1 INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS PARTICIPAÇÃO DA ORTODONTIA E FONOAUDIOLOGIA EM PACIENTES RESPIRADORES BUCAIS MARCOS EUGÊNIO DIAS NUNES Santo André 2011 2 INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS PARTICIPAÇÃO DA ORTODONTIA E FONOAUDIOLOGIA EM PACIENTES RESPIRADORES BUCAIS MARCOS EUGÊNIO DIAS NUNES Monografia graduação apresentada da ao FUNORTE colegiado (núcleo de Santo PósAndré, Faculdade Unidas do Norte de Minas), como prérequisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ortodontia. Orientador: Profª. Mariangela da Silva Braga Santo André 2011 3 PARTICIPAÇÃO DA ORTODONTIA E FONOAUDIOLOGIA EM PACIENTES RESPIRADORES BUCAIS MARCOS EUGÊNIO DIAS NUNES Monografia apresentada ao Instituto de Ciências da Saúde FUNORTE / SOEBRAS – Núcleo Santo André como parte dos requisitos para obtenção do título de ESPECIALISTA pelo Programa de PósGraduação em ODONTOLOGIA – Área de Concentração Ortodontia Data de aprovação _____/ _______/ _____ COMISSÃO EXAMINADORA Orientador: Prof. Mariangela da Silva Braga __________________________________________________ Prof. Ms. José Eduardo dos Santos __________________________________________________ Prof. Ms. Mário Oshima CONCEITO FINAL :_________________________ 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha fiel companheira e esposa amada, Fga. Daniela Abrahão Bernardes, que muitas vezes secou minhas lágrimas me incentivou e que seguiu bravamente nessa nossa conquista. “Você, somente descobre o homem se conhecer a mulher!”. Eu digo que a conquista foi nossa porque as decisões, os caminhos são sempre partilhados embora pareça em alguns momentos que esta corrente se mostrasse incapaz de segurar inúmeros percalços. No entanto a cada dia descobrimos que o laço é mais forte que esperávamos. Dedico também a minha irmã, Joana D’arc Dias Nunes, por ocupar o papel de mãe, segunda mãe, sou abençoado por isso. Dedico também a memória dos meus pais, meu eterno porto seguro, em especial a minha mãe de cuja recente perda fez em mim uma força interior a qual não havia encontrado. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, carinhosamente a minha esposa que sempre me apoiou nos momentos mais difíceis, aos meus familiares neles incluo também como meus os da minha esposa, a (os) verdadeira (os) amiga (os), aos professores e funcionários do curso que me ajudaram em mais esta jornada. Agradeço ao mestre José Eduardo dos Santos pela oportunidade e esclarecer que sua passagem pela minha história foi de grande valor profissional, intelectual e pessoal mostrando que as adversidades somente nos alavancam para o crescimento em qualquer de suas vertentes. Agradeço aos meus pais que me deram a vida e embora não estando mais presentes me ensinaram valores morais e éticos inigualáveis. 6 RESUMO O presente estudo teve como objetivo destacar as principais características associadas à ocorrência da respiração bucal, tornando conhecidas suas principais causas e conseqüências, e destacando o que há de mais recente em relação à reabilitação destes pacientes, por meio da combinação entre ortodontia e outras especialidades, em especial a fonoaudiologia. A metodologia empregada foi basicamente a revisão de literatura, através da consulta a fontes recentes de pesquisa, como artigos, periódicos e revistas cientificamente conceituadas. Concluise que no tratamento e reabilitação de pacientes que sofrem da síndrome do respirador bucal, observa-se uma eminente necessidade de uma abordagem interdisciplinar, que tem como intuito a obtenção de resultados mais satisfatórios e plenos. Na abordagem ortodôntica, o objetivo passa pela busca do restabelecimento precoce de uma oclusão ideal, proporcionando também o equilíbrio muscular e a harmonia facial, e conseqüentemente a estabilidade. A escolha da melhor forma e técnica de tratamento da maloclusão irá depender de uma detalhada avaliação diagnóstica. Especificamente em relação à contribuição da fonoaudiologia, este profissional é o encarregado de proporcionar a melhora na homeostase das funções do sistema estomatognático (mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração), ou seja, tudo o que estiver relacionados aos músculos. Palavras-chave: Respirador Bucal. Respirador Oral. Síndrome do Respirador Oral. Ortodontia. Maloclusão. Fonoaudiologia. 7 ABSTRACT This study aimed to highlight the main characteristics associated with the occurrence of mouth breathing, to make known their causes and consequences, and emphasizing what is most recent in relation to the rehabilitation of these patients through the combination of orthodontics and other specialties in particular the speech. The methodology used was basically a literature review, by consulting the sources of recent research, such as articles, scientifically reputable journals and magazines. We conclude that the treatment and rehabilitation of patients suffering from chronic oral breathing, there is an imminent need for an interdisciplinary approach, which has the intention to obtain more satisfactory results and full. In orthodontic approach, the goal is the pursuit of an early restoration of an ideal occlusion and also provide muscle balance and facial harmony, and hence stability. Choosing the best form and technique of treatment for malocclusion will depend on a detailed diagnostic evaluation. Specifically regarding the contribution of speech, this professional is responsible for providing an improvement in the homeostasis of the stomatognathic system functions (chewing, swallowing, speech articulation and breathing), ie everything that is related to the muscles. Keywords: Mouth Breather. Mouth Orthodontics. Malocclusion. Speech. Breather. Mouth breathing syndrome. 8 SUMÁRIO p. LISTA DE FIGURAS 1. INTRODUÇÃO................................................................................................. 09 2. PROPOSIÇÃO................................................................................................. 11 3. REVISÃO DA LITFERATURA ........................................................................ 12 3.1 A síndrome do respirador oral ........................................................... 19 3.1.1 Conceitos e Definições ................................................................... 19 3.1.2 Fatores Etiológicos.......................................................................... 20 3.1.3 Ocorrência....................................................................................... 24 3.1.4 Sinais clínicos e principais alterações morfofuncionais.................. 26 3.1.5 Diagnóstico...................................................................................... 31 3.1.6 Tratamento e Interdisciplinaridade................................................. 31 3.1.7 Prevenção....................................................................................... 34 3.2 Abordagem Ortodôntica..................................................................... 36 3.2.1 Objetivos do tratameto ortodôntico na abordagem ao paciente respirador bucal................................................................................................... 36 3.2.2 Maloclusões associadas à ocorrência da síndrome do respirador bucal.................................................................................................................... 3.2.3 Correção ortodôntica das maloclusões.......................................... 38 44 4. DISCUSSÃO.................................................................................................... 50 5. CONCLUSÃO.................................................................................................. 54 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 55 9 1 INTRODUÇÃO Partindo-se do pressuposto de que a respiração nasal é algo fundamental para o pleno desenvolvimento do organismo, sendo também uma condição essencial para o estabelecimento de uma boa qualidade de vida, a observação de qualquer anormalidade, que resulte em alteração desta condição, pode acarretar em graves conseqüências para o desenvolvimento do organismo como um todo. Neste contexto, a respiração bucal é uma síndrome que pode atingir crianças e adultos, sendo uma intercorrência muito comum nos dias atuais, não somente no Brasil como em todo o mundo. Este tipo de intercorrência tem sido cada vez mais estudado nos últimos anos, tendo sido observada também uma crescente pesquisa no sentido da busca pela abordagem interdisciplinar para este tipo de ocorrência, visando não somente a correção das alterações dentoesqueléticas – por meio do tratamento ortodôntico – mas também agregando os conhecimentos de outras ciências, como a fonoaudiologia e fisioterapia, entre outras. Destarte, este trabalho visa mostrar os principais fatores associados à ocorrência de respiração bucal, as conseqüências desta anomalia para o desenvolvimento físico e psicológico de um indivíduo, as recomendações em relação ao tratamento desta anomalia, as principais ciências que podem, além da ortodontia, contribuir para a reabilitação destes pacientes, o importante papel da fonoaudiologia no processo de reabilitação destes indivíduos. No que tange ao objetivo deste estudo, destacaremos as principais características associadas à ocorrência da respiração bucal, tornando conhecidas suas principais causas e conseqüências, e destacando o que há de mais recente em relação à reabilitação destes pacientes, por meio da combinação entre ortodontia e outras especialidades, em especial a fonoaudiologia. A metodologia empregada será, basicamente, a revisão de literatura, através da consulta a fontes recentes de pesquisa, como artigos, periódicos e revistas cientificamente conceituadas. Não tendo o intuito de esgotar as discussões em relação ao tema, o presente estudo visa contribuir para que profissionais e estudantes possam compreender um pouco mais do que há de mais recente em termos de pesquisas não somente 10 nacionais, mas também internacionais em relação à reabilitação destes pacientes, tendo como proposta a combinação “tratamento ortodôntico” e “tratamento interdisciplinar”. 11 2 PROPOSIÇÃO O presente estudo tem como intuito informar sobre as características, as conseqüências e possibilidades de tratamentos para os pacientes portadores de respiração oral aos profissionais e estudantes nas áreas afins para que estes possam compreender um pouco mais do que há de mais recente em termos de pesquisas não somente nacionais, mas também internacionais em relação à reabilitação destes pacientes, tendo como proposta o tratamento ortodôntico associado a outras disciplinas como otorrinolaringologia, fisioterapia, psicologia, nutrição e em especial a fonoaudiologia. 12 3 REVISÃO DE LITERATURA A literatura tem relacionado a obstrução das vias aéreas, a permanência dessa obstrução e o desenvolvimento do complexo craniofacial. Acredita-se que a obstrução prolongada traz como conseqüência o surgimento de um quadro de respiração bucal, conduzindo a uma alteração desfavorável no complexo craniofacial, ocasionando o desenvolvimento de um conjunto de modificações funcionais, dento-alveolares e esqueléticas, apresentando-se clinicamente como mordida aberta postural, arco maxilar estreito, em forma de “V”, palato profundo e maloclusão de Classe II e a presença de mordida cruzada, mordida aberta anterior, interposição lingual. Os trabalhos desenvolvidos pela vasta literatura abaixo colacionados são base deste estudo, a saber: Straub, 1944 em estudo com crianças alérgicas constatou que 61% de sua amostra apresentavam constrição do arco maxilar, juntamente com vestíbulo-versão dos incisivos superiores. Emslie et al ,1952, relataram que a respiração bucal provoca alterações do desenvolvimento craniofacial e da oclusão dentária, através da desarmonia das forças musculares da bochecha, lábios e língua. Linder-Aronson & Bäckströn, 1960 compararam a oclusão dentária de 115 crianças com respiração bucal e nasal, verificando se a criança permanecia de boca aberta ou fechada, respectivamente. Realizaram também um teste de resistência nasal à respiração, que constituiu em registrar simultaneamente o fluxo de ar e o gradiente de pressão entre a nasofaringe e as narinas. As adenóides foram estudadas em telerradiografias de perfil. Nenhuma diferença ocorreu entre o grupo de respiradores nasais e os outros grupos, segundo os seguintes aspectos: sobremordida, inclinação do incisivo superior mais proeminente, largura do arco superior e oclusão lingual dos molares inferiores em relação aos superiores. 