2. O Budismo como Ciência – As 5 Leis Naturais Pariyatti, Patipatti e Pativedha O Budismo ensina que todas as coisas, tanto materiais como imateriais, estão totalmente sujeitas à influência de causas e são interdependentes. Esse fluxo natural das coisas é chamado em termos usuais de “lei da natureza” e no idioma do Buda, o Pali, é chamado niyama, que no sentido literal quer dizer “certeza” ou “modo fixo,” referindo-se ao fato de que condições específicas inevitavelmente levam a resultados correspondentes. O Budismo como ciência, moral e filosofia, uma visão geral dos aspectos teóricos, práticos e de frutos do Caminho Budista rumo As leis da natureza, embora baseadas de modo uniforme no princípio da dependência causal, podem no entanto ser classificadas de acordo com os a Liberdade diferentes tipos de relação. Os comentários Budistas descrevem cinco categorias de leis da natureza ou niyama. Elas são: Esta compilação busca servir de um manual para aquele que inicia o Caminho rumo à Liberdade, conforme ensinado, praticado e experimentado pelo Buda e seus Nobres Discípulos. i. Utuniyama: a lei da natureza que diz respeito aos objetos físicos e mudanças no ambiente natural, tais como o clima, a forma como as flores desabrocham durante o dia e se fecham à noite, a forma como o solo, água e nutrientes ajudam uma árvore a crescer e a forma como as coisas se desintegram e se decompõem. Esta perspectiva enfatiza as mudanças ocasionadas pelo calor ou temperatura. 1. Compreendendo o Dhamma (Ensinamento) A tradição Budista preserva o Dhamma (Ensinamento) ensinado pelo Buda ii. Bijaniyama: a lei da natureza que diz respeito à hereditariedade que é há mais de 2.600 anos e indica o caminho para compreendê-lo — melhor descrita com o ditado popular, “como a semente, assim a fruta.” conhecendo-o, estudando-o, praticando-o. De fato, há três diferentes níveis iii. Cittaniyama: a lei da natureza que diz respeito aos processos mentais, o de compreensão do Dhamma: processo de reconhecimento dos objetos dos sentidos e as reações mentais associadas a eles. i. Pariyatti: entendimento teórico do Dhamma obtido através da audição e iv. Kammaniyama: a lei da natureza que diz respeito ao comportamento leitura, estudo, memorização e aprendizado; humano, o processo de geração das ações e os seus resultados. Em essência, isto é resumido nas palavras, “Boas ações trazem bons resultados, más ações trazem maus resultados.” ii. Patipatti: conhecimento prático e efetivo do Dhamma; iii. Pativedha: a realização direta, através da própria experiência, da verdade do Dhamma; Esses três níveis são, até certo ponto, complementares. Pois o conhecimento intelectual sem a prática traz benefícios limitados; a prática sem o conhecimento apropriado provavelmente seguirá por caminhos errôneos, não será muito efetiva; através da associação desses dois elementos com a prática consciente, abrem-se as portas que conduzem ao Dhamma em sua forma mais pura, auto-realizado, não apenas proclamado por uma autoridade religiosa e repetido um grupos de devotos. Um presente no Dhamma, para distribuição gratuita. v. Dhammaniyama: a lei da natureza que governa a relação e interdependência de todas as coisas: a forma como as coisas surgem, existem e depois cessam. Todas os fenômenos estão sujeitos à mudança, estão num estado de aflição e são não-eu: essa é a Lei. Os quatro primeiros niyama estão contidos ou estão baseados no quinto, Dhammaniyama, a Lei do Dhamma ou Lei da Natureza. Poderia ser questionada a razão de Dhammaniyama, pelo fato de ser a totalidade e Compilação: Gabriel Laera 1 também estar incluído como uma das subdivisões. Isso se deve por que as quatro primeiras categorias não abrangem a extensão completa de Dhammaniyama. Estas 5 leis enfatizam a perspectiva Budista que vê o fluxo das coisas como estando sujeito a causas e condições. Não importa quão em detalhe cada lei seja analisada, o que encontraremos será apenas o funcionamento dessa Lei ou do estado de interdependência. A compreensão dessa verdade nos permite aprender, viver e praticar com um entendimento claro e firme da forma como as coisas são. Eliminando, de forma definitiva, o problema de tentar responder a questões sobre um Deus Criador com o poder de desviar o fluxo