Formação para a expansão da consciência social
Regina B. Erismann
APS – Associação de Pedagogia Social
de base antroposófica no Brasil
www.pedagogiasocial.com.br
Por meio de projetos de atuação social, criamos condições para a formação
de ecólogos sociais.
Nestes tempos de expansão da consciência, tudo precisa ser repensado, resentido,
recriado. O instinto se esvaiu e o aprendizado das coisas mais naturais se faz necessário.
Ainda me lembro, na Clínica Tobias, com meu primeiro filho nos braços, me
perguntando como se cuida de um bebê?
Estudamos muito, nos intelectualizamos e somos pegos de calças curtas na lida da vida.
No campo social, faz parte de nossa época reaprender a lidar consigo mesmo, com o
outro e com o grupo a que pertencemos. Neste contexto é que muitos de nós nos
profissionalizamos na busca de nos tornarmos um ser social e assim contribuirmos com o
aprendizado, desenvolvimento e melhoria das condições sociais de outros. Somos
pedagogos sociais, também chamados de ecólogos sociais.
No contexto da Ciência espiritual antroposófica aqui no Brasil, desde que Daniel Burkard
foi para o NPI em Zeist nos anos 70 para se capacitar, muitos têm sido os esforços para
uma formação do pedagogo social e alguns cursos vem acontecendo nesta direção.
Em 1991, Lex Bos trabalhou com um grupo com o objetivo especial de adquirir mais
clareza sobre os caminhos que levam a se tornar um pedagogo social. “Pedagogia Social
como atitude básica na vida, mas também em continuidade disso como profissão”.
Este estudo de Lex foi a base para o Programa de Formação que está sendo lançado pela
APS - Associação de Pedagogia Social que tem como objetivo:
Capacitar o participante para sua atuação no mundo de forma livre e criativa a partir do
desenvolvimento de suas habilidades para trabalhar em conjunto (em grupos, instituições
e comunidade), reconhecendo e atuando em ressonância com as leis do mundo social,
num caminho de autoconhecimento de suas percepções, reflexões e ações. Isto se traduz
em se capacitar em criar, participar e avaliar processos de aprendizagem e
desenvolvimento pessoal, de grupos e de instituições.
Esta formação está sendo construída sobre quatro pilares que se relacionam com os
quatro elementos da natureza humana e que quer ser uma caminhada de capacitação para
trabalhos externos a partir de uma transformação interior.
- O lidar com perguntas.
Aqui não se trata de lidar com perguntas simples de instrução, informação ou atividade
técnica mas sim de perguntas que nascem a partir de nosso encontro com limites no
social; sejam eles físicos ou vivenciais e que vão nos acordar na situação. Como lidar
com a dívida no banco? O que significa este alto grau de turn over em minha empresa?
O que fazer para recuperar o entusiasmo e a vontade que existia entre nós? Para onde vou
agora nesta nova fase de minha vida? O que este projeto pede neste momento? Limiares
exteriores têm a ver com limiares interiores. Faz parte da atuação do pedagogo social
apoiar pessoas para que estas perguntas se tornem visíveis e que sejam despertados na sua
relação com elas. Neste processo de consciência é que podem ser encontradas indicações
que levem à superação dos limites. A estas perguntas, chamamos perguntas de
desenvolvimento.
Com que limites você tem se defrontado? Qual é sua pergunta de desenvolvimento? O
fato de podermos clarificar estas questões já nos tira do incomodo inconsciente e nos
coloca a caminho da consciência, do aprendizado e, por vezes, da solução.
- O lidar com processos
Entramos aqui na dimensão do tempo. O tempo que percorremos do desafio à realização,
do motivo ao resultado. E a questão aqui é: com que qualidade conduzimos no tempo
nossas questões? Nos processos de produção, processo de tomada de decisão, processo
de gestão,somos cobrados por eficiência e eficácia e isto tem sido visto como entregar no
“time”que cada vez é mais curto e atingir metas que são, para a alma humana, muitas
vezes, asfixiantes. Temos visto, no contexto de algumas empresas, como rotina, pessoas
trabalhando doze horas por dia e, em tempo de entrega de projetos, trabalhando até a
exaustão quando então dormem debaixo da mesa de trabalho para se recuperar e
continuar trabalhando. Por outro lado, em outros contextos, vivenciamos processos que
se perdem, sem direcionamento, sem responsáveis, sem forma, que tão pouco promove
saúde ao ambiente e aos envolvidos.
Neste campo dos processos de aprendizagem, de grupos, de desenvolvimento
organizacional e de iniciativas, entre outros. o desafio do Pedagogo
Social é criar condições para que se promova qualidade e ritmo numa perspectiva de
desenvolvimento das pessoas, do grupo e da instituição possibilitado com isso atingir
resultados bem mais expressivos no médio e longo prazos.
Com que grau de consciência, envolvimento e zelo temos criado e/ou participado dos
processos em nossas vidas?
