XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ-ALAS
BRASIL.
04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI.
Políticas Públicas, Governo e Desenvolvimento.
Grupo de Trabalho 20
A Implementação da Política Nacional de Educação Ambiental em
Escolas do Município de Juazeiro- BA
Raissa Minelle da Silva Brandão
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
E-mail: [email protected]
Anderson Vieira Santos
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
E-mail: [email protected]
Paulo Roberto Ramos
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
E-mail: [email protected]
RESUMO
A Educação Ambiental (EA) é uma política publica nacional que está prevista na
Constituição Federal (Art. 225 § 1°, inciso VI), nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) e na Lei de Educação Ambiental (Lei 9.795/99). Este trabalho é
fruto das atividades do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental Interdisciplinar
(UNIVASF), e teve como objetivo analisar as dificuldades encontradas no cotidiano
das escolas para a efetivação da Educação Ambiental. Trata-se de uma pesquisa
documental e do tipo Survey, cuja coleta de dados se deu a partir da análise dos
Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) e outros documentos das escolas, os quais
devem reger o ensino das redes municipais e estaduais do ensino fundamental I e II,
do Município de Juazeiro–BA, além de entrevistas com professores da rede. A
amostra não probabilística selecionada foi composta de 6 instituições de ensino
público (3 da rede estadual e 3 da rede municipal) localizadas nas áreas urbanas e
rural do município. O Questionário foi aplicado com 34 professores dessas
instituições, responsáveis por diferentes disciplinas que compõe o ensino
fundamental. Pudemos observar que as propostas para a EA estão muito genéricas,
apresentado-se de forma mais desenvolvida na rede municipal, em relação a rede
estadual. Entretanto, ela em todas as escolas pesquisadas as abordagens sobre as
questões ambientais estão descontextualizadas da região. Neste sentido, as
propostas encontram-se, em sua maioria, em desacordo com as exigências legais e
pedagógicas. No que tange a práxis da EA nas instituições escolares, a partir das
entrevistas concedidas pelos docentes, inferimos que há uma dificuldade na
implementação da EA de maneira permanente e interdisciplinar.
PALAVRAS-CHAVES: Projeto Político Pedagógico, Políticas Públicas, Educação
Ambiental.
ABSTRACT
The Environmental Education (EE) is a national public policy that is expected in the
Federal Constitution (Art. 225 § 1, section VI), the National Curriculum Parameters
(PCNs) and Environmental Education Law (Law 9.795/99). This work is the result of
the activities of the Research Group on Interdisciplinary Environmental Education
(UNIVASF), and aimed to analyze the difficulties encountered in daily life of schools
for effective environmental education. This is a research document and type survey,
which collects data was based on the analysis of the Political Pedagogical Project
(PPP) and other documents of the schools, which should govern the teaching of
municipal and state of the elementary school I and II, the city of Juazeiro-BA, and
interviews with school teachers. The sample was composed of six institutions of
public education (3 and 3 of the state's municipal network) located in urban and rural
areas. The questionnaire was administered to 34 teachers in these institutions,
responsible for different disciplines that make up the school. We have observed that
the proposals for the EA are very general, is presented in a more developed at the
2
municipal, in relation to the state network. However, she researched schools in all
approaches to environmental issues in the region are descontextualized. In this
sense, the proposals are mostly at odds with the legal and educational requirements.
Regarding the practice of EA in schools, from interviews with the teachers, we infer
that there is a difficulty in implementing the EA permanently and interdisciplinary.
KEYS-WORDS:
Education.
Political
Pedagogical
Project,
Public
Policy,
Environmental
3
A PROBLEMÁTICA
Este artigo é produto das atividades de pesquisa do Grupo de Pesquisa em
Educação Ambiental Interdisciplinar, da Universidade Federal do Vale do São
Francisco - UNIVASF, e constitui parte dos resultados de um projeto de pesquisa de
iniciação cientifica financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico
e Tecnológico (CNPq), que esta em fase de conclusão.
