A RELAÇÃO ENTRE A COLETA SELETIVA, O PESO ESPECÍFICO E A VIDA ÚTIL DO ATERRO SANITÁRIO DE SANTO ANDRÉ Autor: Humberto Dugini de Oliveira Engenheiro Civil graduado pela Universidade Paulista, Especialista em Engenharia Hospitalar pela Universidade de São Paulo, Especialista em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e Gerente de Tratamento e Disposição de Resíduos Sólidos pelo SEMASA - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental do Município de Santo André. Colaborador: Amaury Rezende Carvalho: Professor do Centro Universitário UNIA de Santo André. Engenheiro Civil. MSc. Em Geotécnia Ambiental pela Universidade Federal de Viçosa/MG. Apoio: Prof. DSc. Cláudio Fernando Mahler, Engenheiro Civil graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor em Engenharia – UFRJ e Professor da COPPE/UFRJ Eng° Ana Maria Silveira - Engenheira Civil, mestranda pela COPPE/UFRJ Endereço: Departamento de Resíduos Sólidos / SEMASA - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André Rua Fernando Costa, s/nº - Pq. Gerassi – Santo André – SP – CEP 09120-305 - Brasil Fone: (11)4433-9867 - Fax: (11)4433-9782 Email: [email protected] 1. SÍNTESE A partir de 06 de Outubro de 1999 a coleta seletiva porta a porta passou a atender 60% da população de Santo André, possibilitando o respectivo aproveitamento de parte dos recicláveis gerados e diminuindo a quantidade de resíduos a serem dispostos no Aterro Sanitário do Município. Estes recicláveis são, na sua maioria, de baixo peso específico, de grande volume e de difícil compactação (papéis, plásticos, recipientes metálicos e não metálicos etc.). A redução na disposição destes materiais na massa do aterro, além do benefício, relativamente pequeno, oriundo diretamente da não disposição do mesmo (cerca de 3% em peso dos resíduos domiciliares), influi de maneira positiva na melhoria dos índices de compactação dos resíduos dispostos, o que implica, diretamente, no cálculo da vida do Aterro. Tradicionalmente, a avaliação da influência dos programas de coleta seletiva nos aterros tem se dado, ou de forma qualitativa ou com base nas quantidades, em peso, dos recicláveis não dispostos que, em função de seu baixo peso específico e quantidades coletadas, geralmente não é significativa. No período de outubro de 1999 a janeiro de 2000, concomitantemente à ampliação da coleta seletiva em Santo André para 60% da cidade, foram feitas avaliações de peso específico, com base em levantamentos planialtimétricos, no Aterro Sanitário de Santo André visando estabelecer quantitativamente, após as atividades normais de deposição, compactação e cobrimento da frente de operação, a influência da coleta seletiva no Aterro. Obteve-se no período estudado um peso específico dos resíduos dispostos de 1,08 t/m3 (10,59kN/m³), contra um valor mínimo adotado de 0,80 t/m3 (7,85kN/m³) observado em períodos anteriores, ou seja, com a mesma metodologia operacional, especialmente a energia de compactação aplicada, a ampliação do peso específico foi de 35%, considerando-se as projeções efetuadas antes de outubro de 1999 e o período avaliado. Algumas variáveis operacionais, inerentes à própria dinâmica do processo de disposição final, também contribuem na melhoria dos índices de compactação obtidos, como a perda de orgânicos na produção de chorume, os gases queimados que promovem a diminuição do volume das plataformas do Aterro e o aumento da energia de compactação pela superposição das mesmas. Com a ampliação da coleta seletiva em Santo André para 100% da cidade, atingida em 26 de abril de 2000 e a continuidade do monitoramento e avaliação do peso específico final obtido na massa dos resíduos dispostos no aterro sanitário, por três métodos distintos, a saber, Método Topográfico, Método da Cava e pelo Método do Percâmetro, quantificou-se a efetiva parcela de contribuição da coleta seletiva no processo que, considerando-se os resultados obtidos, pode-se inferir a sua extrema significância no aumento da vida útil do aterro. 