1 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT RELATÓRIO ANALÍTICO Projeto “Gestão de Territórios Rurais” – CNPq/MDA/SDT Nº 05/2009 TERRITÓRIO DE CIDADANIA DO SISAL – BAHIA FEIRA DE SANTANA – BAHIA SETEMBRO - 2011 2 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT RELATÓRIO ANALÍTICO TERRITÓRIO DE CIDADANIA DO SISAL – BAHIA Projeto “Gestão de Territórios Rurais” – CNPq/MDA/SDT Nº 05/2009 Ildes Ferreira de Oliveira* Robson Andrade Santos** Tatiana Ribeiro Velloso*** Pedro Torres Filho**** Ive Aparecida de Oliveira da Silva***** Mara Emmanuela Guimarães Santana Cunha***** FEIRA DE SANTANA – BA SETEMBRO – 2011 * Coordenador do projeto, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS ** Coordenador Técnico da Célula (Mestrando/UFRB) *** Professora Colaboradora, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB **** Professor Colaborador, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS ***** Estagiárias Bolsistas. 3 LISTA SIGLAS ABRAÇO Sisal - Associação de Rádios Comunitárias do Sisal - Associação Comunitária ADS Bahia - Agência de Desenvolvimento Solidário APAEB - Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidário da Região Sisaleira; ARCO Sertão - Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia ARTAB - Articulação das Entidades Urbanas de Valente e Região BNB - Banco do Nordeste do Brasil CAR - Companhia de Ação Regional CEAIC - Centro de Apoio às Iniciativas Comunitárias do Semi-Árido da Bahia CEBs - Comunidades Eclesiais de Base CDA - Coordenação de Desenvolvimento Agrário CEF - Caixa Econômica Federal CMDRS - Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CODES - Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia CONSISAL – Consórcio dos Municípios do Território do Sisal COOBENCOL - Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização COOAMEL - Cooperativa de Apicultores e Meliponicultores do Semi-Árido do Estado da Bahia COOPERAFIS - Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão COOPERJOVENS - Cooperativa de Produção dos Jovens da Região do Sisal COOPMEL - Cooperativa dos Apicultores do Semiárido Baiano CUT – Central Única dos Trabalhadores DIREC - Diretoria Regional de Educação DIRES - Diretoria Regional de Saúde EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - G Regional Serrinha - EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FATRES - Fundação de Apoio aos Trabalhadores da Região Sisaleira FENASCOO - Federação de Cooperativas de Crédito de Apoio a Agricultura Familiar FUNDAÇÃO APAEB - Fundação de Apoio ao desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira 4 ICMS – Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços ICV - Índice de Condição de Vida INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário MMTR - Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais MOC - Movimento de Organização Comunitária ONGs - Organização Não Governamental OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PBF - Programa Bolsa Família PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PIB - Produto Interno Bruto PROINF - Projetos de Infraestrutura e Serviços em Territórios Rurais PT - Partido dos Trabalhadores PTDS - Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável P1MC - Programa Um Milhão de Cisternas REFAISA - Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semi-Árido SDT - Secretaria de Desenvolvimento Territorial SEAGRI - Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária SEBRAE - Sistema Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa SINTRACAL - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Empresas Fábricas de Calçados SINTSEF - Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal STR - Sindicato dos Trabalhadores Rurais UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UNEB - Universidade do Estado da Bahia UNICAFES - União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bahia UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância 5 ÍNDICE DOS QUADROS Quadro 1.Identidade Territorial: Categoria, Valor e Classificação de Identidade Territorial – 2011...................................................................................................... 18 Quadro 2.Composição da Plenária Território do Sisal – CODES, em 2011............ Quadro 3. Conselho de Administração do CODES - Sisal - Gestão 2011 - 2012... Quadro 4. Indicadores de capacidade institucional no Território do Sisal – 2011.. Quadro 5.Relação dos Projetos de Investimento do Território do Sisal, com proponente, localização, recursos financeiros e situação, da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT/ Ministério do Desenvolvimento Agrário – período de 2003 a 2011............................................................................................. 29 33 35 48 Quadro 6.Indicadores............................................................................................... 51 Quadro 7.Avaliação da Fase de Planejamento.......................................................... 52 Quadro 8.Avaliação da fase de execução do Projeto................................................ Quadro 9.Indícios de impactos................................................................................. Quadro 10.Indicadores gerais de gestão do projeto................................................. Quadro 11.Condição Familiar do Entrevistado, em 2010-2011............................... Quadro 12.Faixa etária e sexo dos entrevistados, em 2010 – 2011......................... 52 53 54 56 56 Quadro 13.Perfil agrícola dos entrevistados, em 2010 – 2011................................. 57 Quadro 14. Situação educacional dos entrevistados, em 2010 – 2011..................... Quadro 15.Situação dos entrevistados em termos de serviços como energia, água 57 e higiene familiar, em 2010 – 2011.......................................................................... 58 Quadro 16.Situação do uso de equipamentos domésticos, em 2010 – 2011............ 58 Quadro 17.Avaliação das Condições de Comercialização, em 2010 – 2011........... 59 Quadro 18. Fatores de Desenvolvimento................................................................. 62 Quadro 19.Características do Desenvolvimento....................................................... 64 Quadro 20.Efeitos do desenvolvimento................................................................... 66 Quadro 21.Indicadores ICV..................................................................................... 67 6 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Municípios que integram o Território do Sisal, População total, urbana e rural, Índice de Desenvolvimento Humano Médio, Produto Interno Bruto e Índice de Indigência...................................................................................................................... 14 Anexo II: Tabela 1 - Número de membros por estabelecimento familiar............................... ..... 76 Tabela II – Número de membros da família residentes nos domicílios rurais com 77 idade entre 18 a 24 anos................................................................................................. Tabela III - Renda Familiar (Casal e filhos)................................................................. Tabela IV – Terra Disponível............................................................................... 78 79 Tabela V – Número de agricultores familiares que acessaram Pronaf nos últimos 3 anos.............................................................................................................. 81 Tabela VI – Número de Operações e Volume de Recursos liberados pelo Ponaf no 81 Território do Sisal no período 2005-2009............................................................. Tabela VII – Número de Agricultores que recebem visitas técnicas por instituições do 83 Território........................................................................................................... 7 ÍNDICE DOS GRÁFICOS Gráfico 1.Existência de um assessor técnico que apóie permanentemente a Gestão do Colegiado............................................................................................................... Gráfico 2.No caso de não existir um assessor técnico, há algum outro técnico que apóie a ação do Colegiado........................................................................................... Gráfico 3.Formas de seleção e a eleição dos membros do Colegiado do CODES Sisal............................................................................................................................ Gráfico 4.Reuniões formais o Colegiado realizou desde a sua constituição.............. Gráfico 5.Frequência das reuniões do Colegiado....................................................... Gráfico 6.Avaliação da Capacidade de Decisão dos Membros do Colegiado............ Gráfico 7.Frequência no tratamento de temáticas no Colegiado do CODES – Sisal.. Gráfico 8.Freqüência dos Problemas que prejudicam o Colegiado............................ Gráfico 9.Qual o papel desempenhado pelo Colegiado na elaboração do diagnóstico territorial.................................................................................................. Gráfico 10. Existência de documento que contenha uma visão de longo prazo do território (Visão de Futuro)......................................................................................... Gráfico 11.Caso o território tenha o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS, qual foi o papel desempenhado pelo Colegiado Territorial na elaboração do mesmo............................................................................................. Gráfico 12.Indique quais dos seguintes mecanismos são utilizados para a tomada de decisões no Colegiado............................................................................................ 36 37 38 38 39 40 40 41 42 42 43 44 Gráfico 13.Quais ações são desenvolvidas pelo Colegiado para a gestão dos projetos de desenvolvimento territorial....................................................................... 45 Gráfico 14. Em quais das seguintes áreas, os membros do colegiado receberam capacitação.................................................................................................................. 45 8 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.Mapa do Território do Sisal no estado da Bahia............................................. Figura 2.Composição da Identidade Territorial do Território do Sisal – 2011............. Figura 3.Variáveis da capacidade institucional no Território do Sisal – 2011.............. Figura 4.Fabrica de ração, municípios de Itiúba............................................................ Figura 5.Apresentação dos Indicadores de Avaliação de Projetos de Investimento..... Figura 6.Avaliação da fase de planejamento de projeto................................................ Figura 7.Avaliação da fase de Execução do projeto...................................................... Figura 8.Indícios de impactos........................................................................................ Figura 9.Indicadores gerais de gestão dos projetos....................................................... Figura 10.Aplicação de questionário município de Tucano – Ba. .............................. Figura 11.Composição dos Fatores de Desenvolvimento............................................. Figura 12.Características do desenvolvimento.............................................................. Figura 13.Efeitos do desenvolvimento.......................................................................... Figura 14.Índice de condições de vida médio............................................................. 12 18 34 46 50 51 52 53 54 55 60 63 65 67 9 SUMÁRIO 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 7.1 10 12 17 27 36 46 55 55 7.1.1 7.1.2 7.1.3 7.1.4 7.2 7.3 8.0 9.0 9.1 9.2 Apresentação..................................................................................................... O Contexto........................................................................................................ Identidade Territorial........................................................................................ Capacidades Institucionais............................................................................... Gestão do Colegiado........................................................................................ Avaliação de Projetos...................................................................................... Índice de condições de Vida Informações relevantes sobre população, educação, serviços básicos e comercialização do Território do Sisal: analises dos resultados...................... Características da população Território do Sisal ........................................ Características da educação do Território do Sisal.......................................... Características de serviços básicos do Território do Sisal............................... Características de comercialização do Território do Sisal............................... Composição do Índice de qualidade de vida – ICV......................................... Índice de condições de vida médio baseado nas três dimensões..................... Análise Integradora do Contexto..................................................................... Propostas e Ações para o Território................................................................ Proposta de pesquisa para o Território do Sisal.............................................. Propostas de qualificação do Território do sisal............................................. 10.0 11.0 12.0 12.1 12.2 Considerações Finais....................................................................................... Referências ...................... ............................................................................... Anexos............................................................................................................. Anexo I - Validação dos Instrumentos e Procedimentos................................. Anexo II - Relatório de Pesquisa (Questionário Complementar).................... 71 72 74 74 75 55 57 57 58 59 66 68 69 69 69 10 1. 0 - APRESENTAÇÃO Em setembro de 2010, após a formação da Equipe do Projeto “Gestão de Territórios Rurais” – CNPq/MDA/SDT, iniciou-se uma ação junto ao Território de Cidadania do Sisal, com contatos amistosos e formais da equipe executora com o Conselho de Administração e com Grupos de Trabalho do CODES Sisal - Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia. Nesses encontros, apresentou-se a pesquisa proposta pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria do CNPq e a oferta de outros serviços que pudessem contribuir para melhorar o desempenho do CODES Sisal, entidade civil sem fins econômicos, constituída por representantes de organizações da sociedade civil e do poder público. Pactuou-se, à época, sobre aspectos do relacionamento entre a Equipe do Projeto e o CODES Sisal, envolvendo também a Fundação de Apoio aos Trabalhadores da Região Sisaleira (FATRES1) e a Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidário da Região do Sisal (APAEB2) que tem se constituído em importantes parceiras no curso do processo de trabalho. Passado o período de um ano, além das atividades específicas previstas no projeto, realizou-se um conjunto de outras ações de interesse do CODES Sisal, com a contribuição efetiva3 da Equipe da Célula; o fato de todos os membros da Equipe já manterem, anteriormente, algum nível de relacionamento com o CODES Sisal ou com as principais organizações que o constituíram, facilitou a condução dos trabalhos. Este Relatório Analítico tem o propósito de analisar os resultados da pesquisa do Índice de Condição de Vida (ICV) do Território, ensaiando-se algumas interpretações sobre os dados coletados. Compõe dos seguintes tópicos: o contexto, permitindo situar-se frente à realidade do Território de Cidadania do Sisal; a discussão sobre identidade territorial, a partir dos dados da pesquisa; a análise das capacidades institucionais; a avaliação dos projetos executados pelo PROINF; a tentativa de análise integradora do contexto; as principais ações propostas para o Território; e finalmente, as considerações finais. Em 1 Por não possuir sede própria, o CODES Sisal funciona nas instalações da FATRES. A APAEB – Valente cedeu um espaço para a instalação da Equipe da Célula. 3 Por exemplo, da constituição do CONSORSIAL (Consórcio de Municípios do Território do Sisal), da elaboração de Carta Consulta de negociação com o BNDES, das articulações com vistas à implantação de um Campi da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) no Território e articulação com pesquisadores da UEFS, da UFBA e da UFRB para um processo de identificação geográfica do sisal. 2 11 anexo, alguns comentários sobre os instrumentos utilizados e um relatório contendo os dados sistematizados de um questionário complementar aplicado durante a pesquisa do ICV. Os conteúdos deste Relatório devem ser entendidos como elementos para alimentar o debate acerca dos temas propostos. Assim, são preliminares e iniciais, mas necessários para o trabalho de contribuição para as ações do Território do Sisal. 