A Educação Ambiental – EA – tem sido foco de ações e pesquisas por todo o
mundo. Cada vez mais se compreende que a educação cumpre um papel
importante no enfrentamento das questões ambientais, sendo um dos instrumentos
de construção de uma nova sociedade fundada em outras bases, que não seja o
individualismo, consumismo, degradação ambiental e exclusão social.
A EA foi inserida na Conferência Internacional de Estocolmo em 1972, tendo
seu reconhecimento internacional e institucionalização em 1975, com a criação do
Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), sob a tutela da Organização
das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA).
No Brasil, a EA tornou-se política pública institucional com a criação da
Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 1973. Esta secretaria,
diretamente vinculada ao Governo Federal, visa, dentre outras finalidades, promover
a Educação Ambiental em todos os setores da vida social. Com a criação, em 1981,
da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), por iniciativa do Poder Legislativo
Federal, se estabelece os princípios formais para a inclusão da EA em todos os
níveis da educação formal.
Toda esta mobilização discursiva e institucional cria um ambiente favorável
para o reconhecimento da importância da EA na Escola. Tendência reforçada em
nossa Carta Magna, em seu Artigo 225, inciso VI, que defende a necessidade de
―promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para preservação do meio ambiente‖ (BRASIL, 1989).
Por sua importância como política pública voltada para as questões
socioambientais, desenvolvemos este trabalho, em função de conhecermos e
analisarmos o desenvolvimento e as condições dessa política pública em nossas
escolas, especificamente as públicas.
4
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa consiste em bases metodológicas quali-quantitativas, com duas
linhas de pesquisa que se complementam, uma documental e outro survey. O lócus
investigativo é o município de Juazeiro - Bahia, especificamente as escolas públicas
de ensino fundamental I e II situadas nas zonas urbanas e rural da cidade, para que
tenhamos uma visão mais geral do contexto socioeconômico, cultural e político que
estamos trabalhando.
A amostra - não probabilística e intencional simples - foi composta por 6
instituições de ensino, 3 estaduais e 3 municipais, assim como 3 da zona urbana e 3
da zona rural, que terão seus nomes aqui mantidos em sigilo por motivos éticos. A
Secretaria de Educação municipal, os gestores e responsáveis pelas escolas foram
previamente contatados e informados sobre os objetivos e métodos da pesquisa,
concordando com a realização da mesma em suas instituições. Todos os
professores entrevistados foram convidados assinar o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), onde foi exposto as informações referente a pesquisa e
garantida a não-maleficência da pesquisa e o anonimato dos mesmos.
O universo de entrevistados na pesquisa Survey foi composta por uma
amostra de de 34 professores, sendo que 19 compõe o quadro do sistema de
ensino Estadual e 15 o do ensino Municipal. Aplicamos questionários a professores
que
representassem
cada
“matéria”
existente
nas
escolas
de
ensino
fundamental investigadas, de modo que todas as disciplinas estivessem presentes
na amostragem. Os professores selecionados responderam a um questionário
semiestruturado, que versava sobre questões como disciplinas ministradas pelo
professor; formas de inserção da Educação Ambiental em cada disciplina; recursos
didáticos utilizados; capacitação dos professores para trabalhar com a Educação
Ambiental; eventos, projetos e produtos relativos à problemática socioambiental;
dificuldades para ministrar estes conteúdos; e sugestões para superação destas
dificuldades.
De forma, a obter a concepção dos professores sobre a promoção da EA em
suas escolas, a partir da prática de cada docente responsável pelas disciplinas
curriculares.
5
Na pesquisa documental foram coletados 4 Projetos Políticos Pedagógicos, 1
plano de gestão de uma escola estadual, e a proposta de curricular do ensino
fundamental do município para todo o Ensino Fundamental, 33 ementas de matérias
(14 das escolas do município e 19 das estaduais) que compõem o ciclo básico do
Ensino Fundamental, do 1° ao 9° ano.