13 Sillman, 1964, em estudo longitudinal dos arcos dentários, utilizou uma amostra de 65 indivíduos leucodermas, acompanhados desde o nascimento até os 25 anos de idade. O estudo concluiu que as alterações nas dimensões de largura posterior foram significantes apenas durante o período do nascimento até os quatro anos de idade. Harvold (1968) atribuiu o típico estreitamento do arco palatino e postura de lábios entreabertos, a um desequilíbrio de forças entre a língua e a musculatura perioral e facial. O potencial para a disfunção existe quando o desequilíbrio muscular está presente. Ricketts, 1968 através da análise da telerradiografia em norma lateral descreveu o conjunto de alterações dento-esqueléticas associadas à respiração bucal: mordida cruzada posterior unilateral ou bilateral; mordida cruzada funcional unilateral, com desvio mandibular, para a mesial de um lado e para a distal do outro; mordida aberta anterior; perímetros dos arcos maxilares diminuídos; possível abertura do ângulo mandibular e condições de pseudoclasse III, em mordidas cruzadas bilaterais, com rotação anterior da mandíbula; estreitamento da cavidade nasal, etc. Linder-Aronson, 1970, demonstrou relação estatisticamente significativa entre obstrução das vias aéreas causadas por aumento do tecido adenoideano e certos padrões esquelético-dentais. Essas alterações incluíram rotação mandibular no sentido horário, posicionamento da mandíbula numa posição mais vertical e posterior e mordida aberta. Linder-Aronson, 1974 avaliaram crianças respiradoras bucais em período prévio e posterior à cirurgia de adenoidectomia, a fim de constatar as modificações morfológicas dentoalveolares ocorridas após o procedimento cirúrgico (alteração da inclinação dos incisivos superiores e inferiores, e mudança na largura da arcada superior). Os resultados demonstraram que as crianças submetidas à operação tiveram um aumento significantemente maior no ângulo dos incisivos superiores e inferiores, respectivamente, às linhas sela-nasio e mandibular em relação ao grupo 14 controle, assim como aumento significante da largura da arcada superior entre os primeiros molares. Schulhof (1978) demonstrou a importância do exame da via aérea faríngea no diagnóstico ortodôntico. Relatou um caso clínico de um paciente do sexo masculino de 12,5 anos que apresentava fissura palatina submucosa, a qual foi reparada por meio da faringoplastia, resultando na completa obstrução da via aérea respiratória nasal. Após cinco anos, observou-se o desenvolvimento de mordida aberta completa com 6º de abertura do eixo facial. Apontaram a respiração bucal como causa de vários problemas ortodônticos que incluem a maloclusão Classe II, mordida cruzada posterior, posição mais baixa da língua e problemas de crescimento vertical, podendo ser obstáculo para o sucesso do tratamento ortodôntico. Linder-Aronson, 1979 avaliou a presença de mordida cruzada ou tendência à mordida cruzada, assim como tendência para mordida aberta, em pacientes com obstrução nasal causada por hipertrofia adenoideana. Harvold (1979) fez um estudo em que um grupo de 10 macacos foram convertidos a respiradores bucais através da obstrução de suas vias aéreas superiores, durante um ano. Todos desenvolveram uma passagem de ar em forma de “v” com a língua que passou a exercer uma pressão tênue e constante nos incisivos mandibulares criando uma mordida cruzada anterior associada à mordida aberta, diagnosticada em todos os casos. Com a remoção da obstrução nasal, os casos de mordida cruzada anterior tenderam a reverter a um quadro oclusal normal. Harvold et al,1981, testaram hipóteses que relacionam a respiração bucal com possíveis alterações no complexo craniofacial e na dentição. Utilizaram uma amostra com 42 macacos, divididos em 21 pares, de acordo com a idade e com o sexo, mantendo o máximo de similaridade entre os animais. Obstruíram as narinas dos animais do grupo experimental, com tampões de silicone e, em cada um dos 42 animais, implantaram marcadores metálicos na maxila, na mandíbula e no crânio. Realizaram registros a cada três meses, durante o período experimental, e após a remoção dos tampões de silicone. Todos os animais do grupo experimental 15 apresentaram aumento na altura facial, na inclinação do plano mandibular e no ângulo goníaco, porém estas alterações foram mais evidentes no grupo que adotara uma postura mais inferior da mandíbula. Dados eletromiográficos mostraram um aumento no tônus dos músculos pterigóides lateral, medial e temporal anterior, nos animais que mantiveram a boca aberta. Gradativamente, algum tipo de maloclusão se desenvolveu: Classe II, Classe III, mordida cruzada e mordida aberta. Concluíram que as alterações faciais, esqueléticas e dentárias, associadas à respiração bucal, dependerão das adaptações dos músculos a este novo padrão de respiração. Joseph 1982, em revista de literatura aponta a freqüência das mordidas cruzadas e mordidas abertas anteriores, em pacientes com obstrução nasal e que desenvolveram respiração bucal. Ele também cita que a remoção das interferências pode permitir a normalização dos padrões de desenvolvimento do indivíduo. Bresolin et al 1983, por meio da análise de 45 crianças respiradoras bucais de etiologia alérgica, com suspeita de crescimento facial diferente do padrão normal, observou, entre outras alterações morfológicas, alteração da largura intermolares da maxila, que se apresentava mais estreita e associada com a alta prevalência de mordida cruzada posterior. Melsen et al em 1987 estudaram a relação entre o padrão de deglutição, o padrão respiratório e as diferentes maloclusões. Constituíram uma amostra de 824 crianças italianas (424 meninos e 400 meninas) com idades variando de 13 a 14 anos. Determinou-se o padrão respiratório, independentemente, por dois profissionais. Realizaram avaliação da postura labial com as crianças em posição relaxada. Avaliaram os desvios oclusais no sentido horizontal, sagital e transversal, bem como a presença de apinhamentos ou diastemas. A freqüência de respiração nasal foi de 86,6% e da predominantemente bucal de 5,5%, e 7,7%. As crianças respiradoras bucais exibiram maior freqüência de distoclusão, mordida aberta, mordida cruzada e apinhamentos. Blacklund (1988) chegou à conclusão de que há uma significativa correlação entre respiração bucal, a posição da língua e dos lábios. Não encontrou relação alguma entre respiração bucal, adenóides ou altura facial. O autor conclui ainda, que 16 não se pode estabelecer uma relação entre respiração, arco maxilar superior, inclinação dos incisivos e overjet. Moreira, 1989 avaliou 60 crianças de ambos os sexos, brasileiras, leucodermas, entre quatro e seis anos, sendo 30 portadoras de respiração bucal, e 30 com respiração normal. O autor investigou se na fase da dentição decídua, existe alguma alteração esquelética mensurável, associada à respiração bucal. Concluiu que há diferenças significantes entre a distância dos dois caninos e profundidade do palato entre os grupos avaliados. Não houve diferença significante para distância intermolares em ambos os grupos. Houve correlação entre a distância intermolares e a profundidade do palato para o grupo respirador bucal. Behfelt et al, (1989) constatou que na presença de uma mordida aberta anterior, deve ser avaliado o padrão mastigatório, o selamento labial e o mecanismo de respiração. Quando há presença de uma mordida aberta anterior, a língua é naturalmente posicionada para frente durante a deglutição, para haver o fechamento do espaço e compensar o selamento labial. Combinada com o aumento das tonsilas, a língua é deslocada para fora. Isto irá contribuir para haver uma pressão desnecessária sobre os dentes anteriores superiores e inferiores. Tourne (1990) acredita que a respiração bucal é um fator etiológico importante para at “síndrome do respirador bucal”, mas não descarta a idéia de que o componente hereditário é mais importante e que a respiração bucal seria apenas um fator agravante de todo um quadro. O autor refere ainda que não se pode provar uma relação de causa e efeito entre os fatores envolvidos. Pode-se, entretanto, fazer uma associação entre a obstrução nasofaringeana e as modificações esqueletais apresentadas nesses casos. Hulcrantz et al 1991, com uma amostra de 22 crianças portadoras de doenças respiratórias (associadas à obstrução tonsilar) durante o sono, detectou alta prevalência de maloclusões, principalmente relacionadas às mordidas abertas e cruzadas. Dois anos após a tonsilectomia, foi observado que 77% das mordidas abertas e que 50 a 65% das mordidas cruzadas bucais e anteriores foram normalizadas. 17 Champagne (1995) considera a mordida aberta anterior como um dos maiores problemas funcionais, quase sempre, é muito difícil corrigi-la, pois é um problema miofuncional relacionado a distúrbios respiratórios ou de deglutição. O autor também destacou que a postura da língua tem um papel importante na etiologia da mordida aberta. A teoria do equilíbrio sugere que pressões leves são responsáveis pelo movimento e posição dos dentes. Pedrazzi, 1997 relata que uma mordida aberta com padrão de crescimento no sentido horário, dificilmente tem sua origem relacionada somente ao fator genético, na maioria dos casos, a língua e a postura mandibular são as maiores coadjuvantes. Afirmou ainda que forças mal orientadas e respiração bucal são causas primárias de alguns dos problemas do desenvolvimento esquelético e que juntos manifestam-se como mordida aberta estrutural. A respiração bucal necessita de uma postura lingual baixa na cavidade bucal e uma mandíbula posicionada de forma mais ântero-inferior, para que com isso tenha uma maior passagem de ar. Quando um respirador bucal está mastigando há uma projeção lingual, onde forças são direcionadas contra os dentes anteriores para que se crie um selamento labial durante a deglutição. Há necessidade de uma forma excessiva dos músculos periorais, para o selamento do vestíbulo. A resultante dessa força e da postura lingual afeta o padrão de crescimento esquelético individual. A direção de crescimento e a configuração esquelética da mandíbula serão influenciadas indiretamente pelos meios respiratórios e diretamente pela posição da língua e postura mandibular. Yamada et al, 1997 observaram os efeitos da obstrução respiratória nasal artificialmente induzida no crescimento craniofacial em macacos jovens. Utilizaram 11 animais, sendo sete incluídos no grupo experimental e quatro no grupo controle. Em seguida, dividiram o grupo experimental em dois subgrupos: obstrução leve e obstrução severa. Avaliaram a função nasal respiratória em termos de resistência de fluxo aéreo nasal. Compararam as estruturas craniofaciais dos animais do grupo experimental e controle por meio de análises cefalométricas. Associaram a obstrução respiratória com a rotação mandibular para baixo, crescimento do côndilo para cima e para trás, ângulo goníaco divergente, mordida aberta anterior e presença de diastemas na região ântero-inferior. Estas mudanças apresentaram valores significantemente maiores do grupo experimental com obstrução respiratória 18 severa. Concluíram que a instalação da obstrução nasal antes e durante o período de crescimento da puberdade poderia resultar em deformidades craniofaciais permanente. Katherine em 1998 sugere que o clínico na avaliação do respirador bucal em exame intra-oral deve esperar encontrar o arco maxilar em “V”, aumento da abóbada palatina e mordida cruzada posterior associada à maloclusão dental Classe II. A etiologia da obstrução nasal causadora da condição deve ser diagnosticada e corrigida, e deste modo a intervenção ortodôntica apropriada pode ser realizada para impedir o crescimento facial vertical, através da expansão maxilar para corrigir a mordida cruzada posterior. Grabber et al (1999) demonstrou que os fatores epigenéticos e ambientais são de interesse na etiologia da mordida aberta. Fatores epigenéticos incluem postura, morfologia e tamanho da língua; padrão de crescimento esquelético da maxila e mandíbula, particularmente da mandíbula; e relação vertical das bases maxilares. A respiração