12 2.0 - CONTEXTO O Território do Sisal é constituído por 20 (vinte) municípios (figura 1), habitado por 582.329 pessoas e uma extensão territorial de 20.154 km², o correspondente a 3,5% do Estado da Bahia. Tem fácil acesso por rodovia, através da BR 116 e BR 324, e das BA 409 e BA 416; na cidade de Valente, sede do CODES Sisal, há um campo de pouso pavimentado para pequenas aeronaves. Há emissoras de rádio AM nos municípios de Serrinha, Conceição do Coité e Monte Santo, e FM em todos os municípios, destacando-se as Rádios Comunitárias de Valente e Santa Luz. No tocante a educação publica, além das escolas de ensino fundamental e médio existem dois campus universitários da Universidade Estadual da Bahia – UNEB, localizados nos municípios de Serrinha e Conceição do Coité. Inserido no semi-árido baiano, é caracterizado pela predominância de uma economia agrícola e por ter a maioria da sua população estabelecida na zona rural, com 333.149 habitantes na zona rural, o que representa 57,21% da população (IBGE, 2011). Figura 1. Mapa do Território do Sisal no Estado da Bahia. Fonte: Adaptado do PTDRS Sisal (2010). Uma das principais atividades agrícolas, em alguns municípios, advém da produção do sisal (Agave sisalana). O cultivo do sisal é desenvolvido em pequenas propriedades e o processo de extração da fibra é feito de modo semi-artesanal, com grandes riscos para a saúde dos trabalhadores; historicamente, têm gerado um verdadeiro exército de mutilados 13 adultos e envolvido um grande número de crianças, institucionalizando na região o trabalho infantil, decorrente do nível de pobreza das famílias, minimizado a partir do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, do Governo Federal, não contemplando medidas efetivas que contribuam para elevação da renda das famílias de promoção do desenvolvimento territorial. Apesar da existência de crianças, adolescentes e jovens na população, numa faixa etária compreendida de cinco a vinte e quatro anos, correspondendo a 39,14% da população, não se dispõe de políticas públicas consistentes para assegurar o futuro dessa população. Isso explica, dentre outros aspectos, a exploração do trabalho precoce de crianças e adolescentes para contribuir com a renda familiar. Também coloca em evidência a situação precária da educação pública dos municípios que não consegue atender as demandas da população, com maior gravidade para o segmento rural pelo caráter descontextualizado do ensino. De certa forma, isso tem contribuído para a migração de jovens e adultos para os centros urbanos e capitais, que, sem qualificação profissional, partem em busca ilusória de melhores oportunidades de vida. Outro ponto de estrangulamento está na distribuição de renda, em que 50,83% da sua população se encontram em situação de indigência (Tabela 1). São milhares de famílias que sobrevivem com renda per capita de menos de meio salário mínimo. As principais fontes de recurso que movimentam a economia desses municípios advêm da transferência de recursos governamentais, principalmente através da previdência social e programas sociais de assistência à família de baixa renda, e da agricultura familiar local. São bastante restritas as possibilidades de geração de trabalho e renda na totalidade dos seus municípios. 14 Tabela 1. Municípios que integram o Território do Sisal, População total, urbana e rural, Índice de Desenvolvimento Humano Médio, Produto Interno Bruto e Índice de Indigência. População¹ Município Araci Barrocas Biritinga Candeal Cansanção Conceição do Coité Ichu Itiuba Lamarão Monte Santo Nordestina Queimadas Quinjingue Retirolândia Santaluz São Domingos Serrinha Teofilândia Tucano Valente TOTAL % Total 51.651 14.191 14.836 8.895 32.908 62.040 5.255 36.113 9.560 52.338 12.371 24.602 27.228 12.055 33.838 9.226 76.762 21.482 52.418 24.560 582.329 100,0 Urbana 19.638 5.695 3.517 3.476 11.021 36.278 3.365 9.699 2.085 8.845 3.921 12.492 6.377 6.722 20.795 5.916 47.188 6.692 21.958 13.487 249.167 42,79 PIB³ 2008 Rural 32.013 8.496 11.319 5.419 21.887 25.762 1.890 26.414 7.475 43.493 8.450 12.110 20.851 5.333 13.043 3.310 29.574 14.790 30.460 11.073 333.182 57,21 IDH-M² 0,557 s/d 0,596 0,61 0,538 0,611 0,675 0,574 0,608 0,534 0,550 0,613 0,526 0,625 0,66 0,624 0,658 0,607 0,582 0,657 0,600 ///// Milhões 134,50 123,31 42,22 23,40 93,01 250,32 16,97 108,82 25,05 135,17 32,50 75,76 106,77 45,99 102,44 33,22 319,55 54,32 153,57 92,75 98,48 ///// Índice de Indigência² (%) 55,07 s/d 45,38 49.88 66,49 46,57 47,12 63,27 43,33 69,05 47,66 50,94 69,64 61,38 38,18 52,70 44,50 55,13 54,34 55,13 50,83 ///// Fonte: (¹) IBGE, Censo Demográfico, 2010; (²) Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 02 ago 2011. Apesar de ser uma das principais atividades econômicas da região, a sustentabilidade da agricultura familiar coloca em evidência a questão do acesso e permanência do agricultor no campo. Percebe-se o enfretamento dos agricultores familiares com a concentração fundiária no Território, além de sua produção está sujeita às variações constantes dos períodos de estiagem e as dificuldades no acesso aos serviços de assistência técnica, comercialização dos produtos e às linhas de crédito rural. Essas dificuldades estruturais fazem com que necessitem criar alternativas para garantir a sobrevivência das suas famílias, principalmente contextualizada em ações de convivência com o semiárido. 15 A vegetação predominante do Território é a caatinga4 que apesar da sua importância para a sobrevivência dessas pessoas, encontra-se em franco processo de degradação; estimase que menos de 20% da caatinga continuam preservados5. O Território está encravado no sertão cujo o conceito é carregado de imprecisão e de preconceitos pela literatura tradicional. É tratado como interior, interior pouco povoado, lugar longe da costa, lugar inculto, incivilizado e assim por diante (BARROSO, 1962; LIMA, 1999). Guimarães Rosa o considerou como algo que se procura e nunca se encontra e quando menos se espera ele aparece (ROSA, 2006); para Patativa do Assaré, O sertão é um livro aberto... (VASCONCELOS, 2007, p. 56). Ainda hoje é visto como lugar íngreme, atrasado, distante; terra sem lei, terra de ninguém, com predominância da visão euclidiana do início do século XX firmada a partir do ainda presente rebuliço do sertão com o massacre de Canudos há menos de uma década. Para Euclides da Cunha, o sertão é tudo que está fora da escrita, da história, da civilização e do espaço (CUNHA, 1973). Ainda nos dias atuais, ouve-se pelos sertões adentro, expressão do tipo: pretendo conhecer a Bahia, com referência à capital do Estado. Implicitamente, o reconhecimento de que o sertão está fora da Bahia 6 o que faz sentido se recorrermos à história de abandono de toda região pelo Estado. O sertanejo é um homem místico, cordial e desconfiado. Místico porque, como ninguém, sabe conduzir sua vida – a família, a economia, a política, a relação com a natureza – norteado pela emoção e pela fé no sobrenatural, com absoluta incapacidade de analisar de forma fria e racional as coisas do dia a dia, o que é próprio do ente religioso. Talvez ninguém, como ele, saiba conciliar a produção, a cultura e a fé: enquanto trabalha, na agricultura ou no traquejo dos animais, o sertanejo canta e faz suas orações. O homem do sertão é cordial. Qualquer um que o procura, está sempre disposto a ampará-lo, com respeito e cordialidade; diferente do comportamento do citadino, ele é incapaz de cuspir no prato que comeu, ou seja, se recebe um favor de alguem, uma cortesia, um simples reconhecimento, ele jamais esquecerá e procurará retribuir de alguma forma: é o favor com favor se paga. E disso as oligarquias nordestinas souberam tirar proveito, 4 Caa=mata, tinga=branca. A caatinga corresponde ao maior de um conjunto de quatro biomas do Estado da Bahia, ao lado de Mata Atlântica, Manguezais e Cerrado. É considerada rica a biodiversidade: nela existem mais de 600 tipos de árvores conhecidas, enquanto em toda Europa não passa de 100. 5 Estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, 68% da área do bioma caatinga encontra-se degradados, sendo que 35% em situação de extrema degradação (BRASIL, 2002). 6 Há uma chula, cantada pelos sertanejos, que faz a seguinte referência: Horácio de Matos por ser malcriado chegou na Bahia e morreu... ao referir-se à morte do temido ex-deputado, ex-senador, coronel do sertão e chefe de grande bando de jagunços, em Salvador, em 15.05.1931, depois de provocar muitos conflitos armados no sertão baiano. 16 transformando direitos em favores. Um simples atendimento médico, o abastecimento d’água com carro-pipa, feitos por um ógão público, com dinheiro do contribuinte, ou uma visita inesperada, são suficientes para cativar o sertanejo para toda a vida7. Essa cordialidade dos sertanejo foi, e continua sendo, importante fonte de poder político nos sertões nordestinos. O sertão é um misto de condições objetivas – clima, relevo, vegetação – e de representações sobjetivas; de seca, escassez, fome, desespero, como também de exuberância e fartura; de dor, sofrimento, mas também de alegria, presente nas inúmeras formas de expressão cultural e de diversão. Um espaço de cordialidade e de dominação política, e de respostas conforme o nível de interesse do sertanejo. O Território do Sisal representa o sertão baiano com suas exuberâncias, sofrimentos e farturas. Para compreensão da população sertaneja que habita esse Território, a Tabela 1 resume um conjunto de informações sobre a população total, urbana e rural do Território, bem como sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Indigência, com dados por municípios e totais. São dados que caracterizam a população do Território do Sisal, demonstrando a concentração ainda rural e a necessidade de superação do alto índice de indigência dos seus municípios. 7 Ele chegava, entrava na casa da gente, ia pra cozinha, descobria as panelas, comia com a gente... Era um homem sem besteira. Votei nele até o dia que Deus chamou (depoimento de um camponês de Feira de Santana sobre um chefe político do Município). 17 3. 0 - IDENTIDADE TERRITORIAL 3.1 - Identidade como fator de coesão de território O enfoque territorial tem sido uma das estratégias adotadas pelo Governo Federal e em alguns estados da federação na busca da implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural, sendo os territórios de identidade as unidades de gestão. A política de desenvolvimento rural na ótica territorial, busca a coerência política, ideológica e a prática de gestão e de planejamento, que exige um exercício teórico– conceitual permanente, para a consolidação das ações e a compreensão das dificuldades e potencialidades, visto serem esses elementos que determinam as estratégias de desenvolvimento, o reconhecimento social e o empoderamento das comunidades rurais. Para analisar a identidade como fator de coesão do território, busca-se através de elementos endógenos investigar o que aglutina o território e o que determina o seu espaço, visto que o espaço analisado é determinado pelo conjunto de elementos que o compõem e suas relações, incluindo sociais, as instituições construídas e os valores adotados em todo seu contexto. Assim o território se reflete como dimensão política do espaço, como unidade de gestão política que o distingue e o institucionaliza. Logo podem ser elementos geográficos, a união de organizações territoriais, as características étnicas ou um espaço bem definido por redes econômicas bem caracterizadas. A identidade é que orienta e ordena as estratégias de desenvolvimento na busca do bem-estar de toda comunidade, que se expressa como territorialidade através dos sentimentos políticos à energia social e a vontade coletiva nas suas mais diversas manifestações. Assim alguns elementos podem ser determinantes para a delimitação do espaço territorial, sendo os mais expressivos o ambiente, a agricultura familiar, a economia, a pobreza, a etnia, a colonização e o aspecto político, elementos estes objeto de pesquisa, que culminou com a aplicação de questionários, obedecendo critérios metodológicos definidos, descritos em capítulo específico. Das categorias analisadas como fatores mais significativos para a identidade territorial aparece a agricultura familiar, o político e a economia, sendo classificados como alto. No segundo plano estão classificados como médio-alto a pobreza e o ambiente, 18 enquanto que se enquadram como médio, os aspectos relacionados à colonização e a etnia, conforme apresentados no Quadro 1 e na Figura 2. Quadro 1. Identidade Territorial: Categoria, Valor e Classificação de Identidade Territorial – 2011. CATEGORIAS VALOR Ambiente 0,766 Agricultura familiar 0,851 Economia 0,802 Pobreza 0,780 Etnia 0,423 Colonização 0,506 Político 0,824 Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA CLASSIFICAÇÃO Médio Alto Alto Alto Médio Alto Médio Médio Alto Legenda: 0,00 - 0,20 = Baixo 0,20 - 0,40 = Médio Baixo 0,40 - 0,60 = Médio 0,60 - 0,80 = Médio Alto 0,80 - 1,00 = Alto Figura 2. Composição da Identidade Territorial do Território do Sisal – 2011. Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA 19 3.2 – Agricultura Familiar A agricultura familiar aponta para a influência das condições de desenvolvimento da agricultura local, suas organizações, os problemas e expectativas dos agricultores. O político refere-se à influência dos grupos políticos, filiação partidária e das organizações comprometidas com processos políticos nos aspectos chaves do desenvolvimento territorial. Já a economia indica o efeito dos processos produtivos, pólo de desenvolvimento, geração de emprego e da estrutura econômica local. Contextualizando os pequenos agricultores, enquanto unidade familiar de trabalho e de seus desdobramentos no plano político, assim como integrantes do sistema econômico dominante, são sujeitos dos processos que regem a produção/reprodução de formas, sociais norteados por uma dinâmica histórica que tem o capitalismo como espinha dorsal. No contexto atual da agricultura, a pequena produção sofre grandes transformações em duas direções. De um lado uma grande parcela tende a proletarizar - se, pela desestruturação das suas unidades produtivas, assumindo o papel de trabalhadores rurais e urbanos. E isso se torna muito claro,quando consideramos os produtores de sisal, que na sua grande maioria mantém suas residências nas cidades, vendem parte da sua força de trabalho em atividades urbanas, educam seus filhos, reservando parte de seu tempo para as atividades rurais. Uma evidência disso são os animais de monta, antes símbolo de mobilidade, hoje substituídos pelas motocicletas. O outro segmento dos pequenos agricultores, permanece no processo produtivo, mas perde o caráter autônomo e tende a subordinação a um mercado monopsônico de matéria-prima agrícola. No sentido de superar os problemas até aqui discutidos, resta ao pequeno agricultor encontrar estratégias que lhe dêem condições mínimas de permanência no processo produtivo. Uma dessas alternativas consiste em desenvolver suas atividades agropecuárias associativamente, ou na forma de “organização de pequenos agricultores”, para que reúna possibilidades de reter, em maiores proporções, a renda gerada em suas unidades produtoras, resultando em melhoria da sua capacidade produtiva e de suas condições de vida (PEREZ) 1980. Destaca-se no território como elemento de coesão e de organização dos produtores rurais, a APAEB - Valente. O processo produtivo da pequena produção é definido por Silva (1981), a partir de quatro elementos fundamentais: a) utilização do trabalho familiar; b) posse dos instrumentos de trabalho ou de parte desses; c) existência de fatores (terra, forças de trabalho, meios de 20 trabalho) que permitem uma produção de excedente destinado ao mercado; e d) não é fundamental a propriedade, mas sim a posse da terra que mediatiza a produção como mercadoria. A agricultura familiar, numa visão orgânica, paralelamente a um processo de sobrevivência, surge como mantenedora a zeladora de todo um contexto ambiental, mas toda essa preocupação vem acompanhada por um processo de organização e postura reivindicatória da sociedade civil, na busca de tecnologias apropriadas de convivência com o semiárido. Muitas são as experiências de base agroecológicas empreendidas no território, por agricultores familiares, que vislumbram uma melhor perspectiva de vida, quando programam ações menos destruidoras do meio ambiente e dos recursos naturais cada dia mais escassos. Na prática, o uso mais equilibrado dos recursos da natureza produz melhor e mais recursos para a sobrevivência. Para alguns agricultores e parte das organizações já se tem a consciência que junto com a destruição da caatinga esteve também se aniquilando a agricultura familiar, que é a base de sobrevivência do homem no território. Foi pensando assim que no território do sisal, surgiu com um olhar menos romântico e mais pragmático os primeiros exemplos, em que as organizações da sociedade civil, apoiados de certa forma pelo poder publico, na busca de soluções, aproveitando os recursos naturais, e a vocação da cultura sisaleira com base para se criar condições de sustentabilidade e construção de uma base sólida econômica para os pequenos agricultores. Nesse sentido, é a agricultura familiar a base da economia do território, é esse o ambiente que permite a coesão e a organização enquanto sociedade civil, e a definição da economia como parâmetro coerente de identidade do território. 