Esses documentos passaram por analise de conteúdo, técnica que consiste
em analisar informações produzidas por terceiros, tais como órgãos oficiais,
institutos de pesquisa, documentos públicos, separando os dados que forem
relevantes de acordo com os objetivos da pesquisa (LEVIN & FOX, 2004).
Os dados obtidos foram separados e alocados em fichas individuais de
avaliação, tabulados por meio de tabelas e gráficos do Microsoft Excel 2007, além
disso, os documentos foram fotografados com câmera digital e as imagens
arquivadas para que possam complementar o banco de dados e viabilizar uma
melhor exposição dos mesmos.
CRISE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XX
Passados vinte anos da Conferência Mundial da ONU para o Meio Ambiente,
ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992, e quarenta anos da
Conferência de Estocolmo, no ano de 1972, muito se discutiu e pouco se avançou
no tocante a mudanças significativas no modo de se pensar o atual sistema
socioeconômico e político no tocante a sua relação com a exploração e consequente
degradação dos recursos naturais.
Mais que um sistema de produção, o capitalismo é um sistema de relações
sociais, econômicas e políticas, onde dentro dessas a relação homem-natureza
insere-se num contexto particularmente delicado, pois a expansão das forças
produtivas ampliou a capacidade de intervenção humana no meio natural,
modificando a natureza e próprio homem nela inserido, produzindo a chamada crise
ambiental. Convertendo-se numa crise global e local, de uma sociedade que produz
demasiadamente o consumismo, em oposição à capacidade de sustentabilidade
socioambiental como um todo (ENGELS & MARX, 2007; COSTA LIMA, 1999).
6
De acordo com Ulrich Beck (2010) a sociedade da técnica e da racionalidade,
passou para uma nova modernidade onde às já existentes desigualdades sociais
foram incorporadas problemáticas de maior porte. Esta é a sociedade que produz
riscos sociais, econômicos e ambientais, socialmente produzidos e globalmente
distribuídos.
...não se trata mais exclusivamente de uma utilização
econômica da natureza para libertar as pessoas de
sujeições tradicionais, mas também e, sobretudo de
problemas decorrentes do próprio desenvolvimento técnicoeconômico. O processo de modernização tornar-se
“reflexivo”, convertendo-se a si mesmo em tema e
problemas (BECK, 2010, p.24).
No inicio dos anos 1970, as diversas nações voltaram-se para a questão da
sustentabilidade e desenvolvimento futuro, aparecendo a Educação Ambiental (EA)
nesse contexto como alternativa política para ser implementada na agenda de
políticas públicas das nações signatárias dos diversos documentos produzidos a
partir desses eventos internacionais, entre elas o Brasil. A educação por si só não
resolverá todos os problemas - a Educação Ambiental como estratégia política idem
- mas é indispensável que qualquer alternativa apontada para modificar o modo de
pensar sobre a práxis social e o meio ambiente tem de passar pelo processo
educativo, em especial o desde os ciclos iniciais (COSTA LIMA, 1999).
As diversas modalidades de EA que apareceram foram debatidas e
defendidas, assim como o conceito de desenvolvimento que poderia ser usado,
entretanto, não importa qual EA se propõe como modelo ideal para superar o
processo de degradação e devastação socioambiental, qualquer alternativa política
para criar uma nova racionalidade ou ética para com o meio ambiente, tem de
superar o paradigma de que as temáticas ambientais são exclusivamente processos
naturais, tem-se de pensar num contexto maior e integrado, onde economia, política,
ciência e natureza são esferas da vida social que estão interligadas e respondem a
demandas, desejos e ideologias de diferentes grupos (BECK, 2010; LEFF, 2000).
7
A EDUCAÇÃO COMO SOCIALIZADORA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS
O estudo das questões ambientais vai além do aspecto naturalizante. Os
problemas causados pela ação do homem na natureza, não são naturais, mas
socioambientais. Este estudo nos revela a importância de promovermos mudanças
que garantam a continuidade e qualidade da vida humana. Sendo assim, a
Educação Ambiental é vista como um processo amplo de conhecimento,
capacitação e envolvimento de todos os setores da vida social com as questões
socioambientais, com o objetivo de resolver ou minimizar os impactos das ações
humanas sobre o meio ambiente e sobre as próprias populações antrópicas
(LOUREIRO, 2004).