nasal com distúrbios ou obstrução pode causar uma mudança na postura ou na função, tanto da língua quanto da mandíbula, o que pode levar a uma maloclusão de mordida aberta. Manganello et al, 2002 realizou uma pesquisa com 30 crianças entre 7 e 10 anos. Essas foram divididas em dois grupos de 15 crianças cada, sendo grupo I respiradores bucais e grupo II respiradores nasais. Foi possível realizar uma comparação entre os grupos I e II, com relação ao padrão de crescimento facial no sentido ântero-posterior e possíveis alterações dento-faciais através dos traçados cefalométricos. Verificou-se que 66,66% das crianças do grupo I apresentavam mordida cruzada posterior, sendo que em 33,33% desse total foi verificada a presença de mordida cruzada posterior bilateral. Mordida aberta anterior esquelética foi encontrada em 40% dos pacientes do grupo I caracterizada, em telerradiografia de perfil, por um aumento da altura facial ântero-inferior, ângulo goníaco obtuso e ramo mandibular encurtado. Lessa et al., 2005 fez um estudo com 60 crianças de 6 a 10 anos de Ribeirão Preto (USP-FO). Essas crianças foram divididas em dois grupos. Um grupo controle 19 com 30 crianças respiradoras nasais e um grupo experimental com 30 respiradoras bucais cujas vias aéreas estavam obstruídas. Foram avaliadas radiografias cefalométricas laterais de ambos os grupos que comprovaram maior inclinação mandibular (ângulo goníaco obtuso) nos respiradores bucais, seguidos de alterações no crescimento vertical como maior altura facial anterior inferior, ou seja, deslocamento da mandíbula no sentido horário (rotação para baixo e para trás) e menor altura posterior da face. 3.1 A SÍNDROME DO RESPIRADOR ORAL 3.1.1 Conceitos e definições Abinitio, devem-se ressaltar pareceres, a saber: Acrescentam os referidos: “Apenas as cavidades nasais que possuem as condições essenciais para o processo de filtragem das partículas e microorganismos presentes no ar, fazendo assim com que seja possível sua chegada até os pulmões na temperatura ideal e ainda favorecendo a oxigenação.” No tanger de Lima, 2003, p.16 (apud ARAGÃO, 1998): No mesmo passo Kazakevich & Kajihara (apud PARANHOS, CRUVINEL 2003,p.1): “A respiração nasal, condição para a boa qualidade de vida,é fundamental para o desenvolvimento do organismo.” Para Camargo, em publicação no ano de 2004, com título “Respiração: movimento de vida / Breathing: moviment of life, a respiração é uma função vital e que integra outros processos, interferindo diretamente no organismo como um todo. Além disso, é consenso entre vários autores a relação entre posição do corpo e 20 funcionalidade do Sistema Estomatognático, estando um dependente diretamente do outro para o desenvolvimento das suas funções vitais. No mesmo diapasão, Lima, em defesa de sua monografia, 2003, considera: “A partir do momento que este padrão fisiológico de respiração é substituído por um padrão de suplência bucal ou misto, tem-se então o chamado indivíduo respirador bucal. Na realidade, a partir do momento em que há uma modificação nesta condição natural, a própria natureza irá desencadear, por um princípio de sobrevivência, um padrão de respiração bucal.” Sopesando as citações acima Marques et al, 2010, p.438, afirmam: “A respiração é considerada como uma função vital do organismo, tendo seu desenvolvimento a partir do primeiro momento de vida logo após o nascimento.” “Sendo a respiração nasal uma função fisiológica, ela é necessária para que as estruturas orofaciais mantenham-se e desenvolvam-se saudavelmente”. Sopesando as citações acima Marques et al, 2010, p.438, afirmam: “A respiração nasal está associada a funções normais de mastigação, deglutição, postura da língua e lábios, além de proporcionar a ação muscular correta e que permite um adequado crescimento facial e desenvolvimento ósseo.” 3.1.2 Fatores etiológicos Lima, 2003, em sua monografia Síndrome do respirador bucal: abordagem fisioterapêutica, ainda destacou casos ligados à infecções repetitivas das vias aéreas superiores, má oclusão dentária, traumas faciais, hipertrofia das estruturas dos cornetos nasais tumores nasais como fatores etiológicos desencadeantes. Destarte, estudos de Oliveira 2001, bem como os acima referidos demonstraram que há uma classificação, de acordo com a etiologia das causas ligadas à respiração bucal. Conforme estes autores, basicamente, há 3 tipos de respiradores bucais, que são: 21 - respirador bucal orgânico: apresenta obstáculos mecânicos que podem ser nasais, retronasais e bucais. Tais obstáculos são diagnosticados clinica e radiograficamente. São exemplos a estenose nasal e a atresia maxilar, o retrognatismo, alteração de tônus, postura e tamanho da língua e outros. Pode-se descrever ainda a ptose lingual ou glossoptose provocada pela atresia mandibular; - respirador bucal funcional: geralmente são pacientes que já foram submetidos à tonsilectomia ou amigdalectomia mas ainda respiram pela boca, mesmo tendo o trato respiratório superior absolutamente permeável. Nestes pacientes são comuns os quadros catarrais repetitivos, característicos das rinites alérgicas; - respirador bucal neurológico ou impotente funcional: são pacientes que desencadeiam o quadro alterado de respiração em razão de algum tipo de disfunção neurológica, inclusive com eventuais alterações psiquiátricas. Ademais, no artigo Relação da oclusão dentária com a postura de cabeça e coluna cervical em crianças respiradoras orais, Costa, 2005, p.88, em seus estudos buscaram analisar as apresentações mais frequentes de postura da cabeça e coluna cervical e sua relação com o tipo de má oclusão dentária no plano sagital em crianças respiradoras orais. Foram avaliadas 177 crianças do Centro de Referência do respirador Bucal da Universidade Federal de São Paulo, com faixa etária entre 5 e 12 anos, sendo 95 do sexo masculino e 82 do feminino. Todas as crianças foram submetidas à avaliação otorrinolaringológica, alergo-imunológica, ortodôntica e fsioterápica. Os dados obtidos mostraram 41% de pacientes com má oclusão classe II, 37% com má oclusão classe I, e 7% com má oclusão classe III. Em todos os tipos de má oclusão no plano sagital, a postura protrusa de cabeça foi predominante, independentemente da faixa etária e do sexo. A coluna cervical apresentou curvatura normal, retificada ou com hiperlordose, nos pacientes portadores de má oclusão classe I e II. Naqueles com á oclusão classe III, a coluna cervical mostrou-se com curvatura normal ou retificada. Assim, os autores concluíram que a a posição de protrusão da cabeça é predominante no respirador oral, sem depender do tipo de má oclusão dentária no plano sagital, faixa etária e sexo. No artigo Etiology, clinical manifestatiosn and concurrent findings in mouthbreating children, Abreu et al, 2008,p.530, consideram que os quadros obstrutivos 22 estão relacionados à hipertrofia irredutível das adenóides e/ou amígdalas e aos desvios do septo nasal e rinites, manifestando-se de forma isolada ou associada. Referido artigo ainda destaca: “As adenóides estão presentes em todas as crianças imunologicamente sadias desde o nascimento, atingindo seu pico de crescimento entre os 4 e 5 anos e passam por um processo de atrofia que se completa em torno dos 10 anos. Em alguns casos, as adenóides podem aumentar de tamanho e causar a obstrução total ou parcial da respiração nasal. Do mesmo modo, em determinadas situações as amígdalas podem aumentar até o ponto de invadir a nasofaringe, ou ainda estenderse inferiormente para a região da hipofaringe. Assim, a hipertrofia das adenóides e/ou amígdalas, de caráter irredutível, está diretamente envolvida na fisiopatologia dos quadros de obstrução à respiração nasal, das otites médias, sinusites e nasofaringites, sendo também estes fatores considerados como a causa primária da desordem respiratória relacionada ao sono, comprometendo o desenvolvimento físico e cognitivo da criança. “ Acrescentam, ainda: “Dentre as rinites, a alérgica vem sendo apontada como uma das causas mais importantes para a instalação da síndrome do respirador oral crônica durante a fase de crescimento de uma criança, causando não somente alterações do desenvolvimento normal do esqueleto facial, mas também interferindo de forma significativa na saúde geral, no controle da asma e na qualidade de vida.” Destarte, deve-se considerar basicamente, que este é um processo inflamatório da mucosa nasal que resulta na obstrução nasal uni ou bilateral, com obstrução intermitente ou persistente a partir da hipertrofia dos cornetos inferiores, médios ou superiores. Do mesmo modo, conforme autores acima mencionados, os desvios do septo nasal são também intercorrências freqüentes nestes pacientes, e se originam no período pré-natal, no parto ou durante o crescimento. Entretanto, causam distúrbios respiratórios somente quando obstrutivos. Os estudos dos referidos autores buscaram investigar a etiologia, as principais manifestações clínicas e as alterações presentes em crianças de 3 a 9 23 anos, respiradoras orais, residentes na região urbana de Abaeté (MG). Para isto, realizaram um estudo com amostra aleatória representativa da população do município de 23.596 habitantes. Clinicamente, foram consideradas respiradoras orais as crianças que roncavam, dormiam com a boca aberta, babavam no travesseiro e apresentavam queixas de obstrução nasal freqüente ou intermitente. As crianças com diagnóstico clínico de respirador oral foram submetidas a endoscopia nasal, teste alérgico cutâneo e raio X do cavum, hemograma, contagem de eosinófilos, dosagem de IgE total e parasitológico de fezes. Os dados foram analisados utilizando o programa SPSS® versão 10.5. Os resultados do estudo indicaram que as principais causas da respiração oral foram: rinite alérgica (81,4%), hipertrofia de adenóides (79,2%), hipertrofia de amígdalas (12,6%) e desvio obstrutivo do septo nasal (1,0%). As principais manifestações clínicas do respirador oral foram: dormir com a boca aberta (86%), roncar (79%), coçar o nariz (77%), babar no travesseiro (62%), dificuldade respiratória noturna ou sono agitado (62%), obstrução nasal (49%) e irritabilidade durante o dia (43%). Conforme Marques, 2010, p.438: “A respiração bucal apresenta uma etiologia multifatorial, podendo ser de natureza obstrutiva, como no caso de hipertrofia das tonsilas palatinas, hipertrofia das adenóides, desvio de septo nasal, pólipos nasais, alergias respiratórias, sinusites, hipertrofias de cornetos, posição de dormir, aleitamento artificial; ou ainda decorrentes de hábitos bucais deletérios, tais como sucção digital ou de chupeta que, de acordo com a intensidade e freqüência, deformam a arcada dentária e alteram todo o equilíbrio facial.” Para Kazakevich & Kajihara, 2010,01: “A obstrução nasal pode ser provocada por infecções virais, bacterianas ou por agentes alérgenos, e pode ainda vir a se tornar crônica, nos casos ligados à hipertrofia das tonsilas palatinas (amídalas) ou das tonsilas faríngeas. Para estes autores, as doenças obstrutivas mais frequentes ligadas ao desencadeamento da respiração bucal são a rinite alérgica e a hipertrofia das tonsilas faríngeas. “ 24 3.1.3 Ocorrência Lima, 2003, p.20 (apud VINHA 2002) destaca: “A síndrome do respirador bucal atinge bebês, crianças e adultos indistintamente, com maior concentração em grandes centros urbanos e em países desenvolvidos.” Com o intuito de averiguar a incidência desta patologia no território brasileiro, para publicação do artigo Perfil da fala do respirador oral, Nishimura et al, 2009 realizaram um levantamento bibliográfico durante o ano de 2008, priorizando os estudos nacionais. A pesquisa foi realizada em 21 periódicos dos últimos dez anos, disponíveis no Portal Periódicos da CAPES, sendo 5 da área de fonoaudiologia, 1 de otorrinolaringologia, 6 de odontologia, 1 de ortodontia, 3 de pediatria, 2 de pneumologia, 2 de psicopedagogia, 1 de reumatologia e 2 de fisioterapia. Foi realizado um levantamento bibliográfico online, de também de monografias e dissertações revistas nacionais de fonoaudiologia não encontradas no Portal Periódicos da CAPES e de livros. Como conclusão, os autores constataram a escassez na literatura nacional dos últimos 10 anos principalmente sobre a fala dos respiradores orais, já que no total foram encontrados 38 estudos sobre respiração oral, mas somente 1 destes falava a respeito das alterações da fala nesses indivíduos. Marques, 2010, p.438 também, devido à escassez de trabalhos relatando a prevalência de respiradores bucais, realizaram um estudo com o objetivo de identificar a prevalência de respiradores bucais em crianças de uma escola do ensino fundamental da cidade de Londrina, no Paraná. Para tal, foram aplicados 496 questionários aos pais ou responsáveis das crianças de 1ª à 4ª série de uma escola fundamental, a fim de identificar respiradores bucais. Analise dos referidos autores salienta: “O questionário incluía questões sobre hábitos, sono, comportamento, alimentação, cuidados pessoais e respiração. Para comparar as variáveis entre respiradores bucais e nasais, foi utilizado o teste de Mann-Whitney e qui-quadrado. 