3.3- Economia O Território do Sisal apresenta uma vegetação diversificada que se caracteriza por plantas com adaptações morfofisiológicas para resistirem a longos períodos de estiagem. Nesse particular, a agropecuária e a extração vegetal, notadamente o sisal, assumem relevante função social por ocupar grande parte da força de trabalho da região. A pecuária bovina do semiárido surgiu e se estendeu a partir da disponibilidade de grandes áreas de terra para a criação extensiva onde a riqueza da biodiversidade da caatinga 21 constituía-se em pastagens nativas, exigindo poucos investimentos em mão-de-obra, constituindo-se numa alternativa para enfrentar as incertezas em relação à agricultura. As políticas públicas também se tornaram um forte incentivo a bovinocultura, pois o próprio crédito rural a priorizava, em detrimento da ovinocaprinocultura muito mais viável para as condições do semiárido. A biodiversidade da caatinga se constitui num rico potencial econômico para a vida dos sertanejos. O bioma caatinga é composto por plantas arbustivas e arbóreas com uma característica secular: as plantas, devido as suas formações e como medida de proteção à desidratação perde grande parte de sua folhagem durante um determinado período do ano, sem que isso resulte em sua morte. O solo na maioria da região é raso e pobre em macronutrientes, embora tenha um substancial volume de cálcio e potássio o que não impossibilita uma gama de espécies vegetais bem diversas. Destacam se entre essas espécies o algodoeiro de seda, o caroá, o mandacarú, o umbuzeiro, a barriguda, o icó, a baraúna, o faveleiro, o pau ferro, o ouricuri, e a umburana dentre outras além de uma grande variedade de cactáceas. É essa rica diversidade que garante a vida humana e animal numa região com grandes diversidades climáticas e pouca atenção pelo Estado quanto às políticas públicas. Mas também é o que explica em parte a coesão territorial em busca de soluções para as suas sobrevivências. Assim diante das adversidades, desenvolveu-se uma agricultura de sequeiro adaptada, tendo como expoente o sisal fornecedor de matéria prima que por muito tempo era exportada sob a forma de fibra, e, mas recentemente, com a fábrica de tapetes da APAEB, exportada beneficiada. Compõe também como elementos da economia o feijão, o milho e a mandioca como cultivos de subsistência. Já a pecuária tem na ovinocaprinocultura seu elemento de destaque, atualmente. O produto interno bruto (PIB) do território tem dois terços da composição oriunda do setor terciário, que inclui a comércio e serviço. Os demais setores contribuem com menos de um terço (agropecuário e industrial), 30,2% juntos. Apesar da indústria aparecer com igual participação do setor agropecuário, sabe-se que esses dados incorporam grandes distorções, considerando que parte considerável das atividades agropecuárias está inserida no mercado informal, sem estatísticas para alimentar o PIB de cada município não há dúvida de que a agropecuária é o setor mais importante da economia do território. O PIB do setor industrial é alimentado pela atividade mineradora, destacando-se o ouro, pedras para construção, rocha ornamental, argila e quartzo dentre outros. 22 Quando se analisa a forte influência da economia como fator de coesão territorial, é porque de certa forma ela é muito homogênea em sua composição de arranjos em todo o território, definida pelas questões climáticas, o que resulta em elementos convergentes na busca de caminhos e soluções. 3.4 - Político Os movimentos sociais do Território do Sisal têm uma história de muitas lutas, ganhando destaque no ambiente nacional. Ainda no período da ditadura militar, organizaram, com o apoio de ONGs, em 1979, a primeira mobilização de agricultores familiares (à época chamados de “pequenos agricultores”) no Estado, pós 64, reivindicando medidas do governo do Estado para flexibilizar a cobrança do ICM para os produtos alimentares; com a fundação da Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia (APAEB8), em 1980, denunciaram as precárias condições de vida dos “mutilados do sisal” (pessoas acidentadas no processo de desfibramento), reivindicando amparo previdenciário, o que ganhou repercussão internacional; na década de 1990, enfrentaram os problemas do trabalho infantil no sisal e nas pedreiras, também com repercussão internacional, de onde nasceu o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) que hoje cobre todos os municípios do Estado da Bahia; foram muitas as mobilizações reivindicando medidas de combate aos efeitos das secas e de valorização do sisal. Com a política de territorialidade do governo federal, a partir de 2003, a grande maioria dos movimentos sociais passou a apostar na organização do Território de Identidade, sendo o primeiro Território de Identidade a organizar-se no Estado. As lideranças desses movimentos são, também, as lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), que acabam se beneficiando do processo de trabalho para a ação partidária o que se constitui, também, num entrave, na medida em que as lideranças políticas de outros partidos, em desvantagem, acabam recusando a participar do processo de construção do Território de Identidade. Trata-se de uma questão de disputa de poder: as forças políticas minoritárias, em desvantagem, preferem não enfrentar a disputa democrática no espaço territorial. Dos 20 Municípios que integram o Território, 3 têm prefeitos do PT (que participam ativamente do processo de trabalho territorial), 14 são de outros partidos aliados à base governamental, mas originários dos antigos ARENA e PDS e não vêem o Território de Identidade como 8 Atual Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB). 23 prioridade, embora, publicamente, considerem-se participantes, tanto eles (prefeitos) como seus auxiliares permanecem ausentes; e 3 prefeitos são de partidos de oposição (DEM e PMDB). Tal cenário, diverge do enquadramento “Alto” encontrado na pesquisa aplicada enquanto elemento de coesão do território. 3.5 - Ambiente Historicamente o homem modifica a natureza diante da possibilidade de ganho ou satisfação de suas necessidades. Considerando-se ambos os argumentos, os recursos naturais são explorados em ritmo acelerado, sendo praticados nos últimos decênios, a níveis insustentáveis dado que, no processo de ocupação muitos erros foram cometidos em nome de uma economia de caráter predatório. No semi-árido, e em outras áreas do Estado os recursos florestais, pedológicos e hídricos estão ameaçados e, por certo, comprometida a biodiversidade, constituindo-se numa espécie de termômetro do padrão de qualidade ambiental. Como se isso não bastasse, ampliam-se as situações de susceptibilidade a instalação de processos de desertificação, com tendência ao desestimulo do uso das terras. A incorporação da variável ambiental nos requisitos da análise da expressão da identidade territorial, se faz necessária na medida em que as avaliações e prioridades de investimentos passam necessariamente por estudos de impacto ambiental que definem projetos setoriais, locais e de amplitude regional. Nesse processo, cuidar de forma responsável o meio ambiente, em seu sentido amplo, pode ser economicamente viável, visto que incorpora não como ação pontual, mas de forma a que se torne processual como ferramenta básica, para a busca de um novo caminho, que se efetive enquanto elemento na busca de um desenvolvimento auto-sustentado. No semi-árido, onde o bioma, prevalecente é a caatinga, e ela que define os limites naturais do território, embora a ação política interfira de certa forma nos limites naturais sem, contudo mudar o cenário natural. O uso da terra é a expressão das diferentes atividades econômicas que ocorrem no território, caracterizando-se como retrato da atual situação, nos seus diversos tipos e intensidade dos impactos a que estão submetidos os recursos naturais. 24 As pressões que demandam a retirada da vegetação se dão por vários motivos, dentre os quais se destacam: os avanços da fronteira agrícola, a exploração para produção de carvão e lenha e em menor grau a atividade mineral. Em regiões de floresta e cerrados, onde a retirada da vegetação ocorre de forma devastadora, no semiárido tem ocorrido de forma lenta e gradual, mesmo porque a ocorrência de prolongados estiagens tem funcionado como uma espécie de obstáculo à implantação de grandes projetos agropecuários, diferentemente aos de irrigação, como ocorre às margens do São Francisco. No caso de Território do Sisal, os empreendimentos não se viabilizam em decorrência da falta de investimentos de infraestrutura hídrica que dê suporte a grandes projetos, o que de certa forma atenua o processo de agressão ambiental. Como o que se busca analisar é o fator ambiental, como fator de coesão de identidade territorial, o que se observa é que, apesar das atividades guardarem certas semelhanças, os interesses por parte de quem as explora, bem como as reações da natureza, são diferenciadas de acordo com suas especificidades, o que se desdobra num cenário de conflito e de interesses, não havendo coerência com o resultado encontrado na pesquisa. 3.6 - Pobreza Os indicadores sociais, no geral não indicam uma boa posição dos municípios que compõem o território. No conjunto, as receitas municipais são muito baixas o que alimenta o circulo vicioso da pobreza. Conforme dados disponíveis no IBGE, em 2008 a relação entre receitas municipais em Camaçari e a população, só a tipo de ilustração, corresponde a R$ 1,9 milhão por habitantes, enquanto que no Território do Sisal essa relação e de apenas R$ 703 mil, ou seja, 2,7 vezes menor. Alguns dados indicadores mostram uma situação desoladora e preocupante. Como exemplo tem-se o analfabetismo entre os adultos que em 2000, segundo IBGE, atingia mais de um terço da população (35,4%), o que se constitui num grande limite para o processo de desenvolvimento de território. Observa-se, portanto, em todo território, certa singularidade quanto à distribuição de renda e a predominância de estado de elevada pobreza, que não pode ser explicada tão somente pelas questões da natureza, mas sim pelo secular abandono a que o território foi submetido pelo poder público. Nesse sentido torna-se muito coerente a pobreza como fator 25 que define o território visto ser objeto de interesse comum na busca de soluções e de mudanças da realidade vivida, refletindo nos resultados encontrados através da pesquisa. 3.7 - Colonização A partir de meados do século XVI, intensificaram-se as medidas de ocupação do sertão. A pecuária extensiva foi um dos instrumentos utilizados para ocupar o espaço territorial, pela sua capacidade de penetração pelo interior e pelos baixos custos que representaram os criatórios bovinos. Essa foi a estratégia principal do principio latifundista que permitiu a ocupação e a presença de populações em muitas localidades interioranas, auxiliada, com a exploração de minérios. Assim chegaram os colonizadores ao semiárido baiano, cuja notoriedade deveu - se muito as secas, estiagens e, portanto, à carência de todas as formas econômicas e sóciais, o que, se perpetuou interagindo fortemente na auto estima do sertanejo, rotulado pelo seu alto grau de pobreza e de indigência, servindo como base de dominação pelos diversos setores políticos. O estado, longe de implementar políticas que pudessem compensar as deficiências naturais, ali montou toda uma historia marcada pela cultura do assistencialismo e do clientelismo características nominais do estado de pobreza latente da região. Os representantes do Estado não apenas legitimaram toda a situação como se esforçaram para preservá-la ao longo dos tempos. A região do sisal passa por todos os feitos dos portugueses e seus sucessores. Em finais do século XIX para inicio do século XX, introduziu-se aqui o cultivo do agave sisalana que encontra as condições edafoclimáticas adequadas para seu desenvolvimento. A agave pouco se desenvolveu até finais de 1930, visto que havia um concorrente nativo amplamente utilizado pelas populações nordestinas: o caroá. Os historiadores apontam que a região do sisal é marcada pelo mesmo tipo de expansão político-econômica da região semiárida e do conjunto do nordeste: dos tempos colônias herda-se a cultura do latifúndio, o assistencialismo, o paternalismo, e uma forte visão místico-religiosa de mundo, reforçada pelo coronelismo que constrói todo o arcabouço político para sua consolidação, sustentado pelo medo e pela incerteza da população, resultando num sistema oligárquico poderoso cuja reminiscência perdura até os dias atuais. A história da região confunde - se com a produção econômica e as relações sociais advindas de forma significativa da herança portuguesa e indígena. 26 Vê-se, portanto, que o processo de colonização por não ser empreendido por atividades econômicas intensivas em mão-de–obra e portanto, não requerer trabalho escravo, denota pouca miscigenação, como aconteceu no sul, em que logo após a abolição, o processo de ocupação se deu pela emigração de outros povos europeus. De certa forma há certa coesão enquanto o elemento colonizador. 3.8 - Etnia A etnia representa a consciência de um grupo de pessoas que se diferenciam dos outros. Esta diferenciação ocorre em função de aspectos culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos. A etnia não é um conceito físico podendo mudar com o passar do tempo. O aumento populacional e o contato de um povo com outros (miscigenação cultural) pode provocar mudanças numa determinada etnia. No território como reflexo da colonização e da ocupação econômica os grupos étnicos são bem definidos constituindo-se em fator de coesão territorial. Mesmo que tecnicamente não se aplique, a população identifica-se como sertaneja, uma etnia que apresenta traços físicos e culturais característicos de um povo sofrido e resignado pelas condições socioeconômicas estabelecidas historicamente. 27 4.0 - CAPACIDADES INSTITUCIONAIS A regionalização surge com distintas abordagens de análises construídas no enquadramento social, econômico e ideológico para o ordenamento do espaço geográfico voltados para a promoção do desenvolvimento, com o reconhecimento de que a economia surge em dimensões geográficas, em um ambiente heterogêneo que analisa a intervenção humana no espaço geográfico. Para tanto, é importante analisar a utilização do espaço geográfico em suas várias escalas para o planejamento de políticas pelo Estado e suas limitações para a perspectiva de consolidar a prioridade no ser humano em sua complexidade, riqueza e local plenamente possível em tempos de globalização, a partir da identidade do lugar, principalmente na possibilidade da participação social. As categorias analíticas da geografia contribuem para o entendimento das formas complexas e contraditórias da realidade, bem como o seu contexto histórico, e uma das categorias utilizadas para esse entendimento - é o território. Isso porque falar em territórios não implica desenvolvimento e nem democracia, porque os territórios por si não definem as formas das relações sociais. O problema reside nas relações de poder e no desafio de inserção popular no gerenciamento de seu próprio destino, como também na inserção de participação popular através das organizações sociais pressupõe a descentralização da execução e da formulação das políticas públicas (TONNEAU & CUNHA, 2005, p. 47). A criação de programas e de políticas na dinâmica territorial foi uma tentativa de ruptura do planejamento de ações, principalmente no campo rural brasileiro, que o enfoque era de características regionais e passa a ser denominado de territoriais. Essa mudança não é apenas conceitual, mas pressupõe premissas no planejamento das ações governamentais e na participação das organizações sociais. Falar em inserção de participação popular através das organizações sociais pressupõe a descentralização da execução e da formulação das políticas públicas. Na perspectiva da descentralização das políticas públicas, com enfoque no espaço rural, foi fomentada a criação de outra instância, a instituição de Conselhos Territoriais para a gestão, a partir de 2003, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar da linha de infra-estrutura, que foi denominada de PROINF – Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços em Territórios Rurais, voltado para os segmentos empobrecidos do 28 meio rural. Anteriormente as decisões eram tomadas a partir de Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS no âmbito municipal. Ao adotar a abordagem territorial, a Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA justifica essa estratégia de apoio ao desenvolvimento rural considerando que a escala municipal é restrita para o planejamento e organização de políticas para o desenvolvimento rural, ao mesmo tempo em que a escala estadual é ampla e não dá conta das especificidades regionais. A escala territorial, portanto, seria a unidade que dimensiona os laços de proximidade e de efetivação da descentralização das políticas públicas com o envolvimento de diversos atores sociais, principalmente da sociedade civil organizada. As capacidades institucionais estão ligadas diretamente às instituições que compõem o Território Rural, enquanto planejamento e gestão do espaço geográfico. Numa perspectiva macroinstitucional, a análise concentrou-se na importância que as instituições têm na formação, na função e no papel institucional de composição do Conselho Territorial. Numa perspectiva microinstitucional, a análise