Dessa forma, é de suma importância a inserção do ensino para o meio
ambiente nas escolas, por ser a escola um instrumento de “humanização,
socialização e direcionamento social” (COSTA LIMA, p.02). A discussão sobre a
relação entre educação e meio ambiente ocorre no contexto do início de encarar a
crise ambiental como uma problemática, vindo a ser institucionalizada por meio da
iniciativa da ONU - organização das Nações Unidas - que promoveu os primeiros
encontros internacionais.
Assim, a abordagem da educação para o meio
ambiente aparece, primeiramente, em 1972, na
Conferência das Nações Unidas para o Ambiente
Humano, realizada em Estocolmo,Suécia. A
Recomendação 96, da Declaração de Estocolmo,
indicava a necessidade de realizar uma educação
ambiental, como instrumento estratégico na busca da
melhoria da qualidade de vida e na construção do
desenvolvimento (REIGOTA, 1995; GRÜN, 1996,
apud COSTA LIMA, 1999).
.
O caráter da Educação Ambiental, é o da educação transformadora, por
reconhecer as contradições do modelo vigente da sociedade industrial, e em contra
partida defende a ideia de uma sociedade equitativa no que se relaciona a
distribuição de riquezas, com liberdade política, respeito a vida e uma economia
sustentável. Buscando assim, por fim na desigualdade social, na degradação
8
ambiental, nos sistemas políticos não participativos e nas atividades econômicas
que não levam em conta a realidade socioambiental (COSTA LIMA, 1999).
Desse modo, as problemáticas levantadas pela EA levam os indivíduos às
reflexões multidimensionais e transversais. Pois, não há como compreender os
problemas do meio ambiente sem levar em consideração as diversas perspectivas e
encaminhamentos que estão presentes na formação e solução dos problemas
analisados (LEFF, 2001).
Em
função
desta
multidimensionalidade
da
questão
socioambiental,
educadores, cientistas sociais e demais estudiosos, acreditam que a EA não deve
ser trabalhada nas escolas como uma disciplina isolada. Ela é um tema transversal e
como tal, deve estar presente em todas as disciplinas e projetos escolares de
maneira interdisciplinar, construindo assim, para o entendimento pelo alunado, dos
problemas socioambientais em suas diferentes dimensões e manifestações.
(LEONARDI, 1997).
Dessa forma, todos os professores, das diversas matérias, devem estar
envolvidos na construção do conhecimento socioambiental. E para isto, a escola
deve estar engajada, oferecendo aos professores materiais didáticos necessários,
uma formação continuada especialmente sobre a temática, e que abra espaço para
a participação da comunidade. Uma escola em que o saber do aluno e a educação
contextualizada, contribuam na promoção de mudança de realidade dos alunos e
professores (JACOBI, 2005).
Para o exercício eficiente da EA é necessário não apenas conhecer, discutir,
ou agir, diante dos problemas do meio ambiente, como se estes não tivessem
relação direta com as formas de organização social, a partir dos quais estes
fenômenos são manifestos. É necessária também a valorização das realidades
culturais das populações, das formas de organização social, de produção e
distribuição alternativas das riquezas, para que ocorram também mudanças nas
percepções e nas manifestações culturais que estão sustentando ideologicamente a
forma degradante de organização social (LEONARDI, 1997).
Todos os problemas socioambientais vivenciados pelas comunidades devem
estar contidos nos projetos pedagógicos de cada professor, de tal forma que as
questões vivenciadas e levantadas sejam adaptadas e trabalhadas por todas as
9
disciplinas. A Escola deve ser um instrumento de promoção de uma nova cultura de
consumo e de respeito ao meio ambiente, a partir dos problemas vivenciados fora e
dentro da Escola.