25 Para medir o efeito da exposição das variáveis explicativas sobre o desfecho primário, foi utilizada regressão logística e sua magnitude foi calculada por meio do odds ratio. “ Os autores observaram que a prevalência de respiração bucal nessa população foi de 56,8%. A mediana de idade foi sete anos. Não houve diferença estatisticamente significante entre os gêneros, 49,1% masculino e 50,9% feminino. O modelo final de regressão logística identificou as variáveis baba, dorme bem (associação negativa) e ronca como fatores que predizem a ocorrência da respiração bucal. Desta forma, concluíram que a prevalência de respiradores bucais foi considerada alta, semelhantemente aos dados encontrados na literatura pesquisada. Ressalte-se que em Perfil dos pacientes atendidos no setor de fonoaudiologia de um serviço publico de Recife-PE, Barros & Oliveira 2010, p.128, tem-se: “Objetivo: traçar o perfil dos pacientes cadastrados e atendidos pelo setor de Fonoaudiologia de um serviço público de Recife. O estudo foi realizado a partir da coleta e análise dos dados referentes à origem do encaminhamento, faixa etária, gênero, queixas fonoaudiológicas de crianças, adolescentes, adultos e idosos, colhidos das fichas das entrevistas iniciais. A amostra foi constituída por todos os indivíduos cadastrados no setor de Fonoaudiologia de um serviço público da cidade de Recife, no período de julho de 2007 a maio de 2008. Os resultados indicaram que dos 251 pacientes atendidos, 12 foram excluídos da pesquisa, três destes obtiveram alta fonoaudiológica e nove não apresentavam os dados completos. Das fichas analisadas, houve um maior número de encaminhamento realizado por Pediatras (25%), em seguida Otorrinolaringologista (16%) e Clínico Geral (10%), sendo a maioria do sexo masculino (61%), com idade entre 0 a 11 anos de idade. De acordo com as queixas, as mais freqüentes foram de desvio fonológico (14%), seguidos de atraso de linguagem (11%), disfluência (10%) e respirador oral (8%). Em relação ao número de queixas apresentadas, 72% apresentaram uma queixa, 25% duas queixas e 2 % três queixas associadas. Assim, os autores concluíram que o perfil de pacientes atendidos no setor de fonoaudiologia de um serviço público da cidade de Recife, apesar de ser variado, é em sua maioria do sexo masculino, encaminhado 26 por pediatras, com alteração de voz e idade entre 0 a 11 anos, apresentando freqüentemente uma única queixa fonoaudiológica.” 3.1.4 Sinais clínicos e principais alterações morfofuncionais Afirma Ferreira, 1998 ,p.28, “As alterações craniofaciais e dentárias mais comuns são: crescimento craniofacial predominantemente vertical, ângulo goníaco aumentado (face longa), palato em ogiva ou inclinado para cima, dimensões faciais estreitas, hipodesenvolvimento dos maxilares, narinas estreitas ou inclinadas para cima, microrrinia com menor espaço na cavidade nasal, desvio de septo, Classe II, overjet, mordida cruzada ou aberta, protrusão dos incisivos superiores. Quanto as alterações dos órgãos fonoarticulatórios: hipotrofia, hipotonia e hipofunção dos músculos elevadores da mandíbula, alteração de tônus com hipofunção dos lábios e bochechas, lábio superior retraído ou curto, inferior evertido ou interposto entre os dentes, lábios secos e rachados com alteração de cor, gengivas hipertrofiadas com alteração de cor e freqüentes sangramentos, anteriorização da língua ou elevação do dorso para regular o fluxo de ar e propriocepção bucal bastante alterada.” E acrescenta: “Com relação às alterações corporais, as mais comuns cursam com deformidades toráxicas, olheiras com assimetria de posicionamento dos olhos, olhar cansado, cabeça mal posicionada em relação ao pescoço com conseqüências para a coluna, ombros caídos para frente, assimetria facial visível, principalmente em bucinador.” Ferreira, 1998, p.29, sopesando os estudos acima mencionados relata que as alterações das funções orais são basicamente a mastigação ineficiente e incoordenada com a respiração, deglutição atípica, alterações na fala e voz rouca ou anasalada. 27 Oliveira, 2001, destaca ainda a facilidade de engasgos pela incoordenação da respiração com a mastigação e problemas digestivos, fala imprecisa e excesso de salivação. Conforme Lima, 2003, quando a respiração é realizada pela boca, traz uma série de alterações ósseas e musculares, especialmente durante a fase de crescimento da face. Afirma Leite et al, 2003, p.75: “A síndrome do respirador bucal é caracterizada por trazer profundas alterações anatômicas que acarretam distúrbios respiratórios induzindo as crianças afetadas a utilizarem a via bucal para respirar. Entre estas alterações anatômicas, a presença da típica fácies adenoidiana é uma das mais comuns, caracterizada como uma situação em que o indivíduo sempre encontra-se com a boca aberta.” Ademais, é certo que outras possíveis alterações comuns nestes pacientes são: sinusites freqüentes, otites de repetição, aumento das tonsilas faríngea e palatinas, maior incidência de cáries, halitose e diminuição da percepção do paladar e olfato, alteração do sono, ronco, baba noturna, insônia, expressão facial vaga, sede constante, menor rendimento físico, incoordenação global, cansaço freqüente, dificuldades de atenção e concentração gerando dificuldades escolares , sendo este o entender de estudiosos consagrados. Salienta-se ainda, pareceres de vários estudiosos como Chiao et al em 2003, os quais destacaram em seu estudo que o alinhamento anatômico do ser humano é compreendido como uma resposta individual à força da gravidade, a forma como cada indivíduo reage aos constantes estímulos desequilibradores que ela provoca. Frente às alterações ocasionadas neste equilíbrio, pode ocorrer a obstrução nasal crônica, originando conseqüentemente uma respiraçäo oral suplementar. Os autores realizaram um estudo com o objetivo de verificar a influência de diferentes etiologias na postura típica do respirador bucal. Foram realizadas 176 avaliações posturais em crianças de 5 a 12 anos, no Centro do Respirador Bucal da Universidade Federal de São Paulo. As crianças foram divididas em grupos de acordo com as diferentes 28 etiologias da respiração oral. Os autores destacaram que a avaliação postural mostrou que a postura está sendo influenciada pelo fato da criança ser respiradora oral, porém, não pôde ser observado diferenças evidentes na freqüência das alterações entre os quatro grupos amostrais. Em pesquisa realizada no trabalho “Prevalência de respiradores bucais em crianças de idade escolar”, destacou-se que a respiração bucal traz conseqüências nocivas também de ordem escolar, já que com a diminuição da oxigenação do Sistema Nervoso Central (SNC), freqüentemente há um déficit de atenção que prejudica o desempenho da criança na escola. Para autores como Leite em A síndrome do respirador bucal como fator de risco para queilite actínica, 2003, uma das alterações mais comuns a estes indivíduos é a típica fácies adenoidiana, caracterizando um indivíduo sempre com a boca aberta. Conseqüentemente, estas alterações anatômicas conferem ao lábio inferior posição mais propensa à ação dos raios ultravioleta e das alterações actínicas decorrentes dessa exposição mais freqüente. Os autores relatam o caso clínico de uma criança de 11 anos com síndrome do respirador bucal e alterações labiais intensas de queilite actínica. Ao final, os autores defendem a idéia de que a síndrome do respirador bucal poderia ser um fator de risco a mais para o aparecimento da queilite actínica. Silva et al 2007, p.190, na publicação Análise comparativa da mastigação de crianças respiradoras nasais e orais com dentição decídua, ressalta como objetivo: “Investigar as possíveis alterações, causadas pelo modo respiratório, na mastigação de crianças com dentição decídua completa, respiradoras orais e nasais. Participaram da pesquisa 46 crianças (23 respiradoras nasais - RN e 23 respiradoras orais - RO) matriculadas em duas escolas públicas de Educação Infantil de São Caetano do Sul. Foi aplicado um questionário aos pais para coletar dados sobre a respiração das crianças, os quais foram relacionados aos achados da avaliação oromiofuncional que constatou o modo respiratório. A amostra foi dividida nos grupos RO e RN e realizada avaliação da mastigação de pão francês (por meio de observação direta e análise de vídeo-gravação). Os resultados indicaram que a 29 mordida frontal foi comum em 91,3% dos RN e 82,6% dos RO; mastigação bilateral alternada em 78,3% dos RN e 87,0% dos RO; movimentos verticais e rotatórios em 95,7% dos RN e 100% dos RO; tempo médio de mastigação de 24,10 seg. nos RN e 15,92 seg. nos RO; volume médio ingerido em 73,9% para ambos os grupos; ausência de alimento no vestíbulo bucal em 73,9% dos RN e 39,1% dos RO; ausência de ruído em 91,3% dos RN e 60,9% dos RO; lábios abertos em 4,3% dos RN e 56,5% dos RO; simetria dos músculos masseter e temporal em 100% nos dois grupos. Os autores concluíram que houve diferença estatisticamente significante na comparação dos modos respiratórios evidenciando que o modo interfere negativamente na mastigação do respirador oral quanto aos aspectos: tempo mastigatório, sobras de alimento na cavidade oral, postura dos lábios e ruído durante a mastigação.” Bianchini et al, 2009, p.38, no estudo Respiração oral: causa X audição, tiveram como objetivo: “Verificar a relação entre a etiologia da respiração oral e os diferentes tipos de alteração de audição. Para isto, coletaram 97 prontuários no Centro do Respirador Bucal da UNIFESP. As etiologias foram classificadas em: Hipertrofia de Adenoamígdala, Atopia, Atopia com Hipertrofia e Funcional. Os 97 pacientes realizaram exames audiométricos e foram considerados alterados aqueles que os limiares tonais (nas freqüências de 250 a 8 kHz) e ósseos (de 500 a 4 kHz) foram superiores a 20 dBNA com Gap aéreo-ósseo maior que 10 dB e com curva timpanométrica desviada apartir de -100dapa. De acordo com o grau de comprometimento, os tipos de perda foram classificadas como leve ou moderada. Na timpanometria, a curva A representou a normalidade; a curva B, Otite média e C, os casos de disfunção tubária. Como resultados, observaram que os limiares compatíveis à audição normal foram encontrados em 79,5% dos pacientes atópicos; 61,8% dos atópicos com hipertrofia; 57,7% dos com hipertrofia e em 100% dos respiradores orais funcionais. Através da correlação entre as etiologias e achados imitanciométricos verificou-se que em indivíduos atópicos prevaleceu a curva tipo C (29,5 %). Em pacientes atópicos tinham hipertrofia a curva mais encontrada foi a B (32,4%) e nos indivíduos com hipertrofia, somente, observou-se tanto curva tipo B como C, com idêntica prevalência de 21,8%. Todos os respiradores orais funcionais apresentaram curva timpanométrica tipo A. Assim, os autores concluíram que a 30 freqüência de respiradores orais sem alteração de audição é expressiva, independente da etiologia, porém os pacientes com hipertrofia apresentam maior suscetibilidade á alterações timpanométricas.” Marques et al, 2010, p.438, destacam que as alterações morfofuncionais se caracterizam pela boca aberta, hipotonia da língua e cianose intraorbitária. Pode apresentar outras alterações importantes, como apnéia noturna, hipoventilação e desenvolvimento anormal do tórax. A face pode apresentar características de alongamento, tez entristecida, lábios entreabertos e ressecados, bochechas caídas, língua hipotônica na posição inferior ou entre os dentes, olheiras, flacidez da musculatura facial, má oclusão dentária e palato estreito e profundo. Marques et al, 2010, p.438, destacam: “A respiração oral leva à protusão de cabeça, visando à manutenção da via respiratória pela necessidade de uma melhor respiração. Quando a cabeça se anterioriza, os ombros rodam inter- namente, deprimindo o tórax, o que leva a alterações no ritmo e na capacidade respiratória, pois o diafragma trabalha numa posição mais baixa e de forma assincrônica, o que ocasiona respiração rápida e curta e diminui a oxigenação. Outras alterações musculoesqueléticas são hipercifose torácica e hiperlordose lombar, escoliose, escápulas aladas, depressão submamária, abdomen proeminente, assimetrias pélvicas, hiperextensão de joelho, genu valgo, arco plantar desabado e hálux valgo.” Kazakevich & Kajihara, 2010, (apud GODOY, 2003 e ABREU, MORALES; BALLO, 2003), afirmam: “A má qualidade do sono é o principal fator que contribui para os problemas de atenção, uma vez que sucessivas noites mal dormidas provocam sonolência e cansaço, além de ansiedade, impaciência e agressividade, pelo esforço que a criança faz para tentar manter-se acordada.” Afirmam estudiosos como Marques 2010 e Lima, 2003, que esses indivíduos podem também apresentar baixa aptidão esportiva. Além disso, são indivíduos que geralmente tem preferência por alimentos pastosos, comem de boca aberta e costuma babar no travesseiro. 