buscou compreender como os atores institucionais diferem suas estratégias de ação diante das regras definidas para o planejamento e a gestão territorial. Enquanto a primeira dimensão se concentra na análise interna da organização e seu desempenho institucional, a segunda se preocupa com a dinâmica de ação econômica, política e social e a sua organização. Optou-se, aqui, por tratar as formas de compreender as capacidades institucionais a partir da gestão do Conselho Territorial no primeiro ponto de vista, adotando uma abordagem institucionalista. Por esse ponto de vista, foram examinadas a trajetória de criação e a composição do conselho territorial, as ações e as participações no ambiente territorial. A criação do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Territorial do Sisal – CODES Sisal, em 2002, teve como finalidade: a) representar o conjunto de sócios que integram o Conselho em assunto de interesse comum e de caráter Socioeconômico e Ambiental, perante quaisquer outras entidades de direito público ou privado, nacional ou internacional; b) planejar, adotar e executar ações, programas e projetos destinados a promover e acelerar o desenvolvimento socioeconômico e ambiental da região compreendida do território dos municípios integrantes; c) promover programas ou medidas destinadas à recuperação, conservação e preservação do meio ambiente na região; d) promover a integração das ações, programas e projetos desenvolvidos pelos órgãos não governamentais, e empresas privadas consorciadas ou não, destinadas à recuperação e 29 preservação ambiental da região compreendida no território dos municípios que compõem o Conselho; e) planejar e apoiar o desenvolvimento rural centrado na agricultura familiar; f) promover a melhoria da qualidade de vida da população residente nos municípios formadores do Conselho Regional; g) apoiar o funcionamento dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS – da sua área de atuação (CODES SISAL, 2002). A questão central da interpretação da trajetória institucional do Conselho Territorial é entender como esse pode ser um instrumento que concentra o planejamento das ações territoriais, mas com desafios no campo da gestão, se torna um elemento decisivo para contemplar a necessidade de transformação cultural de concepções e de papéis que são diferentes pela sua própria composição. Essa composição contempla, conforme apresentado no Quadro 2, organizações governamentais e não governamentais, de diferentes áreas e setores, cuja dinâmica precisa ser analisada, principalmente no contexto da intersetorialidade e da efetivação na execução, no monitoramento, no planejamento e na avaliação dos projetos, dos programas e das políticas publicas. Quadro 2. Composição do colegiado do CODES Sisal, em 2011. ORGANIZAÇÃO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Agência de Desenvolvimento Solidário – ADS Bahia Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia - ARCO Sertão Angelim OSCIP Articulação das Entidades Urbanas de Valente e Região – ARTAB Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – APAEB Valente Associação de Rádios Comunitárias do Sisal - ABRAÇO Sisal Associação Comunitária Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Araci – APAEB Araci Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Serrinha- APAEB Serrinha Banco do Nordeste do Brasil – BNB Central Associações Comunitárias de Ocupação e Assentamentos do Semiárido B Centro de Apoio às Iniciativas CLASSIFICAÇÃO Movimento Sindical REPRESENTAÇÃO SOCIAL Sociedade Civil Central de Sociedade Civil Empreendimentos Organização da Sociedade Sociedade Civil Civil de Interesse Público Associação Comunitária Sociedade Civil Associação Sociedade Civil Associação Comunitária Sociedade Civil Associação Comunitária Sociedade Civil Associação Comunitária Sociedade Civil Agência Feira de Santana Central de Associações Poder Público Federal Sociedade Civil Associação Comunitária Sociedade Civil 30 12 Comunitárias do Semi-Árido da Bahia – CEAIC Companhia de Ação Regional – CAR Cooperativa de Produção Cooperativa de Produção Sociedade Civil Cooperativas de Produção Sociedade Civil Cooperativa de Produção Sociedade Civil Cooperativa de Produção Sociedade Civil Cooperativa de Produção Sociedade Civil Órgão Público Órgão Público Poder Público Estadual Poder Público Estadual Poder Público Estadual Poder Público Estadual Poder Público Federal Central de Cooperativas Sociedade Civil Organização Mista Sociedade Civil Movimento Sindical Sociedade Civil Órgão Público Federal Poder Público Federal Movimento Social Sociedade Civil Associação Sociedade Civil 30 COOPERAFIS – Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão Cooperativa de Apicultores e Meliponicultores do Semi-Árido do Estado da Bahia – COOAMEL Cooperativa de Artesãs da Região Sisaleira Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização - COOBENCOL Cooperativa de Produção de Jovens da Região do Sisal - COOPERJOVENS Cooperativa dos Apicultores do Semi-árido Baiano – COOPMEL Coordenação de Desenvolvimento Agrário – CDA Diretoria Regional de Educação DIREC 12 Diretoria Regional de Saúde – 12ª DIRES Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA - G Regional Serrinha Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Federação de Cooperativas de Crédito de Apoio a Agricultura Familiar – FENASCOO Fundação de Apoio ao desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – FUNDAÇÃO APAEB Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiar da Região do Sisal e Semi-árida da Bahia Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA – SR 05 Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais - MMTR Movimento de Organização Comunitária – MOC Prefeitura Municipal de Araci Poder Público Estadual Sociedade Civil Prefeitura Municipal 31 Prefeitura Municipal de Barrocas Prefeitura Municipal 32 Prefeitura Municipal de Biritinga Prefeitura Municipal 33 Prefeitura Municipal de Candeal Prefeitura Municipal 34 Prefeitura Municipal de Cansancao Prefeitura Municipal 35 Prefeitura Municipal Conceição do Prefeitura Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Órgão Público Órgão Público Órgão Público Órgão Público 31 36 Coité Prefeitura Municipal de Ichu Prefeitura Municipal 37 Prefeitura Municipal de Itiuba Prefeitura Municipal 38 Prefeitura Municipal de Lamarão Prefeitura Municipal 39 Prefeitura Municipal de Monte Santo Prefeitura Municipal 40 Prefeitura Municipal de Nordestina Prefeitura Municipal 41 Prefeitura Municipal de Queimadas Prefeitura Municipal 42 Prefeitura Municipal de Quijingue Prefeitura Municipal 43 Prefeitura Municipal de Retirolandia Prefeitura Municipal 44 Prefeitura Municipal de Santa Luz Prefeitura Municipal 45 Prefeitura Municipal de São Domingos Prefeitura Municipal 46 Prefeitura Municipal de Serrinha Prefeitura Municipal 47 Prefeitura Municipal de Toofilandia Prefeitura Municipal 48 Prefeitura Municipal de Tucano Prefeitura Municipal 49 Prefeitura Municipal de Valente Prefeitura Municipal 50 Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semi-Árido – REFAISA 51 Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária – SEAGRI 52 Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal – SINTSEF 53 Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Empresas Fábricas de Calçados – SINTRACAL 54 Sistema Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa – SEBRAE 55 União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bahia – UNICAFES 56 Universidade do Estado da Bahia – UNEB - Campus XIV Fonte: Adaptado SGE (2011). Representantes de Redes – Conselho Órgão Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Poder Público Municipal Sociedade Civil Movimento Sindical Poder Público Estadual Sociedade Civil Movimento Sindical Sociedade Civil Sistema S Poder Público Federal Central de Cooperativas Sociedade Civil Universidade Publica Poder Público Estadual O Quadro 2 apresenta a composição do Colegiado Territorial, base da estrutura formal de composição do CODES Sisal, e observa-se que na composição prevalecem às organizações governamentais, principalmente as representações das Prefeituras Municipais e 32 Estaduais e Federais, com 54,39% de participação no CODES Sisal: são 20 Prefeituras Municipais, 7 Órgãos Governamentais Estaduais e 4 Órgãos Governamentais Federais. As organizações da sociedade civil têm 45,61% de representação no CODES Sisal. Há presença marcante de cooperativas de produção, associações comunitárias, associações de outro caráter, movimento sindical, movimento social, centrais de cooperativas, de empreendimentos e de associações. Isso porque é possível destacar a existência dessas organizações principalmente porque esse território é conhecido pela força das organizações dos trabalhadores na luta pelas condições de sobrevivência e de políticas públicas de convivência com o semi-árido. Foi observado que 64,3% das organizações que compõem formalmente o CODES Sisal freqüentam e participam das Plenárias Territoriais, bem como das ações do CODES Sisal. A participação das organizações da sociedade civil é de 64% do seu total, das instituições do poder público municipal que compõem o CODES Sisal é de 75%, enquanto do poder público estadual é de 42,9%; já para o poder público federal, o índice encontrado foi de de 50%. A partir da composição e da participação no ambiente do CODES Sisal, pode-se afirmar que as organizações do poder público federal e estadual apresentam menos assiduidade no conjunto de atividades, o que pode ser justificado pelo fato dessas organizações atuarem no ambiente do Território do Sisal a partir de programas governamentais, sem, no entanto, possuírem sedes ou instalações físicas no Território do Sisal. Em relação ao Conselho de Administração, órgão responsável pela gestão de todo o conjunto de ações, é constituído por 11 (onze) pessoas, conforme o Quadro 3, sendo 6 representantes da sociedade civil e 5 de instituições públicas municipais e estaduais. É importante destacar que a composição também é equitativa na relação de gênero, com os cargos representativos de Presidente e de Vice-Presidente assumidos por mulheres, respectivamente da representação da sociedade civil organizada e do poder público municipal. 33 Quadro 3. Conselho de Administração do CODES - Sisal - Gestão 2011 - 2012. NOME Gilca Silva Morais CARGO Presidente REPRESENTAÇÃO FATRES Marilene Laranjeira da Silva Vice-Presidente Prefeitura Municipal de Itiúba Divanildo Almeida Gomes Secretário Executivo CODES – Sisal Gerlândio Araujo Lima Conselheiro APAEB Jacy Barreto de Souza Conselheira MMTR Gerson Luiz de M. Sacramento Conselheiro EBDA José Ivaldo Oliveira de Jesus Conselheiro DIREC-12 João Francisco da S. Neto Conselheiro MOC Tânea Maria Mota Rios e Rios Conselheira Prefeitura Municipal de Valente Helena Barreto de Souza Conselheira Prefeitura Municipal de Serrinha José Raimundo Carneiro Santos Conselheiro SEBRAE Fonte: CODES – Sisal (2001). A partir da composição, da atuação e das informações do colegiado do CODES – Sisal, foi estabelecido o índice de capacidade institucional do Território do Sisal, obtido através da aplicação da metodologia formulada pela SDA (SDT, 2010). A metodologia consistiu na aplicação de questionários fechados para os representantes das instituições do poder publico e sociedade civil que compõem o colegiado territorial. Como indicadores encontravam-se no questionário perguntas referentes à gestão do colegiado; capacidade organizacional; serviços institucionais disponíveis; instrumentos de gestão municipal; mecanismos de solução de conflitos; iniciativa comunitária e participação (Figura 3). 34 Figura 3. Variáveis da capacidade institucional no Território do Sisal – 2011. Fonte: SGE/CAI Território do Sisal – BA. Os questionários foram aplicados no período de março a abril de 2011 através de entrevistas realizadas pelas bolsistas da Célula. As entrevistas eram previamente agendadas em função da disponibilidade do membro do colegiado. O indicador de capacidade institucional encontrado foi de 0,425 (Quadro 4), considerado médio segunda a metodologia da SDT. Tal fato pode ser atribuído pelo conhecimento apresentado pelos membros da plenária do Colegiado Territorial. Observa-se que nos indicadores de capacidade institucional, dois aspectos apresentaram-se como médio baixo: os mecanismos de solução de conflitos e a participação. Esses aspectos referem-se respectivamente aos mecanismos e instâncias que os municípios do Território utilizam para as resoluções dos seus conflitos, bem como a presença de movimentos e espaços presentes como referências, e ao grau de participação das organizações municipais e dos beneficiários dos projetos na sua gestão, elaboração e demanda. 35 Quadro 4. Indicadores de capacidade institucional no Território do Sisal – 2011. Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Foram utilizados os indicadores de capacidades institucionais a partir da Gestão dos Conselhos na sua atuação nos projetos e nos programas de âmbito territorial, a partir dos financiamentos e da promoção da intersetorialidade das ações pelas instituições de âmbito e de ação territorial. Para isso, foram consideradas por um lado, as capacidades das organizações vinculadas ao segmento da agricultura familiar, principalmente as cooperativas, as associações, as centrais e as organizações comunitárias, e, por outro, os instrumentos de gestão municipal disponíveis para o desenvolvimento de sua gestão, na organização do espaço geográfico, com planos de ação, projetos e estratégias de coordenação com organizações governamentais federais e estaduais. A análise caracterizada a partir das trajetórias de implantação do Conselho Territorial, com identificação das organizações da sociedade civil e do poder público com a utilização de indicadores, será importante instrumento de avaliação da política de desenvolvimento territorial. Os indicadores permitem construir sistema de governança, a partir da democratização do conhecimento e da avaliação de ações de gestão. Para isso, o sistema de indicadores depende de sua seleção, estruturação e organização, capazes de quantificar informações. Nesse sentido, os indicadores precisam ser simples, objetivos, relevantes e acessíveis para condições analíticas (MAGALHÃES JUNIOR, 1996). 36 A construção dos indicadores sobre a Gestão Estratégica Territorial das Capacidades Institucionais refere-se aos recursos e condições disponíveis para a composição das estruturas organizacionais do Território Rural no seu arranjo produtivo, voltados para a gestão das políticas publicas, dos programas governamentais, dos projetos de execução, além do planejamento das organizações governamentais e de representação da sociedade civil no contexto do desenvolvimento rural sustentável (SGE, 2011). 5.0 - GESTÃO DO COLEGIADO Os resultados estatísticos encontrados na esfera da gestão do colegiado foram obtidos através da aplicação da metodologia formulada pela SDA (SDT, 2010), através da aplicação de questionários fechados junto aos membros do colegiado tanto da sociedade civil quanto a do poder público. Os questionários foram aplicados no período de fevereiro a agosto de 2011 através de entrevistas, mediante agendamento prévio. Quando perguntado sobre a existência ou não de um assessor técnico permanente na gestão do Colegiado 85,72% demonstraram conhecimento da sua existência, 9,52% declararam que o técnico não existia e 4,76% declararam desconhecer. Não há, na realidade, um assessor técnico permanente na Gestão do Colegiado do Sisal, há um Secretário Executivo indicado pelo colegiado que no entendimento dos entrevistados trata-se de um assessor técnico. Como esse Secretário Executivo atua há bastante tempo, é provável que os quase 10% que optou pela resposta negativa (gráfico 1) tenha essa compreensão: não se trata propriamente de um assessor. Gráfico 1. Existência de um assessor técnico que apóie permanentemente a Gestão do Colegiado 37 4,76% 9,52% Sim Não Não sabe 85,72% Fonte: SGE/CAI Território do Sisal – BA No âmbito das entrevistas, quando perguntado (gráfico 2) se no caso de não existir um assessor, existe algum outro técnico que apóie a ação do colegiado, aproximadamente 2,5 % disseram que existe um técnico do governo Estadual e a mesma quantidade se referiu a existência de um técnico do governo Federal. Com isso podemos constatar que a maior parte dos entrevistados desconhece o apoio dado ao colegiado pelo técnico, no caso do CODES Sisal, através da figura do diretor executivo. Gráfico 2 - No caso de não existir um assessor técnico, há algum outro técnico que apóie a ação do Colegiado. 55,81 60 50 37,21 40 30 20 10 2,33 2,33 Sim, um técnico do governo estadual Não 4,65 0 Não sabe Nâo se aplica Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA Outro 38 A seleção para integração dos membros do Colegiado é feita a partir de dois métodos: a simpatia e maior assiduidade nas reuniões. Aquelas pessoas que assumem costumeiramente posturas polêmicas e questionadoras ficam de fora, principalmente quando se observa que essas posturas não estão de acordo com o processo de construção coletiva. Esse constitui um desafio para a construção territorial que é a visão coletiva a partir de ações integradas e negociadas que precisa necessariamente se desvincular dos interesses apenas municipais e de suas respectivas instituições. No Gráfico 3, 86% do entrevistados afirmaram que a convocatória aberta para a eleição dos representantes se constitui como a forma predominante de escolha dos membros do Colegiado. Esse método demonstra um espaço de construção democrática para o envolvimento de seus representantes. Gráfico 3. Formas de seleção e a eleição dos membros do Colegiado do CODES Sisal. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 86,05 9,3 2,33 Convite pessoal Convocatória Convite direto a aberta para eleição organizações de representantes selecionadas 4,65 Outro Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA O Colegiado tem se reunido com relativa freqüência. O difícil, talvez, seja identificar o que são reuniões formais e informais, visto que a reuniões que deveriam ser formais, como aprovação de propostas para Plano SAFRA, Projetos PROINF, Carta Consulta BNDES etc., acabam se tornando informais, visto que não há sequer a prática de registro dessas reuniões. Observa-se no Gráfico 4 que ocorreram mais de 20 reuniões sejam elas de qualquer natureza, mas que foram necessárias para a construção do espaço do colegiado nas suas diversas temáticas e demandas. Gráfico 4. Reuniões formais o Colegiado realizou desde a sua constituição. 39 2,38% 4,76% Mais de 20 Entre 11 a 20 Não sabe 92,86% Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Segundo 52% dos entrevistados (gráfico 5) as reuniões acontecem a cada três ou quatro meses. Em quanto que aproximadamente 34% dos entrevistados, afirmaram se reunirem mensalmente. Notadamente há uma divergência entre a maioria dos entrevistados, tendo em vista que na prática ocorre mensalmente a reunião do colegiado a qual acontece na primeira quinta-feira de cada mês e não raras vezes, mais de uma reunião no mês. Gráfico 5. Frequência das reuniões do Colegiado 2,38% 2,38% 2,38% 7,14% Mensalmente 33,33% A cada três ou quatro meses 52,39% Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA O Gráfico 6 retrata que a freqüência do poder de decisão pertence com maior intensidade às instâncias dos representantes dos agricultores familiares e de movimentos sociais. Isso demonstra que o exercício de inclusão de participação da sociedade civil organizada na política territorial tem avançado, mas ainda apresentam desafios 40 principalmente para ampliação nesta capacidade. Isso demonstra que as representações dos agricultores familiares e de movimentos sociais saem de uma posição de subalternidade para o exercício da cidadania de decisões enquanto membros de um Colegiado Territorial. Gráfico 6. Avaliação da Capacidade de Decisão dos Membros do Colegiado Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Questões que integram os eixos temáticos do PTDRS e que deveriam estar na pauta do dia-dia do colegiado estão parcialmente contempladas (gráfico 7). Com maior freqüência destacam-se as temáticas de desenvolvimento agropecuário, meio ambiente e educação. Entretanto, necessita-se de maior dedicação, por parte do colegiado, nas temáticas menos contempladas. A exemplo: justiça e segurança, dentre outras. 41 Gráfico 7. Frequência no tratamento de temáticas no Colegiado do CODES – Sisal. Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA O Gráfico 8 retrata a situação do Território do Sisal em termos de problemas que prejudicam o colegiado, embora não contemple toda realidade. É notória a baixa capacidade técnica para avaliação de projetos, a baixa participação dos produtores, a influência política, a alta rotatividade dos membros do Colegiado Territorial e a pouca participação dos gestores públicos. Nesse sentido deve-se buscar estratégias para minimizar tais problemas na busca de uma melhor realidade para seu funcionamento. Gráfico 8. Freqüência dos Problemas que prejudicam o Colegiado. Fonte: SGE/CAI Território do Sisal – BA 42 Através do gráfico 9, por meio de perguntas com múltiplas respostas, pode-se observar que 97% dos entrevistados afirmaram ter participado na concepção e elaboração do plano territorial. O percentual passa a ser decrescente quando requer maior participação qualificada. Com isso pode-se constatar que possivelmente houve influencia negativa na qualidade do produto final. Gráfico 9. Qual o papel desempenhado pelo Colegiado na elaboração do diagnóstico territorial. 120 100 80 60 40 20 0 97,67 67,44 34,88 Participou na concepção e elaboração Participou das oficinas de discussão para sua formação Participou da revisão Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA O PTDRS é o documento onde se encontra a Visão de Futuro do Território do Sisal. Sendo conhecido por aproximadamente 98% dos entrevistados (gráfico 10), o que demonstra ser o referido documento uma referência como instrumento de planejamento de longo prazo para o território. Entretanto, mesmo o elevado percentual de conhecimento não garante que os membros conheçam amiúde os conteúdos existentes neste documento. 43 Gráfico 10. Existência de documento que contenha uma visão de longo prazo do território (Visão de Futuro) 2,44% 97,56% Sim Não sabe Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Em termos de elaboração do PTDRS 95 % dos entrevistados (Gráfico 11) afirmaram ter participado da concepção e elaboração. Contudo, apenas 25%, ou seja 11 membros do colegiado participaram da revisão. Um número relativamente baixo devido a importância que esse documento representa. Gráfico 11. Caso o território tenha o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS, qual foi o papel desempenhado pelo Colegiado Territorial na elaboração do mesmo 2,47% Participou na concepção e elaboração 13,58% Participou das oficinas de discussão para sua formação 50,62% Participou da revisão 33,33% Não sabe Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA 44 No que tange a tomada de decisão (gráfico 12) aproximadamente 63% dos entrevistados afirmaram adotar o acordo por consenso. De fato observa-se nas plenárias esse tipo de comportamento adotado. Gráfico 12. Indique quais dos seguintes mecanismos são utilizados para a tomada de decisões no Colegiado 4,65% Acordos por consenso Votação por maioria 41,86% 62,79% Articulação entre grupos (blocos) de interesse Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA O Gráfico 13 traz uma informação preocupante, apenas 34 % dos entrevistados afirmaram lançar mão da análise de viabilidade técnica nos projetos de cunho produtivo para o Território do Sisal. A informação de que 74% prioriza a seleção com base em critérios, não é uma informação norteadora, tendo em vista que a pergunta não especifica os critérios técnicos utilizados. Outra informação que nos remete a um questionamento, enquanto realidade, diz respeito ao índice de 11 % dos entrevistados que afirmaram disponibilizar de um especialista na área do projeto. A realidade territorial demonstra que é rara a existência de especialistas em áreas especificas, o que se observa é a presença de profissionais generalistas. 45 Gráfico 13. Quais ações são desenvolvidas pelo Colegiado para a gestão dos projetos de desenvolvimento territorial 11,63% Priorização e seleção com base em critérios 34,88% 74,42% 34,88% Análise de viabilidade técnica Avaliação interna de mérito Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA De modo geral, observando o gráfico 14, pode-se constatar que houve uma distribuição em termos de capacitação nas temáticas disponibilizadas aos membros do colegiado. Os percentuais apresentados para elaboração de projeto, desenvolvimento Territorial e elaboração de planos de desenvolvimento tidos como os mais representativos enquanto temáticas de capacitação não evidenciam na prática a utilização desses conhecimentos como ferramenta de desenvolvimento territorial. Gráfico 14. Em quais das seguintes áreas, os membros do colegiado receberam capacitação Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA 46 6.0 - AVALIAÇÃO DE PROJETOS A avaliação de projetos no contexto do Território do Sisal foi a partir da lista disponibilizada no SGE, divididos por programas de apoio a infraestrutura no período de 2003 a 2011, com dados da CEF. Os programas de apoio a infraestrutura no Território do Sisal foram o PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e o PROINF – Programa de Infraestrutura e Serviços. A avaliação de projetos de investimento financiados com recursos da Secretaria de Desenvolvimento Territorial concentra-se nos empreendimentos econômicos (casa de farinha, casa de mel, entre outros) e ou sócio-culturais (centro comunitário, escola família rural, entre outros) previstos como metas dos projetos que já foram concluídos, dentre outros. A coleta dos dados referentes à avaliação de projeto foi realizada a partir do Questionário de Avaliação de Projetos de Investimento (Q5) e visita aos empreendimentos quando tratou-se de infraestrutura (figura 4). Figura 4 – Fábrica de ração, municípios de Itiúba Foto: Equipe célula/pesquisa de campo Este instrumento, composto por 62 perguntas, contempla a coleta de informações para a fase de planejamento, execução, incluindo a implementação e o gerenciamento das 47 atividades dos empreendimentos em funcionamento e os indícios de impacto econômicos e sócio-culturais. Foi aplicado o questionário Q – 5 de Avaliação de Projetos as organizações proponentes dos respectivos projetos, em sua totalidade as prefeituras municipais dos 9 municípios do Território do Sisal (Barrocas, Conceição do Coité, Itiúba, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, São Domingos, Serrinha e Valente), conforme a lista de projetos de PROINF disponibilizada pelo SGE (quadro 5). 48 Quadro 5. Relação dos Projetos de Investimento do Território do Sisal, com proponente, localização, recursos financeiros e situação, da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT/ Ministério do Desenvolvimento Agrário – período de 2003 a 2011. PROGRA MA PRONAF PRONAF PROINF PROINF PROINF AFEM OBJETO Aquisição de Kit informática Aquisição de um veículo utilitário Implantação do matadouro e frigorífico misto Ampliação e modernização da infraestrutura física do mercado municipal da agricultura familiar Aquisição de motocicleta 125 CC LOCALIZA ÇÃO (Município) Barrocas Barrocas Barrocas Conceição do Coité PROPONENTE VALOR DO PROJETO VALOR DO MDA SITUAÇÃ O Prefeitura Municipal de Barrocas Prefeitura Municipal de Barrocas Prefeitura Municipal de Barrocas Prefeitura Municipal de Conceição do Coité 3.021,85 27.196,75 1.909.691,00 521.000,00 2.970,00 24.500,00 1.559.691,00 500.000,00 Conceição do Coité Itiúba Prefeitura Municipal de Conceição do Coité Prefeitura Municipal de Itiúba 15.755,63 13.110,00 Concluída 91.924,61 80.000,00 Concluída Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 295.006,94 250.000,00 Concluída Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 50.000,00 47.500,00 Concluída Concluída Concluída Concluída Não iniciada Não iniciada PROINF Aquisição de um conjunto: Trator e implementos Reforma e adequação da Central de Comercialização Aquisição de 02 veículos PROINF Aquisição de 02 veículos Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 50.000,00 47.500,00 PROINF Apoio Educação no Campo no Município de Itiúba – Ba. Implantação de Unidade de Produção de Ração Animal no Município de Itiúba – Ba Aquisição de veiculo, kit informática e kit irrigação Agregação de valor para a agricultura familiar através da construção de Abatedouro Frigorífico Construção de barragem, recuperação e instalação de poços artesianos, construção de cercas em áreas de pasto construção de uma sala Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 367.000,00 348.650,00 Normal Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 250.000,00 237.500,00 Normal Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 39.618,65 24.750,00 Itiúba Prefeitura Municipal de Itiúba 1.899.125,87 1.808.691,30 Monte Santo Prefeitura Municipal de Monte Santo 127.202,08 102.267,00 PROINF PROINF PRONAF PROINF PRONAF Concluída Não iniciada Concluída 49 PRONAF PRONAF PRONAF PROINF PROINF PRONAF PROINF PROINF PROINF PROINF PROINF PROINF PROINF PROINF ********* Aquisição de um kit informática Construção da Casa de Beneficiamento de Mel, aquisição de equipamentos Aquisição de um kit informática Assistência Técnica Nordestina Nordestina Prefeitura Municipal de Nordestina Prefeitura Municipal de Nordestina 3.000,00 36.927,77 2.970,00 34.650,00 Concluída Concluída Queimadas São Domingos São Domingos Serrinha Prefeitura Municipal de Queimadas Prefeitura Municipal de São Domingos Prefeitura Municipal de São Domingos Prefeitura Municipal de Serrinha 3.583,23 29.351,03 2.970,00 27.138,00 Concluída Concluída 53.816,68 50.000,00 Concluída 144.056,45 106.920,00 Concluída Serrinha Prefeitura Municipal de Serrinha 760.000,00 722.000,00 Não iniciada Tucano Governo do Estado da Bahia 445.234,02 200.000,00 Não iniciada Apoio a estruturação e funcionamento do Centro Tecnológico do Sisal Aquisição de motocicleta Valente Prefeitura Municipal de Valente 146.674,39 139.094,00 Concluída Valente Prefeitura Municipal de Valente 7.712,84 6.693,00 Concluída Apoio a Educação no campo por meio da estruturação do Centro de Formação e Capacitação Implantação de unidade de beneficiamento de Valente Prefeitura Municipal de Valente 200.000,00 194.000,00 Não iniciada Secretaria Estadual da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária Secretaria Estadual da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária Secretaria Estadual da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária 188.800,00 169.920,00 Não iniciada 112.360,00 101.124,00 Não iniciada 13.200.000,00 11.880.000,00 Não iniciada 20.978.059,79 18.684.608,30 Aquisição de 02 veículos de passageiros e 01 motocicleta Construção de entreposto de mel e cera de abelha, centro de treinamento. Aquisição de um kit informática Construção de uma Escola Família Agrícola de 2o Grau e aquisição de equipamentos Construção do Centro de Convenções Apoio a produção e comercialização do artesanato Execução de obras para aproveitamento de água subterrânea 28 projetos Fonte: Adaptado SGE (2011). ****** TOTAL ******** 50 A partir dos questionários aplicados, atribuíram-se valores por fase: A fase de planejamento engloba a definição da área de intervenção, diagnóstico e formulação de propostas. As fases de execução, preocupam-se em identificar as ações para garantir uma boa gestão do projeto e os indícios de impactos preocupam-se em identificar a abrangência dos resultados, atividades promovidas, nível de funcionamento do projeto, gerenciamento do empreendimento e comparação entre os resultados previstos e alcançados por eles. O cálculo é feito a partir de cada um destes componentes da avaliação gerando três indicadores para avaliar a fase de planejamento, de execução e de indício de impacto e um quarto grupo de indicadores que agrega resultados dos anteriores e foca-se em quatro variáveis chaves para a gestão territorial de projetos: participação, capacidade de gestão, público atendido e impactos positivos do projeto. A avaliação de cada um dos indicadores calculados varia entre 0 (zero) e 1, sendo o valor 1 a melhor avaliação e 0 (zero), a pior avaliação. Neste contexto, baseado nos indicadores de avaliação de projeto de investimento que estão atribuídos ao planejamento, gestão, execução e indícios de impacto (figura 5). A partir do CAI foi atribuído o índice médio de 0.399 sendo classificado como ruim para esse grupo de variáveis (Quadro 6). Figura 5 - Apresentação dos Indicadores de Avaliação de Projetos de Investimento Fonte: SGE/CAI Território do Sisal – BA 51 Quadro 6 – Indicadores Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Para a constituição dos indicadores de avaliação de projetos de investimento, cada variável é composta por sub variáveis. No caso específico da variável avaliação da fase de planejamento de projeto (figura 6) é composta por: a) Participação dos beneficiários na fase de planejamento do projeto, b) Capacidade de planejamento do projeto, c) Atividade sócio econômicas atendidas pelo projeto, d) papel das organizações locais no planejamento do projeto e, e) Organizações locais apoiadas pelo projeto, o qual obteve a atribuição ruim devido ao valor médio encontrado nessa variável de 0,277 ( Quadro 7). Contudo a sub variável “A” enquadrou-se como crítico na avaliação. Figura 6 - Avaliação da fase de planejamento de projeto Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA 52 Quadro 7 – Avaliação da Fase de Planejamento Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA No que tange a variável avaliação da fase de execução do projeto (figura 7), é composta por sub variáveis: a) Participação dos Beneficiários na Fase de Execução do Projeto, b) Capacidade de Execução do Projeto e c) Nível de Funcionamento do Projeto, sendo a variável que mais se destaca em termos de avaliação, obtendo o índice médio de 0,608 classificado como Bom (Quadro 8). Figura 7 - Avaliação da fase de Execução do projeto Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Quadro 8 – Avaliação da fase de execução do Projeto Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA 53 A figura 8 traz informações sobre os indicadores de indícios de impactos, os quais são formados pelas sub-variáveis: a) Públicos Atendidos pelos Projetos, b) Impactos Positivos na Qualidade de Vida dos Beneficiários, c) Tamanho do Mercado Coberto pelo Projeto e d) Impactos Positivos nas Condições Sócio-Político-Econômicas. Nesta variável há uma discrepância entre as sub-variáveis que há compõem. Observado o quadro 9, constata se que a sub variável “b” é enquadrada como Bom, a sub variável “ a” Regular, a sub variável “ c” Ruim e por fim a sub variável “d” Crítico. Figura 8 - Indícios de impactos Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Quadro 9 – Indícios de impactos Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Para finalizar os indicadores, a figura 9 apresenta a composição da variável Indicadores gerais de gestão dos projetos, composta por sub variáveis. a) Índice de Participação dos Beneficiários na Gestão do Projeto, b) Índice de Capacidade de Gestão do Projeto, c) Índice de Variação do Perfil do Público Apoiado e Atendido, e d) Impactos 54 Positivos para o Desenvolvimento Territorial (quadro 10). Essa variável foi enquadrada como Ruim na avaliação do CAI, o que demonstra a fragilidade territorial na gestão. Figura 9 - Indicadores gerais de gestão dos projetos Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Quadro 10 – Indicadores gerais de gestão do projeto Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA 55 7.0 - ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA - ICV O Índice de Qualidade de Vida (ICV) do Território do Sisal, foi obtido através da aplicação de questionários fechados em setores censitários de dez municípios do Território do Sisal: Monte Santo, Itiuba, Quijingue, Retirolândia, Conceição do Coité, Candeal, Tucano, Araci, Santaluz e São Domingos, investigando-se as condições de moradia, renda familiar, ocupação familiar, condições de habitação, dentre outras. Os questionários foram aplicados junto aos agricultores familiares no período de 15/02/2011 a 01/09/2011 através de entrevistas em loco (figura 3) pelas bolsistas, pelo técnico e pelos professores, com o acompanhamento de um interlocutor da comunidade cedido pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais - STR. Figura 10 – Aplicação de questionário município de Tucano – Ba. Fonte: Pesquisa de campo, 2011. 