IHGP REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO ANO C – JOÃO PESSOA – FEVEREIRO – 2012 – Nº. 42 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO Fundado em 07 de setembro de 1905 Considerado de Utilidade Pública pela Lei Estadual nº 317/1909 57043-080 – Rua Barão do Abiaí, nº 64 – João Pessoa – Paraíba Gestão 2010/2013 PRESIDENTE Joaquim Osterne Carneiro VICE-PRESIDENTE Humberto Fonsêca de Lucena SECRETÁRIO GERAL Itapuan Bôtto Targino 1º SECRETÁRIO Ricardo Tadeu Feitosa Bezerra 2ª SECRETÁRIA Maria Balila Palmeira TESOUREIRO Adauto Ramos DIRETOR DE ATIVIDADES CULTURAIS Padre Ernando L. T. de Carvalho COMISSÃO DA REVISTA Joaquim Osterne Carneiro Humberto Fonsêca de Lucena José Nunes da Costa FOTO DA CAPA: Presidente do Estado da Paraíba, Álvaro Lopes Machado um dos fundadores do IHGP, em 7 de setembro de 1905. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO - JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO ................. | 05 ARTIGOS ................................................................................. • ESBOÇO HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DA MAÇONARIA NA PARAÍBA JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO .................................................... • DO VARADOURO À JACARÉ - ADAUTO RAMOS ........................... • RELEMBRANDO ANTIGOS ENGENHOS - ADAUTO RAMOS ............ • SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS DE BANANEIRAS - CARLOS ALBERTO AZEVEDO ................................................................................. • A CIDADE QUE NASCEU DE UMA CANÇÃO - DORGIVAL TERCEIRO NETO ....................................................................................... • IMAGENS DA MISERICÓRDIA EM TRÊS IGREJAS DE JOÃO PESSOA ERNANDO LUIZ TEIXEIRA DE CARVALHO ...................................... • UM IMPORTANTE DETALHE DA ATIVIDADE JORNALÍSTICA E DA 07 | 09 | 19 | 21 | 25 | 41 | 45 CONTRIBUIÇÃO HISTORIOGRÁFICA DE UM FECUNDO E LONGEVO PLÍGRAFO: JOÃO CORIOLANO DE MEDEIROS, SÓCIO FUNDADOR 07 DO IHGP - GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D’ÁVILA LINS ................................................................ • POLÍTICA SOCIAL - SÍNTESE HISTÓRICA - MARIA AUXILIADORA BEZERRA BORBA ...................................................................... • O POPULISMO RADICAL E SUAS REPERCUSSÕES NA ASSEMBLÉIA DA PARAÍBA (1961/64) - JOSÉ OCTÁVIO DE ARRUDA MELLO .......... • PORQUE ESCREVER BIOGRAFIAS - MARIA JOSÉ TEIXEIRA LOPES GOMES ..................................................................................... E PATRONO DA CADEIRA Nº | 55 | 65 | 71 | 87 NOVAS POSSES ................................................................... • P OSSE DO S ÓCIO E FETIVO M ODESTO S IEBRA C OELHO DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO HISTORIADOR HUMBERTO FONSECA DE LUCENA .................................................................................... • DISCURSO PROFERIDO PELO HISTORIADOR MODESTO SIEBRA COELHO, QUANDO DA SUA POSSE NA CAD. 06, DO IHGP .............. • POSSE DO HISTORIADOR JOSÉ MOTA VICTOR - DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO HISTORIADOR FLÁVIO SÁTIRO FERNANDES ............... • DISCURSO PROFERIDO PELO HISTORIADOR JOSÉ MOTA VICTOR, QUANDO DA SUA POSSE NA CADEIRA 15, DO IHGP ........................ • POSSE DO HISTORIADOR RÔMULO DE ARAÚJO LIMA - DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO HISTORIADOR JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO ...... • DISCURSO PROFERIDO POR GUSTAVO GUIMARÃES LIMA NA POSSE DO HISTORIADOR RÔMULO DE ARAÚJO LIMA ................................ • DISCURSO PROFERIDO PELO HISTORIADOR RÔMULO DE ARAÚJO LIMA, QUANDO DE SUA POSSE NA CADEIRA 40, DO IHGP.............. PALESTRAS E PRONUNCIAMENTOS ......................... • MARLENE ALMEIDA: A PRESENÇA DA MULHER PARAIBANA NAS ARTES PLÁSTICAS - NEIDE MEDEIROS SANTOS ............................ • OS CEM ANOS DA REVISTA DO IHGP - HUMBERTO FONSECA DE LUCENA .................................................................................. • ERNANY SÁTIRO E OS VALORES DO SEU TEMPO - FÁTIMA ARAUJO • VINTE ANOS DA FUNDAÇÃO ERNANY SÁTIRO - FLÁVIO SÁTIRO FERNANDES ............................................................................. • QUARENTA ANOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO - FLÁVIO SÁTIRO FERNANDES ................................................................. • RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DO IHGP NO EXERCÍCIO DE 2011 - JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO ................................................ | 93 | 95 | 103 | 117 | 121 | 143 | 149 | 153 | 161 | 163 | 169 | 175 | 179 | 183 | 189 APRESENTAÇÃO A pós o lançamento da Revista Nº 41, em 15 de abril de 2011, oportunidade em que foram comemorados os 100(cem) anos de existência deste periódico do IHGP Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, é com satisfação que lançamos a Revista número 42, que a exemplo das anteriores traz artigos dos historiadores Humberto Fonseca de Lucena, Adauto Ramos, Joaquim Osterne Carneiro, Carlos Alberto Azevedo, Dorgival Terceiro Neto, Guilherme Gomes da Silveira d‘Ávila Lins, Ernando Luiz Teixeira de Carvalho, José Octavio de Arruda Mello, Maria José Teixeira Lopes Gomes, Maria Auxiliadora Bezerra Borba, Fátima Araújo e Flavio Sátiro Fernandes. Além disso, foram igualmente inseridos, os discursos de saudação proferidos pelos confrades Humberto Fonseca de Lucena, Flavio Sátiro Fernandes e Joaquim Osterne Carneiro e os pronunciamentos de posse dos novos associados do IHGP, Rômulo de Araujo Lima, José Mota Vitor e Modesto Siebra Coelho, afora um trabalho da Escritora Neide Medeiros Santos, enfocando o Dia Internacional da Mulher. Finalmente, está sendo apresentado nesta revista, o Relatório das Atividades do IHGP referente ao exercício de 2011. Joaquim Osterne Carneiro Presidente ARTIGOS 9 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 ESBOÇO HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DA MAÇONARIA NA PARAÍBA* Joaquim Osterne Carneiro** I) Considerações iniciais Ao abordar a Maçonaria ao longo da história da Paraíba, nos acostamos ao que afirmou o historiador, jornalista e escritor Hélio Nóbrega Zenaide, em uma lúcida exposição que fez no Ciclo de Debates “A PARAIBA NOS 500 ANOS DO BRASIL”, realizado pelo IHGP - Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, no período de 15 de setembro a 12 de novembro de 1999, quando declarou: “A Maçonaria é uma instituição que procura contribuir para o aperfeiçoamento moral, intelectual, social, cultural e material do homem, buscando cultivar, sob a égide de Deus – o grande Arquiteto do Universo - a prática da fraternidade humana universal, sem distinção de raça, cor, nacionalidade, pensamento filosófico, ideal político ou religião.” Sociedade de caráter universal, a Maçonaria, por intermédio dos seus integrantes, cultiva a filantropia e a justiça social, de conformidade com os princípios da liberdade, da democracia, da igualdade do aperfeiçoamento intelectual e da fraternidade. Nessas condições, se constitui numa associação filosófica, filantrópica e educativa, fazendo mister ressaltar que tem como lema a Justiça, o * Trabalho apresentado na Augusta e Respeitável Loja Simbólica Tabajara Nº 6. João Pessoa, em 03 de setembro de 2009. ** Engenheiro Agrônomo, Escritor e Historiador. Sócio efetivo e atual Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Pertence também ao Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica; a Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro - Núcleo da Paraíba; ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; a Academia Limoeirense de Letras; ao Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano; e a União Brasileira de Escritores da Paraíba. Como técnico exerceu no DNOCS os seguintes cargos: Diretor Geral Adjunto 10 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Trabalho e a Verdade e como divisa a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. ASLAN (1979), no seu trabalho sobre a história geral da Maçonaria, informa que a entidade chegou ao continente americano lutando contra o colonialismo e adotando os ideais da Independência e da República, se infiltrando por meio das denominadas sociedades secretas aqui existentes. Assim, às fls. 35 da História Geral da Maçonaria anteriormente aludida, Nicola Aslan afirmou o seguinte: “No Brasil, o movimento pela independência teve inicio no seio das sociedades secretas, que tanto tinham de literárias como de políticas, e das quais podem ser aqui citadas: 1752 – Associação Literária dos Seletos, no Rio. 1759 - Academia dos Renascidos, na Bahia. 1772 - A Cientifica, no Rio. 1786 - Academia Ultramontana, no Rio. 1796 – Areópago de Itambé, em Pernambuco. Mas, de todas essas sociedades secretas, a que maior importância e celeridade alcançou foi, sem dúvida, esta última. Vários autores ligam o Areópago à Maçonaria, afirmando-se mesmo que ele estava organizado nos moldes das Lojas Maçônicas. O seu fundador, Dr. Manoel de Arruda Câmara, formara-se em Montpellier, na França, cuja universidade, fundada em 1289, celebrizara-se, principalmente, pelo ensino da medicina. E Montpellier foi importante centro maçônico, onde, por volta de 1778, o famoso beneditino Antônio José Pernety formara o Rito da Academia dos Verdadeiros Maçons, inteiramente dedicado ao ensino das ciências herméticas”. No dizer de Zenaide, naquela época existiam cinco lojas de Operações; Assessor do Diretor Geral; Diretor da Diretoria de Irrigação; Diretor da Diretoria de Agronomia;Coordenador do Convênio DNOCS/IRYDA resultante do Acordo Complementar de Cooperação Técnica no Campo da Irrigação e da Luta Contra a Seca, firmado entre o Brasil e a Espanha; Representante do DNOCS no Comitê de Acompanhamento da Pesquisa sobre Industrialização de Áreas Rurais no Nordeste do Brasil – Convênio DNOCS/ BNB-27/72; Chefe do 2º Distrito de Fomento e Produção; e, Chefe do Instituto Agronômico José Augusto Trindade. Exerceu também os cargos de Coordenador de Recursos Naturais do PRODIAT – Projeto de Desenvolvimento Integrado da Bacia do Araguaia -Tocantins, REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 11 maçônicas em Montpellier, de onde Arruda Câmara trouxe os ideais da Revolução Francesa representados pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Ainda no tocante ao Areópago de Itambé, o historiador Hélio Nóbrega Zenaide na exposição anteriormente referida explicitou o seguinte: “Na REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO PERNAMBUCANO, XIX, 1917, pgs. 171-172, num trabalho sobre As Sociedades Secretas de Pernambuco, lê-se a transcrição da seguinte nota de Oliveira Lima: A primeira loja maçônica fundada em Pernambuco foi o Areópago de Itambé. Foi seu fundador Manoel de Arruda Câmara. Faziam parte desta loja desde 1798 entre outros, o irmão de Arruda Câmara, que era médico, como ele, os três irmãos Francisco, Luiz Francisco e José Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque, o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, discípulo de Arruda Câmara, o capitão André Dias Figueiredo, os padres Antonio e Felix Velho Cardoso, José Pereira Tinoco, Antônio de Albuquerque Montenegro. Em 1801, com a denúncia de conspiração levantada contra os irmãos Cavalcante, o Areópago foi dissolvido”. Concomitantemente, dando sequência ao seu raciocínio Hélio Zenaide afirmou: “Vários paraibanos maçons frequentaram o Areópago de Itambé, como registra Irineu Pinto Ferreira, e, assim, podemos considerá-lo também paraibano. Até gente de Itabaiana e de Pilar ia para as reuniões do Areópago de Itambé. Uma dessas pessoas era o padre Antônio Pereira de Albuquerque, de Pilar, que foi preso e condenado à morte. Ele era da família de Francisco Dias de Melo Montenegro e do padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro. Outra era o padre Antônio Felix resultante do Convenio firmado entre o Brasil e a OEA - Organização dos Estados Americanos; Secretário de Recursos Hídricos do Governo do Estado da Paraíba; Secretário Executivo da CEPA/PB - Comissão Estadual de Planejamento Agrícola; Assessor do Governador da Paraíba com exercício na Secretária do Planejamento; e, Superintendente do SENAR/PB – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional da Paraíba. Atualmente exerce o cargo de Assessor de Gabinete da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Ciência e Tecnologia do Governo do Estado da Paraiba. Autor de mais de oitenta trabalhos – livros, plaquetas e artigos - . 12 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Velho Cardoso, de Itabaiana. Essas informações estão em Irineu Pinto, no livro NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA, 1º VOLUME”. Convém recordar que, Manoel de Arruda Câmara era filho de Francisco de Arruda Câmara e de Maria Saraiva da Silva, nasceu em Pombal – PB em 1752 e faleceu em Goiana – PE em 02 de outubro de 1810. Sua família era oriunda de cristãos novos, ou seja, de judeus convertidos à força ao cristianismo, na Província Ibérica e no continente americano, por perseguição da Santa Inquisição. Em 23 de novembro de 1783 ingressou na Ordem dos Carmelitas Calçados no Convento de Goiana e em seguida juntamente com o pai e o irmão Francisco viajou a Europa a fim de estudar, tendo concluído o curso de Filosofia Natural em Coimbra - Portugal e posteriormente o de Doutor em Medicina na Universidade de Montpellier, na França. Em 1794 retornou ao nosso país, fixando-se em Goiana – PE, com a incumbência de realizar levantamentos dos recursos naturais da Região Nordeste. Nos anos de 1794 e 1795 implementou estudos mineralógicos em Pernambuco e no Piauí, e, de dezembro de 1797 a julho de 1799, desenvolveu suas atividades na Paraíba e no Ceará. No decorrer de suas viagens, executou levantamentos mineralógicos e zoológicos, escreveu sobre a agricultura, sendo necessário destacar o trabalho que realizou como botânico principalmente sobre a flora de Pernambuco. Na capital do Estado da Paraíba foi homenageado e nesse sentido seu nome se faz presente numa reserva florestal e num zoológico – Parque Arruda Câmara. Ao mesmo tempo, na Academia Paraibana de Letras é Patrono da Cadeira Nº 2 e tem como fundador Eugenio de Carvalho e atualmente é ocupada pela escritora Adylla Rocha Rabelo. II) Algumas considerações sobre a Maçonaria no Brasil. O Grande Oriente do Brasil se constitui na mais antiga potência maçônica brasileira, ou seja, a associação de Lojas Maçônicas, também chamada de Obediência Maçônica. Foi fundado em 17 de junho de 1822, a partir da junção de três lojas - Comércio e Artes, União e Tranquilidade, Esperança de REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 13 Nictheroy -, de acordo com CASTELLANI(1993). Seu primeiro Grão Mestre foi José Bonifácio de Andrada e Silva, que depois passou a fazer parte da Loja Maçônica Esperança de Nictheroy, conforme assinala Nicola Aslan em seu trabalho “ Pequenas Biografias de Grandes Maçons Brasileiros” lançado em 1973. Após a Independência do Brasil, ou mais precisamente em 04 de outubro de 1822, Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paulo Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, Dom Pedro I, se tornou o segundo Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil. III) Considerações sobre a Maçonaria na Paraíba. Preliminarmente devemos levar em conta que, a expansão do liberalismo no mundo ocidental, coincidiu com a denominada Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, que eclodiu em 06 de março de 1817 e que se estendeu também pela Paraíba e outros Estados do Nordeste. Dentre suas causas podem ser destacadas a conjuntura econômica regional, o absolutismo monárquico português e a influencia das idéias iluministas propagadas pelas sociedades secretas, como as lojas maçônicas. Os ideais libertários chegaram ao Brasil através dos viajantes estrangeiros e por meio dos livros que incentivavam o sentimento de revolta entre a elite pernambucana, que já participava ativamente desde o fim do século XVIII de sociedades secretas como as lojas maçônicas. Em Pernambuco, entre as sociedades secretas, além do Areópago de Itambé aqui já aludido, podem ser citadas a Patriotismo, a Restauração, a Pernambuco do Ocidente e a Pernambuco do Oriente, onde eram permitidas a discussão e a difusão das “ infames idéias francesas”. Os participantes da Revolução de 1817 lutavam pela Independência do Brasil, contra o regime monárquico e o sistema colonial e desejavam um governo republicano, como acontecera nos Estados Unidos da América do Norte. No respeitante ao desenvolvimento da maçonaria na Paraíba, 14 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 o nosso confrade Hélio Nóbrega Zenaide declarou que, em 1822 foi fundada na capital paraibana a LOJA MAÇÔNICA PELICANO, sendo esta a primeira instituição do gênero que existiu na província. Ao mesmo tempo, disse que não dispunha de maiores informações a respeito da supracitada loja. Em seguida, o aludido escritor e historiador declarou “ Temos noticia de que a primeira Loja Maçônica efetivamente instalada na Paraíba depois da Independência, foi fundada em1865, com o nome de LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO BRASÍLICA”, que funcionava nesta capital. Neste mesmo ano foi fundada, em Mamanguape, a LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E BENEFICÊNCIA e, em 1873 na cidade de Campina Grande, a LOJA MAÇÔNICA SEGREDO E LEALDADE. A fundação dessas lojas coincidiu com o surgimento das ideias republicanas na Paraíba enquanto já se esboçava na capital do Império, o movimento em favor da abolição da escravatura, que tinha o apoio da Maçonaria. Um fato histórico merece ser relembrado, o conflito acontecido em Campina Grande entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Este acontecimento se acha relacionado com a conhecida Questão Religiosa, quando o padre Calixto da Nóbrega, então vigário da Rainha da Borborema, declarou guerra a Maçonaria. Participou igualmente dessa luta o padre José Antônio Maria Ibiapina que era um missionário de grande atuação e conceito. Hélio Nóbrega Zenaide descreve assim esse acontecimento: “Eles instigaram, de tal forma, o povo de Campina Grande, contra a Maçonaria, que os maçons esperavam, de uma hora para outra, uma explosão de fanatismo exacerbado. E isso não demorou. J. Leite Sobrinho, pesquisador da história maçônica paraibana, escreveu uma página relatando o desfecho dessa luta. Em 1875 surgiu uma nova Loja Maçônica em Campina Grande, a LOJA MAÇÔNICA VIGILÂNCIA E SEGREDO, e, logo em seguida, uma outra, a LOJA MAÇONICA RENASCENÇA. Era um desafogo: mais duas Lojas Maçônicas em Campina Grande? Chegou outro missionário á cidade, o frei Herculano e, ao realizar uma Santa Missão, arrastou o povo às ruas, instigou, invadiu e destruiu a LOJA MAÇÔNICA RENASCENÇA”. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 15 O padre Ibiapina nasceu em Sobral-CE, no dia 05 de agosto de 1806 e faleceu em Solânea – PB, em 19 de fevereiro de 1883. Era um homem culto, formado em Direito e aos quarenta e sete anos iniciou sua obra missionária, percorrendo o Nordeste e cuidando da construção de igrejas, cemitérios, capelas e açudes, nas áreas mais pauperizadas da região. No tocante a Questão Religiosa, faz-se preciso relembrar que, desde o período colonial a Igreja Católica como instituição era submetida ao Estado. Essa situação se manteve após a Independência do Brasil (07 de setembro de 1822) e significava, dentre outras coisas, que nenhuma Ordem do Papa poderia vigorar no país, sem que fosse previamente aprovada pelo Imperador Dom Pedro II (Pedro de Alcântara João Carlos Salvador Bebiano Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Gonzaga). Era o chamado Beneplácito. Ocorreu que, em 1872, Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Bispo de Olinda e Dom Antônio de Macedo Costa, Bispo Diocesano de Belém do Pará, resolveram seguir por conta própria as ordens do Papa Pio IX, não ratificadas pelo Imperador Dom Pedro II, punindo religiosos ligados à maçonaria. Em virtude disso, Dom Pedro II resolveu intervir na questão, solicitando que os Bispos suspendessem as punições. Como estes se recusaram a atender ao Imperador, em 02 de fevereiro de 1874, foram condenados a quatro anos de trabalho braçal. Entretanto, em 17 de setembro de 1875, por interferência do Duque de Caxias, os bispos foram libertados. Dando continuidade ao movimento maçônico na Paraíba, em 1877 foi fundada aqui na capital a LOJA MAÇÔNICA CONSTÂNCIA E LEALDADE e em 1882, A LOJA MAÇÔNICA LEALDADE E PERSEVERANÇA. Desafortunadamente, essas lojas fecharam suas portas e seus arquivos se perderam. Quando da Proclamação da República, a Maçonaria representada por muitos de seus integrantes, inclusive ilustres paraibanos, a exemplo de Aristides da Silveira Lobo e João Coelho Gonçalves Lisboa teve uma decisiva presença em nível nacional. Aristides da Silveira Lobo nasceu no Engenho Tabocas, no município de Cruz do Espírito Santo-PB, em 12 de fevereiro de 1838 e faleceu em Barbacena – MG, em 23 de julho de 1896. Era filho de Manoel Lobo de Miranda Henriques e de Ana Noberta da Silveira. 16 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 O seu avô, Tenente Coronel Francisco José da Silveira foi condenado à morte por ter participado da Revolução Pernambucana de 1817. Aristides Lobo fez o curso preparatório no Colégio da Paraíba e concluiu o Curso de Direito no Escola de Direito do Recife, em 1859. Foi Promotor Público e Juiz de Paz em Minas Gerais, mas logo em seguida passou a se dedicar a política, filiando-se ao Partido Liberal, elegendo-se Deputado para o Congresso Nacional do Império por dois mandatos consecutivos – 1864 a 1866 e de 1867 a 1870, pelo Estado de Alagoas.Em 03 de dezembro de 1870, juntamente com Salvador de Mendonça, Lafayette Coutinho, Pedro Soares de Meireles e Flavio Farnense fundou o jornal “A República”, que passou a defender o fim da monarquia. Nesse sentido, publicou o Manifesto de 1870, pelo Clube Republicano e deu inicio a propagação dos ideais republicanos por todo o país. Convém citar que o jornal foi empastelado por três anos. Mas, o caminhar dos acontecimentos culminou com a Proclamação da Republica em 1889. Formado o Governo Provisório foi nomeado Ministro do Interior, tendo ocupado o cargo por 3(três) meses – 15/11/1889 a 10/02/1890 -, renunciando por divergir de Deodoro da Fonseca. Em seguida elegeu-se Deputado Federal, participando da Constituinte de 1891/1893. Depois foi Senador de 1892/1896. É Patrono da Cadeira Nº 6 da Academia Paraibana de Letras. João Coelho Gonçalves Lisboa nasceu em Areia – PB, em 27 de junho de 1859 e faleceu em 11 de julho de 1918. Era filho de Teodósio Gonçalves Lisboa e de Joseja dos Santos Coelho Lisboa. Ao longo de sua vida se destacou como primoroso orador. Foi Chefe de Policia da Paraíba, Deputado Federal de 1894 a 1896 e de 1887 a 1889 e Senador de 1905 a 1909. No entanto, faz-se necessário assinalar que, aqui na Paraíba, a atuação da Maçonaria na fase da Proclamação da República não foi expressiva. Segundo Hélio Zenaide, a mais antiga loja maçônica em funcionamento na nossa terra é a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, fundada em 16 de outubro de 1898, quando a Paraíba tinha como Presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo. Gama e Melo nasceu na capital do Estado da Paraíba, em 01 de outubro de 1849 e faleceu também nesta cidade, em 12 de abril de REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 17 1908. Foi político, jornalista, professor, escritor e filósofo, destacandose como um grande tribuno. Formou-se em Direito pela tradicional Escola do Recife em 1873, sendo contemporâneo de Castro Alves, de Cardoso Viera e de Tobias Barreto, sendo influenciando com as ideias deste último. Fundou “A República”, jornal que pregava o sentimento de justiça e a igualdade entre os homens. Foi Professor concursado de Latim do Lyceu e também lecionava Retórica. Exerceu os cargos de Vice-Presidente e depois Presidente da Província da Paraíba, de 22 de outubro de 1896 a 22 de outubro de 1900. É Patrono da Cadeira Nº 17 da Academia Paraibana de Letras, que tem como Fundador Antônio de Aguiar Botto de Meneses e atualmente é ocupada por Joacil de Britto Pereira. Sequenciando o movimento maçônico na Paraíba, em 1900 foi fundada a LOJA MAÇÔNICA CARIDADE E SEGREDO, na cidade de Itabaiana; em 1903 a LOJA MAÇÔNICA UNIÃO CATOLEENSE, da cidade de Catolé do Rocha; em 1911 a LOJA MAÇÔNICA SETE DE SETEMBRO, nesta capital; em 1918 a LOJA MAÇÔNICA BRANCA DIAS, também aqui na capital; em 1923 a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO CAMPIMENSE, na cidade de Campina Grande; em 1927 a LOJA MAÇÔNICA PADRE AZEVEDO, nesta capital e assim sucessivamente. Atualmente existe no Estado da Paraíba as Províncias Maçônicas GRANDE ORIENTE ESTADUAL DA PARAÍBA, a GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAÍBA e o GRANDE ORIENTE DA PARAIBA, que congregam LOJAS MAÇÔNICAS em distintos municípios do nosso Estado. V) Considerações finais. Ao analisarmos a presença da Maçonaria, ao longo da história, tanto no Brasil, como no Estado da Paraíba constatamos que esta instituição tem pautado sua atuação, objetivando contribuir com os grandes ideais políticos da humanidade, de conformidade com as diferentes atividades produtivas e tem participado efetivamente da vida intelectual, educacional, religiosa econômica, social e política da nação. 18 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 A partir dos caminhos tortuosos da Independência, perpassando pelas lutas libertarias do período colonial, sem olvidar o movimento que desaguou na Proclamação da República, na abolição da escravatura e na defesa intransigente da democracia, a Maçonaria sempre contribuiu com seu bom senso, com sua independência e com sua altivez, para que o país encontre o melhor caminho para o seu desenvolvimento. Atualmente, o combate que faz à corrupção desenfreada que infelizmente graça em todos os Poderes da República, merece o apoio irrestrito dos homens de bem do nosso Brasil. De outra parte, para os nordestinos e particularmente para os paraibanos, a luta que vem empreendendo em favor da execução do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, também deve merecer a nossa solidariedade e o nosso apoio, pelo muito que representa para o abastecimento d‘água da população urbana e rural, para a dessedentação do rebanho, para o irrigação e para a implementação de distintas outras atividades assaz importantes para a Região. Bibliografia ASLAN, Nicola. Pequenas Biografias de Grandes Maçons Brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Maçônica, 1973 __________ História Geral da Maçonaria. Editora Aurora, 1979 CASTELLANI, José.História do Grande Oriente do Brasil. Brasília: Gráfica e Editora do Grande Oriente do Brasil, 1993. ZENAIDE, Hélio Nóbrega. Notas Para A História da Maçonaria na Paraíba. Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Anais do Ciclo de Debates. A Paraíba Nos 500 Anos De Brasil. João Pessoa. Secretaria de Educação e Cultura do Estado, abril 2000. 19 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 DO VARADOURO À JACARÉ ADAUTO RAMOS Em uma busca no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro depareime com algumas páginas de um processo, incompleto, referente à Paraíba. Solicitei uma cópia que aqui transcrevo: “Em consequência da Imperial portaria de 27 de abril de 1825, expedida pela Secretaria de Estado dos Negócios do Império, dirijo a V.S. para saber a Augusta Presença de Sua Majestade Imperial, o requerimento incluso do Doutor Paquis Dupuis, em que pede que o mesmo Augusto Senhor lhe conceda de propriedade o terreno coberto de mangues na margem direita deste rio Paraíba, que vai desde o Varadouro, porto da cidade, até o sítio chamado Jacaré. Entre as margens deste mencionado rio Paraíba a sobredito terreno coberto de mangues, que terá de comprimento até o sítio Jacaré, meia légua pouco mais ou menos, e de largura em partes mais e em partes menos, de cem braças, incluindo-se no predito comprimento a margem em diferentes lugares algumas embocaduras e mesmo várias camboas que servem do pesqueiro no que utiliza o público. Este terreno serve a algumas pessoas que se propõem a tirar nele provisões para lenha, cercas ou algumas obras de não grande monta, e igualmente para se tirar caranguejo, de que é abundante, bem como o são outros de igual natureza, no que também utiliza o público, e ainda mais a pobreza; e reduzindo a cultura talvez se torne mais vantajoso e útil, sendo certo que dececado, ele vem a ficar muito melhor o encanamento do rio. Parece portanto atendível pretensão do suplicante uma vez que se proponha ao benefício que expõe e que exige grande força dentro de algum tempo razoável afim de não prejudicar com o seu título a outros que se queiram servir das madeiras e o mais, como sempre se serviram, e enquanto não fizer em ação a obra que pretende 20 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 fazer devendo também ficar certo de não prejudicar aos possuidores dos terrenos vizinhos secos até aquele ponto em que eles se servem atualmente das beiradas para suas plantações e uso de madeiras. A vista do que Sua Majestade Imperial,... (incompleto) Imperial mandará como justo. Deus guarde V. Exª muitos anos. Paraíba do Norte, 10 de março de 1827. Ilmº Exº Senhor Visconde de S. Leopoldo, Ministro, Conselheiro e Secretário de Estado de Negócios do Império. Francisco de Assis Pereira Rocha” REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 21 RELEMBRANDO ANTIGOS ENGENHOS ADAUTO RAMOS Ficaram bem conhecidos e lembrados os 18 engenhos de açúcar descritos por Elias Herchmans em sua “Descrição Geral da Capitania da Paraíba”, escrita no ano de 1639. Estes engenhos estavam situados na várzea do rio Paraíba do Norte. Com o decorrer dos anos muitos outros engenhos foram sendo construídos, não só na várzea do Paraíba, mas também em seus afluentes. Nas margens do rio Uma foram edificados os engenhos Pau d´Arco, Pacatuba, Coité, Tabocas, Pindoba e outros. Nas pequenas várzeas do rio Gurinhém foram construídos os engenhos Antas do Sono, Melancias, Sapucáia e outros. As terras em que estava instalado o engenho Antas do Sono hoje fazem parte do município de Sobrado, desmembrado do município de Sapé. Não me foi possível, até o presente, determinar quando este engenho foi edificado. Busco associar datas com fatos e nomes de proprietários e de seus descendentes, com a finalidade de determinar um pouco da história destes engenhos. Por exemplo, o engenho Angico Torto, que era localizado em terras do Pilar, tem o seu nome ligado à Revolução de 1817 na Paraíba, pois o seu proprietário, na época, era o capitão André Dias de Figueiredo, genitor do Padre Antônio Pereira de Albuquerque Melo, membro do governo provisório instalado na Parahyba, capital. Na contra-revolução o Padre Antônio foi preso, enviado para o Recife, condenado à morte e enforcado em praça pública. Suas mãos e a cabeça foram decepadas, salgadas, enviadas ao Pilar onde ficaram expostas em via pública na vila do Pilar. No ano de 1621 o Capitão Mor João de Brito Corrêa, governador da capitania da Parahyba, fez uma doação de sesmaria a André de Albuquerque, ao longo do rio Gurinhém, “nas testadas do Antônio Valadares”, ou seja, em terras acima do engenho Maraú, 22 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 dos beneditinos, entre este e a atual cidade de Sobrado. Posteriormente nas terras desta sesmaria foram construídos os engenhos Antas do Sono, Melancia e outros. Engenho Antas do Sono É possível que este engenho tenha sido edificado na sesmaria supracitada ou na sesmaria que no ano de 1619 o Capitão Mor, governador da Província da Paraíba, Francisco Nunes Marinho de Sá, doou também em sesmaria ao longo do rio Gurinhém, a Balthazar Freire e a Gaspar Dias de Beco. Este engenho, Antas do Sono, foi construído possivelmente no inicio do século dezenove, ou antes. Isto Por quê? Aos 07.06.1863, faleceu no engenho Antas do Sono, com 60 anos de idade, o Tenente Coronel Joaquim José Ribeiro Pessoa, primo do Padre João Ribeiro Pessoa, revolucionário de 1817; filho do Luís da Veiga Pessoa e de D. Francisca das Chagas de Jesus Pessoa. Pessoa influente na sua época, foi Juiz de Paz, delegado de polícia, presidente da Câmara e várias vezes Juiz municipal. Era viúvo de D. Manoela Theotônia Lins Pessoa, falecida aos 07.07.1859, no engenho Antas do Sono. Foram seus filhos: 1 – Capitão Marcionillo Ribeiro Pessoa Lins, que foi casado com Justiniana Augusta Pessoa Lins. 2 – Capitão Cyro Deocleciano Ribeiro Pessoa, professor em Pedras de Fogo e Mamamguape; casado que foi aos 05.10.1851, em Pilar, com D. Virgolina de Albuquerque Maranhão. 3 – Tenente Manoel Lins de Albuquerque Pessoa, casado com D. Maria das Brotas e Silva, filha de Manoel Galdino Alves da Silva e de D. Thereza Torquata Fernandes de Carvalho. 4 – Minervino Ribeiro Pessoa, nascido no ano de 1859. 5 – Prudente Ribeiro Pessoa, casado que foi com Virginia d´Avila Bitancout. 6 - Francisca de Assis Pessoa, que foi esposa do Capitão Pedro de Melo e Silva, do engenho Pangaré, de Itambé. 7 – Joaquina Theotônia Lins Pessoa 8 – Anna Umbelina Lins Pessoa REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 23 9 – Capitão Marcolino Ribeiro Pessoa Lins 10 – Laura Emília Lins Pessoa 11 - Manoela Theotônia Lins Pessoa 12 – Luís da Veiga Lins Pessoa, que foi casado com Rosa Cândida de Holanda Chacon. O engenho Antas do Sono possuía moenda de ferro, 20 formas de pães, movido a animais, com caldeira, casa de purgar, casa de fazer farinha, estribaria, senzala, 11 escravos e alambique de cobre. Fazia fronteira com o engenho Maraú, com o Melancia e com o Boa Vista. A propriedade tinha “1400 braças de testada pelo rio Gurinhém acima e com meia légua de fundos para o sul e mais 600 braças de testada pelo mesmo rio”. Como vemos era um engenho bem estruturado. No ano de 1882, aos 21 de dezembro faleceu no engenho Antas do Sono o capitão Hylário de Athayde e Vasconcelos, que na época era o proprietário do engenho. Casado com D. Anna Francisca Pereira. Eram seus filhos: Anna Francisca, Hylário e Antônio Francisco Pereira de Athayde, falecido no engenho Mumbaba aos 26.07.1925. Em segunda núpcias o Capitão Hylário de Athayde de Vasconcelos casou-se com D. Antônia Caetana Nunes de Jesus que veio a falecer no citado engenho aos 29.11.1874. Foram seus filhos: Ignácia, Obdulina, João, Maria, Baltazar, Idelfonso, Emília, José Jorge e Agnello. No ano de 1916, aos 27 de dezembro faleceu em Sapé o Capitão Francisco Paulino Correia Luna que, na época, era proprietário do engenho Antas do Sono. Casado em primeira núpcias com D. Amélia Leopoldina Correia Lima que faleceu no engenho aos 07.01.1902, com 38 anos de idade. Sua prole era composta por: Joaquim, Ignácia Olegária, Antônio, Abílio, Maria e José. O capitão Francisco Paulino que era pernambucano, contraiu segunda núpcias com Ildérice Fernandes, que lhe deu os filhos: Maria Dulce, Arcênio, Severino, Maria de Lourdes e Jayme. O capitão Francisco Paulino havia comprado o engenho aos herdeiros do Capitão Hylário Athayde de Vasconcelos no ano de 1898, aos 29 de janeiro, por 330 mil reis. No ano de 1916 o engenho ainda funcionava, com tração animal, sob a direção de Joaquim Correia Lima; não consta ter 24 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 alambique e sim uma maquina de descaroçar algodão a vapor. Já no ano de 1920 não aparece nas estatísticas o nome do engenho Antas do Sono e sim a propriedade Antas dividida em 20 outras pequenas propriedades. Por informação verbal consta que mais recentemente o Antas do Sono havia sido comprado pelo usino João Úrsulo Ribeiro Coutinho, passando seu domínio em seguida para seu filho Pedro Ramos e deste para o filho Sebastião Ramos (Basto Ramos). Ainda por informação oral consta que nada mais existe do antigo engenho, e até sua memória está se perdendo no tempo. 25 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS BANANEIRAS DE CARLOS ALBERTO AZEVEDO A região arqueológica do Brejo ainda não foi devidamente estudada. Seus sítios arqueológicos não estão mapeados – e poucas são as sondagens realizadas nessa microrregião da Paraíba. Hoje, porém, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba realiza os primeiros levantamentos dos sítios rupestres inseridos nos vários municípios do Brejo. No caso de Bananeiras, selecionamos três sítios pré-históricos: Umari, Pedra Preta e Gruta dos Morcegos. Esses sítios não estão muito distantes da sede do Município. QUADRO 01 Sítios Umari Pedra Preta Morcegos Distância (em Km) 24 10 12 Fonte: Pesquisa Direta Os sítios se localizam em área peculiar, onde o ecossistema é bem caracterizado. Nota-se, no entorno deles, a presença de cursos d’água. Salientam-se aspectos geológicos e geomorfológicos significativos, como afloramentos de rochas graníticas, geologicamente do Proterozóico. E os níveis altimétricos na região variam entre 200 e 650 metros. “Constitui o domínio dos Brejos da Paraíba, onde o clima tropical úmido exerce papel relevante na formação do relevo. Alguns topos mais elevados ultrapassam 600 metros e são recobertos por uma camada sedimentar, formando as chãs.” (LIMA E MELLO, 1985: 26) 26 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 O índice pluviométrico é bastante alto – entre 300 e 1500mm, “devido às chuvas orográficas que se distribuem, principalmente, entre janeiro e setembro.” (LIMA E MELLO, 1985: 26 e SILVA, 2005: 33) Atualmente, qualquer pesquisador que se dedique à arqueologia tem que levar em conta o meio geográfico (habitat). É importante a leitura da “construção de territórios e apropriação de espaço na pré-história” (BEZERRA e MARTINS, 2005: 83), para entender a ocupação humana de uma determinada área. Daí, então, a nossa insistência em enfatizar o Brejo como espaço vital para caçadores-coletores pré-históricos, conforme registra Martin: Os brejos são lugares importantíssimos para o conhecimento da pré-história brasileira porque são lugares de atração e concentração de grupos humanos, onde as estratégias de sobrevivência do homem pré-histórico puderam se desenvolver. (MARTIN, 1996: 36) E, ainda: A região do Brejo, na Paraíba, é também área de grande concentração de sítios com pinturas e gravuras rupestres além de abrigos com enterramentos indígenas, citados por L.F.R. Clerot, mas, infelizmente, nunca pesquisados. (MARTIN,1996: 37) Até hoje não se fez um estudo da ocupação pré-histórica do Brejo paraibano. Os arqueólogos estão mais interessados nos sítios holocênicos da Caatinga (BELTRÃO, 1995: 28), principalmente nos sítios rupestres do Cariri paraibano: Ruth Almeida, 1979; Alice Aguiar, 1982; Elisa Cabral, 1997; Francisco Vilar, 1999; Suely Luna e Joaquim Buchaim, 2000; Programa de Conscientização Arqueológica (PROCA), 2002; Onicéia Souza, 2004; Daniel Bezerra e Gilson Martins, 2005; Carlos Azevedo, 2006; Carlos Xavier, 2007; Juvandi de Souza Santos, 2008. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 27 OS SÍTIOS RUPESTRES DE BANANEIRAS: UMA ABORDAGEM SISTÊMICA Num estudo dos sítios rupestres, procura-se, antes de tudo, a (re)construção da pré-história, o processo de territorialização, isto é, como se verificou a ocupação humana no espaço/território (BEZERRA e MARTINS, 2005), para, depois, identificar os marcadores culturais pertencentes às diversas tradições rupestres. A preocupação na pesquisa arqueológica com o espaço, o ambiente e as áreas de atuação do grupo humano não é recente. As teorias modernas, formuladas por autores como o americano Lewis Binford e o inglês Ian Hodder, em relação à importância dos espaços de atuação de grupos humanos pré-históricos e as relações entre a cultura material e as sociedades, refletem ainda, de certo modo, a fórmula de Leslie A. White, enunciada na década de quarenta, de que para se entender ou atingir um sistema cultural deve-se compreender a interação de três subsistemas: o tecnológico, o sociológico e o ideológico. Se a essa formulação acrescentamos as variáveis relativas à distribuição do espaço, teremos os elementos para se determinar e se compreender o conceito de enclave arqueológico cujo fim primordial é o estabelecimento das relações entre o homem e seu meio, numa área regional segregada de um espaço maior ou área arqueológica. Em outras palavras, deve-se aplicar pesquisas interdisciplinares para se alcançar os objetivos científicos do conhecimento da pré-história. (MARTIN, 1996: 73) (grifo nosso), Levando em conta esse quadro referencial teórico, procuramos analisar o espaço como uma área ecologicamente uniforme (Brejo), mas na qual se “reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza – e, em última análise, somos dependentes desses processos” (CAPRA, 28 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 1997: 25). Isso se chama visão sistêmica – a qual “não separa seres humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente natural. Ela (a ecologia profunda) vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes.” (CAPRA, 1997: 25) Já no que se refere ao horizonte cultural, não há uniformidade, predominando a diversidade cultural (várias etnias), povos caçadorescoletores com tradições diferentes. Observa-se isso nos sítios rupestres – sítios que diferem entre si, o que significa, segundo Martin (1996), “a presença de vários enclaves na mesma área arqueológica.” Esses sítios com características diferentes foram classificados por arqueólogos brasileiros (GASPAR, 2003: 44), levando-se em conta a distribuição espacial dos nossos grafismos, o que se convencionou chamar de tradições arqueológicas (PROUS, 1991). Constatamos, nos sítios de Bananeiras, as seguintes tradições: 1. Itacoatiara 2. Agreste 3. Geométrica Para uma definição operacional de cada tradição acima mencionada, recorremos à Anne-Marie Pessis (1992: 44): TRADIÇÃO ITACOATIARA “Integrada por gravuras representando figuras que não permitem nenhum reconhecimento. Raramente alguma figura reconhecível é representada de maneira isolada”. TRADIÇÃO AGRESTE “Caracterizada pela predominância de grafismos reconhecíveis, particularmente da classe das figuras humanas, sendo raros os animais. Nunca aparecem nas representações de objetos nem figuras de fitomorfas. Os grafismos representando ações são raros e retratam unicamente caçadas. As figuras são representadas 29 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 paradas, não existindo nem movimento nem dinamismo. Os grafismos puros, muito abundantes apresentam morfologia diversificada”. TRADIÇÃO GEOMÉTRICA “Caracterizada por pinturas que representam uma maioria de grafismos puros, figuras humanas e algumas mãos, pés e répteis extremamente simples e esquematizados”. Este é o corpus rupestre dos sítios pesquisados: QUADRO 02 TRADIÇÕES ITACOATIARA AGRESTE GEOMÉTRICA SÍTIO UMARI X SÍTIO SÍTIO PEDRA PRETA MORCEGOS X X X (?) Fonte: Pesquisa Direta É bastante visível a ocorrência da Tradição Itacoatiara nos sítios Umari e Pedra Preta. Ambos estão próximos a cursos d’água. O primeiro fica a 15 metros do Rio Curimataú e o último está situado a 500 metros do riacho do Moura. Vale ressaltar, ainda, que a Tradição Itacoatiara aparece quase sempre nas imediações de riachos, rios, cachoeiras. Talvez uma explicação para essa ocorrência seja que: A maioria dos petróglifos ou Itacoatiaras do Nordeste do Brasil, está relacionada com o culto das águas. (...) É natural que nos sertões nordestinos, de terríveis estiagens, as fontes d’água fossem consideradas lugares sagrados, mas o significado dos petróglifos e o culto ao qual estavam destinados nos são desconhecidos.” (MARTIN, 1996: 269) A Gruta dos Morcegos (sítio Roma de Baixo) é o único sítio da Tradição Agreste e, de certa forma, também, da Tradição 30 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Geométrica. Questiona-se muito esta tradição; às vezes ela se confunde com a Tradição Itacoatiara, isto é, a Geométrica Setentrional, na classificação de André Prous, aceita por Madu Gaspar. Na parte externa da Gruta dos Morcegos ocorrem círculos, linhas, manchas, cruzes, mão. “Observa-se uma tendência ao horror vacui, com interesse expresso de cobrir totalmente as paredes rochosas de pinturas”, como constatou Alice Aguiar (1986: 32) na Pedra da Buquinha, em Boqueirão, no Agreste pernambucano. Nos painéis, foram identificados grafismos puros, compostos por várias linhas e manchas. Todos pintados com tinta na cor vermelha; mas, em muitas pinturas, nota-se claramente a descoloração do pigmento vermelho. Estes são os vários tipos de grafismos que ocorrem nos sítios rupestres de Bananeiras: QUADRO 03 FORMAS Espirais Zoomorfos Antropomorfos Grafismo Puro Linhas Manchas Cruzes SÍTIO UMARI SÍTIO PEDRA PRETA SÍTIO MORCEGOS X X X X X X X X X X X Fonte: Pesquisa Direta Não fizemos a contagem das figuras rupestres dos painéis – o mais interessante é ter uma idéia da dimensão dos mesmos. 