A multiplicidade de problema é extensa, e o professor deve ser capacitado
para operacionalizar as escolhas, didáticas e sistemáticas para o trabalho em EA. A
Escola deve oferecer as condições objetivas e estruturais, subjetivas e culturais,
previstas nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, para a promoção da
Educação Ambiental de forma contínua e permanente (Ibidem).
A EDUCAÇÂO AMBIENTAL NOS DOCUMENTOS ESCOLARES
As propostas pedagógicas contidas nos documentos escolares são
instrumentos direcionadores do processo de ensino e aprendizagem. Por meio das
prerrogativas de educação que são enfocadas pode-se compreender o tipo de
sociedade futura que se pretende. Por esse motivo, analisar a estrutura pedagógica
que rege a EA nas instituições públicas de ensino fundamental I e II torna-se
importante modo de identificar como está inserida a política de EA e qual seu
espaço e objetivos no sistema de ensino.
Os Projetos Políticos Pedagógicos podem servir de elementos para refletir a
estrutura das escolas para receber e efetivar essas prerrogativas, pois uma
peculiaridade da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA - Lei 9.795/99) é
que existem apontamentos de que a EA deve ser inserida, mas não prevê nenhuma
sanção para quem desrespeitar as prerrogativas previstas em lei e nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, assim sendo, a implementação da Política Pública de EA é
mais uma questão de princípios e valores norteadores dos responsáveis pelo
sistema de ensino do que uma exigência institucional dos diversos poderes
(LAYRARGUES, 2002).
O material coletado e analisado diz respeito aos documentos escolares das
escolas públicas de ensino fundamental do Município de Juazeiro - BA. Tentamos
fazer um paralelo entre as prerrogativas legais em âmbito federal para a EA e o que
realmente é proposto e implementado no cotidiano escolar, assim no referente a
analise das ementas das disciplinas os dados encontrados foram os seguintes:
10
Tabela 1. Organização das disciplinas e do Currículo nas redes
Rede Municipal
Rede Estadual
14 (quatorze) disciplinas – A
proposta
das
disciplinas
é
enquadrada por blocos (Séries
Iniciais – 1° a 5° ano e Séries Finais
– 6° a 9° ano). A proposta curricular
abrange toda a rede municipal de
ensino, tanto urbana quanto rural.
19 (dezenove) disciplinas – Existem
diferenças entre cada escola da rede estadual
(escola “Y” utiliza proposta própria que foi
construída pela mesma a partir das diretrizes
estaduais e nacionais. A escola “X” utiliza-se
das matrizes de competências por disciplinas
do Ministério da Educação).
Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.
As ementas de disciplinas que serviram como objeto de analise foi as
seguintes: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Historia, Ciências Naturais,
Língua Estrangeira (Escola “Y”), Artes, Educação Física, Cidadania e Ética (Escola
“Y”). Quanto a adequação aos Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental,
as diretrizes e propostas na rede municipal encontram-se todas de acordo. Nas
disciplinas analisadas das escolas da rede estadual 10 das 19 não estão de acordo,
apresentando desde falta total de referências a ações em Educação Ambiental, até
formas parciais de inclusão do tema em matérias isoladas, o que está em desacordo
com os parâmetros curriculares e com a legislação de educação ambiental.
Na proposta curricular desenvolvida pela secretaria de educação do município
para o ensino fundamental, podemos retirar as seguintes passagens que tratam
sobre a EA no dia da matéria. Por exemplo, a disciplina historia na rede municipal,
uma das propostas para a grade do IV bimestre do 1° ano do ensino fundamental:
“Refletir sobre a importância da preservação do meio ambiente. Construir
mecanismos de preservação coletiva do espaço escolar.” (JUAZEIRO, 2009, p. 140).
No Ensino Fundamental, o papel da Geografia é
"alfabetizar" o aluno espacialmente em suas diversas
escalas e configurações, dando-lhe suficiente capacitação
para manipular noções de paisagem, espaço, natureza,
Estado e sociedade (Idem, 2009, p. 148).