7.1 – Informações relevantes sobre população, educação, serviços básicos e comercialização do Território do Sisal: análise dos resultados 7.1.1 - Características da população do Território do Sisal Analisando os resultados sobre as características da população entrevistada pode-se observar que houve uma pequena superioridade entre a condição de chefe da família (48%), seguida pela esposa do chefe (45%). Esse percentual elevado da “esposa do chefe” está 56 relacionado ao fato de que no momento da entrevista, muitos chefes de família se encontrarem fora do domicílio, dedicando-se ao trabalho na unidade familiar. Quadro 11. Condição Familiar do Entrevistado, em 2010-2011. Total TERRITÓRIO DO SISAL Esposa do Filho(a) Outro Chefe membro da família % Nº % Nº % Nº % 48,46 118 45,38 14 5,38 2 0,77 Chefe da Família Nº % 260 100,0 Nº 126 Não é membro da família Nº % 0 0,0 Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Quanto à faixa etária dos entrevistados, 65% possuem idade superior a 41 anos e apenas 7% possuem idade inferior a 25 anos. Com isso pode-se constatar que as comunidades entrevistadas ainda há um predomínio de casais mais velhos, os quais optaram em se manter no campo. Quanto ao sexo, a situação é equilibrada com pequena vantagem para as mulheres. Quadro 12. Faixa etária e sexo dos entrevistados, em 2010 – 2011. Total Nº 260 % 100,0 TERRITÓRIO DO SISAL Faixa Etária (Anos) Sexo Até 25 26 a 40 Mais de 40 Feminino Masculino Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % 20 7,69 70 26,92 170 65,38 151 58,9 109 41,92 Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Uma característica marcante do Território do Sisal é a forte presença da agricultura familiar, sem a presença de latifúndios como encontrados na maioria dos territórios. O Território do Sisal é conhecido por ter em sua maioria agricultores familiares. No quadro 8, 80% dos entrevistados se enquadraram como agricultores familiares. Essa informação é relevante no fomento de políticas públicas voltadas para esse perfil de agricultor, o qual carece de maior atenção em todos os níveis de produção e comercialização. 57 Quadro 13. Perfil agrícola dos entrevistados, em 2010 – 2011. Total Nº 260 % 100,0 TERRITÓRIO DO SISAL Agricultura Familiar Agricultura Não familiar Nº % c/produção s/produção Nº % Nº % 209 80,38 4 1,54 47 18,08 Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA 7.1.2 - Características da educação do Território do Sisal As informações sobre educação, são de certa forma, surpreendentes: apenas 52 % dos entrevistados (Quadro 14) disseram que os membros das famílias maiores de 15 anos sabiam ler e escrever, e somente 10% declararam ter concluído o ensino fundamental (1º grau). Outro dado de extrema relevância é sobre a matricula das crianças e jovens na idade escolar: somente 56% disseram estar matriculados, o que significa que 44% estão fora da escola. Leve-se em conta que muitos têm sido os incentivos (transporte escolar, fornecimento de fardamentos e livros etc.) para integrar a população em idade escolar no sistema de ensino, o que parece não estar gerando os resultados esperados. Quadro 14. Situação Educacional dos Entrevistados, em 2010- 2011. Total Nº 213 TERRITÓRIO DO SISAL Membros das Pessoas adultas maiores de 15 anos que famílias completaram o alfabetizados 1º grau % Nº % 100,0 111 52,11 Fonte: SGE/CAI Território do Sisal - BA Nº 22 % 10,33 Pessoas em idade escolar que freqüentam a escola Nº 120 % 56,34 7.1.3 - Características de serviços básicos do Território do Sisal Em relação aos serviços básicos do Território do Sisal, o Quadro 15 mostra que 97% das famílias entrevistadas afirmaram possuir energia elétrica em suas residências rurais o que revela eficiência do programa luz para todos, entretanto, para a quase totalidade dos casos, a energia permite apenas a iluminação e uso de alguns aparelhos eletrodomésticos, não suportando equipamentos para a produção que exigem maior capacidade de força. Ainda segundo os dados do quadro 15, no que se refere a água, 91% dos entrevistados afirmaram possuir água dentro ou próximo de sua residência, o que pode significar água 58 potável, encanada, ou um simples barreiro; já 78% dos entrevistados possuem banheiro em suas residências. Quadro 15. Situação dos entrevistados em termos de serviços como energia, água e higiene familiar, em 2010 – 2011. Território Do Sisal - BA Nº de Pessoas Entrevistadas Energia Elétrica Água dentro ou próxima de casa Banheiros dentro de casa Nº Famílias % Nº Famílias % Nº Famílias % 97.18 194 91.08 167 78.40 213 207 Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA No que tange os equipamentos domésticos (quadro 16), 94 % disseram possuir fogão a gás, o que permite inferir que 6% utilizam ainda o tradicional fogão a lenha; 83% declararam possuir geladeira, 56% disseram possuir telefone (móvel) e apenas 1,4% declarou possuir computador. Quadro 16. Situação do uso de equipamentos domésticos, em 2010 – 2011. TERRITÓRIO DO SISAL Total Nº 213 Fogão a gás % 100,0 Nº 201 % 94,37 Geladeira Nº 178 % 83,57 Telefone Nº 120 % 56,34 Computador Nº 3 % 1.41 Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA 7.1.4 - Características de comercialização do Território do Sisal No quadro 17 encontram – se informações sobre as características de comercialização dos produtos oriundos dos entrevistados. 23% dos entrevistados avaliaram como mais para ruim a ação dos atravessadores. Em termos de logística para acessar o mercado 19% também taxaram como mais para ruim. Quanto à venda dos produtos também houve superioridade negativa (mais para ruim), 20%. Tais dados podem nos nortear sobre a fragilidade e carência em termos de comercialização dos produtos, necessitando de ações eficazes e eficientes por parte do poder público. 59 Quadro 17. Avaliação das Condições de Comercialização, em 2010 – 2011. Avaliação Mais para Ruim Mais para Bom Atuação dos atravessadores TERRITÓRIO DO SISAL Condições Condições Condições TOTAL para chegar para a de venda ao mercado compra de dos (distância, insumos produtos transporte) Nº % Nº % Nº % Nº % 28 13,15 32 15,02 27 12,68 108 38,57 Nº 21 % 9,86 49 23,00 42 19,72 37 17,37 44 20,66 172 61,48 Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA 7.2 – Composição do Índice de qualidade de vida - ICV Segundo a metodologia da SDT, o ICV é composto por informações contidas em três dimensões: Fatores, Características e Efeito de Desenvolvimento. O resultado da análise dessas variáveis que compõem cada dimensão, ao seu final compuseram o indicador que revela o nível de melhoria na qualidade de vida dos entrevistados, segundo sua percepção. O índice varia de 0 a 1, onde 1 é o melhor nível. Os dados foram extraídos da base de dados do SGE. a) Dimensão 1 – Fatores do desenvolvimento No que tange os fatores estão contidas as informações extraídas das entrevistas em termos de número de famílias trabalhando; mão de obra familiar; área utilizada para a produção; escolaridade; condições de moradia; acessos aos mercados; programas do governo; acesso a credito; acesso a assistência técnica e presença de instituições A figura 11 revela que quanto maior a distância da linha de cor rosa da extremidade da linha, mais crítica encontra-se a situação da variável. Pode-se observar, por exemplo, o quanto são críticas as situações de escolaridade e assistência técnica, ao contrário das boas condições de moradia e da presença de instituições. 60 Figura 11 – Composição dos Fatores de Desenvolvimento Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA O ICV referente aos fatores de desenvolvimento, relativo ao número de famílias trabalhando, considerado Médio, poderia ter sido Alto, tendo em vista que todas as famílias de agricultores familiares inserem-se no processo de trabalho na unidade familiar, inclusive as crianças que assumem funções auxiliares no trabalho produtivo a partir de 6-7 anos de idade. Quanto à mão de obra, apenas o cultivo e extração do sisal envolve mão de obra de fora da família, o que, certamente, foi o fator determinante para o índice encontrado (Médio). Fora disso, exceto em momentos de realização de mutirões, quando se juntam trabalhadores da mesma ou de diferentes comunidades, para uma determinada tarefa ou em situações excepcionais, como a colheita de determinado produto, dificilmente há contratação de mão de obra, prevalecendo o trabalho dos membros da própria família na unidade de produção. A área utilizada para a produção é sempre muito pequena. Segundo o Censo Agropecuário (IBGE, 2006), 79% dos estabelecimentos agrícola do conjunto dos municípios do Território têm até 20 Ha, e somente 2,7% têm mais de 100 Ha, o que implica no uso intensivo de toda área disponível. A educação é bastante crítica. Em 2000, 58,7% da população tinham menos de 4 anos de estudo (analfabetismo funcional) e 35,4% eram considerados analfabetos (o analfabetismo técnico e funcional somavam mais de 90%) e a população com 10 anos ou mais de estudo correspondia a apenas 3,1%. Mesmo admitindo que o quadro hoje já não é mais o mesmo (o analfabetismo técnico caiu para 18% da população com 15 anos ou mais), considerando os resultados apurados no Quadro 18, o resultado deveria apresentar-se abaixo de médio. 61 As condições de moradia são consideradas razoáveis. Embora se encontrem, ainda, muitos casos de habitações em condições bastante precárias (sem reboco, piso, banheiro etc.) e com cobertura com materiais impróprios. A grande maioria dispõe das condições básicas de habitabilidade e possuem alguns eletrodomésticos como aparelho de TV (quase 100% dos casos), móveis, fogão a gás e geladeira. O ICV encontrado para acesso a mercados foi de 0,420 Médio Baixo, quase no limite para baixo, o que efetivamente corresponde à realidade, visto ser um dos grandes gargalos da agricultura familiar que comercializa, ainda, grande parte da sua produção através de intermediários (atravessadores) que adquire os produtos por preços que variam entre 30% e 50% abaixo dos preços de mercado. A institucionalização desses mecanismos se constitui num dos fatores geradores da pobreza rural, considerando que implicam, sempre, na extorsão dos verdadeiros produtores. Quanto a Programas de Governo o destaque é para o Luz para Todos, que efetivamente tem ampliado de forma significativa o número de famílias atendidas, e o Água para Todos, do governo do Estado, que se confunde com o P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas), fruto de uma articulação entre o governo federal, a iniciativa privada, o governo estadual e as ONGs. Muito provavelmente o índice Médio alcançado esteja em função desses programas em conjunto com o PBF e o INSS. Poucos agricultores utilizam o crédito em seu processo produtivo, daí ser estranha a posição identificada (índice Médio). Através de questionário complementar pode-se identificar que menos de 1/4 (um quarto) dos entrevistados acessou o crédito rural nos últimos três anos, o que se explica especialmente pela burocracia do agente financeiro: a dificuldade é muito grande, o agricultor vai uma, duas, até cinco vezes ao banco e não resolve nada, aí ele não pode continuar perdendo tempo e desiste9. Por outro lado, levantamento feito pelo CODES-Sisal mostrou que nos últimos cinco anos apenas 5% dos agricultores familiares têm acessado o crédito. Já no caso da assistência técnica, a situação é ainda mais crítica. Embora o índice encontrado tenha sido Médio Baixo (0,342), pode-se constatar através de questionário complementar que menos de 10% dos entrevistados declararam receber tais serviços. Além disso, lideranças comunitárias do Território têm questionado a validade da assistência técnica, levantando dúvidas quanto à sua qualidade e efetiva utilidade para os agricultores, sugerindo uma revisão urgente na qualificação dos técnicos e nos procedimentos metodológicos. 9 Depoimento da Presidente do CODES/Sisal. 62 Quadro 18. Fatores de Desenvolvimento DIMENSÃO 1: FATORES DO DESENVOLVIMENTO Número de famílias trabalhando Mão de obra familiar Área utilizada para produção Escolaridade Condições de moradia Acesso aos mercados Programas do Governo Acesso a crédito Acesso a assistência técnica Presença de instituições Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA Legenda: ICV - T 0,566 0,555 0,588 0,484 0,658 0,420 0,510 0,446 0,342 0,663 DOMICÍLIOS DOMICÍLIOS COM AGRICULTURA PRODUÇÃO FAMILIAR 0,566 0,565 0,555 0,588 0,484 0,658 0,420 0,510 0,446 0,342 0,663 0,554 0,590 0,482 0,659 0,415 0,508 0,444 0,343 0,665 0,00 – 0,20 = Baixo 0,20 – 0,40 = Médio Baixo 0,40 – 0,60 = Médio 0,60 – 0,80 = Médio Alto 0,80 – 1,00 = Alto. b) Dimensão 2 – Características do desenvolvimento Compõe as características do desenvolvimento as variáveis: Renda familiar; Produtividade do trabalho; Produtividade da terra; Diversificação da produção agrícola; Diversificação nas fontes de renda familiar; Conservação das fontes de água; Conservação da área de produção: solo e Preservação da vegetação nativa (figura 12). Conforme figura 12, observa - se que quanto maior a distância da linha de cor rosa da extremidade da linha, mais crítica encontra-se a situação da variável. 63 Figura 12 .Características do desenvolvimento Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA A renda familiar encontrada com índice médio de 0,589 (quadro 19) poderia ser superior, no entanto com a migração dos jovens para a sede do município ou para outros pólos de trabalhos a exemplo colheita de café, cana e algodão, construção civil, acaba contribuindo negativamente, não permitindo perspectivas de elevação futura de tal variável. A produtividade do trabalho, da terra e a diversificação da produção agrícola, estão diretamente relacionada com fatores climáticos, acesso a crédito e à assistência técnica rural (ATER) de qualidade. Os índices encontrados são considerados Médios nas duas primeiras (Quadro 19), porém poderiam ser elevados caso houvesse melhorias em termos de acesso a crédito e ATER de qualidade. O mesmo acontece para a variável diversificação da produção agrícola a qual foi atribuído o índice (0, 279) considerado Médio baixo. Com o pior índice (0,245) na dimensão: Característica da produção, a variável diversificação na fonte de renda familiar (Quadro 19) é considerado como um dos principais gargalos da família agrícola. Esse fato pode estar relacionado com as condições que envolvem a localização do Território do Sisal, a qual é caracterizada por concentrar grande parte de sua mão de obra no setor público municipal e possuir parte de sua renda dos benéficos sociais. Pelos índices encontrados no Quadro 19, pode-se considerar que as variáveis de Conservação das fontes de água e Conservação da área de produção: solo é uma preocupação dos entrevistados, quando comparadas com as outras variáveis. Contudo quando analisou-se a variável preservação da vegetação nativa, há uma diferença negativa de quase 50% do índice. Isso é visível pois praticamente não se encontra área de vegetação nativa no Território do Sisal, e as que ainda resistem estão sendo alvo do desmatamento para alimentar os fornos das olarias. 