Nos processos estamos lidando sempre entre polaridades:
- motivo e resultado
- excesso de informações/possibilidade e foco
- entregar-se e isolar-se
- Motivar e pressionar
- Vida e Forma
Uma das participantes do “Seminário Desenvolvendo o ser social” brincava dizendo: “É
preciso achar o ponto do brigadeiro. Um pouco mais, fica duro, um pouco menos, gruda
nas mãos ”.
A busca do ponto de equilíbrio (aqui entendido como vivo e não estático), requer
capacidade de percepção, envolvimento e de ação com fantasia e imaginação.
Um curso de formação em Pedagogia Social deve trazer indicações para o
desenvolvimento destas capacidades.
- O lidar com relações com pessoas e grupos
Aqui estamos no nível das imagens, pressuposições, prioridades, sentimentos, normas,
acordos, valores, interesses, ideais
A qualidade dos processos nos grupos e nas instituições pode ser afetada pela qualidade
das relações humanas. Nossa capacidade de percepção, julgamento e decisão são
diminuídas conforme escalamos os degraus de um conflito. O encontro entre pessoas é
um campo infinito de aprendizagem e desenvolvimento que se potencializa quando o
percorremos com consciência.
Com nossas qualidades da alma, que se expressam na forma como agimos nas situações e
nos relacionamos com as pessoas, percebemos as qualidades do organismo social. Então
para podermos ter uma percepção da realidade externa é preciso trabalhar as
qualidades anímicas internas. A pedagogia/ecologia social traz indicativos para um
caminho de refinamento e aperfeiçoamento de nossa capacidade de sentir para podermos
nos transformar em órgão de percepção das situações sociais.
Criamos realidades sociais a partir de nossas concepções, sentimentos e ações
construindo em nossos grupos e instituições, culturas específicas,
que passam também a nos influenciar. É um inspirar e expirar constante enquanto há
vida. Influencio e sou influenciado. A Pedagogia/Ecologia Social, neste sentido, traz
concepções, ferramentas, metodologias para a percepção e atuação saudável no contexto
social.
Com que qualidade temos nos relacionado nos diferentes grupos
a que estamos ligados?
A qualidade com que transitamos neste mundo das relações nos remete novamente à
busca do ponto certo entre polaridades:
- simpatia e antipatia
- coragem e medo
- confiança e desconfiança
- dever imposto e descompromisso
- etc.
- O lidar com a identidade da organização
As organizações são aqui percebidas como seres vivos que vão se constituindo a partir
de nossas escolhas e ações e que têm capacidades e necessidades próprias. No processo
de formação serão criadas condições para que o participante possa criar uma relação
com sua própria essência de forma a se capacitar para estabelecer relação com a essência
de um organismo social. “No nível do ser, tudo se torna querer, e lá é a própria vontade
que deve se transformar em órgão de percepção”.
O que é o próximo passo desta organização? O pedagogo social tenta entrar em diálogo
com o ser da organização e encontrar nela suas respostas.
O caminho de observação goetheana e o processo biográfico são caminhos a serem
percorridos durante a Formação.
Estes quatro pilares vão sustentar quatro andares: o filosófico na dimensão de saber fazer
e trabalhar com perguntas. O da ciência ao propor a experimentação. O da religião ao
buscar as conexões consigo, com o outro com a terra e o espiritual que há em tudo e o da
arte que busca a beleza na expressão de cada um no campo social.
Neste sentido, tive algumas experiências com Jacques Uljée no curso “ Formar
Formadores” que desenvolvemos em várias ocasiões entre elas uma inesquecível, em
Pacaas Novas às margens do rio Madeira, onde se podiam ver botos cor de rosa saltando.
Lá reunimos educadores da região norte do Brasil com seus projetos de educação na
Amazônia. O “Formar Formadores” traz para esta formação a experiência de se
trabalhar a partir de projetos aplicados em instituições do terceiro setor, empresas,
comunidades ou Governo. Isto quer dizer que os participantes vão desenvolver projetos
de atuação social e serão acompanhados e apoiados nos processos de planejamento,
execução, avaliação e aprendizagem. Assim a formação acontece nos encontros dos
módulos e na execução dos projetos no entre módulos. Estes projetos são intervenções
de desenvolvimento, inovação ou melhoria.
Nos anos 80, recebemos como GPS - Grupo de Pedagogia Social, a incumbência de levar
avante o impulso da ecologia social. O tempo passou rápido e nos supreendemos que
agora temos que preparar a sucessão. Este curso de formação quer também preparar
pessoas para a continuidade do impulso. Temos na APS os círculos de Seminários
composto por profissionais de diferentes instituições que, de diferentes formas, estão
envolvidos nesta formação, além de um terapeuta artístico, uma euritmista.
Alguns módulos serão abertos a participantes independentes e até o modulo 3 é possível
ainda participar deste grupo pioneiro da Formação.
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