31 3.1.5 Diagnóstico Abreu et al, 2008, p.534 destacam: “O diagnóstico da SRO é clínico, e cabe ao pediatra, que na maioria das vezes tem o primeiro contato com a criança respiradora oral, fazer a anamnese detalhada, valorizando as informações sobre as manifestações clínicas para o diagnóstico precoce e intervenção adequada. Uma grande parcela dos responsáveis pelas crianças não relata espontaneamente distúrbios, tais como roncos, dormir com a boca aberta, babar no travesseiro e coceira no nariz, por julgarem que não teriam importância ou seriam normais.” Desta forma, verifica-se que estas manifestações clínicas são muito freqüentes na criança respiradora oral, e devem ser reconhecidas e consideradas no diagnóstico clínico da patologia. 3.1.6 Tratamento e interdisciplinaridade Oliveira, 2001, p.89, relata: “A atuação multidisciplinar nestes casos é de suma importância e necessidade, uma vez que se tratam de quadros complexos, onde é necessária a intervenção do médico (clínica, pediatria, otorrinolaringologia, alergologia), do odontólogo (ortodontia e ortopedia facial), do fonoaudiólogo, do fisioterapeuta, e em alguns casos do psicólogo e do psicopedagogo.” A importância da fisioterapia respiratória é tratada por Oliveira, 2001, como sendo uma especialidade que atuará com métodos para a avaliação das disfunções provocadas pela respiração bucal. Após a avaliação das funções respiratórias, a fisioterapia respiratória irá atuar corrigindo a respiração bucal através de um treinamento de reeducação respiratória, envolvendo exercícios globais, orientação e exercícios específicos de respiração que irão ocasionar a provável redução na resistência nasal à passagem do ar inspirado. Além disso, durante a respiração 32 nasal, a atividade aumentada dos músculos alares restringem a flexibilidade vestibular contra o aumento induzido pelo exercício físico, de modo que cada um desses mecanismos (mucosal e muscular) respiratórios promove uma desobstrução das vias aéreas superiores, especialmente da cavidade nasal. Pessoa & Costa, 2004, também destacam que, em razão das múltiplas alterações decorrentes da respiração oral, o trabalho deve ser multidisciplinar para com este paciente. Em seu artigo os autores destacam que o Ortodontista, entre outras coisas, neste tipo de intervenção, visa a busca pela harmonia na forma, ou seja, entre osso e dente, devido a máloclusão. Por outro lado, o Fonoaudiólogo é aquele profissional que visa a homeostase das funções do Sistema Estomatognático (mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração), ou seja, tudo o que envolve os músculos. Portanto, o tratamento do respirador oral, neste âmbito, necessita do trabalho conjunto da Odontologia com a Fonoaudiologia, visando, entre outras coisas, evitar a ocorrência de recidivas. No estudo desenvolvido por Held et al, 2008, os autores avaliaram se um programa de treinamento muscular ventilatório (TMV) (TMR) e da respiração nasal (TRN) possibilita uma modificação na FMV e no fluxo inspiratório nasal. Participaram deste estudo oito crianças do sexo masculino com idade de 5 a 12 anos e diagnóstico médico de respiração oral (RO), as quais foram submetidas a uma avaliação constituída de anamnese, exame físico, medidas da FMV, obtenção do pico de fluxo inspiratório nasal (PFIN) e exame postural. O programa de treinamento de 15 sessões baseou-se no TMV realizado no Nasomanômetro e no TRN realizado concomitantemente ao TMV, bem como em atividades com ênfase na respiração nasal. Após o treinamento, foi realizada uma reavaliação. Os resultados foram submetidos ao teste não paramétrico de Wilcoxon (p<0,05) e foram, de fato, observados aumentos significativos nas pressões inspiratórias e expiratórias máximas e inspiratória e expiratória nasal máximas e no PFIn indicando que, com a execução do TMR e do TRN, houve melhora na FMV e no fluxo respiratório nasal destas crianças. No artigo Adesão à terapia em motricidade orofacial no ambulatório de fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 33 os autores buscaram caracterizar o atendimento em motricidade orofacial no Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais quanto à adesão e sucesso da terapia, bem como comparar dados dos pacientes que buscaram atendimento ativamente no Ambulatório de Fonoaudiologia e dos pacientes encaminhados pelo Ambulatório do Respirador Oral da mesma instituição. Para isto, foram investigados 90 prontuários de todos os pacientes em alta ou desligados, que buscaram tratamento pelos Ambulatórios de Fonoaudiologia (Grupo MO) e do Respirador Oral (Grupo RO). Os resultados foram analisados empregando-se os testes Mann-Whitney e Qui-quadrado (5%). Os resultados indicaram que a duração da terapia foi equivalente a 6,0 meses, o número total de sessões foi igual a 17, o de atendimentos realizados 12 e o de faltas 4,5. Apenas 41,2% dos pacientes realizavam os procedimentos indicados pelo terapeuta. A conclusão do processo terapêutico foi majoritariamente o desligamento (73,3%), sendo a maior causa o excesso de faltas (24,4%). Os grupos diferiram quanto aos motivos de desligamento, havendo predomínio de faltas no grupo RO (p<0,01) e espera por outros profissionais no Grupo MO (p<0,01). Ocorreram associações significantes entre faltas e desligamentos (p<0,01) e adesão e desligamentos (p<0,01) no Grupo RO. Para os autores, em conseqüência dessas características, o sucesso da terapia com adaptação/adequação das estruturas e funções do sistema estomatognático não foi alcançado na maioria dos casos. Sopesando o parecer acima firmado, Brech et al, 2009, p.84: “Diante da complexidade de alterações que envolvem os pacientes que sofrem desta disfunção, observa-se a necessidade eminente de uma abordagem multidisciplinar. Especificamente no que diz respeito ao tratamento fisioterapêutico, algumas indicações básicas para estes pacientes incluiriam a cinesioterapia respiratória e motora; a hidroterapia e as técnicas de correção postural.” No mesmo sentido Nishimura et al, 2009, p.2: “Devido à diversidade de achados morfofuncionais destes casos, a abordagem multidisciplinar é essencial para a reabilitação do respirador oral.” No entender de Nishimura et al, 2009, p.2: 34 ”Constata-se que há uma grande necessidade de se realizar estudos específicos sobre a fala em respiradores orais, com o objetivo de averiguar a prevalência e identificar as alterações mais frequentes, visto que, em alguns casos, apenas a terapia miofuncional orofacial possibilita indiretamente e diretamente a melhora da fala, principalmente em crianças. Muitos respiradores orais procuram o tratamento fonoaudiológico para amenizar as consequências causadas por esta alteração, com isso a identificação das características de fala é útil para o fonoaudiólogo, tanto na avaliação como no atendimento destes indivíduos, possibilitando inclusive a elucidação do prognóstico”. Estudiosos como Marques et al, 2010, afirmam que o diagnóstico é essencial para que a prevenção e o tratamento sejam integrados com áreas da fisioterapia, fonoaudiologia, ortodontia, otorrinolaringologia e, às vezes, psicologia e nutrição, a fim de se tornar possível o alcance de resultados plenamente satisfatórios, ou seja, é muito importante uma abordagem multidisciplinar nestes casos. 3.1.7 Prevenção Oliveira, 2001, p.89, destaca: “A principal prevenção dessa síndrome é a amamentação, já que além de nutrir as necessidades emocionais da criança ainda propicia o adequado desenvolvimento das estruturas do sistema estomatognático. No processo de amamentação a criança estabelece o padrão correto de respiração, mantendo corretamente as estruturas orais, facilitando a evolução do sugar para o mastigar. Além disso, não executa movimentos de o simples movimento de sucção, mas sim executa “ordenha”, ou seja, estímulos neurofuncionais para o correto desenvolvimento da musculatura perioral para estabelecer um bom vedamento labial. Desenvolve também estímulos para o correto posicionamento mandibular, corrigindo o retrognatismo natural após o nascimento.” 35 Acrescenta ainda: “... a conscientização em relação a hábitos orais, como o uso de chupetas e mamadeiras inadequadas, chupar o dedo, sucção digital e de objetos, à alimentação (consistência dos alimentos) e à própria higiene ambiental são também fatores considerados importantes visando a prevenção da respiração bucal.” No mesmo sentido Oliveira, 2001, afirma ser relevante a orientação da população acerca da necessidade de detecção precoce, aliado a um eficiente tratamento multidisciplinar, como fatores importantes na reabilitação destes indivíduos Bernardino et al, 2009, p.165, em seus estudos buscaram: “... avaliar o conhecimento de gestantes atendidas no Ambulatório de Ginecologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia sobre o desmame precoce com a possibilidade da instalação de má oclusão, respiração oral e alteração motora oral, de modo a especificar os benefícios do aleitamento materno e as implicações do desmame precoce. A amostra totalizou 37 gestantes que responderam a um questionário estruturado, contendo perguntas objetivas sobre aleitamento materno. Os resultados mostraram que 100% das mulheres avaliadas consideram a amamentação essencial ao seu filho. Em 75,68% das entrevistadas desmamariam somente quando o bebê não quisesse mais mamar no seio. Com relação ao uso de chupeta e mamadeira pelo recém nascido, mais de 70% das gestantes não os ofereceriam. Assim, os autores concluíram que a maioria das gestantes avaliadas conhece a importância do aleitamento materno como fator essencial para a promoção da saúde do recém nascido e as conseqüências do desmame precoce. Embora as mães tenham conhecimentos básicos sobre aleitamento materno, questões como a definição de colostro, o significado do termo “Síndrome do Respirador Bucal” e quanto às formas de oferecer o leite armazenado ainda precisam ser melhor esclarecidas. 36 3.2 ABORDAGEM ORTODÔNTICA 3.2.1 Objetivos do tratamento ortodôntico na abordagem ao paciente respirador bucal Para Caricati, 2005, p.23: “A instabilidade pós-tratamento ortodôntico acompanha, de uma maneira geral, todas as más oclusões corrigidas, no que se refere à relação intra-arcos (rotações, apinhamentos, espaços) e inter-arcos (sobremordida, mordida aberta, mordida cruzada), causando resultados contrários aos inicialmente propostos pelos profissionais ortodontistas e almejados pelos leigos.” Assim, o ortodontista não tem seu trabalho atrelado exclusivamente ao tratamento das más oclusões, devendo primar também pela garantia da estabilidade da oclusão tratada. No entanto, esse ponto é caracterizado como o último estágio do tratamento ortodôntico, tal sua complexidade e imprevisibilidade. Para Morais et al (2006) na fase de contenção os procedimentos empregados irão variar de acordo com a técnica empregada e com a má oclusão do paciente. Em razão da grande diversidade de técnicas presentes na Ortodontia contemporânea, várias correções atualmente podem ser utilizadas nesse processo de finalização. Independentemente da técnica a que se recorra, é recomendado que o tratamento se inicie com a observação completa da arcada dentária para em seguida definir o mecanismo de correção mais apropriado. Dentre as características que devem ser observadas nesse processo, surgem algumas variáveis básicas: graus de rotações, intercuspidação dentária, linha média, trespasse horizontal, trespasse vertical, paralelismo radicular nos espaços das extrações, torque, funções da articulação temporomandibular. Todos esses dados devem ser criteriosamente anotados, a fim de traçar com precisão a estratégia necessária para a finalização do tratamento ortodôntico. Assim que a oclusão for considerada excelente, o aparelho deve ser removido e a contenção instalada seguidamente. 