64 Quadro 19. Características do Desenvolvimento DIMENSÃO 2: CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO Renda familiar ICV - T 0,589 DOMICÍLIOS COM PRODUÇÃO 0,589 DOMICÍLIOS AGRICULTURA FAMILIAR 0,589 Produtividade do trabalho 0,519 0,519 0,518 Produtividade da terra 0,518 0,518 0,517 Diversificação da produção agrícola 0,279 0,279 0,276 Diversificação nas fontes de renda familiar 0,254 0,254 0,250 Conservação das fontes de água 0,629 0,629 0,627 Conservação da área de produção: solo 0,606 0,606 0,606 Preservação da vegetação nativa 0,377 0,377 0,376 Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA LEGENDA: 0,00 – 0,20 = Baixo 0,20 – 0,40 = Médio Baixo 0,40 – 0,60 = Médio 0,60 – 0,80 = Médio Alto 0,80 – 1,00 = Alto. c) Dimensão 3 – Efeitos do desenvolvimento No que se refere aos efeitos do desenvolvimento, as variáveis Condições de alimentação e nutrição; Condições de saúde; Permanência dos familiares no domicílio; Situação econômica; Situação ambiental; Participação em organizações comunitárias; Participação política e Participação em atividades culturais compõem essa dimensão. Conforme figura 13, observa-se que quanto maior a distância da linha de cor rosa da extremidade da linha, mais crítica encontra-se a situação da variável. 65 Figura 13. Efeitos do desenvolvimento Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA As variáveis de condições de alimentação e nutrição e condições de saúde possuem os índices bem próximos (Quadro 20), o que se justifica pela relação existente de complementaridade entre ambos. Quanto ao índice de permanência dos familiares no domicílio, é mais elevado das três dimensões que compõe o ICV (0,830), Quadro 20. Pode ser ilustrado com a visível permanecia de alguns filhos os quais acabam casando e constituindo família ainda na casa de seus pais. Em muitos casos, são os avôs quem mantém essas famílias compostas por três gerações com o beneficio da aposentadoria fomentada pelo governo. Situação econômica tem como base a agricultura, mesmo tendo o setor de serviços representado como o grande empregador da mão de obra. O índice encontrado (Quadro 20) sobre a situação ambiental territorial (0,438) está muito abaixo do desejado, contudo quando observamos a situação dos rios que cortam o território; os topos dos morros desmatados; as pastagem degradadas; a exploração continua de solo para produção de telhas, bloco e tijolos; a exploração indiscriminada de retirada de pedras utilizando explosão por dinamite; a devastação das caatingas; extermínio da fauna, dentre outros. Podemos constatar a veracidade do baixo índice encontrado e ao mesmo tempo perceber a necessidade de intervenção imediata na contra mão da situação existente visando buscar soluções para solucionar ou minimizar tais situações. Em referência ao quadro 20 as variáveis que compõe a dimensão três: Participação em organizações comunitárias; Participação política e Participação em atividades culturais apresentam ICV médio bem próximos. No que tange a participação em organizações comunitárias, observa-se no Território do Sisal um relativo número de associações, cooperativas e ONGs, inclusive algumas dessas com maior representatividade Territorial 66 compõe o colegiado. A participação política e notória, principalmente no período pré eleitoral, onde as organizações e prefeitura tendem a apoiar representantes nas diferentes esferas governamentais com interesses particulares das organizações. Em termos de participação de atividades culturais, pode-se destacar a tradicional vaquejada da cidade de Serrinha, a romaria da cidade de Monte Santo e alguns grupos de cantiga de roda, rezadeiras e grupos de repentistas, esses últimos diminuindo com o passar do tempo. Quadro 20. Efeitos do desenvolvimento DIMENSÃO 3: EFEITOS DO DESENVOLVIMENTO 17. Condições de alimentação e nutrição DOMICÍLIOS DOMICÍLIOS DOMICÍLIOS SEM COM AGRICULTURA PRODUÇÃO PRODUÇÃO FAMILIAR 0,687 0,700 0,628 0,699 18. Condições de saúde 0,649 0,651 0,638 0,650 19. Permanência dos familiares no domicílio 0,830 0,839 0,787 0,840 20. Situação econômica 0,673 0,690 0,596 0,690 21. Situação ambiental 0,438 0,472 0,282 0,472 22. Participação em organizações comunitárias 0,653 0,667 0,590 0,669 23. Participação política 0,639 0,651 0,585 0,654 24. Participação em atividades culturais 0,601 0,613 0,548 0,615 ICV -T Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL – BA 7.3 – Índice de condições de vida médio baseado nas três dimensões Após a análise das informações contidas nas três dimensões: Fatores, Características e Efeito de Desenvolvimento, chegou – se ao índice de Qualidade de vida médio do Território do Sisal o qual foi encontrado o valor de 0,544 (figura 14), considerado médio segundo a classificação metodológica da SDT (Quadro 21). Conforme figura 14, podemos observar que quanto maior a distancia da linha de cor rosa da extremidade da linha, mais critica encontra-se a situação da variável. 67 Figura 14 - Índice de Condições de Vida Médio Fonte: SGE/CAI Território DO SISAL - BA Quadro 21. Indicadores ICV INDICADORES Índice de Condição de Vida – ICV - Fatores de Desenvolvimento - Características do Desenvolvimento - Efeitos do Desenvolvimento 0,544 0,534 0,470 0,661 Médio Médio Médio Médio Alto Fonte: SGE/CAI Território do Sisal – BA Legenda: 0,00 – 0,20 = Baixo 0,20 – 0,40 = Médio Baixo 0,40 – 0,60 = Médio 0,60 – 0,80 = Médio Alto 0,80 – 1,00 = Alto. O índice médio do ICV encontrado foi 0,516, classificando-se como Médio para o conjunto dos fatores utilizado, o que contraria um conjunto de indicadores socioeconômicos: o Índice Médio de Desenvolvimento Humano (IDH-M) para o conjunto do Território é de 0,600, portanto, baixo; a produtividade média das principais culturas (sisal, mandioca, milho e feijão), é considerada das mais baixas; o índice de renda familiar encontrado foi 0,590, considerado na faixa de médio, entretanto, próximo da faixa seguinte; quando se solicitou, através de questionário complementar, que fosse declarada a renda familiar, 47,7% disseram que a renda familiar era de até meio salário mínimo apenas 75% declararam que a renda familiar era de até um salário mínimo, o que revela certa coerência com o baixo PIB per capita registrado (apenas R$ 3.190,00/ano). 68 8.0 - ANÁLISE INTEGRADORA DE INDICADORES DE CONTEXTO Das categorias analisadas para o aspecto de Identidade Territorial como fatores mais significativos, aparecem a agricultura familiar, o político e a economia, sendo classificados como alto. Visivelmente o valor atribuído é identificado quando se analisa as ações a nível do território desses três aspectos. No segundo plano, a pobreza e o ambiente estão classificados como médio-alto. Ambos são gargalos no território: A pobreza em função da baixa remuneração praticada, falta de empregabilidade e das oportunidades produtivas comuns no semiárido baiano as quais são limitadas pela escassez e irregularidade de chuvas, solos pobres e rasos, e ausência de rios perenes que permitam a implantação de projetos de irrigação. O meio ambiente por não se observar ações mínimas de preservação ambiental no Território, fruto de não haver um trabalho de conscientização da população quanto a exploração do solo, dos recursos hídricos e do bioma caatinga de modo racional. Enquanto que se enquadram como médio, os aspectos relacionados à colonização e a etnia. Pois estão diretamente relacionados com a colonização portuguesa, fruto de um processo de interiorização relacionado aos fatores econômicos como a pecuária e mineração. Para os indicadores de capacidade institucional, dois aspectos apresentaram-se como médio baixo: os mecanismos de solução de conflitos e a participação. Esses aspectos referem-se respectivamente aos mecanismos e instâncias que os municípios do Território utilizam para as resoluções dos seus conflitos, bem como a presença de movimentos e espaços presentes como referências, e ao grau de participação das organizações municipais e dos beneficiários dos projetos na sua gestão, elaboração e demanda. A gestão do colegiado tem se apresentado com limitações não só pela baixa capacidade de resolução dos problemas do território e articulação, que de certa forma decorre pela baixa capacidade de gestão dos principais atores envolvidos, bem como pela falta de clareza do papel de cada um. Neste contexto, baseado nos indicadores de avaliação de projeto de investimento que estão atribuídos ao planejamento, gestão, execução e indícios de impacto, foi atribuído o índice médio de 0.399 sendo classificado como ruim. Pode-se constatar através da falta de projetos estruturantes no âmbito territorial. Falta desses, refletem negativamente nas condições de vida da população do Território do Sisal, resultando em níveis críticos de 69 pobreza, baixa escolaridade, precariedade no serviço de saúde, saneamento básico, abastecimento de água e moradia. 9.0 - PROPOSTAS E AÇÕES PARA O TERRITÓRIO 9.1 – Realizar novas pesquisas para o Território do Sisal: a) Pesquisar as cadeias produtivas na realidade territorial com vistas a oferecer elementos para o desenvolvimento socioeconômico sustentável do Território; b) Pesquisa de oportunidades de investimentos nos diferentes setores da economia territorial com vista a disponibilizar subsídios para ações de desenvolvimento publicas e privadas; c) Empreender esforços no sentido de agregar outros setores acadêmicos, especialmente da UEFS, UNEB e UFRB, nas ações do Território, com a perspectiva de contribuírem para a realização de pesquisas específicas e de atividades setoriais. 9.2 - Propostas de qualificação do Território do Sisal A consolidação e fortalecimento da política de territorialidade, no Território do Sisal, Bahia, dependem de algumas medidas que se consideram indispensáveis: a) Instituir uma assessoria técnica, com pessoas comprometidas com a política de territorialidade, porém qualificada tecnicamente, que possa contribuir para maior qualificação das ações e melhor desempenho do CODES sisal. Leve-se em conta que a constituição do Consórcio dos Municípios do Território do Sisal (CONSISAL) vem atraindo as atenções do poder público municipal, relegando a sua participação nas ações do Território e, se não houver uma ação mais qualificada do CODES sisal, o CONSISAL pode se constituir numa “ameaça” às ações do colegiado. b) Reativar e reestruturar os GTs temáticos (Grupos de Trabalho), com possível supressão de alguns e criação de outros, instituindo-se uma dinâmica própria de atuação. Atualmente, muitos dos GTs que foram instituídos no processo de formação do Território não funcionam e precisam ser revistos. Por outro lado, esses GTs foram estruturados como órgãos vinculados e dependentes da direção do CODES sisal, o que precisa ser revisto, para que tenham vida própria. c) O nível de escolaridade dos representantes das organizações da sociedade civil e do poder público é muito baixo, o que se reflete diretamente na funcionalidade do 70 Território. É urgente pensar numa sistemática de formação, de forma contínua, que possa contribuir para melhor qualificação das lideranças, o que se refletirá imediatamente no desempenho do CODES sisal e na funcionalidade do Território10. A médio prazo, há a perspectiva de avanços, com a possibilidade de implantação do Campi Semiárido pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), cujo processo de discussão e de negociação está sendo conduzido pelo CONSISAL com a participação direta do CODES sisal. Uma comissão formada por professores da UFRB, com representantes do CONSISAL e do CODES sisal, está sendo formada para elaborar um (pré)projeto. Essa medida é considerada de grande potencial para o desenvolvimento sustentável territorial nas áreas da pesquisa, da qualificação da população e da formação de uma massa crítica no Território. d) Urge também a construção da sede própria do CODES11 que possa lhe dar identidade própria. Atualmente, ao ocupar um espaço de uma organização local 12, convive-se com uma grande confusão para a maioria das pessoas, o que é fortalecida pelas rotinas de trabalho. e) Revisar o PTDRS, definindo as principais cadeias produtivas como prioritárias para o desenvolvimento econômico do Território: sisal e ovinocaprinocultura. 10 Está em discussão, com a Equipe da Célula, um Curso de Formação com foco nas seguintes temáticas: desenvolvimento regional, desenvolvimento sustentável, território, território de identidade, agricultura familiar, projetos e gestão territorial. 11 Há um projeto aprovado pela SDT desde 2008, através da Prefeitura Municipal de Valente, mas que encontra dificuldades políticas para a sua implementação. 12 Fundação de Apoio aos Trabalhadores da Região do Sisal (FATRES). 71 10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O Território do Sisal, na Bahia, como a grande maioria dos Territórios Rurais, enfrenta grandes dificuldades na sua afirmação enquanto entidade promotora do desenvolvimento rural sustentável local, conforme apresentado e discutido neste relatório. A interação entre a equipe da Célula e Colegiado Territorial está servindo, de um modo geral, para reflexão dos principais protagonistas do CODES sisal no sentindo de reconhecer as principais dificuldades, seja ao nível da compreensão da realidade socioeconômica local – onde a pesquisa está tendo importante papel, seja ao nível da estruturação e organização do colegiado, que se reflete no baixo nível de participação, com destaque para o poder público municipal; as dificuldades de atuação dos Grupos de Trabalho Temáticos; e o processo de gestão territorial com as limitações no acesso às políticas públicas, dentre outros. Essas dificuldades, assim, são de dois níveis: algumas, situam-se no espaço de governança do CODES sisal, outras, na esfera macro das políticas públicas. Nesse sentido, chamam a atenção para as dificuldades de relacionamento com o agente financeiro na gestão dos recursos destinados a projetos estruturantes ou de custeio (Caixa econômica Federal) e de acesso ao PRONAF, limitando-se a cerca de 5% dos agricultores familiares. Uma das principais causas das fragilidades identificadas reside no baixo nível de qualificação dos representantes do poder público e da sociedade civil e nos conflitos decorrentes do jogo de interesses políticos, o que se pretende enfrentar com um Curso de Formação que está sendo planejado para os principais protagonistas do Território. Conforme foi registrado, os instrumentos de pesquisa utilizados não deram respostas para muitas questões próprias da realidade local, ou deram respostas que se contrapõem a outros dados e à observação empírica. Isso, entretanto, não diminui a sua importância, seja pelo conjunto de dados produzidos, que está gerando todo um processo de discussão e de aprendizado, seja pela metodologia empregada, que também contribui para o fortalecimento da política de territorialidade. 72 11. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento contemporâneo. Texto para Discussão n° 702. Rio de Janeiro: IPEA, 2000. AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e Sertanejos: uma geografia humana sofrida. In: Estudos Avançados 13(36). São Paulo: USP, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v13n36/v13n36a02.pdf>. Acesso em: 22 abr 2011. ARRETCHE, Marta T. S. Políticas Sociais no Brasil: Descentralização em um estado federativo. XXI meeting of the Latin American Studies Association. Chicago, Illinois, September 24-26, 1996. BARROSO, Gustavo. À margem da História do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962. BENKO, Georges. 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(cesso 15/04/2009) WWW.ibge.gov.br – Cidades@ (acesso 02/08/2011). 12.0 - Anexos 12.1 - Anexo I - Validação de Instrumentos e Procedimentos Analisar a condição de vida de uma população pressupõe incorporar múltiplas dimensões quantitativas e qualitativas: 1. Fatores quantitativos: a) Renda per capita; b) preços dos bens e serviços básicos (alimentação, transporte, comunicação); c) produção para o auto-consumo e para o mercado. 2. Fatores qualitativos: a) Acesso a serviços públicos de educação, saúde, segurança; b) espaços de participação social; c) grau de subordinação política; d) situação cultural; e) Condições de habitabilidade. Entre outros. No Brasil, há ainda o agravante de que a pobreza se associa a outros fatores geográficos, raciais e sexuais. Ao não contemplar esses e outros elementos, o ICV encontrado acaba constituindo-se num índice superficial, com riscos de dissociação da realidade concreta que determina a condição de vida da população. 1. No Território do Sisal, quase 70% dos estabelecimentos agrícolas têm menos de 20 hectares, em condições edafoclimáticas adversas e somente 3% têm mais de 100 ha. Considerar apenas se a unidade familiar de produção é maior ou menor do que o módulo rural (50 ha) escamoteia a realidade. 2. Muitas questões poderiam ser mais precisas. Alguns exemplos: a) Energia elétrica: uso doméstico e na produção; b) Água dentro ou próximo de casa. São situações completamente distintas. Água perto de caso pode significar – e no caso, provavelmente significa – um simples barreiro com água poluída que abastece a unidade familiar e os animais; c) Banheiro dentro de casa. No semiárido nordestino, a palavra “banheiro” não tem o mesmo significado na cidade. Pode significar apenas um “local pra tomar banho” (a exemplo de um cômodo com quatro paredes sem chuveiro ou qualquer outro equipamento, apenas para garantir a privacidde) e não um local com vaso sanitário, lavatório etc. d) Avaliar “mais para bom” ou “mais para ruim” estabelece uma margem muito grande. Sabe-se que no Território do Sisal a questão da comercialização dos produtos da agricultura familiar é um dos maiores gargalos, alimentando um 75 sistema de intermediação (atravessadores) que retém parte significativa dos ganhos dos agricultores. Apesar disso, a avaliação “mais para bom” saiu vitoriosa (Quadro 17 - Comercialização) o que, certamente, não retrata a realidade. 