31 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 QUADRO 04 DIMENSÃO SÍTIO UMARI LARGURA (m) ALTURA (m) 3,70 1,70 (1) X 2,20 1,50 1,78 (1) 0,70 (1) X X 2,10 7,00 4,15 (2) 2,10 (2) SÍTIO SÍTIO PEDRA MORCEGOS PRETA X X Fonte: Pesquisa Direta (1) (2) Sítio seccionado em três painéis Sítio não seccionado Constatamos que o sítio Umari, com três painéis, apresenta mais visibilidade do que os outros dois – é mais legível e pode ser aberto à visitação no futuro, mas é necessário fazer algumas recomendações sobre seu uso para fins turísticos; este assunto será tratado noutro tópico deste trabalho. Quanto aos sítios Pedra Preta e Gruta dos Morcegos (sítio Roma de Baixo), não devem ser abertos à visitação. Eles não são legíveis, ou melhor, são de baixa visibilidade. Assim, devem ser resguardados, protegidos para futuras sondagens, pois têm sedimentos arqueológicos. Disse nosso informante, Manuel Paulino Maia, que a Gruta dos Morcegos foi vandalizada – fizeram escavações. Segundo ele, eram caçadores de tesouros. A nosso ver, houve uma sondagem arqueológica – as marcas deixadas levam a crer numa escavação “técnica”, feita naturalmente, sem autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Pedra Preta é um sítio de difícil acesso. Localiza-se na propriedade de José Graciano, a 10km de Bananeiras. Não constatamos nele nenhuma ação antrópica negativa, apenas esfoliação do granito por conta do intemperismo. O painel está bastante 32 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 danificado pela ação da urina de mocó. Maiores detalhes sobre os sítios se encontram no item Caracterização dos Sítios Cadastrados. AÇÕES ANTRÓPICAS NEGATIVAS NOS SÍTIOS UMARI E GRUTA DOS MORCEGOS QUADRO 05 IMPACTOS ANTRÓPICOS SÍTIOS UMARI Extração Mineral Queimadas X Caça Predatória Desmatamento X Pichações Escavações X MORCEGOS X X X X Fonte: Pesquisa Direta CARACTERIZAÇÃO DOS SÍTIOS CADASTRADOS SÍTIO UMARI Proprietário: José Henrique Gomes Área desconhecida arqueologicamente: Não Data do levantamento: 19/12/2005 Registro do grafismo pré-histórico: Pintura e gravura Tradições Rupestres: Itacoatiara Descrição do Conjunto: O sítio apresenta grafismos nas cores vermelha e laranja, gravados sobre afloramento granítico. Dimensão do painel (1): 3,70m X 1,70m Dimensão do painel (2): 2,20m X 1,78m Dimensão do painel (3): 1,50m X 0,70m Tipo de sítio: Matacão REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 33 Rocha suporte: Granito Estado de conservação da rocha suporte: Regular Estado de conservação do monumento lítico: Os grafismos foram prejudicados pelo intemperismo. Elementos de degradação do monumento: Vento, sol, chuva, pátina e ação de fungos. Área sujeita à inundação: Sim Relevo: Forte e ondulado com espigões Vegetação: Caatinga-brejeira (típica do Curimataú) Ações antrópicas negativas: Vandalismo – houve a destruição de parte do painel 1, caça predatória, extração mineral. Traços arqueológicos encontrados na área: Durante a pesquisa de superfície, não foi encontrado nenhum material lítico. Fonte d’água mais próxima do sítio rupestre: Rio Curimataú. Integração do patrimônio arqueológico com a população local: Segundo Terezinha Francisco dos Santos, nossa informante, os moradores hoje têm consciência do valor deste monumento arqueológico. Trata-se, pois, de um “letreiro muito antigo, escrito por mão de índio”. SÍTIO PEDRA PRETA Proprietário: José Graciano Área desconhecida arqueologicamente: Não Data do levantamento: 20/12/2005 Registro do grafismo pré-histórico: Gravura Tradições Rupestres: Itacoatiara Descrição do Conjunto: O sítio apresenta gravuras na cor vermelha, distribuídas em diversas partes do afloramento granítico, destacando-se círculos e linhas. São muito semelhantes à da Pedra do Ingá –PB, também da Tradição Itacoatiara. Dimensão do painel: 2,10m X 4,15m Tipo de Sítio: Matacão 34 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Rocha suporte: Granito Estado de conservação da rocha suporte: Ruim Estado de conservação do monumento lítico: O painel está bastante danificado, por conta da esfoliação do granito e da urina de mocó. Elementos de degradação do monumento: Sol, vento, urina de mocó, ação de fungos, pátina. Área sujeita à inundação: Não Relevo: Relevo forte, ondulado e com a presença de espigões de topos horizontais. Vegetação: Arbustos Ações antrópicas negativas: Não se constatou nenhuma ação antrópica negativa no entorno do sítio. Traços arqueológicos encontrados na área: Nenhum Fonte d’água mais próxima do sítio rupestre: Há um córrego a 500 metros – riacho do Moura. Integração do patrimônio arqueológico com a população local: No sítio Moura, onde está localizado o monumento arqueológico, a população não tem consciência do valor do bem cultural. GRUTA DOS MORCEGOS (SÍTIO ROMA DE BAIXO) Proprietário: Ercílio Anjo Área desconhecida arqueologicamente: Não Data do levantamento: 21/12/2005 Registro do grafismo pré-histórico: Gravura e pintura Tradições Rupestres: Agreste/Geométrica (?) Descrição do Conjunto: Trata-se de um abrigo pré-histórico – um abrigo sob rocha. Em suas paredes externas, há gravuras e pinturas rupestres, das tradições Agreste e Geométrica. Provavelmente as pinturas antecederam às gravuras, daí porque essas duas tradições aparecem juntas. São pinturas na cor vermelha, com motivos variados, onde se destacam mão e cruzes. Dimensão do painel: 7,00m X 2,10m REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 35 Tipo de Sítio: Matacão Rocha suporte: Granito Estado de conservação da rocha suporte: Bom Estado de conservação do monumento lítico: Parte do painel está recoberto por pátina, comprometendo bastante a visibilidade do conjunto rupestre. Nota-se, também, acentuado desgaste dos grafismos. Área sujeita à inundação: Não Relevo: Relevo forte e ondulado Vegetação: Arbustos Ações antrópicas negativas: Caça predatória, queimadas, vandalismo. Traços arqueológicos encontrados na área: No entorno do sítio, na Gruta dos Morcegos, constatou-se a presença de material lítico. Fonte d’água mais próxima do sítio rupestre: Poços do Barbosa (cacimbas) Integração do patrimônio arqueológico com a população local: Muitos sabem da existência do abrigo pré-histórico, mas desconhecem o valor desse bem cultural. ESTRATÉGIAS DE SEGURANÇA DO SÍTIO UMARI Qualquer arqueólogo sabe que não se pode hoje, em plena pós-modernidade, privar “o olhar do turista” (JOHN URRY, 2001) dos sítios pré-históricos – entende-se que o patrimônio arqueológico é um bem cultural e, assim sendo, deverá ser usufruído por todos. O uso público de sítios arqueológicos é uma prática comum em vários países do mundo. Parques arqueológicos estão abertos à visitação pública, como o Parque Nacional Kakadu, na Austrália: A área é culturalmente notável pelos inúmeros locais de arte em rocha – algumas dessas pinturas receberam datação de 25 mil anos. Muitos desses trabalhos estão exatamente bem preservados e com certeza são tão antigos quanto os murais do Paleolítico existentes nas cavernas da Europa Ocidental. A seu modo Kakadu é tão valioso para a comunidade humana quanto o Louvre ou o Prado” (MERCER, 2001: 134). 36 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Outro exemplo é o Parque Nacional Serra da Capivara – PI, inscrito na lista de Patrimônio Cultural da Humanidade (UNESCO) e com mais de 800 sítios rupestres, quase todos abertos à visitação. Deve-se, antes de tudo, estabelecer critérios básicos para que os sítios possam ser inseridos num sistema de visitação controlada. Outra medida importante é envolver a comunidade local na preservação e proteção do entorno do bem cultural: Quanto à questão do envolvimento das pessoas da comunidade no fomento do turismo em áreas arqueológicas, é essencial, porém delicada. Para o desenvolvimento com sucesso, de qualquer atividade que vise à exploração dos bens que representam o seu patrimônio, seja ele natural ou cultural e histórico, é importante que a participação popular aconteça desde o inicio, concordando ou não com os itens propostos nos projetos, o que pode ser considerado como um reflexo da aceitação dos moradores do lugar à atividade, os quais devem estar cientes das conseqüências que o turismo pode levar para suas comunidades, tanto das positivas como das negativas, despertando, assim, uma maior preocupação com a preservação de seus bens e cultura, e conseqüentemente, fazendo um resgate de suas histórias (MORAIS apud SOUZA, 2004: 29). Esse tipo de trabalho está sendo desenvolvido no Brasil, desde os anos 1990, pelos antropólogos Álvaro Banducci Jr., Silvana Miceli de Araújo, Rodrigo de Azeredo Grünewald, Yolanda Flores e Silva, que tentam “a difícil conciliação entre “como fazer” – “planejar o produto turístico” e “o olhar sobre o fenômeno social e cultural que se produz no momento em que acontece o consumo desse produto”; repensando-se o primeiro à luz das pesquisas do segundo, seria o resultado de uma antropologia aplicada ao turismo” (BANDUCCI JR, 2005: 12). Planejar o uso de sítios pré-históricos para fins turísticos não é responsabilidade apenas de antropólogos, turismólogos, arquitetos. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 37 É, sim, também, de arqueólogos. Eles estão preocupados com vários projetos de longo prazo para a elaboração de um programa de turismo sustentável, em áreas arqueológicas. Incorporam-se aos projetos de roteiros de turismo arqueológico. Trabalham com museólogos, para a melhor divulgação do patrimônio arqueológico, criando museus a céu aberto em sítios rupestres, ou em áreas onde houve “salvamento arqueológico”. Afinal, (...) o aumento de solicitações para a utilização do patrimônio arqueológico com interesse turístico vai gerar trabalhos de gestão para a avaliação de potencial e geração de informação, criando cada vez mais estruturas que vão facilitar o aproveitamento desses recursos (SCATAMACCHIA, 2005: 81). Essas digressões, aparentemente sem contexto, foram feitas para mostrar a importância do planejamento de sítio arqueológico para uso público. No caso de Umari, é recomendável o seu uso para fins turísticos. Trata-se de um sítio de arte rupestre valioso, filiado à Tradição Itacoatiara e de alta visibilidade. Deve-se, naturalmente, pensar na proteção total do sítio, pois constatamos, como afirmamos anteriormente, ação antrópica negativa - a danificação de um dos painéis. Para evitar impactos no meio ambiente e maiores danos ao patrimônio arqueológico, seria interessante transformar a área em Parque Arqueológico Municipal (ou RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural). Isso, porém, é apenas uma medida cautelar para conter as várias agressões que vem sofrendo o entorno do sítio, inclusive, como área de lazer para as crianças da povoação de Umari, que brincam no leito seco do rio, localizado próximo ao sítio rupestre. Como Umari é um sítio em área aberta, bastante exposto às ações antrópicas negativas, sugerimos para a sua proteção imediata: • O incentivo à Educação Patrimonial junto à povoação de Umari, nas escolas da rede pública de ensino; 38 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 • A implantação de barreira de proteção física do sítio para evitar contato direto com as pinturas rupestres; • A proteção da paisagem natural do entorno; • A limpeza das partes danificadas do paredão pintado. Este trabalho deverá ser realizado pela Fundação Museu do Homem Americano (PI), uma instituição que dispõe de laboratório e centro de estudo de conservação e restauração. São estas, pois, as medidas para a proteção do sítio arqueológico Umari. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quem primeiro nos chamou a atenção para estudar a arqueologia do Brejo foi o cientista Leon Clerot – isso ainda na década de 1960, quando praticamente ninguém se interessava por arqueologia na Paraíba. Havia apenas o NEPA – Núcleo de Estudos e Pesquisas Arqueológicas – e um cientista à maneira antiga: Leon Clerot. Era geólogo, arqueólogo, paleontólogo, museólogo e etnógrafo. Mais recentemente, isto é, nos anos 1990, a professora e arqueóloga Gabriela Martin salientou, em um de seus estudos, a importância do Brejo como área arqueológica. Hoje, então, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba volta-se para o estudo dessa microrregião – aceitando um convite da Prefeitura Municipal de Bananeiras para mapear os sítios arqueológicos e realizar um levantamento dos bens móveis e imóveis do município. Assim, tomamos conhecimento da riqueza do patrimônio histórico e arqueológico de Bananeiras. Outros sítios serão cadastrados, futuramente, na segunda etapa da pesquisa. O contato com a região forneceu vários dados importantes; informações valiosas que, com certeza, servirão para outros trabalhos. Uma das indagações é o sítio Três Canoas (localizado a 18km da sede do Município), próximo ao Rio Cacimba da Várzea e à Barragem de Jandaia, no Curimataú. Despertaram a nossa atenção, REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 39 nesse sítio, as enormes cacimbas (tanques). Nesse local, provavelmente no Pleistoceno, a fauna mitigava à sede. REFERÊNCIAS AGUIAR, Alice. A Tradição Agreste: estudo sobre arte rupestre em Pernambuco. Clio, Recife, Universidade Federal de Pernambuco, p. 32, out. 1968. Série Arqueológica. AZEVEDO, Carlos Alberto. Sítios arqueológicos de Santa Luzia - PB. Brasília: Senado Federal; João Pessoa: IPHAEP, 2004. p. 46. BANDUCCI JR., Álvaro e BARRETTO, Margarita (Orgs.). Turismo e Identidade local: uma visão antropológica. Campinas: Papirus, 2005. p. 12. Coleção Turismo. BELTRÃO, Maria. A arqueologia e a Caatinga. Carta Mensal, Rio de Janeiro, n. 40, p. 28, fev. 1995. BEZERRA, Daniel de Castro e MARTINS, Gilson Rodolfo. Registros rupestres: a construção de territórios e apropriação de espaço na pré-história. Canindé: Revista do Museu de Arqueologia de Xingo, Aracaju, UFS, n. 5, p. 83, jan. 2005. CAPRA, Fritjof . A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução Newton Roberval Eichenberg. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 25. GASPAR, Madu. A arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 44. LIMA, Ana Glória M. de e MELLO, A. S. Tavares. Atlas geográfico do Estado da Paraíba. João Pessoa: Secretaria de Educação e Cultura e Universidade Federal da Paraíba, 1985. p. 26. MARTIN, Gabriela. Pré-história do Nordeste do Brasil. Recife: Ed. Universitária do Brasil – UFPE, 1996. p. 36. MERCER, David. A difícil relação entre o turismo e a população nativa: a experiência da Austrália. In: THEOBÂLD, William (Org.). Turismo Global. Tradução de Anna Maria Capovilla. São Paulo: Editora do SENAC, 2001. p. 134. MORAIS, José Luiz. A arqueologia e o turismo. In: FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Orgs.). Turismo e patrimônio cultural. São Paulo: Contexto, 2001. p. 99. 40 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 PESSIS, Anne-Marie. Identidade e classificação dos registros gráficos préhistóricos do Nordeste do Brasil. Clio, Recife, v.1, n. 6, p. 44, maio 1992. Série arqueológica. SCATAMACCHIA, Maria Cristina M. Turismo e arqueologia. São Paulo: Aleph, 2005. p. 81. Coleção ABC do Turismo. SILVA, Manoel Luiz.. Bananeiras – Apanhados históricos. Bananeiras: Secretaria Municipal de Educação e Cultura, 2005. p. 33. SOUZA, Onicéia Gouveia de. Cariri paraibano: um estudo sobre as inscrições rupestres e suas potencialidades turísticas. João Pessoa: Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba, 2004. p. 29. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 41 A CIDADE QUE NASCEU DE UMA CANÇÃO DORGIVAL TERCEIRO NETO MARINGÁ, bela cidade do Paraná, tem a denominação da encantadora composição musical que todo o Brasil solfeja há muitos anos. A localidade começou com colonização inglesa. Estava crescendo e ainda não tinha nome. Senhoras dos colonos que ali residiam promoveram um chá para escolher o nome do lugar. Uma delas acentuou que nas construções – eram muitas – os operários quase todos nordestinos, cantavam uma canção muito bonita: Maringá. Todas as presentes logo adotaram essa denominação para a povoação que surgia e viria a ser em pouco tempo a progressiva cidade de Maringá. JOUBERT DE CARVALHO, médico, natural do Triângulo Mineiro, precisamente de Uberaba, Minas Gerais, foi quem escreveu o poema e o musicou. Poeta e músico, tocava piano. Compôs centenas de canções que foram gravadas e cantadas por famosos azes da antiga radiofonia brasileira. Era muito solicitado pelas gravadoras, porquanto já entregava as composições escritas e com a pauta da música pertinente. Fazia isso a qualquer tempo e hora. Uma delas é TAÍ, cantada por Carmem Miranda, a conhecida “pequena notável”. Outra é Zíngara, de beleza extraordinária. E são tantas, inclusive algumas de carnavais do passado. Fez algumas composições com o poeta Olegário Mariano, seu conterrâneo. Dr. Joubert de Carvalho era simpático, comunicativo, alegre. Médico do Ministério da Viação, no Rio de Janeiro, quando José Américo era ministro, tornou-se amigo de Rui Carneiro, o chefe de gabinete do Ministro. Conheci o Dr. Joubert no Rio, no escritório da antiga DENASA, uma financeira, onde o grande JUSCELINO KUBITSCHCK, depois que deixou a Presidência da República, tinha gabinete somente para 42 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 receber os amigos. Dr. Joubert era um deles, assim como o pianista Bené Nunes. A cada dia, às dez horas, Dr. Joubert estava no escritório do amigo JK, para o cafézinho e a conversa que sempre versava sobre música. JK era seresteiro. Eu, amigo de Juscelino, visitava-o quando em viagens ao Rio. E lá conheci, o Dr. Joubert, que me narrou como e porque fez MARINGÁ. Rui Carneiro pediu-lhe para fazer uma página musical sobre Areia, terra natal do Ministro. Mas ele não tinha em que se inspirar para produzir uma canção pertinente ao berço de Zé Américo. Rui viajou à Paraíba em 1932. Voltou desolado com a seca que assolava todo o sertão do Nordeste. Contou para o Dr. Joubert o que viu nas ruas de Pombal, repleta de famintos, em busca de comida, trabalho e agasalho. E no meio da profusa massa de famintos, havia uma moça bonita, de nome Maria, que atraía as vistas de todo o mundo. Mas ela não era de Pombal e sim de Ingá, longe de Pombal. Como Rui lhe pedira uma música sobre Pombal, daí surgiu a canção Maringá, que é a junção de Maria e Ingá. Dr. Joubert era mestre na denominação de músicas que compunha. Quando fez TAÍ, o nome da composição era outro. Levou o texto e pauta à gravadora. O dono disse-lhe que ia procurar um cantor. A canção denominava-se “pra você gostar de mim”. O gravador informou que estava em evidência uma cantora extraordinária, que despontava como a melhor daquele tempo, no Rio. Era Carmem Miranda. Dr. Joubert respondeu que não a conhecia. Nesse instante, ela foi ingressando na gravadora. O gravador disse: Taí, ela chegou. No mesmo instante, Joubert anunciou que a música passaria a chamar-se TAÍ. Num fim de semana, Olegário Mariano convidou-o a ir a Minas Gerais. Levou-o em seu automóvel. À margem de uma estrada, depararam-se com um acampamento de ciganos. Desceram. Dr. Joubert pediu a uma cigana para ler-lhe a mão. Tão logo reentrou no carro, retirou do cofre papel e fez a letra da belíssima música que intitulou ZÍNGARA, a história da cigana que leu a sua mão. Quando MARINGÁ festejou um dos aniversários de fundação, a cidade, por seu Prefeito, Vice, Câmara Municipal e Sociedade mandaram um avião ao Rio para trazer o Dr. Joubert, e leva-lo à REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 43 cidade que ele não conhecia. Na verdade, era uma surpresa. A rua principal de Maringá estava atapetada de ponta a ponta. E no meio, sobre um tablado ornamentado, um piano, comprado na Itália, aguardava o autor de MARINGÁ que iria tocá-lo para um coro de mil vozes, rigorosamente uniformizado. Dizia o Dr. Joubert que quase morria de emoção naquele dia. E mais: num parque da cidade foi inaugurada uma estátua com o seu busto e uma legenda histórica: JOUBERT DE CARVALHO, homenagem da cidade que nasceu de uma canção. Quem for a Maringá, constatará a homenagem perene da urbe ao inesquecível médico, poeta e compositor. Certo é que ele teve que tocar MARINGÁ repetidas vezes. Não só o coro de mil vozes, como toda a população veio à rua e cantou a bela canção. Sobre o teclado do piano caíam as lágrimas vertidas pelo notável homenageado. Tudo isso ele contou em programa de televisão quando completava 75 anos. Faleceu algum tempo depois. Toda e qualquer publicação sobre Pombal, deve conter o texto de MARINGÁ. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 45 IMAGENS DA MISERICÓRDIA EM TRÊS IGREJAS DE JOÃO PESSOA PE. ERNANDO LUIZ TEIXEIRA DE CARVALHO Das centenas de títulos dados a Maria, o de Mãe de Misericórdia está entre os primeiros. Do século XI vem a conhecida oração mariana que começa com “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia...”. Antes, porém, da oração ser elaborada e muito antes da representação iconográfica aparecer, a figura maternal de Maria é invocada pela sua intercessão junto ao Filho por todos os pecadores e necessitados. Com raízes em devoções e representações medievais, a iconografia da Senhora da Misericórdia apresenta Maria como a extraordinária protetora. A primeira visão da Virgem com o manto, formando como uma tenda para abrigar os seus filhos, encontra-se nos textos do monge cisterciense alemão Cesário de Heisterbach, no seu “Dialogus miraculorum”, do século XIII1. Muitas outras belas imagens surgiram em tempos de peste na idade média européia, por volta do século XV. Era uma maneira de representar Nossa Senhora defendendo seus filhos e filhas, tendo seu manto como um escudo contra as “flexas diabólicas” das epidemias. Ao que se conhece, foi a partir de Heisterbach que esta iconografia serviu para representar a proteção de Nossa Senhora contra as pestes, sobretudo na Alemanha e na Áustria, depois como emblema das Santas Casas de Misericórdia, em Portugal e seus domínios, difundido-se em seguida entre as diversas Ordens religiosas, sempre como visualização da Mãe protetora que a todos acolhe em sua casa. Maria, ela mesma, passa a ser a grande tenda, a acolhedora casa, o espaço seguro de proteção e bênção. Em tres das nossas mais antigas igrejas da capital, na da Misericórdia, na de São Francisco e na do Carmo, encontramos a 1 Cf. Silvy, Léon, “L’origine de la Vierge de miséricorde”, in Gazette des Beaux-arts, novembro, 1905. 46 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 mesma Senhora com seu inconfundível manto de proteção, mas com detalhes iconográficos específicos em cada lugar de sua representação. Igreja da Misericórdia Na igreja da Irmandade da Misericórdia a imagem de Nossa Senhora está representada em um medalhão no centro do forro da grande nave. A virgem aparece sobre nuvens com túnica branca de mangas arregaçadas e cinto. O manto que lhe cai dos ombros, de cor azul, é segurado e aberto por quatro anjinhos alados, dois de cada lado. Sob seu manto foram representadas oito personagens ajoelhadas, quatro de cada lado, que olham extasiadas para seu vulto. Sua mão direita tem a palma voltada para baixo e simboliza a mão que dá, abençoa ou consagra. Sob ela destaca-se, em primeiro plano, a figura de um Papa que, além das vestes clericais, pode ser identificada pela tiara papal e cruz de três traves dispostas aos seus pés. Sua mão esquerda, com a palma voltada para cima, é a mão que pede ou implora. Desse lado, também em primeiro plano, foi representada a figura de um Rei que se identifica pela coroa e espada colocadas no chão. O jogo emblemático das mãos representa o movimento das obras de misericórdia no meio da sociedade: de quem tem para quem não tem, para que a ninguém falte o necessário! As outras personagens são distribuídas, dos dois lados, obedecendo a uma certa hierarquia. Sob a mão direita da Virgem, depois do Papa, foram retratadas uma religiosa de hábito, alguém com características de idoso e outra figura mais jovem da qual se vê apenas parte do rosto. Sob sua mão esquerda, depois do Rei, aparecem um religioso de hábito e tonsura, uma religiosa de hábito e REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 47 um personagem de aspecto bastante jovem. O conjunto prima pela harmonia e deve ter sido planejado para incluir os altos poderes, pela representação do Papa e do Rei, o serviço evangélico da misericórdia pelos religiosos, um frade e duas freiras, e aqueles aos quais a misericórdia se dirige, uma pessoa anciã e duas outras personagens que talvez representem doentes e órfãos atendidos pela irmandade. Nesta representação, a Virgem abriga, sob seu manto, representantes das várias classes sociais segundo uma padronização que se estabeleceu em Portugal e foi sendo difundida por todo o mundo do domínio português. Os frades da Ordem da Santíssima Trintade queriam que Frei Miguel de Contreiras, trinitário, confessor da rainha Dona Leonor e considerado idealizador das Santas Casas, fosse retratado e identificado nas bandeiras da Misericórdia de Lisboa. Em 1576, a Mesa da Santa Casa estabeleceu como deveria ser a representação da Virgem da Misericórdia nas bandeiras da entidade: “... determinamos que no pintar das bandeiras, esteja de uma parte a imagem de Christo nosso Redemptor e da outra a SS. Virgem, Mãe da Misericórdia. Á sua mão direita um papa, um cardeal e um bispo, como cabeça da Egreja militante, e um religioso da SS. Trindade, grave, velho e macilento, de joelhos e mãos levantadas, com estas letras F.M.I. que querem dizer Frei Miguel Instituidor; e da parte esquerda da mesma Senhora um rei e uma rainha, em memória do inclito rei D. Manuel e da rainha D. Leonor, como primeiros irmãos desta Irmandade; mais dois velhos graves e devotos, companheiros do venerável instituidor, e aos pés da Senhora algumas figuras de miseráveis que representam os pobres”. Em 1627, um alvará régio de Filipe II determinou que as “bandeiras de todas as Misericordias destes reinos se conformem com as desta cidade de Lisboa...”2 A pintura paraibana, provavelmente obra tardia do século XIX, não levou em consideração as determinações portuguesas em seus detalhes, mas delas se aproxima enquanto representa as diferentes classes sociais sob o manto da Virgem. 2 Cf. Caetano, Joaquim Oliveira, Coleção de Pintura da Misericórdia de Lisboa – século XVI ao XX, Lisboa, Book, 1998, p. 76 e Serrão, Joaquim Veríssimo, A Misericórdia de Lisboa: quinhentos anos de história, Lisboa, Horizonte, 1998, p. 139. 48 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Igreja de São Francisco Outra representação da Virgem Mãe de Misericórdia encontrase na pintura sob o coro da igreja de São Francisco. O centro do painel apresenta a Virgem de pé sobre nuvens, tendo a meia lua sob seu pé direito, trajando longo vestido branco, com cordão que lhe evidencia a cintura. Dos ombros, segurado pelos braços abertos e mãos que abençoam, desce um manto azul que acolhe onze personagens: cinco frades e uma freira sob sua mão direita e cinco papas sob a mão esquerda. Todas estas figuras em torno da Virgem estão reverentemente de joelhos e mãos postas, como recebendo sua bênção misericordiosa. Os religiosos usam hábito franciscano, destacando-se a freira pelo véu. Os papas, além do hábito marrom, usam sobrepeliz, pluvial e tiara papal. Abaixo deste conjunto, uma cartela traz o letreiro “Regina Immaculata et Mater Fratrum Minorum3” e, do lado dos papas, abaixo de suas figuras, os nomes de “Nicolau V, Alexandre V, Xisto IV, Xisto V e Clemente XIV”. Todo o grupo é emoldurado em grande medalhão que se enquadra entre duas colunas da pintura. À direita e à esquerda das colunas, completando o painel deste forro, erguem-se outras colunas, tribunas, jarros com flores, guirlandas, atlantes e anjos nus, como uma suntuosa entrada de palácio. A este painel bem pode adequar-se o que escreveu São Boaventura sobre o amor de São Francisco a Nossa Senhora: “Seu amor à Mãe do Senhor Jesus era realmente indizível, pois nascia em seu coração ao considerar que ela havia convertido em irmão nosso o próprio Rei e Senhor da Glória e que por ela havíamos merecido alcançar a divina misericórdia. Em Maria, depois de 3 De fácil tradução, o letreiro diz: Rainha Imaculada, Mãe dos Frades Menores. O lunar sob o pé da Virgem é próprio da iconografia da Imaculada Conceição. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 49 Cristo, depositava toda a sua confiança; por isso a constituiu advogada sua e de seus irmãos...”4. Neste quadro, toda a Ordem aparece representada: nos seus primórdios, com os primeiros pobres religiosos, e na mais alta função e honra da hierarquia católica, com os papas franciscanos. Cremos que esta leitura pode ser criteriosamente aceita. Os papas, com os seus respectivos nomes, dispensam qualquer dúvida! Os religiosos, mesmo que seus nomes não tenham sido escritos, devem ser Francisco e Clara, únicos santos canonizados, juntamente com frei Leão, frei Rufino, frei Masseu e frei Ângelo de Rieti. Estes quatro frades são reconhecidos como os mais íntimos companheiros de São Francisco por toda a tradição franciscana5. Por esta razão é que suas relíquias foram depositadas na cripta da Basílica de Assis, cada uma em um ângulo, diante dos restos mortais do Santo Fundador. As cinco figuras representadas sob a mão esquerda da Virgem são franciscanos que chegaram ao Sumo Pontificado. No entanto, por desinformação ou lapso, o artista trocou Nicolau IV, o primeiro franciscano eleito papa (1288-1292), por Nicolau V, do clero diocesano, que governou a Igreja entre 1447-1455. Outro esclarecimento é em relação ao papa Alexandre V (1409-1410) que foi considerado, por muito tempo, como papa legítimo, atualmente encontra-se na relação dos antipapas. Quanto a Xisto IV (1471-1484), Xisto V (1585-1590) e Clemente XIV (1769-1774), não há qualquer problema de erro na pintura ou na história eclesiástica. Estes onze personagens da admirável história franciscana, 4 São Boaventura, Legenda Maior, IX, 3, in Silveira, Ildefonso e Reis, Orlando dos (seleção e organização de), São Francisco de Assis. Escritos e biografias de São Francisco de Assis. Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano, Vozes, Petrópolis, 1988, p. 526. 5 Leão, chamado por São Francisco de “irmão ovelhinha”, era sacerdote, seu confessor e secretário. Ele recolheu e transmitiu com seus escritos algumas das páginas mais ricas da espiritualidade franciscana. Rufino, primo de Santa Clara, é considerado como verdadeiro santo antes de sua morte. Masseu, tendo vivido por setenta anos na Ordem, tornou-se como um guardião do espírito das origens franciscanas. Angelo de Rieti acompanhou São Francisco em muitas de suas peregrinações e elaborou, por ordem do Santo, o Cântico do Sol. 50 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 reunidos sob o manto da Virgem, expressam também as palavras de Tomás de Celano ao narrar a consagração de Clara: “...lucidamente se conhece que uma e outra Ordem religiosa a Mãe de Misericórdia deu à luz na sua casa”6. Igreja do Carmo A igreja do Carmo possui uma representação da Senhora da Misericórdia no silhar azulejado que reveste sua nave7. No conjunto, os azulejos apresentam dez painéis com episódios da história carmelitana e a cena da Misericórdia marca o início da série. Este painel encontra-se no espaço da capela-mor, ao lado direito do altar. Nossa Senhora, sobre nuvens, está vestida com as características próprias da Virgem do Carmelo, com hábito, escapulário e escudo da Ordem, mas sem o menino Jesus nos braços. A capa, que também faz parte da indumentária carmelita, assumiu, porém, uma dimensão extraordinária e bela. Nestes azulejos, 6 Tomás de Celano, Legenda de Santa Clara, cap.VIII. Segundo estudiosos da azulejaria portuguesa, esses azulejos em nuances de azul começam a ser produzidos em Portugal por volta de 1670 e se estendem até meados do século XVIII. Muitas cargas foram enviadas para nossas igrejas e conventos nesse período, mesmo que sua aplicação possa ser bem posterior. 7 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 51 diferentemente das outras figurações, a Virgem foi retratada de mãos postas e coroada. No campo do esplendor, em torno de sua cabeça, sete cabeças de anjos alados compõem uma espécie de diadema celestial que realça e embeleza sua figura “divinizada”. Outros quatro anjos alados seguram e estendem sua capa, transformando-a em grande tenda de acolhimento. Ao lado direito da Virgem foram pintadas figuras masculinas mais representativas para os carmelitas, formando um grupo de sete personagens. Os que se encontram em primeiro plano podem ser identificados como São Simão Stock, o mais próximo da Virgem, seguido de Santo Alberto de Jerusalém, sem o hábito carmelita, e São João da Cruz. São Simão Stock nasceu na Inglaterra, em 1165. Reestruturou a vida carmelitana e foi agraciado com uma visão de Nossa Senhora. Maria apareceu-lhe com o escapulário da Ordem, prometendo especial proteção para quem usasse aquela insígnia8. Ele é o fundador da Irmandade do escapulário. Santo Alberto de Jerusalém nasceu na Itália, por volta do ano 1149. Não pertenceu à Ordem do Carmo, mas tornou-se seu primeiro legislador. Quando era Patriarca em Jerusalém, entre 1206-1214, agrupou em comunidade os irmãos eremitas do monte Carmelo, dando-lhes por escrito uma Regra de vida. Entre os carmelitas, o seu culto aparece pelo início do século XVI. São João da Cruz nasceu em 1542, na Espanha. Estimulado por Teresa de Ávila, aceitou o desafio de empreender a reforma dos conventos masculinos da Ordem, dando origem ao ramo dos Carmelitas Descalços. Com o objetivo de voltar às rígidas origens da espiritualidade do deserto, sofreu incompreensões, sofrimentos e até prisão pelos seus irmãos de hábito. Nesse tempo, porém, surgiram suas mais profundas inspirações espirituais traduzidas em poemas que, mais tarde, lhe renderam a honra de ser aclamado como grande místico. Foi canonizado por Bento XIII, em 1726. Os que foram retratados depois destes santos, talvez sejam apenas figuras elaboradas pelo artista para melhor compor a cena9. 8 Esta aparição de Nossa Senhora a São Simão Stock está representa no painel defronte, no mesmo espaço da capela mor. Na comparação dos dois painéis, sua imagem é inconfundível. 9 No caso do artista ter retratado outros santos realmente existentes, é possível pensar em Santo Ângelo e Santo Alberto da Sicília, ambos do século XIII e primeiros santos da 52 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Ao lado esquerdo da Virgem estão figuras femininas formando um grupo de nove personagens. Em primeiro plano encontram-se aquelas com o hábito religioso. A figura mais destacada, colocada no centro e à frente do grupo, deve ser Santa Tereza de Jesus ou de Ávila, a grande reformadora do Carmelo. Santa Tereza nasceu em Ávila, na Espanha, no ano de 1515. Impressionada por visões e revelações, começou a restabelecer a Regra das carmelitas em todo o rigor primitivo, iniciando o ramo das Carmelitas Descalças. Mesmo encontrando muitas resistências, conseguiu fundar e reformar mais de 30 conventos. Possuidora de sólidas virtudes, dotada de grande inteligência e profundo conhecimento teológico, é reconhecida como a grande reformadora da Ordem. Seus numerosos escritos asseguraram-lhe um dos primeiros lugares entre os místicos escritores. Foi canonizada por Gregório XV, em 1622. As outras duas religiosas, mesmo sem qualquer certeza, podem ser Santa Maria Madalena de Pazzi, mais próxima da Virgem, e a Beata Ana de São Bartolomeu, ao lado esquerdo de Santa Teresa10. As outras figuras femininas, no nosso entender, são figuras de composição para dar volume à cena representada. Percebemos que os carmelitas quiseram retratar, sob o manto da Virgem, aqueles que representavam a Ordem como fundadores ou reformadores e que deixaram seus escritos para a posteridade, além da reconhecida santidade. Eles expressam, portanto, o triunfo da Misericórdia e a glória do Carmelo! *** As representações da “Mãe de Misericórdia” se identificam na iconografia com o manto, mesmo apresentando características Ordem do Carmo. Outro possível é São Pedro Tomás, do século XIV, carmelita e Patriarca latino em Constantinopla. É cultuado oficialmente desde 1609. As biografias dos santos e santas da Ordem podem ser facilmente encontradas em sites que tratam do assunto. 10 Santa Maria Madalena de Pazzi nasceu na Itália, em 1566. Carmelita Descalça, foi favorecida por experiências místicas com êxtases, visões e revelações espirituais. Suas mensagens foram publicadas com o nome de Contemplações. Ela também escreveu muitas cartas para papas e príncipes contendo ensinamentos e REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 53 próprias em cada igreja analisada. No entanto, nem de longe esgotam o tema da misericórdia! Cada instituição, segundo critérios de uma época, adotou para si Aquela que é de todos e para todos, Aquela que alcança, acolhe e transmite a misericórdia de Deus para os “... degredados filhos de Eva...”, expressão da Salve Rainha para significar a humanidade inteira. Cada grupo humano ou cada pessoa individualmente pode colocar-se sob o manto protetor de Maria e com ela cantar o mesmo Magnificat, pois a misericórdia de Deus “se estende, de geração em geração, sobre aqueles que o temem” (cf. Lc 1, 46-55). orientações para a renovação da Igreja. Foi canonizada por Clemente IX, em 1609. A beata Ana de São Bartolomeu nasceu na Espanha, em 1549. Foi secretária de Santa Teresa, participando das longas e difíceis viagens para fundar novos conventos reformados, escrevendo cartas e outros textos que depois serviram para a história da Ordem. Com a morte da Santa, em 1582, foi considerada herdeira imediata de sua espiritualidade. Sua beatificação é recente, proclamada por Bento XV, em 1917, mas sua fama de santidade vem desde o seu falecimento. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 55 UM IMPORTANTE DETALHE DA ATIVIDADE JORNALÍSTICA E DA CONTRIBUIÇÃO HISTORIOGRÁFICA DE UM FECUNDO E LONGEVO POLÍGRAFO: JOÃO RODRIGUES CORIOLANO DE MEDEIROS, SÓCIO FUNDADOR E PATRONO DA CADEIRA Nº 07 DO IHGP GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D’AVILA LINS Por paradoxal que possa parecer, fica cada cada vez mais difícil falar a respeito da figura inolvidável do Prof. João Rodrigues Coriolano de Medeiros, a menos que se rememore os já bastante divulgados aspectos da sua vida tão longeva (mais de 98 anos) quão prolífica como publicista multifacetado (mais de 330 trabalhos de todos os tipos, por ele assinados, às vezes sob pseudônimos, na quase totalidade publicados efetivamente, porém alguns ainda inéditos), seja como jornalista, seja como romancista, seja como dramaturgo, seja como poeta, seja como folclorista, seja como historiador, seja como corógrafo, seja como biógrafo, seja como memorialista. Noutras palavras, desde há muitos anos têm sido tantos e tão bem qualificados os que me antecederam ao tratar da vida e da obra de Coriolano de Medeiros que, sem receio de exagerar, pouco me resta para fa-lar aqui neste sentido, a não ser que eu me valha, por assim dizer, de uma “lente de imersão no meu microscópio”, buscando desta maneira no “grande aumento” a observação do detalhe eventualmente ainda pouco destacado, apesar de este procedimento tão valioso nas ciências biológicas, quando usado exclusivamente, poder tirar do observador a visão de conjunto do objeto observado, visão de conjunto esta que, por outro lado, já está sobejamente analisada por outros. Desta maneira, começa a se esboçar, a traços largos, o tipo de rumo que tomarei na caminhada da homenagem ao Patrono da Cadeira que ocupo hoje nesta Casa. 56 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Antes, porém, e a bem da verdade, devo registrar aqui pelo menos algumas das inúmeras autoridades que, ao longo do tempo, já versaram proficientemente sobre a vida e a obra deste meu homenageado. Dentre os ensaios de outras autoridades posso assinalar um do Prof. (José) Gláucio Veiga, do ano de 1958, intitulado Saudação a Coriolano de Medeiros. No ano de 1965 houve também o artigo denominado O Velho Mestre do Desembargador Aurelio Moreno de Albuquerque. Existe ainda um trabalho impresso de doze páginas, sem data mas, aparentemente, do ano de 1965, intitulado Ascendências Ge-nealógicas do Professor Coriolano de Medeiros, da autoria de Manuel Henrique da Silva (Né Marinho). Já em 1966 o meu amigo Deusdedit de Vasconcelos Leitão publicou o trabalho Coriolano de Medeiros — Presença da Paraíba em sua Biografia. Em 1967 o saudoso Sebastião de Azevedo Bastos publicou em dois jornais desta cidade o artigo Coriolano de Medeiros. Em 1971 meu caro colega e filho do homenageado em epígrafe, Dr. José Batista da Silva — a quem agradeço de público as horas agradáveis e proveitosas, durante as quais muito aprendi sobre seu pai — publicou o artigo Homenagem a Co-riolano de Medeiros. Já em 1972 Celso Otávio de Novais deu à es-tampa num jornal desta cidade o trabalho intitulado Coriolano de Medeiros. No mesmo ano de 1972 J.J. Torres publicou em um jornal do Recife o artigo O Mestre Coriolano de Medeiros. Ainda no ano de 1972 Ernani Ayres Satyro e Souza publicou em dois periódicos locais o artigo Coriolano de Medeiros. No ano de 1973 o Dr. José Batista da Silva estampou também em periódico local o artigo Coriolano de Medeiros, uma lição de vivência. No ano de 1974 meu outro homenageado na noite de hoje, o Prof. Octacílio Nóbrega de Queiroz divulgou através de um jornal local o artigo Coriolano de Medeiros. Ainda no mesmo ano de 1974 o jornalista e acadêmico Luiz Gonzaga Rodrigues escreveu e publicou num periódico desta cidade o artigo Coriolano. No ano de 1975 o saudoso Eduardo Martins da Silva ofereceu uma minuciosa investigação sobre o homenageado em tela na sua publi-cação Coriolano de Medeiros: Notícia Bio-bibliográfica. Ainda no ano de 1975 foi a vez de o então Cônego e hoje Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares traçar um escorço biográfico de João Rodrigues Coriola-no de Medeiros na publicação Instituto Histórico e REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 57 Geográfico Paraibano e seus 70 anos: Ligeira Notícia Biográfica dos Sócios Fundadores. No ano de 1979 o meu saudoso amigo Dr. Maurílio Augusto de Almeida publicava o trabalho Coriolano de Medeiros, o Humanista, in: Cadeira Número Sete, quando da posse daquele ilustre médico, escritor e historiador na Academia Paraibana de Letras (APL), solenidade a qual tive a honra de estar presente com a minha esposa. Ainda no ano de 1979 uma parte substancial da REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO (v. 22) foi destinada a várias homenagens ao Patrono da Cadeira N.º 07 da Casa de Irineu Ferreira Pinto. Eis os trabalhos que caracterizavam estas homenagens: Coriolano e a Revista do Instituto Histórico da autoria do Prof. José Octávio (de Arruda Mello), Reflexões sobre um Historiador pelo Dr. Higino (da Costa) Brito, Visão de Coriolano de Medeiros da autoria de Deusdedit (de Vasconcelos) Leitão, O educador Coriolano de Medeiros da autoria do Prof. Itapuan Bôtto (Targino), Coriolano de Medeiros da lavra de Ivan Bichara (Sobreira), Coriolano, o Justo da autoria do então Cônego e hoje Monsenhor Eurivaldo C(aldas). Tavares e Coriolano de Medeiros: Notas para sua Biografia da autoria do Dr. Humberto (Carneiro da Cunha) Nóbrega. Bem mais recentemente, já no presente ano de 1999 surgiu a plaqueta Coriolano de Medeiros da autoria de Deusdedit (de Vasconcelos) Leitão, fazendo parte da “Coleção Historiadores Parai-banos” (v. 2), chancelada pelo Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IGHP). Finalmente, há apenas poucos dias João Rodrigues Coriolano de Medeiros foi alvo de competente atenção e merecida alusão no Dis-curso de posse do Acadêmico Dorgival Terceiro Neto, em 17 de julho de 1999, na Cadeira N.º 07 da Academia Paraibana de Letras (APL), sucedendo ao Dr. Maurílio Augusto de Almeida. Essa encorpada relação de tributos ao Prof. Coriolano de Medeiros representa apenas uma amostragem muito parcial do que eu já havia prenunciado. Ainda antes de lançar minha visada para o enfoque que pretendo descortinar aqui é preciso salientar que, ao lado da sua ver-tente de professor e de publicista de grandes merecimentos, João Rodrigues Coriolano de Medeiros foi, eminentemente, um semeador e criador de instituições culturais. Dentre elas pode-se citar o assim grafado Centro Litterário 58 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Parahybano [CLP] (1893), a Universidade Popular [UP] (1913) e a Associação de Homens de Lettras [AHL] (1917). Adicionalmente ele foi Sócio Fundador do então grafado Instituto Historico e Geographico Parahybano [IHGP] (1905) e, posteriormente, Patrono da sua Cadeira N.º 07, além de Sócio Fundador do Gabinete de Estudinhos de Geografia e História da Paraíba [GEGHP] (1931) e ocupante da sua Cadeira N.º 06, de que é Patrono (Dr. Manuel) Arruda (da) Camara e ainda Sócio Fundador da Academia Paraibana de Letras [APL] (1941), sendo o primeiro ocupante da sua Cadeira N.º 07, de que é Patrono o grande Arthur Achilles dos Santos. Isto posto, utilizemos agora aquela “lente de imersão”, através da qual iremos focalizar um importante detalhe da atividade jornalística e da contribuição historiográfica de João Rodrigues Coriolano de Medeiros, detalhe este que, embora não raramente assinalado de forma superficial, não creio que já tenha sido rebuscado de uma maneira mais amiudada ou mediante um delineamento da integralidade do seu corpus. Existe até uma possível explicação para que o citado detalhe não tenha sido ainda muito esmiuçado: a dificuldade de acesso às suas fontes que, rapidamente, se tornaram bastante escassas. Como eu tive a rara oportunidade de, gradativamente, vir a possuir a coleção quase completa destas fontes, surgiu-me a idéia de que, discorrendo um pouco sobre elas como um todo e sobre seu conteúdo, seria uma forma interessante de prestar aqui esta homengagem ao Prof. João Rodrigues Coriolano de Medeiros. Refiro-me aqui ao GEGHP - GABINETE DE ESTUDINHOS DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA DA PARAÍBA (o periódico) e, por via de conexão, também do Gabinete de Estudinhos de Geografia e História da Paraíba [GEGHP] (a intituição que gerou o periódico do mesmo nome). Para tecer comentários sobre este periódico, bastante modesto quanto à sua apresentação gráfica porém de extrema importância editorial e de igual importância sob vários aspectos do seu conteúdo, ainda relativamente muito pouco conhecido em decorrência da sua raridade, é conveniente que ab initio sejam dedicadas algumas palavras à instituição cultural Gabinete de Estudinhos de Geografia e História da Paraíba (GEGHP) sem, entretanto, descer ao detalhamento dos antecedentes que culminaram com a criação desta versão paralela, miniaturizada e temporária do Instituto Histórico e Geográfico REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 59 Paraibano (IHGP), o qual publicou durante cerca de onze anos nada menos que trinta números do seu periódico oficial, dos quais possuo hoje vinte e sete deles. Pois bem, a instituição cultural Gabinete de Estudinhos de Geografia e História da Paraíba (GEGHP) nasceu precisamente “Aos 27 de Setem-bro de 1931, por suggestão de Coriolano de Medeiros e iniciativa de Pedro Baptista [Guedes]”. A reunião de fundação da entidade em tela, com a presença dos dois anteriores, se deu na residência de Hortensio de Souza Ribeiro que também aí se encontrava. A este grupo original lo-go se agregou, dias depois (, 02 de outubro de 1931,) José Gomes Coêlho e Matheus Augusto de Oliveira. Estava assim criado o Gabinete de Estudi-nhos de Geografia e História da Paraíba (GEGHP), composto de um nú-mero limite de apenas sete Sócios Efetivos e destinado “exclusivamente a estudar e divulgar a geographia e a historia desta unidade nacio-nal”. Seu estatuto era bastante sugestivo no que diz respeito à sua inspiração. Compunha-se de um decálogo de normas estabelecendo que jamais haveria uma diretoria eleita na instituição e em cada uma de suas reuniões seria escolhido um Presidente e um Secretário, cujas funções se extinguiam ao término das sessões. Além disso, nenhuma contribuição pecuniária fixa seria cobrada obrigatoriamente dos sócios, entretanto, as despesas seriam reatadas pelos mesmos. A cada mês seria escolhido um Sócio Efetivo para fazer a correspondência e registrar os anais da instituição num livro, em cujas primeiras páginas seria transcrito o decálogo estatutário referendado pelas assinaturas de todos os membros. Os Patronos escolhidos para as sete Cadeiras do Gabinete de Es-tudinhos de Geografia e História da Paraíba (GEGHP) foram Maximiano Lopes Machado (Cadeira N.