A. COMTE (19/1/1798-5/9/1857: Montpellier-Paris)
O ponto mais avançado, mais maduro, mais sintético, e de maior sabedoria ao qual AC julgou ter
chegado, foi a fundação da sua religião da humanidade, um humanismo religioso sem Deus
sobrenatural, que seria a teoria para a sociedade industrial e científica, isto é, “terrestre e positiva”. Esse
deve ser o pano de fundo para a compreensão do positivismo comtiano. A questão da religião ocupa
toda a sua vida e pensamento: destruindo e substituindo o sobrenaturalismo, e, por fim, propondo um
“terrestrismo” e positivismo também religiosos. A questão da religião, em AC, envolve necessariamente
todas as outras. (religião = apêndice ?) [livro]
Nasceu 9 anos após a Rev. Francesa (transferência do poder político para a burguesia). De uma
família “eminentemente católica e monárquica” (tradição do Antigo Regime).
Desde +ou- 1804, quando começou a freqüentar um instrutor que o preparou para entrar na
escola primária, começou a receber a tradição revolucionária (ciências e filosofias iluministas,
constitucionalismo, republicanismo).
Em +ou- 1812 se declarou emancipado, isto é, republicano e anticlerical (decidiu-se pela
verdade da tradição revolucionária).
Em 1817 se converteu ao relativismo (enquadrado no determinismo (?)) [2 artigos]. Começou a
se afastar do absolutismo dos próprios revolucionários (Ser Supremo, Liberdade, etc.) e se afastou
definitivamente do absoluto católico (Deus = teísmo sobrenaturalista). Entende como falida a
sistematização sócio-econômico-político-cultural sobrenaturalista e começa a reivindicar / propor um
“sistema terrestre e positivo”. Mas praticamente assumiu a proposta conciliadora de uma transição:
monarquia constitucional / parlamentar / representativa, e, enquanto isso, sistematizar a mentalidade
que viabilizará o novo sistema: a filosofia positiva ... a cultura positiva. O(s) que a sistematiza(m) faz
(em) a nova espiritualidade, e nesse trabalho, são, vão sendo, tornando-se, o novo poder espiritual
(intelectual e moral). A “transição” provoca uma revalorização do status quo (monarquismo e catolicismo
X revolução ou rev. X restauração): “paciência histórica” ... (Depois é crescente o abandono do “regime
parlamentar” como meio de transição, substituído pela “ditadura republicana”. Desde 1839 e 1841 já
aparece a crítica ao “governo parlamentar”; ela se aprofunda a partir de 1848, e principalmente a partir
de 1851, com o apoio dado à ditadura de Napoleão III, que, no entanto, foi criticado por AC pelo fato de
“retrogradar” para “Império”, a partir de 1852, ao invés de viabilizar a ditadura republicana. O fim da
“transição” deveria ser a “ditadura positivista”.).
Opção na órbita da ciência newtoniana: agnosticismo / fenomenalismo, mas fenomenismo “por
opção”. [livro: Introd, p. 3, notas 5 e 7]
Até 1845 ele trabalhou na sistematização da filosofia positiva, “transformando a ciência em
filosofia”, “generalizando as ciências positivas” e “positivizando a filosofia”, isto é, criou a filosofia
positiva a partir das ciências positivas.
OBRAS: Textos e fragmentos de textos não reconhecidos; 6 textos reconhecidos posteriormente
(1819-1828); 6 volumes do Curso de filosofia positiva (1830-1842); Tratado de geometria analítica
(1843); Tratado de astronomia popular (1844) e Discurso sobre o espírito positivo (1844).
Nesse tempo (1817-1845) já aparece o seu distanciamento em relação ao ateísmo (?) e ao
materialismo (?) [artigos]. E a sua preferência ao “cientista generalista” ou “sábio positivo”. (cientificismo
?) [artigo Ensinar cc ou humanidades]. Esse tempo se encerrou humanista-sociologista, e afirmador da
supremacia da moral (amálgama individual e social). A moral (poder espiritual) é o ponto da
descontinuidade e da continuidade em AC. [texto antecipador, tese, resumo]
Em 1845-1846 sofreu a “conversão”, “ressurreição”, “regeneração” sentimental: Clotilde de Vaux
(depois de Caroline Massin e Paoline...). Começa a aparecer com força a afirmação da supremacia, na
vida humana, do sentimento, da subjetividade, do ponto de vista feminino e artístico, identificados com a
supremacia da moral. Essa começa a encontrar o seu campo próprio, o seu objeto: o sentimento, a
subjetividade, e, de certo modo, a arte. (objetivismo ?). Depois incorporou como objeto também o
indivíduo em geral (“antropologia”), mas deixando à prática as diferenças individuais.
Em 1847 apareceu a afirmação de que a humanidade é o Grande-Ser, e de que a mulher é a
sua melhor imagem.
Se desde 1845 ele já falava em adoração e culto a Clotilde de Vaux e à mulher (à feminilidade),
no começo de 1848 ele falou de culto à humanidade.
Em meados de 1848 apareceu afirmada a religião da humanidade. O seu humanismo continuou
anti-sobrenaturalista, mas se tornou “religioso” (retorno de um teísmo e de uma teologia / teolatria). O
seu poder espiritual, “terrestre e positivo”, “científico”, “moral”, “sentimental” / “amoroso”, assumiu-se
como também “religioso”.