No geral a proposta curricular no âmbito municipal mostra-se desenvolvida
em acordo com todos os preceitos e expectativas para a educação fundamental,
tanto do ponto de vista da concepção pedagógica, quanto do marco legal que a
rege. Na parte de Educação ambiental ela não faz nenhuma referencia especifica,
11
porém ela abarca uma concepção critica da vida em sociedade e traz os temas
transversais e interdisciplinares como de suma importância para a construção do
ensino fundamental no município, no tocante as escolas da esfera estadual que
foram estudadas nesta pesquisa, os contrastes podem se dar por causa da
diferenciação do órgão gestor ao qual está vinculada, e ou, a liberdade permitida
para que cada escola assuma diretriz, dificulta na apreciação geral do tema, mas as
escolas que serviram de amostra mostram-se em desacordo com a legislação
ambiental, assim como aos parâmetros curriculares para o nível fundamental I e II.
Entre os Projetos Políticos Pedagógicos analisados podemos verificar as
concepções de objetivos apontados pelas instituições de ensino, chama atenção
passagens de um PPP de uma escola situada na zona rural a qual denominaremos
de escola “B”.
A escola Municipal “B” encontra-se com sua estrutura
física funcionando precariamente, pois não temos espaço
suficiente para realização das atividades planejadas dentro
da proposta. Estamos no aguardo de uma ampliação que irá
nos proporcionar uma melhoria na autoestima e na
aparência da instituição (Citação extraída do Projeto
Político Pedagógico da Escola “B”).
Neste fica claro uma preocupação com questões ambientais, tanto que a
direção juntamente com a comunidade – interagir com a comunidade é algo
bastante relevante - elaborou e anexou ao PPP, dois projetos de cunho ambiental,
um referente ao desperdício de água e outro sobre a destinação do lixo, entretanto
os próprios gestores mostram-se preocupados com a implementação de possíveis
ações, pois as estruturas físicas da escola não correspondem ao esperado e ao
planejado, como é exposto na citação acima.
O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS
No sentido de investigar o desenvolvimento da EA nas escolas públicas de
ensino fundamental do Município de Juazeiro-BA, procuramos saber o que fazem
essas escolas que dizem que fazem EA. Deparamos-nos, assim, com um quadro de
professores que acreditam promover a Educação Ambiental, a pesar de
concordarem que não de forma permanente e direta em sala de aula, mas somente
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de forma corriqueira e pontual, a titulo de noticia. A promoção da EA nas escolas fica
por conta de projetos escolares que contam com a contribuição de algumas
disciplinas, os quais focam na conscientização do alunado, principalmente em
relação a preservação do rio que banha o Município, o Rio São Francisco.
A pesar, das discussões a cerca da EA e a sua relação com a educação
formal, já não ser tão recente, os professores do Município as desconhecem, tendo
uma percepção das questões ambientais não como algo social, mas puramente
ecológico. Portanto, veem a promoção da EA de uma forma mais direta como
propriedade das disciplinas que estudam a natureza, como ciências e geografia, as
únicas matérias que abordam a EA de forma direta em sala de aula. De forma que,
nestas escolas, não é produzida uma EA crítica e política que analisa as causas que
dão
origem
aos
problemas
ambientais,
gerando
a
crise
da
sociedade
contemporânea.
Em regra, nas disciplinas não se discute o modo de ocupação e exploração
dos recursos naturais locais, que levam a extinção das espécies, para satisfazer
interesses econômicos e políticos de grupos (COSTA LIMA, 1999). Assim, nossas
escolas passam uma EA onde não há problemas socioambientais, mas apenas
ecológicos e distantes da realidade, como se não fossem causados pela relação do
homem com a natureza. Homem aqui não se tratando de um ser individual, pois
esses problemas ambientais são causados pela forma como nossa sociedade se
relaciona com a natureza. Passando as escolas assim, uma falsa impressão de que
natureza e cultura são coisas opostas, não relacionais.