º 01), Irenêo [Ceciliano Pereira] Joffily (Cadeira N.º 02), Francisco [Soares da Silva] Retumba (Cadeira N.º 03), Irineu [Ferreira] Pinto (Cadeira N.º 04), Pedro Americo [de Albuquerque Mello] (Cadeira N.º 05), [Manuel] Arruda [da] Camara (Cadeira N.º 06) e o Cônego Bernardo de Carvalho Andrade (Cadeira N.º 07). Inicialmente apenas cinco Cadeiras foram ocupadas: a Cadeira N.º 02 por Hortensio de Souza Ribeiro, a Cadeira N.º 03 por Matheus Augusto de Oliveira, a Cadeira N.º 04 por José Gomes Coêlho, a 60 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Cadeira N.º 06 por João Rodrigues Coriolano de Medeiros e a Cadeira N.º 07 por Pedro Baptista Guedes. Apesar das inerentes dificuldade financeiras que uma instituição desse tipo teria de enfrentar, em qualquer época, é muito tocante perceber entre seus membros a disposição de, da forma que pudessem, fazer circular mensalmente, repito mensalmente e com data marcada (o dia 27 de cada mês) uma revista cujo número avulso, na época em que foi lançado o N.º 1 a 27 de outubro de 1931, custava $ 500 enquanto que a assinatura anual (doze números), custava 6$000. O mais impressionante é que aquela periodicidade mensal foi quase que rigorosamente mantida durante os doze primeiros números. A partir daí, o que é bastante com-preensível, o ritmo não manteve a mesma cadência embora a publicação continuasse nos anos seguintes até, pelo menos, o N.º 13 e o N.º 14 do Volume III, impresso em 01 de outubro de 1941. O saudoso Eduardo Martins da Silva, além de tudo um respeitável bibliófilo, assinalou mais um número do GEGHP GABINETE DE ESTUDINHOS DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA DA PARAÍBA (que eu não possuo nem tampouco existe hoje no acervo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano [IHGP], nem ainda na monumental Biblioteca que foi do saudoso Dr. Maurílio Augusto de Almeida), ou seja, o N.º 15-16 do Volume III, impresso em 31 de maio de 1942, aparentemente o último publicado deste periódico, onde estão estampados dois artigos de Coriolano de Medeiros sobre D. Vital. Não faz muitos dias que o Dr. Fábio da Rocha, filho do Dr. Maurílio Augusto de Almeida, com a gentileza que lhe é peculiar, me facultou a consulta à já citada grandiosa Biblioteca, como no tempo do seu saudoso pai, para eu ver se poderia ali encontrar exemplares faltantes daquele periódico. O garimpo foi, sem dúvida, bem sucedido e o meu amigo e colega Dr. Fábio da Rocha me brindou, em cópias xerográficas, dois exemplares que eu ainda não possuía, além de me ceder um outro exemplar original, em duplicata, que eu só possuía sob a forma de cópia xerográfica. Na ocasião pude manifestar minha gratidão por aquela nímia gentileza oferecendo-lhe também cinco exemplares do mesmo periódico, em cópia xerográfica, que ele, por sua vez, não possuía. De todo modo, além daquele exemplar assinalado por Eduardo Martins da Silva, do ano de 1942, ainda me faltam dois outros, respectivamente os de N.º 06 e de N.º 07 do Volume II, cujo REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 61 ano de publicação deve corresponder ao de 1934, sem se poder descartar, entretanto, os anos de 1935 e 1936, pelo menos no que se refere ao segundo dos dois números. É que, a essa altura, a revista em tela já apresentava um ritmo bastante irregular pois no ano de 1933 circularam apenas três números (início do Volume II). O N.º 04 e o N.º 05 do Volume II são de 1934. Existe aí um hiato na minha coleção para, na seqüência, virem o N.º 08-09 do Volume II em 1936, o N.º 10 do Volume II em 1936 e o N.º 11-12 do Volume II em 1936. Já no primeiro número desse periódico (27 de outubro de 1931) o Prof. Coriolano de Medeiros dava à luz um artigo seu intitulado Outrora e Hoje: Fisiografia do local onde Martim Leitão situou a metrópole paraibana. Mas o que eu desejo aqui não é propriamente nominar cada trabalho por ele publicado naquela revista, embora possa dizer que todos os números que possuo apresentam a contribuição de Coriolano de Medeiros (expressamente declarada ou não). Talvez até em decorrência do fascínio que as fontes primárias exercem sobre mim, uma das cousas que eu pretendo destacar naquele periódico é a sua secção de DOCUMENTOS onde se encontra um inesti-mável acervo de peças cartoriais, transcritas ali na íntegra, peças estas que com muita probabilidade correm o risco de não mais existirem em qualquer outro local. Vários dos documentos ali publicados, originais ou em cópia, haviam pertencido ao próprio Prof. Coriolano de Medeiros mas, ao que tudo indica, estão hoje irremediavelmente perdidos. Embora sem muita esperança, não se pode descartar a remota chance de, através de uma laboriosíssima pesquisa nos antigos cartórios deste Estado, particularmente os do interior, se poder vir a resgatar pelo menos alguns daqueles documentos somente publicados no periódico GEGHP - GABINETE DE ESTUDINHOS DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA DA PARAÍBA. O primeiro documento transcrito nessa revista é uma “Procuração bastante que faz Leandro Nunes de Figueirêdo, morador da fazenda dos Patos na Ribeira do Espinharas em 1764” (Documento pertencente a Coriolano de Medeiros). A seguir vem uma “Escriptura [do dia 17 de julho de 1768] de doação para patrimonio que fazem o Tent. Cel. Caetano Dantas Correa e m.er [mulher] D. Josefa de Arº [Araujo] Per.ª [Pereira] de meya legoa de terra na serra chamada do Coyté da freg.ª 62 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 [freguesia] da Senhora Sant’Anna do Seridó para a Capella que na ditta serra pretendem erigir com a invocação [de] Nossa Senhora das Mercês” (Documento pertencente a Coriolano de Medeiros). Em seguida vem um documento, talvez o mais precioso de todos, que corresponde à terceira carta de data em sesmaria na então incipiente Capitania da Paraíba, outorgada no dia 03 de junho de 1587 no rio Jacuípe, próximo ao Forte Velho, a “Amador de Resende”, nome este que deve ser entendido como Amaro de Resende, figura bastante conhecida naquela época (Cópia pertencente a João Domingos dos Santos). Perceba-se que esta carta de data sequer foi assinalada por João de Lyra Tavares nos seus Apontamentos para a História Territorial da Parahyba. Temos também uma “Escriptura de venda [a 11 de dezembro de 1767] de hum sitio de terras de criar gados chamado Poção [na Ribeira do Piancó] que fasem Diogo Fern[ande]s. Per[eir]a. e sua molher Maria Ferreira da Rocha a Franc.º [Francisco] de Mello Leite” (Documento de Coriolano de Medeiros). É de se citar ainda um “Traslado de Escritura [a 05 de fevereiro de 1799] de Thomé Alves da Costa da compra que faz do sitio Riacho Verde [na Serra do Teixeira] a Antonio de Andrade Baptista e sua molher” (Documento de Pedro Baptista Guedes). Temos ainda um auto de “Posse [em 15 de outubro de 1667] que toma o Governador André Vidal de Negreiros do Engenho e sitio Massangana da envocação [de] Nossa Senhora d’Agua de Lupe, termo da Cidade [de] Nossa Senhora das Neves, Cappitania da Parahiba” (Documento de João Domingos dos Santos). Há também um “publico estromento de perdão e declaração de verdade que dá [no dia 22 de junho de 1675] Caterina Soares molher de Rodrigo Soares ao Cappitão-Mor Agostinho Cezar de Andrade” (Documento de João Domingos dos Santos). Temos também uma “Escriptura de perdão que [no dia 14 de abril de 1768] dá Antonio Gomes de Britto a João Felippe Bezerra nesta Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó, capitania da Parahiba do Norte” (Documento de Coriolano de Me-deiros). Há ainda a “Escriptura de venda [a 23 de novembro de 1668] REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 63 de hu engenho de assucar [, o Massangana, sob a invocação de Nossa Senhora da Água de Lupe, no Itapuá,] e suas pertenças, que faz o Governador André Vidal de Negreiros ao Mestre de Campo Antonio Curado Vidal” (Documento de João Domingos dos Santos). Complementando o documento anterior existe também o “Auto de pose [sic] que toma [no dia 25 de novembro de 1668] o Mestre de Campo Antonio Curado Vidal do engenho [Massangana] e terras conteúdas no Tapuhá” (Documento de João Domingos dos Santos). Pode igualmente ser mencionado aqui a “Escretura [a 12 de junho de 1675] de doação de huma sorte de terras que fazem Sebastião Delgado e sua molher Natalia da Silva á Virgem Nossa Senhora da Conceição da Capella da Aldeia de Joacoca” (Documento de João Domingos dos Santos). Ressalto ainda no dia 09 de dezembro de 1670 a “Escritura de venda à retro aberto, ou seja, sob a condição de o trato se desfazer com a devolução, ao comprador, da quantia por ele originalmente paga] que faz [o Capitão] Duarte Gomes da Silveira, neto do homônimo seu, bem mais famoso], [d]o Engenho Novo, Sto. Antonio, ao Sr. Governa-dor André Vidal de Negreiros” (Documento de João Domingos dos Santos). Para concluir diga-se que esses valiosos dados aqui assinalados representam apenas uma pequena ilustração do precioso acervo documental que aquela modesta e relativamente pouco conhecida, porém importantíssima revista paraibana publicou com a inestimável participação de Coriolano de Medeiros e o registro que acabo de salientar constitui o fulcro da minha homenagem a este saudoso polígrafo. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 65 POLÍTICA SOCIAL - SÍNTESE HISTÓRICA Maria Auxiliadora Bezerra Borba Na Antiguidade, na Idade Média e no decorrer dos séculos, o mundo foi pautado pelos saberes teóricos, científicos e filosóficos, transmitidos por pensadores clássicos e por diferentes sistemas de governos autocráticos ou democráticos Experimentou momentos de descobertas e criações, de acertos e erros, de lutas e de vitórias que aos poucos foram construindo as histórias dentro do contexto universal de cada povo e de cada Nação. Esses condicionamentos perpassaram fronteiras e se instalaram em várias sociedades, diferenciados pelos comportamentos pessoais, situações geográficas, sistemas de governos, novas teorias e ideologias, vigentes em diversas épocas. O cientificismo, a moral, a técnica e a doutrina aliados aos outros conhecimentos trazidos pelas ciências sociais como: sociologia, antropologia, economia-política e psicologia; aos valores morais, religiosos e éticos, bem como aos princípios doutrinários e teóricos, compuseram o plano do saber abstrato, apoiados mormente nas correntes do Iluminismo, do Liberalismo e do Classicismo. Teóricos e filósofos sociais dos séculos XVII e XVIII, integrantes da Academia Francesa, como:Charles-Louis de Montesquieu (Barão de La Brède e de Secondat), François Marie Arouet (Voltaire}, e Denis Diderot, elaboraram temas que originaram novas concepções a respeito do mundo, surgindo o Racionalismo, na Europa. Montesquieu era dotado de grande conhecimento literário, foi magistrado sagrando-se filósofo-político e escritor. Dentre as obras por ele escritas, destaca-se “O Espírito das Leis”, que teve preponderante influência no Classicismo e nas ciências sociais do mundo ocidental até a contemporaneidade. Voltaire, igualmente literato e filósofo era, também, historiador. 66 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Desenvolveu suas atividades junto a Academia Francesa por mais de 40 anos. Certamente, por ter sido longevo, dentre eles, foi o que mais escreveu. Suas obras repercutiram não somente na Europa, mas em todo o mundo. A mim, importa destacar, para efeito deste trabalho a”Filosofia da História,” traduzida em diferentes continentes e ainda hoje, utilizada nos ensaios histórico–filosóficos, como referência ou como base para várias disciplinas do campo teórico do saber. O filósofo político e social, Jean Jacques Rousseau, integrante da Academia de Dijon, na Suíça, tratou em duas de suas conferências sobre o restabelecimento das ciências e das artes no melhoramento dos costumes e sobre a origem da desigualdade entre os homens. Tais escritos anteciparam e embasaram, de forma significativa, sua obra: Do Contrato Social”, de grande valor sociológico que influenciou as gerações, durante os séculos, mormente nos países ocidentais.. Filósofos como Adam Smith e Thomas Hobbes, criaram nos Estados Unidos, a teoria do Liberalismo. Deixo de mencionar outros grandes nomes que influenciaram o estudo das sociedades, bem como as principais correntes e teorias por eles criadas. Contudo, lembro Augusto Comte, Émile Durkheim, Carl Max, e Max Weber no âmbito sociológico e Aristóteles, Sócrates, Platão, Georg Wilhelm Friedrich Heggel, Santo Agostinho e São Thomaz de Aquino, no âmbito filosófico. Além dos acima citados, que refletiram sobre as situações determinantes do capitalismo e do socialismo, das lutas, guerras e pós-guerra na história dos povos, outros tantos pensadores e teóricos, em diferentes épocas, tiveram influências direta ou indireta de forma marcante, alicerçando a criação da Política Social no mundo. Após essas reflexões iniciais, passo a expor, em breves linhas, o objetivo específico do presente trabalho, sobre o surgimento da Política Social no Mundo. Após a I Guerra Mundial, a Europa entrou num processo de mudança e de readaptação, a partir do ano de 1919, culminando com o período pós II Guerra, em l945, quando as nações sentiram a necessidade de estreitarem laços de união para estudarem os seus problemas de ordem econômica e social. Em 1945, reunidas, estiveram 51 nações, quando elaboraram e subscreveram um documento denominando-o de “Carta das REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 67 Nações,¨ hoje, internacionalmente conhecida e respeitada por todas as 191 nações dos vários continentes que a compõem, com o nome de Organização das Nações Unidas - ONU. Àquela época, surgia de forma incipiente, uma proposta para a paz mundial, através de uma carta de intenções, referendando propostas advindas das nações ali representadas, calcadas nas suas realidades sócio-continentais. No decorrer dos anos, certamente, muitos povos através das suas representações oficiais, refletiram sobre as suas necessidades e as discutiram, de forma ampla ou restrita, nos seus territórios e na ONU. No contexto latino-americano as démarches para sair do estágio do subdesenvolvimento; as buscas do bem comum e do bem estar social suscitaram discussões e reflexões sobre a POLÍTICA SOCIAL como forma alternativa para o estudo daquela problemática. Estudiosos debruçaram-se sobre o assunto, sistematizando conhecimentos e elaborando conceitos como suportes à temática em questão. Dentre eles Thomas Humphrey Marshall, respeitado sociólogo inglês, detentor de outros titulos como o de professor emérito da Universidade de Londres onde exerceu a cátedra de Sociologia e posteriormente, como docente da Escola de Economia, de 1925 a1955. Foi ainda ocupante do cargo de consultor educacional do Alto Comissariado Britânico na Alemanha e diretor do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO. Marshall tornou-se conhecido no Brasil, como escritor e pensador pelo sólido conhecimento de história econômica e social. Ainda por sua erudição sociológica e pelo devotado interesse na filosofia política e no bem estar do homem e da sociedade. Tornouse mentor do assunto Política Social através de seus trabalhos e escritos, sobretudo das suas obras, traduzidas para a língua portuguesa. a partir da década de cinqüenta, do século XX. No bojo das discussões, tentava-se compreender a Política Social como ciência, como técnica e ainda, como doutrina. Sabe-se que a ciência consiste numa sistematização de conhecimentos verdadeiros, empiricamente adquiridos sobre uma determinada realidade, mediante prova e método, para a constatação da realidade em si mesma; que a técnica, por sua natureza, consiste 68 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 na aplicação neutra de princípios sistematizados pela ciência empírica. Resta-nos agora, a reflexão sobre doutrina, uma vez que é entendida como um conjunto de princípios técnicos ou dogmas sobre uma determinada realidade. São princípios em nível abstrato, sem descer necessariamente à prática. Diante dessas considerações preliminares, há de se convir que a Política Social não se adapta à condição de ciência empírica, uma vez que ela tem como objetivo transformar a realidade e promover o bem estar social. Também, não pode ser técnica, porque o seu fazer estar direcionado para prover o bem estar social e isto implica em conotações de ordem moral. Tampouco, não pode ser doutrina, uma vez que a mesma trabalha com princípios que servem de base aos sistemas filosóficos e científicos. Portanto, o fazer da Política Social é absolutamente diferente. Enfim, a Política Social pode ser definida como um programa concreto de construção ou de transformação da realidade social. Pertence ao plano prático. Comanda a ação transformadora e prepara racionalmente a ação. Necessita da ciência, da técnica, da doutrina e da moral que se encontram no plano do conhecimento abstrato. Em suma: a tríade: ciência, técnica e doutrina podem ser consideradas como pilares fortalecedores de qualquer programa concreto de ação, visando à transformação da realidade política, econômica e sócio-cultural. A Política Social, a cabo de cinco décadas, após ser definida com precisão em sua forma de ação, conseguiu ser ponto de referência para várias sociedades com diversidade social. Seu foco de ação situa-se, primordialmente, nas desigualdades e nas mudanças sociais. Elencou-se como disciplina curricular em alguns cursos de nível superior, destacando-se, no Brasil, os cursos de Serviço Social. Contudo, situa-se como um tema complexo no âmbito do conhecimento. Discutem-se os seus fundamentos. Alegam alguns que, a Política Social surgiu em resposta aos problemas decorrentes da sociedade burguesa enquanto outros destacam seu entrelaçamento com a mentalidade socialista. Convém lembrar que ela tem seu corpo de conhecimento REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 69 centrado na práxis, e na práxis atua. É compreendida como um programa concreto de ação, direcionado para as necessidades das pessoas em sociedade e da sociedade como um todo. Estabelece linhas para o planejamento das dinâmicas sociais de cada Nação ou povo, de forma global ou dicotomizada, em atendimento às necessidades humanas e sócio-culturais. A Política Social tem-se firmado nos vários continentes, desde as últimas décadas do século XX. A expectativa é de que a sua ação tenha significativa repercussão no século XXI desde a elaboração global e/ou parcial, dos seus planejamentos, programas e projetos destinados ao atendimento das necessidades básicas, principalmente, das populações mais carentes. Seus postulados exigem que as ações possam ser compartilhadas de forma integrada, nas áreas: sócio- econômica, urbana e rural. Que haja amparo total à educação, à saúde, ao trabalho e a seguridade social, nos diferentes segmentos. Que os administradores ou os gestores da causa pública possam conhecer de fato, as reais necessidades do seu povo e se envolvam com determinação e competência na solução dos seus legítimos problemas. Um dos fatores primordiais para o bom desempenho da política pública é a forma de considerar o homem e a sociedade com suas peculiaridades. Valorizar a sua cidadania e a sua competência profissional. Proporcionar habitação e alimentação, sobretudo para aqueles que não têm onde morar, nem o que comer. Propiciar oportunidades de trabalho e/ou favorecer-lhes meios para sua obtenção Ver o ser humano como seu semelhante, nunca como massa de manobra. Estabelecer políticas de inclusão social, de seguridade social e outras tantas que a necessidade exigir. Manter uma equipe competente para traçar programas que atendam as verdadeiras necessidades da população. Suscitar e abrir espaços para a criação e funcionamento legais de outras tantas políticas, sejam de ordem pública ou privada, organizações não governamentais (ONGs) quanto se fizerem necessárias para o desenvolvimento harmônico da sociedade. Avaliar, periodicamente, o desenvolvimento de cada um em particular sob um sistema concomitante de fiscalização em parceria com a participação popular. O crescimento da sociedade deve ser dimensionado para o 70 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 progresso social e para a paz, situando o homem como um ser histórico, dono do seu destino e com igualdade de oportunidades, garantindo o desenvolvimento da sociedade de forma harmônica, Tudo isso deve ser realizado visando ainda, a integração econômica e social, em consonância com os Direitos Humanos ditados pela ONU, através da sua Carta de Princípios. É assim que se compreende a dimensão da Política Social, no mundo moderno. Este é o resumo do seu histórico. Referências Bibliográficas MARSHALL, Thomas H – Política Social, Rio de Janeiro,Zahar Editora , 1965. ________ Política Social e Cidadania –Senado Federal,Brasília,1967 ________ Cidadania, Classe Social e Status-Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1967 POVIÑA, Alfredo ________Diccionario de Sociología através de los sociólogos, Buenos Aires, Editorial Astrea, (Tomos I e II), 1976. BORBA, Maria Auxiliadora Bezerra – Apontamentos de Aulas, 1972/1980. Stolf, Elton Diego – Cidadania, Estado e Direitos: uma referencia para o Redimensionamento do conceito da práxis da cidadania. In Revista IUS Gentium: Teoria e Comercio ao Direito Internacional – 2(1). Florianópolis – SC, 2009. 71 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 O POPULISMO RADICAL E SUAS ASSEMBLEIA PARAÍBA (1961/64) REPERCUSSÕES NA DA JOSÉ OCTÁVIO DE ARRUDA MELLO (com a colaboração da arquiteta Ana Fernanda Gomes Cunha Falcão) Sumário: 1.1. Nas propostas de uma comunicação. 1.2. Na definição de um conceito. 1.3. A visão contextual dos deputados paraibanos. 1.4. O avanço do radicalismo. 1.5 Da resposta da direita à extrema esquerda. 1.6. A mobilização estudantil e suas repercussões. 1.7 As tensões, da sociedade à tribuna parlamentar. 1.8. O contraponto de 1964 e a “liberdade antes confusa que nenhuma”. Bibliografia e Notas. Na reunião de 04 de abril de 1961, da Assembleia Legislativa da Paraíba, o deputado Heraldo Gadelha anunciou que “As Ligas se multiplicam. Nas senzalas dos engenhos, nas casas de farinha, numa biqueira de casa, em qualquer lugar elas são formadas e os camponeses recebem lições dos líderes camponeses, acusados decomunistas por aqueles que não tratam bem os camponeses, que não cuidam dos seus problemas” 1. 1.1. Nas propostas de uma comunicação- Suplente da bancada do Partido Socialista, que recorria à técnica de convocar os mais combativos substitutos para aquecimento das demandas sociais, o pronunciamento do parlamentar santaritense pode ser considerado emblemático. As instituições por ele referidas eram as Ligas Camponesas que, originárias do engenho Galiléia, na zona da mata pernambucana, encontraram terreno fértil, na Paraíba. Depois de tentativas dos militantes comunistas Anastácio Assunção e Leonardo Leal, no início e meados dos anos cinquenta, nas fazenda Subaúma, da zona rural de João Pessoa, e vizinhanças de Santa Rita, elas se cristalizaram no 72 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 município de Sapé, em 1958, sob a liderança do agrônomo Assis Lemos de Sousa, e não pararam mais. Irradiando-se, impetuosamente, pelas zonas canavieira, agreste e brejo paraibanos, além da periferia rural de cidades como Campina Grande, as Ligas constituíram o centro dinâmico do chamado populismo radical, vigente no Brasil, entre 1961 e 64. Nesse sentido, esta comunicação visa a exprimir os reflexos deste nos debates da Assembléia Legislativa do tempo. Para concretizá-lo, contamos com a colaboração da arquiteta Ana Fernanda Gomes Cunha Falcão, nossa bolsista de agosto de 1996 de julho de 1997, no Departamento de História da UFPB, quando ali ministramos a cadeira de História da Paraíba. Bastante precisos, os levantamentos da atual dirigente do escritório Sandra Moura, ensejam, onze anos depois, a retomada de tema presente a nossa História da Paraíba - Lutas e Resistência (na ed., 2008) e estudos como 1964 no Mundo, Brasil e Nordeste (1998, 2004) e Sociedade e Poder Político no Nordeste - O Caso da Paraiba 1945/64 (2001)2, 1.2 Na definição de um conceito- Conceptualmente, a questão central é a do populismo, definido por Femando Henrique Cardoso como reflexo da crise do modelo agro-exportador, o que explica sua irrupção pela América Latina dos anos trinta. De acordo com Afonso Arinos, o populismo caracterizou-se pela migração das grandes massas do campo para a cidade cuja liderança procurou enquadráIas, recorrendo a mecanismos herdados do coronelismo, como relação personalista e compadrio3. Considerando que “as massas não são tontas e ganharam muito com o populismo”, seu principal intérprete brasileiro - o cientista político Hélio Jaguaribe - considerou-o mecanismo de transição de uma democracia de classe média para a de massas4. A literatura sobre o populismo latino americano e brasileiro tornou-se abundante, graças a, entre outros, Eli Diniz, Luiz Bresser Pereira, Maria Lígia Prado, Octávio Ianni, Francisco Weffort, Fanny Tabak e Guita Grin Debert. Na Paraíba, ressaltem-se os estudos do Grupo José Honório e professora universitária Monique Citadino5. Destes, Tabak e Debert interessam-nos mais de perto. Enquanto em Ideologias - Populismo (1973), a primeira ressalta o REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 73 acento mágico de palavras de ordem agenciadas pelas multidões populistas como nacionalismo, reforma agrária, emancipação nacional, integração social e autodeterminação diplomática -, Debert fixou-se em sua elasticidade junto às principais lideranças da época, todas de viés populista. Nesses termos, enquanto Ademar de Barros centrava-se no favor e Miguel Arraes em a participação, Carlos Lacerda enfatizava a Justiça e Leonel Brizola convertia a autenticidade na pedra angular de seu edifício político6. Ora, o tempo histórico marcado pelas discussões parlamentares deste nosso estudo assinala-se por tais características. Enquanto os slogans populistas cobravam seu preço, os parlamentares paraibanos alinhavam-se claramente com Carlos Lacerda (Joacil Pereira e Egídio Madruga), Miguel Arraes (Assis Lemos) e Leonel Brizola (Agassis Almeida e Figueiredo Agra). Já os pessedistas, buscando espaço junto ao aparelho de Estado Federal, inclinavam-se pelo modelo ademarista, Tal o que, sequenciando as colocações de Sociedade e Poder Político no Nordeste, nos permitirá dissecar o populismo, pelo ângulo do discurso parlamentar, sempre “um ato político eficaz”. Mobilizando novas categorias como operários sindicalizados, estudantes e camponeses, em razão do que se aludia, nos arraiais da esquerda, a nebulosa Aliança Operário-Estudantil-Camponesa, esse populismo tornou-se radical por pretender descer à raiz (radical) de nossa problemática. Nisso ele se distinguia dos antecessores da década de quarenta e cinquenta, voltados para a predominância das elites (Rui Carneiro, Botto de Menezes, Oswaldo Pessoa, Damásio Franca e Severino Cabral, Osmar de Aquino, Apolônio Miranda e Pedro Gondim junto a poeira dos subúrbios7. Nesse sentido, o período 1961/64 presidiu a algo novo e precedeu a rutura, ao menos formal, de março/abril de 64. E encerrou contradição observada por Josué de Castro. Conservadora em matéria econômico-social, a direita fazia-se politicamente “revolucionária” por advogar saída armada, afinal consumada. Já a esquerda, revolucionária em termos econômico-sociais, era política e militarmente conservadora, daí porque não se preparou para o confronto. Sua estratégia consistia em apelar para a pressão das 74 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 massas, seduzi das pelo populismo radical, mas se comportando dentro da ordem legal. A ultrapassagem desta comportava apenas ações pontuais. 1.3. A visão contextual dos deputados paraibanos - Balisado pela renúncia do Presidente Jânio Quadros, consorciada com a adoção do parlamentarismo, o ano chave da deflagração do populismo radical foi 1961. Em face da chamada crise da legalidade de agosto desse ano, ela não inviabiiizou apenas a discussão do estudo Da conveniência da adoção do parlamentarismo no Brasil do deputado Joacil Pereira. Como por este reconhecido, na tribuna da Assembleia, a 07 de novembro de 1961, a renúncia teve outras implicações. Serviu para arrastar as massas às ruas, a princípio pelo cumprimento da Constituição e, posteriormente, pelas chamadas reformas de base. Pronunciando-se sobre estas a 20 de setembro de 1963, o deputado José Teotônio, do PSB, assim se expressou: “Há pouco tempo, os altos comandos nacionais enviaram solicitação ao Presidente da República, pedindo o envio do texto das reformas desejadas por S. Excia., a fim de as mesmas serem estudadas, mas, até hoje, S. Excia. não remeteu o texto das reformas”8. Discursando a 15 de maio de 63, o pessedista Nivaldo Brito percebeu algo inerente às reformas de base. Elas não uniam porque dividiam a nação, como comprovado pelo parlamentar a 15 de maio de 1963: “A situação do país é grave. De um lado a esquerda a impulsionar a nacão brasileira e, de outro, a direita exagerada do senhor Carlos Lacerda, agitando a nacionalidade. Do jeito que está não poderemos continuar, devendo chegar-se a um denominador comum, pois todos almejam uma reforma agrária” isto é, uma reforma de base. em favor da classe necessitada. A causa disso tudo reside no aumento do custo de vida” 9. O lacerdismo paraibano não desconhecia essa tensão. Em seu entendimento, todavia, a questão era de justiça, como proclamado pelo udeno-pedecista Egídio Madruga, a 15 de janeiro de 1964: “Temos assistido, constantemente, à verberação de REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 75 parlamentares e protestos justos, gritando por justiça, tanto para os camponeses como para os proprietários. São pedidos alarmantes de providências. Mas para que o país entre na normalidade torna-se indispensável o bom comportamento de seus governantes”10. Ressalte-se que a justiça invocada pelo deputado não era a social, de transformação das estruturas, mas a convencional, de responsabilidade dos juizes ordinários e tribunais. 1.4. O avanço do radicalismo- Característica dos discursos da Assembléia Legislativa da Paraíba, no período 1961/64, consistiu na crescente radicalização. Ou seja, acompanhando o que ocorria na sociedade brasileira, esquerda e direita mediam-se pela tribuna. Pela primeira, o deputado Heraldo Gadelha voltava à carga a 16 de agosto de 1961, anunciando que o bispo de Campina Grande, dom Otávio de Aguiar, iniciava reforma agrária em sua jurisdição, dividindo as terras doadas à Igreja. Pouco antes, o representante socialista invocava Cuba como exemplo do processo revolucionário porque “lá, os homens do campo, que viviam inteiramente espalhados, e viviam como no tempo do descobrimento, hoje dispõem de uma legislação avançada, com escolas, médicos e assim por diante. Os cubanos dispõem, sob o fidelismo, de garantias para si e sua família inversamente ao que acontece aqui no Nordeste” 11. Para o também suplente socialista Agassiz de Almeida, a reforma agrária não bastava. Fazia-se mister reforma nas cidades, isto é, reforma urbana, para que não só o camponês, mas o humilde funcionário e o pequeno comerciante tivessem direito a habitação condigna. Talo proclamado a 07 de novembro de 1961. No dia seguinte, e a 30 de abril de 62, o tom do parlamentar subiu algumas oitavas ao se pronunciar sobre o direito à liberdade dos camponeses que estava sendo negado, e agigantamento das Ligas Camponesas, “criando conflitos imensos na Paraíba”. Segundo Agassiz, “havia uma luta pela reivindicação do direito à liberdade dos camponeses, que eram vitimas de exploração pelos latifundiários, vivendo miseravelmente, como animais, trabalhando copiosamente, sendo sujeitos a humilhações, não tendo direito a uma moradia, a um pedaço de terra, de onde pudessem retirar a subsistência”12. Pela sinistra, os pronunciamentos mais autorizados eram os do 76 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 deputado Assis Lemos, do Partido Socialista. Líder indiscutível do movimento camponês na Paraíba, onde representava o Presidente Goulart, Lemos denunciava a falta de providências do Governo do Estado, em face de violência contra os camponeses na região de Sapé “onde pelo menos um camponês foi baleado, encontrando-se outros sob ameaças”. Esse o teor do pronunciamento de 09 de julho de 1963. A 16 de outubro, cabia-lhe abordar as crises por que tem passado o país - “Revolta dos Sargentos, Estado de Sítio, etc., como resultado de estrutura social superada e arcaica” 13. Dois dias depois, o líder esquerdista firmava declaração de princípios em que a tônica recaia no nacionalismo radical do antiimperialismo: “Quero declarar nesta Casa (. .. ) que as Ligas Camponesas paraibanas estão dispostas a se levantar ao lado dos agricultores paraibanos em defesa dos interesses maiores de nosso Estado, na luta de nós, paraibanos, contra a ação de grupos estrangeiros que nada fazem senão explorar a economia de nossa pátria” 14. 1.5. Da resposta da direita à extrema esquerda- Em face da veemência esquerdista, a direita não se encontrava inerte. Seu principal porta voz era o deputado Joacil Pereira, da lJDN. De remotas origens paraesquerdizantes, em razão de posições adotadas durante a redemocratização de 1945, quando flertou com o Partido Comunista, filiando-se ao socialismo, encontrava-se agora, em mudança de lado, como expoente da Associação dos Proprietários Rurais da Paraíba (APRA). Nesse particular, não poupava as Ligas Camponesas, como no discurso de 10 de setembro de 63: “Sem nenhum intuito de causar alarme a este plenário, ou ao povo paraibano, eu tenho razão para suspeitar de que fatos da maior gravidade irão ocorrer em nosso Estado, nos municípios de Sapé, Itapororoca e Pedras de Fogo, pela ação perniciosa dos comunistas, através das Ligas Camponesas” 15. Segundo Joacil, as Ligas recorriam a “processo psicológico utilizado para acender cada vez mais as lutas de classe”. Agrupadas na Federação das Ligas Camponesas, elas deslocavam-se para o plano patrimonial, arrebatando os empregos aos partidos políticos REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 77 tradicionais. Isso também inquietava o líder udenista, para o qual, em exposição de 27 de março de 1963: “(...) No SMIDU houve subversão total, pois somente eram indicados médicos, enfermeiros, motoristas e diversos outros servidores pelo senhor Assis Lemos, com as credenciais do presidente da Federação das Ligas Camponesas”. 1.6. A mobilização estudantil e suas repercussões - Pela margem esquerda, um outro segmento incorporava-se às auto denominadas forças populares acentuando a radicalização. Eram os estudantes que constituíam os cagoulards de projetada Aliança Operário-Estudantil-Camponesa. Enquanto os universitários fortaleciam o DCE como eixo dos diretórios universitários, seus congêneres de nível médio, divididos entre as associações lJBES e i\ESP, predominavam em cidades como Santa Rita, Mamanguape, Itabaiana, Guarabira, Catolé do Rocha, Pombal, Sousa e Cajazeiras. Nestas, não tardaram a estourar conflitos como o de junho de 63, em Guarabira, denunciado pelo deputado socialista Figueiredo Agra. Na condição de suplente, sucessivamente convocado, este sustentava posições próximas ao trotskismo, o que o induzia a protestar contra as agressões sofridas pelo presidente da Associação dos Estudantes que tentara se manifestar em comício do candidato udenopeelista Ivan Bichara Sobreira. Conforme Agra, “Em qualquer circunstância, quero me colocar ao lado dos estudantes contra a polícia, levando-se em conta a finalidade desta última em apenas manter a ordem, e considerando-se, igualmente, os anseios progressistas da juventude estudantil” 16. Denunciando a 05 de setembro de 63, o clima de insegurança vigente em Sapé, “não contra um cidadão, isoladamente, mas contra toda urna classe que é a dos camponeses, dos pequenos proprietários e os rendeiros daquele município” -, o parlamentar campinense anunciava, a 26 de fevereiro de 64, greve geral de camponeses, trabalhadores urbanos e portuários contra o estacionamento de Companhia de Policiamento Ostensivo da Pl’VI no município de Sapé: - Essa greve - concluía - perdurará até que S. Excia, o Sr. Governador do Estado mande evacuar as tropas de Sapé. Perdendo a paciência, os estudantes pessoenses, vinculados a figuras de marcadas tendências esquerdistas, protagonizaram dois 78 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 graves acontecimentos. O primeiro deles, em outubro de 63, pretextou a aprovação do abatimento de cinqüenta por cento nas passagens dos transportes urbanos para ensejar choque entre populares e a Guarda do Palácio da Redenção, na porta deste. Sobre esse imbróclio, o deputado Joacil Pereira assim se pronunciou a 29 de outubro de 63: “A participação dos estudantes paraibanos foi pronunciada para que estes pudessem reivindicar seus direitos perante a diplomação legal da lei. No começo do movimento, os estudantes estavam com toda força quanto a suas reivindicações, mas a perderam quando se deixaram envolver por grupos anarquistas, de forma que passaram a fazer vandalismo, depredando a propriedade privada e propagando a violência. Foi nesse momento que a polícia começou a intervir contra o movimento. Embora a situação exigisse medidas enérgicas, a polícia agiu com moderação, atuando apenas com o intuito de afastar os colegiais que estavam aglomerados em frente ao Palácio do Governo, o que não evitou a morte de um soldado e alguns feridos”17 . A mais intrincada passeata estudantil ocorreu a 03 de março de 64, também na capital, quando anunciada presença do governador Carlos Lacerda, motivou a ocupação, pelas esquerdas, da Faculdade de Direito, colada no Palácio. Na sequência do processo, o deputado Joacil Pereira e seus partidários procuraram arrombar a porta da Faculdade, intervindo, então, a força federal para desalojar e prender os manifestantes18. O conflito não só motivou acesos debates, na Assembleia Legislativa, entre os deputados Joacil Pereira e Aloísio Pereira, por um lado, e Figueiredo Agra, pelo outro, como intervenção do pessedista Nivaldo Brito. Para este, extraindo proveito partidário da questão, e levando em conta a vigência do horário de verão: “Não é possível que o Governador não acorde neste momento, porque ainda estamos na hora velha. O Jornal O Norte publicou minuciosamente o que aconteceu, ontem, na Faculdade de Direito de nossa capital e, nele, o Governo do Estado não fica bem” 19. 1.7. Das tensões da sociedade à tribuna parlamentar Estávamos, então, as vésperas do levante militar de abril de 1964. Este foi precedido por discursos parlamentares em que a tônica, desviando-se do plano político-partidário, ancorava na área social e ideológica. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 79 A 18 de abril de 1961, o pessedista patoense José Gayoso observava que «não queremos que o governo se imiscua em questão de terras, pois o que desejamos é que o governo dê as mesmas garantias que oferece aos senhores de engenho e usineiros, aos rendeiros”. De acordo com Gayoso, “no início do governo houve em Sapé vários acontecimentos como o caso do comissário de Polícia que quis surrar e prender alguns componentes das Ligas Camponesas. No entanto, as coisas em Sapé não estavam indo bem porque o comissário nomeado defendia os interesses da classe dominante, concedendo prioridade aos proprietários de engenhos e usinas, prejudicando a vida das famílias dos sem terra. Então, para que isso não mais acontecesse, houve a necessidade de que o governo interferisse nessa discriminação, conferindo aos rendeiros as mesmas garantias que aos senhores de engenho, pois não é por causa da simples condição de rendeiros que eles deveriam ficar à mercê dos senhores de engenho, tendo suas casas metralhadas pelos capangas e, até mesmo, pela polícia corruptível que não realizara o seu real trabalho, o de defesa igualitária da população” 20. Essa manifestação tipificava corrente partidária não propriamente a favor das Ligas Camponesas nas contra presumidas omissões da administração udeno-pedecista. A 23 de novembro de 1961, o equilibrado socialista Raymundo Asfóra pronunciava-se acerca da desapropriação de terras, indagando ao Governador Pedro Gondim com quem se encontravam as glebas da Estação Agrícola de Camaratuba, “uma vez que se não cabe ao Governo do Estado a desapropriação de terras lhe compete propor ao Governo Federal essa desapropriação, indenizando os proprietários”. No dia seguinte, o líder governista Vital do Rêgo situava “a fome como apanágio dos ricos e desgraça dos pobres”. Para o oposicionista Aloísio Pereira, envolvido na conspiração contra o Governo Federal, isso ocorria por falta de verbas para o plantio, pois “quando se tem seca não se pode colher por causa do verão e quando chega o inverno não se pode plantar por falta de financiamento”. Essa argumentação fazia-se típica das correntes mais conservadoras. Apesar dos temas desenvolvimentistas do economista Celso Furtado, para as quais os problemas nordestinos eram de 80 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 natureza estrutural, a direita continuava a repisar a temática das chuvas. Como, aliás, ainda hoje ... Conforme Pereira, a agência bancária de Itaporanga ainda não abrira as portas para financiamentos aos agricultores. Em meados de 1962, as Ligas Camponesas imaginaram novas formas de mobilização social. Seus integrantes decidiram deslocarse do campo para a capital, em determinados domingos, para ajudar na construção de casas na periferia. Eram os mutirões da solidariedade. Pelo menos um foi inviabilizado, ao transitar em frente ao quartel do 15° R.I., em João Pessoa, exibindo enxadas, foices e facões. A tropa dispersou-os. Mesmo assim, a 30 de abril, na Assembleia, o deputado Vital do Rêgo considerou que «as parcelas mais humildes dos trabalhadores sem terra virão à cidade na luta por uma justiça social onde o indivíduo não seja vítima da exploração do homem pelo homem”. Aproximando-se as eleições parlamentares de outubro de 1962, o deputado Raimundo Asfóra insurgiu-se contra os abusos dos coronéis interioranos, a 02 de julho desse ano. No pleito do ano seguinte, para prefeito, o tema seria retomado pelo petebista sousense Romeu Abrantes, para o qual “A cadeia pública transformou-se em escritório de prisão eleitoral. Feita a prisão, o chefe político, o coronel, aparecia para oferecer a liberdade das mas pela liberdade do voto’” 21. Pronunciamento dos mais curiosos foi o do deputado Antônio Montenegro, a 27 de novembro de 1962. Trabalhista, e, nessa condição, correligionário das administrações federal e estadual, comunicou à Casa que “o povo do sertão paraibano estava muito temeroso com a ação dos planos da ANCAR e da SUDENE, pois para eles a SUDENE, era vista como órgão comunista que ‘visava a utilizar suas terras como campos de trabalho para pôr em prática planos que importariam em seus ideais de vida, trabalho e subsistência”. Conforme Monte, “a SUDENE foi criada em todo país com o objetivo de propiciar o desenvolvimento desta região, de melhorar as condições de vida do homem do campo e promover a industrialização do Nordeste”. Em outra oportunidade, o parlamentar piancoense lamentou a falta de preços para a agricultura. Tal se fazia fundamental para o colega udenista Clóvis Bezerra para quem a Paraíba “estava indo REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 81 muito bem no campo da exportação”. Partidário declarado da modernização conservadora, Bezerra, a 20 de abril de 1961, exultava com a elevação dos índices de exportação do abacaxi paraibano22 . Também udenista, o populista patoense José Cavalcante deslocou o problema da terra no sertão para o plano tecnológico. Por sua ótica, “com a tecnologia avançando pelo interior paraibano, através de máquinas que facilitavam a manipulação da terra, o homem do campo, que vivia do plantio, aumentou sua produção, melhorando assim o padrão familiar, sem precisar trabalhar dia e noite para obter a sobrevivência” 23. Dentro desse quadro, os estudantes não descansavam. Em maio de 1963, os universitários de medicina manifestavam-se pela boca do deputado Petrônio de Figueiredo para proclamar que se sentiam prejudicados, ante os constantes conflitos ocorridos na lJFPB. Minimizando esses problemas, o udenista Jonas Leite Chaves considerava que “os estudantes pobres estavam passando por uma série de dificuldades, pela falta de verbas que comprometiam a Casa do Estudante da Paraíba, fundada em 1937 e que abrigava grande número de estudantes de todo interior paraibano”. Pela visão conservadora, a problemática desviava-se do plano político-ideológico para a falta de recursos, sendo esse igualmente, o entendimento dos deputados Ávila Lins, do PR, e Dirceu Arnaud, do PSD, ambos postados mais ao centro” 24. 