2. OBJETIVO A Coleta Seletiva é feita em apenas 135 municípios brasileiros, segundo o CEMPRE, 1999. Normalmente ela é utilizada para fins de Educação Ambiental, sendo implantada em escolas visando à conscientização de crianças e adolescentes sobre a questão ambiental de uma maneira geral e sobre os problemas sanitários específicos do lixo, tentando promover uma mudança de hábito na população. Muitas vezes, entretanto, é implantada sem um rigor no seu planejamento e operacionalização, inviabilizando programas e desacreditando a população na sua eficiência. Em poucos municípios ela é executada em larga escala em nível local, o que poderia caracterizá-la como um efetivo instrumento no Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Tradicionalmente, as argumentações favoráveis à implantação de Coleta Seletiva incluem, entre outros fatores, a questão do aumento da vida útil do Aterro Sanitário pela não disposição dos resíduos recicláveis no mesmo. Nesse raciocínio, alega-se que os Resíduos Sólidos Domiciliares tem entre 30% a 40% em peso de materiais recicláveis que, em sendo reaproveitados através de uma coleta seletiva, aliviariam na mesma proporção, em peso, o Aterro Sanitário. Entretanto, nas cidades com Coleta Seletiva, a quantidade de recicláveis coletados e passíveis de comercialização para reaproveitamento não tem ultrapassado a 5% do peso do total dos Resíduos Sólidos Domiciliares gerados nos municípios (CEMPRE, 1999), o que, em princípio, nos leva a concluir que a disposição nos Aterros, em relação ao peso dos resíduos dispostos, descontando-se o percentual de recicláveis não depositados, permanece praticamente inalterada, enfraquecendo, na prática, um dos argumentos usados pró Coleta Seletiva. Por outro lado, sabe-se que o peso específico dos resíduos recicláveis (papel, plástico, metal etc.), na forma de embalagens, é bem menor que o da fração orgânica dos resíduos, porém, o volume ocupado é bem maior, ou seja, ao segregá-los dos resíduos dispostos no Aterro Sanitário, até pela dificuldade que eles ocasionam na compactação, estamos potencializando uma maior compactação média na massa dos resíduos, bem como uma maior facilidade de operação e, de forma quantitativa, um provável aumento da vida útil do Aterro devido a esse fator. Em Santo André, a partir de 06 de Outubro de 1999, a coleta seletiva porta a porta passou a atender 60% da população de Santo André, e a partir do momento que foi atingido o percentual de 100% de coleta seletiva porta a porta, ela se tornou um instrumento efetivo no gerenciamento de resíduos, possibilitando o aproveitamento dos recicláveis gerados e diminuindo a quantidade de resíduos a serem dispostos no Aterro Sanitário do Município. Assim, através do acompanhamento das quantidades, em peso, dos Resíduos Sólidos dispostos no Aterro Sanitário de Santo André e dos volumes ocupados por essas massa de resíduos, fez-se estimativas dos pesos específicos obtidos antes e após outubro de 1999, em determinadas camadas da massa do Aterro. Este trabalho visa relatar as estimativas, avaliando e discutindo a contribuição da Coleta Seletiva implementada no município, na relação entre o peso específico e a vida útil do Aterro Sanitário de Santo André. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1 CARACTERÍSTICAS DO ATERRO SANITÁRIO DE SANTO ANDRÉ O Aterro Sanitário de Santo André iniciou sua operação, oficialmente, em 1987. Atualmente, já finalizou a camada 18, de sua 2ª fase, e iniciou uma nova etapa. A altura de cada berma varia em torno de 5,0m, sendo fechada por uma camada compacta de espessura não inferior a 0,30m e não superior a 0,60m, dispostas em taludes com inclinação máxima de 1V:2H. Em cada camada, os Resíduos Sólidos são descarregados no pé do talude, empurrados de baixo para cima e compactados, primeiro, com três à cinco passadas de trator de esteiras tipo AT D6 ou AT D8 e após, com três a cinco passadas de Rolo Compactador Pé de Carneiro pesando 20t (somente no platô). O recobrimento dos Resíduos é feito diariamente com solo predominantemente silto-argiloso, sendo compactado com espessura variável entre 0,10m a 0,40m, através dos procedimentos e equipamentos descritos acima. Tal camada possui a mesma função essencial de promover um selo sanitário sobre a massa de Resíduos na frente de operação, impedindo a proliferação de vetores, tais como: moscas, ratos, presença de urubus, etc. Esta camada possui ainda, um caráter provisório, pois será recoberta na sua maior parte com nova plataforma de Resíduos Sólidos. Não existe normalização para os parâmetros de compactação deste solo. A título de ilustração, indicamos abaixo os resultados dos ensaios de compactação efetuados em abril de 1999 na camada intermediária de cobertura da plataforma, que devem ser tomados como indicativos da performance do procedimento de compactação, utilizado para a região ou horizonte de estudo. • Ensaio de compactação, moldados na energia Normal, conforme a N.B.R. 7182A.B.N.T. Ensaio de Compactação: G.C. = 89,8%; Desvio de Umidade: Dh = 9,9% A rotina de controle da operação do Aterro abrange, entre outras atividades, as seguintes: • Controle das características e da origem dos resíduos processados; • Peso dos resíduos recebidos; • Cumprimento do plano de trabalho da frente de operação; • Uniformidade da energia de compactação; • Garantia da espessura da cobertura de solo prevista; • Execução da impermeabilização de fundo de berma; • Manutenção dos acessos de veículos; • Preparação de praças de escoamento para drenagem superficial em dias chuvosos; • Fiscalização das obras de apoio (dreno de gases e percolados, plantio de grama, etc.); • Avaliação da qualidade e quantidade dos efluentes líquidos gerados; • Controle das instalações de tratamento de efluentes líquidos; • Verificação da salubridade nas instalações (ruídos, odores, poeira) etc. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DISPOSTOS NO PERÍODO Os resíduos dispostos no Aterro Sanitário de Santo André são apropriados com a seguinte tipificação: Resíduos Sólidos Domiciliares (RSD) – incluem os resíduos de varrição, da coleta domiciliar regular e da limpeza de feiras. Resíduos da Municipalidade (RM) – incluem resíduos de capina de vias e logradouros, limpeza de bueiros e bocas de lobo, dragagem de córregos, entulho, inservíveis, animais mortos, etc. Resíduos de Grandes Geradores (RGG) – são resíduos classe II (refeitórios, administração, etc.) dispostos por grandes geradores autorizados pela CETESB. Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) – oriundo da coleta especial em unidades de saúde e tratados em unidade especial com aparelho de Microondas. Rejeitos da Usina de Triagem (RUT) – rejeito do processo de triagem dos recicláveis. Na camada 14 foram dispostas as seguintes quantidades de resíduos, durante seu período de operação, com os seguintes percentuais em relação ao total disposto: RSD - 126.790,97 t ( 90,95 % ) RM - 6.930,23 t ( 4,97 % ) RGG - 4.749,88 t ( 3,41 % ) RSS - 817,03 t ( 0,59 % ) RUT - 115,83 t ( 0,08 % ) TOTAL - 139.403,94 t ( 100,00 % ) Na camada 15 foram dispostas as seguintes quantidades de resíduos, até o dia 20/01/2000, relativo ao levantamento planialtimétrico, com os seguintes percentuais em relação ao total disposto: RSD - 50.029,04 t ( 84,15 % ) RM - 7.149,21 t ( 12,03 % ) RGG - 1.614,46 t ( 2,72 % ) RSS - 295,52 t ( 0,50 % ) RUT - 359,79 t ( 0,60 % ) TOTAL - 59.448,02 t ( 100,00 % ) Os RSD, conforme visto acima, constituem