a 4% da recorrendo à Fisioterapia e Acupunctura, População Portuguesa, sendo o sexo feminino SPAS e Balneoterapia (Gowans, S. E., deHueck, 5 a 9 vezes mais afectado que o sexo A. 2004). masculino. (Cardoso, A.,2005; Helfenstein, M., 2002; Dobkin, P. L., 2005). A importante, Fisioterapia perante tem esta um papel condição, Esta é uma síndrome reumática não nomeadamente na melhoria do controlo da articular (Cardoso, A.,2005; Marques, A. P., dor e no aumento ou manutenção da 2002; Gowans, S.,E., 1999) de dor não funcionalidade do utente, assim como na inflamatória complexa (Gowans, S.,E., 2004; redução de outros sintomas (Marques, A. Gowans, S.,E., 2001) e causa desconhecida, P.,2002). Embora as opções de tratamento caracterizada por dor generalizada e dor sejam limitadas (Gowans, S. E.,1999; Gowans, localizada nos tecidos moles, em pontos S. E.,2004, Jentoft, E. S., 2001), estão específicos, (Cardoso, A.,2005, Gowans, S. indicados vários programas de intervenção E.,2004; Gowans, S. E.,2004, Jentoft, E. S., que têm sido propostos para lidar com os 2001;, Gowans, S. E., deHueck, A. 2004;, diferentes aspectos da síndrome (Marques, A. Assis, M. R., et al. 2006), cujo diagnóstico P., 2002; Altan, L., 2004). O exercício físico clínico tem por base os critérios estabelecidos, tem sido um componente integrante da desde 1990, pelo Colégio Americano de intervenção não farmacológica há cerca de Reumatologia vinte anos, (Zijlstra, T. R., (CAR) (Cardoso, A.,2005, 2005), e com o Neumann, L., et al., 2001; Marques, A. P., decorrer do tempo, tem surgido evidência, 2002; Gowans, S. E., deHueck, A. 2004) . moderada a forte, comprovando que o Considerando que esta condição não exercício é benéfico para estes indivíduos, tem cura (Vitorino, D., 2006) e não há (Bailey, A.,1999; Gowans, S. E.,1999; Gowans, conhecimento de nenhuma estratégia de S. E.,2004; Gowans, S. E.,2004, Neumann, L., tratamento que seja efectiva em todos os et al., 2001; Ribeiro, L. S., 2005), uma vez que pacientes, (Bailey, Arquivos de Fisioterapia A.,1999), surge a Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 3 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos contribui para a melhoria da oxigenação dos avaliação do estado de saúde e capacidade tecidos, aumento da endurance muscular e funcional subida dos níveis de energia (Zijlstra, T. R., abordagem 2005). resultados Embora as consequências positivas do exercício aeróbio estejam comprovadas, é essencial e importante das tornou-se na várias análise uma dos intervenções terapêuticas, devendo por isso basear-se na utilização de instrumentos adequados dos sintomas a longo prazo, (Richards, S. C. (Marques, A. P., M., 2006) razão pela qual, clinicamente, estes Rosado et al (2006), Burckhardt e colegas indivíduos são aconselhados a continuar a desenvolveram em 1991 um instrumento pratica de exercício (Gowans, S. E.,2004). para Segundo Gowans et al. (2002), os efeitos do Fibromyalgia exercício períodos (Marques, A. P., 2002). Este instrumento foi superiores a dois anos, mas para isso é desenvolvido para medir o estado de saúde e a importante que os participantes continuem a capacidade funcional dos doentes com esta realizar actividade física de manutenção. síndrome, para avaliar a sua progressão persistir por indivíduos condições 2002). com Impact em medida nenhum estudo mostrou efectivamente o alívio podem às de questão De acordo com Fibromialgia: Questionnaire, o FIQ De acordo com Jentoft et al. (2001), os clínica e os resultados terapêuticos. Um pacientes com a Síndrome de Fibromialgia estudo que avaliou a sensibilidade à mudança preferem exercício em piscinas de água de vários resultados medidos, concluiu que o quente (hidroterapia), e outros autores têm FIQ é a medida mais sensível à mudança no também defendido este tipo de intervenção, tratamento da Fibromialgia e é recomendada bem a sua utilização (Marques, A. P., 2002). como os seus benefícios clínicos (Neumann, L., et al., 2001). Este tipo de exercício nem sempre é realizado Metodologia em Esta revisão sistemática foi executada combinação com programas de exercícios de através de uma pesquisa de estudos datados solo. Os estudos são inconclusivos em relação de 1990 a 2006 nas bases de dados B-on, aos efeitos que podem ser alcançados apenas EBSCO, Medline, PEDro, Science Direct; que através de exercícios em piscina aquecida, reunissem os seguintes critérios de inclusão: (Neumann, L., et al., 2001), no entanto, é ensaios clínicos aleatórios; artigos científicos aceite que a realização de exercício neste completos; artigos publicados em inglês e meio possa oferecer algumas vantagens português; artigos que abordem o exercício adicionais devido ao efeito das propriedades aeróbio, em solo e/ou meio aquático; estudos da água (Ribeiro, L. S., 2005). cuja amostra seja exclusivamente constituída isoladamente, mas geralmente É certo que a estratégia de intervenção por indivíduos com Fibromialgia; estudos em é fundamental, contudo esta não pode ser que o diagnóstico de Fibromialgia esteja de delineada sem uma avaliação prévia. A acordo com os critérios do CAR e artigos que incluam o FIQ nos instrumentos de avaliação. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 4 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos Foram excluídos todos os estudos cujo em ambos os grupos, na totalidade das acesso na íntegra não foi possível através das avaliações. bases de dados utilizadas; artigos sobre significante (F=3,810, p <0,025), e o grupo de programas de intervenção para a Fibromialgia água alcançou grandes melhorias na semana que não incluem exercício; artigos sobre 15 (p=0,033, 95%). Ambos os grupos programas de intervenção que comparam mostraram exercício com outra forma de tratamento; ansiedade e depressão FIQ, embora só artigos houvessem cujas amostras não são A relação melhorias diferenças tempo/grupo nos scores notórias no foi de que exclusivamente constituídas por mulheres com respeita à depressão, apresentando o grupo Fibromialgia. de piscina melhorias mais significativas após a Posteriormente, todos os estudos incluídos foram avaliados através da escala segunda (p=0,28, 95%) e terceira avaliação (p=0,025, 95%). PEDro. Nos restantes 4 estudos analisados, 2 utilizaram um programa multidisciplinar (onde Resultados o exercício aeróbio em solo e meio aquático Foram encontrados 36 artigos, dos quais, de acordo com a metodologia utilizada, foram incluídos 6 ensaios clínicos aleatórios (ver tabela 1) com valores entre 4 e 7 na escala PEDRO. Em 2 dos 6 estudos incluídos, foram contrapostos exercícios de solo com exercícios em meio aquático e foram observadas melhorias em ambos os grupos. No estudo levado a cabo por Jentoft et al (2001), o grupo de piscina mostrou, e manteve até à data do follow-up, melhorias significativas intra grupo, no que respeita à dor, fadiga durante o dia, rigidez (p=0,05), e número de dias em que sentiam bem (p <0,01); enquanto que o de solo apenas melhorou nos parâmetros de fadiga durante o dia e rigidez (p =0,05), ansiedade e depressão (p<0,01), considerando que durante os 6 meses após o programa de exercícios, 85% dos participantes realizavam actividade física pelo menos uma vez por semana. Em 2006, o estudo realizado por Assis et al (2006) eram um factor integrante), e ambos mostraram resultados positivos. No final do programa realizado por Gowans et al (1999;) foram observados ganhos significativos na sensação de bem-estar, dor, fadiga matinal e geral (p <0,05). Os ganhos na sensação de bem-estar foram observados imediatamente após o programa e mantiveram-se sem diminuições significativas até ao follow-up, porém os ganhos em relação à fadiga matinal foram perdidos. Na avaliação de follow-up, cerca de 77% dos indivíduos, que concluíram o programa, continuavam a realizar exercício pelo menos 30 minutos por semana, tendo sido identificada uma relação significativa entre a manutenção de ganhos imediatos pósprograma e continuação de exercício no follow up (p <0,05). De acordo com o estudo realizado por Cedraschi et al (2004), o grupo de intervenção apresentou melhorias significativas no score total da FIQ (p <0,001), e nas sub escalas para a “fadiga” (p=0,001), apresentou melhorias dos scores totais FIQ, Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 5 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos Amostra Programa Duração do programa (semanas) Sessões (semana) Sessões de piscina (totais) Período de follow up (meses) Intensidade do exercício Temp. da água Gowans, et al, 1999 45 ♀ Programa multidisciplinar Vs sedentarismo 6 2 12 3 60% - 75% do ritmo cardíaco máximo para a idade de cada utente 33º a 35º Jentoft, et al, 2001 44 ♀ Ex. aquático Vs ex. solo 20 2 40 6 60% - 80% do ritmo cardíaco máximo para a idade de cada utente 34º Gowans, et al, 2001 57 ♀ Ex. aquático Vs sedentarismo 23* 3 18 ---------------- 60% - 75% do ritmo cardíaco máximo para a idade de cada utente 33º a 35º Cedraschi, et al, 2004 164 ♀ Programa multidisciplinar Vs sedentarismo 6 2 8 ---------------- Não referido 34º Altan, et al, 2004 50 ♀ Ex. aquático Vs imersão 24 3 36 3 Não referido Não referido Assis, et al, 2006 60 ♀ Ex. piscina Vs Ex. Solo 15 3 45 ---------------- 9 batimentos abaixo do ritmo medido no limiar anaeróbio 28º a 31º * Durante as primeiras 6 semanas as classes foram realizadas numa piscina terapêutica, e a partir da 7ª semana, os indivíduos passaram a realizar 2 classes em solo e uma na piscina Tabela 1 “cansaço matinal” (p=0,006), e “ansiedade” com o programa realizado no estudo de (p=0,002). Não foram observadas melhorias Gowans et al (2004), todos os resultados no grupo de controlo, e na sub escala de dor totais da FIQ, aparentemente, diminuíram em da FIQ houve uma deterioração significativa ambos os grupos, embora tenham sido mais (p=0,17). acentuadas nos indivíduos de exercício, e as A comparação entre grupos reflectiu melhorias significativas do grupo de variações intervenção comparativamente ao de controlo significativamente diferentes às 23 semanas. no score total da FIQ (p=0,025), e nas sub escalas de “dor” (p=0,025), “fadiga” (p=0,003), e “depressão” (p=0,031). Ao final de 6 meses, 41/61 pacientes (67%) no grupo de intervenção continuava a realizar exercícios em piscina regularmente. Dos últimos 2 estudos, 1 realizou uma comparação entre exercício em meio aquático e imersão sem exercício, e outro comparou o exercício aquático com nenhum tipo de intervenção. Contudo, ambos mostraram um resultado positivo em termos de diminuição do impacto da Fibromialgia no dia-a-dia destes indivíduos. No estudo realizado por Altan et al (2004) a comparação entre os valores totais da FIQ nos 2 grupos, nos 3 momentos avaliativos, não mostrou diferenças significativas entre eles (p ≤ 0,05). De acordo Arquivos de Fisioterapia dos resultados FIQ foram Discussão Embora os estudos diferissem no que respeita aos objectivos de investigação, a convergência destes para com os objectivos definidos para o presente trabalho, permitiu comparações e considerações importantes para as conclusões obtidas: o exercício físico é fundamental nesta condição, e quando realizado em meio aquático oferece benefícios adicionais e revelou uma superioridade ao exercício físico em solo, comprovando assim a sua superioridade em termos de eficácia. Este poderá ser combinado com outras estratégias de intervenção, ou mesmo integrar um programa multidisciplinar, apresentando igualmente repercussões positivas em termos de diminuição do impacto da Fibromialgia no dia-a-dia destes indivíduos. Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 6 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos A duração do período de estudo variou possibilita a aproximação dos resultados à em todas as investigações, desde as 6 às 24 realidade populacional, o que seria difícil com semanas. No que respeita à frequência, esta pequenas representações amostrais. Por variou entre as duas e três sessões semanais outro lado, um ponto fraco nestes estudos foi de exercício em piscina; no entanto o número a falta de consenso em termos metodológicos de sessões de exercício (solo e/ou piscina) que, não permitiu comentar ou realizar variou consideravelmente, entre 12 e 45 inferências, com certeza, sobre a duração e sessões do frequência ideal deste tipo de programas e programa). Contudo, os resultados obtidos não sessões semanais, uma vez que todos os diferiram entre os estudos, uma vez que todos estudos variaram muito no que respeita a apresentaram estas variáveis. totais (devido melhorias à na duração escala FIQ segundo os desenhos utilizados. Contudo, para Já no que respeita à intensidade do além de difícil, não é correcto sob o ponto de exercício, os estudos analisados concordam e vista metodológico, comentar ou realizar recomendam que os programas de exercícios inferências sobre a duração e frequência ideal aeróbios, para indivíduos com Fibromialgia, deste tipo de programas e sessões semanais, iniciem em níveis inferiores à capacidade dos uma vez que todos os estudos variaram muito participantes e, gradualmente, aumentem a no que respeita a estas variáveis, não duração e intensidade até os pacientes existindo, portanto, consenso metodológico. estarem a realizar exercício perto do limite da Dos seis artigos analisados, 50% realizaram uma Os minutos. Relativamente à temperatura da resultados obtidos indicaram que algumas, água, embora grande parte da literatura mas não todas as melhorias na funcionalidade, defenda que esta deva rondar os 32ºC/34ºC, dor e humor, observadas no final dos a verdade é que nestes estudos (apesar da programas poderiam manter-se por um longo amplitude período de tempo (até pelo menos 6 meses diferenças depois). Em todos estes estudos houve uma obtidos, nem foram realizadas qualquer tipo de relação significativa entre a manutenção dos observações referentes a este aspecto. Em ganhos obtidos e a continuação de prática termos de profundidade da piscina, este é um actividade a factor importante em termos de efeitos hipótese de que a manutenção do alívio dos fisiológicos que ocorrem de acordo com o nível sintomas a longo prazo seja possível através de imersão, contudo este