1.8. O contraponto de 1964 e a “liberdade antes confusa que nenhuma” - A primeiro de abril de 1964, as torças militares, descendo das Minas Gerais, aplastaram o populismo radical que se nutria de debate parlamentar, travado em clima de exaltação e liberdade. Na Paraíba, onde a Mesa da Assembleia, presidida pelo veterano udenista Clóvis Bezerra, procurou legitimar a nova ordem, dois deputados socialistas - Assis Lemos e Langstaine Almeida - e dois suplentes - Agassiz Almeida e Figueiredo Agra - foram imediatamente cassados e remetidos para Fernando de Noronha e outros presídios militares do Nordeste25. Os reflexos sobre a Assembleia Legislativa tomaram-se imediatos. Os que, pelo centro e esquerda, não foram atingidos, encolheram-se. Dataram daí os temas abordados pelos deputados, entre abril e novembro de 1964. 82 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Nada, pois, de questões sociais ou ideológicas. O medo das punições paralisava a todos e continha os deputados, temerosos em perder os mandatos. Tal explica o teor dos discursos proferidos na Casa de Epitácio Pessoa, entre abril e novembro de 64, e também levantados pela bolsista Ana Fernanda Falcão. Ao tempo em que, a 20 de maio, Aloísio Pereira bradava contra falcatruas no pagamento do funcionalismo público “sacrificado e mal pago”, o socialista Sabastião Calixto focalizava as minas dos Grupos Escolares e a retirada dos trilhos dos bondes da capital, a 21 de maio e 26 de outubro de 1964. Pela bancada pessedista, José Fernandes ocupava-se da estrada Sapé- Mamanguape, onde ruíra ponte sobre o rio desse nome, a 20 e 24 de julho, enquanto o trabalhista Inácio Feitosa deplorava, a 27, as deficiências dos meios de comunicação. Essas eram causadas pelas chuvas, em razão das quais o governista Valdir Lima enxergava, a 10 de agosto, estágio de calamidade pública, na Paraíba. Até o congelamento das reivindicações sociais, a velha problemática metereológica ocupavalhe o lugar... Em linha mais consistente de raciocínio, o udenista Jonas Leite Chaves denunciava fome vigente em todo território brasileiro, mas as causas do fenômeno eram atribuídas, a primeiro de outubro, aos elevados custos de produção. Pelo PDC, o médico José Pereira da Costa nem a isso chegava - sua intervenção de 11 de novembro de 1964, referia-se aos abusos do destacamento policial de Cuité26. Com a vigência dos primeiros tempos do regime militar, a Assembleia Legislativa da Paraíba retroagiu a nível de Câmara de Vereadores. O que prefigura reflexão recrutada ao maior escritor da língua. À época do Império, escrevendo no Rio de Janeiro, Machado de Assis comparou o irrequieto borborinho da Câmara dos Deputados com a pasmaceira do Senado, firmando, então, sentença recolhida pela História. Segundo o escritor, a liberdade ruge, chora, blatera, grita e protesta, daí porque “liberdade antes confusa que nenhuma” 27 . O mesmo se pode sustentar, numa comparação entre os tumultos do populismo radical anteriores a abril de 64, e a ordem REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 83 unida desde aí vigente, até o termo de nossa pesquisa, em novembro de 1964. Na chamada Casa de Epitácio Pessoa, é o primeiro período, e não o segundo, que encarna a liberdade e a democracia - “liberdade antes confusa que nenhuma” ... Bibliografia e Notas (1) Em face da precisão dos levantamentos da bolsista Ana Fernanda Gomes Cunha Falcão que, consultando os apanhados taquigráficos da Assembleia Legislativa 1961/4, nos arquivos desta, transferiu os assentamentos para cadernos e notas manuscritas, datilografadas e mimeografadas, recorremos a seu Relatório Final (Agosto 96 / Julho 97), de agosto de 1997, por nós numerado para caracterização dos discursos desta monografia. O pronunciamento do deputado Heraldo Gadelha, tendo como tema “Movimento Camponês no Brasil”, a 04 de abril de 1961, acha-se situado à página três e aborda a simpatia devotada pelo Presidente Jânio Quadros às ligas nordestinas. (2) Antes de recorrermos aos levantamentos de nossa bolsista, o populismo radical latino americano, brasileiro, regional e paraibano fora por nós abordado nos estudos - 1964 no Mundo, Brasil e Nordeste - com P ed. de 1998, pela UFPB, denominado A Dimensão global (Formação do movimento brasileiro de 64) - J. Pessoa: UNIPÊ, 2004 passim - Sociedade e Poder Político no Nordeste - O caso da Paraíba 1945/64. J. Pessoa: Editora UFPB, 2001, p. 137/174, 192/205; e - História da Paraíba - Lutas e Resistência. J. Pessoa: Edição do Sebo Cultural, 2008, p.209/217. (3) Cf. CARDOSO, Fernando Henrique. “Populismo: Uma Crise no Estado” in Caderno de Debate e História do Brasil. S. Paulo, p. 33-39; e FRANCO, Afonso Arinos de Melo. História e teoria dos partidos políticos. S. Paulo: AlfaOmega, 1974, p. 85/6. (4) JAGUARIBE, Hélio. “História e Política - Uma abordagem científica” in NOGUEIRA, Octaciano et allia. Brasil, Tempo e Cultura IJI (História, Ciências Sociais e Realidade Brasileira - Exposições e Debates), sob a coordenação de José Octávio, João Pessoa: DGC/SEC, A União Editora, p. 90. Para o patriarca do Grupo de Itatíaia, tanto no plano mundial quanto no brasileiro, a democracia compreendeu a seqüência democracia dos notáveis, de classe média e de massas, cf Hélio Jaguaribe (org.) et allia Brasil Sociedade Democrática. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985, p. 40/ 101. A fórmula reaparece no monumental Um Estudo Critico de História, 2 vis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. (5) Cf DINIZ, Eli. Voto e Máquina Política – Patronagem e clientelismo no Rio de Janeiro: paz e Terra, 1982. - PEREIRA, Luiz Bresser. Pactos Políticos - do opulismo à Redemocratização. S. Paulo: Editora Brasiliense, 1985 84 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 - PRADO, Maria Ligia. O populismo na América Latina, 6a ed. S. Paulo: Brasiliense, 1981. - IANNI, Octávio. A Formação do Estado Populista na América Latina, 2a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. O Colapso do Populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. - WEFFORT, Francisco. O Populismo na Política Brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. - TABBAK, Fanny. Ideologias=Populismo. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1973. - DEBERT, Guida Grin.ldeologia e Populismo - A de Barros, NI. Arraes, C. Lacerda, L. Brizola. S. Paulo: T. A. Queiroz, 1979. Pela linha do grupo José Honório, os estudos de, entre outros, Lenildo Corrêa, Humberto Mello, Eduardo Raposo e Fernando Dutra, culminaram com a tese de doutoramento de José Octávio - Historiografia e História das Eleições na Paraíba - Estado e Sociedade em 1982. S, Paulo: mimeo, 1992. À margem do GJHR, e além dos excelentes estudos de Inês Caminha L. Rodrigues e Jean Patrício sobre Ruy Cameiro, observem-se as abordagens de Monique Cíttadino - Populismo e Golpe de Estado na Paraíba (1945-1964). J. Pessoa: Edit. Universitária, Idéia, 1998 e A Política Paraibana e o Estado Autoritário (1964/1986) na coletânea Estrutura de Poder na Paraíba (UFPB, 1999). (6) DEBERT, Guita Grin. Ideologia e Populismo cit., com interpretação de MELLO, José Octávio de Arreda, in Historiografia e História das Eleições na Paraíba, cit., p. 221 e segs., com as respectivas notas. (7) Em Historiografia e História das Eleições na Paraíba, cit., p. 22 e segs. intentei três momentos para o populismo paraibano, com o primeiro (1945/55) composto com a classe média, o segundo (1955/65), identificado com a “poeira” dos subúrbios, e o terceiro, com os grotões das periferias urbanas. “Delineada com os anos setenta”, esta última foi batizada de neo-populismo. (8) Pronunciamento do dep. José Teotônio, in sessão citada, recolhido por CUNHA, Ana F. G. Relatório Final cit., p. 17. (9) CUNHA, Ana F. G. cit., p.13. (l0)Idem, p. 21. (1l) Ibidem, p. 5/6. O discurso de Heraldo, procedendo a apologia do fidelismo ocorreu a 18 de abril de 196L (12) Ibidem, p. 7,8 e 10/1l. (13) Ibidem, p. 19. (14) Esse discurso de 18 de outubro de 1963, acha-se reproduzido à. p. 20 dos levantamentos de Ana F ernanda. (15) Ibidem p.17. _ wem, p. i. . REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 85 (16) Discurso de Figueiredo Agra, na AL, a 11 de junho de 1963, in CUNTIA, Ana Fernanda - Relatório Final, cit., p. 14. Ante as freqüentes viagens de Assis Lemos, ao sul do país, a ativação parlamentar esquerdista ficou a cargo do deputado Figueiredo Agra, o que acentuou a radicalização, visto como, enquanto Lemos se compunha com o moderado PCB, o suplente aproximava-se de grupos trotsquistas, (I7)In ClJNHA, À.na Femanda - cit., p. 20. (18) Uma das melhores fontes para reconstituição desse episódio encontrase em OCTÁVIO, José - Tensão Social e Revolução na Paraíba. J. Pessoa: mimeo, 1976, p. 56/64. (19) A Intervenção de Nivaldo ocorreu a 04 de março de 1964, figurando à p. 22 dos assentamentos de Ana Fernanda. (20) Ibidem, p. 5. (21) Referente a ocorrências de Sonsa, o discurso do trabalhista Romeu Abrantes verificou-se a 04 de setembro de 1963. (22)Nos assentamentos de Ana Fernanda, a exposição de Bezerra situa-se às p. 10/11. (23) Discurso de 18 de fevereiro de 1963 in p. 11, cito (24) Pronunciamentos de 07 de março de 1963, 24 de julho de 61 e 30 de abril de 62, respectivamente, in CUNHA, Ana Fernanda, Relatório Final, cit., p. 11,5 e 910. (25) EVANIGELISTA, João. “Assembléia Legislativa: Cassações e Apoio à Nova Ordem” in GUEDES, Nonato; OCTÁVI0, José (orgs) et allia - O Jogo da Verdade - Revolução de 64, 30 Anos Depois. J. Pessoa: A União Editora, 1994, p. 429/31. (26) A manifestação de Jonas é datada de primeiro de outubro de 64, sendo, assim, anterior à do deputado Pereira da Costa. Em Relatório Final elas localizamse às p. 27 e 28. (27) A frase de Machado, resultante de comparação entre a indisciplina da Câmara dos Deputados e a tranquilidade do Senado do Império, encontra-se em. uma das crônicas machadeanas, recordada por José Honório, na introdução de um dos seus livros sobre o Parlamento Nacional. Divulgando-a, pela imprensa falada e escrita, entre 1972 e 74, o Grupo José Honório Rodrigues assumiu a primazia da luta pela abertura democrática, na Paraíba. (Outubro de 2008) 87 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 PORQUE ESCREVER BIOGRAFIAS MARIA JOSÉ TEIXEIRA LOPES GOMES* A biografia é um gênero literário que, com relação a seu valor histórico, enfrenta a desconfiança e a indiferença de alguns historiadores, que não consideram a história de vida de uma pessoa nem objeto de um autêntico trabalho de historiador, nem um dado histórico, mas o que vemos são jornalistas, cronistas, memorialistas, historiadores e escritores escrevendo biografias. As construções biográficas vêm sempre crescendo no mercado editorial, fascinando um grande número de leitores, fenômeno que não é exclusivo do Brasil. Esse fascínio pode ser o resultado de diversos fatores: talvez venha da permanência da biografia no espaço editorial, da fragmentação ou efemeridade do homem contemporâneo ou da singularidade que cada perfil biográfico retrata, atraindo o leitor. As biografias sempre despertam curiosidades e poucos conseguem ficar indiferentes à vida das pessoas que se notabilizam na sociedade ou ficam famosos na mídia. O conteúdo das produções biográficas, em alguns casos, termina por virar roteiros de filmes, assuntos de revistas ou séries televisionadas. Desde a Antiguidade, a biografia como instância literária, reflete saber histórico, traduzindo as mudanças de acordo com as novas imagens do homem, nos paradigmas, nas crenças e nos costumes de uma época. Em Roma e na Grécia Arcaica já havia biografias. Os perfis biográficos desta fase tinham uma perspectiva moralizante; os textos sempre guardavam a finalidade de preservar a memória de alguém ou a saga de um povo, constituindo um legado rico para o conhecimento histórico de uma época ou de uma civilização. Outro elemento contributivo das biografias através dos tempos foi, sem sombra de dúvida, o seu construto refletir as periodizações históricas, visíveis ao leitor. 88 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Vejamos as periodizações. Constata-se que desde o início dos tempos heroícos, que se estendem da Antiguidade ao século XIV, as biografias relatavam de maneira épica a vida dos nobres gregos e romanos; prestava-se como instrumento de culto a personalidade dos heróis, guerreiros ou conquistadores. Plutarco, escritor do início do século II de nossa era, escreveu Vidas paralelas, trançando perfis de várias personalidades. Suetônio, outro escritor da Antiguidade, escreveu A vida dos doze Cézares, uma série de biografias dos imperadores de Roma, preservando a memória desses monarcas. Do início do século XV ao século XVII, as biografias retratam vidas românticas de guerreiros que pertenciam à nobreza, no entanto, não tinham a força física dos heróis da Antiguidade Clássica. Eram as biografias romanceadas de cavalaria, nas quais os biografados eram, quase sempre, os mais valentes e os melhores cavaleiros sem medo ou mácula; suas amadas eram, comumente, as mais belas do reino, damas ilustres e galantes. São dessa época os perfis biográficos de Guilherme, o marechal; do Rei Artur; de Carlos Magno e de tantos outros, deixando um legado cultural relevante que inclui a arqueologia e a genealogia. Já os tempos históricos retratam as histórias de vidas dos santos – são as hagiografias –, destacando o virtualismo, a retidão e a pureza dos homens, como Santo Agostinho, São Francisco, Santo Antônio de Pádua, Santa Agnes, homens e mulheres supliciados. Milhares de vidas são santificadas quando escritores, geralmente pagos para esse ofício, biografavam bispos, abades, papas, laicos, devotos ou soberanos que apoiavam à Igreja, numa sociedade convertida ao cristianismo. Nessa fase, a biografia era um instrumento pedagógico. Sabemos que as periodizações históricas são sempre problemáticas. Detectar convincentemente as mudanças de um período para outro não é tarefa fácil e no caso das biografias tem mais um agravante: trata-se de representação de vidas de indivíduos, portadores de singularidade e retratados nas transformações ocorridas na época em que viveram. Não é possível ignorar o contexto, as transformações políticas e sociais ou negar o modo e o condicionamento em que viveu o biografado. São dados circunstanciais indispensáveis a uma biografia. Não podemos deixar de valorizar as biografias de épocas REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 89 passadas. O registro dos paradigmas e os valores da época ficaram registrados: é assim que uma biografia relata que o biografado teve a vida sacrificada, foi queimado vivo em uma fogueira ou teve o pescoço degolado e transformado em santo por resistir aos preceitos religiosos de uma época, como Giordano Bruno, um humanista, defensor do infinito cósmico que tinha outra visão do homem e começou a propagar seus estudos e, em 1600, foi queimado vivo pela Inquisição, pois não interessava à Igreja que aqueles postulados propagados fossem contestados. Em 1515, Thomas Morus foi decapitado por ordem de Henrique VIII da Inglaterra, pois discordava dos dogmas implantados pelo monarca inglês. A jovem Joana D’Arc, aos 19 anos, em 1413, foi queimada viva pela Inquisição, acusada de bruxaria. O queijo e os vermes é um exemplo de uma história-biográfica, na qual o quotidiano do moleiro Menocchio é relatado através da história oral. São recortes do tempo em determinado espaço geográfico; são tantos outros relatos em que o tecido social esgarça seus paradigmas. São fatos que a História guarda e as biografias registram para a posteridade. As biografias avançam no tempo e, em 1989, o filósofo e historiador Lucien Febvre, da Escola dos Annales, na Revista nº 8 daquela instância cultural, escreve um ensaio sobre a importância das novas biografias e validade dos dados inseridos no texto. Foi a partir daí que as construções biográficas bem elaboradas passaram por nova redefinição, posto que se mantêm em evidência desde a Antiguidade, suscitando interesse quaisquer que sejam a sua forma ou as intenções que motivaram sua elaboração. O “perigo” é o biógrafo “canonizar” o biografado, razão porque, ao produzir o texto, o memorialista deverá pesquisar com profundidade a vida do sujeito, fugindo da ficção, dos elogios faceis e da louvação exagerada, dando interpretação aos fatos fundamentados; na falta destes, a história oral é um excelente instrumento e perfeitamente utilizável para preencher lacunas de documentos escritos. Apesar de a história oral não ser uma documentação objetiva poderá, no entanto, ser um arquivo confiável de consulta, mesmo que comporte algum inconveniente. Compete ao biógrafo possibilitar a construção de evidências via o entrecruzamento de informantes. Os depoentes poderão oferecer informações sobre 90 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 acontecimentos e processos locais não registrados na história oficial, mas em fatos tidos e havidos que se encontram na memória individual e coletiva das pessoas. A história oral, como recurso, recupera memórias locais, fatos esquecidos, atos comunitários regionais e atos políticos sob diferentes óticas e versões. A história oral faz da memória e da narrativa elementos centrais para que se reconstituam épocas e acontecimentos que envolveram o biografado, fazendo parte do contexto em que se envolvia. Não desconhecemos que a história oral tem por natureza um caráter individual. O depoente, o entrevistado, não fala em nome do grupo, mas em seu próprio nome, ao contrário de um documento histórico, que tem caráter coletivo. Por isso, é conveniente buscar outras testemunhas para cruzar as evidências relatadas, pois a memória é sempre uma versão e, assim, várias pessoas testemunhando, relatando, dão maior representatividade às informações. No depoimento, o depoente expõe ideias e sentimentos e compete ao biógrafo filtrar as informações, pois haverá um terceiro a interpretar os dados, que será o leitor. Escreve-se uma biografia com responsabilidade e ousadia. Responsabilidade com o que se registra, passando ao largo da mediocridade e da bisbilhotice; e ousadia por supor ser capaz de reconstruir o que estava encoberto pelas brumas do tempo, contudo preso às malhas das fragmentadas versões trabalhadas dos depoimentos feitos por pessoas que conviveram ou conheceram o biografado. A memória, como principal fonte dos depoimentos orais, é um cabedal infinito, onde as variáveis de tempo e de espaço dialogam entre si. O contexto em que o sujeito viveu, os fatos que a sociedade precisa saber sobre o personagem devem constituir o corpus da biografia. O tempo individual, que é a vida privada, e o coletivo, que é a vida pública, são sinais exteriores das lembranças guardadas na memória dos entrevistados e recursos relevantes para se escrever a biografia de um sujeito. É através da substância social da memória, das imbricações com o contexto que se reconstituem as ideias e os costumes de uma época, na qual a individualidade e suas ações acham- REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 91 se inseridas nas malhas ativas do emaranhado político-social que viveu o biografado. Queremos ressaltar que as questões postas neste texto são frutos de leituras que se integram às nossas pesquisas e de reflexões decorrentes das várias biografias por nós escritas. REFERÊNCIAS 1. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 2. CARINO, Jonaedson. A biografia e sua instrumentalidade educativa. Revista Educação & Sociedade, ano XX, n. 67, agosto/99. 3. CADIOU, François et al. Como se faz história. Tradução Giselle Unti. Petrópolis: Vozes, 2007. 4. DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral, memória, tempo e identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. 5. FERREIRA, Marieta de Moraes e Amado Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. 6. MADÉLENAT, Daniel. La biografie. Paris: PUF,1984. NOVAS POSSES REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 95 POSSE DO SÓCIO EFETIVO MODESTO SIEBRA COELHO DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO HISTORIADOR HUMBERTO FONSÊCA DE LUCENA Sr. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Joaquim Osterne Carneiro; demais autoridades; minhas senhoras, meus senhores; Caro Modesto, Por razão da amizade que nos une, não poderia recusar sua intimação para introduzi-lo, hoje, nesta Casa, falando em nome dos consócios. O Instituto Histórico e Geográfico Paraibano sente-se alegre para recepcioná-lo como um dos nossos, na qualidade de sócio-efetivo, condição que lhe foi conferida pela grande maioria de seus membros, graças aos seus indiscutíveis méritos intelectuais. Você chega para ocupar a cadeira nº 6, que tem como patrono Aníbal Victor de Lima e Moura, cadeira esta vaga com o falecimento de Beatriz Ribeiro da Silva, sua última ocupante. Minhas senhoras, meus senhores, É rica e extensa a trajetória profissional de Modesto Siebra Coelho. Traz ele, para nos ajudar, uma bagagem de primeira qualidade, resultado de sua atividade de geógrafo, professor, pesquisador, dirigente universitário, homem bem lido e bem corrido, como diz a expressão popular. Não pretendo enveredar por uma avaliação minuciosa de seus trabalhos, ou fazer-lhe uma longa biografia acadêmica. O que farei é, tão somente, apresentá-lo de corpo inteiro, íntegro, perfeitamente harmonizado com o seu tempo, e como pessoa humana, que ele é com toda grandeza. E o farei encurtando os caminhos do longo percurso de suas múltiplas atividades. 96 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 A incorporação do Professor Modesto ao nosso convívio é um momento da mais alta significação para o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Não há em nosso quadro de sócios efetivos nenhum outro geógrafo com formação acadêmica. Por curiosidade, fui pesquisar nos livros de anotações da Casa e no Memorial do IHGP a presença de geógrafos entre os patronos e antigos sócios efetivos, ao longo dos 105 anos de existência da Instituição. São curiosos os dados que encontrei: apenas três nomes tinham formação em geografia. O primeiro é o Patrono da Cadeira nº 40, Luciano Jacques de Morais, nascido em Minas Gerais, em 1898, formado como engenheiro e geógrafo pela Escola Nacional de Minas e Metalurgia, de Ouro Preto-MG, tendo deixado várias obras no campo de sua especialidade. O segundo é o paraibano de Areia, Aurélio de Albuquerque, desembargador, falecido em 1981. Tendo desistido do curso de Odontologia, formou-se em Direito, pela Faculdade de Recife. Posteriormente, graduou-se em Geografia e História, pela antiga FAFI, de nossa capital. Por último, um nome muito conhecido, recentemente falecido, José Rafael de Menezes. Tinha curso de Licenciatura e Bacharelado em Geografia e História pela Faculdade de Filosofia Manuel da Nóbrega. Era também formado em Direito pela Faculdade do Recife. Esse reduzido número de geógrafos não significa dizer que o IHGP não tenha tido outros profissionais que tenham nos deixado uma grande contribuição aos assuntos relacionados à geografia. Depois dessa digressão, um pouco da biografia e da trajetória profissional do novo sócio. Modesto Siebra Coelho nasceu no Sítio Contendas, localidade do município de Itapipoca, Ceará, em 15 de junho de 1944. Modesto é o segundo dos nove filhos de Vicente Siebra Moura e Ana Maria Coelho de Moura. Seu pai foi pequeno agropecuarista, funcionário público e atuante líder local. Homem de múltiplas atividades, Seu Vicente ajudou a criar e presidiu a primeira Cooperativa Agropecuária de Itapipoca e participou de várias associações religiosas e entidades sociais, quase sempre como dirigente, entre elas a Congregação Mariana da Paróquia de Itapipoca, a Associação Pró-Idosos de Itapipoca, o Círculo de Trabalhadores Cristãos e o Sindicato de Trabalhadores Rurais daquela cidade cearense. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 97 Sua mãe, Dona Ana Siebra, segundo depoimento do próprio filho, era a sombra do marido. Seguia-o em tudo, apoiava-o incondicionalmente, às vezes sacrificando a própria identidade. Modesto viveu até os cinco anos de idade, bem próximo à casa-grande dos avós paternos, na pequena propriedade pertencente ao clã Siebra. Teve os próprios pais como preceptores de suas primeiras letras. Foi alfabetizado por eles que, como voluntários, mantinham uma escolinha noturna gratuita, em sua própria casa, onde alfabetizavam pequenas turmas de jovens e adultos da redondeza. Alfabetizado, com a família já vivendo entre a cidade e o campo, Modesto foi estudar no Grupo Escolar Anastácio Braga, de Itapipoca. Ficaria aí apenas dois anos. O pai, profundamente religioso, encaminhou-o para o Pré-Seminário Cura d´Ars, daquela mesma cidade. Em 1958, aos 13 anos de idade, foi encaminhado para o Seminário Arquidiocesano de Fortaleza. Em 1962, foi transferido para o Seminário Diocesano de Sobral, onde permaneceu durante dois anos. Em 1964, retornou ao Seminário de Fortaleza, ficando até o início do Curso de Filosofia, em 1966, quando surgiram as inquietações vocacionais no jovem seminarista. Nessa época, o mundo dos anos 60 já sofria grandes transformações. No campo religioso, os primeiros reflexos das diretrizes emanadas do Concílio Vaticano II prenunciavam as grandes mudanças por que passaria a Igreja Católica. As angústias, as inquietações e as crises de vocação tomaram todo o Clero nos anos vindouros. Neste cenário inicial de agitações renovadoras vamos encontrar Modesto deixando o Seminário. Sua saída se deu em clima de compreensão após sucessivas conversas nas tradicionais sessões de orientação espiritual. Foi nessas conversas que decidiu pela Geografia, curso que concluiu em 1970 (Licenciatura) e em 1971 (Bacharelado), na Universidade Federal do Ceará. Enquanto fazia a Universidade teve que conciliar estudo e trabalho. Foi ser repórter investigativo em um jornal de Fortaleza (O Nordeste). Sua carreira foi curta. Após a segunda reportagem foi parar no DOPS. É que o jovem jornalista denunciara em ampla reportagem a morte de crianças em bairro de Fortaleza, decorrente do uso de leite contaminado fornecido por uma empresa pasteurizadora de leite, que acabara de ser instalada naquela capital. O delegado e o jornal optaram pela indústria de leite 98 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 pasteurizado e Modesto foi ser professor em cursinhos, ensinando português, literatura, sociologia e geografia. Vida profissional Logo que concluiu o curso universitário, em 1971, a Geografia o trouxe à Paraíba como professor do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Faculdade de Filosofia de Cajazeiras, onde permaneceu até 1976. Três meses depois de sua chegada à Paraíba, casou-se com a cearense Maria Wanderly Oliveira Siebra Coelho, formada em História, mas atuando profissionalmente em Planejamento Institucional e Consultoria, área em que possui pósgraduações. O casal tem dois filhos: Andrea Oliveira Siebra Coelho Vinet, casada, residente em Ottawa, Canadá, mestre em lingüística, professora de Língua Francesa, com uma filhinha, Julie, xodó dos avós. O outro filho, Marcos Oliveira Siebra Coelho é médico, fazendo residência no sul do país. Entre 1973 e 1975, atendendo convite do prefeito municipal, sem deixar as atividades acadêmicas, Modesto foi Secretário de Administração e Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras. É nessa época que esteve no Rio de Janeiro fazendo Curso de Especialização em Planejamento Urbano e Metodologia de Projetos pelo Ministério do Planejamento, na Escola Nacional de Serviços Urbanos. Em meio às múltiplas atividades que sempre acumulou, ou em razão das quais teve que se dividir, em 1976 vamos encontrar Modesto como integrante do grupo técnico da Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Governo da Paraíba, a convite do professor José Zélio Marques e do Secretário de Planejamento Francisco Sales Cartaxo Rolim. Ainda em 1976, fez concurso para professor do Departamento de Geociências da UFPB, onde permaneceu até se aposentar. Em 1977, fez Curso de Elaboração de Projetos e Metodologia de Pesquisa, na Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Em 1989 e 1990, fez mestrado na Universidade de Paris III, Sorbonne Nouvelle, recebendo o Diploma de Estudos Aprofundados, ocasião em que defendeu a dissertação intitulada O Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no Nordeste Brasileiro: O caso do Pólo Tecnológico de Campina Grande. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 99 A aposentadoria do professor Modesto ocorreu em 1994, pegando-o ainda disposto para o trabalho. O caminho profissional por ele percorrido, com várias experiências no campo do planejamento, e os estudos que realizou durante a trajetória acadêmica, lhe valeram convites para trabalhar em outras Universidades. Um desses convites muito lhe agradava. Há tempos o reitor José Teodoro Soares, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, UVA, seu amigo desde os tempos de Seminário, lhe acenava para trabalhar ao seu lado, em Sobral-CE, sede daquela Instituição. Modesto não pensou muito. Mesmo tendo corrido o mundo e vivido em reinos mais complexos, não esquecera o Ceará e suas origens; ainda preservava suas crenças e ainda se preocupava com as questões relativas à terra natal. Sabia que, como administrador e dirigente universitário operoso e realizador, poderia dar sua contribuição à educação no reino de sua infância e adolescência, o Ceará. E foi para lá que voltou. Por seis anos se dividiu entre a Paraíba e o Ceará, pois continuou morando aqui. O dirigente universitário Tão logo ingressou no ensino superior o professor Modesto Siebra Coelho, por seu dinamismo e capacidade de liderança, foi atraído para cargos de direção. Na Faculdade de Filosofia de Cajazeiras, foi Chefe do Departamento de Ciências Exatas e Sociais. Na Universidade Federal da Paraíba, foi Chefe do Departamento de Geociências, Diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza, por seis anos, durante os reitorados de Linaldo Cavalcanti de Albuquerque, Milton de Figueiredo Paiva e Berilo Ramos Borba; Prefeito Universitário e Pró-Reitor de Administração, no reitorado de José Jackson de Carvalho; foi também Diretor da Editora Universitária, nomeado pelo reitor Antônio de Sousa Sobrinho. Depois da aposentadoria, já no Ceará, foi nomeado Pró-Reitor de Administração da Universidade Estadual Vale do Acaraú, UVA, em Sobral, acumulando com as funções de Diretor da Casa da Geografia de Sobral e Coordenador do Núcleo de Desenvolvimento Local da UVA. Em 1999, voltou à Paraíba para coordenar o programa UVA-IESP para formação de professores, nesta capital. Em 2000, foi Coordenador de Recursos Humanos do Instituto de Educação 100 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Superior da Paraíba - IESP, e, posteriormente, Diretor Acadêmico da mesma Instituição. A partir de 2002, até os dias atuais é Diretor Administrativo da Universidade Aberta Vida – UNAVIDA, nesta capital. Pesquisa e produção acadêmica Mesmo atuando em várias frentes, Modesto sempre arranjou tempo e espaço para realizar trabalhos de pesquisa, desde os tempos de Cajazeiras, quando fez um levantamento das condições físicas e sócio-econômicas daquele município, trabalho este que fez parte do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Cajazeiras. Na UFPB, foi pesquisador e Coordenador Geral do Projeto Geografia e Ecologia da Paraíba. Uma pesquisa associada com professores do Departamento de Geociências da UFPB e o Centro de Geografia Tropical de Bordeaux – França. Os resultados dessa importante pesquisa foram publicados em Bordeaux, sob o título Geografia e Ecologia da Paraíba, em 1980, o Volume I, com 374 páginas, e em 1984, o Volume II, com 588 páginas. Esse trabalho consta do acervo do IHGP. Outro importante trabalho de que participou foi o Projeto Delimitação e Regionalização do Brasil Semi-Árido, pesquisa conjunta das Universidades Federais da Paraíba, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Piauí, sob a coordenação da SUDENE e CNPq, trabalho publicado em três volumes, com 521 páginas. Além de capítulos publicados em livros coletivos, o Professor Modesto Siebra é autor de dezenas de trabalhos de interesse da Ciência Geográfica e da Geografia da Paraíba publicados em revistas especializadas e jornais. Não poderia faltar na relação de suas obras dois livros que julgo primaciais para o estudo de nossos problemas urbanos: um deles intitulado A Nova Onda no Transporte Urbano – Mototaxi – Edições UVA, Sobral – Ceará, 1997; o outro, De Sobral ao Global – Um Percurso pela Questão Urbana, Edições UVA, Sobral – Ceará,- 2000. Neste último livro, em estilo crítico e irreverente, o autor mergulha por temas que estão presentes no cotidiano das populações urbanas dos mais diferentes lugares e cujo encaixe mais direto é endereçado à geografia e sociologia urbanas, segundo observa REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 101 Francisco José Loiola Rodrigues, da Academia de Ciências Sociais do Ceará. Embora centrado em Sobral, o livro universaliza a visão dos inúmeros aspectos em que se detém. Meus confrades, é este o cearense Modesto Siebra Coelho, com Título de Cidadão Paraibano outorgado pela Assembleia Legislativa da Paraíba, em 2006, que eu conheço e me propus a lhes apresentar. A sua admissão neste Instituto assegura-nos a convicção de que esta Casa encontrará no seu esforço e no seu espírito de colaboração a participação que normalmente esperamos dos que vêm bater a nossa porta. Não podemos prescindir dessa colaboração porque ela consubstancia a vida da instituição. Não podemos esquecer que vivemos um momento de transição e renovação - nunca, em tão pouco tempo, perdemos tantos companheiros – por isso mesmo, uma oportunidade propícia para uma reavaliação crítica de nossa atuação. Precisamos de mudanças, não nos fins a que se propõe o Instituto, fins que já estão estabelecidos nos estatutos e que constituem uma tradição, e sim nos meios, nos mecanismos, para que nossa Instituição possa continuar atendendo às suas finalidades. Para estas mudanças se faz necessário buscar na sociedade pessoas capazes que, identificadas com o mundo atual, possam contribuir para este fim compartilhando valores e realizações para o alcance de objetivos comuns. Esperamos que ao brilhantismo da sua posse não nos falte o compromisso de uma maior integração que se tornará mais profícua na medida da sua dedicação. Seja bem-vindo, pois, meu caríssimo amigo Modesto Siebra Coelho a esta Casa de gloriosas tradições que abrigou e abriga alguns dos mais destacados cultores de nossa memória. No esforço e na boa vontade daqueles que se incorporam a nós reside a esperança maior de que a Casa de Irineu Pinto permanecerá fiel aos seus nobres fins. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 103 DISCURSO PROFERIDO PELO HISTORIADOR MODESTO SIEBRA COELHO, QUANDO DE SUA POSSE NA CADEIRA Nº 6, DO IHGP, EM 10 DE DEZEMBRO DE 2010 As minhas melhores saudações: - Aos ilustres Presidente e Vice-Presidente do IHGP, historiadores Joaquim Osterne Carneiro e Humberto Fonseca de Lucena, através dos quais saúdo a todas as autoridades à Mesa Diretora desta Sessão Solene (....) - Ao amigo Antonio Quirino de Moura, ex-prefeito de Cajazeiras e ex-Deputado Estadual, através de quem saúdo a todos os colegas ex-Secretários da Prefeitura Municipal de Cajazeiras e ex-professores da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cajazeiras, onde trabalhei (...) - Aos amigos ex-Reitores e Reitores de Universidades aqui presentes (...) - Aos amigos e ex-colegas Pró-Reitores, Diretores e Chefes de Departamento da UFPB (...) - Aos amigos e ex-colegas de trabalho do Colégio Estadual de Cajazeiras e Colégio Diocesano Padre Rolim de Cajazeiras, onde trabalhei (...) - Aos amigos e colegas de trabalho do Programa Universidade Aberta Vida - UNAVIDA e Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, onde ocupo cargo de Diretor há 10 anos (...) - Aos Confrades e Confreiras do IHGP que me concederam a unanimidade dos seus votos, em eleição realizada em 14 de agosto de 2010 - Aos funcionários do IHGP que com imensa simpatia e dedicação, desde o primeiro minuto, me acolheram nesta Casa, em todos os meus trânsitos de candidato (...) 104 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 - Aos Senhores convidados e Senhoras convidadas - À minha esposa, historiadora e professora Maria Wanderly Oliveira Siebra Coelho; aos meus filhos Marcos Oliveira Siebra Coelho e Andrea Oliveira Siebra Coelho Vinet; minha netinha Julie Siebra Vinet e meu genro Philippe Jean Vinet, ausentes em razão dos seus encargos profissionais, em São Paulo e no Canadá, onde se encontram. Você vê coisas e diz: por que? Eu sonho coisas que nunca existiram e digo: por que não? George Bernard Shaw (1856-1950) Considerações iniciais Por algum tempo, nem sei bem porque, resisti à idéia de concorrer a uma Cadeira neste IHGP, apesar do estímulo de alguns de seus membros. Mas, a certa hora, percebi que haveria boa aceitação à presença de um geógrafo na instituição. Vi-me em campanha e aqui estou apresentando o discurso de posse. Inicio fazendo alusão ao que escreveu Raquel de Queiroz em crônica denominada Mineiros, incluída no seu livro “100 Crônicas Escolhidas” (1). A sempre afável Raquel, em lapso de fina ironia e áspera crítica, escreveu que “mil mineiros não causam o incômodo de dez cearenses”. Como o mais paraibano dos cearenses, pois há 39 anos, em companhia de Wanderly Siebra, escolhi a Paraíba para viver e trabalhar e como berço de meus filhos, espero nada reeditar que os leve a dar abrigo às imprecações de Raquel, atiradas em desfavor de conterrâneos, de forma jocosa, é sabido. Por conseguinte, nesta tarde especial, farei meu melhor para evitar que um cearense, sozinho, possa incomodar a mais de uma centena de paraibanos que honram esta solenidade com sua presença. Procedo de arraial sertanejo, nutriram-me usos e costumes interioranos, sou refém da força telúrica que vincula o homem ao seu torrão, cantarei para sempre e em todo lugar as minhas raízes itapipoquenses, mas tenho repetido ao curso de décadas vividas aqui que o Ceará me faz alguma falta, mas, com certeza, a Paraíba me basta. Viver na Paraíba jamais me expos qualquer tipo de conflito. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 105 Ademais, arredondando um pouco os critérios de estudo, posso afirmar que as semelhanças entre as mesmas regiões geográficas e culturais locais, no Nordeste, são tão próximas que se alguém “cair” em lugar ermo de seus sertões, litorais ou serras, dificilmente distinguirá o que é Ceará ou Paraíba, Pernambuco ou Alagoas. E devemos nos advertir de que, no mundo contemporâneo, a distância geográfica foi radicalmente alterada pelas novas tecnologias de comunicação. Desta forma, quando por alguma razão me açoita a nostalgia, ou me surge necessidade ingente, em segundos, com o uso de ferramentas de Internet (e-mails, redes sociais de relacionamento, google earth), posso me por em contato com os meus, ou até “sobrevoar”, em percurso fenomenal e imagens 3D, a minha Itapipoca, a longilínea Rua Vicente Siebra Moura, uma homenagem ao meu saudoso pai, e até as veredas e monólitos encontradiços no Sitio Contendas, onde nasci e vivi até a idade escolar. Tenho afirmado em muitas ocasiões que a Paraíba é o meu lugar. Sou cidadão paraibano por opção e por lei estadual. Esta terra é meu shangri-lá, meu lugar bom de viver, comparável àquele das montanhas do Himalaia, do imaginário do ficcionista inglês James Hilton, descrito em Horizonte Perdido (1925) e que ganhou versão em português pela Abril Cultural, em 1980 (2). Meus filhos aqui nasceram e se orgulham de sua terra. Wanderly se afeiçoou de tal forma à Paraíba e sua gente amável, que jamais se imaginou em outro lugar, mesmo que esse seja o seu Ceará. Somos da “cidade dos três climas”, como é conhecida Itapipoca (3). Ela, da borda litorânea do município e eu, do sopé da Uruburetama, na zona de contato entre o sertão e a serra úmida, paragens cearense que o agrônomo Joaquim Carneiro conhece como a palma da mão. Senhoras e Senhores, Confrades e Confreiras, feita esta confissão de amor à terra que me acolheu e onde desenvolvi quase toda a minha trajetória profissional e acadêmica, estou certo de que sereis como os mineiros de Raquel e sabereis mitigar incômodos que o discurso de oito laudas, deste cearense, possa lhes causar, nesta tarde de muito calor. Isto posto, quero externar que experimento momento de rara felicidade por estar sendo recebido como sócio efetivo desta proficiente instituição cultural e sócio-acadêmica. Dez de dezembro, de hoje em diante, se converte em data histórica para mim. Muito me 106 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 honra ocupar a Cadeira n. 6, cuja fundadora foi a historiadora Beatriz Ribeiro da Silva, e cujo patrono é Aníbal Victor de Lima e Moura, preclaro mestre de gerações e gerações de paraibanos, até os anos 60 do século passado. Cabe aqui contextualizar alguns aspectos que assinalam a evolução histórica brasileira ao tempo em que estes eméritos sócios ingressam neste Instituto: vivia-se o pós primeira grande Guerra Mundial, questionava-se o modelo agrário exportador, intensificavase a industrialização, novas camadas urbanas se incorporavam às lutas sociais e políticas, as elites intelectuais estavam irrequietas, a Semana de Arte Moderna já se consolidara como movimento cultural e artístico revolucionário, a Revolução de 30 começava a imprimir suas marcas. Os tempos começam realmente a mudar, mas eram ainda muito carrancudos. Assim, vejo o ingresso de Beatriz Ribeiro no IHGP, na metade dos anos 30, aos 21 anos de idade, como um feito especial (4). Fundado em 1905, e com sistema de organização que ainda não era o que se conhece hoje, o IHGP só veio a instaurar o patronato da Cadeira n. 6, em 1946, constituindo o professor Aníbal Moura como seu patrono dez anos depois da investidura de Beatriz Ribeiro como fundadora e ocupante. Outra particularidade que desperta curiosidade é o fato de que Beatriz Ribeiro, além de fundadora da cadeira, foi sua única ocupante, em período que se estende de 1936 a 2010, quando, na forma regimental, a Cadeira é declarada vaga. A formação humanística baseada na cultura clássica trilhada nos Seminários Católicos onde estudei e nos quais um certo culto às letras e artes ocupava papel importante àquela época, cedo me atiraram à admiração de agremiações culturais que só nos era dado conhecer por livros e revistas, ou por comentários de alguns mestres diferenciados. A vida das sociedades culturais, institutos e academias, próximos ou distantes, antigos ou contemporâneos, povoava nosso imaginário de jovens estudantes e era assunto de acaloradas discussões no ambiente dos internatos que acolhiam os da minha geração. No Seminário da Prainha, em Fortaleza, tínhamos Academia, cujo funcionamento reproduzia a ABL, obviamente, que sem o chá das cinco. Tínhamos grêmio literário, corais líricos, jornais murais, apresentávamos peças de teatro, escrevíamos crônicas e poesias. Cultivávamos a boa leitura e éramos orientados à formação do hábito de escrever. Jamais esqueci o meu primeiro artigo publicado no jornal REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 107 Correio da Semana, de Sobral-CE, em abril de 1963, quando ainda era adolescente. Vivo que está, ainda hoje cultuo e consulto Oswaldo Chaves, padre e mestre de português e grego, que me transmitiu o prazer pela leitura e a escrita. Bons tempos aqueles! Éramos estudantes em tempo integral, privilegiados! Ainda não éramos “homens de letras”, mas, ouso dizer que já nos considerávamos “meninos de letras”. Quem da nossa geração, bem ou mal, não ensaiou os primeiros escritos no ambiente dos internatos? Talvez até tenha, inconscientemente, me preparado para um dia fazer parte de instituição deste jaez. Levei a vida estudando, pesquisando e sempre publicando alguma coisa, como relatou o apresentador, o fraterno companheiro de embates memoráveis na gestão do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba. Quero continuar fazendo isto! Por conseguinte, não é estranho, que os ares da Casa de Irineu Pinto tenham me atraído em definitivo. Sobre a ocupante da Cadeira n. 6 – Beatriz Ribeiro da Silva Beatriz Ribeiro, nascida a 30 de junho de 1915, na cidade da Parahyba e a quem, nesta ocasião, tributo as melhores homenagens, iniciou carreira literária muito cedo. Aos 17 anos, já publicava os primeiros artigos no jornal A União, iniciando com o discurso de Oradora dos Concluintes da Escola Normal, ano de 1932, que lhe coube proferir. Sempre sob a forma de pequenos artigos, publicou também em outros veículos da imprensa escrita da capital, entre os quais a Revista Illustração, o Annuário da Parahyba e o Jornal A Imprensa. Em 23 de agosto de 1936, ingressa no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, tomando posse conjuntamente com Horácio de Almeida, Braz Baracuhy, Padre Francisco Lima e Olivina Olívia Carneiro da Cunha, todos figuras que alcançaram notoriedade nas letras, na cultura, nos estudos históricos e na educação, com destaque maior para o historiador Horácio de Almeida e o beletrista e cultor do português e do latim, Cônego Francisco Lima, que os consócios Humberto Melo e Natércia Suassuna e os ex-seminaristas, aqui presentes, Berilo Borba, Luís Andrade, Antonio Sobrinho, Paulo 108 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Andriola, Zélio Marques, Rui Dantas, José Jackson Carneiro, José Leopoldo Souza, Damião Ramos, tiveram como professor. Presidia o IHGP, o