Há ainda, professores de disciplinas, como matemática e física, que não
compreendem como podem relacionar suas disciplinas com as questões ambientais
em sala de aula. Já alguns professores das disciplinas que abordam de forma
indireta e casual, confessaram que se sentiam “inseguros” ao discutirem as
questões ambientais em sala de aula, quando deveriam inseri-las em seus
componentes curriculares. Esse dilema pode ser explicado pela formação dos
professores do sistema educacional Estadual e Municipal do Município de Juazeiro –
BA, que não tiveram/têm oportunidade de (in)formação na temática ambiental. Pois,
apesar dos PCNs e LDB regularizarem a inserção da temática no ensino básico de
forma transversal e interdisciplinar, pouco se fez para auxiliar os docentes, na hora
13
de ministra essa temática. A pesquisa revelou que dos 34 docentes pesquisados,
apenas 26% possuíam capacitação em EA, conforme a figura 01:
Figura 01- Índice de capacitação em Educação Ambiental
Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.
Dessa forma, são as matérias de biologia e geografia que se encarregam de
promover em sala de aula de forma direta e relacionada ao conteúdo previsto a EA.
Contudo, não há uma preocupação por parte desses professores de contextualizar
as questões ambientais para a realidade do alunado. Não são discutidas as crises
socioambientais aqui da região semiárida, mas os problemas socioambientais de
forma geral, utilizando principalmente o livro didático que trás as questões
ambientais da região sudoeste. Excluindo assim, a utilização de diversos materiais
que serviriam de apoio didático para o ensino da EA na região, como visitas de
campo, onde os alunos poderiam observar os diversos tipos de cisternas e poços
para a retenção de água em período de estiagem, os perímetros irrigados existentes
na localidade, a periculosidade para o meio ambiente e para a saúde humana
causada pelo uso de agrotóxicos pela agricultura local, visitar as comunidades
aprendendo sua economia de subsistência e cultura local, em contrapartida, a
economia tradicional que degrada e gera a má distribuição de renda.
Sendo assim, com um quadro de professores que não recebem assistência
para uma melhor promoção da temática, que não recebem uma formação para o
14
ensino ambiental e, além disso, não recebem nem material didático adequado para o
seu trabalho, o resultado que temos é uma EA ecológica sem caráter crítico e não
contextualizada a cultura local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo a Educação Ambiental algumas peculiaridades enquanto Política
Pública, como por exemplo, o seu processo de construção e implementação ocorreu
no sentido hierárquico de cima (Instituições oficiais) para baixo (sociedade civil e
educadores), apontando primeiramente prerrogativas legais, para depois pensar-se
nos contextos sociais, culturais e econômicos aos quais esta política nacional seria
inserida e teria de ser trabalhada no dia a dia escolar (LAYRARGUES, 2002).
Nestes diversos contextos as Políticas Públicas ganham vida e é onde podemos
avaliar, objetivamente, sua efetividade.
Assim, nos deparamos com uma realidade escolar que se encontra bem
distante das preocupações ambientais, em que o ensino da Educação Ambiental é
visto pelos educadores como um assunto especifico das matérias que estudam as
ciências naturais. Que não acompanham a crise socioambiental do planeta como
algo relacionado a nossa realidade, mas como algo distante e ecológico, surgindo
assim um ensino das questões socioambientais acrítica e despolitizada, com um
caráter ecológico.
Uma EA que não se insere aos problemas socioambientais local, que não
oferece ao alunado um conhecimento de como melhor viver em seu ambiente de
forma sustentável e harmônica, que não oferece ao aluno o conhecimento do seu
próprio ambiente de vivencia, que não lhe oferece a oportunidade de construir uma
nova prática de se relacionar com o seu ambiente, cultura e sociedade.
Sendo assim, é impossível que os objetivos da EA sejam concretizados, os
quais sejam a construção de indivíduos com uma nova ética e hábitos em relação ao
meio ambiente, de forma a garantir uma diminuição das degradações do Meio
Ambiente causadas pelas ações humanas.
15
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17
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Trabalho