De 1848 em diante AC é “religioso”.
OBRAS: Calendário positivista (início de confecção: 4/1849); 4 volumes do Sistema de política
positiva ou tratado de sociologia instituindo a religião da humanidade ((1845)(1848) 1851-1854);
Catecismo positivista ou sumária exposição da religião da humanidade (1852); Apelo aos
conservadores (1855); Testamento ((1845) 1855-1857); Síntese subjetiva ou sistema universal das
concepções próprias ao estado normal da humanidade – Vol. 1: Sistema de lógica positiva ou tratado de
filosofia matemática (1856. A síntese completa constaria de 10 volumes, dos quais AC escreveria mais
4, entre os quais o de “Filosofia 1ª” (metafísica ?) [Proj de pesq]).
O Sistema de política coroou a supremacia da moral, do sentimento, da subjetividade, do
artístico, do feminino, com a supremacia do culto e da “religião”. Ele transformou a filosofia em religião;
fez a positivização da religião: a / uma religião positiva. Tanto a(s) ciência (s) como a filosofia científica
são superadas, isto é, devem se subordinar à religião positiva. Uma religião para a sociedade científica
e industrial ...? Que a burguesia não acolheu ...
Exigência de maior síntese ... teórica ... e sobretudo entre teoria e prática ... no sentido de
“praticização”, de “materialização” da doutrina, de tal modo a possibilitar a sua assunção por parte da
“massa” dos homens.
Religião = unidade individual, com a sociedade e com a natureza. Fetichismo = religião
espontânea; politeísmo = inspirada; monoteísmo = revelada; positivismo / religião da humanidade =
demonstrada (demonstrável).
Se no Discurso de 1844 eram 6 as acepções de “positivo”, o Sistema de política acrescentou a
7ª, “simpático”: real (X quimérico), útil (X ocioso), certo (X indeciso, duvidoso), preciso (X vago),
orgânico (X destrutivo, crítico), relativo (X absoluto), simpático (X egoísta). [artigo As 7 acepções]
Se inicialmente as ciências fundamentais eram 6, a partir do Cap. 1º do Sistema de política II,
escrito de 12/1850 a 1/1851, elas passaram a ser 7: a moral passou a ser o 7º núcleo de fenômenos
(fenômenos humanos), 7ª ciência, 7º método, e, como tal, passou a ser a ciência (e o método)
supremos, finais. Nesse mesmo cap. 1 a moral foi dividida explicitamente, pela 1ª vez, em teórica e
prática. No Sistema de política IV, de 1854, a moral prática foi identificada com a educação. [artigo
Ensinar cc ou humanidades]
OS MÉTODOS DAS 7 CIÊNCIAS: matemática = dedução; astronomia = observação; física =
experimentação; química = nomenclatura; biologia = comparação; sociologia = filiação [artigo A hist em
AC]; moral = subjetivo.
OS 9 SACRAMENTOS: Apresentação (logo após o nascimento), iniciação (aos 14 anos),
admissão (aos 21), destinação (aos 28), matrimônio (dos 28 aos 35; para as mulheres, dos 21 aos 28),
maturidade (aos 42), retratação (aos 63), transformação (logo após a morte), incorporação (7 anos após
a morte).
OS GRAUS DO SACERDÓCIO: aspirantes aos 28 anos, vigários ou suplentes aos 35,
sacerdotes propriamente ditos aos 42. E acima de todos o Grande Sacerdote da Humanidade.
A TRINDADE POSITIVA: No Apelo, Prioridade, Público e Posteridade; na Síntese subjetiva,
Humanidade (Grande-Ser), Terra (Grande-Fetiche) e Espaço (Grande-Meio).
Em 1857 o 3º estado é subdivido: científico / filosófico e científico / filosófico / religioso. A ciência
é dita o último jugo a ser superado. Só a 2ª fase é definitiva. “No fundo, a ciência propriamente dita é
tão preliminar quanto a teologia e a metafísica, e deve ser finalmente também eliminada pela religião
universal, em relação à qual esses três preâmbulos são, o primeiro provisório, o outro transitório e o
último preparatório.”. Em 24/8/1857 ele fala de superação também da medicina: “Após ter me libertado
sucessivamente da teologia, da metafísica e mesmo da ciência, embora guardando o que cada uma
tem de incorporável ao positivismo, estou finalmente emancipado da medicina; ...” [artigo T e P 2].
Curso = objetivo; Sistema = subjetivo / objetivo; Síntese = subjetiva.
Teoria das utopias positivas: a utopia feminina.
Incompletude: 3ª vida objetiva, “poética”; os tratados de moral, sobre a prática, e de filosofia 1ª.
O comtismo foi “revolucionário” enquanto se tratava da consolidação da rev. burguesa; é
conservador enquanto agora se trata de fazer a rev. proletária (democrática, isto é, a “todoscracia”).
Outros artigos: Sobre a relaç entre T e P na saúde (Kant); Sobre a humanização do profissional da
saúde (Hipócrates); O ens de fil nos vários cursos de graduaç; Sobre Spinoza; Sobre a questão da
ontologia em M-Ponty, Sobre a fil da libertaç.
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A. COMTE (19/1/1798-5/9/1857: Montpellier