ANÁLISE DAS VARIÁVEIS ESPACIAIS DA SAÍDA DE AGARRE EM PRATICANTES DA MODALIDADE DE NATAÇÃO Marcelo Alves Costa (PIBIC/CNPq-UEL), Greisy Kelli Broio Rosa, Rosana Sohaila Teixeira Moreira; Fábio Luis Bordini; Inara Marques (Orientadora) e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/CEFE/Gepedam Palavras-chave: saída de agarre, natação, cinemática, biomecânica. Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar praticantes da modalidade de natação, por meio da análise cinemática, para analisar as variáveis espaciais. Para tanto, foram avaliados 6 sujeitos universitários com idade entre 22 e 27 anos, de ambos sexos, praticantes da modalidade natação. Como instrumento de avaliação utilizou-se da análise cinemática. As variáveis analisadas foram a distância horizontal de vôo, o ângulo de saída e a entrada na água. Para a distância horizontal de vôo foi de 2,69° ± 0,29, o ângulo de saída de 14,78° ± 5,03 e para o ângulo de entrada na água de 37,98° ± 4,77. A literatura sugere que os indivíduos que apresentam maiores ângulos de entrada de água tendem a proporcionar menores distâncias de vôo. Observando os valores individuais, destacamos o resultado do sujeito 1, que apresentou o maior ângulo de entrada (43,21º) e a menor distância horizontal de vôo (2,37º), confirmando, portanto, a hipótese desse estudo. Introdução O desempenho na natação é determinado por vários fatores, dentre os quais está a capacidade de executar as diferentes tarefas técnicas, cujo papel é imprescindível na natação competitiva. Segundo Hay (1981), essas tarefas técnicas são estabelecidas pelo desempenho de, especialmente, três domínios: a saída, o nado e a virada. Destaca-se, então, o primeiro domínio técnico, a saída, que segundo Palmer (1990), marca o início de todas as provas na natação. O seu objetivo é impulsionar o nadador o mais longe possível, com maior velocidade, no menor tempo e com uma orientação favorável à retomada do nado. Uma boa saída garante uma vantagem inegável, cuja técnica pode interferir no resultado final de uma prova de velocidade, na qual uma saída eficiente pode representar, aproximadamente, 10% do tempo total consumido (BLANKSBY; NICHOLSON; ELLIOT, 2002). A maioria dos estudos relacionados à saída buscou verificar qual seria a melhor técnica: a saída de agarre “grab star” ou a saída de atletismo “track star”. Segundo Hay (1981), o intuito destes trabalhos seria verificar qual tipo de saída é a mais eficiente. No entanto, são poucos estudos relacionados ao aperfeiçoamento das ações técnicas. Na busca de uma melhora significativa no desempenho dos nadadores, é que pesquisadores vêm desenvolvendo e aprimorando procedimentos para a coleta e análise de variáveis, que podem ser obtidos por meio de métodos da biomecânica como, por exemplo, da análise cinemática. Assim, entendendo que a saída é um ponto importante em provas de velocidade, e que a análise cinemática é um instrumento que pode auxiliar aos técnicos e professores a compreenderem todos os elementos e fases que compõem esta habilidade, é que o objetivo deste estudo foi avaliar as variáveis espaciais da saída de agarre em praticantes da modalidade de natação. Materiais e métodos Amostra Participaram deste estudo 6 sujeitos universitários com idade entre 22 e 27 anos, sendo 4 do sexo feminino e 2 do masculino, praticantes da modalidade natação. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando com a utilização das imagens. Instrumentos e procedimentos Os materiais utilizados foram: uma câmera de vídeo da marca SONY, modelo HDR HC5, com freqüência de 30 quadros por segundo, montada sobre um tripé, posicionada perpendicularmente ao plano de movimento; um calibrador bidimensional, com as dimensões de 1m X 1,79m com marcadores reflexivos a cada 0,50m, fitas mini dv, fitas crepe e isolante. O experimento foi realizado na piscina das dependências do Centro de Educação Física e Esporte/UEL. O local de realização da tarefa foi marcado com uma fita adesiva e a filmadora foi posicionada perpendicularmente a 7,70m de distância do local marcado e a 0,71m de altura, de modo que toda a execução pôde ser capturada. Para a captura das imagens, foram fixados na pele no hemicorpo direito sobre os pontos anatômicos: cabeça do quinto metatarso (1), maléolo lateral da fíbula (2), epicôndilo lateral do fêmur (3), trocânter maior do fêmur (4), centro articular da articulação do acrômio (5), côndilo lateral do úmero (6), processo estilóide da ulna (7), vértice da cabeça (8) e a protuberância mentoniana (9) pequenos marcadores reflexivos com alta aderência e com um diâmetro de aproximadamente 2 cm. Após todos os marcadores terem sido afixados, o sujeito direcionava-se para a baliza e se posicionava para realização do salto. Ao sinal do pesquisador, o individuo realizava o salto. Foram realizados três saltos para cada individuo, porém somente o segundo foi, posteriormente, digitalizado. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 Variáveis analisadas As variáveis de análise foram a distância horizontal de vôo (DV), o ângulo de saída (AS) e o ângulo de entrada na água (AE), obtidas a partir do plano sagital, por meio do modelo biomecânico de avaliação cinemática 2-D. Análise dos dados As imagens foram editadas para definição de um ponto zero para todos os indivíduos, sendo o início determinado dois quadros antes do primeiro sinal de movimento do participante e o fim no primeiro contato corporal com a água. As imagens foram digitalizadas e analisadas através do programa Ariel Performance Analysis System (APAS versão 1.4). Resultados e discussão Os dados referentes às variáveis analisadas serão apresentados utilizando-se dos resultados da média e desvio padrão dos valores angulares encontrados. Os resultados apresentados na tabela 1 sugerem que houve uma grande variabilidade nos índices relativos à distancia horizontal de vôo (DV), ângulo de saída (AS) e ângulo de entrada na água (AE), destacando a maior variabilidade, conforme os resultados do desvio-padrão, para o ângulo de saída. Tabela1. Valores individuais da distância de vôo (DV) horizontal, ângulo de saída (AS) e ângulo de entrada (AE). Sujeitos DV (m) AS (º) AE (º) 1 2,37 6,96 43,21 2 2,89 19,91 42,21 3 3,18 16,59 39,71 4 2,53 8,87 37,70 5 2,60 16,59 30,78 6 2,57 15,65 34,28 2,69 ± 0,29 14,78 ± 5,03 37,98 ± 4,77 De acordo com os resultados, observou-se um valor médio de 14,78º ± 5,03 para o ângulo de saída do bloco. Este resultado é congruente aos resultados encontrados por Hubert, et al. (2005) que, ao analisar a diferença entre as técnicas de Agarre e Track Start, verificou um ângulo de 11,1º ± 0,6 para a técnica de agarre. De acordo com Groves e Roberts (1972), o ângulo de saída apontado como “ótimo” seria de 13º de projeção para que os indivíduos alcançassem a velocidade horizontal máxima. Já para o ângulo de entrada na água, o valor médio foi de 37,98º ± 4,77. Cipolli (2005), em seu estudo, encontrou valores de 39,86 ± 5,29 para o ângulo de entrada, bem próximos, portanto, aos encontrados neste estudo. Maglischo (1999) destaca que o ângulo de entrada na água vai influenciar no tempo de Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 deslizamento, ou seja, na fase submersa, e que, quanto menor for esse ângulo, mais tempo será despendido nesta fase, devido ao alinhamento aerodinâmico. A variação considerada como ideal é de 30º a 40º com a superfície da água. Com relação à distância de vôo, segundo Miller et al. (2002), apresenta uma relação de interdependência com o ângulo de entrada na água, ou seja, maiores ângulos tendem a proporcionar menores distâncias de vôo. Tal fato, pode ser analisado no sujeito 1, cujo resultado apresentou o maior ângulo de entrada e a menor distância horizontal de vôo. Assim, com base nos resultados, pode-se concluir que os sujeitos que apresentam ângulos menores de saída do bloco e maiores de entrada na água, apresentam valores menores na distância horizontal de vôo. Conclusão Os resultados indicaram que, de fato, uma saída eficiente pode interferir no resultado final de uma prova de velocidade. Do ponto de vista técnico, os resultados convergem com a literatura e apontam para a definição daqueles que apresentam ângulos menores de saída do bloco e maiores de entrada na água, apresentam valores menores na distância horizontal de vôo, potencializando, assim, o desempenho em uma prova de velocidade. REFERÊNCIAS BLANKSBY, B. A.; NICHOLSON, L. G., ELLIOT, B. C. Biomechanical analysis of the grab, track and handle swimming starts: an intervention study. Sport Biomechanics, v. 1, p. 11-24, 2002. CIPOLLI, E. A. C., Análise Cinemática da Saída na Natação através de um Sistema Bi-Dimensional,73f. Dissertação (Mestrado), Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, Guaratinguetá, 2005. GROVES, R., ROBERTS, J.A. A further investigation of the optimum angle of projecion for the racing start in swimming. The Research Quarterly, v.43, n.2, 1972. HAY, J. G. Biomecânica das técnicas desportivas. 2. Ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981. HUBERT; M., SCHUTZ; G. R., SILVEIRA; G. A., RUSCHEL; C., ROESLER, H. Comportamento de variáveis biomecânicas da saída na natação: comparação de diferentes técnicas e nados, http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 90 - Diciembre de 2005. MAGLISCHO, E.W. Nadando ainda mais rápido, São Paulo, Manole, 1999. MILLER, M.; ALLEN, D.; PEIN, R. A kinetic and kinematic comparison of the grab and track starts in swimming. Book of Abstracts of IXth World Symposium of Biomechanics and Medicine in Swimming. Saint-Etienne, 2002. PALMER, M. L. A Ciência do Ensino da Natação, São Paulo, Manole, 1990. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009