a maior fração dos resíduos dispostos, tanto na camada 14 como na camada 15. Sua composição gravimétrica, sem considerar a coleta seletiva, é a seguinte (segundo caracterização feita em julho/1999 pela Prefeitura Municipal de Santo André). : 3.3 OS RECICLÁVEIS DA COLETA SELETIVA A Coleta Seletiva em Santo André é feita desde 1998. No período de operação da camada 14, 04 bairros eram atendidos por ela. Na operação da camada 15, considerando-se a data do levantamento planialtimétrico (20/01/2000), a mesma era feita em 60% da cidade. O sistema de coleta seletiva porta a porta é disponibilizado com caminhão compactador, que coleta os resíduos secos ou recicláveis, duas vezes por semana, em dias e horários específicos, em todos os bairros da cidade (a partir de 26/04/2000). Esses recicláveis são descarregados em fossos de recepção para posterior encaminhamento para a triagem através de esteiras mecânicas. Algumas amostras dos recicláveis descarregados foram ensaiadas para obtenção de uma estimativa do peso específico aparente dos mesmos, antes da triagem. Observou-se uma variação elevada entre o peso específico das amostras, o que já era previsível, mas foi possível determinar a grandeza desse peso específico (em torno de 80 kg/m3 ou 0,78kN/m³), visando estabelecer uma avaliação da sua influência na massa do aterro. As amostras utilizadas foram as seguintes: COMPONENTES % (em peso) Matéria Orgânica 56,8 Papel, papelão, jornal, etc. 17,4 Plásticos 13,1 Alumínio 0,7 Material Ferroso 2,9 Vidro 1,9 Outros (madeira, trapos, couro, borracha, terra, etc.) 7,2 • 1ª amostra Peso Aferido – 2.900 kg Volume – 33,30 m3 Peso Específico – 87,09 kg/m3 ou 0,85kN/m³ • 2ª amostra: Peso Aferido – 5.690 kg Volume – 67,60 m3 Peso Específico – 84,17 kg/m3 ou 0,83kN/m³ • 3ª amostra: Peso Aferido – 2.660 kg Volume – 40,80 m3 Peso Específico – 65,20 kg/m3 ou 0,64kN/m³ A quantidade de materiais recicláveis que deixaram de ser dispostos nas camadas 14, 15, 16, 17 e 18 são os recicláveis coletados no período de operação de cada camada, conforme os dados abaixo. É indicado, também, o percentual destes recicláveis em relação ao total disposto e em relação aos resíduos domiciliares dispostos em cada camada, respectivamente: Operação da camada 14: 164 t de recicláveis (0,12% do total) (0,13% dos RSD) Operação da camada 15: 1.267 t de recicláveis (2,13% do total) (2,53% dos RSD) 3.4 A VARIAÇÃO DO PESO ESPECÍFICO A operação da camada nº 13 iniciou-se em 15/07/1998, com fechamento em 15/02/1999. A partir de 16/02/1999 foi iniciada a operação da camada nº 14, que teve o seu fechamento ocorrido em 15/10/1999. A camada de nº 15, por conseguinte, teve seu início em 16/10/1999 e com fechamento em 08/06/2000. Já a camada de nº 16 teve seu início em 09/06/2000 e fechamento em 08/01/2001. Considerando que a Coleta Seletiva teve sua abrangência bastante ampliada na cidade a partir de 06/10/1999, quase que coincidentemente com o início de operação da camada 15, a avaliação entre as características de peso específico desta camada e da 16 foi tomada como forma de comparação com as camadas 13 e 14. Através do levantamento planialtimétrico, determinou-se o volume útil da camada 14 em 185.130m3, constituída de uma base inferior com área de 43.730m2, uma base superior com área de 38.550m2 e uma altura média de cerca de 4,5m. Nesta camada, foi depositado um total de 139.403,94t de resíduos sólidos. Em 20/01/2000 foi feito o levantamento planialtimétrico da camada 15, onde se determinou que o seu volume útil já atingia 55.250m3, tendo uma base inferior com área de 12.209m2 e base superior com área de 11.013m2, com altura média de cerca de 4,75m. Até o dia 20/01/2000, havia sido disposto nesta camada um total de 59.448t de resíduos sólidos. Com esses dados, obteve-se o valor de 0,753t/m3 (7,39kN/m³) para o peso