factor não foi da continuidade da prática da actividade física. referenciado em nenhum dos estudos, sendo física. avaliação Este facto follow-up. intensidade moderada, durante 20 a 30 sustenta Com base nos dados interpretados, um de temperaturas) significativas nos não houve resultados assim um ponto fraco nestes. ponto forte nos estudos incluídos foi a Todos os estudos consideraram a utilização de números amostrais próximos ou variável dor, e a maioria focou também outras superiores a 50 indivíduos, uma vez que variáveis reunidas na escala FIQ, possibilitando Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 7 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos a observação de uma maior tendência para piscina. Assim, poderão ser definidos pontos melhorias mais frequentes nos parâmetros de fundamentais sensação Fisioterapia de bem-estar, rigidez, dor e para a intervenção perante a da Fibromialgia, depressão. Contudo, apenas através dos beneficiando estes indivíduos de uma forma estudos que realizaram follow-up, foi possível mais eficaz. comprovar a hipótese de que a manutenção Por último, embora esteja comprovado do alívio dos sintomas a longo prazo seja que o exercício em meio aquático é mais eficaz possível através da continuidade da prática da que em solo, temos de considerar que estes actividade física. indivíduos vivem em solo e é neste meio que Ainda no que respeita aos resultados, a sentem as suas dificuldades. Assim, o ideal análise estatística foi e é, sem dúvida, um item será uma combinação do exercício em ambos de extrema importância. É através desta os meios, privilegiando o exercício em meio análise que os resultados obtidos são ou não aquático para uma redução da sintomatologia traduzidos sob a forma de significância, e recorrendo ao exercício em solo no sentido conferindo assim credibilidade às estratégias facilitar a adaptação destes indivíduos ao meio interventivas utilizadas. Todos os estudos em que se inserem, promovendo também a utilizaram preferencialmente considerando, regra geral, Testes T sua consciencialização de responsabilidade intervalos de individual e papel activo em termos de confiança de 95%, facultando assim um igual recuperação. nível de certeza na comparação entre todos Conclusão os resultados obtidos nos diferentes estudos. Após a exposição e interligação dos É importante salientar o facto de que estas resultados obtidos nesta revisão, podemos conclusões foram obtidas através da análise confirmar que o exercício físico é benéfico de estudos cuja classificação, através da para indivíduos com Fibromialgia, contudo, escala PEDro, traduziu uma média qualidade quando realizado em meio aquático oferece metodológica. benefícios adicionais e revelou uma Como forma de combater as lacunas superioridade ao exercício físico em solo, encontradas na realização desta revisão comprovando assim a sua superioridade em sistemática, fica a sugestão e alerta para a termos de eficácia. necessidade de realização de mais estudos Embora o exercício seja fundamental nesta área, com uma melhor definição de nesta condição, não podemos olhar o indivíduo parâmetros metodológicos, nomeadamente: sob duração frequência compreender que este é um ser bio-psico- semanal (bem como o tempo de duração social que, como tal, deverá ser abordado destas) como tendo em conta todos os aspectos que o mesmo condicionam. Assim sendo, os programas temperatura da água e profundidade da multidisciplinares são mais indicados, e nos (semanas/meses) dos intensidade programas, de Arquivos de Fisioterapia exercício e assim e um ponto de vista biomédico Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 8 e Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos quais a componente de exercício físico deverá - Gowans, S. E., deHueck, A., Abbey, S.E. (2002), dar preferência ao meio aquático. Measuring Exercise-Induced Mood Changes in Fibromyalgia: A Comparison of Several Measures. Bibliografia Arthritis & Rheummatism, 47 (6): 603-609. - Adams, N., Sim, J. (2005), Rehabilitation - Gowans, S. E., deHueck, A., Voss, S., Silaj, A., Approaches Abbey, S.E. (2004), Six-Month and One-Year in Fibromyalgia. Disability and Rehabilitation, 27 (12): 711-723. Followup of 23 Weeks of Aerobic Exercise for - Altan, L., Bingol, U., Aykaç, M., Koç, Z. 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Validação do Fibromyalgia Impact Questionnaire – Physical Function Arquivos de Fisioterapia in Individuals Exercise on Women With Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 9 Eficácia do Exercício em Meio Aquático Vs Exercício no Solo na Diminuição do Impacto da Fibromialgia no Dia-a-dia Destes Indivíduos Versão Portuguesa. Órgão Oficial da Sociedade Treatment for Primary Fibromyalgia Syndrome: a Portuguesa De Reumatologia – Acta Reum Port., Combination of Thalassotherapy, Exercise and 31: 157-165. Patient Education Improves Symptoms and Quality - Vitorino, D., Carvalho, L., Prado, G. (2006), of Life. Rheumatology, 44: 539-546. Hydrotherapy and Conventional Physiotherapy Improve Total Sleep Time and Quality of Fibromyalgia Patients: Randomized Controlled Trial. Sleep Medicine; 2006, 7: 293-296. - Zijlstra, T. R., Van de Laar, M. A. F. J., Moens, H. J. B., Taal, E., Zarkraoui, Rasker, J. J. (2005), Spa Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 10 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas Fisioterapia na Saúde Escolar – dos modelos às práticas Noronha, T.; Vital E. Autores - Noronha, Teresinha Fisioterapeuta - Vital, Emanuel Fisioterapeuta RESUMO Enquadramento: As queixas de dores nas costas constituem um problema de saúde cada vez mais importante nas crianças em idade escolar. São identificados factores biomecânicos na sua génese tais como as posturas incorrectas prolongadas no tempo, e o manuseio incorrecto das mochilas escolares. Objectivo: Descrever e avaliar uma acção de educação para a saúde junto dos alunos do 1º ciclo que visava promover boa postura e o uso correcto de mochila. Materiais e Métodos: Análise descritiva de uma acção de educação para a saúde. População-alvo: 209 crianças do 1º ciclo de escolaridade. A intervenção era composta por três fases: 1) sessão de educação para a saúde; 2) realização de concurso de composição e colagem para os alunos do 3º e 4º ano; 3) realização de jogo por etapas três meses depois da sessão de educação para a saúde. Efectuaram-se dois testes de aferição de conhecimentos com três meses de intervalo. Resultados: Cerca de 66% dos alunos obtiveram uma classificação muito boa nos testes de aferição de conhecimentos e nos jogos por etapas. Os alunos manifestaram crenças de saúde e crenças comportamentais susceptíveis de modelarem comportamentos saudáveis. Registaram-se cerca de 20% de ocorrências referindo “locus de controlo externo”. Grupos de alunos do 2º ano, e principalmente do 1º ano obtiveram pontuações mais baixas na etapa 4 que avaliava a forma de transportar as mochilas. Discussão e Conclusões: Os resultados sugerem que acção de educação para a saúde teve um impacte positivo. Contudo, o desempenho dos alunos mais novos revelou insuficiências ao nível do manuseio e transporte da mochila. Conclui-se que os alunos mais novos apresentam uma dependência importante da acção dos encarregados de educação que parecem não estar informados e sensibilizados sobre esta questão – a quase totalidade das mochilas são desajustadas em relação à estatura daquelas crianças. Torna-se necessário avaliar a necessidade de intervenção junto dos pais e redefinir as estratégias de intervenção. Palavras Chave: Raquialgias; Postura; Mochila; Crianças; Promoção da Saúde. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 11 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas Chansirinukor et al. (Chansirinukor, Introdução A maior parte das crianças têm ao Wilson, Grimmer, & Dansie, 2001), numa nascer costas saudáveis, mas as crianças em análise biomecânica do efeito do peso das idade escolar queixam-se, cada vez mais de mochilas numa amostra de treze estudantes, dores nas costas e no pescoço. No inquérito concluíram que cargas superiores a 15% da nacional de 1998 sobre a saúde dos massa adolescentes significativas da postura dos ombros e região portugueses, integrado no estudo nacional da Rede Europeia sobre os corporal provocavam alterações cervical. comportamentos de saúde das crianças em Muitas pastas e mochilas existentes no idade escolar (Matos, Simões, Carvalhosa, mercado não permitem uma distribuição Reis, & Canha, 2000) revelou que as dores homogénea do peso dos livros e material nas costas afectam entre 25% a 40% dos escolar, resultando em esforço para coluna, jovens adolescentes. Outros estudos que se desconforto e sério risco de lesão. incluíam ou não no mesmo projecto europeu A mochila para além da sua utilidade apontavam valores semelhantes (Feldman, funcional pode constituir-se como um objecto Shrier, Rossignol, & Abenhaim, 2001; Hakala, de adorno, sujeito por isso à influência da Rimpela, Salminen, Virtanen, & Rimpela, 2002; “moda”. Kovacs et al., 2003; Kristjansdottir & Rhee, personagens ilustres e os pares exercem uma 2002; McMeeken et al., 2001; Olsen et al., forte influência de modelagem junto das 1992; Palmer, Walsh, Bendall, Cooper, & crianças e jovens. Conforme nota Milner, Coggon, 2002; 1983 (cit. Lima, página 191 (Lima, 1993)) “… Wedderkopp, Leboeuf-Yde, Andersen, Froberg, as crianças encontram-se numa posição de & Hansen, 2001; Weir, 2002; Widhe, 2001). completa dependência da influência social no 2000; Watson et al., A família, os professores, as Estudos realizados em vários países da seu processo de construção de atitudes (pais, Europa e referidos pela agência britânica professores, televisão), uma vez que não têm “Backcare” revelam que as dores nas costas acesso a outra fonte de informação mais acontecem com cada vez maior frequência directa”. nas crianças, e as que transportam pastas de Usar a mochila solta, repleta de livros mais pesadas, são aquelas que mais material e preferencialmente num só ombro é referem problemas de dores nas costas. Uma referido por muitos jovens como sendo mais pesquisa da “Backcare” revela que 80% das “cool”. Como consequência, os colegas que se crianças carregam demasiado peso. Uma preocupam mais com os aspectos funcionais elevada percentagem transporta as mochilas e transportam a mochila mais ajustada ao de forma incorrecta (num só ombro, ou tronco são, por vezes, alvo de troça pelos seus pendurada até à anca), usa pastas impróprias, pares. O desejo de copiar modelos e de se e muitas crianças carregam pastas pesando integrar nos grupos pode exercer influência até 30% do seu peso. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 12 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas sobre o comportamento dos jovens (Lima, de Prochaska e Di Clemente sendo 1993). desenvolvidas acções de sensibilização que actuam ao nível da fase da “pré-contemplação” Suporte teórico da intervenção (Sutton, 1997b). Intervir junto da população estudantil para a promoção da saúde implica O modelo de Crença na Saúde (Bandura, 2001; Glanz, 1999) é utilizado para desenvolver actividades que visem influenciar veicular acções e comportamentos. As acções e os severidade que o uso incorrecto das mochilas comportamentos não resultam apenas das e as posturas inadequadas podem provocar cognições, dependem de na saúde e, simultaneamente, para favorecer processos afectivos também o desenvolvimento de comportamentos mais igualmente e são informação relacionada adequados (Lima, de indicados os seus benefícios. Desta forma comportamento que são favorecidas pelo procura-se estimular e promover a “disposição ambiente social e estrutural têm maior para agir” e a adopção de comportamentos probabilidade de ser mantidas do que aquelas mais saudáveis. As mudanças que não o são (Bennett & Murphy, 1999). São aos implementadas quais a controladas pelo ambiente percebido e real 1993). relativamente com são intervenções Deste modo, as acções dirigidas às mudanças suportadas em várias dimensões da “Teoria de Cognitiva Social” (Glanz, 1999), como por comportamento devem ser multidimensionais e abordar os vários factores exemplo: que podem afectar o comportamento. - a apresentação de cenários em que os É importante unir esforços entre o alunos são estimulados a analisar e a núcleo familiar, entidade escolar, entidade da responder perguntas como “O que está mal?”, saúde e, eventualmente, lançar uma “moda” “Como podemos corrigir?” segundo o conceito junto dos jovens estudantes que favoreça a do “determinismo recíproco”; adopção de estilos de vida mais saudáveis. - adoptando o conceito da “aprendizagem Reconhecendo a necessidade e comportamentos interactivos em que os alunos são convidados relacionados com as posturas e o correcto a encenar situações e a participar em grupos uso das mochilas em crianças do 1º ciclo de de discussão para análise, observando os escolaridade procedeu-se à realização desta resultados das acções de outros colegas e intervenção na área de educação para a participando em actividades cujos resultados saúde. são premiados. Este conceito está relacionado modelar atitudes de Os modelos teóricos que suportam a intervenção são são usados modelos com aspectos de mudança comportamental mas mediada pela utilização de incentivos, prémios, complementares. É adoptado o “Modelo e diminuição de respostas negativas que se Transteórico de Mudança Comportamental” desviam de mudanças positivas; Arquivos de Fisioterapia variados observacional” Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 13 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas - de acordo com o conceito da “capacidade comportamento perante determinado objecto comportamental” ou situação; é implementada a transferência de informação e o treino de - a “atitude”, que é a posição ou opinião acções que se pretende sejam adoptadas; relativamente a determinado objecto ou - actuando ao nível da “auto-eficácia” é feito o situação e que resulta das crenças que se reforço das competências individuais através tem, e da avaliação das crenças relativas a da persuasão e encorajamento. esse objecto ou situação; A “Teoria Comportamento - a “variabilidade das atitudes”, que permite Planeado” (TCP) desenvolvida por Ajzen e identificar o carácter constante ou consistente Fisbein em 1988 (Ajzen, 1988) é outro dos das atitudes relativas a determinado objecto modelos teóricos que suporta a intervenção. ou situação; Agrega alguns dos conceitos dos modelos - a “norma subjectiva”, que está relacionada anteriores podem com a percepção que o indivíduo tem da influenciar o comportamento. Foi testada e pressão que o grupo/contexto social exerce ampliada por vários autores (Armitage & face Conner, 1999; Conner & Norman, 1994; comportamento, isto é a aprovação ou Hausenblas, Carron, & Mack, 1997; Manstead reprovação. Diz respeito também ao próprio & Parker, 1995; Norman & Smith, 1995; comportamento de indivíduos ou grupos Parker, Manstead, & Stradling, 1995; Sutton, significativos face a determinado objecto ou 1997a; Sutton, McVey, & Glanz, 1999; situação; Verplanken & Aarts, 1999; Verplanken, Aarts, - o “controlo comportamental percepcionado” Kinppenberg, & Moonen, 1998), resultando e as “crenças de controlo” que nos indicam se actualmente numa versão modificada pela a inclusão o determinados comportamentos depende do controlo próprio (locus de controlo interno) ou de e de do inclui várias comportamento outros que dimensões anterior, o como à manifestação capacidade mudar ou controlo manter outrem de controlo e as crenças comportamentais. respectivamente. Em síntese, as dimensões da TCP que podem factores podem influenciar directamente a suportar as intervenções que visam influenciar manifestação ou não do comportamento. o comportamento são: - as “crenças comportamentais”, que se - o “comportamento anterior”, ou hábitos que referem se refere à forma como habitualmente se age determinado objecto ou situação tem no e reage a um determinado objecto ou comportamento. à de determinado comportamental percepcionado, as crenças situação; (locus de de Segundo avaliação a do externo), TCP impacte estes que Por fim, no âmbito da divulgação das - a “intenção comportamental”, que diz actividades desenvolvidas, a Escola cria respeito à vontade de mudar ou manter o condições para que esta intervenção de promoção da saúde possa chegar a toda à Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 14 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas sua comunidade educativa. A publicação de influenciar o seu comportamento em matéria reportagem e comentários no jornal da Escola de saúde, admite-se que o grupo etário das permite fazer uso da “Teoria da Difusão das crianças do 1º ciclo é, ainda, relativamente Inovações”, mais fácil de modelar. estimulando os leitores a contactarem e conhecerem práticas novas, ao Foram realizadas intervenções dirigidas mesmo tempo que reforça e premeia o às dimensões cognitivas e comportamentais. trabalho entretanto realizado (Glanz, 1999). As acções orientadas para os aspectos O presente trabalho insere-se na área cognitivos tinham como objectivos: da promoção da saúde em ambiente escolar e - Aquisição de conhecimentos sobre as é dirigido aos comportamentos relacionados posturas que se deve adoptar para a com a postura e a utilização de equipamento realização de diferentes tarefas; de transporte do material escolar. - Aquisição de conhecimentos sobre a escolha e modo de utilização da mochila de transporte Objectivos 1. Descrever uma acção de educação para a saúde que visava sensibilizar e promover a boa postura e o uso correcto de mochila nos alunos do 1º ciclo. 2. Avaliar a metodologia aplicada nesta acção de sensibilização e o seu impacte nos alunos do 1º ciclo. parceria - Desenvolvimento de competências que permitissem aos alunos analisar e identificar situações incorrectas e propor soluções adequadas para redução de situações de risco para a saúde das suas costas. As acções dirigidas para os aspectos comportamentais tinham como objectivo a adopção de estratégias e acções de protecção Material e Métodos Em de material escolar; com a Escola foi da saúde relacionadas com a postura e uso da implementada uma acção de educação para a mochila, nomeadamente: saúde relativa ao tema “Boa Postura e Uso - Identificar posturas correctas e incorrectas; Correcto da Mochila” cuja população-alvo foi os - Escolher a mochila mais adequada; alunos do 1º ciclo. - Saber colocar o material escolar na mochila; Local da intervenção e população alvo - Transportar correctamente a mochila. Foi escolhida como parceira uma Esta acção decorreu ao longo do ano escola com dinamismo e ao mesmo tempo lectivo 2004/2005 e foi dividida em 3 fases. preocupada com o bem-estar dos seus alunos. A primeira fase consistiu numa sessão de A população-alvo foi constituída por sensibilização de 60 minutos, para grupos de todos os alunos do 1º ciclo daquela escola. 20 a 26 alunos e o respectivo professor. Foi Esta escolha fundamentou-se no facto de que, realizado um total de 8 sessões tendo apesar das crianças em escolaridade formal participado 209 crianças. terem sido já expostas a toda uma série de Na sessão de sensibilização os alunos factores pessoais e sociais capazes de foram confrontados com imagens do tipo de Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 15 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas banda desenhada retratavam várias de cores posturas vivas que correctas A segunda fase decorreu depois da e sessão de sensibilização no final do 2º incorrectas, de pé e sentado, e imagens trimestre lectivo. Foi desenvolvida em sala de relacionadas com o transporte do material aula e orientada pelo respectivo professor e escolar. Foram utilizadas 5 transparências e à consistiu na realização de concursos de medida que as imagens eram projectadas os composição e de desenho sobre o tema, afim alunos eram estimulados a analisar e a de determinar os conhecimentos adquiridos responder perguntas como “O que está mal?”, pelos alunos, identificar as fases de mudança “Como podemos corrigir?”. Foi mostrada ainda comportamental e os processos utilizados. uma imagem de uma coluna vertebral normal A terceira fase teve lugar no terceiro e imagens de colunas com três patologias trimestre lectivo, cerca de três meses após a diferentes. uma realização da sessão de sensibilização e imagem duma radiografia dum indivíduo com consistiu na realização de um jogo por etapas, postura assimétrica transportando uma pasta com dois níveis de dificuldade: a tiracolo, assinalando o seu efeito nocivo - nível 1 para alunos do 1º e 2º ano, e sobre a coluna. - nível 2 para os alunos do 3º e 4º ano. Por Nesta fim, sessão apresentou-se foi realizada uma Esta actividade apresentava uma “passagem de modelos”. A alguns alunos foi componente competitiva e os resultados eram atribuída a tarefa de participar como “modelo” registados para se apurarem os vencedores transportando a mochila com o seu material por cada nível de escolaridade. Procurou-se escolar; os restantes alunos participavam num com esta acção avaliar as capacidades dos grupo de discussão que procurava analisar o alunos “modelo” nos aspectos relacionados com o comportamentais e premiar os alunos que se manuseamento e transporte da mochila. O distinguiram com bons resultados. objectivo desta tarefa era identificar os A actividade dos jogos por etapas decorreu aspectos positivos e negativos do “modelo” e fora da sala de aula, mas no espaço da escola, os alunos eram estimulados a apresentar num circuito igual àquele que os alunos soluções para corrigir os aspectos negativos. percorriam diariamente para a sua sala de Nos últimos 10 minutos da sessão todos os aula; este espaço inclui 3 lances de escadas e alunos do 3º e 4º ano preencheram um um corredor com cerca de 15 metros. As questionário a fim de aferir o seu nível de estações das várias etapas ficavam situadas conhecimento. ao longo do corredor e na última etapa os O questionário era constituído por em várias dimensões cognitiva- 8 participantes transportam a mochila com o afirmações sobre o tema e era solicitado aos material escolar, tentando reproduzir a tarefa alunos para assinalar se as afirmações eram num contexto real. O material escolar utilizado falsas ou verdadeiras (anexo 1). nas etapas 2, 3 e 4 era cedido pelos alunos. Os jogos eram realizados por grupos de 5 a 6 Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 16 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas alunos. Antes de cada jogo os grupos eram testes com a classificação de 100% (todas as informados das regras que deveriam respeitar respostas certas). Na 2ª avaliação (número de e da forma de pontuar. testes: n=83), registaram-se 69,8% de testes Nas etapas 1, 2 e 3, cada grupo com 100% de respostas certas. Registou-se indicava dois elementos para o representar; os uma diminuição dos testes com classificações restantes elementos apoiavam na resolução inferiores (Gráfico 1). das dificuldades. Na etapa 4 apenas um elemento podia representar a equipa. 1ª Avaliação 2ª Avaliação 69,8% n=91 n= 83 65,9 % 28,5 % 27,7% 5,4% 0 1,0% 1,2 1,2% % Clas s ificação 100 87,5 75 62,5 Classificação 50 87,5 100 75,5 62,5 50 Gráfico 1. Distribuição dos resultados dos testes por percentagem de respostas certas. Participaram: Concurso de Composição - 11 grupos do 1º ano; No concurso de composição que teve - 8 grupos do 2º ano; lugar no final do segundo trimestre lectivo - 8 grupos do 3º ano; foram seleccionados pelos professores 40 - 11 grupos do 4º ano. trabalhos realizados pelos alunos do 3º e 4º O protocolo utilizado para a realização do jogo por etapas é apresentado no anexo 2. ano. Foi adoptada a análise de conteúdo como No dia seguinte a estas actividades os metodologia de avaliação das composições. Da alunos do 3º e 4º ano respondiam ao mesmo matriz construída para registar a frequência questionário de aferição de conhecimentos de aplicado dimensões com a distribuição de frequências aquando das sessões de ocorrências identificaram-se sensibilização (3 meses antes). que a Tabela 1 apresenta. Resultados Concurso de Colagem Testes de aferição do conhecimento Dos 91 testes da 1ª avaliação de aferição de conhecimento obteve-se 65,9% de Arquivos de Fisioterapia seis Na actividade das colagens todos os trabalhos realizados pelos alunos apresentavam imagens de atletas famosos, Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 17 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas Dimensões identificadas nas composições Os alunos… Ocorrências 1- Recomendam o transporte de menos peso (10% do peso corporal) 30,5% 2- Mencionam que posturas correctas são uma forma de evitar dores nas costas 28,4% 3- Aconselham transportar o peso (mochila) junto ao corpo 12,6% 4- Sugerem dividir o peso (sacos de compras) por ambos os lados 10,5% 5- Apontam os erros (postura e uso da mochila) e apelam aos outros para corrigirem 9,5% 6- Reconhecem os erros, mas dizem que só conseguem mudar com ajuda 8,4% Tabela 1. Resultados da análise de conteúdo das composições. modelos e Conforme se pode verificar, de uma saudável”. As colagens eram acompanhadas forma geral, os alunos obtiveram bons por texto que fazia referência a um conjunto resultados, com um maior número de grupos de recomendações sobre “Boa Postura e Uso nas categorias mais elevadas de pontuação. Correcto da Mochila”, tais como: De registar a existência de grupos de alunos • • • internacionais, “gente fina Não permanecer muito tempo na do 2º ano, e principalmente do 1º ano com mesma posição. pontuações menos boas na etapa 4 que Usar a mochila leve e ajustada às avaliava a forma de transportar as mochilas. nossas costas. Os alunos do 4º ano apresentaram melhores A mochila deve ter vários compartimentos para possibilitar uma boa arrumação das coisas. • A mochila deve ter alças almofadadas. • Praticar exercício físico faz bem à saúde. Jogo por Etapas O jogo por etapas apresentava dois resultados na 4ª etapa. Na análise de resultados por ano de escolaridade podemos constatar que os alunos do 1º ano (crianças de 6-7 anos), mostraram alguma dificuldade em arrumar o material escolar (etapa 3). Mas é na etapa 4 referente ao transporte a mochila que apresentaram muita dificuldade. Não houve nenhum grupo que tenha conseguido realizar níveis de dificuldade. O nível 1, de menor aquela tarefa com uma boa postura. dificuldade era dirigido aos alunos do 1º e 2º Os alunos do 2º ano obtiveram resultados ano; o nível 2, de maior dificuldade era dirigido muito bons na 1ª, 2ª e 3ª etapas, mas vários aos alunos do 3º e 4º ano. grupos apresentaram resultados menos bons A tabela 2 apresenta a distribuição dos grupos dos quatro anos de escolaridade por quando se tratou de transportar a mochila (etapa 4). etapas e por pontuação. O valor apresentado Em relação aos alunos do 3º ano de nas células a sombreado indica o número de escolaridade, a etapa 1 - “Comparar as duas grupos que obteve a respectiva pontuação. imagens relativamente à postura” - exigia a análise cuidadosa de vários segmentos do Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 18 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas Etapa 1 – Identificar posturas correctas e incorrectas Pontuação Anos 1º 2º 3º 4º 0 pontos 1 ponto 2 pontos 3 pontos 4 pontos 5 pontos 6 pontos 1 2 1 2 4 4 2 2 4 4 5 7 4 pontos 5 pontos 6 pontos 3 6 5 2 5 1 3 2 4 ano ano ano ano Etapa 2 - Escolher a melhor mochila Pontuação Anos 1º 2º 3º 4º 0 pontos 1 ponto ano ano ano ano 2 pontos 3 pontos 1 4 2 Etapa 3 – Colocar o material escolar na mochila Pontuação 0 pontos Anos 1º 2º 3º 4º ano ano ano ano 0,5 pontos 1 ponto 1,5 pontos 2 pontos 1 4 1 6 6 5 7 1 4 1 1 1 Etapa 4 – Transportar a mochila Pontuação Anos 0 pontos 1 ponto 2 pontos 3 pontos 1º ano 2 3 2º ano 3º ano 4º ano 1 Tabela 2. Distribuição dos grupos por etapas e por pontuação 4 pontos 3 3 3 2 3 1 5 pontos 6 pontos 2 3 3 1 2 6 corpo. Dos 8 grupos que concorreram, 5 bastante semelhante aos do 3º ano, tendo obtiveram pontuação máxima (6 pontos), 2 demonstrado mais competência na tarefa de grupos obtiveram 5 pontos e apenas um arrumar o material escolar - etapa 3 - e grupo obteve 4 pontos. apresentado melhor postura no transporte da A etapa 3 - “Arrumar o material escolar segundo horário” - exigia