da Lei (a não ser que esse Deus se torne um dos fatores determinantes dentro do fluxo). Quando provocados com questões equivocadas como, “Sem um ser para criar essas leis, como elas podem ter surgido?” precisamos refletir que se deixadas por sua própria conta, todas as coisas irão funcionar de uma forma ou de outra e é assim como elas funcionam. É impossível que seja de qualquer outra forma. Os seres humanos, observando e estudando esse estado de coisas, passam a chamá-lo de “lei.” Mas quer seja chamado de lei ou não, isso não muda a sua forma de operação. criadores de kamma e kamma por seu lado molda o destino e as condições das nossas vidas. 3. O Budismo e a Questão Moral – A Virtude (Sila) Diante da constatação do kamma como aquela força que dirige a sociedade humana ou decide os valores que ela tem, a partir da conduta de seus membros individuais, deve-se compreender como o Ensinamento Budista encara a questão moral, ou seja, como deve ser conduzida moralmente a vida. A Iluminação do Buda assemelha-se a redescoberta de um Caminho, trilhada pelos Iluminados dos tempos passados. A este Caminho Buda denominou de Nobre Caminho Óctuplo, constituído por Entendimento Correto, Pensamento Correto, Linguagem Correta, Ação Correta, Modo De Vida Correto, Esforço Correto, Atenção Plena Correta, Concentração Correta. Virtude, ou Sila no idioma Pali, é então definida em termos práticos pelos três elementos do Caminho Óctuplo: Linguagem Correta, Ação Correta , e Modo de Vida Correto. Os budistas praticantes em geral adotam um conjunto específico de regras de treinamento adequadas à sua situação de vida que respeitam estes três aspectos do Caminho: No entanto, ao analisarmos eventos, não devemos reduzi-los completamente i. Homens e Mulheres leigos, ou chefes de família, observam os Cinco a leis únicas. Na verdade, um evento na natureza pode surgir de qualquer Preceitos (pañca-sila) uma dessas leis ou de uma combinação delas. Por exemplo, o desabrochar de ii. Homens e mulheres leigos que estão praticando meditação intensiva uma flor de lótus durante o dia e o seu fechamento à noite não está sujeito observam os Oito Preceitos (attha-sila) apenas aos efeitos de utuniyama (leis físicas), mas também aos de bijaniyama iii. Monges noviços (samanera) e monjas noviças (samaneri) observam os (hereditariedade). Quando uma pessoa chora pode ser em grande parte Dez Preceitos (dasa-sila) devido aos efeitos de cittaniyama, por conta dos estados mentais tristes ou iv. Um monge completamente ordenado (bhikkhu) segue as 227 regras do felizes, ou pode ser a operação de utuniyama, por conta de fumaça nos olhos. Bhikkhu Patimokkha; uma monja (bhikkhuni) segue as 311 regras do Bhikkhuni Patimokkha. Com isto constatamos a lei de kamma como uma entre um grande número de leis da natureza. O fato de ser mostrada como apenas uma entre cinco leis Nos termos dos Cinco Preceitos, a conduta básica moral para um budista, diferentes nos lembra que nem todos os eventos são operações de kamma, devemos compreender três frutos da Virtude (Sila): recompensas, dádivas como observa-se em outras doutrinas. Podemos dizer que o kamma é aquela imaculadas e bênçãos. força que dirige a sociedade humana ou decide os valores que ela tem. As recompensas da Virtude encadeiam-se até a Libertação ou Iluminação. A Embora seja apenas um tipo de lei da natureza, ela é a mais importante para nós como seres humanos, porque ela é nossa responsabilidade. Nós somos os virtude liberta-nos da ansiedade, que por sua vez faz-nos satisfeitos. Tal satisfação desperta o êxtase que conduz à tranqüilidade, por sua vez recompensa-nos com a felicidade. Da felicidade estabelece-se a concentração, Um presente no Dhamma, para distribuição gratuita. Compilação: Gabriel Laera 2 que é a base da visão e conhecimento, ou insight, de como as coisas na verdade são. Com isto surge espaço para desencantamento e desapego, que culminam com a visão e o conhecimento da Libertação. As dádivas imaculadas da Virtude são compreendidas a partir das cinco regras de treinamento básicas: i. Abandonando a destruição da vida, abstém-se de tomar a vida. Isto liberta do perigo, da animosidade, da opressão um incontável número de seres. Com isto, se ganha uma parcela na ilimitada liberdade do perigo, liberdade da animosidade e liberdade da opressão. ii. Abandonando tomar o que não é dado (roubar), abstém-se de tomar o que não é dado. Isto liberta do perigo, da animosidade, da opressão um incontável número de seres. Com isto, se ganha uma parcela na ilimitada liberdade do perigo, liberdade da animosidade e liberdade da opressão. iii. Abandonando a conduta sexual imprópria, abstém-se da conduta sexual imprópria. Isto liberta do perigo, da animosidade, da opressão um incontável número de seres. Com isto, se ganha uma parcela na ilimitada liberdade do perigo, liberdade da animosidade e liberdade da opressão. 