específico dos resíduos da camada 14, e o valor de 1,076t/m3 (10,55kN/m³) para a massa de resíduos da camada 15, dispostos até o dia 20/01/2000. O aumento do peso específico dos resíduos da camada 14 para a camada15 foi de 42,8 %. Em março de 1999, foi efetuada a determinação do peso específico da massa de resíduos da camada 13, através da abertura de uma cava de 1,00m x 1,00m x 0,50m, medindo-se o volume de água necessário para preencher a cava, vedada com lona plástica. O valor mínimo adotado de seis amostras para obtenção do Peso Específico “In Situ” forneceu o valor de 0,803t/m3 (7,88kN/m³). Este valor, comparado ao peso específico da camada 15, indica um substancial aumento do peso específico da camada 13 para a camada 15 de 34,0%. Em 25 de janeiro de 2001 foi determinado o peso específico da massa de resíduos da camada 14, por meio da cravação de um equipamento denominado Percâmetro, com as dimensões aproximadas de Ø 0,152m x 0,175m, na profundidade aproximada de 2,00m. A partir do qual se mediu o peso e o volume da amostra coletada, determinando-se a seguir a relação entre eles. Em 25 de fevereiro de 2001 efetuou-se o mesmo procedimento para a camada 13. Já em 26 de fevereiro de 2001 repetiu-se o processo para a camada 16. Nos dias 14 e 19 de março de 2003 foram realizados ensaios para a determinação dos pesos específicos, respectivamente, nas bermas 18 e 17 pelos Métodos da Vala ou Cava e por meio do Percâmetro. Deste modo obtiveram-se os seguintes pesos específicos médios: Berma 13 – 0,801 t/m3 (7,86kN/m³) Berma 14 – 0,785 t/m3 (7,71kN/m³) Berma 15 – 1,076t/m3 (10,55kN/m³) Berma 16 – 1,202 t/m3 (11,79kN/m³) Berma 17 – 1,037t/m3 (10,17kN/m³) Berma 18 – 1,059 t/m3 (10,38kN/m³) 4. RESULTADOS Com essas informações podemos montar tabelas comparativas de Métodos e Resultados. Tabela I Métodos utilizados nas bermas: Método BERMAS Topográfico 14 15 ---- ---- ---- Ensaio A 13 ---- ---- 17 18 Ensaio B 13 14 16 17 18 Legenda: Topográfico – Planialtimétrico Ensaio A – Método da Cava Ensaio B – Método do Percâmetro Tabela II Valores dos pesos específicos determinados nos ensaios: PESO ESPECÍFICO (kN/m3) CAMADAS TOPOGR. ENSAIO A ENSAIO B 13 ---- 7,88 7,84 14 7,39 ---- 8,02 15 10,55 ---- ---- 16 ---- ---- 11,79 17 ---- 19,56* 10,17 18 ---- 9,89 10,88 * Este valor será desprezado pois, obteve-se um peso específico muito alto para as condições locais dos resíduos. Tabela III Comparação do aumento % entre as bermas 13 e 14 e a 15: Bermas 13 14 Topográfico ---- 42,8 Ensaio A 33,9 ---- Ensaio B 34,6 31,5 Média 34,2 37,1 Tabela IV Comparação do aumento % entre as bermas 13 e 14 e a 16: Bermas 13 14 Topográfico ---- 59,6 Ensaio A 49,7 ---- Ensaio B 50,4 47,0 Média 50,0 53,3 Tabela V Comparação do aumento % entre as bermas 13 e 14 e a 17: Bermas 13 14 Topográfico ---- 37,6 Ensaio A 29,1 ---- Ensaio B 29,7 26,8 Média 29,4 32,2 Tabela VI Comparação do aumento % entre as bermas 13 e 14 e o valor médio (10,38kN/m3) da 18: Bermas 13 14 Topográfico ---- 40,5 Ensaio A 31,7 ---- Ensaio B 32,4 29,4 Média 32,0 34,9 4.1 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A obtenção do aumento do peso específico das bermas 13 e 14 em relação a 15 e a 16, que dependendo da forma de cálculo varia, no entanto, indica claramente que se ganhou em volume disposto no aterro, comparando-se as bermas estudadas. Diversos fatores podem ter feito com que o peso específico da berma 15 tenha sido maior que a de número 14. Muitos deles são de difícil determinação, ou mesmo de compreensão, pois muitos parâmetros contribuem na variabilidade do processo, em maior ou menor grau. Entretanto, algumas considerações e hipóteses podem ser levantadas, entre as quais destacamos os aspectos comentados a seguir: A quantidade em peso de recicláveis não dispostos na camada 15 foi, proporcionalmente ao percentual