capacidade e método de trabalho com o objectivo de seleccionar apenas o material necessário para aquele dia de aulas. Esta capacidade é importante, porquanto se tem observado a existência de alunos que transportam mochilas pesadas, com material escolar desnecessário. Os alunos do 3º e 4º ano tiveram, globalmente, um bom desempenho nesta etapa. Na etapa da análise da postura, os alunos do 4º ano obtiveram resultados Arquivos de Fisioterapia mochila - etapa 4. Discussão Os resultados apresentados sugerem que a acção de sensibilização teve impacte positivo. Os alunos de 1º e 2º ano, que apenas foram expostos à sessão de sensibilização, revelaram, mesmo assim, bons conhecimentos teóricos sobre a postura e conhecimentos suficientes para a escolha da mochila e sobre a forma de a transportar. Estas competências foram aferidas apenas no jogo de etapas, porque se considerou Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 19 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas inadequado aplicar testes de aferição de baixa estatura, estão expostas ao longo do dia conhecimentos a este grupo de alunos. a Numa avaliação global da actividade desenvolvida na área da educação para a cargas elevadas, mal ajustadas, que provocam alterações posturais e exigem um esforço físico elevado. saúde sobre o tema “Boa Postura e Bom Uso A análise da quarta etapa mostrou da Mochila”, consideramos que o jogo de claramente que as crianças do 1º e 2º ano de etapas foi um instrumento fulcral desta escolaridade, intervenção. Permitiu estimular duma forma capacidades suficientes para o correcto lúdica e competitiva a aplicação da teoria na transporte da mochila. Estes dados sugerem prática. Serviu ainda como instrumento de que estas crianças necessitam nesta área de avaliação das competências manifestadas. De muito suporte parental, e de pais esclarecidos facto, nos alunos mais jovens, em que a relativamente a: escrita e a leitura não estão suficientemente - aquisição da mochila escolar; desenvolvidas, este jogo constituiu a única - arrumação do material escolar nas mochilas; forma de aferir os seus conhecimentos. E - ajustamento do tamanho da mochila escolar serviu para avaliar a própria acção de e das alças às costas dos seus filhos. não desenvolveram ainda sensibilização, não só nos aspectos teóricos No que diz respeito aos conhecimentos como também na prática. Foi útil, ainda, para sobre a identificação de posturas incorrectas, fornecer pistas que poderão servir para escolha das mochilas e arrumação do material redefinir as estratégias de intervenção futuras. escolar nas mochilas, os alunos do 2º ano Neste jogo, os alunos do 1º ano (crianças mostravam mais novas), mostraram alguma dificuldade aplicando a teoria na prática com grande em arrumar o material escolar. Mas foi no facilidade. já capacidades desenvolvidas transporte da mochila até à sala de aula que O jogo por etapas do nível 2 revelou ser apresentaram muita dificuldade. Não houve muito exigente em relação aos alunos do 3º nenhum grupo que tenha conseguido realizar ano (8-9 anos). Apesar de terem demonstrado aquela tarefa com uma boa postura. Todas as possuir conhecimentos sólidos acerca de boa mochilas que os alunos utilizaram no jogo postura, cerca de metade dos grupos revelou apresentavam as alças soltas e as crianças alguma dificuldade na tarefa de escolher uma não conseguiam ou não sabiam ajustá-las. mochila Além disso havia muitas mochilas demasiado escolheram mochilas mais pelo aspecto (cor e grandes em relação ao tamanho do tronco desenho) que pelas suas características daquelas crianças o que levanta questões funcionais. adequada, havendo grupos que sobre os critérios que são utilizados no O concurso de composição permitiu momento da aquisição das mochilas, e sobre o avaliar aspectos que as duas avaliações de manuseio Estas conhecimento e o jogo por etapas não seriam observações revelam que estas crianças, de capazes de identificar. Assim, no concurso de do seu Arquivos de Fisioterapia ajustamento. Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 20 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas composição, os alunos do 3º e 4º anos utilização de modelos poderosos que facilitam revelaram a assimilação de algumas crenças a criação e reforço das atitudes (Lima, 1993) de saúde (“posturas correctas como forma de e das normas subjectivas (Bennett & Murphy, evitar 1999; Manstead & Parker, 1995; Sutton, dores nas costas”) e crenças comportamentais (“transportar menos peso” 1997a). e transportar peso junto ao corpo”) que se enquadram na Social educação para a saúde, foi-se revelando com do cada vez mais intensidade a necessidade de Comportamento Planeado (Sutton, 1997a), integrar os encarregados de educação neste respectivamente. poderão processo. Esta intervenção esteve planeada e de foram desenvolvidos instrumentos adequados comportamentos saudáveis e revelam um à sua finalidade, tendo sido programada para estádio mudança ocorrer no final do ano. Contudo, factores comportamental (fase de contemplação e fase alheios à vontade da dinamizadora principal da de acção inviabilizaram que tal intervenção se (Bandura, Teoria 2001) facilitar e na Estas o Cognitiva No decorrer destas actividades de teoria crenças desenvolvimento mais avançado determinação (Glanz, de 1999; Sutton, 1997b)). Contudo o facto de “apelarem aos concretizasse. outros para corrigirem as posturas” e de Um aspecto positivo que se destaca “reconhecerem os erros, mas dizerem que só nesta conseguem mudar com ajuda”, é revelador de envolvimento da Escola e de esta se ter que os seus níveis de auto-eficácia necessitam integrado ser melhorados no sentido de se processar intervenção. Além disso os resultados desta uma transferência do “locus de controlo”. Esta actividade foram reforçados, com a sua avaliação publicação no jornal escolar. Esta iniciativa, aponta necessárias no sentido intervenções que de serem permitam para acção está relacionado perfeitamente além de no valorizar com espírito a o da actividade modificar um comportamento referenciado desenvolvida, pode constituir um estímulo e como dependendo de um “locus de controlo incentivo para a participação dos alunos. externo” para uma condição que dependa mais do “locus de controlo interno”. Análise dos custos envolvidos O concurso de colagens forneceu uma Os encargos financeiros relacionados com a pista muito importante. As crianças que implementação executaram estes trabalhos associavam os contemplaram ídolos à prática de exercício físico e à condição humanos, transportes e comunicações. O de serem pessoas saudáveis. Esta actividade custo estimado por criança foi cerca de decorreu actividades €7,83. A componente principal destes custos curriculares daquelas turmas tendo sido teve a ver com o tempo despendido na orientadas pelos concepção e logística do Jogo por Etapas que Destaca-se, contudo, no âmbito Arquivos de Fisioterapia das respectivos a docentes. importância da desta as rubricas intervenção de recursos necessitou de 105 horas. A multiplicação Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 21 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas desta intervenção tenderá a baixar os custos, registada nos alunos do 1º ano, que prevendo-se uma redução dos encargos para apresentaram limitações sobre a forma como cerca de €1,55/criança se for mantido o deve ser transportada a mochila. No grupo dos alunos do 1º ano – modelo actual. alunos de baixa estatura -, chama-se a atenção Conclusão No âmbito da actividade de educação para a saúde, a acção de sensibilização com a sessão teórica constituiu um momento importante de divulgação de informação sobre os riscos das lesões que a má postura e a incorrecta utilização da mochila pode causar. Esta acção permitiu transmitir conhecimentos relativos à escolha de mochila adequada e sobre como manter as costas saudáveis. Os sucessivos momentos de intervenção que dizem respeito ao concurso de composições, colagens e jogos de etapas serviram para prolongar o efeito da sessão de sensibilização, dar oportunidade para passar à prática conceitos teóricos e criar espaço para o diálogo e discussão sobre este tema. Neste aspecto foi possível obter-se a participação activa de todos os alunos o que, em ambiente de aula, nem sempre acontece. Os resultados obtidos parecem ser claramente positivos. Não se registou efeito de perda dos conhecimentos. mostraram As crianças conhecimentos sólidos relacionados com boa postura, e sobre como escolher a melhor mochila. Neste aspecto notou-se uma características relativamente maior valorização funcionais às suas da das mochila características decorativas. Por fim, houve um reforço das competências sobre como a mochila deve ser transportada, tanto na parte teórica como na prática. Neste aspecto, Arquivos de Fisioterapia a excepção foi para as posturas incorrectas encontradas durante a etapa do transporte das mochilas e o facto destas serem demasiado grandes e pesadas sendo que algumas incluíam ainda armação de metal e rodas. As alças, de um modo geral, estavam muito soltas. Estas características condicionam o transporte assimétrico da mochila e uma alteração acentuada do centro de gravidade e das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. Revela-se, de facto, que os mais novos carecem de ajuda e supervisão dos encarregados de educação que deverão ser devidamente informados e sensibilizados sobre esta questão. Foi divulgado na imprensa local, antes do início do ano lectivo 2003/2004, um texto com informação relativa ao problema das dores nas costas nas crianças e à escolha da mochila adequada. A análise efectuada neste momento aos alunos do 1º ciclo sugere que a publicação de informação relativa a este tema nos “média” tem resultados limitados. Uma abordagem abrangente e direccionada, mobilizando os actores mais directamente envolvidos com o problema parece ser mais efectiva. Sugestões para intervenções futuras A confirmação da redução ou não das lesões e das dores das costas por este tipo de intervenção é difícil de calcular, assim como é Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 22 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas difícil avaliar os ganhos em saúde que saúde escolar de modo a serem efectuadas resultam de qualquer programa de educação pelo técnico de saúde especializado – o para a saúde (Bennett & Murphy, 1999). Tal fisioterapeuta. Além da medida atrás proposta só poderá ser concretizado com a replicação julgamos destas intervenções em maior escala e de implementadas as seguintes medidas: estudos de base populacional desenhados - As crianças já sensibilizadas deveriam ter para tal fim. Como referem Bennet e Murphy algum acompanhamento e controlo ocasional (Bennett & Murphy, 1999), relativamente aos e sem aviso prévio, através da pesagem da programas de educação e promoção da saúde mochila e avaliação da colocação da mochila “…quaisquer benefícios para a saúde em geral nas costas. só surgem alguns anos ou mesmo décadas - Avaliação da necessidade de desenvolver depois da mudança comportamental. Além acções de sensibilização no grupo etário de disso, as mudanças no comportamento da maior risco que corresponde às crianças de população 10 a 12 anos. geral são frequentemente que deveriam ser ainda cumulativas e difíceis de atribuir a uma - Promoção da realização do concurso de intervenção em particular.” (página 171). composição, de desenho e de jogos por etapas Torna-se, por isso, importante inter-escolares. implementar abordagens a vários níveis (ESPS, Estas medidas de permitiriam intervenções o 2001; Redman, 2003). O envolvimento directo desenvolvimento dos encarregados de educação surge como abrangentes, mais motivadoras para os um dos aspectos essenciais, pois estes terão alunos, um papel preponderante sobre a formação comportamentos mais saudáveis. Poderiam das atitudes e comportamentos das crianças eventualmente serem facilitadoras de novas desta faixa etária. Julgamos que o momento modas comportamentais mais oportuno para envolver os pais nesta escolha e questão seria antes do início da escolaridade passariam por critérios mais funcionais e a formal. Um inquérito e um folheto informativo adopção de boas posturas faria parte dos entregue em mão, no momento da inscrição automatismos comportamentais. estimuladoras de mais adopção pelas manuseamento das quais de a mochilas da criança na Escola, ou enquanto esperam pela vacinação da criança no Centro de Saúde, antes de matricular na Escola, poderiam servir, numa primeira fase, para a Agradecimentos consciencialização e avaliação dos níveis de Os autores agradecem a colaboração conhecimento dos pais e identificação das dos docentes e a participação dos estudantes necessidades de intervenção. Intervenções ao nas actividades desenvolvidas. nível de aconselhamento dos pais poderiam Apresentam ainda um agradecimento ser articuladas no âmbito das equipas de especial à Dra. Clarisse Bento, médica de Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 23 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas saúde pública e Coordenadora dos Serviços de Saúde Escolar da Sub-Região de Saúde de Leiria pela sua prestimosa colaboração na revisão do trabalho. Bibliografia - Ajzen, I. (1988). Attitudes, Personality and Behaviour. Chicago, Illinois. - Armitage, C., & Conner, M. (1999). The Theory of Planned Behaviour: Assessment of Predictive Validity of "Perceived Control". British Journal of Social Psychology, 38, 35-54. - Bandura, A. (2001). Social Cognitive Theory: An Agentic Perspective. Annual Review of Psychology, 52, 1–26. - Bennett, P., & Murphy, S. (1999). Psicologia e Promoção da Saúde (J. Nogueira, Trans. 1ª ed. Vol. 14). Lisboa: CLIMEPSI. - Chansirinukor, W., Wilson, D., Grimmer, K., & Dansie, B. (2001). Effects of backpacks on students: measurement of cervical and shoulder posture. 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(2001). Spine: posture, mobility and pain. A longitudinal study from childhood to adolescence. Eur Spine J, 10(2), 118-123. Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 25 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas ANEXO 1 Ficha de Aferição de Conhecimentos - Posturas Ficha de Revisão 1- Como se chamam os ossos que formam a nossa coluna vertebral? a) Vértebras b) Rádio c) Fémur d) Tíbia Diz se são falsas ou verdadeiras as seguintes afirmações. Verdadeiro Falso 2- Não se deve estar muito tempo na mesma posição. 3- Devemos carregar todo o peso de um lado. 4- A mochila deve ser colocada apenas sobre um ombro. 5- As alças da mochila devem ser almofadadas 6- A mochila pesada faz mal às costas. 7- Não faz mal transportar a mochila solta. 8- O exercício físico faz bem à saúde. Nome__________________________________ Arquivos de Fisioterapia Data:_________ Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 26 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas ANEXO 2 Procedimentos e Regulamentos do Jogo por Etapas O jogo por etapas é composto por dois níveis e decorre em quatro etapas. Vence a equipa que alcançar o maior número de pontos. O jogo por etapas obedece aos seguintes regulamentos. Nível 1 (1º e 2º ano) Os jogos por etapas “Nível 1” constituem o único momento de avaliação para este grupo. O desenvolvimento heterogéneo das competências cognitivas ao nível da escrita e literacia torna inadequado a aplicação de questionário e dos concursos de composição para os alunos do 1º e 2º ano do 1º ciclo de escolaridade. Os jogos incluem várias etapas. Etapa 1 Objectivo: identificar posturas correctas e incorrectas. Descrição: são apresentadas 6 imagens com posturas correctas e incorrectas (imagens semelhantes às utilizadas na sessão de sensibilização). Pontuação e tempo: 1 ponto por cada resposta certa; pontuação máxima 6; tempo limite -2 minutos. Etapa 2 Objectivo: escolher a melhor mochila. Descrição: são expostas 15 mochilas aos alunos. O grupo deve escolher aquela que no seu entender é a melhor. A mochila é apresentada ao juiz de mesa que a avalia do ponto de vista ergonómico e funcional: 1) ser leve; 2) ter tamanho ajustado ao aluno; 3) ter alças largas e almofadadas; 4) ter alças ajustáveis; 5) ter almofadamento na parte da mochila que contacta as costas; 6) ter mais que um compartimento que permita arrumar o material escolar. Pontuação e tempo: cada característica positiva vale 1 ponto; pontuação máxima 6; tempo limite 4 minutos. Etapa 3 Objectivo: colocar o material escolar na mochila. Descrição: é apresentado ao grupo diverso material escolar que deve ser colocado dentro da mochila. Depois de arrumado o material, a mochila é apresentada ao juiz de mesa que avalia o modo como o material foi arrumado e como foram utilizados os compartimentos da mochila. Pontuação e tempo: a arrumação vale um ponto por boa ordem de arrumação e 1 ponto por boa utilização dos compartimentos; a má organização era penalizada em 0,5 ponto; pontuação máxima 2 pontos; tempo limite - 4 minutos. Etapa 4 Objectivo: transportar a mochila até à sala de aula. Descrição: o aluno transporta a mochila com o material ao longo do circuito estabelecido (corredor e escadaria), sendo avaliado: 1) o peso e a colocação da mochila nas costas; 2) a alteração da postura ao nível dos ombros, da coluna cervical, dorsal e lombar; e 3) o grau de deslocação do centro de gravidade do aluno. Pontuação e tempo: os pontos são atribuídos em função das características da mochila e da postura do aluno que a transporta; pontuação máxima - 6 pontos; tempo limite - 5 minutos. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 27 Fisioterapia na Saúde Escolar - dos modelos às práticas Nível 2 (3º e 4º ano) Etapa 1 Objectivo: comparar as imagens em termos de postura correcta. Descrição: são apresentadas duas imagens representando pessoas sentadas a uma secretária. Pede-se que seja analisado o posicionamento 1) da cabeça; 2) do tronco; 3) dos braços; 4) das coxas; 5) dos pés; e 6) o alinhamento da coluna. Pontuação e tempo: cada aspecto identificado vale um ponto; pontuação máxima - 6 pontos; tempo limite - 3 minutos. Etapa 2 Objectivo: escolher a melhor mochila. Descrição: são expostas 15 mochilas aos alunos. O grupo deve escolher aquela que no seu entender é a melhor. A mochila é apresentada ao juiz de mesa que a avalia do ponto de vista ergonómico e funcional: 1) ser leve; 2) ter tamanho ajustado ao aluno; 3) ter alças largas e almofadadas; 4) ter alças ajustáveis; 5) ter almofadamento na parte que contacta as costas; 6) ter mais que um compartimento que permita arrumar o material escolar. Pontuação e tempo: cada característica positiva vale 1 ponto; pontuação máxima 6; tempo limite 2 minutos. Etapa 3 Objectivo: colocar o material escolar na mochila, segundo o horário escolar do dia sorteado. Descrição: os grupos realizam um sorteio na véspera do jogo, para obter um número que corresponde a um dos dias da semana de aula (de 2ª a 6ª feira), mantendo-se oculta, porém, a utilidade desse número. É apresentado ao grupo diverso material escolar que deve ser colocado dentro da mochila em função do dia de semana (indicado pelo número sorteado). Depois de arrumado o material, a mochila é apresentada ao juiz de mesa que avalia o modo como o material foi arrumado e como foram utilizados os compartimentos da mochila. Pontuação e tempo: a arrumação vale um ponto por boa ordem de arrumação e 1 ponto por boa utilização dos compartimentos; a falta ou excesso de material e a má organização é penalizada em 0,5 ponto; pontuação máxima 2 pontos; tempo limite - 5 minutos. Etapa 4 Objectivo: transportar a mochila até à sala de aula. Descrição: o aluno transporta a mochila com o material ao longo do circuito estabelecido (corredor e escadaria), sendo avaliado 1) o peso e a colocação da mochila nas costas; 2) a alteração da postura ao nível dos ombros, da coluna cervical, dorsal e lombar; e 3) o grau de deslocação do centro de gravidade do aluno. Pontuação e tempo: os pontos são atribuídos em função das características da mochila e da postura do aluno que a transportava; pontuação máxima - 6 pontos; tempo limite - 5 minutos. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 28 Uma História de Vida em Fisioterapia Uma História de Vida em Fisioterapia Nogueira, M.; Moreira, P.; Coutinho, I. M. Autores - Nogueira, Manuela Fisioterapeuta - Moreira, Paula Fisioterapeuta - Coutinho, Isabel Maria Fisioterapeuta, Profª. Coordenadora do Curso Superior de Fisioterapia da ESTeSL RESUMO As histórias de vida são um tipo de estudo de caso muito utilizado nas ciências sociais. Têm como finalidade o registo da história de vida para a compreensão de aspectos básicos do comportamento humano. Procura reconstituir a carreira de sujeitos dando relevo ao papel das organizações, acontecimentos marcantes e indivíduos que tiveram nele influência significativa (Bogdan e Biklen, 1994, citado por Carmos e Ferreira, 1998). Achámos relevante a realização deste estudo, visto o carácter inovador da investigação de histórias de vida em fisioterapia. Escolhemos fazer a história de vida de um fisioterapeuta que tivesse ligação à Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL). A nossa escolha recaiu na Fisioterapeuta Olga Leão. O nosso objectivo foi a recolha e registo do maior número de dados e factos relacionados com o seu percurso profissional e de docência. Identificamos várias limitações ao nosso estudo devido à sua subjectividade, à subjectividade da análise dos dados, ao seu carácter restritivo. Palavras Chave: Histórias de Vida; Fisioterapia; Fisioterapeutas Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 29 Uma História de Vida em Fisioterapia que corresponda a um sujeito realmente Introdução REVISÃO DA LITERATURA singular (Munoz, 1992). I - Histórias de vida As histórias de vida, não são mais do II - Fisioterapia que um testemunho individual sobre um A identidade de cada profissão é determinado problema, sobre um determinado construída com base na sua designação, na grupo humano, uma função de primeira família profissional a que pertence e na magnitude descrição para o desenvolvimento da do seu perfil. Deste modo, dimensão qualitativa das Ciências Sociais Fisioterapia pode ser vista como a terapia (Munoz, 1992). (~terapia) física (fí~) pelo movimento (~sio~). A A vida dos indivíduos é portadora de um Fisioterapia pertence à carreira dos Técnicos sentido que os ultrapassa. Interpretar uma de Diagnóstico e Terapêutica possuindo como história de vida é descobrir um grupo social ou tal, objectivos de Diagnóstico, de Terapêutica, mesmo uma sociedade. Cada indivíduo totaliza de Prevenção e Promoção da Saúde e a medição do seu contexto social, dado pelos Investigação. Em relação ao perfil profissional grupos restritos de pertença, os grupos como torna-se necessário definir as competências e a família, os grupos de trabalho, a vizinhança, actividades realizadas pelo Fisioterapeuta. etc. As Este tipo de estudo é o relato profissões classificadas no existentes que respeita ao seu autobiográfico, obtido pelo investigador através características, de entrevistas sucessivas, tendo por objectivo funcionamento e organização. mostrar o testemunho subjectivo de uma são às suas modo de Carr-Saunders e Wilson (Rodrigues, pessoa. O investigador é somente o indutor da 2002), narração, o seu transcritor e também o permitiam distinguir as profissões do conjunto encarregado de “retocar” o texto. Também é das ocupações existentes. Uma profissão responsável por sugerir ao entrevistado a emerge quando um número definido de necessidade de focar factos informativos pessoas começa a praticar uma técnica esquecidos por este. assente sobre uma formação especializada, O uso de relatos de vida é uma estratégia indispensável à obtenção de dados identificaram os atributos que dando resposta a necessidades sociais. Muitas alterações ocorreram na num trabalho qualitativo (que pretende estudar Fisioterapia, enquanto carreira de Técnico de não só estruturas como os processos), o Diagnóstico e Terapêutica, encontrando-se principal ultimamente em vigor o Decreto-Lei n.º objectivo na obtenção destas narrativas não é normalmente a elaboração de uma história de vida. Esta possibilidade utilizamo-la somente no caso de dispormos de um relato biográfico excepcionalmente rico e Arquivos de Fisioterapia 564/99. Segundo o disposto no Decreto-Lei n.º 564/99, de 21 de Dezembro, o Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 30 Uma História de Vida em Fisioterapia Fisioterapeuta, enquanto Técnico de Diagnóstico e Terapêutica, "centra-se na uma crescente complexidade e responsabilização das funções exercidas. análise e avaliação do movimento e da postura, Na área do diagnóstico, o fisioterapeuta baseadas na estrutura e função do corpo, desenvolve actividades de análise e avaliação utilizando e do doente identificando as suas necessidades base, através dos exames subjectivo e objectivo, de modalidades terapêuticas educativas específicas com essencialmente, no movimento, nas terapias que manipulativas e em meios físicos e naturais, musculares, sensitivos, de coordenação, de com a finalidade de promoção da saúde e postura, de equilíbrio, do foro funcional e do prevenção da doença, da deficiência, de foro respiratório, construindo posteriormente incapacidade e da inadaptação e de tratar, um diagnóstico das incapacidades físicas do habilitar ou reabilitar indivíduos com disfunções doente, tendo em conta a sua situação a nível de natureza física, mental, de desenvolvimento emocional, habitacional e sócio-económico. fazem parte testes articulares, ou outras, incluindo a dor com o objectivo de os ajudar a atingir a máxima funcionalidade e qualidade de vida.” Assim, podemos dizer que o Fisioterapeuta é um educador das atitudes e comportamentos dos doentes e seus familiares. Em 1901, pelo Diário do Governo de 26 de Dezembro, surgem dados concretos em relação ao início de um conjunto de profissões de diagnóstico e terapêutica com a «criação e organização de um laboratório de análise A função do Fisioterapeuta é exclusiva, incluindo avaliação, diagnóstico, planeamento, intervenção, reavaliação e prognóstico, em contextos como os da promoção da saúde, prevenção III - Escola Superior de Tecnologia da Saúde da doença e incapacidade, tratamento da doença, lesões ou disfunções e reabilitação de indivíduos, grupos ou comunidades. Assim Portaria n.º 709/80, de 23 de Setembro, veio reestruturar os centros de formação de técnicos auxiliares dos serviços complementares de diagnóstico e terapêutica. Enquanto não forem criadas as escolas técnicas dos serviços de saúde, é aos Centros de Lisboa, Porto e Coimbra que cabe O Decreto-Lei acima referido veio proporcionar aos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica autonomia profissional, funcional e técnica, bem como uma hierarquia própria, processando-se clínica no Hospital Real de São José”. a evolução na cadeia hierárquica pelas categorias de técnico de 2ª classe, técnico de 1ª classe, técnico principal, técnico especialista, técnico especialista de 1ª classe e técnico director, acompanhada por Arquivos de Fisioterapia desenvolver a formação e aperfeiçoamento do pessoal técnico auxiliar dos serviços de saúde. Em 1982 são criadas as Escolas Técnicas dos Serviços de Saúde de Lisboa, Porto e Coimbra, pelo Decreto-Lei n.º 371/82, de 10 de Setembro, que sucedem aos centros de formação; que juntamente com a Escola de Reabilitação do Alcoitão, formam uma rede de escolas para formação e aperfeiçoamento. O Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 31 Uma História de Vida em Fisioterapia modelo curricular dos cursos apresenta uma 99/2001, de 28 de Março, que as integrou duração de três anos. nos Institutos Politécnico da Saúde de Lisboa, São então publicadas os planos de estudo e as disciplinas e, em 6 de Julho de Porto e Coimbra respectivamente, o qual nunca chegou a ser implementado. 1986 é publicada a Portaria n.º 549, que As ESTeS, como estabelecimentos de regulamenta o acesso às escolas, na qual se ensino superior politécnico, regem-se pelos exige o 12º ano para o ingresso nos cursos. princípios fundamentais definidos para este Esta curso nível de ensino, através da simbiose entre o Complementar de Ensino e Administração, ensino e a investigação das tecnologias da como curso de Pós-graduação, com uma saúde, na missão ímpar de qualificação de duração de um ano. Este curso funcionou até recursos humanos da saúde, contribuindo 1993. para a melhoria dos padrões de qualidade do portaria cria também o E em 1993, através do Decreto-Lei n.