12.2 Anexo II - Relatório de Pesquisa (Questionário Complementar) RELATÓRIO DE PESQUISA (Questionário Complementar) 1.0 – INTRODUÇÃO A população da zona rural, ao longo dos anos, vem diminuindo drasticamente com a queda nas taxas de natalidade das últimas décadas e com o acelerado ritmo do processo de urbanização, com a migração relativamente intensa da população rural, especialmente o segmento juvenil. Esse fenômeno já reflete na falta de mão de obra para as atividades rurais, especialmente para o cultivo e extração do sisal, constituindo-se num grande gargalo e numa forte ameaça à economia do Território, com reflexos negativos na cadeia da ovinocaprinocultura e na produção de mandioca, milho e feijão. A partir da necessidade de se compreender melhor as mudanças sociais e econômicas que estão em curso, a partir de uma leitura por parte da Equipe da Célula do Território de Cidadania do Sisal, Bahia, sobre o questionário para identificação do ICV, decidiu-se elaborar um pequeno questionário complementar com algumas questões específicas que pudessem oferecer informações sobre a situação socioeconômica da população, cujos resultados estatísticos e pequena análise são apresentados a seguir. 76 2.0 - METODOLOGIA Aproveitando o momento da aplicação dos questionários nos municípios do Território de Cidadania do Sisal para estabelecimento do Índice de Condição de Vida (ICV), com amostragem e municípios previamente definidos pela SDT, elaborou-se um “Questionário Complementar” que foi aplicado com o mesmo número de entrevistados que compuseram a amostra, com questões elaboradas para “respostas fechadas” sobre o tamanho da família, tamanho da propriedade, a presença de jovens, a renda familiar, crédito e a assistência técnica, o que oferece resultados estatísticos complementares aos obtidos pelo questionário do ICV. Os questionários foram aplicados com o/a chefe da família ou representante familiar, após a aplicação do questionário do ICV. 3.0 - RESULTADOS O índice geral do ICV encontrado foi 0,516 (média dos índices específicos), classificando-se como Médio para o conjunto dos fatores utilizados, o que de certa forma corresponde ao Índice Médio de Desenvolvimento Humano (IDH-M) que para o conjunto do Território é de 0,600, portanto, médio-baixo; entretanto, produtividade média das principais culturas (sisal, mandioca, milho e feijão), é considerada das mais baixas; o índice de renda familiar encontrado pelo ICV foi 0,590, considerado na faixa de médio (próximo da faixa seguinte), enquanto 47,7% dos entrevistados declararam que a renda familiar era de até meio salário mínimo apenas 75% declararam que a renda familiar era de até um salário mínimo, o que revela certa coerência com o baixo PIB per capita registrado (apenas R$ 3.190,00/ano). 3.1 Tamanho da Família A tabela seguinte evidência que a numerosa família rural já não existe mais: 60% das famílias entrevistadas possuem entre 3 e 5 membros, seguido por 21% possuem apenas dois membros, ou seja, o chefe da família e seu cônjuge e apenas 18% têm seis pessoas ou mais. Dentre os municípios objeto de estudo, Conceição do Coité, Monte Santo e Santaluz, possuem 82% dos seus estabelecimentos familiares de 3 a 5 membros. 77 Tabela I - Número de membros por estabelecimento familiar Municípios Até 02 Araci 3 Candeal 2 C. do Coité 2 Itiuba 8 Quijingue 10 Monte Santo 7 Retirolândia 3 Santaluz 4 São domingos 5 Tucano 10 Total 54 % 20,8 Fonte: Pesquisa de Campo 2011. 3.2 03 a 05 06 a 08 12 9 20 15 9 34 5 19 21 12 156 60,0 9 4 3 3 7 9 1 2 0 4 42 16,2 Mais de 08 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 5 1,9 N/R Total 1 0 0 0 0 2 0 0 0 0 3 1,1 26 16 26 26 26 52 10 26 26 26 260 100 Presença dos Jovens Quanto aos jovens, estes parecem estar abandonando definitivamente o campo. Do total de famílias entrevistadas, 62% declararam não haver nenhum jovem com idade entre 18 e 24 anos residindo no domicílio familiar e em 33% das famílias há um ou dois jovens, conforme os dados do quadro seguinte. Discutindo o assunto com as lideranças da sociedade civil do Território, elas são unânimes em afirmar que os jovens estão, efetivamente, abandonando seu habitat; acredita-se que a maioria migra para os centros urbanos e uma parcela expressiva está se deslocando para atividades agrícolas noutros Estados, especialmente Minas Gerais e Mato Grosso do Sul (migração sazonal). Conversando com um desses jovens que estava de mala arrumada para o Mato Grosso do Sul, ele deu a seguinte declaração: ficando aqui, trabalhando dez horas por dia, ganho R$ 80,00 por semana; lá, cortando cana, trabalhando dez horas, posso ganhar R$ 80,00 por dia. Há um movimento juvenil organizado que tem discutido essa questão e tem levantado o problema da descontinuidade da família rural com o argumento de que a família não confia repassar para os jovens espaços significativos da sua propriedade, o que os deixa sem condições, inclusive, de recorrer aos meios necessários para a atividade produtiva, inclusive o Pronaf Jovem. 78 Tabela II – Número de membros da família residentes nos domicílios rurais com idade entre 18 a 24 anos. Municípios Nenhum Até 02 Araci 13 Candeal 11 C. do Coité 22 Itiuba 19 Quijingue 18 Monte Santo 23 Retirolândia 3 Santaluz 13 São domingos 21 Tucano 18 Total 161 % 61,9 Fonte: Pesquisa de Campo 2011. 10 4 4 6 6 29 3 12 5 6 85 32,7 03 a 04 Mais de 04 Total 3 1 0 1 2 0 1 1 0 2 11 4,2 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 3 1,2 26 16 26 26 26 52 10 26 26 26 260 100 3.3 Renda Familiar Um dos grandes desafios dos últimos governos é o combate a miséria, que vem recebendo especial atenção nos últimos anos, com políticas públicas direcionadas, no entanto, no que se refere aos municípios, objeto da pesquisa, localizados no território do Sisal, 44% das famílias entrevistadas afirmaram sobreviver com apenas meio salário mínimo, ou seja, pouco mais de R$ 60,00 reais por semana. O município mais crítico, em termos percentuais é o município de Conceição do Coité com 80% vivendo com até meio salário mínimo, seguido por Quijingue, Itiuba, São Domingos e Santaluz, com 70%, 60%, 54% e 50%, respectivamente. No conjunto, 71,5% declararam que a renda familiar mensal situa-se entre meio e um salário mínimo e somente 3% declararam renda igual ou superior a dois salários mínimos. Tabela III - Renda Familiar (Casal e filhos) Municípios Até -1/2 1/2 a - 1,0 a -2,0 02 SM SM 1,0 SM SM ou mais Araci Candeal Conceição do Coité Itiuba 8 5 21 15 9 5 5 7 9 6 0 3 0 0 0 1 NR Total 0 0 0 0 26 16 26 26 79 Quijingue 18 Monte Santo 17 Retirolândia 3 Santaluz 13 São domingos 14 Tucano 1 Total 115 % 44,2 Fonte: Pesquisa de Campo 2011. 3.3 6 17 4 7 2 9 71 27,3 1 13 2 6 4 11 55 21,2 0 2 1 0 6 5 15 5,7 1 3 0 0 0 0 4 1,4 26 52 10 26 26 26 260 100,0 Terra Disponível A renda familiar tem a ver, certamente, com o tamano da terra utilizada pela unidade familiar de produção. Embora o Censo Agropoecuário tenha registrado (IBGE, 2006), que 68% das propriedades do conjunto dos Municíopios do Território do Sisal tivessem até 20 (vinte) hetares (40% do módulo rural), encontrou-se uma situação ainda mais crítica: 70,8% dispõem de até 20 (vinte) hectares, sendo que 55,4% dispõem de até 08 (oito) hetares. Por outro lado, 17,3% dos entrevistados declararam não possuir terra própria e atuam na condição de posseiros, meeiros ou arrendatários. Tabela IV – Terra Disponível. Área Disponível (Ha) Até -1 1 a -2 2 a -8 8 a -20 20 ou mais Não Possuem terra Total Nº 71 14 59 40 31 45 260 % 27,3 5,4 22,7 15,4 11,9 17,3 100,0 Fonte: levantamento de Campo, 2011. 3.4 Crédito O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), criado em 1996, quando foi institucionalizada a política nacional da agricultura familiar; é considerado por estudiosos, pelas representações dos agricultores familaires e pelo governo como o principal instrumento para o fortaleciemnto da agricultura familiar, com 80 resultados no aumento da produção de alimentos e na melhoria da qualidade de vida no meio rural. Financia projetos individuais ou coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária com as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais: 0,5% a 4,5% ao ano. Os agricultores pesquisados preenchem plenamente os critérios de participação no Pronaf, quais sejam: a) trabalhar na terra em condição de proprietário, posseiro, arrendatário, b) parceiro ou concessionário (assentado) do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA); c) residir na propriedade rural ou em local próximo; d) dispor de área inferior a quatro módulos fiscais; e) ter renda bruta familiar, nos últimos 12 meses, inferior a R$ 110 mil; f) ter, no máximo, dois empregados, sendo que a mão de obra deve ser prioritariamente familiar13. O Pronaf possui linha de crédito que atende a custeio e investimentos. O mesmo possui modalidades que variam de acordo com o tipo de enquadramento ou necessidade de atores agropecuários, tais como: Microcrédito Rural (grupo A ou A/C, e grupo B), Pronaf Mulher, Pronaf Semi-Árido, Pronaf Agroecologia, Pronaf Agroindústria, Pronaf Eco, Pronaf Floresta, Pronaf Custeio e Comercialização de Agroindústrias Familiares, Pronaf Cota-Parte e Pronaf Mais Alimentos. Os índices de participação dos agricultores familiares do Nordeste nas variadas linhas de crédito do Pronaf têm sido muito inferiores aos verificados, por exemplo, nas regiões Sudeste e Sul do país. Entre os fatores que explicam pequeno acesso dos agricultores familiares nordestinos está a burocracia imposta pelo agente financeiro, como atesta a presidente do CODES Sisal: o agricultor dá muitas viagens ao banco, perde muito tempo, não resolve e acaba desistindo, sendo ainda pior nos casos da mulher e do jovem. Notadamente, por se tratar de um Território onde a agricultura familiar é representativa, teoricamente os Pronaf B e Pronaf Geral que estão enquadrados na linha de Microcrédito Rural deveriam ser os mais acessados. Entretanto, conforme demosntrado no quadro seguinte, não se constatou tal fato tendo em vista que 70% dos entrevistados 13 SDT/MDA. Acesso ao Pronaf; saiba como obter crédito para a agricultura familiar (2010-2011). Brasília: SDT/MDA-SEBRAE, s.d., p.8. 81 afirmaram não ter acessado nenhuma tipo de linha de credito nos ultimos 3 anos, sendo o o Pronaf B (conhecido como Pronafinho) o mais acessado (25%), sendo que quase 82% dos que participaram do crédito se concentram nos municípios de Monte Santo, Retirolândia, Santaluz e São Domingos. Observe-se que não se registrou nenhum acesso ao crédito nos municípios de Candeal e Quijingue, e apenas um caso nos municípios de Araci e Itiúba. Para o Pronaf Jovem, apenas um registro, em Monte Santo e Pronaf Mulher, nenhum rgistro foi apresentado, o que se confirma com declarações de lideranças do território que afirmam haver pouquíssimos casos no conjunto dos municípios. Tabela V – Número de agricultores familiares que acessaram Pronaf nos últimos 3 anos Municípios PRONAF PRONAF PRONAF PRONAF Nunca Total Geral B Jovem Mulher acessou Araci 1 0 0 0 25 26 Candeal 0 0 0 0 16 16 C. do Coité 0 2 0 0 24 26 Itiuba Quijingue Monte Santo Retirolândia Santaluz São domingos 0 0 4 1 0 0 1 0 19 9 20 12 Tucano 7 2 Total 13 65 % 5,0 25,0 Fonte: Pesquisa de Campo 2011. 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 25 26 28 0 6 14 26 26 52 10 26 26 0 1 0,4 0 0 0 17 181 69,6 26 260 100 No período de 2005 a 2009 foram realizadas 29.343 operações de crédito, nas várias modalidades do Pronaf, numa média anual de 5,9 mil; quanto aos recursos, foram acessados R$ 66,8 milhões, o correspondente a R$ 15,4 milhões a cada ano, o que é um volume muito reduzido para uma população rural de 333.182 pessoas (2010). Observe-se que o número de beneficiários vem decaindo desde 2005, registrando-se também redução no volume de recursos a partir de 2006. Considerando-se a média de 3,5 pessoas por família, e tomando-se por base a população de 2010, em 2009, o número de famílias rurais seria 95,2 mil; considerando 82 também ter havido uma operação por família, apenas 5,0% teriam acessado o crédito naquele ano. Tabela VI – Número de Operações e Volume de Recursos liberados pelo Ponaf no Território do Sisal no período 2005-2009. Ano 2005 2006 2007 2008 2009 Total Nº de Operações 7.889 6.820 5.224 4.609 4.801 29.343 Valor R$ 14.518.000,00 16.735.000,00 14.419.000,00 9.549.000,00 11.541.000,00 66.762.000,00 Fonte: CODES/Sisal. 3.5 Assistência Técnica A assistência técnica tem sido um grande desafio no Brasil. As primeiras iniciativas surgem com a Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural (ANCAR), na década de 195014, para atender ao momento de expansão do capital na agricultura; o governo militar, pressionado pelo capital internacional, institui o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIBRATER) da década de 1970, com a criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) que foram extintos pelo governo Collor (1990), aumentando ainda mais o fosso já existente. A partir da Constituição de 1988, mobilizações começam a surgir, desta feita da iniciativa das organizações da sociedade civil e entidades representativas da pequena agricultura (agricultura familiar, agricultura camponesa etc.), conquistando-se, a partir da década de 1990, algumas medidas promissoras, a exemplo da institucionalização da Política Nacional de Agricultura Familiar, através da Lei de nº 11.326/2006. A medida mais importante, entretanto, foi a instituição da política nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, através da Lei nº 12.188/2010. Apesar disso e da destinação de somas de recursos cada vez mais volumosos nos últimos anos, a assistência técnica continua distante para a grande maioria dos agricultores familiares do Estado da Bahia, cuja responsabilidade pertence à Empresa Baiana de Desenvolvimento e 14 Na Bahia, a Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural da Bahia (ANCARBA), foi fundada em 1963. 83 Extensão Agrícola – EBDA, que, devido às suas fragilidades15 e incapacidade de atender aos agricultores familiares de 417 municípios, tem levado o governo ao estabelecimento de parcerias com ONGs para a prestação de serviços de assistência técnica. Contudo, mesmo com essa medida não foram supridas as necessidades de ATER apresentadas pelos agricultores e evidenciadas nos dados agropecuários do IBGE onde não apresentam aumento de produtividade não cadeias produtivas do Território do Sisal ao longo dos últimos 10 anos. O quadro seguinte demonstra que o número de agricultores familiares que recebem assistência técnica regularmente nos municípios objeto da pesquisa é de apenas 9%; do total de entrevistados, 88% afirmaram não receber esse tipo de serviço de nenhuma instituição, o que contribui para a fragilidade do processo produtivo, de forma que os produtores continuam excluídos das possibilidades de incorporação de tecnologias e outros procedimentos capazes de aumentar a produtividade das cadeias produtivas. Afora isso, embora não se tenha levantado essa informação com os entrevistados, as lideranças comunitárias e sindicais do Território do Sisal reconhecem que a assistência técnica prestada pouco contribui para a dinamização do sistema produtivo da agricultura familiar, o que denuncia a qualidade dos serviços prestados. Tabela VII – Número de Agricultores que recebem visitas técnicas por instituições do Território. Municípios Recebem Araci 1 Candeal 0 Conceição do Coité 1 Itiuba 1 Quijingue 0 Monte Santo 12 Retirolândia 1 Santaluz 6 São domingos 2 Tucano 7 Total 31 % 11,9 Fonte: Pesquisa de Campo, 2011. 15 Não Recebem 25 16 25 25 26 40 9 20 24 19 229 88,1 Total 26 16 26 26 26 52 10 26 26 26 260 100,0 A empresa foi completamente sucateada nos últimos anos, com grandes deficiências de infraestrutura e de recursos humanos. 84 4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelos dados coletados e analisados através do questionário complementar, o Índice de Condição de Vida para os itens abordados mostram-se diferentes do obtido pelo “Questionário ICV” o que aponta para desafios ainda maiores, com destaque para a continuidade da unidade familiar de produção, para a renda familiar, o crédito e a assistência técnica. Quanto à assistência técnica, por exemplo os dados sugerem que sejam repensados, urgentemente, novos procedimentos metodológicos que permitam que seus resultados se reflitam no ICV da população. Desse modo os dados da pesquisa longe de serem conclusivos nos remetem a realidades que devem ter olhares diferenciados e portanto, soluções especificas. Conclui-se, no entanto, que a pratica adotada a partir de um olhar intervencionista ou na melhor das hipóteses assistencialista não deram os resultados requeridos pela população do território. 5.0 - REFERENCIAS IBGE. WWW.ibge.gov.br – Cidades@ (acesso 02/08/2011). LAKI, Polan. A Extensão Rural e o Desenvolvimento da Agricultura: uma alternativa prática para uma situação de crise. FAO – TCP/RLA/6658, Oficina Regional para América Latina e Caribe. Santiago: 1987 (mimeo). PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2001 (http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDHM%2091%2000%20Ranking%20decrescente%20(pelos%20dados%20de%202000). SDT/MDA. Acesso ao Pronaf; saiba como obter crédito para a agricultura familiar (20102011). Brasília: SDT/MDA-SEBRAE, s.d. 85