de resíduos domiciliares quase vinte vezes maior do que na operação da camada 14, num total de 1.103 t (1.267 t - 164 t). Considerando que o peso específico aparente obtido para esses recicláveis, após a coleta e antes da triagem, foi cerca de 80 kg/m3 (0,78kN/m³), pode-se dizer que cerca de 13.800 m3 de resíduos deixaram de ser dispostos no aterro, o que representa cerca de 25,0% do volume da berma 15 no período estudado. Pode-se inferir também, apesar da dificuldade de se quantificar uma estimativa numérica, que a não disposição desses recicláveis, no aterro viabiliza uma melhor compactação relativa dos resíduos dispostos, ou seja, caso fossem dispostos, além do volume a ser ocupado pelos mesmos, esses recicláveis estariam prejudicando a possibilidade de se atingir um maior grau de compactação dos demais resíduos, comprometendo duplamente o volume ocupado pela camada. Os denominados Resíduos Municipais aumentaram consideravelmente sua participação relativa no total disposto na berma 15 em comparação com o total disposto na berma 14 (de 4,97% para 12,03%). Considerando-se que tais resíduos são constituídos principalmente de material da dragagem de córregos, entulhos e inservíveis (sofás, madeira, fogões, etc.), capina de vias, etc., oriundos de serviços prestados pela municipalidade, é de se esperar, dada as características dos mesmos, que tenham contribuído com um aumento no peso específico da massa de resíduos da berma 15. Entretanto, numa análise mais acurada, estabelecendo algumas hipóteses, verifica-se que sua influência, apesar de existir, é relativamente pequena. Caso fosse mantido o percentual em peso (4,97%) dos RM na camada 15 com relação à camada 14, deveríamos ter cerca de 2.950 t de RM sendo dispostos na camada 15. Como foram dispostos praticamente 7.150 t, houve um incremento relativo, na quantidade disposta, de 4.200 t na camada 15. Supondo, numa análise conservadora e superestimada, que esses resíduos conseguissem atingir um peso específico de 2,0 t/m3, então eles teriam ocupado um volume extra, na camada 15, de 2.100 m3, ou seja, caso não tivesse havido esse incremento de RM, os 55.250 t de resíduos da camada 15 seriam dispostas em 53.150 m3, obtendo-se então, um peso específico da massa da camada de 1,039 t/m3. Deduz-se, com esse raciocínio estimativo, que a influência do aumento da quantidade de RM na camada 15, pode ter contribuído com cerca de 3,6% de aumento no peso específico da massa de resíduos dessa camada. Outro aspecto importante a ser observado, é com relação a sazonalidade. A camada 14 foi operada em período onde a pluviosidade é predominantemente baixa (fevereiro a outubro), enquanto que no período estudado da camada 15 (outubro a janeiro) a pluviosidade é alta. A distorção que pode haver em função desse fato é a possibilidade de se estar comparando, através da pesagem na entrada do aterro, resíduos com umidades distintas, que podem afetar a uniformidade da análise comparativa das duas camadas. Sabe-se que em períodos chuvosos o peso dos resíduos domiciliares coletados é historicamente maior do que em períodos secos. Durante os meses de fevereiro/99 a outubro/99 a média mensal dos resíduos sólidos domiciliares dispostos no aterro (camada 14) foi de 15.849 t/mês, enquanto que durante os meses de outubro/99 a janeiro/00, a média mensal dos resíduos sólidos domiciliares dispostos no aterro (camada 15) foi de 16.676 t/mês. Considerando de forma conservadora, que o aumento na quantidade média disposta de resíduos domiciliares, foi exclusivamente ocasionada pela maior pluviosidade do período e conseqüentemente por uma maior umidade dos resíduos, implica dizer que esse fator produziu um incremento de 5,9% no peso específico da massa de resíduos da camada 15, uma vez que cerca de 84% da massa é constituída de RSD. Verificando-se as comparações dos aumentos percentuais médios dos pesos específicos das bermas das camadas 13 e 14 com relação às bermas das camadas 15, 16, 17 e 18 notamos que, com exceção da berma 16, esses percentuais se situam em torno de 30%. 