º 415/93, de 23 de Dezembro, dá-se a integração das Escolas Técnicas dos Serviços ensino e eficácia na prestação de cuidados de saúde à comunidade. Após um século de vivências das de Saúde (ETSS) no sistema educativo, ao nível tecnologias da saúde em Portugal e do ensino superior politécnico, passando à decorridas mais de duas décadas sobre a sua actual designação como estabelecimentos de criação, a Escola Superior de Tecnologia da ensino superior – Escolas Superiores de Saúde de Lisboa, no ano lectivo de 2001- Tecnologia da Saúde (ESTeS) – com o estatuto 2002, foi dotada de nova sede em instalações jurídico de escola politécnica pública não próprias, numa das zonas mais modernas da integrada. Consagrou também, no seu artigo cidade de Lisboa, em pleno Parque das 9º, a possibilidade dos cursos anteriormente Nações. ministrado nestas escolas conferirem o grau Enquanto entidade orgânica, detentora de bacharel desde que os respectivos planos de uma estrutura científica e pedagógica de estudo correspondessem aos planos de adequadas, rege-se pelos presentes Estatutos estudo (Despacho n.º 20 786/2004; 2ª série), que dos bacharelatos Posteriormente o criados. Decreto-Lei nº. lhe permitem pôr fim ao regime de instalação 280/97, de 15 de Outubro, vem dar nova em que tem vivido desde 1993, ao mesmo redacção ao diploma anterior, clarificando o tempo que a dotam de um modelo de gestão seu alcance e competência para a aplicação democrático, eficiente e dinâmico, assente na do processo. participação efectiva de toda a comunidade As ESTeS passaram a depender da tutela conjunta dos Ministérios da Educação e da Saúde, até passar, em 1 de Janeiro de académica – estudantes, docentes e pessoal não docente. Actualmente o Curso Superior de 2001, para a tutela exclusiva do Ministério da Fisioterapia Educação, superiores, com uma duração de três a quatro através Arquivos de Fisioterapia do Decreto-Lei n.º é ministrado nas escolas Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 32 Uma História de Vida em Fisioterapia anos lectivos. Conferem aos profissionais o Sempre que achámos necessário grau académico de Bacharel (3 anos) ou o utilizámos perguntas mais fechadas para grau de Licenciado (4 anos). esclarecer algum assunto menos claro. Metodologia IV -Caracterização do suporte áudio O suporte áudio utilizado por nós foi o O objectivo do estudo foi a elaboração de uma história de vida de um fisioterapeuta, para tal recolhemos e analisamos entrevistas e o curriculum vitae. I - Amostra A amostra gravador de cassetes, visto este ser o meio mais acessível, de fácil transporte e manuseamento. Tivemos o cuidado de ter material suplente no que diz respeito a cassetes e pilhas, para eventuais anomalias, e uma também para o caso da duração das fisioterapeuta, a Fisioterapeuta Olga Leão, entrevistas ser superior ao tempo de duração formada pelo centro de Preparação de destas. foi constituída por Técnicos e Auxiliares dos serviços Clínicos em Lisboa no ano de 1976. Exerceu funções de fisioterapeuta no Hospital Curry Cabral (HCC) de 1979 a 2003, ano em que se aposentou. Foi também docente e monitora de estágio da ESTeSL. II - Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados A recolha de dados foi baseada em quatro V - Procedimentos e tratamento dos dados Após a recolha das entrevistas procedemos à sua transcrição dando-lhe legibilidade. Fizemos também a reunião e ordenamento da narrativa ficando esta organizada por temas (motivação para a profissão, curso de fisioterapia, carreira como fisioterapeuta, formação, coordenação e ligação à Escola). Dentro de cada tema entrevistas, gravadas em suporte áudio, e no tivemos o cuidado de relatar os factos curriculum Vitae. cronologicamente. Tivemos a preocupação também em não III - Caracterização das entrevistas As entrevistas realizaram-se com um adulterar o sentido da narrativa, apenas intervalo de duas semanas, mais ou menos. de todo este trabalho e da análise do Optámos por entrevistas semi-directivas, dando espaço ao entrevistado para relatar a retocando alguns elementos do texto. Depois curriculum construímos assim a história de vida profissional da Terapeuta Olga Leão. sua história, intervindo somente quando houve necessidade de reencaminhar a narrativa para os factos importantes para a investigação. Conclusão A Terapeuta Olga Leão, o nosso objecto de estudo tem vasta experiência profissional. A sua fase profissional activa acompanhou Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 33 Uma História de Vida em Fisioterapia muitas mudanças na fisioterapia assim como difícil. Assim trabalhou em vários centros no na ESTeSL. privado antes de integrar uma equipa no A sua entrada no mundo da fisioterapia sector de Fisioterapia do Hospital Curry deu-se devido à experiência enriquecedora, que Cabral, em 1979. A sua opinião sobre o sector teve nas suas estadias em Londres, num privado não é muito abonatória pois acha que hospital, para intervencionar a sua filha que se privilegia os números em detrimento da tinha uma patologia congénita. Foi o contacto qualidade. com a humanização, a eficácia e a eficiência O seu percurso profissional foi bastante dos serviços de saúde em Inglaterra, assim generalista, reflectindo a diversidade de como o seu papel activo na recuperação da intervenção no exercício da sua profissão. sua filha entre as duas cirurgias, que a motivou Apesar de tudo, defende que os profissionais para uma carreira na saúde. devem especializar-se, com a certeza do que é Ao ingressar no curso de fisioterapia já pretendido, após terem tido a experiência de tinha uma vasta experiência profissional, trabalhar em várias áreas da fisioterapia. A adquirida no estrangeiro, como por exemplo no sua procura de formação e informação não secretariado, sofreu qualquer tipo de preconceito, levando-a como figurinista e como a buscar outras técnicas menos aceites pela assistente de bordo. Todas as profissões que exerceu maioria dos fisioterapeutas mas, que poderiam ser coadjuvantes de outras mais ortodoxas. privilegiaram o contacto humano. sempre Sempre se regeu pelo princípio de que exerceram um fascínio sobre ela, indo ao saber não ocupa lugar e que, para executar encontro uma determinada técnica, tem que se ter As relações da sua humanas natureza aberta e conhecimentos para tal. A disponibilidade em comunicativa. Essas experiências permitiram-lhe abrir horizontes, moldando a sua forma de pensar e de estar na vida. Esta forma de estar foi transposta para a sua vida profissional, reflectindo-se numa abertura para as situações novas, numa visão organizativa, na forma como se relaciona com os outros e gere orientar os profissionais mais novos levou-a a colaborar com a escola de Lisboa, a convite da Dra. Edite Ribeiro. O seu grande dinamismo e interesse pela profissão foram a razão do convite, feito em 1983/1984, para integrar a ETSSL como monitora de estágio e professora de algumas disciplinas do curso de fisioterapia. algumas situações de conflito que surjam, Quando ingressou no curso de fisioterapia em raramente 1974, a entidade formadora era o Centro de radicalizando a sua posição, Preparação de Técnicos e Auxiliares dos optando quase sempre pela via diplomática. Desde fisioterapia que acabou o sempre teve como curso de objectivo Serviços dos Hospitais Civis de Lisboa. Este centro de formação foi percursor da ESTeSL. ingressar numa equipa de profissionais em A Fisioterapeuta Olga Leão, assim como contexto hospitalar, o que sempre foi muito outros elementos ligados às Escolas Técnicas Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 34 Uma História de Vida em Fisioterapia dos Serviços de Saúde de Lisboa, Porto e O alargamento do horário de Coimbra, tiveram um papel preponderante, em funcionamento do sector da fisioterapia foi 1984/1985, na evolução e consolidação do também uma das medidas tomadas pela ensino da fisioterapia nas respectivas escolas. Fisioterapeuta Na altura, a Escola de Reabilitação do Alcoitão coordenadora. Atendendo aos bons resultados era a única escola de reabilitação em Portugal, desta sendo a primeira oponente à formação de alargamento dos quadro da fisioterapia. À fisioterapeutas em outras escolas. Em 1985 posteriori esta medida implicou a ampliação do foram ultrapassados as resistências numa quadro da fisiatria, da terapia da fala e da reunião no Porto, entre as quatro escolas e o terapia ocupacional colmatando a pluralidade Ministério da Saúde, onde assinaram um das necessidades dos utentes que frequentam protocolo no qual ficou estabelecido que o serviço da parte da tarde. Foi mais um haveria uma uniformização dos conteúdos desafio que enfrentou com diplomacia e programáticos das disciplinas do curso de perseverança. fisioterapia. Olga medida Leão, conseguiu, enquanto também o Com o objectivo de rentabilizar os como recursos materiais e humanos existentes no coordenadora do sector da fisioterapia do HCC sector da fisioterapia, optou por fomentar a teve a oportunidade de demonstrar as suas polivalência de cada departamento deste capacidades organizativas e de gestão de sector. Ao possibilitar ao doente realizar todos recursos humanos. Com o apoio das direcções os tratamentos no mesmo local, sem ter de se e dos conselhos de administração do HCC, deslocar de um departamento para o outro, implementou algumas medidas que vieram propiciou-lhe uma maior comodidade. Esta revelar-se inovadoras para a altura. A sua medida veio também facilitar o planeamento preocupação dos doentes e a gestão da lista de espera. Ao exercer em funções proporcionar aos fisioterapeutas por si coordenados, uma Devemos salientar a importância equidade de conhecimentos básicos para o destas medidas para a gestão do sector da exercício da profissão, de forma a eliminar as fisioterapia do HCC. Muito embora tenham discrepâncias de conhecimentos entre os sido o alvo de alguma resistência na sua técnicos, levo-a a promover formação interna implementação, foram mais tarde adoptadas para os mesmos. O seu cuidado foi o de por outros serviços e instituições. contemplar com formação todos os Verificámos, pela história de vida fisioterapeutas do sector, e para tal dividiu o relatada pela Fisioterapeuta Olga Leão, que grupo em dois, com horários desfasados de muitas mudanças aconteceram durante este forma a assegurar o serviço. Isto levou a uma período de cerca de 30 anos, compreendidos necessidade de adaptação dos formadores entre a sua entrada para o curso e a sua convidados, para ir ao encontro das exigências aposentação. do sector. privilégio de viver e testemunhar a maior parte Arquivos de Fisioterapia Esta fisioterapeuta teve o Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 35 Uma História de Vida em Fisioterapia das modificações na carreira, no ensino e no forma a poder ajudar na realização de futuros exercício da profissão de Fisioterapeuta. trabalhos. Poirier (1999) conta uma história passada Considerações Finais Por ser uma abordagem nunca feita em investigação em Fisioterapia, e por se verificar a necessidade de registar as histórias de vida dos fisioterapeutas que já não exercem, ou que estão a abandonar o exercício da profissão, este trabalho de investigação tornou-se para nós um desafio. Desafio que aceitamos e que nos fez contactar com conhecimentos, um mundo interessante e novo de que nos enriqueceu à medida que avançámos. Temos consciência de que ainda não dominamos completamente o método das histórias de vida, mas pensamos ter conseguido atingir o objectivo a que nos propusemos. com Lazarsfeld. Durante uma aula, em França, sobre as técnicas de análise de contudo aplicadas a diversas recolhas de textos, entre os quais as histórias de vida, alguém lhe pediu esclarecimentos sobre certos problemas práticos. Ele respondeu, sorrindo: “Diz-se e escreve-se muita coisa, mas sobretudo faz-se como se pode.” Desde o início da nossa investigação optámos por concentrarmo-nos somente no percurso profissional do nosso objecto de estudo, no entanto ao longo das entrevistas, e da sua transcrição, surgiram algumas dúvidas. Terá sido correcto diferenciar artificialmente uma parte de uma existência global? Não teremos no final uma visão muito parcial dos factos? Concluímos que a globalidade que Ao longo da realização deste trabalho deparámo-nos espontaneamente e, encadeada com a história na profissional. Assim não foi possível de todo dificuldades, ignorar alguns factos de âmbito pessoal, por juntamente com a nossa falta de experiência, terem sido bastante importantes e cruciais revestiram para o desenrolar da actividade profissional. bibliografia alguns pelos consultada. a paradoxos escolhemos seccionar, começou a despontar já referenciadas com investigadores Estas investigação de grande dificuldade de execução. Durante as entrevistas optámos por deixar Achamos importante, apesar de serem em livre a narração do nosso entrevistado mas grande número, enumerar algumas das verificámos, logo de início que, o nosso dificuldades com que nos deparámos durante entrevistado a execução deste trabalho. Em geral existe orientadoras. Para além disso tornou-se uma grande relutância em partilhar essas necessário posteriormente a realização de dificuldades, dissimulando-as, conservando só algumas questões mais específicas para o aspecto final, polido do trabalho. Optámos clarificar algumas situações. Assim, optámos por partilhar todos os aspectos da nossa por entrevistas semi-directivas, dando espaço investigação, os bons e os menos bons, de para as anedotas e algumas divagações do esperava algumas questões narrador, permitindo-lhe narrar-se no seu Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 36 Uma História de Vida em Fisioterapia próprio ritmo, mas colocando também algumas questões para o impedir de continuar em divagações estéreis. para o discurso, etc. Ao escolher como suporte para gravação A repetição das entrevistas é condição necessária transcrito, a falta de contextualização do aprofundamento da informação e seu