Dr. José d’Ávila Lins, tio do historiador Guilherme d’Ávila Lins, também, aqui presente. Beatriz Ribeiro falou de improviso. A jovem historiadora Beatriz Ribeiro tem um início fulgurante. Nos primeiros cinco anos, após a formatura, publica inúmeros artigos, de conteúdos diversos, sempre críticos, polêmicos e atuais. Mas, por motivos jamais esclarecidos, recolhe-se, afastando-se do IHGP e da convivência social por toda a vida. Vejamos o que se relata no livro Memorial do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, edição comemorativa dos 90 anos de fundação – 1905/1995, página 33: “com problemas de saúde e sem condições de manter em atividade sua vida cultural e literária, Beatriz Ribeiro decidiu renunciar à condição de sócia do IHGP, dizendo que: “a vaga será preenchida com certeza por um dos que, fora do instituto, se distingue nas realizações e esforços pelos ideais comuns, em harmonia com os já integram seu quadro social, de merecido renome”. Apoiados, certamente, na omissão do Estatuto da instituição (5), obstaram-lhe a renúncia, os presidentes Clóvis dos Santos Lima (1943-1953 e 1956-1962) e Rosilda Cartaxo (1983-1986), e ela foi mantida no quadro social até a declaração de vacância da cadeira, recentemente. A época em que se afastou, coincide com um período histórico no qual as mulheres, em todo o mundo, começam a se destacar por posições de vanguarda, erguidas em favor da luta pela valorização feminina. Entre tantas, devo citar as nordestinas Anayde Beiriz (João Pessoa (PB), 18 de fevereiro de 1905 - Recife (PE), 22 de outubro de 1930), Analice Caldas (Alagoa Nova (PB), 30 de outubro de 1891 - Lagoa Seca (MG), 15 de fevereiro de 1945) e Nísia Floresta (Parapari (RN), hoje Nísia Floresta, 12 de outubro de 1810 — Ruão, França, 24 de abril de 1885); a paulista Bertha Lutz (São Paulo, 1894 - Rio de Janeiro, 1976) e a mineira Maria Lacerda de Moura (Manhuaçu (MG), 16 de maio de 1887 - Rio de Janeiro, 20 de março de 1945); as portuguesas Ana de Castro Osório (Mangualde, Portugal, 18 de Junho de 1872 — Setúbal, 23 de março de 1935) e Adelaide Damas Cabete (Alcáçovas, Portugal, 25 de Janeiro de 1867 — Lisboa, 14 de setembro de 1935), e tantas outras REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 109 precursoras dos movimentos de valorização da condição feminina que, uma geração depois, despontaria com outra tintura e outra fundamentação, através do ícone francês Simone de Beauvoir (Paris, 9 de janeiro de 1908 — Paris, 14 de abril de 1986); a austríaca Bertha Pappenheim (Viena, 27 de fevereiro de 1859 - Iselberg, Alemanha, 28 de maio de 1936); a norte-americana Betty Friedan (Illinois, 4 de fevereiro de 1921 - Washington, 4 de fevereiro de 2006); a russa Alexandra Kollontai (São Petersburgo, 31 de março de 1872 - Moscou, 9 de março de 1952); a japonesa Itô Noe (Fukuoka, Japão, 1895-1923), e inúmeras outras verdadeiras lendas, mundo afora. A julgar pela postura crítica, revelada nos temas e escritos abordados, a mim é dado imaginar de que grande contibuição intelectual à causa feminina, na Paraíba, pode ter sido perdida com a deserção de Beatriz Ribeiro. Pelo ardor e empolgação com que, àquela altura, tratava literariamente alguns assuntos, e pela militância que começava a desempenhar junto à atuante Associação Paraibana pelo Progresso Feminino, transmitia a certeza de que cumpriria papel de destaque em relação a essa causa, ao curso de sua vida. Beatriz Ribeiro ocupou a Cadeira n. 6, até 16 de junho de 2010, apesar do seu decesso ter ocorrido a 30 de março de 2004. O IHGP só veio a tomar conhecimento oficial de seu falecimento, em maio de 2010, quando o cuidadoso pesquisador Adauto Ramos concluiu investigação sobre sua vida. Assim, 74 anos depois, tomo posse na Cadeira n. 6 deste IHGP centenário, como seu segundo ocupante. - Posso ou não pensar também em vida longa? Entre os principais veículos e títulos encontrados com a especial colaboração do historiador Adauto Ramos, destacamos: Artigos publicados no jornal A União: 1. Discurso da Oradora dos Concluintes da Escola Normal, ano de 1932 – Jornal A União, edição de 27-29 de novembro de 1932; 2. Uma Assembléia Agitada, jornal A União, edição de 17 de setembro de 1933; 3. A Mania do Gerôncio, jornal A União, edição de 01 de outubro de 1933; 4. Uma história chinesa de amor - Jornal A União, edição de 12 de novembro de 1933; 5. A lenda das estrelas, jornal A 110 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 União, edição de 26 de novembro de 1933; 6. Murmurações, jornal A União, edição de 04 de março de 1934; 7. Uma história banal, edição de 04 de março de 1934; 8. Uma aventura original, edição de 31 de maio de 1934; 9. Sobre a Associação Paraibana pelo Progresso Feminino, edição de 19 de junho de 1934; 10. Palavras do coração, edição de 22 de julho de 1934; 11. Discurso de Posse no IHGP, jornal A União, edição de 25 de agosto de 1936. Artigos publicados na Revista Illustração: 1. Semana de Penitência, Ano I, Nº 2, João Pessoa, em 30 de abril de 1935; 2. Moleque de Rua, Ano I, Nº 4, em 30 de maio de 1935; 3. Destino, Ano I, Nº 11, em 30 de setembro de 1935; 4. Burocracia Ano I, Nº 16, em 15 de dezembro de 1935; 5. Mamãe Parahyba Ano I, Nº 17, em 30 de dezembro de 1935. Neste mesmo veículo, foram também publicados os artigos intitulados: 1. Nossa Senhora das Vaidades; 2. Pensamento Vagabundo; 3. João Batista; 4. Rabiscos; 5. Saudando “Illustração”; 6. Razões estomacais, cujas datas de publicação ainda não foram identificadas. Em 1935, publicou no Annuário da Parahyba, Segundo Ano, p. 35-36, o artigo intitulado: Optimismo, Realidade etc, etc. Através do jornal A Imprensa, divulgou o artigo denominado: Departamento de Sericicultura, em edição de 18 de julho de 1933. O Departamento de Sericicultura da Secretaria Estadual de Agricultura de então, seria a instituição da qual Beatriz Ribeiro foi funcionária. Sobre o Patrono da Cadeira n. 6 – Aníbal Victor de Lima Moura Aníbal Victor de Lima Moura (foto) bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Foi professor do Liceu Paraibano, das Faculdades de Direito, Ciências Econômicas e de Filosofia, Membro do Conselho Educação da Paraíba, Chefe do Departamento de História e Geografia da Faculdade de Filosofia e Letras, dentre outras destacadas funções. Não foi a produção literária que transformou o patrono da Cadeira n. 6 em um notável do tempo em que viveu (1895-1963). Obra publicada, ele deixou apenas uma: As Lutas de Classe em Roma REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 111 (6), tese com a qual prestou concurso para professor catedrático do Lyceu Paraibano. Esta obra foi publicada pelo jornal A Imprensa, em 1934, e relançada em 1995, em edição comemorativa do seu centenário de nascimento, por sugestão do Conselho Cultura, logo acatada pela Secretaria Estadual de Educação e Cultura. Por prerrogativa do cargo de Secretário de Educação, era presidente do Conselho de Cultura o professor Iveraldo Lucena da Costa. A coordenação da nova edição coube ao historiador e acadêmico José Octávio de Arruda Mello. Nada mais importante que este reconhecimento tenha partido de ilustres ex-alunos do professor Aníbal Moura. A notoriedade alcançada pelo insigne mestre não provém somente do que escreveu. Está fundamentada no conjunto de qualidades humanas que reunia e o distinguiam como grande estudioso, humanista dos mais reconhecidos, docente por excelência e pedagogo ímpar. Iveraldo Lucena, na apresentação dessa edição comemorativa, nos pergunta: “qual homenagem maior se pode prestar a um homem se não proclamar que ele continua lembrado por suas idéias, seu trabalho e seus exemplos” (7). O estudo As Lutas de Classe em Roma se caracteriza como um mergulho na tessitura social e política dos elementos que contribuíram para o apogeu e declínio da Roma antiga. O autor se debruça, instrumentado em aligeirada tonalidade dialética, sobre a história das lutas de classes nessa cidade-estado, à busca da explicação de suas origens, papéis, antagonismos, confrontos, conquista de igualdade de direitos, não deixando de explorar a contribuição de vetores como: guerras, crenças religiosas, poder econômico, hegemonia política e outros. A propósito do livro As Lutas de Classe em Roma e do cidadão Aníbal Moura, recomendo a leitura da edição comemorativa que, além dessa obra, reúne estudos realizados por eminentes nomes deste IHGP: A Vida funcional de Aníbal Moura, de autoria de Hélio Zenaide; Aníbal Moura – No centenário de um tipo inesquecível, de José Octávio de Arruda Mello e Agradecendo uma homenagem, de Cláudio Santa Cruz Costa. Estes trabalhos são riquíssimos e de atraente leitura, mas destaco o de José Octávio como magistral. José Octávio, aluno de 112 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Aníbal Moura em várias ocasiões, no Lyceu Paraibano e na Universidade, demonstra e contextualiza em demorado estudo que classifico como de cunho psico-sócio-historiográfico, um profundo conhecimento de traços da alma, caráter, personalidade e capacidade de trabalho de Aníbal Moura, revelando que por trás do homem simples estava o humanista consistente, o docente por excelência e uma figura humana ao mesmo tempo severa e doce. É certo que o patrono e a ocupante da Cadeira n. 6 não deixaram produção literária vasta, mas foram ambos referências humanas, profissionais, intelectuais e culturais marcantes e de elevado conceito em seu meio, à época em que atuaram. A Geografia que me trouxe ao IHGP É a que resulta do meu trabalho como geógrafo e como professor de diversas disciplinas desse curso. Minha produção intelectual já foi generosamente abordada pelo fraterno amigo, historiador Humberto Fonseca e está relacionada na plaquete que pretendo distribuir. Aduziria, no entanto, que em grandes linhas, essa contribuição está situada nos seguintes domínios: 1. domínio do aprofundamento do conhecimento espacial (paraibano), visando ao planejamento e desenvolvimento; 2: domínio dos estudos urbanos e regionais; 3: domínio do desenvolvimento científico e tecnológico; 4: domínio das relações universidade & sociedade. À parte trabalhos realizados no âmbito de projetos institucionais de pesquisa, com freqüência, tenho direcionado meus objetos de estudo para as questões urbanas, do cotidiano e aparentemente banais, das quais são exemplos principais: A nova onda no transporte urbano (8); A cidade recortada; Às vezes tem boi na linha da questão cidade-campo; Traços de rurbanização na Meruoca (9). Tenho dado preferência à abordagem de questões da geografia humana, mais voltadas para o que está em curso, como resultado das relações homem-meio-natureza, como se meu mais importante instrumento metodológico fosse uma câmera fotográfica, um flash, uma cena e não um arquivo estático, uma película inteira, ou um cenário, sempre na perspectiva de captar o cotidiano e de REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 113 mostrar que qualquer assunto pode se transformar em objeto de estudo, desde que a ele se dê tratamento científico consistente. Na verdade, “não há objeto nobre, nem objeto indigno da ciência”, como afirma Franz Boas (10). E, ademais, penso que o geógrafo deve cada vez mais estar convencido de que ao observar a cidade tem que, inevitavelmente, olhá-la segundo o espírito repassado por Ítalo Calvino (11), no qual esta “deixa de ser um conceito geográfico para se tornar o símbolo complexo e inesgotável da existência humana”, portanto aberto aos mais diferentes enfoques e interpretações. Senhoras e Senhores, Confrades e Confreiras, feito este longo arrazoado, quero ressalvar que estou me sentindo em situação bastante confortável com relação à Cadeira n. 6, em decorrência de curiosidades que observei. - Primeiro, parece que tudo o que se refere à Cadeira n. 6 soa longevo. O Professor Aníbal Moura, só em vida, exerceu um patronato de 37 anos, de 1946 a 1983, ano do seu falecimento. Beatriz Ribeiro ocupou-a por 74 anos, de 1936 a 2010. Certamente, poderei também pensar em vida longa! - Segundo, a Cadeira 6 tem em professores uma referência singular. Foi professor de carreira, o insigne Dr. Aníbal Moura. Beatriz Ribeiro da Silva formou-se professora pela Escola Normal da capital - Terceiro, nasci em junho como Beatriz Ribeiro, sou Moura como Aníbal, filho que sou de Vicente Siebra Moura. E por último, como o patrono, este novel ocupante da Cadeira n. 6 gosta que o chamem professor – professor Modesto Siebra, que é como se tornou conhecido. Agradecimentos Senhoras e Senhores, Confrades e Confreiras, com esta investidura, sem dúvida, realizo um sonho e um desejo pessoal. Penhoradamente, agradeço aos sócios que por anos estimularam minha candidatura: o ex-presidente Humberto Fonseca de Lucena, o historiador e acadêmico José Octávio de Arruda Mello, o pesquisador e atual presidente, Joaquim Osterne Carneiro. Sem o estímulo convincente destes admirados estudiosos, certamente, eu não teria dado o primeiro passo. Quero expressar, também, preito de reconhecida gratidão aos sócios que me possibilitaram o passo seguinte, sendo, generosamente, 114 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 signatários do requerimento de encaminhamento de minha candidatura, os historiadores: Itapuan Bôtto Targino, Carlos Alberto de Azevedo, Daniel Duarte Pereira, Nivalson Fernandes de Miranda, Ernando Luís Teixeira de Carvalho e José Octávio de Arruda Melo. Por oportuno, quero igualmente agradecer aos sócios efetivos que, para a materialização desta admissão, me introduziram à Casa de Irineu Pinto, Ricardo Bezerra, Auxiliadora Borba e Itapuan Bôtto. E, por último, mas de forma não menos intensa, quero prestar profundo agradecimento a todos os sócios que, sufragando meu nome em recente eleição, trouxeram-me ao seu convívio. Diante do exposto, não obstante as minhas limitações, quero dizer que tudo farei para dignificar e engrandecer a instituição à qual acabo de me consociar. Tenho a exata noção de que instituições como o IHGP se constroem no tempo pelas obras de seus integrantes, pelo respeito à sua imagem pública e crescem em razão de atitudes sociais e culturais definidas, mesmo que divergentes. Sei que instituições como o IHGP ao qual passei a pertencer têm fundamentos, projeto de futuro, freqüência habitual, sócios convergentes em torno de si e produção acadêmica. E aqui cabe até um juramento: estarei sempre zelando pela qualidade e forma integral de minha participação nesta Casa. Este é o meu discurso de posse. Muito obrigado! Notas: 1. Veja o livro “100 Crônicas Escolhidas”, de Raquel de Queiroz, editado pela José Olímpio Editora, Rio de Janeiro, 2006, p. 105, 8ª Edição. 2. Veja o livro Horizonte Perdido, de James Hilton (1925), publicado pela Abril Cultural - São Paulo (1980). 3. O município de Itapipoca, situado no norte do Ceará, tem seu território formado por três zonas fisiográficas diferentes: litoral, serras úmidas e sertão. Cada uma dessas zonas apresenta características ambientas e climáticas que se diferenciam levemente, daí a denominação vulgarizada de “cidade dos três climas”. 4. Observa-se que, ao longo de sua história, o IHGP tem atuado de forma politicamente correta. A participação de mulheres como “sócio efetivo” é significativa e tem ocorrido desde os primeiros anos de sua criação. Atualmente, (dezembro de 2010) das atuais 50 cadeiras, 13 são ocupadas por mulheres. De acordo com dados reunidos por Balila Palmeira, as primeiras mulheres a Ingressarem no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano como sócias efetivas, foram: Eudésia de Carvalho Vieira Jardim (1894-1981), médica, ocupou a cadeira REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 115 n. 4, como patrono. Seu ingresso no IHGP ocorreu em 3 de maio de 1922; Alice de Azevedo Monteiro e Analice Caldas (1891-1945), professoras, tomaram posse no dia 19 de julho de 1936; Beatriz Ribeiro da Silva (1915-1974), professora, e Olivina Olivia Carneiro da Cunha (1892-1977), (filha do Barão de Abiahy, que dá nome à Rua deste Instituto), professora, tomaram posse no IHGP em 23 de agosto de 1936. Como o estatuto do IHGP nada prevê sobre “renúncia”, certamente, os presidentes se valeram dessa omissão para não aceitar a desistência de Beatriz Ribeiro. O livro As Lutas de Classe em Roma, de Aníbal Victor de Lima e Moura, foi publicado pelo jornal A Imprensa, em 1934 e relançado em edição especial pelo Conselho Estadual de Cultura, em novembro de 1995, sob a Coordenação de José Octávio de Arruda Mello e Aníbal Victor de Lima e Moura Filho. Essa edição é completada pelos seguintes trabalhos: A Vida funcional de Aníbal Moura, de autoria de Hélio Zenaide; Aníbal Moura – No centenário de um tipo inesquecível, de José Octávio de Arruda Mello; e Agradecendo uma homenagem, de Cláudio Santa Cruz Costa. Veja Apresentação do livro “As Lutas de Classe em Roma”, de Aníbal Victor de Lima e Moura, edição comemorativa do Centenário de Nascimento, p. 9-10. A Nova no Transporte Urbano - Mototáxi, Edições UVA, 144 p., 1997, Sobral (CE) é o primeiro livro publicado por Modesto Siebra Coelho, geógrafo, professor universitário e pesquisador, com o apoio da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA. A Cidade Recortada (conjuntos de artigos); Às vezes tem boi na linha da questão cidade-campo; Traços de Rurbanização na Meruoca são trabalhos que fazem parte do livro De Sobral ao Global - Um percurso pela questão urbana, publicado por Modesto Siebra Coelho, em julho de 2000, pelas Edições UVA, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Ceará. Franz Boas, físico que depois migrou para a antropologia cultural. Nasceu em Minden, na Alemanha, em 9 de julho de 1858 e morreu em Nova Iorque em 21 de dezembro de 1942. O escritor Ítalo Calvino nasceu em 1923, em Cuba, onde seus pais, cientistas italianos, estavam em viagem. Morreu, em 1985, como um dos mais consagrados escritores italianos. “As Cidades Invisíveis” é um dos seus livros mais conhecidos. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 117 POSSE DO SÓCIO EFETIVO JOSÉ MOTA VICTOR DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO HISTORIADOR FLÁVIO SÁTIRO FERNANDES Senhor Presidente do IHGP, Meus Senhores, Minhas Senhoras: Historiador, teatrólogo, poeta, cronista, folclorista, é quem estamos a receber, nesta tarde, para integrar o quadro de sócios efetivos do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Vindo das Espinharas, sem deixar a terra que o viu nascer, aqui está José Mota Victor, misto de intelectual e de político, na linha de um Ernani Sátyro, de um Octacílio Queiroz, de um José Cavalcanti, todos eles, em maior ou menor amplitude, detentores de cargos eletivos e de livros inseridos na produção literária da terra de Coriolano de Medeiros. Honrou-me Zé Mota, como ele mesmo prefere se chamar em seu sítio eletrônico, com endereço www.zemota.com.br, onde estão revelados seu curriculum vitae, seus livros, seus trabalhos, honroume Zé Mota, repito, com o convite para saudá-lo na tarde de seu ingresso nesta casa da história e da memória paraibanas. Recebi, é claro, com subida honra o convite e, incontinenti, me pus a pesquisar a respeito de sua vida e de sua obra, vida ainda curta e obra que revela uma inteligência voltada para as letras, para o fazer historiográfico, para a preservação da memória, para a atividade política. Nasceu José Mota Victor aos 12 de maio de 1958, em Patos, filho de Diomedes do Nascimento Victor e Alice Mota Victor. Fez os estudos primários no GRUPO ESCOLAR RIO BRANCO da cidade natal. Concluídos aqueles, ingressou no COLÉGIO ESTADUAL DE PATOS, transferindo-se para o COLÉGIO ESTADUAL DO BAIRRO DOS ESTADOS, em João Pessoa, no qual cursou os estudos colegiais. Em 1976, ingressou na UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, por onde se graduou em Engenharia 118 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Civil, obtendo, posteriormente o grau de especialista em Gerência Estratégica, na Fundação Francisco Mascarenhas, em Patos. A atividade profissional de Zé Mota parecia posicioná-lo bem distante dos fazeres intelectuais, notadamente a literatura e a história: o engenheiro civil José Mota Victor foi gerente regional da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA, em Patos, Presidente da Associação dos Engenheiros da Cagepa, Diretor Regional do Sindicato das Indústrias de Purificação de Água da Paraíba, Presidente da Associação Recreativa e Esportiva dos Funcionários da CAGEPA. Prestou assessoramento técnico de supervisão e controle na construção de Rodovias Vicinais Canavieiras, rodovias vicinais do Agreste Meridional de Pernambuco e rodovias vicinais do Vale do Ipanema do mesmo Estado. Cursos e Seminários sobre, entre outros assuntos, Controle Estatístico de Qualidade, Tecnologia de Argilas, Eco-Desenvolvimento, Pavimentação Rodoviária, Características Operacionais das Unidades de Tratamento de Água, constituíram outras preocupações e cuidados do nosso novo consócio, na área técnica. No entanto, nada disso teve forças para demovê-lo dos pendores que há tempos alimentava, fazendo-o dedicar-se às letras e às artes. Nesse sentido, as duas dimensões mais expressivas de Zé Mota, dentre aquelas que compõem seu talento criador, são, sem dúvida, a de historiador e a de teatrólogo. A primeira, demonstrada por vários trabalhos em que desponta o pesquisador arguto e o analista consciente dos fatos históricos e de pessoas. O primeiro que cito é o breve estudo feito em torno da invasão de Patos pelas hordas político-militaristas de Santa Cruz e Franklin Dantas, agrupados estes dois chefes em torno da bandeira do General Rego Barros, a quem tentavam entronizar no governo da Paraíba, sob o manto político das chamadas “salvações”, em voga no País, no início da segunda década do Século XX, através do processo de intervenção federal, aqui malogrado, embora insuflado, conforme nos revela Horácio de Almeida em seu sempre lembrado História da Paraíba, pela figura de Dantas Barreto, líder político do vizinho estado de Pernambuco. Em seu trabalho, Zé Mota nos revela o que foram as horas REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 119 de sofrimento e de dor por que passou a população de Patos, em face, notadamente, da ação deletéria de alguns elementos da cabroeira invasora, os quais, extrapolando as ordens dos chefes e escapando à vigilância destes, excederam-se nos atos de depredação de bens, de agressões pessoais e de ameaças à gente do lugar, para cuja perpetração existiria, consoante informações da época, motivos de ordem estritamente pessoal. Nessa mesma dimensão historiográfica situa-se o trabalho intitulado FOLHETIM. De folhetim, propriamente, o de Zé Mota tem o nome e a matéria, mas não a forma, pois, já saiu em livreto autônomo, dispensando o autor sua publicação pausada em jornal, como é característico daquele gênero, de que fizeram uso vários autores brasileiros de renome, dentre os quais José de Alencar, Machado de Assis, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e Joaquim Manuel de Macedo. No gênero folhetim, há a possibilidade de múltiplos enredos a encher suas páginas: assuntos palpitantes, de interesse político ou social, assim como conversas do dia ou o que popularmente se costuma chamar “miolo de pote”. Em FOLHETIM, Zé Mota se serve de todos esses ingredientes para desmitificar um mito da política paraibana, constituindo-se seu trabalho um grito contra a história oficial. Ainda de caráter histórico é o livro NOS TEMPOS DE EDIVALDO MOTTA, no qual se entrelaçam biografia e história. A biografia é a de seu tio, Edivaldo Fernandes Motta, uma das grandes lideranças de Patos, que foi Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, membro da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 e a história por ele tratada envolve o tempo em que Edivaldo Motta construiu sua carreira política. A outra dimensão de Zé Mota que o faz ascender no cenário cultural da atualidade paraibana é a de teatrólogo. E teatrólogo vitorioso. De sua autoria é a peça A Cruz da Menina (Chica Menina) relato de uma tragédia patoense, considerada pela crítica uma peça simples, popular e atual que, certamente por conter tais características, obteve prêmios e já foi encenada diversas vezes neste e em outros Estados, por diferentes grupos teatrais, com grande sucesso de público. Também de sua autoria a peça Confeitaria Glória, igualmente relato de uma tragédia, desta vez de maior repercussão, deflagradora 120 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 de uma revolução que haveria de mudar os rumos da vida política nacional. Confeitaria Glória foi da mesma forma premiada e tem merecido encenações em variadas casas de espetáculo. A par da história e do teatro, sem esquecer a crônica e a pesquisa folclórica, Zé Mota tem-se dedicado também à poesia e como poeta participou da Antologia da Poesia Patoense, em que manifesta a sua preferência pelo soneto, divulgando dez produções da espécie. Na ficção, brindou-nos Zé Mota com um texto atraente e curioso, intitulado INFLUÊNCIA DOS RAIOS SOLARES NA MENSTRUAÇÃO DAS BORBOLETAS, publicado, periodicamente, em jornais, um folhetim, portanto, como fizeram aqueles mestres já citados. Estando a receber um novo membro desta Casa, dedicada à história, não posso deixar de fazer menção à carreira política de Zé Mota que, já por dois mandatos, vem sendo Vereador à Câmara Municipal de Patos, desempenhando de maneira conscienciosa os mandatos que o povo patoense lhe vem outorgando. Na administração pública, exerceu, o nosso novo confrade o cargo de Secretário Municipal de Educação e Secretário da Infraestrutura do Município de Patos, em cujo desempenho revelou elevado espírito público, pugnando sempre por possibilitar o bem comum. Entre os seus títulos estão ainda os de membro do Conselho Estadual de Cultura e sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Patos, cuja presidência já exerceu por dois períodos. Casado com a odontóloga Márcia Araújo Mota, o casal tem três filhos, formando uma família que lhe dá apoio e sustentação. Caro confrade Zé Mota: a vossa atividade intelectual, permeada de merecimentos e de vitórias, revela um espírito dedicado à criação intelectual, preso a compromissos com a história que, em vossas mãos, é um instrumento com que buscais empreender o conhecimento e a compreensão de nossa terra e de nossa gente. Tudo ajustado à alma, à índole, ao espírito desta Casa, que vos recebe de braços abertos, certa da ajuda que podereis emprestar ao seu engrandecimento. Sede bem-vindo. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 121 DISCURSO PROFERIDO PELO HISTORIADOR JOSÉ MOTA VICTOR, QUANDO DE SUA POSSE NA CADEIRA Nº 15 DO IHGP, EM 26 DE MARÇO DE 2011 Excelentíssimo Senhor Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Dr. Joaquim Osterne Carneiro; Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico de Patos, professora Maria Zoetânia da Nóbrega; Presidente da Academia Paraibana de Letras, escritor Juarez Farias; Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque; Historiador José Octávio de Arruda Mello representando o secretário Chico César; Conselheiro Flávio Sátiro Fernandes em nome de quem saúdo todas as autoridades aqui presentes. Respeitáveis Confrades e Confreiras; Senhoras e Senhores; Márcia Mota, minha esposa, meus filhos Isabella, Igor e Victor Mota em nome de quem saúdo amigos e familiares. O meu antecessor Luiz de Barros Guimarães afirmou no seu discurso de posse que “tornou-se praxe em solenidade semelhante a esta o novo sócio pronunciar ligeiras palavras, referente ao patrono e ao último ocupante da cadeira”. Vou manter a tradição só que falando “en passant” do fundador e do último ocupante da cadeira. O teatrólogo se deterá um pouco mais sobre a vida apaixonante e aventureira do português Dom Fernando Delgado Freire de Castilho, patrono da cadeira Nº 15. A PRESENÇA DOS PATOENSES NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO Lá se vão mais de 100 anos de história desde aquele dia 12 de outubro de 1905 quando dois patoenses, João Rodrigues Coriolano de Medeiros e Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque, assinaram, juntamente com outros 46 associados, a ata de fundação 122 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Menos de um ano depois, no dia 13 de agosto de 1906, morria Apolônio Zenaide no Recife quando se dirigia ao Rio de Janeiro para assumir a cadeira de senador da república. A cidade de Patos mesmo com a perda do grande político permaneceu representada pelo educador e polígrafo Coriolano de Medeiros que dedicou toda a sua vida aos estudos históricos, corográficos e folclóricos do estado da Paraíba. Até na sua poesia Coriolano deixou o registro histórico, o vestígio, o sinal, a pista para descoberta do verdadeiro local da antiga lagoa da cidade. Vejamos o soneto “Patos”: Casa de Paulo Mendes, no trecho descampado, E além, de João Gomes, avulta a moradia; Bem no centro do pátio, o norte defrontado, Sorri o templozinho da Senhora da Guia. Moradas de vaqueiros, currais aonde o gado Rumina e muge triste a mutação do dia; No milharal viçoso, ou verde ou sazonado, Debicam periquitos, farfalha a ventania. Pegas e Panatis, de tangas bem vermelhas, Guardam porcos e cabras, bezerros e ovelhas, E de lavoura cobrem do vale grandes tratos. Paira atrás a lagoa e na frente o pinharas, Restrito no verão a fios de águas claras... E assim no meu sertão um dia surgiu Patos! No ano de 2009 sugerimos e conseguimos aprovar no Conselho Estadual de Cultura a publicação, pela Biblioteca Paraibana, da terceira edição do “Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba”, edição fac-similar da segunda edição de 1950 publicada pelo Departamento de Imprensa Nacional para fazer parte da Enciclopédia Brasileira. O Dicionário Corográfico é uma de suas obras mais importantes. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 123 O terceiro a ocupar uma cadeira na casa de Irineu Pinto, depois de sessenta e seis anos de sua fundação, foi o mais ilustre dos patoenses, o parlamentar, governador, ministro, prefeito, poeta e escritor Ernani Sátyro e Sousa. Na década de setenta quando o meu tio, o deputado Edivaldo Fernandes Motta, fazia oposição ao seu governo com um grupo radical denominado de “Os Tupamaros” chegaram ao ponto de, para irritar o governador, criar o Clube da Fogueira que insinuava queimar o livro “O Quadro Negro” de sua autoria no centro da Praça João Pessoa, defronte ao Palácio da Redenção. Edivaldo com sua verve mordaz dizia que o livro era tão ruim que depois de sua publicação o Ministério da Educação passou a adotar nas escolas “O Quadro Verde”. Era o ranço político da terra natal, a manifestação irônica como defesa para enfrentar o poder e uma das maiores inteligências do estado, estava em jogo à sobrevivência de um deputado sem dinheiro e sem tradição política. Foi por essa época que tive a oportunidade de ler um exemplar editado pela José Olímpio e em seguida colocá-lo na estante paraibana dos meus livros preferidos. Nunca esqueci o comentário de Virginius da Gama e Melo na Introdução ao Quadro Negro: “Fica-lhe a importância de ser um dos melhores romances de nossa literatura, do grupo dos que resistem com vigor a uma crítica, a uma depuração de valores. Poucos romances terão, entre nós, tal nível de arte e construção”. O “Amigo velho” era de uma honestidade intelectual impressionante, quando chegou nesta casa para tomar posse no dia 4 de novembro de 1971 fez uma confissão: “Devoto da história – de nossas tradições, do passado de nossa gente, isso sempre o fui. Fui e serei. Não propriamente um historiador, ou mesmo um historiógrafo”. No ano de 2009 tive a honra, como vereador, de apresentar e aprovar na Câmara Municipal de Patos, o seu nome para o futuro teatro da cidade. O meu professor de português no antigo Colégio Estadual de Patos foi o quarto patoense a chegar ao Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. No final da década de setenta o reencontrei na sede do Tribunal de Contas do Estado para pesquisar, na sua sala de vice-presidente, o calhamaço manuscrito do processo da Cruz da Menina de Patos. Foram vinte dias de pesquisa e silêncio. O nosso temperamento de sertanejo ensimesmado só permitia a “boa tarde” 124 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 da chegada e o “até amanhã” da saída. Com a pesquisa da história da menina ganhei o prêmio publicação do IV Concurso Nacional Universitário de Peças Teatrais do antigo Serviço Nacional de Teatro e o Conselheiro a notoriedade de grande escritor com o romance “A Cruz da Menina”, antes, com a publicação de “Festa de Setembro” já tinha o reconhecimento da crítica paraibana. Jorge Amado, numa carta ao autor, fez um comentário encomiástico: “Seu livro tem alguma coisa que prende o leitor, despertando-lhe o interesse. Creio deverse ao fato de tomar da vida sem pretensões outras senão a de narrar acontecimentos, vividos. Por vezes o tom reflete as indecisões do estreante. Creio, porém que se você continuar a escrever ganhará facilmente seu lugar na novelística brasileira”. Falo do poeta, ensaísta, romancista e historiador Flávio Sátyro Fernandes que chegou ao Instituto Histórico e Geográfico Paraibano no ano de 1980 para ocupar a cadeira número 04, vaga com o encantamento da professora Eudésia Vieira. Maria de Fátima Gurgel Araújo ocupou a cadeira do ministro Ernani Sátyro em dezembro de 1986. Publicou livros de poesia, crônicas e contos. Depois enveredou na pesquisa histórica e publicou vários livros relacionados com a imprensa paraibana. No ano de 1985 nos encontramos aqui no auditório do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano para recebermos a premiação do Concurso Nacional Literário do IV Centenário da Paraíba, ela com o ensaio “Paraíba, imprensa e vida” e eu com a peça teatral “Confeitaria Glória”. Por uma estranha coincidência a ação da peça se passa no exato tempo de dois anos, inicia-se com a posse de João Pessoa no governo da Paraíba em 22 de outubro de 1928 e termina com a morte da professora Anayde Beiriz na cidade do Recife no dia 22 de outubro de 1930. Naquele dia, aqui, neste auditório reconheci, em Fátima Araújo, a fibra da mulher patoense, da poetisa paraibana que como Anayde Beiriz também não se curvou diante das injustiças da sociedade patriarcal. Estava inconformada, falava, de pé, da falta de discernimento da comissão julgadora do concurso literário que lhe tinha dado um segundo lugar, na categoria ensaio, sem ter havido um primeiro. No dia 10 de abril de 1992 a poetisa Maria Balila Palmeira assumiu a cadeira de número 19 do Instituto Histórico e Geográfico REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 125 Paraibano, era o sexto patoense a colocar os pés na Casa de Irineu Pinto. O seu primeiro livro foi de poesia, “Devaneios”. Depois escreveu uma biografia genealógica do Barão do Abiahy e muitos outros livros. Durante dois anos tive a alegria e a satisfação de sua convivência nas reuniões do Conselho Estadual de Cultura. No ano de 2009 convidei-a para participar, dentro do projeto “Biblioteca Patoense” da Antologia da Poesia Patoense. Deixou o seu canto de saudade na poesia “Sempre Patos”: Sempre Patos nos meus sonhos E a palmilhar meus caminhos Seja calor, seja frio Num afago num carinho Ou num cantinho sombrio. José Romildo de Sousa foi o idealizador do Instituto Histórico e Geográfico de Patos e da Academia Patoense de Artes e Letras. Assumiu a cadeira nº 21 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, vaga com o falecimento do historiador Adailton Coelho da Costa, tendo como patrono o professor João Lelis de Luna Freire no dia 17 de dezembro de 2006. Dono de um precioso acervo fotográfico conseguiu publicar um livro com fotografias raras do futebol das espinharas e outro com os monumentos históricos e caminhos da cidade. Faço essa singela referência a Presença dos Patoenses no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano como um reconhecimento ao talento daqueles que muito contribuíram para nossa história e aos que ainda hoje nos honram com sua inteligência. A presença dos filhos de Patos nesta casa sempre foi muito forte. Depois da capital do estado a nossa cidade foi a que mais contribuiu com historiadores para Casa de Irineu Pinto. O engenheiro, sempre atento aos números e percentuais, descobriu que as cidades de João Pessoa, Patos e Areia são as recordistas em sócios, agora o historiador precisa de tempo para interpretar os números. FERNANDO DELGADO FREIRE DE CASTILHO O Amante Noventa e quatro por cento dos patronos do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano são brasileiros, os outros seis por cento são estrangeiros. Esta casa de Irineu Pinto não poderia ter escolhido tão bem, através dos que fizeram o Instituto de antanho, esses três importantes nomes que passaram por esta terra e deixaram cartas, relatórios e livros imprescindíveis para construção da nossa história colonial, são eles: Ambrósio Fernandes Brandão, Elias Herckmans e Fernando Delgado Freire de Castilho. O primeiro, português, era conhecedor profundo do litoral brasileiro, integrou a expedição chefiada por Martim Leitão e João Tavares que resultou na conquista da Paraíba, era senhor de três engenhos na várzea do Rio Paraíba. Deixou para posteridade o livro “Diálogos das Grandezas do Brasil” que, apesar de não ter ‘qualquer qualidade literária’, merece, segundo Gemy Cândido, “destaque não somente devido ao fato de ter sido escrito na Paraíba, como também por nos fornecer dados fundamentais sobre os inícios da colonização”. José Honório Rodrigues afirma que “são documentos capitais do século XVII e constituem a crônica mais positiva, a descrição mais viva, da sociedade, da economia dos moradores do Brasil, gentios, reinóis, mazombos e negros”. Escrito em 1618 quando o seu autor tinha 63 anos de idade “Os Diálogos” chegaram ao Brasil através de dois apógrafos: o da Biblioteca Nacional de Lisboa e o da Biblioteca da Real Universidade de Leiden, na Holanda. O segundo, Holandês, nasceu em Amsterdam em 1596, foi governador da província e escreveu em 1639 “A Descrição Geral da Capitania da Parahyba” que só foi publicada em livro em 1982 com apresentação e atualização ortográfica de Wellington Aguiar e notas de Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. O historiador Evandro da Nóbrega em “Um Governador da Paraíba na Primeira Guerra Civil da Rússia” publicado na revista “Paraíba Cultural” nº 18 escreve que “o terceiro governador holandês da Capitania da Paraíba foi o escritor, poeta, dramaturgo, marujo, aventureiro e comandante militar Elias Herckmans (1596-1644), ainda hoje estudado também na Rússia, na Holanda e noutras partes do mundo. Mas o interesse em torno dele não se deve somente a suas peças teatrais, seus poemas, suas canções, sua “Descrição Geral da Capitania da Paraíba”, sua viagem com Hendrik Brouwer ao Chile e demais realizações guerreiras, administrativas, etnográficas e intelectuais. Deve-se também ao fato de haver escrito, como testemunha ocular e confiável, um dos únicos documentos coevos sobre o chamado Tempo dos Distúrbios na Moscóvia de fins do século XVII”. O terceiro e último estrangeiro é o Lisboeta Fernando Delgado Freire de Castilho que tenho a honra, nesta noite memorável, de sentar na sua cadeira. O nosso patrono era filho único de pais afortunados, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro professo e Comendador da Ordem de Cristo, Comendador da Ordem de São Bento de Avis e Comendador da Ordem de Santiago da Espada. Não é todo mundo que tem a coragem de sentar numa cadeira importante como essa, só se tiver, como no meu caso, sob a proteção do Conselheiro Maior da Ordem Historiográfica da Região das Espinharas, o professor Flávio Sátyro Fernandes. Fernando Delgado nasceu em Portugal no ano de 1767. Trinta anos depois, com o curso superior concluído, estava nomeado por D. João, infante de Portugal, governador da Paraíba através da Carta Patente de 30 de outubro de 1797. Encontrou a Capitania subordinada ao governo de Pernambuco desde o ano de 1757 devido à política centralizadora do Marquês de Pombal. Já em 1618, Ambrósio Fernandes Brandão registra no livro “Diálogos das Grandezas do Brasil” que a cidade do Recife era chamada de “Lisboa Pequena” devido ao seu poderio econômico e político. O economista Celso Furtado afirma que na época do domínio Holandês (1630-1645) o Nordeste brasileiro era a região mais rica do mundo, o produto bruto do Nordeste era cinco vezes maior do que o da Inglaterra. A importância da capital pernambucana era tão grande que em 1640 realizou-se no Recife uma reunião com representantes de todas as capitanias sob controle holandês. Quando Fernando Delgado chegou a Capitania em 1798 o poderio econômico pernambucano continuava e, para tristeza do novo governante, exportava quase toda produção de açúcar da Paraíba 128 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 através do seu porto. Os produtos manufaturados da Europa destinados a Paraíba era recebidos na capital pernambucana. A submissão era tão constrangedora que um ano antes da posse de Fernando Delgado o governador de Pernambuco, devido à falta de farinha na sua capitania, determinou que para cada quatro cargas de algodão devesse acompanhar uma carga de mandioca. Nesse período o cargo de governador da Paraíba era um mero título honorífico. Foi debaixo desse quadro desolador que chegou a cidade da Parahyba o governador Fernando Delgado Freire de Castilho que recebeu do Palácio Real de Queluz, antes de assumir os destinos da capitania, um regimento com inúmeras instruções. A mais importante delas foi escrita nos seguintes termos: “Vossa Excelência fará subir a Real Presença não só a fiel exposição de tudo que acabo de notar-lhe, mais ainda as reflexões que lhe sugerir o estado atual da capitania e das suas produções a fim que Vossa Majestade abrace a mais justa resolução sobre a conveniência de fazer esse governo independente ou de conservá-lo dependente”. Uma das primeiras providências que tomou foi solicitar informações ao Senado da Câmara que respondeu prontamente, nos parágrafos finais do documento, o que se segue: “Se no estado de um governo independente nascer nesta capitania um comércio direto, independente de Pernambuco, é de toda prudente esperança que este Povo possa melhor viver”. “Ele venderá as produções com todas as comodidades sem as despesas e receio com que as vai vender a Pernambuco, comprará as da Europa, com as mesmas comodidades, viverá, portanto melhor e eis aí e eis aqui mais uma vantagem que pode ter livre dos prejuízos contrários”. “Em fim é de bem fundada esperança que no estado de governo absoluto e independente, será a capitania mais bem REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 129 regida; e se do melhor governo resulta a felicidade do Povo, são de esperar todas as vantagens nesse estado”. Em pouco tempo Fernando Delgado enviou vários ofícios à metrópole sobre o Forte de Cabedelo, a Ilha de Fernando de Noronha e a situação da agricultura, comércio e indústria da capitania. Os relatórios enviados a rainha pelo governador transformaram-se em documentos importantíssimos para historiografia paraibana. O parecer final de Fernando Delgado sobre o assunto foi o de que a Paraíba e o Reino de Portugal nada ganharam com a subordinação da capitania a Pernambuco. No relatório esclarece os pontos positivos da desanexação: “As despesas que podem acrescer com a nova forma do governo independente serão insignificantes a respeito dos proveitos e melhoramentos que as rendas de Vossa Majestade hão de ter no maior aumento da agricultura e comércio e mais da felicidade pública, a melhor segurança dos estados”. No parágrafo seguinte adverte a rainha: “É preciso, porém que se não multipliquem desnecessariamente os ofícios e empregos, como quase sempre acontece em novos Estabelecimentos, quando se repartem a muitos afilhados e protegidos”. Essas palavras de Castilho me fazem lembrar o poeta cearense: Minha dor é perceber Que apesar de termos Feito tudo que fizemos Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais... No dia 17 do mesmo mês o governador recebeu a Carta 130 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Régia com a decisão de restaurar a autonomia político-administrativa da Capitania da Paraíba. Não me deterei no trabalho que Fernando Delgado realizou na capitania porque estou querendo ser o mais sucinto possível, não estou querendo esgotar o assunto para não esgotar a paciência dos senhores convidado. O nosso ilustre patrono permaneceu no cargo de governador até o dia 16 de setembro de 1802. Em seguida viajou para o Rio de Janeiro onde permaneceu até o ano de 1805 quando partiu para Portugal. Em 1809 voltou ao Brasil para assumir a Capitania de Goiás onde escreveu o livro “Memórias Sobre a Capitania de Goyaz”. O seu governo durou onze anos. Triste foi o fim de Fernando Delgado no Brasil. Apaixonouse pela filha de um carpinteiro e com ela teve dois filhos. Quando foi exonerado do cargo retornou ao Rio de Janeiro para seguir para sua terra natal e assumir uma função de Conselheiro de Sua Majestade. A mulher com quem vivia maritalmente impôs uma condição para viajar: Só iria para Lisboa depois do casamento. Fernando Delgado apesar de amá-la não queria enfrentar o conservadorismo da corte portuguesa. Certo está o finado Brás Cubas quando afirma em suas memórias póstumas que a “hipocrisia é um crime hediondo”. Aqueles que singraram os mares durante séculos para levar a palavra do filho do carpinteiro de Nazaré para os confins do mundo não queriam acolher no seu seio a filha do pobre carpinteiro brasileiro. Não poderia deixar, nesta noite solene, de declamar um conto da antropóloga Maria José Silveira descrevendo os últimos momentos de Dom Fernando Delgado Freire de Castilho. Quando estava lendo a prosa poética da escritora goiana imaginei o nosso patrono no porto do Rio de Janeiro, de pé, olhando a vastidão magnífica do oceano atlântico e conversando com sua pátria como se fossem dois namorados apaixonados em margens diferentes de um rio caudaloso, intransponível: Ai,Portugal! O quanto já fiz por ti! Percorri mares e continentes. Desbravei terras sequer imaginadas, e o monstro sem nome do desconhecido. Por REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 131 ti, aceitei tarefas acima de mim e dos meus esforços. Errei por mundos novos. Tentei ser mais do que homem, ser herói. Ai, Portugal! O que ainda queres de mim? Dei-te meu corpo e fogo, minhas ambições. Os sonhos de minha cabeça e a vontade dos meus pés. Dei-te o que havia em mim. Meu ardor, minhas armas, meu ócio. Tudo foi teu, Portugal. Como é teu este mar que daqui vejo, mar de basalto, o mesmo mar que um dia me afastou de ti, esse mar que odeio. E que, se nesse momento parece morto, em sua imobilidade aparente, sem a mais leve onda, o mais leve risco em sua capa plúmbea, bem sei que é fingimento. Tudo nele é fingimento, astúcia, hipocrisia. Jamais mereceu a confiança de ninguém, esse mar. O mesmo mar que me trouxe. Por ti, Portugal! O mar que me trouxe a essa terra que sequer sabia existir, e não queria conhecer. Essa terra no fim de mundo. No próprio fim desse mundo novo, a pedra mais rutilante da tua coroa. Teu ambicionado sol. Esse mundo novo não existe mais, Portugal. Por ti, acabamos com ele. Eu e os outros iguais a mim. Desde que pela primeira vez aqui pisamos, embutidos em nós vinha o que seu mundo tinha de mais velho, pátria minha. Conspurcamos tudo o que encontramos. Sujamos tudo com teu cuspe rançoso e podre. Basta, Portugal! Agora vejo o quanto nos enganastes. Agora sei. Não sou 132 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 mais aquele que eu era quando vim por esse mar, e de nada sabia. Quando cheguei sem pejo nem pudores, acreditando ter em mim, por direito de nascença, os direitos plenos da Corte Portuguesa. Fui, vi e venci – não era assim que se dizia? Por ti fui até o grande fim do mundo, governar a chamada Capitania de Goiás, a zona infernal de árvores retorcidas, terra vermelha e seca, e do calor saído direto da forja do Diabo. Por ti, eu fui, Portugal. Mandei escavar aquela terra, tirar dela todo o metal que por milênios laboriosamente ela produziu, mandei cortar, despedaçar, abrir. Mandei matar e escravizar os filhos que ela mesma gerou um povo a quem ferimos de morte apenas porque, segundo nossa prepotência, não deveria estar no lugar em que estava. Um povo cuja ingenuidade e inocência fizemos o que nos foi possível para extirpar. Um povo que podia ser nosso amigo, se nossas intenções fossem diferentes. Deus não teve nada a ver com isso. Só a tua cobiça, Portugal. Passei anos ali, bem o sabes! Onze longos anos, fazendo tudo o que deveria fazer para aumentar tua glória. Não podes te queixar de mim. Fui teu homem e teu representante naquela terra do fim do mundo. Zelei por teus interesses, finquei tua bandeira naquela planura que é quase igual à deste mar, só que de terra vermelha, e mesmo assim, tão odiosa quanto esse manto pesado de água cinza. Amansei aquele mar vermelho. Fiz o que me foi ordenado fazer, e procurei fazê-lo bem. Por ti, Portugal. A única coisa que não fiz por ti, é o que te contarei agora. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 133 O meu pequeno e grande segredo. Escuta. A única coisa que não fiz por ti, mas só por mim, foi amar uma mulher. Mulher de pele morena-clara, cabelos de noite negra, olhos de luar. Doce e exuberante, tal qual essa mesma terra quando se aprende a vê-la não como mera conquista nossa, mas como ela de fato é, com sua natureza própria, vermelha, pujante, belíssima. Uma mulher da terra. Filha de carpinteiro. De carpinteiro pobre, em que pese a redundância. Uma simples mulher desse povo que colonizei para ti, Portugal. Ela, a minha ignomínia. Meu pecado nefando. E, no entanto, também meu triste orgulho. Meu único consolo. Meu envergonhado amor, e concubina. Com ela tive três filhos. Filhos de um dos teus heróis, pátria minha. Portanto, também filhos teus. Por mais que bastardos, por mais que indignos, ainda assim, também filhos teus. Ai, Portugal! Sei bem que não poderás aceitá-los. Sei agora que nem sequer irás conhecê-los. Sei que não te verei de novo, Portugal. Por todos esses infindáveis anos, sonhei um dia voltar ao lugar onde nasci, à minha quinta, à beira d´Ouro. Sonhei voltar a percorrer os desfiladeiros profundos e, no entanto, harmoniosos, que cercam o vale amado onde nasci, os mesmo desfiladeiros profundos, mas esses, sim, abruptos que se cravaram para sempre em minh´alma .E, no entanto, hoje, quando pensava aqui vir para embarcar e seguir por este mar para voltar a ver-te, Portugal, percebo o quão impossível é esse meu desejo. A mulher que amo não irá comigo. Decidiu que não irá, 134 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 a menos que seja como legítima esposa na lei de Deus e na lei do Reino de Portugal. Em sua própria terra, viveu na condição de amásia, mas não aceitará continuar a sê-lo na Corte Portuguesa. Minha amada tem a fibra e o orgulho desse povo que tentei colonizar para ti. Não irá. Não é de seu feitio tolerar ser tratada com menosprezo, nem olhada com os olhos da infâmia. E sabe que assim será tratada pelos nobres de tua Corte, se aí chegar como amásia. Não irá. É sua decisão final. Eu já deveria saber disso. E assim como conheço bem essa que foi e é, aos olhos meus, minha mulher, também conheço muito bem a ti, Portugal. Sei do que és capaz. Conheço bem tua hipocrisia. Sei que nunca a aceitarás como esposa de um filho da tua nobreza. Que jamais a deixará esquecer que é filha de um carpinteiro, e ainda mais, filha de carpinteiro pobre, em que pese a redundância. Conheço-te demasiado bem, pátria minha. E não quero ver teus olhos devorando a mãe de meus filhos como se devora uma meretriz. Isso, eu é que não suportarei. Como não suportarei teu olhar de troça e desagrado sobre mim, se dela fizer minha legítima esposa. Ah, maldito amor que não controla o pouso! Pois sem ela, Portugal, eu, que nada sou, tampouco irei. Se não sou capaz de te enfrentar por ela, e de minha amada fazer minha esposa de fato e na lei, se sou covarde a esse ponto, como sei que o sou, não irei. Compreendo que verás nisso a traição de um filho. E reconheço tuas razões, pátria minha. Mais ainda: sei que serás tu outra vez a vencer neste dilema criado por tua própria rede de intrigas, falsidades e hipocrisias. Daqui, olhando este odiado mar, reconheço e ainda admiro a tua força, Portugal. Sei que, contigo e por ti, sou forte, mas demasiado fraco sem ti e contra ti. Nada poderei fazer para defender contra ti a mulher que amo. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 135 Em que pese tudo, ainda sou um filho teu. Tão pusilânime, conspurcado e velho, como qualquer outro filho teu. Nem pior nem melhor que nenhum de teus heróis. Mas estou cansado. Não irei, e tampouco seguirei nesta terra, que é da minha amada, mas não minha. Os seus dramas me exauriram. Não quero mais o cálice negro das noites que bebi em terra alheia. E se sou por demais covarde para enfrentar-te, não o sou para deixar esta vida onde já nada espero, e tão pouco tenho. Se, depois de tudo que te dei, é o meu coração que ainda queres, Portugal, não te acanhes. Este coração covarde e cansado, incapaz de enfrentar tua hipocrisia, foi feito por ti e é teu. Não te farei esperar. Tome-o, pátria minha. E crispando os dedos em volta de seu punhal de cabo de prata, Dom Fernando Delgado Freire de Castilho, exgovernador da Capitania de Goiás, traspassou o próprio peito à beira do cais, em uma madrugada do ano da graça de 1820, na cidade do Rio de Janeiro. Triste também foi o fim de Fernando Delgado na Paraíba. Foi homenageado com o nome numa estreita e pequena Rua do Bairro de Tambiá na capital do estado, que segundo o historiador Guilherme Gomes da Silveira d’Ávila Lins tem menos de três metros de largura por oitenta de extensão. O confrade Sitônio Pinto em recente crônica publicada no jornal Correio da Paraíba a chamou de “Beco do Tempo”. Segundo ele “A Rua Fernando Delgado foi o primeiro conjunto residencial construído na Paraíba, na década de 1920, pelo Montépio do Estado. O primeiro habitante do conjunto foi o popular Antônio Menino, natural de Taperoá, neto de escravos, conhecido como o Porteiro da União, função que exerceu durante mais de meio século. Nela também moraram o escritor Virgínius da Gama e Melo, na sua juventude, e o antropólogo José Elias Barbosa Borges, na sua infância”. 136 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Só o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano o reconheceu como grande personagem de nossa história aprovando o seu nome para patrono da cadeira de número 15. Pena que nesta noite e neste discurso não caiba o que lemos sobre o fidalgo português. Quem sabe que, mais tarde, quando houver bom tempo, não saia um livro com a história aventurosa e armorial do grande governador? WILSON NÓBREGA SEIXAS O Paleógrafo Wilson Nóbrega Seixas foi o fundador da cadeira nº 15, nasceu no ano de 1916 na cidade de Pombal. Era filho do professor Newton Seixas, respeitado mestre-escola do curso primário. Iniciou os estudos na escola pública de Pombal. Estudou no Colégio Pio X e no Liceu Paraibano onde concluiu o Curso de Humanidades. Em Recife concluiu o curso universitário na Faculdade de Odontologia. Logo após a graduação foi exercer as atividades de dentista na sua cidade natal. Em 1952 o governador José Américo de Almeida o nomeou cirurgião-dentista do estado. Iniciou suas atividades de pesquisa ainda na cidade de Pombal, publicando em 1962 o livro “O Velho Arraial de Piranhas”. Luis Hugo Guimarães revela numa das páginas que publicou em sua homenagem: “Era notória sua habilidade na leitura paleográfica de velhos documentos, um dos nossos mestres naquela especialidade, um aprimorado examinador de textos antigos, empunhando sempre sua lupa pela noite adentro” e mais adiante “Wilson continuou grudado a velhos alfarrábios que trouxera de Pombal e adjacências, alguns papeis abandonados pela Câmara Municipal de Pombal no lixo, que com cuidado colocou em sacos de estopa, amealhando-os avaramente em sua residência para examinar posteriormente”. Foi saudado pelo jornalista Otacílio Nóbrega de Queiroz em março de 1965 quando assumiu uma cadeira no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano: Em 1967 foi um dos fundadores do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica e contribuiu com a Instituição publicando em 1972 o livro “Os Pordeus do Rio do Peixe”. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 137 No livro “Odontologia na Paraíba” de 1974 a alegria de encontrar o nome do patoense Alfredo Lustosa Cabral, da turma concluinte de 1932 da Escola de Odontologia do Recife, que também era escritor e nos legou o interessante livro “Dez Anos no Amazonas” que foi publicado pela Gráfica da Escola Técnica da Paraíba e mais tarde, por sua importância, pela gráfica do Congresso Nacional. Raimundo Nonato Batista no prefácio do livro “Viagem Através da Província da Paraíba” traça magnificamente o perfil do historiador: “Não identifico em Wilson o analista, o codificador, o interprete dos acontecimentos que embasam o fluxo da história. Para mim ele situa-se como um repórter que se preocupa em fornecer ao leitor a notícia exata, o detalhe frio, os nomes e os fatos que lhe permitem situar-se dentro dos acontecimentos. Não lhe seduzem as versões iluminadas, nem as interpretações teóricas. Persegue o registro com a fria obstinação de um garimpeiro, seguro que os velhos cartapácios, esquecidos em cartórios e paróquias, e os livros de atas e assentamentos das antigas Intendências e Conselhos Municipais, são os cascalhos residuais, a ganga, que guarda o detalhe precioso que confirma a notícia”. No livro “Santa Casa da Misericórdia da Paraíba” o prefaciador Maurílio Augusto de Almeida tem o mesmo juízo de Luiz Hugo Guimarães e Raimundo Nonato Batista sobre o historiador Wilson Nóbrega Seixas: “O autor é um inveterado consulente de papéis que possuem sabor histórico, habituando-se, desde as ‘priscas eras’, a colher água cristalina em fontes para muitos impenetráveis, inacessíveis; água oculta em terreno de igrejas, domínios de cartórios e confins de solidão. Iniciou-se na paleografia quando ainda residente em Pombal, cidade do estado talvez possuidora do maior inventário referente à vida dos nossos séculos XVIII E XIX”. Wilson Nóbrega Seixas morreu no dia 11 de março de 2002. Luiz de Barros Guimarães no seu discurso de posse publicado pela Revista do Instituto, falando sobre o fundador da cadeira nº 15, afirmou, num parágrafo bastante emblemático, que o paleógrafo de Pombal permaneceu no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano “até 13 de março de 2002”. Descuido do historiador? Erro de digitação? Não acredito. Para o poeta fica o sentimento que Wilson Nóbrega Seixas passou mais dois dias lendo velhos alfarrábios, 138 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 folheando revistas, consultando antigos documentos, despedindo-se de livros raros e recordando, no auditório desta casa, sua trajetória de brilhante historiógrafo. LUÍS DE BARROS GUIMARÃES O Breve O primeiro ocupante da cadeira nº 15 foi o historiador Luis de Barros Guimarães que morreu no dia 18 de julho de 2010 sem ter concretizado o sonho de publicar em livro os mais de 200 artigos publicados em jornais e revistas sobre a História do Brasil. Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano publicou oito artigos no período de julho de 1999 a setembro de 2004. Como sócio efetivo do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica editou, em plaquetas, os seguintes títulos: Tordesilhas, Cinco Séculos (1994); Padre Azevedo (1995) e Impressão Régia (1996). Tem artigos publicados em diversos livros. Um dos mais importantes é “Os descobrimentos Marítimos e as Fronteiras do Brasil” em “Tordesilhas: Um Marco Geopolítico” editado pela Fundação Joaquim Nabuco no ano 1997 através da editora Massangana. A publicação foi organizada pelo professor Manuel Correia de Andrade, responsável em 1994 pelo seminário em comemoração ao V Centenário do Tratado de Tordesilhas. O evento teve uma amplitude internacional. Foram convidados historiadores brasileiros e portugueses que realizaram conferências a respeito do tema. No livro foram publicados os trabalhos dos historiadores que mais se destacaram no seminário, entre eles Luís de Barros Guimarães e Maria Helena da Cruz Coelho, professora catedrática da Universidade de Coimbra. A conferência de Guimarães é um singelo trabalho que em pouco tempo coloca o leitor informado do imbróglio entre Portugal e Espanha pela disputa do domínio dos mares. O saudoso confrade nos informa que no século XV os dois reinos da Península Ibérica se engalfinharam em terra e mar pondo a pique os navios e incendiando as benfeitorias. Com o tratado intermediado pelo papa na cidade de Toledo em 1480, Portugal garantiu o monopólio da exploração da África e do caminho para as Índias. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 139 O objetivo do Santo Padre era cristianizar a humanidade e para isso valeu-se de bulas para dar legitimidade sobre a soberania dos territórios conquistados, descobertos ou a descobrirem. Do período de 1452 a 1456 o reino de Portugal foi beneficiado por três bulas papais: a Dum Diversas (autoriza a atacar, conquistar e submeter os inimigos de Cristo transferindo suas terras para o reino de Portugal); a Romanus Pontifex (conhecida como a carta do imperialismo português que dava o monopólio da navegação, comércio e pesca nessas regiões) e finalmente a Inter Coetera (concedia a Ordem de Cristo, cujo administrador e mestre era o Infante D. Henrique, a jurisdição espiritual de todas as regiões conquistadas pelos portugueses). Quando Cristóvão Colombo descobre a América e faz escala em Lisboa o rei D. João II adverte-lhe que as terras descobertas pertencem a Portugal. Para evitar uma guerra o Papa Alexandre VI publica a bula In Coetera. Portugal não concorda com a nova divisão e os reis Fernando e Isabel aceitam assinar o convênio de “Capitulação da Participação do Mar Oceano”. Entrava para história o Tratado de Tordesilhas que conhecemos desde os tempos dos grupos escolares. Luiz de Barros Guimarães, o Breve, tomou posse no IHGP no dia 16 de agosto de 2002 sendo saudado pelo historiador Guilherme Gomes da Silveira D’Avila Lins e morreu no dia 18 de julho de 2010. O HISTORIADOR NÃO É UM ANTIQUÁRIO El manco de Lepanto dizia que “a história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”. Segundo Marc Bloc Nobert Elias é o estudo da “obra dos homens no tempo” e não aquela clássica e superada definição de “a ciência que estuda o passado”. O historiador não é um antiquário. Carlos Antônio Aguirre Rojas no seu “Antimanual do Mau Historiador” afirma que “é impossível construir uma história nova, com as velhas e desgastadas ferramentas típicas dos também já anacrônicos modos pelos qual o ofício de historiador foi praticado até hoje. Foram essas velhas concepções de história, com suas velhas fontes e técnicas consagradas 140 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 durante tantas décadas, repetidas durante anos nas salas de aula, que forjaram a historiografia oficial, a qual não apenas ignorou os indígenas, mas também as mulheres, os camponeses, os operários e o povo em geral, ao mesmo tempo em que se concentravam unicamente no estudo da vida dos presidentes e dos políticos de renome, nas batalhas dos pequenos grupos de elite ou das facções das classes dominantes, ou ainda na análise dos discursos e obras deste ou daquele literato, cientista ou ‘grande personagem’ da história nacional”. Como poderíamos fazer uma história crítica da participação da Paraíba na Guerra do Paraguai sem analisarmos a perversa influência política na convocação dos negros, escravos e pobres; sem analisarmos o contexto internacional do conflito; o interesse imperialista britânico e a dívida moral e financeira do império brasileiro? Podemos ver o retrato da sociedade paraibana numa sarcástica anedota da época, assunto que poderia ter sido estudado mais profundamente nos velhos alfarrábios da história oficial: Naquele abril de 1865 quando os voluntários da pátria, que na verdade não eram tão voluntários assim, estava de partida no vapor “Paraná” a hipocrisia da sociedade paraibana não deixou de fazer o seu discurso: - “Ide, ser patriota é ser amado pelo Brasil inteiro. Ide colher os louros e vitórias, a pátria vos espera agradecida”. A voz do paraibano pobre e injustiçado, que viajava amarrado de corda e gargalheira no pescoço, gritou do convés do vapor Paraná: - “Se é tão bom assim, que faz você que não vem conosco?”. Henri Pirenne repetia insistentemente que não haveria “História possível da Bélgica que não fosse ao mesmo tempo uma história da Europa”. Mais tarde Fernand Brauldel acrescentaria que “não há história possível da Europa que não seja ao mesmo tempo história do mundo”. Portanto caros confrades plagiando a sentença pirenniana não haveria história possível da cidade de Pombal que não fosse ao mesmo tempo uma história da Paraíba nem história possível da Paraíba que não seja ao mesmo tempo uma história do Brasil. Que lacuna teria na historiografia paraibana se o dentista de Pombal não tivesse escrito “O velho Arraial de Piranhas”. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 141 Sentar na cadeira de Fernando Delgado Freire de Castilho é assumir, como diz Aguirre Rojas, o compromisso com “a verdadeira história, ou seja, a explicação abrangente, a interpretação inteligente, e a reinserção carregada de sentido profundo, de todo esse conjunto de fatos e de fenômenos, dentro de processos históricos globais”. Não podemos escrever essa história apenas consultando velhos arquivos, jornais, almanaques, mapas, Atlas e cronologias porque tudo isso se resume apenas no suporte fático para reconstruir o fato histórico que desejamos. É verdade que o positivismo histórico está hoje menos presente no Brasil do que na maioria dos paises da América latina, mas entendemos também que a historiografia brasileira ignora as importantes contribuições da perspectiva da análise dos sistema-mundo. Afinal, continuar construindo essa nova história vai ser o nosso propósito. Quando coloco os pés no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano assumo esse compromisso de honrar a tradição dessa casa na busca incessante da verdade histórica. Já que todos os patoenses que aqui passaram eram, e os que aqui estão são, poetas, mesmo que bissextos, para terminar esta oratória queria passar a palavra a Miguel de Cervantes Saavedra: “O poeta pode contar ou cantar as coisas, não como foram, mas como deviam ser; e o historiador há-de escrêve-las não como deviam ser e sim como foram, sem acrescentar ou tirar nada a verdade”. Muito obrigado. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 143 POSSE DO HISTORIADOR RÔMULO DE ARAÚJO LIMA DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO HISTORIADOR JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO Pronunciamento feito pelo Historiador Joaquim Osterne Carneiro, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, recepcionando o Historiador Rômulo de Araújo Lima, em 03 de junho de 2011: A amizade fraterna que desfruto com Rômulo de Araújo Lima, fez-me honrado com o convite para recepcioná-lo nesta noite bonita, como são todas as noites pessoenses, na oportunidade em que adentra nesta Casa da Memória Paraibana, para ocupar a Cadeira 40, que tem como Patrono Luciano Jacques de Morais e que se achava vaga, em virtude do falecimento do seu fundador José Elias Barbosa Borges. De inteligência privilegiada e dotado de cultura humanística e jurídica das mais profundas, Rômulo de Araújo Lima infunde respeito e confiança a todos que dele se aproximam. Natural da cidade de Campina Grande, a “Rainha da Borborema”, o nosso recipiendário fez seus primeiros estudos na sua aconchegante e progressista cidade. Em seguida, já residindo aqui na capital das acácias, estudou no Colégio Estadual concluindo o Ginásio e o Colegial. Prestou vestibular e ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba, concluindo em 1974 o Curso de Ciências Jurídicas e Sociais. Mas o seu gosto pelos estudos fez com que realizasse o Curso de Formação de Professores Especializados em Ensino do 2º Grau - Licenciatura Plena, pela Universidade Regional do Nordeste, em 1977. Em 1979 concluiu o Curso de Mestrado em Sociologia, ministrado pelo Departamento de Sociologia e Antropologia do Centro 144 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 de Humanidades, da Pró-Reitoria de Assuntos do Interior, do Campus de Campina Grande da Universidade Federal da Paraíba, defendendo dissertação sob o título “Em busca da dialética”, aprovada com distinção. Em 2009 realizou o Curso de Doutorado em Ensino, Filosofia e Historia das Ciências, ministrado pelas Universidades Federal da Bahia e Estadual de Feira de Santana, onde defendeu a tese “A luz que não se apaga”, versando sobre a Escola Politécnica da Paraíba. Faz-se mister destacar que, em 1972 concluiu o Curso Regional de Educação Sindical, realizado pelo Instituto Cultural do Trabalho, juntamente com o Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores; o Curso de Extensão Cultural de responsabilidade da Associação Brasileira de Técnicos em Administração, em 1974; o Curso Profissional de Advocacia, ministrado pelo Escritório Modelo de Advocacia da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba, nos anos de 1973 e 1974; e, o Curso de Metodologia do Ensino Superior, realizado pelo Departamento de Educação da Universidade Regional do Nordeste, em 1977. Convém ressaltar que, foi aprovado em primeiro lugar no Curso Profissional de Advocacia, promovido pelo Escritório Modelo da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba, em 1973 e 1974, anteriormente citados. Concomitantemente, em 1977, obteve também o primeiro lugar no Concurso de Seleção de Docentes da Universidade Regional do Nordeste, na categoria de Auxiliar de Ensino, no Departamento de Filosofia e Ciências Sociais, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, para a disciplina Ética e Legislação dos Meios de Comunicação, o mesmo acontecendo no Concurso de Seleção de Docentes da já referida Universidade Regional do Nordeste, na categoria de Auxiliar de Ensino, no Departamento de Fisiologia e Ciências Sociais, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, para a disciplina “Fundamentos Científicos da Comunicação”. De outra parte, em 1980 obteve o segundo lugar na Seleção Publica de Títulos na Universidade Federal da Paraíba, na categoria de Colaborador nível III, do Departamento de Sociologia e Antropologia, do Centro de Humanidades do Campus II, além de REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 145 igualmente ser aprovado em segundo lugar no Concurso Público de Provas e Títulos da Disciplina Direito Constitucional, do Departamento de Direito Público, do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual da Paraíba. Em reconhecimento aos seus indiscutíveis méritos, foi agraciado com a Comenda Argemiro de Figueiredo, outorgada pela Associação dos Advogados de Campina Grande, com a Medalha do Mérito Municipal concedida por unanimidade pela Câmara de Vereadores da Rainha da Borborema e com a Medalha Senador Humberto Lucena, concedida pela Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba. Como advogado começou a atuar a partir de 1975, tendo desempenhado funções de relevância na empresa privada e na administração publica, com destaque para os seguintes cargos: Procurador Geral do Município de Campina Grande, Assessor Jurídico da Companhia de Eletricidade da Borborema, Consultor Jurídico do Governo do Estado da Paraíba, Procurador da Câmara de Valores Imobiliários de João Pessoa, Chefe da Assessoria Jurídica da Fundação Universidade Regional do Nordeste e Secretário dos Órgãos Colegiados Superiores da Universidade Regional do Nordeste. No campo universitário exerceu, dentre outros, os seguintes cargos: Vice-Coordenador e Coordenador Pró-Tempore do Mestrado em Sociologia do Departamento de Sociologia e Antropologia do Campus II, da Universidade Federal da Paraíba; Coordenador do Curso de Mestrado em Sociologia, do Departamento de Sociologia e Antropologia, Centro de Humanidades do Campus II, da Universidade Federal da Paraíba; Coordenador do Curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades, do Campus II, da Universidade Federal da Paraíba; Assessor Jurídico do Centro de Humanidades, do Campus II, da Universidade Federal da Paraíba; Chefe do Departamento de Sociologia e Antropologia do Centro de Humanidades, Campus II da Universidade Federal da Paraíba; membro da Comissão Especial que supervisionou e coordenou os trabalhos de inclusão de docentes na nova carreira do Magistério Superior no âmbito da Universidade Federal da Paraíba. Afora isso foi Professor do segundo grau do Colégio Moderno 11 de Outubro e no Curso Campinense de Pré Vestibular, 146 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 ambos localizados em Campina Grande. No respeitante à docência universitária foi Professor Colaborador do Curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste, onde lecionou “Historia dos Meios de Comunicação” e “Ética e Legislação dos Meios de Comunicação”; Auxiliar de Ensino da aludida Universidade quando ministrou as disciplinas “Ética e Legislação dos Meios de Comunicação” e “ Fundamentos Científicos da Comunicação”, e Professor Assistente da já citada Entidade lecionando “ Ética e Legislação dos Meios de Comunicação”, “ Fundamentos Científicos da Comunicação” e “ Teoria Geral do Estado”. Na Universidade Federal da Paraíba como Professor Colaborador, lecionou “Introdução a Sociologia”, “Teoria Sociológica” e “Teoria Política e Programas Agrários”, enquanto na Universidade Estadual da Paraíba, como Professor Visitante, ministrou “Direito Administrativo” e “Direito Processual Civil”. Na qualidade de Professor da Escola Superior da Magistratura, Seção de Campina Grande ministrou a disciplina “Direito Administrativo”. Ao longo de sua fecunda existência realizou e coordenou distintas pesquisas, participando de vários Simpósios, Bancas e Comissões Examinadoras e atualmente exerce o importante cargo de Pró-Reitor de Integração e Desenvolvimento Estadual da Universidade Estadual da Paraíba. Sua produção intelectual é abrangente e diversificada – artigos, trabalhos de cunho científico e livros - dentre os quais podem ser destacados os seguintes: “Rousseau - A Força e o Sentido da Utopia”, livro lançado em 1978; “Em Busca da Dialética - Apontamentos Acerca do Conceito de Modo e Produção”, livro lançado em 1983; “Além de Bodopitá”, livro lançado em 1992; “A Outra Fase do Eros’, livro lançado em 1993; “Em Defesa do Município”, livro lançado em 1994; “Parlamento, Imunidade e Democracia”, livro lançado em 1995; “Bazar das Ilusões”, livro lançado em 1996; e “A luz que não se apaga”, livro editado no ano pretérito que deverá ser lançado dentro em breve. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 147 Minhas senhoras e meus senhores, este é o historiador, memorialista, sociólogo, filosofo, jurista, advogado e professor Rômulo de Araújo Lima, sinônimo de decência e honestidade, competência e austeridade, que passa a integrar o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde terá condições de realizar levantamentos e pesquisas nos mais diferentes campos do conhecimento humano. Seja bem vindo a esta Casa de Irineu Pinto que doravante passará a também ser o seu refúgio. Muito obrigado. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 149 DISCURSO PROFERIDO POR GUSTAVO GUIMARÃES LIMA NA POSSE DO HISTORIADOR RÔMULO DE ARAÚJO LIMA Ilustríssimo Senhor Presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Paraibano, Ilustríssimos senhores membros da mesa, Senhor empossado historiador Rômulo de Araújo Lima, Meus irmãos e familiares aqui presentes, Minhas senhoras e meus senhores, Incumbiram-me da tarefa de, representando os filhos, saudar o empossado desta noite, o professor e historiador Rômulo de Araújo Lima. Falar sobre este homem é tarefa extremamente simplória para mim, pois há poucos que eu conheça tão bem quanto a meu pai. Entretanto, precavido contra as peripécias da emoção, que travessa como pretende ser, poderia roubar-me as palavras, trago-as escritas, evitando que a memória me falte e não consiga em sua plenitude realizar as homenagens devidas. Pois bem, assim o faço neste instante. Nunca conheci uma pessoa mais versátil que o meu pai, atuante nas mais diversas áreas do conhecimento: direito, sociologia, teologia, filosofia, história, dentre tantas. Essa sua virtude sempre impôs, a nós, os filhos, uma obrigação que por vezes foi muito difícil de carregar. Não que viesse a ser um fardo. Não! Longe disso. Entretanto, sempre sentimos o dever de trilhar os seus caminhos, pelo simples fato de que, diferente dele que, com criatividade, teve que inventar todas as oportunidades de sua vida, nunca nos faltou incentivo para sermos os melhores. Cresci escutando, ao lado de meus irmãos, na mesa de jantar de nossa casa, com a mesma habitualidade com que se assistia ao Jornal Nacional ou se jogava futebol, lições sobre Marx, Lenin, Rousseau, Maquiavel e outras figuras do pensamento humano que, 150 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 na época, mais pareciam parentes longínquos do que filósofos da mais alta estirpe. Discutir política e as mazelas sociais sempre foi a nossa sobremesa e desjejum. Não tínhamos como não sermos engajados, ele não permitiria que os seus filhos encarassem o próximo como mais um. Nunca! Sempre nos ensinou a olhar para os outros como seres humanos, pessoas inestimáveis com dignidade, diferente dos objetos. Não só ensinou, deu o exemplo. Vejam, senhores, apenas o modo como trata e sempre tratou os seus colaboradores, do mais simples contínuo a prefeitos e governadores, nunca vi meu pai modificar o tratamento, independente de quem fosse. Sempre tratou a todos indistintamente, e isso sempre nos serviu de lição. Talvez mais que os seus próprios ensinamentos. Ao largo da sua labuta, aprendemos o seu prazer pelo conhecimento por intermédio do gosto pela leitura e outras formas afins. Retratem, por exemplo, em suas memórias as estantes de sua biblioteca com livros e livros que, esgotando os espaços físicos destinados a eles, tal como um mar feroz que avança sobre a terra, invadia os pisos de nossa velha casa e ali ficavam imponentes até que alguma alma caridosa resolvesse enfrentá-los. Muitos foram as qualidades que herdamos de nosso pai. Todavia, se eu fosse destacar alguma, colocaria em proeminência a ética. Não foram isolados ensinamentos sobre moralidade que recebemos, foi uma vida inteira. Uma vida, desprovida de filáucia e bazófia, extremamente voltada para servir ao próximo. Ecoam ainda em meus ouvidos e em meu coração cotidianamente, seu clamor de que “mais vale uma verdade feia do que a mais bonita das mentiras”. Ao lado dos exemplos que nos dava, nunca olvidou de proceder à respectiva cobrança de retidão. Hoje reconheço a importância destes ensinamentos na minha vida privada e profissional. Posso orgulhar-me de ter tido um pai. Um pai de verdade. Modelo de comportamento, que tento seguir e aprimorar com os meus filhos. Quando somos crianças, adotamos como padrão de perfeição os nossos pais, são eles que nos orientam a sermos pessoas melhores. Na primeira impressão, entendemos que nossos pais são seres atípicos desprovidos de falhas e defeitos. Com o tempo e a razão, os esclarecimentos se encarregam de apresentar-nos as falhas que insistíamos em não enxergar. No entanto, os defeitos nunca foram REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 151 suficientemente capazes para ofuscar o brilho de meu pai. Assim, mesmo transcorridos alguns anos que me separam de minha infância, posso afirmar sem medo de errar que meu pai é o meu super-herói, meu ídolo que se sobrepõe a qualquer outro, dada a admiração que nutro por ele. Procurei, ao longo dos últimos meses, em livros, jornais, músicas e poemas, alguma frase que pudesse sintetizar o que Rômulo de Araújo Lima representa. Tarefa em vão. Conclui que ele é bem maior do que uma simples frase, o que tornou o meu intento inviável. Contudo, sou persistente e obstinado, para não dizer teimoso como “seu Ferreira”, é uma característica que de minha personalidade emana e que não me permite desistir ante os primeiros obstáculos. Não que eu tenha conseguido sintetizá-lo em uma frase. Não. Desse feito não hei de me vangloriar, mas encontrei o meu pai em um verso, não meu, mas do poeta byroniano Álvares de Azevedo, de quem, por instantes, aproprio-me de sua trova para resumir o meu pai. Ei-la: “foi poeta, sonhou e amou na vida”. Foi poeta? Foi e é! Poderia aqui enfadar a platéia declamando um de seus poemas, talvez “Pulvis et umbra”, do qual se orgulha de ser uma das melhores coisas que já produziu. Não hei de fazê-lo. Pois, o que faz de meu pai um poeta, não são os seus textos. Acredito que os seus melhores versos são os seus filhos. Seguindo a métrica literária, como se parnasiano fosse, teve seis, um sexteto. Sendo um terceto forte, robusto e cheio de razão composto pelos homens. E o outro terceto, meigo, doce e delicado, composto pelas mulheres, e de encantamento tão grande que apenas a beleza feminina pode emprestar aos seus versos. Sonhou? E como! E quantos foram os sonhos mantidos ao longo dos anos. Democracia, um mundo mais justo e ético, igualdade entre os povos. Sonhou tanto que chegou até a compartilhá-los em seu “Bazar das Ilusões”, livro de crônicas selecionadas. Amou na vida? Muito! Essa palavra é o meu próprio pai. Amou e ama tudo ao seu redor. Amor tão grande que contagia. Ama a sua família, doando-se eternamente em prol do seu bem-estar. Ama sua Campina Grande, cidade-menina que declama em seu “Além de Bodopitá”, e a exorta através do que chamou de campinismo, há um “quê de místico no fato de viver e morar naquela cidade”, que a 152 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 torna “sua própria pátria”. Ama a vida, pela qual lutou com todas as suas forças, para poder gozá-la por um pouco mais de tempo. Em verdade, apenas o amor para explicar tanta doação ao próximo, sempre colocando o coletivo acima do individual, esquecendo-se muitas vezes de si mesmo. Em resumo este é o meu pai, o historiador Rômulo de Araújo Lima, que hoje é empossado nesta tão honrosa casa, enchendo de orgulho todos nós, seus parentes, pois inscreve o seu nome para sempre nos anais da história do pequenino, mas querido e amado, estado da Paraíba. Pai, nós te amamos e nos orgulhamos do teu exemplo de vida. Muito obrigado por tudo! Pelos seus pequenos e grandes feitos e por ser o exemplo de homem que é. Muito obrigado! REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 153 DISCURSO PROFERIDO PELO HISTORIADOR RÔMULO DE ARAÚJO LIMA, QUANDO DE SUA POSSE NA CADEIRA Nº 40, DO IHGP, EM 03 DE JUNHO DE 2011. Senhor Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Autoridades já nomeadas e saudadas, Confrades e Confreiras, Meus familiares aqui presentes, Minhas senhoras e meus senhores. É de sonho e de pó O destino de um só Feito eu perdido Em pensamentos Sobre o meu cavalo (Renato Teixeira, Romaria) Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (Álvaro de Campos, Tabacaria) Tudo posso naquele que me fortalece. (Fp 4:13) Desculpem o improviso. Mas, meu amigo José Nêumanne Pinto usa uma expressão que, na boca de outro, soaria pejorativa. Na dele, não. Quando busca ressaltar um juízo de maior importância, ele diz: é mentira! Pois bem, Gustavo, meu filho, em seu discurso, disse que eu sou pai de seis filhos. Construiu até um texto poético 154 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 falando de força e delicadeza. Mentira! Eu não tenho seis filhos, tenho sete! Além daqueles que, por força do sangue, habitam meu coração, há um outro. Um filho dileto, nascido do afeto e da amizade, que habita, também, meu coração. Dele, eu sou, ao mesmo tempo, pai e mãe. Ele está tão intrinsecamente ligado ao meu coração que sua tristeza é minha tristeza, sua alegria é minha alegria, seu fracasso é meu fracasso, seu sucesso é meu sucesso, sua derrota é minha derrota, sua vitória é minha consagração. Vocês o chamam de exgovernador, de senador, de excelência. Para mim ele é, e sempre será, o meu menino: Cássio Cunha Lima, a quem homenageio agora. *** A vida é uma estação na qual aportamos sem sermos consultados e da qual partimos sem sermos avisados. Essa foi uma lição que nos legou o tribuno Alcides Carneiro. Pois bem, eu acrescento que entre o desconhecido do qual viemos e o desconhecido para o qual iremos a ponte que é a vida constrói-se com sonhos. Nós sonhamos e por isso vivemos. Sartre chamava aos sonhos que balizam o nosso futuro de projeto. Projetos ou sonhos, sonhos e projetos, representam a matéria prima da vida. Eu sonhei e sonho. Sonhei contribuir para um melhor conhecimento de nossa terra e sonhei ser reconhecido pelo meu trabalho. É fato! Nós buscamos sempre reconhecimento por aquilo que fazemos. Esse reconhecimento é tanto mais importante quanto mais importante é quem nos reconhece. Minha eleição como membro desta vetusta instituição honra-me sobremaneira pela qualidade daqueles que me recebem e com quem passo a conviver. Minhas primeiras palavras, pois, sejam para salientar a importância do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Colho da sua História a inspiração para dirigir-me a esta distinta platéia. O IHGP é a mais antiga instituição cultural da Paraíba em funcionamento. O objetivo declarado dos seus fundadores foi o de criar um organismo que tivesse como escopo “o estudo e o amor do passado”, nas palavras de João Pereira de Castro Pinto pronunciadas no dia da fundação do IHGP. Antes do Instituto, a História da Paraíba estava sendo escrita REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 155 graças aos esforços solitários de Irineu Pinto, Manoel Tavares Cavalcanti, Castro Pinto, Coroliano de Medeiros, que se inscrevem como seus fundadores. Ao mesmo tempo, ao largo do Instituto, Irineu Joffily publicou Notas sobre a Parahyba, em 1872, e Sinopses e Sesmarias, em 1894; Maximiano Lopes Machado, no Recife, punha em ordem suas pesquisas que culminaram com a publicação da História da Província da Parahyba. A necessidade de criação do Instituto deveu-se ao fato de que, apesar dos esforços individuais já elencados, a História da Paraíba era encontradiça, tão somente, em obras de autores que pouco, ou nenhum, contato tinham com a terra. Nada havia de específico sobre a Paraíba. Todas as informações estavam contidas em estudos genéricos sobre o Nordeste e o Brasil. Ao longo dos últimos cem anos, o IHGP tem-se mantido fiel ao desiderato para o qual foi fundado. É, como diz seu Estatuto, uma entidade cujo fim é promover e divulgar, no âmbito do Estado da Paraíba, estudos, pareceres e pesquisas de história e geografia, bem como das suas ciências auxiliares e correlatas, contribuindo para um melhor conhecimento da realidade paraibana sob os aspectos histórico, geográfico, político, social e econômico. Esta assembleia permite-me, além de cumprir a liturgia do momento, manifestar o meu reconhecimento a quem devo estar aqui presente. Antes de tudo e de mais nada, a Deus, que me sustem. E, também, aos meus pais, cujo labor dirigiu-se à minha formação como homem e cidadão. Mas, de igual modo àqueles que me incentivaram a pleitear meu ingresso no IHGP: Joaquim Osterne Carneiro, que apadrinhou minha candidatura e Humberto Fonseca de Lucena, que me apoiou em todos os momentos. Por último, aos que sufragaram meu nome. Deixemos, entretanto, os prolegômenos e cuidemos de cumprir a ritualística. Devo proceder ao elogio do Patrono da Cadeira n° 40 e do seu Fundador e meu antecessor. Cumpramos, pois, a obrigação. 1. O PATRONO Luciano Jacques de Moraes nasceu em Minas Gerais, no dia 30 de dezembro de 1898. Seus estudos iniciais foram realizados 156 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 em sua terra natal, prosseguindo em Itabira e Ouro Preto. Seu curso superior foi concluído na famosa Escola de Minas de Ouro Preto, no ano de 1922. Recém formado, foi trazido para o Nordeste por Miguel Arrojado Lisboa, que fora nomeado Inspetor Geral das Obras Contra as Secas, com a tarefa de estudar as serras e montanhas do Nordeste, desconhecidas em sua formação geológica. A tarefa foi cumprida a contento, resultando do trabalho o livro em dois volumes Serras e Montanhas do Nordeste, publicado em 1924. Sua colaboração ao Departamento Nacional de Obras contra as Secas, então IFOCS, foi inestimável. Empenhou-se no combate às secas, com participação mais ativa nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Decorre dessa atividade, em que se sobressaiu, o reconhecimento nacional que recebeu. De sua atividade no Nordeste resultaram, entre muitas outras, as seguintes obras publicadas: Inscrições Rupestres do Brasil; Serras e Montanhas do Nordeste; Estudos Geológicos no Estado de Pernambuco; Possibilidade de Petróleo no Rio Grande do Norte; e Minerais Estratégicos. Em 1926, aos 28 anos, é nomeado para o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, depois Departamento Nacional de Produção Mineral, do qual foi Diretor Geral, onde se aposentou em 1957. Após sua aposentadoria foi convidado e assumiu a cátedra de geologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, onde também lecionou paleontologia. Em 1948, presidiu a Sociedade Brasileira de Geologia. Consta como engenheiro do ano de 1966, do Instituto de Engenharia. Faleceu em 1968, vítima de um acidente automobilístico. Deixou um acervo de mais de 170 obras publicadas e uma contribuição imorredoura ao conhecimento da realidade física do Brasil. A homenagem que o IHGP presta a Luciano Jacques de Moraes, embora não sendo ele paraibano, nem radicado na Paraíba, revela o apreço que a instituição tem pelo conhecimento científico e pelas contribuições à História e Geografia da Paraíba. 