5. CONCLUSÕES A Coleta Seletiva, além de o viés da Educação Ambiental, contempla ganhos econômicos e ambientais diretos que necessitam serem mais fielmente quantificados visando melhor subsidiar as argumentações pró Coleta Seletiva que hoje se dão de forma qualitativa, dificultando uma análise mais objetiva da sua relação custo/benefício, tanto do ponto de vista econômico-financeiro como ambiental. Como se relatou, no período de outubro de 1999 a janeiro de 2000, concomitantemente à ampliação da coleta seletiva em Santo André para 60% da cidade, foram feitas avaliações de peso específico no Aterro Sanitário de Santo André visando estabelecer quantitativamente, após as atividades normais de deposição, compactação e cobrimento da frente de operação, a influência da coleta seletiva na vida útil do aterro. Obteve-se um peso específico da massa dos resíduos dispostos 33,9% ou 42,8% maior (dependendo da forma de cálculo) do que a observada em períodos anteriores, utilizando-se da mesma metodologia operacional, especialmente a energia de compactação aplicada. Verificou-se que algumas outras variáveis, além da Coleta Seletiva em 60% da cidade, contribuíram na melhoria dos índices de compactação obtidos, entre elas, destaca-se a maior pluviosidade do período de outubro/99 a janeiro/00 (contribuição de 5,9%). Considerando-se o aumento mais conservador do peso específico da massa de resíduos (33,9%), excluindo-se as duas variáveis identificadas acima (3,6% e 5,9%), teremos cerca de 24,4% de aumento no peso específico da camada 15 causado pela diminuição dos recicláveis dispostos no aterro, além de outros fatores não mensuráveis ou não identificados. É possível supor, que os 2,13% em peso de recicláveis que não foram dispostos na berma 15 contribuíram em cerca de 20% de aumento no peso específico da massa de resíduos obtida na mesma, comparativamente a camada 13, ou seja, possibilitou um ganho de 20% na vida útil do aterro, relativamente ao período avaliado. Com a ampliação da coleta seletiva em Santo André para 100% da cidade, iniciada no final de abril de 2000 e a continuidade do monitoramento e avaliação do peso específico final obtido na massa dos resíduos dispostos no aterro sanitário, especialmente nas camadas 16, 17 e 18 esperavam-se identificar e quantificar de forma mais efetiva a parcela de contribuição da coleta seletiva no aumento da vida útil do aterro sanitário de Santo André que, considerandose os resultados obtidos, constata-se que houve um aumento real no valor do peso específico dos resíduos depositados a partir da implantação da coleta seletiva, implicando no aumento da vida útil do aterro sanitário, corroborando que o fato é de extrema significância no contexto da Política de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos de Santo André, atualmente conduzida pelo SEMASA – Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André que, na construção do seu modelo de Saneamento Ambiental, vem priorizando a questão dos resíduos sólidos como forma de elevar a qualidade ambiental e de vida da população do município. 6. BIBLIOGRAFIA SEMASA- Serviço Municipal de Saneamento Ambiental da Prefeitura Municipal de Santo André. São Paulo. Gripp, W.G. e Oliveira, H.D. (2000), Influência da Coleta Seletiva no Aumento da Vida Útil do Aterro Sanitário de Santo André, 30ª Assembléia Nacional da ASSEMAE. CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem, Guia da Coleta Seletiva. São Paulo, 1999. Valle, M.A. e Pacheco, A. (1999). Resíduos Sólidos de Santo André. Artigo da Revista Limpeza Pública – ABLP, São Paulo, Brasil, pg. 27–34.