controle. das entrevistas o gravador de cassetes, por ser o meio mais acessível e de fácil utilização, posteriormente na fase da audição, A recolha dos depoimentos está cheia de verificámos que a qualidade da gravação não ratoeiras para o entrevistador com pouca era a melhor, dificultando a percepção do experiência. Sendo a entrevista um encontro discurso. O próprio manuseamento da fita pa- de pessoas que na maioria das vezes, ra audição contribuiu para a sua deterioração. assumem papeis pouco precisos (Poirier, A transcrição das entrevistas, por si só, Valladon e Raybaut, 1999). Devido à evolução não dá forma ao texto escrito de forma a ser da relação entrevistador – entrevistado, ao perceptível. Uma leitura seguida revelou um longo das entrevistas, aconteceu por vezes grande número de ”pois”, “portanto”, “bom”, termos dificuldade em manter o nosso papel “não é” e outros termos parasitas que de entrevistador, caindo no erro de intervir na caracterizam o discurso de qualquer pessoa, narrativa dando a nossa opinião. mesmo culta, que se exprima oralmente, sem Deparámo-nos com uma situação, que à prestar uma atenção especial às suas priori seria favorável, que foi a grande palavras. Tivemos que realizar o afinamento facilidade de conversação e de narração da das entrevistas de forma a dar legibilidade ao nossa entrevistada, o que levou as nossas discurso escrito. entrevistas a prolongarem-se no tempo, Relativamente à reunião e ordenamento da permitindo muitas divagações, com conteúdos narrativa as dificuldade encontradas foram muito dispersos. Posteriormente, aquando da minimizadas pelo facto de termos optado pela transcrição, a dificuldade em passar da transcrição das entrevistas, o que nos deu oralidade à escrita foi uma realidade com a uma visão mais abrangente do conteúdo das qual perdemos muito tempo. narrativas. A dispersão dos assuntos, a No final da recolha deparámo-nos com a quantidade de informação seu factores que encadeamento entrevistas. dificultaram a reunião e ordenamento da opção de transcrever todas as os o dificuldade em transcrever e analisar as A foram e narrativa. entrevistas consumiu-nos muito do nosso Na apresentação definitiva da história de tempo. Deparámo-nos com situações em que vida surgiu também a questão da composição a transcrição não reflectia exactamente a do texto definitivo na primeira pessoa ou na oralidade, ou por dificuldade na pontuação, ou terceira pessoa do singular. Optámos pela por dificuldade em dar emoção ao discurso primeira hipótese para colocar no corpo do trabalho, embora também tivéssemos redigido Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 37 Uma História de Vida em Fisioterapia uma história na terceira pessoa, que nos terapêutica. Pois é uma forma de dar uma ajudou a orientar a construção da primeira. visão pessoal da profissão, e também uma É frequente que a apresentação do texto forma de construir a história viva de uma se faça na primeira pessoa. Trata-se de um profissão, ou conjunto de profissões. As modo de escrever que aproxima o leitor da histórias de vida individuais, para além de fidelidade e da subjectividade da narrativa, serem onde o investigador se apaga diante da memórias pessoais são também a construção narrativa deixando lugar só para o narrador. de uma visão mais concreta da dinâmica de Por esta razão temos que ter precaução na funcionamento reprodução fiel da autobiografia falada. No trajectória do grupo social ao qual pertencem entanto esta apresentação não é obrigatória. esses indivíduos. uma forma e das de focalização várias etapas das da Normalmente a utilização da terceira pessoa Parece-nos pertinente sugerir a recolha e do singular é feita com a finalidade de evitar a reunião de mais relatos de vida, pois as confusão entre o narrador e o autor (Poirier, pessoas estão a aposentar-se, tendo algumas Valladon e Raybaut, 1999). já falecido, senão corremos o risco de saber a Tivemos sempre, ao longo de todo o processo de tratamento do material, o grande cuidado em não desvirtuar nem deturpar o sentido da narrativa. Outro obstáculo, foi a escassez de bibliografia sobre este método que nos orientase de forma clara durante a investigação. A legislação utilizada também não foi fácil de reunir devido à quantidade de diplomas específicos da Fisioterapia e da ESTeSL, assim como os diplomas mais abrangentes; conseguir encontrar os diplomas mais antigos foi também uma tarefa difícil. Com toda a certeza alguns diplomas terão escapado, mas foi um ponto de partida, Esta compilação de legislação poderá sempre vir a ser aumentada e actualizada. Após a conclusão deste estudo esperamos suscitar a curiosidade de outros colegas, desafiando-os a continuar a recolha de testemunhos dos técnicos de diagnóstico e Arquivos de Fisioterapia nossa história somente através dos vários diplomas publicados. Bibliografia - Carmos, H. Ferreira, M. M. (1998). Metodologia da Investigação – Guia para Auto-Aprendizagem. Lisboa: Universidade Moderna. - Munoz, J. J. P. (1992): Colección “Cadernos Metodológicos”, Nº 5 El método biográfico: El uso de las historias de vida en ciencias sociales. Madrid: CENTRO DE INVESTIGACIONES SOCIOLÓGICAS. - Poirier, J.; Clapier-Valladon, S.; Raybaut, P. (1999): Hstórias de Vida. Teoria e Prática (2ª Edição). Oeiras: Celta Editora. - Rodrigues, M. L. (2002): Sociologia das Profissões 2ª Edição). Oeiras: Celta Editora. - Diário da República; série I; n.º 220; 23/09/1980; Port. n.º 709/80 - Diário da República; série I; n.º 210; 10/09/1982; D.L. n.º 371/82 - Diário da República; série I; n.º 220; 24/09/1986; Port. n.º 549/86 - Dário da República; série I – A; n.º 298; 23/12/1993; D.L. n.º 415/93 - Diário da República; série I – A; n.º 239; 15/10/1997; D.L. n.º 280/97 - Diário da República; série I – A; n.º 295; 21/12/1999; D.L. n.º 564/99 - Diário da República; série I -A; n.º 74; 28/03/2001; D.L. n.º 99/2001 - Diário da República; série II; n.º 237; 08/10/2004; - Despacho n.º 20 786/2004 Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 38 Afasia: Um Problema de Comunicação Afasia: Um Problema de Comunicação Colaço, D. RESUMO A afasia afecta o indivíduo com dificuldades ao nível da Autores - Colaço, Dora Terapeuta da Fala linguagem mas também a inter-relação que este estabelece com os seus parceiros de comunicação. Durante o processo de reabilitação, todos os profissionais que interagem com o paciente afásico são, portanto, responsáveis por lhe proporcionar uma comunicação eficaz. A dúvida consiste na variedade de defeitos de linguagem que estes pacientes apresentam. Na maioria dos casos é comum realçarse os problemas de “compreensão” ou de “expressão”. No entanto, existem diversos tipos de afasia, dependendo da localização da lesão cerebral, que serão descritos neste artigo segundo a classificação actualmente aceite. Este trabalho tem como objectivo a partilha de conhecimento sobre o doente afásico do ponto de vista da Terapia da Fala, permitindo uma melhor articulação e troca de informação entre elementos de equipa, facilitando assim uma abordagem multidisciplinar. Palavras Chave: Afasia; Tipos de Afasia; Defeitos de Linguagem Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 39 Afasia: Um Problema de Comunicação compreensão de material verbal, da leitura e Introdução A comunicação é uma actividade social, da escrita (Chapey, 2008). Esta perturbação rica e complexa, que envolve competências exclui todas as perturbações associadas a linguísticas, défices motores e/ou sensoriais, deficiência cognitivas e pragmáticas. Relativamente às competências linguísticas mental, temos, então, a “linguagem”, que corresponde demência (Leal, 2003). perturbações psiquiátricas ou a um sistema de sinais simbólicos utilizados Tipos de Afasia por uma pessoa para comunicar com outras. Uma linguagem eficaz implica diversos processos: o pensamentos a selecção, desenvolvimento serem formulação e comunicados; ordenação Até há alguns anos pensava-se que as dos afasias resultavam exclusivamente de lesões a corticais. Estudos mais recentes revelam que das lesões subcorticais podem originar alterações palavras; a aplicação das regras gramaticais; e de o início dos movimentos musculares para subcorticais, produzir discurso verbal (Hoeman, 1996). Na 2000). Considera-se, assim, a existência de afasia, dois grandes grupos de afasia: afasias típicas muitos destes processos estão afectados. Por esta razão, o estudo da afasia linguagem, ou denominadas atípicas afasias (Castro-Caldas, e afasias atípicas. pode oferecer dados para uma melhor As afasias típicas resultam de uma compreensão do funcionamento cerebral da lesão cortical e a etiologia é vascular. Podem produção de linguagem. ser classificadas em oito tipos diferentes: A capacidade de linguagem é um Afasia de Broca; Afasia de Wernicke; Afasia de processo que envolve múltiplas estruturas do condução; Afasia global; Afasia transcortical hemisfério cerebral esquerdo (HE). No entanto, motora; Afasia transcortical sensorial; Afasia algumas capacidades linguísticas podem ser transcortical mista; e Afasia anómica. afectadas por lesões do hemisfério cerebral Esta classificação é feita de acordo direito (HD) – prosódia, compreensão de com quatro parâmetros de avaliação: a humor e provérbios, etc. –, o que pressupõe capacidade de nomeação, a fluência do que o seu controlo é efectuado por áreas aí discurso, a capacidade de compreensão localizadas. Uma lesão cerebral localizada em auditiva de material verbal e a capacidade de estruturas que se julgam estarem envolvidas repetição. No quadro 1 estão enumerados os no processamento da linguagem pode, então, diferentes tipos de afasia e os sinais clínicos provocar afasia (Castro-Caldas, 2000). fundamentais. Estes quadros repetem-se com alguma Afasia Afasia pode ser definida como uma alteração adquirida da linguagem, de causa neurológica, caracterizada pelo comprometimento linguístico da produção e Arquivos de Fisioterapia regularidade na população de doentes que sofreram acidentes vasculares cerebrais (AVC), reflectindo a perda da função cerebral nas áreas irrigadas pelas diferentes artérias. Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 40 Afasia: Um Problema de Comunicação NOMEAÇÃO FLUÊNCIA COMPREENSÃO REPETIÇÃO TIPO DE AFASIA N Anómica P Condução N Transcortical Sensorial P Wernicke N Transcortical Motora P Broca N Transcortical Mista P Global N Fluente P P N Não fluente P Legenda: P – Perturbado N – Normal Quadro 1. Classificação dos quadros de afasia (Castro-Caldas, 2000). Desta forma, importa fazer uma breve entanto, será mais correcto falar-se em caracterização sobre cada um dos quadros de “incapacidade afasia. algumas das suas regras” (Castro-Caldas, A afasia de Broca corresponde ao quadro clínico de afasia cuja descrição é mais Nestes apresentam caracterizada casos, uma os afasia essencialmente indivíduos não por fluente, uma redução do débito verbal, levando ao uso exclusivo de palavras isoladas, na maioria das vezes substantivos, e em alguns casos, a produção de uma única palavra ou sílaba, utilizada em diferentes contextos e com diferentes entoações (Habib, 2000), a que se Frequentemente, esta redução incide essencialmente na flexão dos verbos, no uso palavras discurso gramaticais indivíduos compreende as relações sintácticas produzidas pelos outros. A dificuldade em atribuir o nome correcto a cada objecto encontra-se alterada e pode ir desde uma incapacidade completa a uma redução ligeira na capacidade evocação. Estes dificuldade em doentes encontrar de apresentam a posição articulatória correcta durante a produção verbal, provocando erros e distorções (Leal, 2003). (pronomes, Broca): TF (apontando para a imagem de uma cadeira): Isto é uma… preposições, etc.), por isso há autores que Doente: Panela. falam em agramatismo (Habib, 2000). No TF: É uma cadeira. 1 no Exemplo 1 (paciente com afasia de chama estereótipo verbal1. de introduzir 2000), visto que a grande maioria destes Afasia de Broca antiga. de A designação deste processo foi iniciada por Paul Doente: Uma cadela. Broca que descreveu, em 1861, um caso de um De forma geral, a compreensão de homem, doente Leborgne, cujo estereótipo verbal era material verbal simples e discurso coloquial a produção “tan”. Daí surgiu a expressão, ainda utilizada, “Ele está ‘tan-tan’.”. Arquivos de Fisioterapia encontra-se bem preservada. Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 41 Afasia: Um Problema de Comunicação Em muitos casos, o discurso apresenta uma Afasia de Wernicke estrutura sintáctica correcta mas De forma inversa, a afasia de Wernicke desprovido de conteúdo semântico relativo ao caracteriza-se por graves perturbações da contexto, veja-se o seguinte exemplo do compreensão, ao passo que a fluência do discurso de uma paciente com afasia de discurso é normal. Esta produção verbal é Wernicke passado em contexto hospitalar. marcada por certas alterações, designadas Exemplo 2: por parafasias. Quando a alteração é tão Doente: Pode dar-me o casaco que grande que torna a palavra ininteligível e, na está ali? (apontando para a mala da maioria dos casos são palavras que não têm terapeuta) nenhuma semelhança com a palavra-alvo TF: Não é um casaco, é uma mala. falamos em neologismos. Noutras ocasiões, o Doente: Pois é, é a mala da do 1.