A8 CORREIO POPULAR Campinas, quinta-feira, 21 de junho de 2012 Fotos: Dominique Torquato/AAN Fabiano Ormaneze RECURSOS NATURAIS ||| BATUCANDO NOS POLÍMEROS ESPECIAL PARA A AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] Dr. Plástico coloca em cena a sustentabilidade Uma garrafa de plástico, com a ajuda de alguns grãos de arroz e feijão, se transforma num chocalho. Um pedaço de cano vira um reco-reco e baldes não tardam para produzir o som de uma bateria. Para fazer o barulho, escovas de dente velhas se tornaram baquetas. Isso tudo acontece com a ajuda de um cientista visionário, engraçado, que veste roupa enfeitada com materiais recicláveis, canta, dança e, curiosamente, se chama Dr. Plástico. Com uma peça teatral divertida e voltada para o público infantil, o percussionista da Cia. Tugudum, de Campinas, Dalga Larrondo, difunde ideias de sustentabilidade, reaproveitamento de materiais e reciclagem em escolas e instituições da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Peça da Cia. Tugundum transforma materiais e pontos de vista Baldes, garrafas e escovas de dente se tornam instrumentos Patrocinado pela indústria farmacêutica Medley, a partir de projetos de dedução fiscal, a peça Dr. Plástico – Batucando nos Polímeros, começou a ser apresentada em maio e deve ser vista neste ano por cerca de 4 mil crianças em Campinas, Indaiatuba e Sumaré, cidades em que o espetáculo também conta com o apoio das secretarias de educação. A maioria das apresentações ocorre em escolas e acaba inserida em atividades sobre a temática ambiental, parte dos currículos regulares. Ao todo, serão 17 apresentações. No espetáculo, o Dr. Plástico conta com a colaboração de um ajudante, o Mega Bolha, interpretado pelo ator Coré Valente. Juntos, os dois mostram a trajetória do plástico, desde o petróleo até o descarte, sugerindo ideias de reaproveitamento. “A proposta da peça surgiu pela percepção da quantidade de material descartada indevidamente todos os dias. Com a peça e a cartilha que distribuímos, queremos mostrar às crianças as possibilidades de reutilização”, explica Larrondo. O livreto, entregue aos espectadores, traz explicações de como fazer instrumentos musicais a partir de embalagens plásticas. Com as orientações, acompanhadas de ilustrações e atividades como jogo dos sete erros, labirinto e espaços para desenhar, qualquer criança consegue produzir os seus próprios instrumentos. “Assim, imaginamos que eles possam começar a ter consciência de reutilizar os materiais para se divertir. Aos poucos, isso se torna hábito e é incorporado a todas as atividades da vida”, explica Larrondo, que tem formação na França e já atuou como músico na Orquestra Sinfônica de Campinas no início da década de 80 e como professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entre 1985 e 1992. Visionário Como se espera de um personagem de história infantil, Dr. Plástico tem também alguns superpoderes e um pouco de mágica. Ele tem sempre por perto a “garrafa visionária”, uma espécie de bola de cristal ecologicamente correta, produzida a partir do reaproveitamento de uma embalagem de refrigerante, SAIBA MAIS Conheça mais sobre o projeto Dr. Plástico e a Cia. Tugudum no site www.tugudum.com.br. Os atores Coré Valente (esq.) e Dalga Larrondo no palco com crianças durante apresentação do espetáculo para alunos de três escolas, ontem, em Sumaré: sucata sonora Bom humor do musical envolve plateia de estudantes Estudantes leem folheto que traz brincadeiras e ensina como tirar sons de peças que iriam para o lixo, como as garrafas (no destaque) pela qual ele consegue ver o passado e o futuro, com ou sem cuidados ambientais. “A partir disso, a história vai se desenrolando e as crianças se envolvem. É comum que, ao final, elas venham pedir ao Dr. Plástico uma garrafa visionária”, conta o percussionista. Claro que o cientista da peça é também cheio de bom humor e usa os instrumentos musicais produzidos a partir dos materiais recicláveis para cantar e dançar. “Sempre me incomodou muito a quantidade de plástico que se vê jogado por todos os lados. O teatro e a música têm o poder de sensibilizar para a transformação”, explica. Dessa forma, o projeto se estrutura a partir de três eixos: a difusão da cultura, a educação e a consciência ambiental. “A companhia tem como um de seus objetivos ajudar a criar uma consciência comunitária, fazer com que, pela arte, as pessoas possam transformar seus hábitos”, diz. Vizinhos Foi olhando para a comunidade que a Cia. Tugudum encontrou um parceiro que patrocinasse o projeto do Dr. Plástico. Tanto o grupo quanto a sede da Medley ficam no Jardim Santa Genebra. Por lá, a equipe de atores também mantém outros projetos. Em setembro deste ano, por exemplo, será realizada, junto com órgãos públicos, como centros de saúde e escolas, a segunda edição do Mutirão Cultural Ambiental, em que atores, profissionais ligados às instituições municipais e a população fazem a coleta de materiais recicláveis encontrados nas ruas e em terrenos baldios das proximidades. No ano passado, o projeto já foi realizado na Vila Costa e Silva, vizinha do Santa Genebra. Uma frutífera aliança entre arte e mensagens ecológicas Cia. Tugudum foi fundada em 1999 e, desde 2002, descobriu que a aliança entre arte e meio ambiente podia ser foco de vários trabalhos, para os quais há patrocínio e interesse público. Além do espetáculo do Dr. Plástico, outras produções transformaram-se em projetos já aprovados para captar recursos por meio de leis de incentivo, como a intervenção artística “Cuidado que Pega Ambiental”, o espetáculo teatral H Quase Dois O, que une música, teatro e dança, uma banda que se apresenta com instrumentos A produzidos a partir da reciclagem de plásticos e um filme de animação, produzido em parceria com o laboratório Cisco. O desenho conta a história de duas garrafas PET que saem do seu ambiente para conhecer o mundo, mas se deparam com uma série de problemas ambientais. Além dos projetos relacionados ao meio ambiente, a companhia oferece cursos na área de teatro e música, e realiza espetáculos com temáticas diversas para o público adulto, integrando música, dança e atuação cênica. (FO/AAN) O espetáculo Dr. Plástico – Batucando nos Polímeros faz a criançada rir e aprender. O garoto Luciano Moura, de 9 anos, por exemplo, assistiu à peça ontem, num centro cultural em Sumaré, onde estavam reunidas três escolas. “Foi muito interessante. Eu já sabia que não podia jogar lixo nas ruas, mas agora ficou mais reforçado, pois eu percebi o estrago que isso pode trazer”, conta. O garoto também gostou de conhecer melhor a trajetória do petróleo. “Se não tomar cuidado, não vamos ter combustível daqui a algum tempo”, lembra o estudante, que também aprendeu o que significa a palavra polímero, utilizada no título do espetáculo. Os polímeros, matériaprima dos plásticos, são agregados de moléculas pequenas, derivadas do petróleo. A professora Angélia Alarissa Milanezzi, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Nilza Tomezini, de Sumaré, acredita que o teatro é uma forma envolvente de ensinar. “A temática ambiental é muito trabalhada na escola e percebemos que os alunos, com o passar do tempo, adquirem a consciência de preservar. No entanto, a possibilidade de assistir a uma peça e se divertir, é um estímulo a mais, um reforço ao conteúdo que, na sala de aula, pode não ser tão atrativo”, afirma. (FO/ AAN)