37 Relata Gimenez et al, 2007, p.86: “Os principais objetivos que dizem respeito à realização do procedimento de intervenção ortodôntica/ortopédica encontram-se na busca pelo restabelecimento precoce de uma oclusão ideal, proporcionando ainda o equilíbrio muscular e a harmonia facial, e conseqüentemente a estabilidade “ Os principais objetivos do tratamento ortodôntico e ortopédico segundo Massotti et al, 2008, p.21, visa: “.. ao restabelecimento de uma oclusão fisiologicamente adequada, bem como a uma relação estética harmônica entre as estruturas craniofaciais.” Assim, conforme artigo de Macedo et al, 2009 p.158, “Contenção em ortodontia”, o alcance da estabilidade da oclusão (a longo prazo) é a razão de ser da Ortodontia. Particularmente quanto ao alinhamento dentário inferior, a estabilidade revela-se imprevisível, sendo necessária a consideração de outros fatores, tais como a forma e a dimensão do arco dentário inferior. No tratamento ortodôntico, caso a forma do arco seja alterada sem critérios, há grande probabilidade de recidivas póscontenção – mais precisamente, de retornos à formação original. Assim, a manutenção da forma do arco pré-tratamento deve ser considerada como um excelente guia no processo de condução da mecânica ortodôntica, contribuindo de maneira significativa para a obtenção de estabilidade a longo prazo. Por outro lado, Macedo et al, 2009, relatam que não se pode afirmar que a manutenção ou a execução de pequenas alterações irá garantir a estabilidade, mesmo após transcorrido o período de contenção. Assim, é importante que sempre se considere a variabilidade individual de cada paciente, o que por sua vez torna mais difícil para o clínico predizer as conseqüências de um tratamento na qual tenha sido sustentada a forma original do arco. 38 3.2.2 Maloclusões associadas à ocorrência da síndrome do respirador bucal É certo que desde o século passado, a relação entre a respiração oral e o crescimento facial tem sido amplamente estudada. De uma forma geral, atualmente sabe-se que a respiração oral representa a mais potente e constante causa da má oclusão. Basicamente, as alterações na oclusão mais freqüentemente encontradas no portador de respiração oral podem ser resumidas em maloclusão de classe II, mordida aberta, mordida cruzada e apinhamento dentário. Porém, não significa que outros tipos de má oclusão não possam ser encontrados nestes pacientes. Desta forma, a má-oclusão de Classe II, baseado na classificação de Angle, ocorre quando a cúspide distovestibular do primeiro molar superior oclui com o sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior. Neste caso, a mandíbula encontrase em posição distal em relação à maxila. Dentro da classe II pode-se ainda ter outras classificações, como a divisão 1, que acontece quando no geral os incisivos superiores encontram-se em lábio-versão exagerada; e também a divisão 2, quando os incisivos superiores encontram-se em palato-versão . No caso de mordida aberta anterior, observa-se um processo normal de erupção, os dentes e o osso alveolar devem se desenvolver até encontrar os seus antagonistas. A mordida aberta é a falha dos dentes ao encontrar o antagonista no arco oposto, ou seja, não há oclusão localizada em alguns dentes e os restantes estão em oclusão. Basicamente, a mordida aberta anterior pode ser classificada como simples ou complexa, sendo que as simples apresentam apenas alterações nos dentes e nos processos alveolares, enquanto que as complexas apresentam alterações ósseas verticais. Já a mordida cruzada caracteriza-se pela inversão da oclusão dos dentes no sentido vestíbulo-lingual, ou ainda, uma relação bucolingual (labiolingual) anormal entre os dentes. Por outro lado o apinhamento dentário é o resultado da falta de harmonia entre o tamanho dos dentes e o espaço disponível para eles na arcada. Esse tipo de apinhamento é considerado simples e pode ser encontrado em 39 indivíduos com classe I ou classe II (relação molar). Um apinhamento dentário considerado complexo é aquele em que há um desequilíbrio esquelético. Relativamente a agenesia dos segundos pré-molares inferiores, Pinzan et al (2002), afirma ser freqüentemente observada na clínica ortodôntica, sendo que as opções mais usuais para o seu tratamento envolvem, geralmente, técnicas que possam permitir o fechamento dos espaços quando se observa apinhamento ânteroinferior e se admite alguma retração dos incisivos, ou mesmo a colocação de implantes, caso o perfil facial do paciente contra-indique a retração anterior inferior. De uma forma geral, a associação entre alguns tipos de má-oclusão e a agenesia dos segundos pré-molares inferiores pode dificultar o tratamento nestes casos, principalmente na hipótese de o paciente apresentar uma má-oclusão de Classe II, divisão 1, com ausência de apinhamento ântero-inferior. Destaca-se ainda entendimento de Lucato et al, 2003, p.10: “A má oclusão de Classe II foi descrita por Angle, no início do século XX, como sendo uma displasia ântero-posterior caracterizada pelo menor desenvolvimento mandibular em relação à maxila.” No entender de Lucato et al, 2003, a má oclusão de Classe II não possui uma única entidade clínica, mas figura como resultado de uma série de combinações, associando componentes dentários e esqueléticos. A abordagem de Martins et al (2004) destacam que a má oclusão de Classe II é caracterizada basicamente como uma discrepância anteroposterior maxilomandibular, na qual é possível encontrar um quadro de protrusão maxilar, retrusão mandibular ou até mesmo uma combinação de ambas, associadas ou não a diferentes graus de inclinações dentárias. Nos estudos de Costa et al, 2005, p.88, os mesmos observaram que 41% de pacientes que apresentavam respiração bucal apresentavam má oclusão classe II, enquanto que 37% apresentavam má oclusão classe I, e 7% com má oclusão classe III. 40 Conforme destacaram Gimenez et al, 2007, p.85, a má oclusão de Classe II – 1 é a intercorrência mais comum em indivíduos que procuram atendimento ortodôntico, sendo observada em 40% dos pacientes submetidos a tratamento. Ressalta-se que estudos relativos ao artigo Dimensões dos arcos dentários na má oclusão classe II, divisão 1, com deficiência mandibular em uma população escolar de Bauru, interior do estado de São Paulo, a análise facial evidenciou uma ocorrência de 15% no estágio de dentadura mista com discrepâncias esqueléticas acompanhando a Classe II, sendo que um contingente de 11,5% apresentam características peculiares da divisão 1, ao passo que outros 3,5% apresentam características da divisão 2. Enriquecendo os estudos supra mencionados Henriques et al, 2007, p.73, destacam que: “A má oclusão Classe II, 1ª divisão, foi classificada por Angle, em 1899, ao publicar na revista Dental Cosmos o primeiro método científico de diagnóstico e classificação das más oclusões, baseado essencialmente nas posições dentoclusais, definindo-se que o primeiro molar superior permanente era imutável em relação ao inferior e, a partir daí, determinando os 3 tipos de más oclusões no sentido ântero-posterior. A classificação de Angle, a despeito de ter sido pioneira, não levava em consideração as discrepâncias nos sentidos vertical, horizontal e transversal, nem as relacionava com as estruturas esqueléticas adjacentes. Foi definida por apresentar uma relação mesiodistal relativa deficiente dos arcos dentários, com todos os dentes inferiores ocluindo distalmente ao normal, produzindo uma desarmonia acentuada na região dos incisivos e nas linhas faciais. Nesta má oclusão, o arco superior apresenta-se atrésico e os incisivos superiores protruídos.” Segundo Gimenez et al, 2007, p.85, a má oclusão de Classe II, divisão 1 de Angle, é reconhecida atualmente como uma patologia caracterizada por apresentar diversas características específicas, sendo que a determinação do planejamento mais adequado para cada caso irá depender do problema específico do paciente, tendo como base tanto as evidências clínicas quanto as cefalométricas. 41 Em que pese os pareceres de estudiosos, Gimenez et al, 2007, conclui que esta má-oclusão classe II, tipo 1, apresenta etiologia multifatorial, sendo muitas vezes associada a problemas como atresia de maxila e mordida aberta. Os autores supra citados , 2007, alteração pode ser desencadeado p.85, ainda relatam que por uma alteração do esse tipo de relacionamento maxilomandibular, com protrusão maxilar, retrusão mandibular ou ambos (fator esquelético) ou ainda pela alteração no relacionamento dentário, quando há o posicionamento distalmente dos dentes inferiores em relação aos superiores (fator dentário). Pode-se ainda ser demarcada sua ocorrência pela combinação dos 2 fatores, situação esta encontrada mais comumente nos tratamentos clínicos. Observa-se ainda parecer de Izquierdo et al (2008), o qual destacam que na puberdade observa-se um período de profundas modificações biopsicossociais, enfrentada pelos indivíduos até alcançarem a maturidade sexual. Nesse período, ocorrem também as taxas de crescimento mais significativas da face, sendo um momento de grande interesse para o ortodontista, particularmente no manejo das desarmonias esqueléticas faciais. De uma forma geral, algumas crianças atingem a puberdade em uma idade anterior à média da população, sendo esse fenômeno intitulado puberdade precoce. O melhor momento para se indicar uma intervenção ortopédica na face deve ser de acordo com a idade óssea, inclusive nos casos de pacientes portadores de puberdade precoce, em que o crescimento puberal pode ser finalizado antes mesmo de completada a troca dos molares decíduos. De uma forma geral, no que diz respeito à localização das deficiências nesse tipo de má oclusão, estas podem ser classificadas 4 tipos fundamentais, quais sejam: protusão alveolar maxilar, protrusão basal maxilar, retrusão mandibular e micromandíbula. O parecer de Calheiros et al,2008, p.44, relata: “Ainda que a má oclusão de Classe II, divisão 1 de Angle possa ocorrer em torno de aproximadamente um terço da população, o seu prejuízo do ponto de vista estético talvez possa responder pela alta prevalência desse tipo de má oclusão entre indivíduos que procuram o tratamento ortodôntico.” 42 Posteriormente, conforme os autores acima mencionados, em 1997 novos estudos agregaram as principais características da má oclusão de Classe II, 1ª divisão, quando Ngan et al avaliaram longitudinalmente as principais alterações esqueléticas desse tipo de má oclusão, comparando-a com as ocorrências em jovens diagnosticados com Classe I. Como resultados, foi possível observar que não houve diferença significativa entre os dois grupos na dimensão da base do crânio. Já a maxila apresentou-se bem posicionada em relação à base do crânio (SNA) nos jovens com Classe II, entretanto, verificou-se uma retrusão mandibular (SNB) e um comprimento mandibular (Ar- Gn) e do corpo mandibular (Go-Gn) diminuídos, quando da comparação entre os grupos. O ângulo do plano mandibular e o eixo Y de crescimento encontraram-se aumentados na Classe II, contribuindo para uma retroposição da mandíbula. A relação maxilomandibular (ANB) mostrou-se exponencialmente maior frente à amostra de Classe II aos 7 anos e manteve-se aumentada até a puberdade. Diante desses dados, os autores concluíram que o padrão esquelético da Classe II se estabelece precocemente, sendo mantido até a puberdade, caso o indivíduo não seja submetido à intervenção ortodôntica precocemente. Silva et al, 2009, p.120, acreditam que: “É difícil determinar a real incidência de má oclusão Classe II na população mundial, analisando metodológicos somente empregados, a literatura assim como disponível, a formação já que dos os critérios pesquisadores, apresentam variação em diversos desses estudos, sem falar nas interferências étnicas que se podem vislumbrar nos estudos. Segundo os autores, isto é evidente ao se observar que é possível encontrar nas diversas literaturas uma variação entre 8,6% e 33,7% de incidência. O mesmo ocorre para a divisão 2 também apresenta índices variados, ficando na marca de 0,6% a 6,7%.” Acrescentam ainda: “No Brasil, estimativas realizadas por ortodontistas indicam uma possível ocorrência na ordem de quase 50%, nas dentaduras decídua e mista, ao levar-se em consideração a chave de caninos decíduos ou de molares, na dependência do estágio do desenvolvimento da oclusão.