º dir. doente fixa-se numa determinada palavra Doente: Que raios, tudo fechado. produzida pelo próprio e, posteriormente, tem TF: Quer que puxe a cortina? dificuldade Doente: Para mim tanto faz, com em abandonar o padrão articulatório que o faz produzir essa palavra, bocejo ou sem bocejo, tanto me dá. ou seja, produz constantemente a palavra que ficou como que “activada” no cérebro. Este tipo de perturbação verbal oral denomina-se perseveração verbal. Relativamente à compreensão, Hoeman (1996) refere que a compreensão de ordens axiais, como “levante-se” ou “volte-se” Tanto as parafasias como o fenómeno está muitas vezes mantida e as “ordens de perseveração podem ocorrer em qualquer relativas às extremidades, como ‘aponte para tipo de afasia. Porém, nos indivíduos com a porta’ não são compreendidas”. No entanto, afasia destas é necessário verificar o contexto e as pistas discurso, gestuais que são fornecidas ao doente, assim de Wernicke, o conjunto perturbações torna o frequentemente, ininteligível. Quando o discurso é totalmente constituído por palavras como a diferença da complexidade sintáctica entre estes dois tipos de ordens. incompreensíveis, falamos em jargonafasia. O doente produz uma grande Afasia global quantidade de discurso a débito normal mas A afasia global evolve uma grande com a sua estrutura morfológica muito dificuldade de compreensão e produção de alterada. O que se revela interessante é o linguagem, correspondendo à forma mais facto de, na maioria dos casos, o indivíduo ser grave de afasia. incapaz de reconhecer os seus erros, com a Estes doentes praticamente não agravante de considerar que os não está a produzem discurso e apresentam um grave fazer (anosognosia). défice de compreensão auditiva, apesar de poderem cumprir ordens devidamente contextualizadas e muito frequentes. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 42 Afasia: Um Problema de Comunicação Doente: Não, não consigo. Não vai, não Afasia de condução Tal como os indivíduos com afasia de vai de repente, não vai. Broca, estes doentes têm um bom nível de TF: Frigideira. compreensão de material verbal. A produção Doente: Ah, pois, freligeira, freligeira. do discurso é fluente, na qual estão presentes Não, não é bem assim. algumas formas sintácticas elementares. Ao TF: É parecido. Frigideira. contrário dos afásicos de Wernicke, os Doente: Frigideira. Frigireira. Não, não doentes com afasia de condução não vai bem. cometem muitos erros na escolha das palavras. Porém, cometem frequentemente Este tipo de dificuldades na selecção da erros de selecção e transposição de fonemas palavra correcta pode ser aproximadamente e sílabas (Goodglass, 1979), como se pode comparado com o chamado fenómeno de observar nos exemplos seguintes. “palavra-debaixo-da-língua” que todos nós já Exemplo 3: Perante a imagem de uma experimentamos (Fromkin & Rodman, 1993). Agora, pode-se imaginar a gravidade da gilete: situação Doente: Ah isso… (sussurro). se raramente se conseguisse encontrar a palavra pretendida. TF: Diga mais alto. Doente: Eu estou a ver se vejo. Estava a Afasias transcorticais ver se vinha, estava a ver se vinha pra… A característica fundamental das Doente: Li-zete. Não! Li… afasias transcorticais corresponde à boa TF: É parecido. capacidade Doente: Pois, Lizete. Não! Podem, em paralelo com as afasias de Broca, Doente: Fazer a barba. Barbear. Barbear. É… de repetição de linguagem. apresentar um discurso não fluente, e por isso, motoras; denominarem-se se Doente: Lá, lé… Ai não vai… apresentarem Doente: Gilete. auditiva – semelhança com as afasias de Doente: Gi-le-te. Gi-le-te. Não vinha… Wernicke – defeitos de designam-se compreensão sensoriais. Se tiverem ambos os defeitos são chamadas de Exemplo 4: Perante uma imagem de uma frigideira: Doente: afasias transcorticais mistas (Castro-Caldas, 2000). Um… Pri, soprassizeira. Frizeira, frezeira. Não! Não é! A afasia transcortical motora caracteriza-se por discurso espontâneo pouco TF: É parecido. fluente, embora Doente: É parecido, mas não é. capacidades de articulação e a repetição Doente: Frenizeira. Não, não é. Não vai. estejam TF: Quer que eu diga? Ou ainda linguagem do indivíduo é estritamente normal, mantidas. a compreensão, Aparentemente, as a consegue. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 43 Afasia: Um Problema de Comunicação mas não a pode utilizar de forma espontânea semelhanças com alguns dos tipos de afasias (Habib, 2000). típicas. Na afasia transcortical sensorial ocorre A utilidade da classificação das afasias uma perturbação maciça da compreensão da é linguagem oral e escrita, ficando, porém, organização e partilha de informação entre conservada profissionais, porque, na realidade, o que a repetição (sem valor comunicativo espontâneo). que se confina ao nível lexical da linguagem. articulação e a organização sintáctica estejam intactas, estes doentes têm uma dificuldade notável em produzir os elementos arquivo e de de estratégias de intervenção adequadas a A afasia anómica é uma perturbação a de parece ser fundamental é o desenvolvimento Afasia anómica Embora preferencialmente lexicais – nomes e verbos cada paciente e, através de investigação científica perceber de que forma o estudo desta patologia pode contribuir para o aumento do conhecimento do processamento da linguagem. Bibliografia principais. O conteúdo do seu discurso é, - Castro-Caldas, A. (2000). A herança de portanto, fluente embora vazio, com muitos FranzJoseph Gall. Lisboa: McGraw-Hill termos indefinidos – “isso”, “aquilo” “coiso”, etc. - Chapey, R. (2008). Language intervention – e circunlóquios que substituem os nomes strategies in aphasia and related neurogenic (Habib, 2000), por exemplo, poderão dizer communication disorders, 5ª edição. Lippincott “aquilo que serve para cortar” quando se Williams & Wilkins querem referir a uma faca. - Fromkin, V. & Rodman, R. (1993). Introdução Este tipo de afasia é o menos grave, à linguagem. Coimbra: Livraria Almedina. uma vez que os indivíduos apenas apresentam - maior dificuldade em encontrar os nomes aspectos da clínica e da investigação. Análise (perturbação presente em todos os tipos de Psicológica, 4 (II), 465-480 afasia), - Habib, M. (2000). Bases neurológicas dos estando poupadas as restantes capacidades. - As afasias atípicas dividem-se em cruzadas, que afectam pessoas dextras com lesão no HD, e em afasias subcorticais, que resultam de lesões nas estruturas subcorticais do HE (Habib, 2000). As lesões subcorticais originam afasias com características que não são passíveis de agrupar, embora Arquivos de Fisioterapia H. (1979). Neurolinguística: comportamentos. Lisboa: Climepsi. Afasias atípicas afasias Goodglass, apresentem Hoeman, S. (1996). Enfermagem de reabilitação: processo e aplicação. Lisboa: Lusociência. - Leal, G. (2003). A influência da frequência de uso das palavras na capacidade de nomeação dos afásicos. Monografia final do curso de licenciatura em Terapia da Fala. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão. algumas Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 44 Afasia: Um Problema de Comunicação Jakubovicz, R. & Cupello, R. (2005). – esforço produtivo, a articulação, o prosódia, as Introdução à afasia: diagnóstico e terapia. Rio comprimento de Janeiro: Revinter. características do léxico e as parafasias frásico, a (Castro-Caldas, 2000). Glossário Capacidade de evocação – Produzir o nome de algo que não se encontra no campo visual do indivíduo. Pode corresponder à produção de Jargonafasia – Todo o discurso é substituído pela produção de neologismos (Castro-Caldas, 2000). uma palavra durante o discurso espontâneo Neologismo – Palavra muito alterada que não ou através de exercícios de evocação como, se assemelha a nenhuma palavra da língua do por exemplo, produzir nomes de frutos falante. (evocação semântica) ou produzir nomes Parafasia – Substituição da palavra-alvo por começados pela letra “p” (evocação outra palavra (Jakubovicz & Cupello, 2005). fonológica). Exemplos: Produzir “caneta” em vez de Capacidade de nomeação – Produzir o nome “lápis” (parafasia semântica) ou produzir de “cavinete” em vez de “canivete” (parafasia um objecto/imagem através da fonológica). confrontação visual. Débito verbal – Número de palavras produzidas por unidade de tempo. Estereótipo verbal – Substituição do discurso por uma palavra ou por um neologismo. O estereótipo substitui todo o discurso, com diferentes entoações e acompanhado de comunicação não-verbal (gestos, expressão Perseveração verbal – Quando o paciente se fixa numa determinada palavra produzida pelo próprio e, posteriormente, tem dificuldade em abandonar o padrão articulatório que o faz produzir essa palavra, ou seja, produz constantemente a palavra que ficou como que “activada” no cérebro. facial), o que permite, muitas vezes, ao doente, fazer-se entender. Fluência do discurso – A fluência do discurso depende de sete componentes: o débito, o Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 45 Há “saudinha”no ar... Há “saudinha” no ar... Francisco, L.,S. RESUMO «… estou todo partido…» Ora aqui está uma frase que os Autores - Francisco, Luís Santos Consultor em turismo e aviação; jurista [email protected] utilizadores de companhias aéreas de longa distância já não dizem, nem sentem, antes pelo contrário. O nível de qualidade, o luxo, a longa panóplia de serviços que as companhias aéreas e aeroportos do médio e extremo Oriente oferecem aos seus passageiros, é quase inimaginável. Este artigo surgiu do interesse em conciliar toda essa excelência com o facto de o seu autor ter, durante a viagem inter-continental, sofrido uma pequena recaída de uma lombalgia , sequela de uma cirurgia lombar que o director desta revista acompanhou no pré e pós-operatório. Creio que se compreende a preocupação que este episódio gerou, uma vez que estava a 35 Kms de… altura e a voar para um país completamente desconhecido. Tudo se torna mais fácil quando à chegada, no terminal do aeroporto está um… fisioterapeuta. Ah… pois faz! Palavras Chave: Viagens aéreas; Fisioterapia; Oportunidades Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 46 Há “saudinha”no ar... - «Que tal a viagem ao Porto?» - «Correu tudo bem mas estou todo “partido”» Ambas têm como objectivo, apenas, o elevado padrão de qualidade e não a quantidade. Estas companhias optaram pela Airbus, em especial, pelas séries A330, A340 e A380, e pelo Boing 777. Aviões com enorme espaço, comodidade e alta tecnologia. «… estou todo partido…» Ora aqui está uma frase que os utilizadores de companhias aéreas Long Haul (longa distância) já não dizem, nem sentem, antes pelo contrário. Mas, mesmo com todos os serviços que vos vão deixar “de água na boca”, como puderam ler no editorial, os Fisioterapeutas são absolutamente fundamentais! Em pleno voo Enquanto na EU as companhias aéreas seguem um modelo de Low Cost, ou seja, de baixo custo porque se tratam de voos curtos, de 2h a 2h30, as companhias que voam para fora da Europa têm optado por aquilo a que apelido de Healthy Quality. Esta nova tendência verifica-se bastante no Médio e Extremo Oriente. Companhias aéreas como a Cathay Pacific, Singapore Airlines, Malaysia Airlines, Thai, Emirates e Qatar Airways preocupam-se cada vez mais com a comodidade e saúde dos seus passageiros. Não podendo falar de todas, falarei da Emirates e Qatar Airways, até porque tive a oportunidade de viajar nelas há pouco tempo. Estes aviões estão orientados para o luxo, para uma forma sofisticada e saudável de viajar: camarotes individuais com duche (em 1ª classe), espaçosas cadeiras que se transformam em confortáveis camas, bares, restaurantes, ginásios… Possuem ainda closets particulares para guardar os pertences e salas de reunião. As viagens longas desgastam e entediam os passageiros. Para que isso não aconteça a bordo de um avião da Emirates ou Qatar Airways, existe uma variedade de serviços de alta qualidade no sector do entretenimento, muito espaço para se esticar e ficar confortável e, até, poltronas com massagem. Poltronas reclináveis mais espaçosas e confortáveis, que se transformam em camas dignas desta denominação. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 47 Há “saudinha”no ar... No lugar de simples cadeiras, a Emirates disponibiliza um lounge cinco estrelas Área de lazer sofisticada, com um lounge e um bar decorado com sofás e iluminação especial. Luxo em todos os detalhes, desde o tecido usado nas poltronas até o tamanho do LCD individual de cristal líquido e enorme listagem de filmes e programas. Além disso, o ambiente é adequado para transição de fusos horários, uma vez que conta com um sistema de iluminação que simula a hora no local de destino. - "Emirates Terminal 3" - com espaços individuais para que os seus clientes possam relaxar e descansar. Os espaços são variados, para trabalhar, ler ou, até, meditar. Espaços inspirados em temas árabes e asiáticos, com água e plantas que reforçam o sentimento de harmonia e bem-estar. Sumptuosas instalações, dotadas de SPA Timeless SPA - com diversos terapeutas, Terminais de aeroporto / Lounges Mas não é só em pleno voo que se verifica a comodidade e qualidade destas companhias aéreas. Os lounges dos aeroportos são autênticos locais de luxo e saúde. São espaços que, só de per si, proporcionam grande relax e descanso, com uma espectacular envolvente como atestam algumas das fotos do terminal do Dubai. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 48 Há “saudinha”no ar... oferece tratamentos de beleza, massagens terapêuticas, num calmante e tranquilo ambiente. Dois jardins Zen fazem parte do design exclusivo de criar um oásis de calma dentro do ambiente movimentado de um aeroporto internacional. Todo este bem-estar, descanso e qualidade só funciona porque as companhias aéreas dispõem dos equipamentos e, muito importante, dos profissionais certos. Como não podia deixar de ser, em todos estes lounges, estão ao dispor dos passageiros… os Fisioterapeutas! O terminal Premium da Qatar Airways em Doha tem, para além do que é habitual, jacuzzi, chuveiros, quartos com 2 camas, vários tipos de massagens, refeições completas, jogos de playstation e muitos outros... de grande qualidade e... absolutamente grátis (excepto as massagens). Até agora estive a falar-vos de companhias de topo que oferecem este tipo de serviços aos seus clientes mas um pouco pelas grandes capitais vai-se observando um cuidado e preocupação com os passageiros, embora com qualidade inferior. Nos EUA, a empresa “Airport SPA” está a instalar áreas em diversos aeroportos para proporcionar aos passageiros diversos serviços de saúde e relax. Boas viagens! Agradecimentos: Imagens amavelmente cedidas pelas companhias aéreas Emirates www.emirates.com e Qatar Airways www.qatarairways.com Nota importante: Todas as imagens são provenientes do interior dos diversos aviões da Emirates e da Qatar Airways, e dos lounges dos terminais das companhias aéreas mencionadas: o "Emirates Terminal 3", no Dubai e o “Premium Terminal”, em Doha. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 49