2. O FUNDADOR O fundador da Cadeira n° 40, meu antecessor, José Elias REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 157 Barbosa Borges nasceu na cidade pernambucana de Triunfo, no dia 8 de dezembro de 1932. Seus estudos primários foram concluídos na capital do Estado da Paraíba, no Grupo Escolar Epitácio Pessoa. Iniciou o Ginásio no Colégio Marista Pio X, na capital, concluindo em Campina Grande, no Colégio Alfredo Dantas. O Curso Científico foi concluído no Colégio Diocesano Pio XI, de Campina Grande, em 1952. No ano de 1957, concluiu o curso de bacharel em letras Anglo-Germânicas pela Faculdade Católica de Campina Grande. Especializou-se em Letras, em nível de Mestrado, pela Universidade Regional do Nordeste, de Campina Grande, em 1975 com dissertação sob o título “A Estrutura Dzubucua-Cariri”. Realizou vários cursos de Extensão Universitária no Brasil e no Exterior, além de participar de inúmeros Congressos, Seminários, como expositor e debatedor. Foi consultor de pesquisa do Projeto Cartilha Literária, aplicação de textos de José Américo de Almeida em Escolas do 2º Grau; Projeto da Biblioteca Literária Popular em Verso (UFPB); A Cultura Popular nas Escolas Rurais, FCJA/SEC; Literatura Oral na Paraíba. Foi Presidente do Grupo de Trabalho que elaborou o Projeto de criação e implantação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPB. Professor experiente, atuou em cursos secundários, de graduação e de especialização, abrangendo as áreas de Língua Portuguesa, Lingüística, Línguas estrangeiras, Literatura, Sociologia e Metodologia, além de atuar como orientador de inúmeras dissertações de mestrado na UFPB. Contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento do ensino superior da Paraíba como Assessor para Assuntos Internacionais e como Coordenador Geral de Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba. Participou como redator, secretário, diretor ou editor de inúmeras publicações culturais, em João Pessoa e Campina Grande. São de sua autoria: Campina já foi Paupina, publicado na Coletânea de Autores Paraibanos; BADZÊ – Vocábulo Cariri incorporado ao Português do Brasil; A Fundação de Campina Grande; Serra de Badopitá; O Problema da Classificação dos Indígenas Paraibanos; The Arius Indians and the Foundation of Campina 158 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Grande, edição institucional; Os Ariús e a Fundação de Campina Grande; Os Cariris e a origem do Homem Americano; Roteiro Dramático dos Cariris; O que restou da mitologia Cariri; O Bodocongó – História da Palavra; O que é o programa de integração Universidade-Empresa; O afamado índio Piragibe: subsídios para uma biografia; Indígenas da Paraíba; PADZU: Os Cariris na Filipéia de Nossa Senhora das Neves; A Itacoatiara de Ingá – É um monumento cariri ou tarairiú; Influência da Língua Cariri no Português do Brasil; A Linguagem popular na obra de José Lins do Rego (Dicionário). Deixou inédito o livro Merá Buyê: Súmula da História Colonial dos Índios Cariri de Campina Grande. Convém esclarecer que Merá Buyê significa, em Cariri, Campina Grande. A expressão deriva de merá [campo, campina] a que se agrega buyê [grande, muito], que se contrapõe a bupi [pequeno, pouco]. É exatamente por isso que José Elias opunha-se à versão corrente de que Campina Grande foi fundada por Teodósio de Oliveira Ledo em 1697. Dizia ele que a denominação Campina Grande já era conhecida bem antes desta data. Até mesmo por que os indígenas já a nomeavam assim. Para corroborar sua hipótese, refere-se ao fato de que um ano após o aldeamento dos Ariús, a localidade já constava de um mapa elaborado por Andreas Horiatiy, aproveitado por Giuseppe de Santa Teresa em seu livro “Istoria delle guerre del Regno del Brasile”, publicado em 1698. Argumenta que, se a localidade não fosse conhecida anteriormente, muito dificilmente constaria de uma publicação na Europa apenas um ano após a sua fundação. José Elias tinha uma excentricidade, além de muitas outras, que chama a atenção. Embora registre sua condição de engenheiro civil, em seu currículo nada se encontra sobre o ano de início do curso, em que universidade e o ano de sua conclusão. Presume-se, em virtude de ser Campina Grande sua opção de residência até finais dos anos 1970, que tenha concluído o curso de engenharia civil na Escola Politécnica da Paraíba, a POLI. Até por que era especializado em saneamento. Por outro lado, a vocação de José Elias Barbosa Borges.para REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 159 as línguas levou-o à História. Nesse campo, aliando a pesquisa lingüística ao estudo percuciente das origens de Campina Grande, trouxe ao conhecimento da Paraíba uma etnia até então desconhecida: os tararius. Foi inestimável a sua contribuição à História e à etnografia paraibanas. Parece final de discurso. Mas, não é! *** Há muito tempo atrás, o Ministro Alcides Carneiro, após concluir um discurso protocolar, disse que terminara a sua obrigação e pediu vênia aos presentes para um instante de devoção. Disse ele, literalmente, o seguinte: Terminada a obrigação, permiti-me um instante de devoção, e a minha devoção mais que perfeita é à Paraíba. Devoção, sem altares nem ícones, filha dileta do sentimento, pura como a pureza da água que brota da rocha viva, eterna como as areias que recebem os eternos beijos do mar. Não tenho, é certo, a inspiração do velho tribuno. Mas, cumpri minha obrigação. Concedam-me alguns minutos para manifestar minha devoção. E minha devoção é a duas cidades e a uma geração. Disse o poeta Alceu de Mitilene, movido pela saudade do solo pátrio, amargando o exílio, o seguinte: Não fazem a cidade nem a pedra, nem a madeira, nem mesmo os que a constroem; mas onde os homens saibam como viver seguros, existirão muralhas e existirá a cidade. Nasci em Campina Grande e a ela dedico meu amor e meu reconhecimento. Ali vivi e sofri. Naquele solo deixei meus passos e construí minha vida acadêmica. Nela alcei meus vôos e acalentei meus sonhos. Nela construí amizades e plantei afetos. Nela busquei alento e encontrei conforto. Mas, sobretudo, nela encontrei duas 160 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 grandes referências. É comum rendermos homenagens a nossos professores. Afinal, foram eles responsáveis por nossa formação. Porém, quase sempre, esquecemos de homenagear e reconhecer aqueles que, ombro a ombro conosco, dividiram experiências e construíram saberes. Devo, pois, reconhecer que um pouco do que sou é devido a dois amigos que ocupam lugar especial em meu coração por que são a parte mais querida de minhas lembranças da Campina Grande de minha juventude: Flammarion Tavares Leite, com quem dividi as primeiras preocupações filosóficas e sociológicas, e José Nêumanne Pinto, com quem escrevinhei os primeiros versos. Ambos ensinaramme muito. A eles meu reconhecimento. Mas, como dizia o poeta grego, o que faz a cidade não é muro nem pedra. Assim, em uma outra cidade e com outros amigos descobri o mundo. Em João Pessoa, ao abrigo do Cabo Branco e à sombra da Bica, na companhia de Carlos Antonio Aranha de Macedo aprendi sobre teatro, música e cinema, e ouvi, pela primeira vez, falar de Pierre Teilhard Chardin. Com Fernando Antonio Farias de Azevedo aprendi sociologia e o gosto pela cultura. A eles minha homenagem. Afinal, rendo minha devoção a meus filhos, legatários de meu nome e de minha memória. Eles me dão a certeza de que “fiel à palavra dada e à idéia tida”, como diria Fernando Pessoa, meu nome se perpetuará neles; à minha esposa, Anninha, depositária de meus amores e meus afetos, a quem devo ser, hoje, vida e não memória. PALESTRAS E PRONUNCIAMENTOS 163 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 MARLENE ALMEIDA: A PRESENÇA DA MULHER PARAIBANA NAS ARTES PLÁSTICAS * NEIDE MEDEIROS SANTOS ** Pintura é a arte de dar felicidade mediante as cores e as formas. (Norah Borges) A CASA Uma casa povoada de quadros, de livros e de orquídeas, assim é a casa da artista plástica e poeta Marlene Almeida, na Avenida Goiás, 329, no bairro dos Estados, João Pessoa. Em frente da casa fica um terreno baldio com trepadeiras de pequenas flores cor-de-rosa, e vem a explicação de Marlene: “foi meu marido quem mandou plantá-las”. Não sabemos quem é mais sensível à natureza: a artista ou o marido. O filósofo e poeta francês Gaston Bachelard, no livro “A Poética do Espaço” (1993), afirma: a casa é nosso canto do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos. Um cosmos em toda a acepção do termo. (1993: 24). A casa de Marlene, Antônio Augusto e José Rufino é o canto do mundo dessa família de artistas e amantes da natureza. Adentrando-se no jardim, respira-se o perfume suave das orquídeas. Não é o solar de Apipucos de Gilberto Freyre, mas o visitante tem a oportunidade de tomar um delicioso suco de pitangas, frutas colhidas no quintal. Após essas considerações iniciais, vamos mergulhar no passado e conhecer um pouco da artista e poeta Marlene Almeida. *Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano no dia 31 de março de 2011. Comemoração do mês da Mulher e no Instituto Dante Alighieri no dia 2 de abril de 2011. ** Secretária-Geral da ALANE - Academia de Letras e Artes do Nordeste - Núcleo da Paraíba. 164 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 INFÂNCIA/ADOLESCÊNCIA/JUVENTUDE Marlene nasceu em Bananeiras na década de 1940, mas veio muito pequena morar em João Pessoa e aqui se fixou. Sua casa ficava nas proximidades do Colégio das Neves e lá fez os primeiros estudos. Começou a estudar pintura com irmã Martha e não deixou mais os pincéis e as tintas. O primeiro quadro que pintou traz a data de 1958. Seu interesse por leitura surgiu como usuária da biblioteca do colégio. Foi na biblioteca que descobriu um livro precioso - a biografia do pintor francês Paul Cézanne. Era um livro desprovido de ilustrações, mas a história de Cézanne e de sua obsessão pelo Mont Saint-Victoire, que fica nas proximidades de Aix-en-Provence (terra natal do pintor), exercia forte atração na menina leitora. Cézanne pintou, repetidas vezes, este monte em diferentes horas do dia e em distintos ângulos. A artista confessa que a admiração por Cézanne permanece até hoje. Alguns anos depois, vamos encontrá-la como aluna do ciclo colegial. Apaixonada pelas causas sociais engaja-se nos movimentos estudantis de esquerda. Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, como era chamado na época em que Luís Carlos Prestes era a estrela-guia, e encontrou em Antônio Augusto o apoio necessário para o engajamento político. Terminado o nível médio, desejava cursar Belas-Artes, mas não havia o curso superior em Artes na Universidade da Paraíba e fez a opção por Filosofia. Desse período na Universidade, adveio a paixão por dois filósofos: Jean-Paul Sartre e Nietzsche. Quando cursava o curso de Didática, com intenções de seguir a carreira do magistério, foi aconselhada por um bedel a deixar de frequentar a Universidade, pois poderia ser presa. O golpe de 1964 não poupava estudantes esquerdistas e a artista relembra que até os colegas do curso evitavam falar com ela nos encontros eventuais. O período era sombrio, tempo de silêncio imposto, de “vozes no deserto”. As residências dos militantes políticos de esquerda eram invadidas e muitos livros foram queimados pelos militares, outros eram REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 165 enterrados por seus donos para não serem destruídos. Até livros de capa vermelha eram considerados suspeitos. Em 1964, Marlene estava noiva de Antônio Augusto e o casamento foi adiado porque o noivo, filiado ao partido comunista, foi preso, mas o amor era mais forte e o casamento foi realizado pouco tempo depois. Sem poder dar continuidade aos estudos na universidade, Marlene voltou-se inteiramente para a pintura. A universidade perdeu uma professora, a Paraíba ganhou uma artista. Na juventude, Marlene e Antônio Augusto eram amigos de Vanildo Brito, Virginius da Gama e Melo, Jurandir Moura, Joca Ramiro, Raul Córdula, Jomar Souto. Todo sábado havia reuniões na casa de Marlene. Aí se discutia Arte, Pintura, Literatura, Poesia e, naturalmente, Política. Na época da ditadura militar, jovens idealistas enfrentaram momentos difíceis, mas não se pode calar a voz dos artistas, dos poetas, há sempre a descoberta de um novo caminho. Dessa época, lembramo-nos do “Poema Sujo”, de Gullar e da composição musical de Chico Buarque – “Cale-se”. Ferreira Gullar, Chico Buarque de Holanda, Thiago de Mello, Marlene e Antônio Almeida estão vivos e podem dar depoimentos sobre as noites escuras do “tempo de homens partidos”. IDADE ADULTA/PINTURA O tempo passa e com ele vêm as mudanças. Camões, em célebre soneto, fala sobre o tempo com estes versos: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. ( Camões. Soneto 49) Os anos se passaram e Marlene se integrou totalmente à pintura. No Departamento de Artes (COEX), da antiga Universidade 166 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Estadual da Paraíba, atual UFPB, fez cursos de Pintura, Desenho e Escultura. Quando começou a pintar e expor seus quadros, poucas mulheres se dedicavam à pintura na Paraíba. Desse fase inicial, ela recorda apenas Celene Sitônio. Marlene já fez palestras e exposições em quase todos estados do Brasil, no exterior e, principalmente, na Alemanha. Durante oito anos, deu cursos de Arte e Pintura na Escola Livre de Berlim. Criou e dirigiu, juntamente com seu marido, o Centro de Artes Visuais Tambiá que funcionou no local onde hoje se encontra a Casa do Artesão Paraibano, na Praça da Independência. Alice Vinagre foi professora atuante deste Centro e muitos artistas paraibanos e críticos de arte, como William Costa, foram alunos do Centro de Artes Visuais. Foi uma escola que deixou bons frutos. O título de suas exposições remete sempre ao seu fazer artístico. “A Cor da Terra”, “Terra da Terra”, “Fruto da Terra”, “Terra Nua”. Se antes a preocupação era com a terra, agora a artista está preocupada com o tempo. Os títulos de suas últimas exposições de quadros e as instalações foram denominadas “Tempo”, “Passa Tempo”, “Passatempo”. A série de fotografias “Passagem” é, também, uma reflexão sobre o tempo. O crítico de arte paraense Gileno Chaves, referindo-se às pinturas de Marlene na exposição “Terra Nua”, foi muito lúcido quando afirmou: As paisagens de Marlene Almeida são paisagens sem paisagem, não há o azul do mar; não há o verde das matas, por que não existem pigmentos naturais que produzam essas cores? Não: porque a natureza é morta! (Catálogo da exposição “Terra Nua”) E Marlene compôs um breve poema para esta mesma exposição: não vi a floresta, nem o rio. Ao longe só a terra nua. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 167 O crítico de artes Dyógenes Chaves Gomes, no Dicionário das Artes Visuais na Paraíba 2010, faz este comentário a respeito das técnicas utilizadas por Marlene em seus quadros: Desenvolve pesquisas sobre a manufatura de tintas à base de pigmentos e resinas naturais. (p.141) Quando indagamos sobre o seu processo criativo, a artista deu a seguinte explicação: “parto sempre de um poema, escrevo o texto e a partir daí vem a inspiração para a pintura, instalações. Os livros e os pincéis têm acompanhado Marlene em todos os momentos de sua vida. Em seu ateliê ou na mesa de cabeceira, repousa um livro de Jean-Paul Sartre, um dos seus autores preferidos. Lembramos aqui uma passagem do livro autobiográfico de Sartre – “As Palavras” (1990): Comecei minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida, no meio dos livros. (p.30) O universo de Marlene é mais amplo, ela vive cercada por telas, tintas, pincéis, livros e orquídeas. Nos últimos anos, tem trabalhado, alternadamente, com pintura, escultura e se dedicado à nova paixão: a fotografia. No texto “Reino Encantado”, de Débora Cristina, publicado na revista Artestudio (2010/2011), Marlene, mais uma vez, faz referência ao tempo: Desde 1998, as obras refletem com mais força minha preocupação com o tempo ou a passagem do tempo. (p. 117) Seus trabalhos já receberam muitos prêmios e louvações de poetas. Jomar Souto escreveu um bonito poema para uma das suas exposições. Infelizmente não tivemos acesso a esse poema, e ousamos concluir essas nossas considerações escrevendo este haicai para homenagear a mulher Marlene Almeida, destaque nas artes plásticas da Paraíba: Avenida Goiás. Aqui mora fada-artista pintora e poeta. Cabo Branco, 28 de março de 2011. 168 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. Tradução Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1993. CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos de Camões. Ed. e Notas de Cleonice Seroa da Motta Berardinelli. Lisboa/Paris. Centre Culturel Portugais: Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980. CHAVES, Gileno. Catálogo da exposição “Terra Nua”. João Pessoa: Galeria Gamela, 1988. CRISTINA, Débora. Reino encantado. Revista Artestudio. João Pessoa: Gráfica JB, Dez 2010/Jan/Fev 2011. Ano VIII no. 32. GOMES, Dyógenes. Dicionário das Artes Visuais na Paraíba 2010. João Pessoa: Linha D´Água, 2010. SARTRE, Jean-Paul. As Palavras. Tradução de J. Guinsburg. 6 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 169 OS CEM ANOS DA REVISTA DO IHGP* Humberto Fonsêca de Lucena Estamos aqui reunidos para o lançamento de mais uma Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Quis o presidente Joaquim Osterne Carneiro que a este evento fosse dado caráter solene e festivo, pois estamos comemorando nesta ocasião o centenário de criação de nossa Revista. E não podia ser diferente! Não é todo dia, nem em todo lugar, que uma entidade cultural como a nossa, convivendo com dificuldades de todo o gênero, consegue manter viva durante Cem anos a publicação de seu periódico. É possível que este acontecimento diga pouco, talvez muito pouco a muitas pessoas de fora; mas dirá muito a quem quer que tenha alguma vinculação com o IHGP. Para nós que fazemos o Instituto, toda esta solenidade está justificada. A chegada da Revista do IHGP aos cem anos de existência transcende às simples formalidades desta solenidade comemorativa, que deve ser vista sob o ponto de vista histórico, para melhor dimensionar a importância da nossa Revista, uma obra louvável e merecedora dos maiores aplausos. É vendo este evento sob a perspectiva histórica que tentei alinhar algumas anotações sobre fatos pretéritos que vêm se sucedendo ao longo da vida desta Revista, fatos que se apresentam nos dias atuais, tanto mais importantes, quanto mais parecem ter contribuído para que a Revista não interrompesse sua marcha gloriosa em demanda do futuro. Foram numerosos os obstáculos, os percalços, as dificuldades de toda ordem, as barreiras de ordem econômica que precisaram ser vencidos a fim de assegurar a sua publicação até os nossos dias. É * Pronunciamento proferido no IHGP, no dia 15 de abril de 2011, por ocasião do lançamento da Revista de nº 41, do IHGP, comemorativa do 1º Centenário de sua publicação. 170 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 verdade que durante a existência da Revista, desde o seu princípio, tenha havido longas interrupções na sua circulação. Contudo, é fácil compreender que uma publicação desse gênero não se faz sem dificuldades, da mesma forma que não se faz sem amor e sem a obstinação dos que têm um ideal a atingir e o perseguem a despeito de todas essas dificuldades. Permitam-me traçar em poucas linhas o percurso da nossa Revista nesses Cem anos de existência: A respeito da 1ª Revista, Francisco Xavier Junior, ao deixar a presidência do Instituto, a 7 de setembro de 1909, em seu relatório assinala: “Tudo estava preparado e bem encaminhado para se distribuir hoje nesta casa o seu primeiro número, mas o acúmulo de trabalhos na Imprensa Oficial, onde está sendo impressa, malogrou nossa intenção”. Datada de 1909, a Revista nº 1 saiu no começo de 1910, graças ao esforço do próprio Francisco Xavier Junior e à benemerência do Presidente do Estado, Dr. João Lopes Machado. A Revista foi dirigida pelo bibliotecário Irineu Ferreira Pinto com o apoio da Comissão de Redação constituída por Francisco Xavier Jr., Manoel Tavares Cavalcanti, José Rodrigues de Carvalho, Rômulo de Magalhães Pacheco e Coriolano de Medeiros. Naquela década, mais três números foram publicados: a Revista de nº 2, ainda em 1910; a nº 3, em 1911, e a nº 4, em 1912. Infelizmente, essa periodicidade não continuou, pois a Revista nº 5 só foi publicada dez anos depois, em 1922, por conta do VII Congresso Brasileiro de Geografia, realizado naquele ano, nesta capital, com o apoio do Governo do Estado. Entre aquele ano de 1922 e 1932 só saíram dois números a mais, a de número 6 e a de número 7. A Revista nº 8 saiu em 1934. De lá até 1953, portanto, um período de dezenove anos, só apareceram cinco números, o que significa quase quatro anos de intervalo entre uma e outra. Entre 1953 e 1964, apareceram os números 14 e 15, ou seja, mais de cinco anos entre uma e outra. A partir de 1968, com a posse do professor Humberto Nóbrega na presidência, os ventos sopraram a favor da Revista. Graças a sua influência junto à Universidade Federal da Paraíba foram publicados no intervalo de sete anos, seis números, do 16 ao número 21, esta última publicada em 1975. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 171 A de número 22 saiu quatro anos depois, em 1979. Na década de 80, surgiram apenas duas, a 23 e a 24. A partir de 1991 até 2007, que corresponde a um período de dezesseis anos, foram publicados exatamente dezesseis números, do 25 ao 40, quatro deles na administração Joacil de Brito Pereira (1989/ 1995) e doze números na administração Luis Hugo Guimarães (1995/ 2009). Além desses dados aqui relatados não podemos deixar de registrar três importantes momentos da Revista do IHGP: o primeiro é a publicação de um índice, por assunto e por autor, das Revistas de nº 1 até o nº 16, inserido na Revista 18, um trabalho louvável do consócio Sebastião Sinval Fernandes com o apoio de sua filha Cleide Gonçalves Fernandes. Um segundo momento foi o lançamento da Revista nº27, comemorativa dos 90 anos do IHGP, em 7 de setembro de 1995, sob a presidência de Joacil de Britto Pereira. Juntamente com o lançamento da revista comemorativa, foi lançado também um novo índice atualizado da Revista, apresentando indexação por autor, assunto e título dos artigos, um trabalho de grande importância da bibliotecária Tânia Maria da Silva. O outro momento importante é de dezembro de 2003, na administração de Luiz Hugo Guimarães, quando do lançamento de um CD duplo contendo o texto de todas as Revistas até o nº 35. São 10.200 páginas de trabalhos publicados desde 1909. Contribuíram nesse empreendimento a Fundação Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sob a coordenação de nossa sócia correspondente Esther Caldas Bertoletti. Estes dados aqui relatados tendem evidenciar a periodicidade de nossa Revista. São quarenta números em Cem anos de existência, o que não representa um número expressivo e desejável. Mas não é só a periodicidade que deve ser levada em conta. Não importa que entre um número e outro tenha ocorrido hiatos, alguns de longa duração. O importante é que ela tenha chagado até aqui. Não podemos esquecer, entretanto, que do ponto de vista da técnica editorial, esses largos interregnos, entre um número e outro, apresentam inconvenientes. Às vezes a revista perde o cunho de atualidade que deveria ser a sua característica e torna-se demasiada volumosa pela 172 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 necessidade de incluir-se matéria de interesse ou de imprescindível divulgação, acumulada durante longo tempo, o que onera e dificulta sua publicação. Apesar dessas circunstâncias desfavoráveis, é preciso que não nos faltem acuidade e senso de justiça para valorizar o que existe de matéria publicada nesses quarenta tomos, textos que refletem estudos e pesquisas realizados, ao longo de todo este período, por sócios e autores convidados. Com certeza nenhum dos textos publicados se perde por falta de qualidade, todos têm o seu lugar e o seu valor na história e para a história paraibana. Temos que agradecer a muita gente pelo sucesso desta caminhada, sócios, colaboradores, ao Governo do Estado, através da antiga Imprensa Oficial, ou do Departamento de Publicidade, ou através da Secretaria de Educação ou da Gráfica União, aqui representada pelo seu Superintendente, Dr. Ramalho Leite, responsável pela publicação deste número comemorativo. Agradecer também à Gráfica Imprensa, antigo órgão da Arquidiocese, e à Universidade Federal da Paraíba. Também não podemos esquecer o empresário João Claudino Fernandes, através da Editora Halley S.A., de sua propriedade, sediada em Teresina, Piauí., pela cortesia da publicação da Revista comemorativa do 90º aniversário, já referida. Minhas senhoras, meus senhores, No dia 7 de setembro do ano passado, quando passei a presidência do IHGP ao meu substituto poderia ter repetido no meu relatório as palavras de Francisco Xavier Junior: tudo estava preparado e bem encaminhado para o lançamento da nossa Revista Centenária naquela data, mas o acúmulo de trabalhos na Gráfica A União, onde estava sendo impressa, malogrou nossa intenção. Só agora, graças a intervenção do presidente Joaquim Osterne junto ao Superintendente daquela gráfica, Dr. Ramalho Leite, podemos festejar este momento. Sr. Presidente Joaquim Osterne, Eis a nossa Revista nº 41, comemorativa do seu centenário de criação. Com ela o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano vem cumprir uma de suas missões estatutárias fundamentais: divulgar REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 173 os resultados de suas atividades de pesquisa e os estudos versando sobre a história, a geografia e outras ciências correlatas de nosso Estado e de nossa Região. Da mesma forma que a Revista nº 1, a Revista 41 nos chega com um pequeno atraso, mas chega em boa hora, a tempo de demonstrar a extraordinária vitalidade e a força realizadora que tem demonstrado o IHGP, ao procurar vencer as dificuldades que se antepõem aos seus programas de trabalho e manter-se fiel aos objetivos que inspiraram a sua criação. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 175 ERNANI SÁTYRO E OS VALORES DO SEU TEMPO* FÁTIMA ARAUJO Ernani Sátyro pode ser considerado um político da Geração de 30, uma geração democrática, se tomarmos como parâmetro o esboço de tudo – ainda muito jovem, em 1934, ele se elege e toma posse como deputado estadual Constituinte do Estado da Paraíba. Em termos culturais, a Geração de 30 era inquieta, efervescente, mas também romântica, pois se de um lado surgem os movimentos dos trabalhadores que começam a se organizar, com o crescimento das indústrias e o declínio da cafeicultura, do outro ocorre o nascimento das indústrias de lazer e, com ele, a vida ao ar livre. Cria-se então o short para as mulheres, que deviam ser magras, bronzeadas e andar de bicicleta para melhor seduzirem os homens de terno cinza e chapéu panamá; as atrizes Greta Garbo e Marlene Dietrich lançam a moda das sobrancelhas marcadas e do pó-de-arroz. Na Literatura, surge o Modernismo na Prosa e na Poesia; no jornalismo informal, vê-se claramente o papel dos boletins e dos pasquins. A década de 30 é a Era da Cultura de Massa, com o rádio, o cinema e a música popular avançando - a doçura das cantoras do rádio é imortalizada na canção de João de Barro que dizia assim: “Nós somos as cantoras do rádio/ Levamos a vida a cantar/ De noite, embalamos seu sono/ De manhã, nós vamos lhe acordar”; fazem grande sucesso compositores e cantores como Orlando Silva, Lamartine Babo, Dalva de Oliveira, Sílvio Caldas e outros. No início da carreira de Ernani Sátyro, por volta dos anos 30 e 40, a classe política não era mal amada como hoje, não se envolvia com a corrupção, não ambicionava o poder pelo poder. Note-se que, durante cinco anos, entre 40 e 45, enquanto Ernani esteve sem * Palestra proferida pela historiadora Fátima Araújo, sócia efetiva do IHGP, em 16 de setembro de 2011, quando da sessão solene em homenagem ao historiador Ernany Sátiro, no seu centenário de nascimento. 176 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 mandato, ele foi advogar em Campina Grande, onde fez uma legião de amigos que o seguiram como correligionários durante toda a vida - simples assim. Isso para um homem que foi Chefe de Polícia do Estado, Prefeito de João Pessoa, no governo Argemiro de Figueiredo, passando ao cenário político nacional ao ser eleito como deputado federal em 45, pela UDN, para a Assembleia Nacional Constituinte de 46, reelegendo-se ininterruptamente, até chegar ao Supremo Tribunal Militar. Fez uma bela carreira política, embora não tenha conseguido o Senado, em 66. Sempre muito atuante, participou de inúmeras comissões especiais na Câmara dos Deputados, quase sempre sendo escolhido como orador oficial dos eventos e solenidades especiais, por se destacar na Oratória. Naqueles anos 40 e 50, no Brasil podia-se encontrar políticos de senso ético e humanitário. Foi quando houve a grande reformulação do país, mesmo com o mundo em guerra, até a metade da década de 40 – os EUA entram no conflito mundial com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, matando milhões de civis no Japão, Hitler comete suicídio e Mussolini é fuzilado. Mas o Cinema tem seu apogeu com Ava Gardner, Ingrid Bergman, Rita Hayworth e a estréia de Marilyn Monroe. Em 1º de maio de 1943, o Presidente Getúlio Vargas cria a CLT; pouco depois Jean Paul Sartre publica O Ser e o Nada; no Teatro Municipal do Rio de Janeiro é encenada a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. Na década de 50, os Anos Dourados, com o romantismo dos ternos, das flores e dos chapéus glamourosos, a televisão chega ao Brasil em meio a profundas transformações socioeconômicas no cenário nacional. Na década de 60, os Anos Rebeldes, os ternos e os chapéus se foram mas vieram novos problemas: o crescimento econômico e as desigualdades, a explosão da juventude em todos os sentidos; e as novas tendências: o Tropicalismo,o movimento hippie, os inesquecíveis festivais, a Jovem Guarda brilhando na TV e ditando moda. Mesmo até 65, na extinção dos partidos, os políticos eram mais idealistas, estavam preocupados com o trabalho, não com a esperteza de enriquecer e levar vantagem em cima do povo. Eram homens corajosos, assertivos: quando os partidos foram extintos, houve um grande momento na vida de Ernani: como líder do bloco REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 177 revolucionário, ele foi ao presidente Castelo Branco, acompanhado do brigadeiro Eduardo Gomes, e protestou. Fora um dos fundadores da UDN e notabilizara-se como o último presidente deste partido. Protestou na maior, pois era um homem de projeção nacional, de muito prestígio, isto não só devido à sua integridade moral, mas sobremaneira ao talento para a articulação política e a capacidade administrativa. Ernani não era homem de ficar calado nem mesmo diante de um chefe maior, o que lhe conferia personalidade, dignidade e decência. Conservador, a ponto de quase chegar a reacionário, considerava-se “um homem de centro”, por não suportar extremismos de direita nem de esquerda. Na maior sinceridade, assumia-se como elitista, dizendo que “a preocupação do político deve ser o bem do povo, a felicidade do povo, mas o povo não dirige”. O que parecia ser dureza, em Ernani Sátyro, era apenas uma forma de encarar as coisas com pulso forte, porque na realidade nessa capa de aspereza escondia-se um homem de grande coração, comprometido com o bem do povo que representava. Veja-se que, em seu governo, não se ouvia falar em perseguição política, como ocorre hoje em dia, nem tampouco em governantes autoritários desejando que o povo se dane. Não fez um governo de perseguição nem de autoritarismo, era moderado, e até quando se estremecia com algum auxiliar, ameaçava, alardeava isso e aquilo só na hora do aborrecimento, mas acabava não fazendo nada, pois no seu coração não havia lugar para punições ou gestos de vingança. Mesmo porque no mais profundo de sua essência como pessoa Ernani era um humanista,um homem de letras, como jornalista e escritor, como romancista e poeta que publicou belos poemas em Antologias. O GOVERNADOR Foi Ernani quem iniciou a abertura aqui na Paraíba. A anistia começou por ele, nem todos reconhecem porque ele chegou aqui, contrariando o 4º Exército, chegou por cima, tinha prestígio junto ao Presidente da República. Fora eleito pelo processo indireto, tomando posse como governador da Paraíba no dia 15 de março de 1971. Muitas figuras maledicentes que não conheciam seu senso humanitário, marcaram audiência para dedurar e pedir punições para 178 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 artistas e intelectuais de esquerda, mas ele botou todos para correr. Reconhecia o valor dos que realmente trabalhavam, dos que tinham talento, liberou os intelectuais e aliviou a dor dos perseguidos. Ernani governou justo no apogeu e crise da ditadura militar, com o Brasil ainda sob o impulso do milagre econômico, alçado à posição de 9ª economia do mundo, em meio à crise do petróleo e à recessão da economia mundial. Mas cumpriu sua missão de forma exemplar, pois era extremamente cuidadoso com os recursos públicos, fazendo um governo com base na honestidade e na prudência com os gastos. Certamente os mais vividos sentem saudade dos valores daquele tempo: bem diferentes dos dias atuais, em que o Brasil está crescendo no plano econômico e social, com a redistribuição da renda e, no plano político, com a democracia de certa forma se consolidando, porém atolado na mais vergonhosa das crises: a crise ética que hoje enfrentamos, diante da sanha devoradora de tecnocratas espertos e políticos movidos a mensalões. Por conta disso, nos infelicitamos com a inversão de valores, as injustiças e perseguições de toda ordem, mazelas que não existiam nos tempos áureos da política sadia. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 179 VINTE ANOS DA FUNDAÇÃO ERNANI SÁTYRO Discurso proferido pelo Acadêmico Flávio Sátiro Fernandes, na sessão comemorativa dos vinte anos da FUNDAÇÃO ERNANI SÁTYRO, realizada em 25 de março de 2011, no Auditório Emília Longo Fernandes, daquela instituição, em Patos. Antes de tudo, quero agradecer ao Presidente da Fundação Ernani Sátyro, advogado José Lacerda Brasileiro, pela distinção que me fez, convidando-me para falar na oportunidade em que a entidade por ele dirigida comemora seus vinte anos de existência. Aceitei de bom grado o convite, porque tenho acompanhado desde o seu surgimento a vida desta Fundação, podendo testemunhar a ação empreendedora de quantos a dirigiram, buscando cultuar a memória de seu patrono e dinamizar a atividade cultural no sertão paraibano, com o que alcança ela os objetivos maiores previstos em seu estatuto. A clarividência e o descortino do Governador Tarcísio de Miranda Burity determinaram-lhe a ideia de criação de uma entidade governamental com objetivos culturais, voltada, de um lado, para o culto e o respeito à memória do Governador e Ministro Ernani Sátyro e, de outro, para a dinamização das letras e das artes no interior do nosso Estado, particularmente, no sertão paraibano. Era o Governador Tarcísio Burity, como todos nós sabemos, um cultor do direito, um esteta da palavra, um amante da filosofia, um amigo das letras e das artes, de tal modo que, com o desaparecimento de Ernani Sátyro, pôde ver que sendo este, tal como ele, jurista, orador, escritor, com uma longa história política, uma aplaudida atividade intelectual e uma veemente ação administrativa à frente do Governo do Estado, merecia ter sua memória preservada, 180 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 cabendo isto a uma entidade oficial que, levando o nome do exGovernador, se preocupasse e se dedicasse a realizar eventos culturais para agitar o ambiente, quase sempre modorrento, de qualquer hinterlândia. Só essa atividade desenvolvida pela Fundação, em favor das letras e das artes na região, em suas diversas manifestações – literária, musical, pictórica – põe em evidência a memória de Ernani Sátyro, mantendo-a perene na lembrança de seus conterrâneos. A propósito, atendendo a solicitação do Presidente José Lacerda Brasileiro, para que compusesse uma frase que sintetizasse a ação da FUNES, a ser posta em placa comemorativa de seus vinte anos, eu frisei o seguinte: Há vinte Anos, a Fundação Ernani Sátyro vem dinamizando o setor cultural nesta Região. Só com isso, ela enaltece e eleva o nome de seu Patrono que, em vida, lutou pelo progresso de Patos e pelo engrandecimento de sua gente. Assim, quer pelo pensamento do Governador Tarcísio Buriti, quer pelas ações disseminadas pela Fundação Ernani Sátyro, o culto à memória de Ernani Sátyro jamais assumiu, aqui, contornos personalísticos ou de endeusamento à pessoa do ilustre patoense, mas, ao contrário, tem-se materializado através, por um lado, do reavivamento de sua obra literária e de sua obra administrativa e, por outro lado, das próprias ações da FUNES, levadas a efeito por seus sucessivos dirigentes. E nesta oportunidade, cabe lembrar a figura inesquecível da Professora Emília Longo da Silva Fernandes, sua primeira Presidente que, durante mais de dez anos, esteve à frente da FUNES, cabendolhe estruturar e implantar todos os órgãos de direção e de assessoramento da instituição. Com zelo, dedicação e competência presidiu a Fundação emprestando sua marca pessoal, caracterizada pela realização de seminários e semanas culturais, para debates em torno de ideias, de acontecimentos, de vultos, que merecessem a REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 181 atenção e as homenagens da instituição, trazendo até Patos nomes exponenciais da intelectualidade paraibana, para expor questões atinentes à literatura paraibana, à sua história, à economia, à agricultura, ao semiárido etc. Figuras como Odilon Ribeiro Coutinho, José Octávio de Arruda Melo, Geralda Medeiros e muitos outros, aqui vieram e dissertaram sobre os assuntos de sua especialidade. Por outro lado, notabilizou-se o período da Professora Emília Longo pela ênfase dada à programação editorial da Fundação, iniciando a publicação das Obras Completas de Ernani Sátyro e resgatando para as novas gerações obras de autores paraibanos há muito desaparecidas das nossas estantes, tais como, Emboscadas do destino e O chefe político, do Padre Manuel Otaviano; Os cangaceiros, de Carlos Dias Fernandes; Rastro de andarilho, de José Urquiza; Retalhos do sertão, de José Permínio Wanderley; O brasileiro, de Ascendino Leite; Poesia reunida, de Tarcísio Meira César. Com o desaparecimento da Professora Emília, sucedeu-a na direção desta Casa o historiador José Romildo de Sousa que, como era natural, conferiu à Fundação o selo caracterizador do seu trabalho. Buscou Romildo, sem abandonar as linhas anteriores, alargar o campo de atuação da FUNES, fazendo-a transitar entre a música, a poesia popular, a pintura e o teatro. E nessa linha, tiveram vez os festivais de música, festivais de violeiros, festivais de marchas carnavalescas. Estes últimos possibilitaram aos patoenses reviver os carnavais de outrora, não só através da evocação das marchas antigas, mas também por meio de exposições fotográficas em que muitos dos momentos alegres de antigamente puderam ser revistos. Em seu dinamismo irrefreável, com recursos obtidos do BNB – Banco do Nordeste do Brasil S/A, o Presidente José Romildo levou a efeito vários cursos de pintura, através dos quais diferentes valores novos foram revelados na arte pictórica, ensejando várias exposições. Finalmente, o seu amor ao teatro, levou-o a empreender, sem recursos e milagrosamente, a construção de um pequeno teatro no recinto do auditório, inclusive com camarins destinados à preparação dos atores. Se cada um dos dirigentes da FUNES tem o seu estilo e a 182 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 sua marca ou selo, há um sinal que os identifica ou os une: é a escassez de recursos. Sempre e sempre debatem-se com a pequenez dos orçamentos que os impede de voar mais alto. Não obstante, tal circunstância não ocasionou qualquer desânimo em nenhum dos dirigentes. Ao contrário, parece que as dificuldades estimularam a Professora Emília Longo e o historiador José Romildo de Sousa, tantas foram as iniciativas, os projetos, os programas desenvolvidos para o cumprimento dos objetivos da Fundação. Senhor Presidente José Lacerda Brasileiro, Vossa Senhoria, à frente desta entidade, há de comprovar suas qualidades de administrador, como já tem demonstrado seus dotes de advogado habilidoso, de profissional dedicado e consciente, de estudioso e conhecedor profundo do direito. Todos os que lidam com a cultura em nossa cidade não esperam, têm certeza do seu êxito na condução da FUNES, tão necessário no instante em que toda a Paraíba se apresta para comemorar o centenário de nascimento do patrono desta instituição. O Centenário de nascimento de Ernani Sátyro estará, sem dúvida, em todas as suas cogitações para conduzir a Fundação neste ano memorável dessa celebração. Desejo expressar, aqui, tal certeza, que não é apenas da família de Ernani Sátyro, não é somente de seus amigos e admiradores, mas de toda a Paraíba que estará unida nessa comemoração. Eram estas as palavras que me cabia deixar expressas na oportunidade em que comemoramos os vinte anos de atuação da Fundação Ernani Sátyro que, entregue a suas mãos capacitadas, haverá de trilhar os mesmos caminhos traçados pelos seus antecessores. Parabéns à Fundação Ernani Sátyro, parabéns a Vossa Senhoria pela sua assunção ao cargo de Presidente, e, juntos, exaltemos a memória imorredoura de Ernani Sátyro cujo centenário de nascimento estamos comemorando, o qual é, como diz o hino desta Fundação, “o maior filho das Espinharas”. Muito obrigado. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 183 QUARENTA ANOS DE INSTALAÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO Discurso de agradecimento, proferido pelo Conselheiro Flávio Sátiro Fernandes, em nome dos agraciados com a Medalha Comemorativa dos 40 anos de instalação do Tribunal de Contas do Estado, na sessão especial, realizada no Auditório do TCE, em 28 de março de 2010, presidida pelo Conselheiro Fernando Rodrigues Catão, Presidente. Por designação do Conselheiro Fernando Rodrigues Catão, Presidente desta Corte, eis-me aqui para agradecer, em nome dos agraciados desta tarde, a concessão da Medalha comemorativa dos quarenta anos deste Tribunal, cuja instalação se deu a 1º de março de 1971, com a nomeação e posse de seus membros, sob a presidência de seu primeiro dirigente, o saudoso e sempre lembrado Conselheiro Otacílio Silva da Silveira, cujo nome tive a ventura de apor à Escola de Contas que este Tribunal instituiu em 2001. Repassando a história do Tribunal de Contas do Estado, diríamos ter ele surgido de uma concepção tardia, uma gestação atribulada e prolongada, e, por fim, um nascimento que o pôs em um berço improvisado. Explico todas essas metáforas. Concepção tardia, porque foi o Estado da Paraíba, entre todas as unidades federativas brasileiras existentes à época, um dos últimos a instituir e o último a instalar a sua Corte de Contas, para o exercício do controle externo das administrações estadual e municipais. A iniciativa para criação do TCE/PB foi tomada pelo Governador do 184 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Estado, João Agripino Filho, a quem competia remeter à Assembleia Legislativa projeto de Constituição do Estado para propiciar a adaptação da nova Carta paraibana às disposições da Constituição Federal. O projeto em referência, contendo dispositivo criando um Tribunal de Contas, foi recebido pelo Poder Legislativo em 17 de março de 1967. Concebido, assim, tardiamente, a gestação do Tribunal de Contas não foi tranquila nessa primeira fase, tendo em vista o posicionamento da oposição, que se manifestou contrária àquela proposição, pelo menos, nos termos em que fora posta perante a Assembleia. Alguns líderes oposicionistas alegavam que o novo órgão estava sendo criado abrigar os correligionários do Governador. Ma,s, em que pese os gritos da oposição, a Constituição foi aprovada com as disposições instituidoras do Tribunal de Contas. Porém foi preciso esperar quatro anos para que o processo gestacional chegasse a termo e ocorresse a délivrance, que se deu a 1º de março de 1971 e que é a efeméride que hoje comemoramos. Vindo ao mundo, pois, em 1º de março de 1971, data da lei que o organizou, foi preciso improvisar um berço para acolhê-lo, pois que não havia nenhum capaz de recebê-lo, satisfatoriamente. Assim, serviu-lhe como tal o prédio que, recém-construído, estava destinado ao Instituto de Polícia Técnica, núcleo primeiro do conjunto arquitetônico que, hoje, abriga o Tribunal. Observe-se que, apesar de instituído aos 12 de maio de 1967, no bojo da Constituição do Estado da Paraíba, somente quatro anos depois, ao fim de seu governo, foi que o Governador João Agripino remeteu, como era de sua competência exclusiva, o projeto da Lei Orgânica do Tribunal de Contas, que propiciaria o efetivo funcionamento da Corte. Não quis Sua Excelência, durante sua operosa gestão, Tribunal nenhum a importuná-lo. São passados, pois, quarenta anos da instalação da Corte. Quatro décadas de trabalho, de canseiras, de lutas, de incompreensões, mas também de vitórias, de triunfos, de avanços. Passado esse tempo, podemos dizer que se o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba foi o último a ser criado, dentre quantos Estados existiam àquela época no Brasil, hoje, ele está na vanguarda das Cortes de Contas do País, graças ao trabalho dos que o dirigiram, graças ao denodo e dedicação de seus servidores, graças ao comportamento retilíneo de seus órgãos colegiados, graças ao REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 185 comportamento republicano e franciscano de todos os dias. Sim, porque sempre me pareceu que os Tribunais de Contas, assim como os Tribunais do Poder Judiciário e o Ministério Público, e respectivos membros, devem ter roupagens comuns, dentre as quais sobrelevam as virtudes republicanas e franciscanas. Sem isso, tal Poder e tais órgãos podem descambar, como não raramente vemos, não aqui, mas alhures, para a corrupção, a concussão, a aparatosidade. É preciso, porém, não confundir franciscanismo com salários aviltantes, pois que estes são, com certeza, anti-republicanos. E já que estamos falando da vida do Tribunal e daqueles que fizeram e fazem sua história, e já que este pronunciamento haverá de ficar gravado nos anais da Casa, permiti que relembre, as figuras que fizeram a grandeza do TCE: na categoria dos Conselheiros, por mim representados, para honra minha: Conselheiros Otacílio Silva da Silveira, Antônio Carlos Escorel de Almeida, Aécio Vilar de Aquino, Luiz Nunes Alves, Carmelo dos Santos Coelho, Damásio Barbosa da Franca e José Braz do Rego, todos estes integrantes da primeira composição do Tribunal. E mais: Antônio Pinheiro Dantas, Fábio Mariz Maia, Adailton Coelho Costa, Marcos Ubiratan Guedes Pereira, Evaldo Cruz, Juarez Farias, Gleryston Holanda de Lucena, José Marques Mariz. Na composição atual: Fernando Rodrigues Catão, Flávio Sátiro Fernandes, Fábio Túlio Filgueiras Nogueira, Arnóbio Alves Viana, Antônio Nominando Diniz Filho, Umberto Silveira Porto e Arthur Cunha Lima. Tenho a satisfação de representar a todos eles nesta tarde festiva dos 40 anos da Corte de Contas. Dirigiram o Tribunal os Conselheiros Otacílio Silva da Silveira, Luiz Nunes Alves, Aécio Vilar de Aquino, Antônio Carlos Escorel, Flávio Sátiro Fernandes, Fábio Mariz Maia, Juarez Farias, Marcos Ubiratan Guedes Pereira, Gleryston Holanda de Lucena, Arnóbio Alves Viana, José Marques Mariz, Antônio Nominando Diniz Filho composto e, presentemente, o Conselheiro Fernando Rodrigues Catão. Alguns ocuparam a presidência por mais de um mandato. Na categoria dos Procuradores, atualmente denominados membros do Ministério Público Especial, menção primeira para o primeiro Procurador Geral, Otávio de Sá Leitão, a quem tive a satisfação de substituir, antes de integrar o quadro de Conselheiros. Seguiram-se mais: João Soares Filho, Carlos Martins Leite, Ana Teresa Nóbrega e, agora, Marcílio Toscano Franca Filho. O quadro de Procuradores efetivos esteve composto pelos Bacharéis Raimundo 186 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Gadelha Fontes, Wilson Aquino de Macedo, Wellington Hermes Vasconcelos de Aguiar, Francisco Aldo Silva, todos oriundos da primeira composição do Tribunal. E mais: Antônio Nunes Gonçalves de Farias e José Domingos Gabriel (Zeca Chabo). Hoje, integram a categoria os Procuradores Ana Teresa Nóbrega, único membro remanescente da composição primitiva e já mencionada como Procuradora Geral, e, aprovados em concurso público, realizado em 1998, Marcílio Toscano Franca Filho, já citado como Procurador Geral, André Carlo Torres Pontes, Sheyla Barreto Braga de Queiroz, Elvira Samara Pereira de Oliveira e Isabela Barbosa Marinho Falcão. Aqui, eles estão representados pela Procuradora Ana Teresa Nóbrega. Tocante aos Auditores, é imperioso lembrar os que compuseram a formação inicial da Auditoria: Marcos de Lima Neves, José de Assis Queiroz, Nilton Gomes de Sousa, Pompeu Emílio Maroja Pedrosa, João Batista Barbosa, Emilton Amaral e Marcos Ubiratan Guedes Pereira. Este pediu exoneração e anos depois retornou ao Tribunal, para exercer o cargo de Conselheiro, por indicação do Governador Tarcísio Burity. Com a Constituição de 1988, os Auditores receberam a atribuição de substituir os Conselheiros e em 1998 fezse o primeiro concurso público para a classe, quando foram aprovados e, em seguida, empossados os Auditores Antônio Cláudio Silva Santos, Antônio Gomes Vieira Filho, Renato Sérgio Santiago Melo, Oscar Mamede Santiago Melo, Marcos Antônio Costa e Umberto Silveira Porto. Este, por força de disposição constitucional ascendeu à posição de Conselheiro, sendo o primeiro Auditor a assumir as funções, em obediência à disposição constitucional. A representação dos que pertencem a essa categoria se faz na pessoa do Auditor Antônio Cláudio Silva Santos. No que tange ao pessoal técnico e ao pessoal administrativo, infelizmente, é impossível fazer menção a todos os que integraram ou integram essas categorias. Se o fizesse passaríamos a tarde inteira neste Auditório, ouvindo com satisfação, é claro, a menção a seus nomes, mas inviabilizando a execução da programação prevista para comemorar o aniversário do Tribunal. Mas, sem dúvida, foi muito bem escolhida a representação das duas classes, recaindo em dois servidores de longa e extremada dedicação à Corte: pelo pessoal técnico, o Auditor de Contas Públicas, engenheiro Jader Jefferson Bezerra Marques, o decano, creio eu, dos servidores técnicos; pelo pessoal administrativo, servidora Zeine de Cássia Maia de Sousa, REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 187 Assistente Jurídico, que pertence a esta Casa desde os seus primórdios. Com a homenagem que ora presta aos seus servidores de todas as categorias, o Tribunal, representado por seu Presidente, Conselheiro Fernando Rodrigues Catão, reconhece o trabalho por todos desenvolvido, desde o seu aparecimento, durante quatro decênios em que se pôs em evidência o papel desta Corte, voltada e dedicada à defesa do erário, à preservação da moralidade, ao combate à corrupção, assim como, à busca por um uso mais eficiente do dinheiro público, sem desperdício, com responsabilidade. Sendo um órgão representativo da sociedade, que em nome desta procede ao controle externo das administrações estadual e municipais, calha bem ao espírito desta festa, a homenagem que a Corte presta a uma figura exponencial da administração e da educação em nosso País e, especialmente, na Paraíba, cuja Universidade Federal ele dirigiu, alargando-lhe os horizontes, abrindo-lhe novos caminhos, possibilitando-lhe avanços que redundaram no fortalecimento e no engrandecimento da UFPB, ganhos irreversíveis que, inclusive favoreceram o surgimento da UECG, dela derivada. Refiro-me, todos sabem, ao Professor e Reitor Linaldo Cavalcanti de Albuquerque, de saudosa memória, a quem o Tribunal de Contas do Estado, tão justamente homenageia Meus Senhores, Minhas Senhoras: Perdoem-me estas palavras resumidas a um elenco de nomes. Creio, porém, que neste instante, não cabe dissertar sobre o papel e as atribuições dos Tribunais de Contas, menos ainda um relato minucioso da história da Corte, já de todos conhecida. Vale mais a rememoração, a lembrança e a homenagem daqueles e àqueles que durante esses quarenta anos construíram a grandeza desta Casa. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 189 RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DO IHGP NO EXERCÍCIO DE 2011, APRESENTADO PELO PRESIDENTE JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO A partir de fevereiro deste ano, tiveram início efetivamente as atividades do Instituto Histórico de Geográfico Paraibano, que continuaram até o mês de dezembro do corrente exercício. Durante todos esses meses, os trabalhos do IHGP foram constantes, produtivos e por demais diversificados. Assim, ocorreram posses de associados, lançamentos de periódicos - livros e revistas visitas de autoridades e se realizaram reuniões, oportunidade em que foram enfocados temas por demais importantes. Ao mesmo tempo, o IHGP foi visitado por cerca de 2.500 pessoas, dentre alunos, professores, historiadores e jornalistas, que fizeram pesquisas e levantamentos, principalmente na Biblioteca Irineu Pinto, na Hemeroteca e na Seção de Obras Raras, objetivando coletar informações para a elaboração de trabalhos. Afora isso, integrantes do Instituto participaram de cursos e de congressos. Neste ano cerca de 70 livros foram doados e incorporados a nossa biblioteca, além de aproximadamente 150 publicações em geral, como periódicos, revistas, guias, plaquetas, etc. Outro aspecto importante a ser mencionado, foi a especial atenção dispensada à manutenção e recuperação do edifício da nossa Instituição, representada pelo melhoramento do piso e do telhado, colocação de novas calhas, substituição das luzes e pintura total do prédio, sem esquecer a aquisição de uma nova cortina para o Auditório Humberto Nóbrega. De outra parte, procuramos também manter um bom relacionamento com as entidades públicas e privadas, destacandose: A continuidade do Convênio firmado com Universidade Aberta 190 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Vida (UNAVIDA), de modo a permitir que os estudantes dessa Instituição utilizem a Biblioteca e os Arquivos do IHGP e com a Universidade Estadual da Paraíba, ofertando estágios aos estudantes do Curso de Arquivologia; Assinatura de Convênio com o Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria da Educação, voltado para a Manutenção e Funcionamento do IHGP; Assinatura de Avença com A União - Superintendência de Imprensa e Editora, direcionada para a editoração ou reeditoração de livros de autores paraibanos ou que estejam radicados no Estado com desconto de 30% (trinta por cento); E Convênio firmado com a TV Senado, de maneira a possibilitar que o IHGP seja o guardião dos documentos relacionados com a denominada Revolta de Princesa. Nessas condições, este Boletim Informativo contemplará as atividades mais significativas realizadas pelo IHGP em 2011, constituindo-se num autentico Relatório Anual de trabalho. MÊS DE JANEIRO Em 14/01/2011, atendendo ao convite do Secretário de Cultura do Governo do Estado da Paraíba, o cantor Chico César, dirigentes de entidades culturais da Paraíba se reuniram na Academia Paraibana de Letras, oportunidade em que fizeram exposições sobre os trabalhos desenvolvidos por essas instituições. O IHGP se fez representado pelos Historiadores Joaquim Osterne Carneiro e Humberto Fonsêca de Lucena, Presidente e Vice Presidente, respectivamente. No dia 19/01/2011, esteve visitando o IHGP, o historiador cearense José Hilton Lima Verde, atualmente residindo na capital da Paraíba. Durante a visita percorreu as instalações da nossa entidade e em seguida fez doação à Biblioteca Irineu Pinto de livros de sua autoria. Em 20/01/2011, o Presidente do IHGP historiador Joaquim Osterne Carneiro, acompanhado do Jornalista e historiador José Nunes, esteve visitando o Superintendente de A UNIÃO – Superintendência de Imprensa e Editora, jornalista Severino Ramalho Leite, ocasião em que foi tratada a possibilidade de ser firmado um convênio entre o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e A UNIÃO, objetivando a editoração de livros de autores paraibanos ou radicados no Estado da Paraíba a preço subsidiado. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 191 Em 28/01/2011, o Presidente do IHGP historiador Joaquim Osterne Carneiro, acompanhado do Vice Presidente historiador Humberto Fonsêca de Lucena, esteve visitando o então Secretário de Educação do Governo do Estado da Paraíba, Professor Fernando Abath Cananéia. Na oportunidade ficou acertado a renovação do Convênio existente entre o IHGP e a Secretaria de Educação, através do qual o Governo do Estado transferirá recursos destinados a manutenção e funcionamento do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. No dia 29/01/2011, foi realizada no Auditório Humberto Nóbrega do IHGP, uma Sessão Solene em homenagem póstuma ao editor Francisco Pontes da Silva. Falou em nome do Instituto o historiador Humberto Fonsêca de Lucena, que fez uma retrospectiva da vida e da obra do homenageado, enquanto a Professora Jaqueline Pontes, filha de Francisco Pontes da Silva falou em nome da família. MÊS DE FEVEREIRO Em 02/02/2011, o jornal A UNIÃO, “Terceiro Jornal Mais antigo em Circulação no Brasil” completou 118(cento e dezoito) anos de fundação. Em comemoração a data, o jornalista Severino Ramalho Leite, Superintendente de A UNIÃO Imprensa e Editora promoveu um café da manhã, que contou com a presença de diversos convidados. Na oportunidade, o velho diário foi relançado em novo estilo. Assim, ganhou outro projeto gráfico, retornou ao formato standard e passou a publicar novos cadernos. Nessas condições, os temas do dia a dia da cidade serão abordados no Caderno do Cotidiano, enquanto os assuntos nacionais e internacionais ganharam duas páginas. Ao mesmo tempo, os Cadernos de Cultura e Esportes apresentarão novas roupagens e nos finais de semana serão publicadas as Secções Mercado de Trabalho e Atual. No dia 11/02/2011, nas dependências do antigo Hotel Globo, a Historiadora Glauce Maria Navarro Burity, Sócia Efetiva do IHGP lançou o livro “ANTHENOR NAVARRO UM HOMEM ALÉM DO SEU TEMPO” No dia 12/02/2011, tomou posse como Sócia Efetiva do IHGP, a historiadora Diana Carmem Martins de Assis Ferreira, que passou 192 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 a ocupar a Cadeira Nº 41, que tem como Patrono o historiador Samuel Vital Duarte e que se achava vaga, em virtude do falecimento do historiador Ascendino Leite. A nova confreira foi saudada pelo historiador Alberto Martins da Silva, Sócio Correspondente deste IHGP. Em 17/02/2011, nas dependências da Biblioteca Irineu Pinto, o historiador Joacil de Britto Pereira proferiu uma palestra sob o título “OLAVO BILAC E A LIGA DE DEFESA NACIONAL”. O evento foi muito prestigiado, destacando-se as presenças, dentre outras, do Escritor Juarez Farias, Presidente da Academia Paraibana de Letras; do Presidente da Liga de Defesa Nacional na Paraíba, Dr. João Lopes de Araújo Junior; do ilustre médico radicado em Campina Grande, Humberto César de Almeida, filho do historiador Elpídio Josué de Almeida, Patrono da Cadeira Nº 5 do IHGP, que estava acompanhado de sua esposa a Poetisa Maria Ida Steinmuller; da Professora Clemilde Pereira, Diretora do Arquivo Afonso Pereira; de autoridades civis e militares, além de sócios do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Durante o corrente mês de fevereiro, sob a coordenação da Bibliotecária Maria do Socorro Lacerda, Chefe da Biblioteca Irineu Pinto do IHGP, contando com a participação de estagiários do Curso de Arquivologia da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba foram revisados e atualizados 2(dois) documentos importantes para o estudo da história da Paraíba. Inicialmente foi realizada a Revisão e Atualização do Catálogo de Jornais Antigos da Seção de Obras Raras do IHGP. Logo a seguir, foi feita a Revisão e Atualização do Catálogo da Coleção Paraibana igualmente existente no Instituto. MÊS DE MARÇO Em concorrida Sessão Solene realizada no dia 26/03/2011, tomou posse na cadeira Nº 15 do IHGP, que tem como Patrono Fernando Delgado Freire de Castilho e que se achava vaga em face do falecimento de Luiz de Barros Guimarães, o historiador José Mota Victor. O recipiendário foi saudado pelo Historiador Flávio Sátiro Fernandes. No período de 15 a 18/03/2011, a Bibliotecária Chefe da Biblioteca Irineu Pinto, Maria do Socorro Lacerda participou do Curso REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 193 “FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO: DOS CATÁLOGOS AOS REPOSITORIOS DIGITAIS”. O treinamento foi ministrado pela Professora da UNESP, Dra. Plácida L. U. A. Costa e faz parte do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informática, da Universidade Federal da Paraíba. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, que transcorreu em 08/03/2011, o IHGP promoveu no dia 31/03/2011, uma Sessão Solene que se realizou no Auditório Humberto Nóbrega. Na oportunidade, a Escritora e Critica Literária Neide Medeiros Santos, Secretária Geral da ALANE/PB - Academia de Letras e Artes do Nordeste - Núcleo da Paraíba, proferiu uma palestra sob o tema “MARLENE ALMEIDA E A VALORIZAÇÃO DA MULHER PARAIBANA NAS ARTES”. MÊS DE ABRIL No dia 15 de abril ocorreu o lançamento da Revista Nº 41 do IHGP, constituindo-se num acontecimento dos mais significativos, pois esta publicação assinala os 100(cem) anos de sua existência. Convém ressaltar que, mesmo tendo sido fundado em 07 de setembro de 1905, a Revista Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano só foi lançada em 1910. A Revista Nº 41 foi elaborada nas Oficinas Gráficas de A UNIÃO Superintendência de Imprensa e Editora. O lançamento da revista ficou a cargo do jornalista Severino Ramalho Leite, atual Superintendente de A UNIÃO. Durante a solenidade de lançamento, também fez uso da palavra o historiador Humberto Fonsêca de Lucena, Vice-Presidente do IHGP, que falou da importância da publicação e fez um resumo do conteúdo das distintas revistas da nossa instituição. Concomitantemente, quando do lançamento da supracitada revista, foi firmado um Convênio de Cooperação entre o IHGP e A UNIÃO – Superintendência de Imprensa e Editora. O objetivo da avença é a editoração ou reeditoração de livros de autores paraibanos ou aqui radicados, sendo assegurado um desconto no valor de 30% (trinta por cento) no custo da obra a ser publicada. 194 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 MÊS DE MAIO No dia 04/05/2011, tomou posse como Sócio Correspondente do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o nosso confrade historiador Guilherme Gomes da Silveira D‘Ávila Lins, que foi saudado pelo historiador Arno Wehling, presidente da citada instituição. O discurso de Guilherme Gomes da Silveira d‘Ávila Lins intitula-se “FREI VICENTE DO SALVADOR, O.F.M. Um breve Ensaio Biobibliográfico e Historiográfico”. A posse ocorreu na sede do IHGB, na cidade do Rio de Janeiro - RJ. No dia 06/05/2011, 35 (trinta e cinco) alunos do terceiro período do Curso de História – Disciplina Arquivista, da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Professora Margarida Dias, estiveram visitando o IHGP. Na ocasião foram recepcionados pela Bibliotecária Chefe da nossa entidade, Maria do Socorro Lacerda, quando tomaram conhecimento das atividades desenvolvidas na Casa de Irineu Pinto. Em 09/05/2011, o Presidente do IHGP historiador Joaquim Osterne Carneiro, acompanhado do Pró Reitor da Universidade Estadual da Paraíba, historiador Rômulo de Araújo Lima, esteve visitando o Secretário de Educação do Governo do Estado da Paraíba, Professor Afonso Celso Caldeira Scocuglia, oportunidade em que trataram da renovação do Convênio de Cooperação Financeira entre o nosso Instituto e a referida Secretaria. No dia 12/05/2011, 25 (vinte e cinco) alunos da Turma de História I da UFCG – Universidade Federal de Campina Grande, sob a orientação do Professor José Ferreira de Souza, visitaram o IHGP. Na oportunidade, a Bibliotecária Maria do Socorro Lacerda fez uma exposição a respeito das atividades ora em execução na Casa da Memória da Paraíba. No dia 16/05/2011, 26(vinte e seis) alunos do Curso de História da UFCG - Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Cajazeiras, sob a coordenação da Professora Silvana Vieira de Souza, estiveram no IHGP sendo recepcionados pelo Presidente, historiador Joaquim Osterne Carneiro e pela Bibliotecária Maria do Socorro Lacerda. No decorrer da visita, o historiador Humberto Fonsêca de Lucena, Vice-Presidente do Instituto, proferiu uma palestra enfocando a vida e a obra do saudoso historiador Deusdedit Leitão. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 195 No dia 17/05/2011, nas dependências da Biblioteca Irineu Pinto do IHGP, o historiador Carlos Alberto Farias de Azevedo proferiu uma palestra intitulada “MUSEU E MEMÓRIA”, que chamou a atenção pelo conteúdo e ensejou interessantes debates. Além dos sócios do IHGP destacamos as presenças do Professor Thomas Bruno Oliveira, Presidente da Associação Paraibana de Arqueologia; da Escritora Maria do Socorro Silva de Aragão, Presidente da ALANE/ PB - Academia de Letras e Artes do Nordeste - Núcleo da Paraíba; da Escritora e Crítica Literária Neide Medeiros Santos, Secretária Geral da ALANE/PB; do Historiador Adauto Ramos, Presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica; e do Historiador Joacil de Britto Pereira, Presidente do Centro Cultural Joacil de Britto Pereira e ex- Presidente do IHGP. No dia 25/05/2011, estiveram visitando o IHGP, as Professoras Adriana Ferreira Costa e Suely Gonçalves Bispo, além do estagiário de História Renildo Soares da Silva, que atuam na Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. João Gonçalves de Azevedo, localizada no município de Pitimbu-PB. Durante a visita tomaram conhecimento das atividades do IHGP. No dia 26/05/2011, atendendo ao convite do Desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba e do Presidente da Comissão Especial dos 120 anos de Instalação do TJPB, Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, o Presidente do IHGP historiador Joaquim Osterne Carneiro participou da solenidade correspondente a Terceira Etapa alusiva ao centésimo vigésimo aniversario da instalação da mais Alta Corte Judiciária do Estado da Paraíba. Durante o evento, o Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba criou o Memorial Virtual do Judiciário Paraibano, que irá disponibilizar através da internet informações sobre o TJPB. Ao mesmo tempo, foi igualmente lançado o livro “PERSONALIDADES DO MUNDO JURÍDICO E POLÍTICO (O ÚLTIMO VOLUME DE UMA TRILOGIA)”, de autoria do Desembargador e Historiador Marcos Cavalcanti de Albuquerque. MÊS DE JUNHO No dia 03/06/2011, em Sessão Solene das mais prestigiadas e concorridas realizada no Auditório Humberto Nóbrega, tomou posse como sócio efetivo do IHGP, o historiador Rômulo de Araújo Lima, 196 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 que passou a ocupar a Cadeira 40, que tem como Patrono Luciano Jacques de Morais e que se achava vaga em face do falecimento do historiador José Elias Barbosa Borges. O recipiendário foi saudado pelo historiador Joaquim Osterne Carneiro, que ressaltou a inteligência privilegiada e a cultura do novel associado da Casa da Memória da Paraíba. No seu discurso, o historiador Rômulo de Araújo Lima agradeceu a Deus e aos seus pais, cujo labor foi direcionado a sua formação, bem como àqueles que apoiaram sua luta para ingressar no Instituto. Em seguida destacou os trabalhos executados por Luciano Jaques de Morais no tocante aos recursos naturais do Nordeste, especialmente no que diz respeito à geologia. Finalmente, se debruçou na figura do seu antecessor, o historiador José Elias Barbosa Borges, cuja vocação para o estudo das línguas, levou-o à história. Durante a solenidade, também fez uso da palavra o Dr. Gustavo Guimarães Lima, filho do empossado, que falou em nome da família. Dentre os presentes podemos citar o Vice Governador do Estado da Paraíba Rômulo José de Gouveia, o Ex-Governador e Senador Cássio Cunha Lima, o Escritor José Nêumanne Pinto, representante da Academia Paraibana de Letras, sócios do IHGP, familiares e amigos do empossado. No dia 06/06/2011, alunos da disciplina Paleontologia do Curso de História da UFPB – Universidade Federal de Campina Grande, acompanhados do Professor Luciano Mendonça de Lima estiveram visitando o IHGP. Em 21/06/2011, foi renovado o Convênio de Cooperação Financeira, firmado entre o IHGP e a Secretaria de Educação do Governo do Estado da Paraíba. MÊS DE JULHO Em solenidade das mais concorridas, realizada no dia 01/07/ 2011, na Academia Paraibana de Letras, aconteceu o lançamento do livro “DONA JOAQUINA, AS NORMALISTAS E OUTROS TEXTOS”, de autoria do historiador Wellington Aguiar, Sócio Efetivo do IHGP. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 197 Em solenidade realizada no dia 05/07/2011, no Auditório Verde do Espaço Cultural José Lins do Rego, foi comemorado o sétimo aniversário da AFLAP – Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba, que tem como Presidente a Escritora Vera Lúcia Azevedo de Medeiros. No dia 11/07/2011, esteve visitando o IHGP, o cantor e compositor Chico César, Secretário de Cultura do Governo do Estado da Paraíba. Na oportunidade foi recebido pelos historiadores Joaquim Osterne Carneiro e Humberto Fonsêca de Lucena, Presidente e Vice Presidente do IHGP respectivamente, além da Bibliotecária Maria do Socorro Lacerda, Chefe da Biblioteca Irineu Pinto, que prestaram informações sobre as atividades desenvolvidas na Casa da Memória da Paraíba. No dia 23/07/2011, o poeta Francisco Diniz, que trabalha no Setor de Informática do IHGP, lançou no Teatro de Arena do Espaço Cultural José Lins do Rego, o trabalho musical “RIMA É SOM”. Trata-se de um CD que reúne 13(treze) composições - xotes, maracatus e outros ritmos regionais. Neste CD, Francisco Diniz tem parcerias com Valentim Quaresma, Fabiano Gonçalves e Antõin das Bestas, enquanto o zabumba ficou a cargo do seu filho Lauro Brasileiro, os vocais são do Grupo As Flores Belas – coro feminino da ONG Pro Dia Nascer Feliz – os arranjos, produção e instrumentação são de responsabilidade de Aurélio Beltrão. Maiores detalhes estão disponíveis no site www.projetocordel.com.br . No dia 28/07/2011, atendendo ao convite do Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, Desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos e do Desembargador e Historiador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, Presidente da Comissão Especial das Comemorações do 120º Aniversário da Instalação do referido Tribunal, o presidente do IHGP, historiador Joaquim Osterne Carneiro participou da solenidade realizada no Salão Nobre do Palácio da Justiça, que constou do seguinte: exibição de um vídeo sobre o Memorial Virtual do Judiciário Paraibano; reabertura do Museu da Cripta Epitácio Pessoa; conferência pronunciada pelo Dr. Marcílio Toscano Franca Filho sobre Epitácio Pessoa; lançamento do número 127 da Revista do Foro; e distribuição da plaqueta e de um folder sobre o Museu e a 198 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Cripta Epitácio Pessoa, além do Informativo Judiciarius N º 5. Sob a coordenação do Historiador Ricardo Bezerra, a UBE União Brasileira de Escritores da Paraíba e a Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego, através da Biblioteca Juarez da Gama Batista realizaram no dia 29/07/2011, uma Sessão Especial em homenagem ao Dia Nacional do Escritor. A solenidade ocorreu no Auditório Verde do Espaço Cultural, situado na Av. Abdias de Almeida 800, Bairro de Tambauzinho- João Pessoa – PB. O IHGP esteve representado pelo Vice Presidente historiador Humberto Fonsêca de Lucena. MÊS DE AGOSTO No dia 06/08/2011, em concorrida e seleta solenidade realizada no Teatro Elba Ramalho, na cidade de Campina Grande PB, que contou com as presenças do Prefeito Veneziano Vital do Rego, do Vice Governador do Estado da Paraíba Rômulo José de Gouveia e da Secretária de Cultura do Município de Campina Grande, Eneida Agra Maracajá, tomou posse a Diretoria da FACMA Fundação Artístico Cultural Manoel Bandeira, para o triênio 2011/ 2013. A Diretoria recém empossada tem como Presidente a Psicóloga Rosana Pinto Diniz, como Secretária a Poetisa Maria Ida Steinmuller e como Diretora de Relações Públicas a Jornalista Molina Ribeiro. No dia 08/08/2011, na Fundação Casa de José Américo João Pessoa -PB foi lançado o livro “O CAOS E A NEBLINA”, de autoria do escritor Hildeberto Barbosa Filho. Atendendo ao convite do Tenente Coronel Umberto Ramos de Vasconcelos, Comandante do 15º Batalhão de Infantaria Motorizado - Regimento Vidal de Negreiros, o Presidente e o Vice Presidente do IHGP, historiadores Joaquim Osterne Carneiro e Humberto Fonsêca de Lucena estiveram participando do 70º aniversário da respeitada instituição militar que é o 15º BIMtz, que se realizou no dia 09/08/2011. No dia 10/08/2011, atendendo ao convite do Vereador Durval Ferreira, Presidente da Câmara Municipal de João Pessoa, e do Vereador Bruno Farias, o Presidente do IHGP, historiador Joaquim Osterne Carneiro participou da Sessão Solene realizada no Auditório da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, em comemoração aos 60(sessenta) anos de fundação da Faculdade REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 199 de Direito, da Universidade Federal da Paraíba. Na ocasião recebeu o título de Cidadão Pessoense, o senhor Eduardo Ramalho Rabenhorst, em reconhecimento ao seu valor e pelos relevantes serviços prestados à cidade de João Pessoa. Em solenidade realizada em 10/08/2011, no Salão Negro do Congresso Nacional, em Brasília, aconteceu o lançamento do livro “Perfis Parlamentares – ERNANI SÁTYRO”, de autoria do historiador Flávio Sátiro Fernandes, Sócio Efetivo do IHGP. O trabalho encerra discursos e projetos de autoria do inolvidável paraibano. É conveniente recordar que, Ernani Ayres Sátyro e Sousa foi Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, tendo ocupado a Cadeira Nº 23, cujo Patrono é o historiador Apolônio Nóbrega. No dia 18/08/2011, alunos da Escola Olivina Olívia Carneiro da Cunha estiveram visitando o IHGP, quando fizeram uma pesquisa sobre a vida e a obra dessa saudosa historiadora e professora paraibana. A historiadora Olivina Olívia Carneiro da Cunha foi Sócia Efetiva do nosso Instituto. Em solenidade ocorrida na Academia Paraibana de Letras, em 23/08/2011, foram lançadas as crônicas do saudoso imortal Luiz Augusto Crispim, reunidas nos livros “EU E OUTROS ARRECIFES” e “CAMINHOS DE MIM”. Convém lembrar que Luiz Augusto Crispim foi Sócio Efetivo do IHGP, tendo ocupado a Cadeira Nº 09, que tem como Patrono Manuel de Arruda Câmara. Em solenidade realizada na Biblioteca Irineu Pinto, do IHGP, tomou posse como Sócio Efetivo do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, o escritor e professor Berilo Ramos Borba. Na ocasião apresentou um substancioso trabalho sobre heráldica. Na manhã do dia 29/08/2011, esteve visitando o IHGP, o professor William Paulo Maciel, Presidente da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. O Tribunal de Justiça da Paraíba, por intermédio do seu Presidente, Desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, doou ao IHGP, 4(quatro) aparelhos de ar condicionado, 2(dois) armários e 1(um) bureaux, que estão sendo utilizados na Secção de Obras Raras. Vale destacar, a decisiva participação do historiador e Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, Sócio Efetivo do IHGP, que manteve os entendimentos iniciais que resultaram na doação dos 200 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 equipamentos e móveis anteriormente citados pelo TJPB a nossa instituição. Atendendo ao convite do Prefeito do município de Alagoa Grande - PB, Dr. João Bosco Carneiro Junior, no dia 27/08/2011, o Presidente do IHGP historiador Joaquim Osterne Carneiro esteve participando das solenidades acontecidas naquela cidade, constantes da inauguração da Sala de Transparência Pública, inauguração do Memorial - Estátua Ministro Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello e entrega pela Câmara Municipal do Título de Cidadão Alagoagrandense ao Governador do Estado da Paraíba, Ricardo Vieira Coutinho. Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello se constitui no maior e mais importante filho de Alagoa Grande, sendo, com muita honra, Patrono da Cadeira Nº 45, do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Ao longo de sua fecunda existência foi Prefeito da cidade de João Pessoa, Governador do Estado da Paraíba, Deputado Federal pelo Estado da Paraíba, Embaixador do Brasil na Indonésia, Procurador Geral da República e Ministro do Supremo Tribunal Federal, do qual foi Presidente. Na qualidade de historiador é autor de 2(dois) importantes livros intitulados “A PARAÍBA NA PRIMEIRA REPÚBLICA” e “A POLÍTICA DO MEU TEMPO”. MÊS DE SETEMBRO No dia 02/09/2011, atendendo ao convite do Desembargador Nilo Luis Ramalho Vieira, Corregedor Geral do Tribunal de Justiça da Paraíba, o Presidente do IHGP, historiador Joaquim Osterne Carneiro se fez presente à solenidade realizada no Complexo Judiciário do TJPB, quando foi feita a aposição dos retratos dos Desembargadores Júlio Paulo Neto e Abraham Lincoln da Cunha Ramos, na Galeria dos Ex- Corregedores do referido Tribunal. Dentro das comemorações alusivas aos 106(cento e seis) anos de existência do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, no dia 7 de setembro do corrente ano foi realizada uma Sessão Solene, que culminou com uma palestra do Tenente Coronel e Historiador Umberto Ramos de Vasconcelos, Comandante do 15º Batalhão de Infantaria Motorizado, sob o título “A CONTRIBUIÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO NA FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA”. Faz-se necessário lembrar que, o REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 201 IHGP foi fundado em 07/09/1905, por ocasião de uma Sessão Especial ocorrida na Sala de Reuniões do Liceu Paraibano, que contou com a presença de 71 (setenta e uma) personalidades do mundo político, intelectual e profissional da Paraíba, sob a presidência de Álvaro Lopes Machado, Presidente do nosso Estado. Posteriormente, foram realizadas três sessões destinadas a elaboração dos estatutos e eleição da Diretoria. Em 12/10/1905, em Sessão Solene que aconteceu na Assembléia Legislativa, o IHGP foi instalado, tendo assinado a Ata quarenta e oito associados. No entanto, foram considerados como Sócios Fundadores, 51(cinqüenta e uma) pessoas, já que 3( três) mesmo estando ausentes foram eleitos para cargos da Diretoria. A Sessão Solene contou com a presença de Sócios do IHGP e de diversos convidados, destacando-se o Dr. Juarez Farias, Presidente da Academia Paraibana de Letras, do Coronel Antonio Leite dos Santos Filho, Chefe do Estado Maior do 1º Grupamento de Engenharia e Construções, do historiador Itapuan Bôtto Targino, representante do Desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, da Professora Clemilde Pereira, Diretora do Arquivo Afonso Pereira, além de representantes das Organizações Militares da Guarnição de João Pessoa, familiares e do público em geral. Na oportunidade, o Tenente Coronel Umberto Ramos de Vasconcelos foi agraciado com o título de Sócio Honorário do IHGP, em reconhecimento a sua dedicação ao estudo da história. No dia 13/09/2011, atendendo a requerimento da Deputada Francisca Mota, a Assembleia Legislativa da Paraíba promoveu uma Sessão Solene em homenagem ao centenário de nascimento do ExGovernador Ernani Ayres Sátyro e Sousa. Afora a autora do requerimento, também fez uso da palavra o historiador Flávio Sátiro Fernandes, que falou em nome da família do homenageado. No dia 14/09/2011, em solenidade das mais prestigiadas, foram comemorados os 70(setenta) anos de fundação da Academia Paraibana de Letras. Ainda nesta data houve, na APL, homenagem ao centenário de nascimento do escritor Ernani Sátyro. Fizeram uso da palavra: Flávio Sátiro Fernandes, que falou sobre ERNANI SÁTYRO E O DIREITO; Hildeberto Barbosa Filho, que abordou o tema ERNANI SÁTYRO E A POESIA; Ângela Bezerra de Castro 202 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 que falou sobre o romance O QUADRO NEGRO; e, Evaldo Gonçalves de Queiroz, que falou a respeito de O POLÍTICO ERNANI SÁTYRO. No dia 16/09/2011, sob a Presidência do Dr. Antonio Carneiro Arnaud, a Academia Paraibana de Medicina empossou o Dr. Fernando Paredes Cunha Lima, na Cadeira Nº 30, que tem como Patrono Dr. Napoleão Rodrigues Laureano e que se achava vaga, em virtude do falecimento do acadêmico Antonio Queiroga Lopes. O novel acadêmico foi saudado pelo Acadêmico Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros. Dentro das comemorações alusivas ao centenário de nascimento do saudoso paraibano Ernani Ayres Sátyro e Sousa, no dia 16/09/2011, o IHGP promoveu uma Sessão Solene, oportunidade em que falaram os historiadores Maria de Fátima Araújo e Flávio Sátiro Fernandes. Em seu pronunciamento intitulado ERNANI SÁTYRO E OS VALORES DO SEU TEMPO, a historiadora Maria de Fátima Araújo discorreu sobre a obra do inesquecível filho do município de Patos, enquanto o historiador Flávio Sátiro Fernandes abordou o tema ERNANI SÁTYRO E O DIREITO. No decorrer da sessão, também falou o historiador Nelson Coelho, que teceu considerações a respeito das atividades políticas do homenageado. É conveniente lembrar que, Ernani Sátyro Ayres e Sousa foi Sócio Efetivo do IHGP, tendo ocupado a Cadeira Nº 23, que tem como Patrono Apolônio Nóbrega, atualmente ocupada pela historiadora Maria de Fátima Araújo. No dia 20/09/2011, a turma do Curso de Mestrado da Universidade Federal de Campina Grande, sob a coordenação do professor Iranilson Buriti, visitou o IHGP, quando conheceram a Seção de Obras Raras e o Museu, além de realizarem pesquisa no acervo da Biblioteca Irineu Pinto. Atendendo ao convite da Secretaria de Estado da Comunicação e de A UNIÃO Superintendência de Imprensa e Editora, o historiador Joaquim Osterne Carneiro participou da solenidade que aconteceu no dia 23/09/2011, na sede de A UNIÃO, situada na Av. CHEF SN, em João Pessoa-PB, quando foi feita a aposição da placa alusiva ao centenário do Governador Ernani Sátyro. Convém recordar REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 203 que, o Parque Gráfico de A UNIÃO foi construído quando Ernani Sátyro era Governador do Estado da Paraíba. No dia 23/09/2011, ocorreu no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, o lançamento do livro “A QUEM INTERESSA BOM SUCESSO?”, de autoria do historiador Ernando Luiz Teixeira de Carvalho, sócio efetivo do IHGP, onde ocupa a Cadeira Nº 36, que tem como Patrono Clóvis dos Santos Lima. O trabalho foi apresentado pela historiadora Martha Falcão de Carvalho e Morais Santana, Sócia Efetiva da nossa instituição, onde ocupa a Cadeira Nº 20, que tem como Patrono José Rodrigues de Carvalho. A solenidade foi bastante prestigiada e após a apresentação da obra, o autor Padre Ernando Luiz Teixeira de Carvalho teceu considerações e esboçou um rico histórico da Capela Bom Sucesso, através de belas imagens projetadas em um telão. Atendendo ao convite do escritor Alexandre Santos, Presidente da UBE/PE – União Brasileira de Escritores de Pernambuco, o Presidente do IHGP, historiador Joaquim Osterne Carneiro CONGRESSO DE ESCRITORES BRASILEIROS EM PERNAMBUCO, que se realizou no Centro de Convenções de Pernambuco, localizado em Olinda-PE. No referido evento, juntamente com os escritores Margarida Cantarelli e Paulo Maranhão foi um os debatedores do tema HISTÓRIA NA LITERATURA, que teve como Presidente o escritor Melchades Montenegro Filho. Ao mesmo tempo, também esteve participando desse congresso, a Dra. Maria Ida Steinmuller, Secretária Geral da FACMA – Fundação Artístico Cultural Manuel Bandeira, instituição da cidade de Campina Grande, que ao lado dos escritores Waldênio Porto e Ana Maria César debateu o tema ARTICULAÇÃO CULTURAL E PROJEÇÕES NA LITERATURA, que teve como Presidente o escritor Alexandre Santos. MÊS DE OUTUBRO No dia 07/10/2011, em solenidade realizada no IHGP, sob a presidência do historiador Humberto Fonsêca de Lucena, VicePresidente da Casa da Memória da Paraíba, foi lançado o livro “PRÉ– HISTÓRIA –Estudos para a Arqueologia da Paraíba”, de autoria do escritor Thomas Bruno Oliveira. 204 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 No dia 07/10/2011, esteve visitando o IHGP, a turma de História da Paraíba, da UEPB – Universidade Estadual da Paraíba, Campus I, de Campina Grande-PB, sob a orientação do Professor José de Souza Junior. Durante a visita, os estudantes estiveram no Museu, na Seção de Obras Raras e na Biblioteca Irineu Pinto, onde os alunos fizeram pesquisas e adquiriram diversos livros. Em 13/10/2011, o Desembargador Abraham Ramos, Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba; o Desembargador e historiador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, Presidente da Comissão Especial para os 120 anos do TJPB; e, o Presidente da Comissão Executiva do Colégio Permanente dos Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil, Desembargador Marcos Faver, promoveram a solenidade de abertura da 89ª Reunião Nacional do Colégio Permanente dos Presidentes dos Tribunais de Justiça. A programação do evento foi a seguinte: - Exibição de um vídeo especial sobre o Palácio da Justiça; - Pronunciamento do Desembargador Marcos Faver; - Pronunciamento do Desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, saudando os presentes, autoridades e visitantes; - Lançamento das publicações: Edição especial e Histórica da Revista do Foro, comemorativa dos 120 anos de instalação do TJPB; Poder Judiciário: História da Comarca de Mamanguape; e, Ministros Paraibanos nos Tribunais Superiores. Concomitantemente, foi distribuído o Informativo Judiciarius, Número 6. - Entrega de placas e diplomas; - Visita às dependências do Palácio da Justiça, com aposição da Placa de Bronze e do Quadro Especial comemorativos aos 120 anos de instalação do TJPB. No dia 19/10/2011, na Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa - PB, em solenidade das mais prestigiadas, ocorreu o lançamento do livro “EM PROSA & NO VERSO”, de autoria do escritor e jornalista Severino Ramalho Leite. Durante o evento foi distribuído o documentário “O VENDEDOR DE CALÚNIAS”. Em solenidade realizada no dia 21/10/2011, que contou com a presença do Presidente do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima e da Diretora do Foro da Seção Judiciária da Paraíba, Juíza Federal Helena REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 205 Delgado Ramos Fialho Moreira, foi instalada a 12ª Vara Federal da Paraíba, que funcionará na rua Napoleão Laureano SN, na cidade de Gaurabira - PB. No período de 19 a 21 de outubro do corrente ano, o IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro promoveu em sua sede na cidade do Rio de Janeiro, o V COLÓQUIO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS BRASILEIROS, que contou com a participação de 21 (vinte e um), dos 23 (vinte e três), dos Institutos Históricos e Geográficos existentes nos Estados da Federação, já que não compareceram os representantes do Rio Grande do Norte e do Piauí. No decorrer do evento, os Presidentes das entidades anteriormente citadas, apresentaram circunstanciados relatórios das atividades implementadas nos exercícios de 2008, 2009 e 2010, enfocando também os trabalhos em andamento neste ano. Assim, o Presidente do IHGP - Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, historiador Joaquim Osterne Carneiro, no seu relatório, inicialmente se congratulou com o IHGB, pela realização do conclave, principalmente pela oportunidade da trocar idéias a respeito dos problemas comuns que afligem as instituições ali presentes, como também pelo ensejo de compartilhar com o que vem sendo executado em nível de cada Estado. Em seguida, tratou do acervo existente na Biblioteca Irineu Pinto constituído por cerca de 40.000 títulos - livros, periódicos e folhetos; destacou a Seção de Obras Raras com 1.465 trabalhos publicados nos séculos XIX e XX; e enfatizou a importância da Hemeroteca e dos Arquivos Privados que pertenceram aos ilustrados paraibanos Adhemar Victor de Meneses Vidal, Alcides Vieira Carneiro, Antonio Pessoa Filho, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, Manuel Arruda de Assis, Osias Nacre Gomes e Sebastião Sinval Fernandes, que exigem cuidados especiais na sua conservação. De outra parte, foram prestadas informações a respeito das atividades de recuperação e manutenção das instalações físicas do edifício do Instituto, sendo igualmente mencionado a elaboração do Boletim Informativo do IHGP, que mensalmente vem sendo disponibilizado na internet, sendo citados os distintos convênios firmados pelo Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Faz-se necessário assinalar que, um dos assuntos que despertou grande interesse durante o V COLÓQUIO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS BRASILEIROS, foi à criação de Institutos Históricos 206 REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 Municipais, assunto que fora abordado no I COLÓQUIO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS, ocorrido em 1998 e que no momento recebe todo o incentivo do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Nesse sentido, a Dra. Maria Ida Steinmuller, Secretária Geral da FACMA - Fundação Artístico Cultural Manuel Bandeira, da cidade de Campina Grande se fez presente ao V COLÓQUIO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS BRASILEIROS, a fim de colher subsídios visando a criação do Instituto Histórico de Campina Grande - Casa Elpídio de Almeida, que necessariamente contará com o respaldo do IHGP. No dia 27/10/2011, em solenidade das mais prestigiadas, a Assembleia Legislativa da Paraíba, outorgou ao Sub Procurador Geral da República, Dr. Eitel Santiago de Britto Pereira, o Diploma e a Medalha Epitácio Pessoa. No mesmo dia foi lançado o livro “POLÍTICA, ÉTICA E ESTADO”, de autoria do homenageado. MÊS DE NOVEMBRO No dia 17/11/2011, numa promoção conjunta da Fundação Casa de José Américo, do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e da Academia Paraibana de Filosofia, em solenidade das mais prestigiadas realizada no Auditório Juarez da Gama Batista da Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa - PB foi lançado o livro “PENSAMENTOS e AÇÕES”, de autoria do Historiador Itapuan Bôtto Targino, nosso confrade do IHGP. Em solenidade ocorrida em 18/11/2011, no Auditório Professor Antonio Dias dos Santos, do Conselho Regional de Medicina da Paraíba, em João Pessoa - PB tomou posse na Cadeira Nº 19 da Academia Paraibana de Medicina, que tem como Patrono o Dr. João Toscano Gonçalves de Medeiros e que se achava vaga com o falecimento do Dr. Herul Holanda de Sá, o Dr. Humberto Vicente de Araújo. O novel acadêmico foi saudado pelo Acadêmico Francisco Ornindo Fernandes. Em 25/11/2011, em solenidade que aconteceu na Escola Superior de Magistratura, a Câmara Municipal de João Pessoa, por proposição do Vereador Tavinho Santos concedeu o título de Cidadão Pessoense ao Advogado Francisco de Sales Figueiredo, pelos relevantes serviços prestados à cidade de João Pessoa. REVISTA DO IHGP – Nº 42 – ANO C – 2012 207 Em solenidade das mais concorridas realizada no dia 30/11/ 2011, no Terraço Brasil, em João Pessoa - PB, foi lançada a Coletânea “CONFESSO QUE LI” que contém trabalhos de diversos intelectuais paraibanos inclusive do Presidente do IHGP, Historiador Joaquim Osterne Carneiro. Concomitantemente, no dia 13 de dezembro do corrente ano, a referida Coletânea foi lançada na cidade de Campina Grande. Faz-se mister destacar que, o trabalho foi organizado pelas Escritoras Neide Medeiros Santos e Yó Limeira, tendo sido elaborado na Idéia Editora, sob a coordenação de Magno Nicolau. Contando com a mão de obra fornecida pelo 15º Batalhão de Infantaria Motorizado, graças a sensibilidade do seu Comandante, o Tenente Coronel e Historiador Umberto Ramos de Vasconcelos, Sócio Honorário do IHGP, foi executada a pintura externa do edificio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. É imprescindível informar que, fazia 26 (vinte e seis) anos que o IHGP não era pintado. Já se acham disponibilizadas no site do IHGP: www.ihgp.net, as Revistas da nossa entidade de números 1 (um) até 32 (trinta e dois). Também podemos acessar todo o site do saudoso presidente Luiz Hugo Guimarães. MÊS DE DEZEMBRO No dia 06/12/2011, em solenidade realizada no Auditório Juarez da Gama Batista, do Centro Cultural Joacil de Britto Pereira, a ALANE/PB – Academia de Letras e Artes do Nordeste - Núcleo da Paraíba, homenageou o Escritor e Historiador Joacil de Britto Pereira, outorgando-lhe a Medalha do Mérito Cultural José Américo de Almeida, em reconhecimento ao trabalho realizado em favor das letras e das artes. No dia 09/12/2011, em solenidade realizada na Academia Limoeirense de Letras, da cidade de Limoeiro do Norte - CE, o historiador Joaquim Osterne Carneiro lançou o livro “UMAS, OUTRAS E MAIS OUTRAS (VERÍDICAS, FICCIONISTAS, FOLCLÓRICAS, INUSITADAS). O trabalho foi apresentado pela intelectual Ana Célia Freire Maia. A confraternização dos Sócios e dos Servidores do IHGP foi definida para as 17:00H de 16/12/2011.