“ 43 No mesmo sentido Silva et al, 2009, relatam que, a má oclusão Classe II refere-se a um erro sagital, que ocorre entre os arcos dentários, podendo manifestar-se nas faces normais (Padrão esquelético I) e nas faces com deficiência mandibular (Padrão esquelético II). Conforme Silva et al, 2009, em suma, essa intercorrência é muito freqüente na população, tanto no padrão esquelético tipo I quanto no padrão esquelético II, conforme exemplificado na figura 1 de seu artigo “ Dimensões dos arcos dentários na má oclusão classe II, divisão 1, com deficiência mandibular”. Salienta-se ainda que, no mesmo artigo afirmam que estudos de peso comprovaram que a má oclusão de Classe II, divisão 1, de Angle, com fatores esqueléticos associados, resultaria de um prognatismo maxilar, um retrognatismo mandibular ou ainda da conjugação de ambos os fatores, quando não observadas alterações dimensionais. Além disso, tal tipo de intercorrência pode cursar com 6 possibilidades no sentido ântero-posterior e 5 no vertical, ou ainda pela combinação das mesmas, permitindo conseqüentemente um plano de tratamento que deve, sobretudo, focar-se na contenção do crescimento ântero-posterior da maxila ou na liberação do crescimento da mandíbula, ou alternativamente na associação dos dois fatores. Ainda acrescentam os referidos estudiosos que, em relação aos possíveis fatores externos associados à atresia do arco dentário superior (dentre os quais a respiração bucal, hábitos prolongados de sucção, postura e função inadequadas de língua), os autores definem que não se pode, de todo, omitir uma possível adaptação transversal do arco dentário superior ao inferior, ou seja, a ocorrência de um mecanismo natural de compensação transversal do arco dentário superior ao retroposicionamento do arco dentário inferior, um fenômeno morfológico inerente à síndrome da Classe II, divisão 1, padrão esquelético II. No que tange às dimensões transversais do arco dentário superior na má oclusão Classe II, divisão 1, tem-se o parecer dos referidos autores abaixo descrito: “A redução das dimensões transversais do arco dentário superior na má oclusão Classe II, divisão 1, também tem suscitado grande polêmica em relação à sua possível etiologia estrutural. Alguns autores sugerem que essa atresia ocorra 44 devido ao envolvimento da base óssea, portanto, com caráter esquelético, enquanto outros defendem que a atresia do arco dentário superior está associada apenas ao envolvimento dentário, uma vez que não são encontradas diferenças na largura alveolar entre mulheres adultas com relação de Classe I e Classe II.” 3.2.3 Correção ortodôntica das maloclusões Salienta-se que atualmente, conforme Garbui et al (2002),os aparelhos funcionais ativadores de tratamento (categorias Bimler, Planas, Bionator, Frankel, Herbst, dentre outras) têm gradualmente se transformado em modalidades de grande aceitação. O tratamento da má oclusão de Classe II de Angle com retrognatismo mandibular beneficia-se, com efeito, do uso desses tipos de aparelhos, os quais de fato podem interferir no crescimento, o que faz com que sejam direcionados principalmente ao período pré-puberal. Entendem Lucato et al,2003, p.10, que nos dias atuais a correção da Classe II tem despertado grande interesse por parte dos ortodontistas, especialmente em relação à utilização de aparelhos removíveis. Oppenheim em 1936 foi o pioneiro no sucesso da correção da Classe II divisão 1, utilizando ancoragem extrabucal. Posteriormente, vários foram os profissionais que buscaram desenvolver novos aparelhos e novas técnicas visando à correção da Classe II, demonstrando, por meio de estudos diversos, os efeitos dentários e ortopédicos possíveis de serem obtidos com a utilização destes aparelhos. Ainda acrescentam que atualmente, sabe-se que a correção da Classe II pode ser realizada com o emprego de sistemas de forças, tais como a utilização de fios, cursores e elásticos, tendo o intuito de produzir a distalização dos molares e assim o correto engrenamento em Classe I. Nos casos em que a extração dos prémolares não está indicada, a meta do tratamento passa a ser a distalização dos molares por meio de dispositivos auxiliares. 45 Ademais, além das abordagens mencionadas, conforme autores supra mencionados, diversas outras técnicas e aparelhos auxiliares têm sido desenvolvidos visando à correção da Classe II, seja esta esquelética, dentária ou a combinação de ambas. No entanto, de uma forma geral, as técnicas de aparelhos extrabucais - como o Kloehn, utilizado para movimentar dentes individualmente ou em grupo - são objeto de grande rejeição por parte dos pacientes. Desse modo, pesquisas recentes têm procurado buscar meios para que, com a utilização de aparelhos fixos inter ou intramaxilares, possa ser possível a correção da má oclusão, sem a dependência da colaboração do paciente. No que tange aos aparelhos fixos referidos autores afirmam que as principais variações encontradas atualmente são o Herbst, Jasper Jampers, aparelho de protração mandibular e o Eureka Spring, capazes de produzir efeitos ortodônticos e ortopédicos. Há também, nesse mesmo grupo, os aparelhos que requerem uma pequena parcela de colaboração dos pacientes, como os elásticos com cursores e o arco de Wilson. Há ainda os que visam a distalizar os molares, com força e ancoragem intra-arco, sendo os mais conhecidos o Jones Jig, o aparelho de Nance Modificado com molas superelásticas, a Barra Transpalatina, os magnetos repelentes e o Pendulum, todos ainda menos dependentes ainda da colaboração do paciente. As formas de se tratar uma má oclusão são várias, segundo Martins et al (2004), dentre elas destacando-se a ortopedia funcional dos maxilares, indicada nos casos em que há a presença de retrusão mandibular, nos pacientes em fase de pleno crescimento. No que tange ao tratamento da má oclusão de Classe II, Martins et al (2004), relata serem várias, dentre elas destacando-se a ortopedia funcional dos maxilares, indicada nos casos em que há a presença de retrusão mandibular, nos pacientes em fase de pleno crescimento. Conforme Bastos & Mucha, 2004, de uma forma geral os dispositivos e aparelhos funcionais são utilizados especificamente com o intuito de corrigir e amenizar as discrepâncias sagitais ântero-posteriores da Classe II divisão 1, levando 46 inclusive ao desenvolvimento de um “novo” padrão morfológico, que por sua vez pode envolver diferentes tecidos orofaciais, como a língua, os lábios, os músculos faciais e da mastigação e o periósteo. Assim, dependendo do tipo de aparelho funcional utilizado, maior ênfase incidirá sobre algumas dessas estruturas. De uma forma geral, esse novo padrão morfológico irá envolver também todo um processo de reorganização das posições dos dentes sobre as arcadas, promovendo o aprimoramento da oclusão e também a articulação e o relacionamento das arcadas. Nessas teorias funcionais, é consenso que os dispositivos móveis, ao serem utilizados por um determinado período de tempo, podem provocar uma alteração na atividade dos músculos da face, gerando uma sutil desorganização dos padrões neuromusculares atuantes e reorganizando-se por meio da posição guiada com base no dispositivo usado, promovendo alteração da posição da mandíbula e uma mudança estrutural dela própria, com seu côndilo e ossos adjacentes. Conforme Magno et al, 2006, em Tratamento interceptativo da classe II, 1ª divisão com aparelho funcional- Bionator de Balters: “O diagnóstico e a terapia da má oclusão de classe II, divisão I, que apresenta retrusão mandibular, isto nos pacientes que se encontram em plena fase de crescimento, devem ser realizados por meio de aparelhos funcionais, o que tem sido alvo de discussão na literatura ortodôntica.” Nos casos em que a má oclusão cursa com envolvimento esquelético, principalmente em pacientes em idade de crescimento, afirmam Gimenez et al,2007, que o tratamento mais indicado é a utilização de recursos ortopédicos, sendo esta uma opção viável, segundo o critério da precocidade da intervenção. No mesmo diapasão, Gimenez et al, 2007, p. 2, destacam que a utilização dos recursos ortopédicos, quando há necessidade de correção das displasias ântero-posteriores das bases ósseas, instala a possibilidade de alterá-las tanto de forma espacial quanto morfologicamente, redirecionando o crescimento da maxila e conseqüentemente liberando o seu potencial intrínseco de crescimento, gerando assim uma situação de maior estabilidade e equilíbrio. 47 Para os referidos estudiosos, havendo uma indicação correta da melhor mecânica a ser empregada em cada caso específico, será possível o alcance de uma oclusão satisfatória e estável, por intermédio da melhoria do perfil facial, evitando inclusive eventuais extrações dentárias e até mesmo tratamentos ortodônticos corretivos, gerando diminuição do tempo total de tratamento. Entrementes autores consagrados como Calheiros et al, 2008, levando em consideração a grande percentagem de pacientes que são tratados apresentando esse tipo de má oclusão, seria de supor que já houvesse um consenso acerca dos melhores recursos terapêuticos, visando ao tratamento das anormalidades, bem como um consenso acerca do momento ideal de atuação. No entanto, o que se observa é que, apesar de já terem sido descritas inúmeras técnicas e protocolos para o tratamento da deformidade, o tema ainda é considerado alvo de intenso debate, seja no tocante à possibilidade de modificar um padrão desfavorável de crescimento, seja no tocante à melhor época de obtenção de efeitos. Portanto, é certo que a Ortodontia possui uma infinidade de aparelhos visando ao tratamento e a correção das más oclusões, porém, ainda existe muita controvérsia em relação aos efeitos dento esqueléticos e tegumentares, bem como em relação ao mecanismo de ação das diferentes abordagens terapêuticas . Calheiros et al, 2008, p.44, em levantamento bibliográfico consistente sobre o tema, destacaram que, em linhas gerais, são dois os principais tipos de abordagens no tratamento da má oclusão de Classe II, divisão 1, para pacientes em fase de crescimento. O tratamento em 2 fases é executado, inicialmente, em pacientes préadolescentes (fase pré-puberal), tendo o principal objetivo de proporcionar a correção da discrepância esquelética e da relação de molar, bem como a melhora dos trespasses horizontal e vertical, e em certos casos ainda o alinhamento dos incisivos. Nesse tipo de tratamento, devem ser usados inicialmente aparelhos ortopédicos ou funcionais, devendo logo em seguida ser complementado por uma segunda etapa, em que o paciente já se apresenta na fase da dentição permanente, recorrendo-se nesta fase ao aparelho fixo, a fim de se obter o aprimoramento da oclusão. 