4. Trilhando o Caminho rumo à Libertação Devemos então compreender que o Dhamma, ou a verdade, ensinada pelo Buda se desdobra de modo gradual. Em muitas ocasiões o Buda deixou claro que a iluminação não ocorre como se fosse um relâmpago que ocorre de maneira inesperada para a mente sem treinamento e preparo. Em vez disso, a iluminação é a culminação de uma longa jornada com muitas etapas. Buda instruiu seus discípulos a seguir um treinamento gradual, ou anupubbikatha no idioma Pali, que vai desde os princípios básicos de forma progressiva através de ensinamentos mais avançados, por todo o caminho até a compreensão das Quatro Nobres Verdades e a realização de Nibbana. Desta forma, a mente se desenvolve de forma gradual até que esteja madura o suficiente para realizar o salto repentino para a Iluminação ou Libertação. As seis etapas do Treinamento Gradual do Buda: Renúncia (Nekhamma) iv. Abandonando a mentira, abstém-se de mentir. Isto liberta do perigo, da animosidade, da opressão um incontável número de seres. Com isto, se ganha uma parcela na ilimitada liberdade do perigo, liberdade da animosidade e liberdade da opressão. Desvantagens (Adinava) v. Abandonando tomar embriagantes, abstém-se de embriagantes e seus efeitos. Isto liberta do perigo, da animosidade, da opressão um incontável número de seres. Com isto, se ganha uma parcela na ilimitada liberdade do perigo, liberdade da animosidade e liberdade da opressão. Paraíso (Sagga) Ainda mais, O Buda enunciou cinco bênçãos oriundas a serem experimentadas pelos chefes de família ou leigos que praticassem a Virtude: i. ii. iii. iv. v. Nobres Verdades (Ariya Saccani) Virtude (Sila) Muitas posses, resultante da a diligencia adquirida; Boa reputação, resultante da moralidade boa conduta em si; Um comportamento de modo seguro e autoconfiante; A garantia de uma morte serena e lúcida; Um renascimento num destino feliz. Um presente no Dhamma, para distribuição gratuita. Compilação: Gabriel Laera Generosidade (Dana) 3 Agradecimentos: Possam todos se beneficiar deste trabalho realizado no Dhamma. Que os méritos sejam compartilhados com todos os seres. Possam todos os seres ser felizes! Com metta, Gabriel Laera NAMO BUDDHAYA NAMO DHAMMAYA NAMO SANGHAYA Um presente no Dhamma, para distribuição gratuita. Compilação: Gabriel Laera 4 As seis etapas do Treinamento Gradual do Buda, Anupubbi-katha: i. Generosidade (dana) ii. Virtude (sila): o Os 5 Preceitos o Os 8 Preceitos o Dias de observância do Uposatha o Os 10 Preceitos o Os Trinta e Um Mundos de Existência iii. Paraíso (sagga) iv. Desvantagens (adinava) v. Renúncia (nekkhamma) vi. As Quatro Nobres Verdades (cattari ariya saccani): o o o Primeira Nobre Verdade (dukkha ariya sacca): § Dukkha § O ciclo de renascimentos (samsara) Segunda Nobre Verdade (dukkha samudayo ariya sacca): § Desejo (tanha) § Ignorância (avijja) Terceira Nobre Verdade (dukkha nirodho ariya sacca): § o Nibbana Quarta Nobre Verdade (dukkha nirodha gamini patipada ariya sacca): § Grupo da Sabedoria (pañña): Entendimento Correto (samma-dithhi): Ação Intencional (kamma) Amizade admirável (kalyanamittata) Pensamento Correto (samma-sankappo) § Grupo da Virtude (sila): Linguagem Correta (samma-vaca) Ação Correta (samma-kammanto) Modo de Vida Correto (samma-ajivo) § Grupo da Concentração (samadhi): Esforço Correto (samma-vayamo) Atenção Plena Correta (samma-sati) Concentração Correta (samma-samadhi): Absorção Mental (Jhana) Fontes: http://www.acessoaoinsight.net/caminho_liberdade.php / http://www.nibbana.org.br/sasana.html Um presente no Dhamma, para distribuição gratuita. Compilação: Gabriel Laera 5