48 Os mesmos autores ainda afirmam outro tipo de abordagem, onde o paciente recebe o tratamento em única fase, com o profissional iniciando o procedimento corretivo já na fase de surto máximo de crescimento, e realizando simultaneamente as correções esqueléticas e dentárias aplicáveis. Segundo Gonçalves, 2008, p.1 “A má-oclusão de classe II, divisão 1ª, com retrusão mandibular em crianças na fase de crescimento ativo pode ser efetivamente tratada com aparelhos ortopédicos funcionais. Estes aparelhos são utilizados com o objetivo de corrigir as alterações morfológicas dos ossos maxilares e dos dentes e adequar a função muscular da face neste tipo de má-oclusão. Ainda acrescenta: “O tratamento precoce da má oclusão de classe II, divisão 1, com o uso de aparelhos ortopédicos funcionais, pode-se prevenir a ocorrência de traumas nos incisivos superiores em razão do “overjet” aumentado, permitindo conseqüentemente um crescimento normal das estruturas esqueléticas, dentárias e musculares da face e melhora a auto-estima na infância e o prognóstico do tratamento na adolescência.” Destacam ainda que há uma ampla variedade de aparelhos ortopédicos funcionais que podem ser utilizados na correção da má oclusão de classe II, divisão 1, proporcionando os mais variados efeitos sagitais, transversais ou verticais, de acordo com a necessidade de cada caso específico, nas estruturas dentoesqueléticas. O tipo de aparelho utilizado será determinante para o efeito buscado, podendo se recorrer às categorias de fixo ou removível. Os removíveis podem ser rígidos ou elásticos, abertos ou fechados, em sua região anterior, apresentando ou não escudos vestibulares, molas de coffin ou torno expansor, e presença ou não de acrílico na oclusal de molares e na lingual de incisivos inferiores. Entre os aparelhos ortopédicos funcionais removíveis mais utilizados nesses casos, estão o ativador de Andresen-Häulp, o bionator de Balters, Fränkel II, Twin-block, o aparelho de Bimler e o ativador elástico aberto de Klammt. 49 No mesmo sentido Faria & Faria , 2009, p.1, relatam que para os tratamentos das más oclusões, estes podem ser realizados de diversas formas, utilizando várias técnicas e filosofias. Nesse intuito, podem ser utilizados os aparelhos fixos, removíveis e os ortopédicos funcionais. Tais aparelhos são confeccionados em ambiente laboratorial e devem ser minuciosamente planejados, visando a uma perfeita adaptação clínica. 50 4 DISCUSSÃO De fato, a respiração é um processo natural e vital do organismo humano, responsável por integrar uma série de outros processos, e que por isso interfere no organismo de uma forma geral, refletindo-se no desenvolvimento e na própria qualidade de vida do indivíduo. Corroborando com a opinião de Lima, 2003, na realidade quando este equilíbrio fisiológico acaba sendo substituído por um padrão de suplência bucal ou misto, observa-se todo um complexo sistema de compensação, com resultados em outros sistemas, visando assim a sobrevivência do indivíduo. Todos os autores pesquisados consideraram que a respiração bucal é uma patologia multifatorial. Na visão de Felcar et al, 2010, as principais causas são de ordem obstrutiva, ou seja, hipertrofia das tonsilas palatinas, hipertrofia das adenóides, desvio de septo nasal, pólipos nasais, alergias respiratórias, sinusites, hipertrofias de cornetos, posição de dormir, aleitamento artificial; ou mesmo em razão de hábitos bucais deletérios, como sucção digital ou de chupeta, capazes de causar a deformação da arcada dentária. Kazakevich & Kajihara, 2010 fizeram referencia à possíveis causas ligadas a infecções virais, bacterianas ou agentes alérgenos, sendo na maioria das vezes aguda nestes casos, ou crônica quando ligada à hipertrofia das tonsilas palatinas (amídalas) ou das tonsilas faríngeas. Já Lima, 2003 complementaram ainda com possíveis causas relacionadas a má oclusão dentária, traumas faciais, hipertrofia das estruturas dos cornetos nasais e até mesmo tumores nasais. Na realidade, a classificação, em relação à etiologia, mais completa foi a apresentada por Oliveira, 2001 e Lima, 2003, que consideraram que os respiradores bucais podem desenvolver este quadro quando apresentam desequilíbrios de ordem orgânica, funcional ou neurológica. Em relação à ocorrência, na visão de Lima, 2003, esta síndrome pode atingir desde bebês até adultos de forma indistinta, observando-se uma maior concentração de indivíduos acometidos em grandes centros urbanos e em países desenvolvidos. Especificamente a nível de território brasileiro, Nishimura & Gimenez, 2009 e Felcar et al, 2010 concordaram ao afirmar que muito pouco há na literatura científica acerca da prevalência desta patologia. No estudo desenvolvido por Marques et al (2010), a prevalência encontrada por estes autores foi de 56,8%, 51 sendo 49,1% para o sexo masculino e 50,9% para o feminino, considerando esta prevalência muito alta. Já em relação aos sinais clínicos e principais alterações morfofuncionais observadas nestes indivíduos, corroborando com a visão de Lima, 2003, as alterações são tanto ósseas quanto musculares, ocorrendo em especial durante a fase de crescimento facial. Corroborando com esta visão, Felcar et al, 2010, destacaram que as alterações morfofuncionais são relacionadas à boca aberta, hipotonia da língua e cianose intraorbitária, com a face podendo apresentar características de alongamento, tez entristecida, lábios entreabertos e ressecados, bochechas caídas, língua hipotônica na posição inferior ou entre os dentes, olheiras, flacidez da musculatura facial, má oclusão dentária e palato estreito e profundo. Ferreira, 1998, complementaram afirmando que observa-se o hipodesenvolvimento dos maxilares, narinas estreitas ou inclinadas para cima, microrrinia com menor espaço na cavidade nasal, desvio de septo, Classe II, overjet, mordida cruzada ou aberta, protrusão dos incisivos superiores. Do mesmo modo, as alterações dos órgãos fonoarticulatórios são hipotrofia, hipotonia e hipofunção dos músculos elevadores da mandíbula, alteração de tônus com hipofunção dos lábios e bochechas, lábio superior retraído ou curto, inferior evertido ou interposto entre os dentes, lábios secos e rachados com alteração de cor, gengivas hipertrofiadas com alteração de cor e freqüentes sangramentos, anteriorização da língua ou elevação do dorso para regular o fluxo de ar e propriocepção bucal bastante alterada. Ferreira, 1998 e Felcar et al, 2010, concordaram que as alterações corporais mais comuns são as deformidades toráxicas, olheiras com assimetria de posicionamento dos olhos, olhar cansado, cabeça mal posicionada em relação ao pescoço com conseqüências para a coluna, ombros caídos para frente, assimetria facial visível, principalmente em bucinador. Corroborando com Leite et al, 2003, o sinal clínico mais comum sem dúvida é a presença da típica fácies adenoidiana, ou seja, a situação em que o indivíduo encontra-se sempre com a boca aberta. Por outro lado, pode haver conseqüências em outras áreas da vida do indivíduo. Autores como Ferreira, 1998 e Felcar et al, 2010, concordaram com a afirmação de que esta condição gera dificuldades de atenção e concentração, ocasionando dificuldades escolares. Na visão dos autores supra, 2010, isto ocorre em razão da diminuição da oxigenação do Sistema Nervoso Central (SNC), gerando o déficit de atenção que prejudica o desempenho da criança na escola. Já na visão 52 de Kazakevich & Kajihara, 2010, isso é decorrente da má qualidade do sono destes indivíduos, já que as sucessivas noites mal dormidas provocam sonolência e cansaço, além de ansiedade, impaciência e agressividade, pelo esforço que a criança faz para tentar manter-se acordada, o que é perfeitamente passível de compreensão em razão da gravidade destes casos. Para Felcar et al, 2010 e Lima, , 2003, isto também é refletido pela baixa aptidão esportiva destes indivíduos. No tratamento e reabilitação dos pacientes que sofrem desta síndrome, observou-se que diversos autores apontaram para a eminente necessidade de uma abordagem interdisciplinar, visando a obtenção de resultados mais satisfatórios e plenos. Essa visão foi consenso entre os autores Felcar et al, 2010, Oliveira, 2001, Nishimjura & Gimenez, 2009, Brech et al, 2009; Pessoa & Costa, 2004 e Bernardinho Junior & Sousa Neto, 2009. Na visão de Felcar et al, 2010, o tratamento deve integrar as especialidades de fisioterapia, fonoaudiologia, ortodontia, otorrinolaringologia e, às vezes, psicologia e nutrição. Corroborando com este ponto de vista, Oliveira, 2001, também destacaram a necessidade de intervenção do médico (clínica, pediatria, otorrinolaringologia, alergologia), do odontólogo (ortodontia e ortopedia facial), do fonoaudiólogo, do fisioterapeuta, e em alguns casos do psicólogo e até mesmo de psicopedagogos, dependendo dos casos. Brech et al, 2009, indicaram também a possibilidade de uso de técnicas fisioterapeuticas, como a cinesioterapia respiratória e motora; a hidroterapia e as técnicas de correção postural. Especificamente em relação à contribuição da fonoaudiologia para o tratamento destes casos, na visão de Pessoa & Costa, 2004, o fonoaudiólogo é o profissional que irá contribuir proporcionando melhora na homeostase das funções do Sistema Estomatognático (mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração), ou seja, tudo o que estiver relacionado aos músculos. Corroborando com estes autores, a intervenção do especialista nesta área é de suma importância, em combinação com a ortodontia, visando a plena reabilitação do paciente e a prevenção à ocorrência de recidivas. Corroborando ainda com Nishimura & Costa, 2009, na realidade, em razão da diversidade de achados morfofuncionais, a abordagem multidisciplinar é algo, sem dúvida, essencial para a reabilitação destes casos, e, neste contexto, o papel do fonoaudiólogo é essencial para amenizar as conseqüências causadas por todas as alterações impostas pela respiração bucal ao longo dos anos, e a contribuição deste profissional também se mostra de grande 53 importância para que se possa estabelecer um prognóstico mais adequado em cada caso em específico. No que tange à abordagem ortodôntica nestes casos, Gimenez et al, 2008, concordam que esta deve ter como objetivo sempre a busca pelo restabelecimento precoce de uma oclusão ideal, proporcionando também o equilíbrio muscular e a harmonia facial, e conseqüentemente a estabilidade. Na visão de Martins, 2004 e Faria & Faria, 2009, as maloclusões devem ser corrigidas, caso sejam as causas principais destes problemas, ou mesmo se resultantes do distúrbios previamente estabelecidos. Na visão destes autores, a escolha da melhor forma e técnica de tratamento da maloclusão irá depender de uma detalhada avaliação diagnóstica. Para Cavalheiros et al, 2008, em relação a este assunto, na realidade não existe um consenso em relação ao melhor tipo de tratamento destas anormalidades, e que, apesar de já terem sido descritas inúmeras técnicas e protocolos para o tratamento da deformidade, o tema ainda é considerado alvo de intenso debate, seja no tocante à possibilidade de modificar um padrão desfavorável de crescimento, seja no tocante à melhor época de obtenção de efeitos. Por certo, conforme destacou Henriques et al, 2007, observa-se uma grande infinidade de aparelhos visando o tratamento e correção das más oclusões, mas também muita controvérsia acerca dos efeitos dentoesqueléticos e tegumentares destes. 54 5 CONCLUSÃO Conclui-se que no tratamento e reabilitação de pacientes que sofrem da síndrome do respirador bucal, observa-se uma eminente necessidade de uma abordagem interdisciplinar, que tem como intuito a obtenção de resultados mais satisfatórios e plenos. De uma forma geral, esse tratamento deve integrar as especialidades de odontologia, ortodontia, medicina, fonoaudiologia, fisioterapia, otorrinolaringologia, e até mesmo psicologia, nutrição, entre outros. Na abordagem ortodôntica, o objetivo passa pela busca do restabelecimento precoce de uma oclusão ideal, proporcionando também o equilíbrio muscular e a harmonia facial, e conseqüentemente a estabilidade. A escolha da melhor forma e técnica de tratamento da maloclusão irá depender de uma detalhada avaliação diagnóstica. Especificamente em relação à contribuição da fonoaudiologia para o tratamento destes casos, conclui-se que este profissional é o encarregado de proporcionar a melhora na homeostase das funções do sistema estomatognático (mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração), ou seja, tudo o que estiver relacionados aos músculos. Ainda, o papel do fonoaudiólogo é essencial para amenizar as conseqüências causadas por todas as alterações impostas pela respiração bucal ao longo dos anos. Desse modo, a intervenção do especialista nesta área é de suma importância, em combinação com a ortodontia, visando a plena reabilitação do paciente e a prevenção à ocorrência de recidivas. 55 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, R.R.; ROCHA, R.L.; LAMOUNIER, J.A.; GUERRA, A.F.M.. Etiologia, manifestações clínicas e alterações presentes nas crianças respiradoras orais. Jornal de . 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