CISTATINA A Cistatina C é uma proteína não-glicosilada de baixo peso molecular (13,36 Kda), inibidora da proteinase de Cistina e envolvida no processamento de pró-hormônios e no catabolismo do colágeno. Sua função de inibir a protease tecidual apresenta importância no estudo da doença de Kawasaki, da aterosclerose e de aneurismas de aorta1, patologias nas quais encontramos uma deficiência de Cistatina C. No entanto, atualmente, a maior importância de sua determinação sérica ou plasmática decorre de sua alta sensibilidade na avaliação do índice de filtração glomerular. Esta alta sensibilidade deve-se ao fato de a Cistatina C ser produzida de forma constante pela maioria das células nucleadas, sua produção não ser influenciada por processos inflamatórios ou massa muscular e não ocorrerem variações com o sexo do paciente. Devido ao seu baixo peso molecular e à carga positiva, a Cistatina C é livremente filtrada pelo glomérulo renal e, então, reabsorvida e metabolizada no túbulo renal proximal, não ocorrendo secreção renal ou extra-renal. Logo, a determinação da Cistatina C sérica reflete exclusivamente a filtração glomerular e seu aumento no soro significa uma redução dessa taxa de filtração. Realizamos um estudo comparativo com 52 pacientes, entre Cistatina C , creatinina sérica e clearence de creatinina, no qual observamos ótima correlação entre eles. No estudo de pacientes com insuficiência renal aguda de qualquer causa, indivíduos transplantados e na avaliação da rejeição de transplantes, a Cistatina C demonstrou ser um marcador mais rápido e mais sensível que a creatinina sérica. Apesar de a creatinina ser largamente utilizada e ser de baixo custo, somente apresentará elevações quando a filtração glomerular reduzir-se em mais de 50%. Ao contrário da Cistatina C, a creatinina apresenta um alto grau de variabilidade relacionada ao sexo, à idade, à massa corporal e a fatores dietéticos. Em pacientes transplantados, a Cistatina C é um marcador acurado da função renal, demonstrando ser também mais sensível, em comparação à creatinina sérica, em detectar reduções agudas da filtração glomerular2. Uma atenção especial deve ocorrer em pacientes transplantados em uso de glicocorticóide como imunossupressor, pois uma influência dose dependente é sugerida em vários estudos3. O uso de altas doses de glicocorticóides pode induzir o aumento da Cistatina C sérica, independentemente da taxa de filtração glomerular, devendo, nesses casos, a dosagem de Cistatina C ser avaliada criteriosamente, já que ainda não existe na literatura um valor de referência para esse grupo de pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1 – Gupta-Malhota M.; Levine D. M.; Cooper R. S. Decreased Levels of the Elastolytic Enzyme Cysteine Protease in Acute and Subacute Phases of Kawasaki Disease. Cardiology 2003; 99 (3): 121-5; 2 – Le Bricon T.; Thervet, M.; Legendre C.; Erlich D. Changes in Plasma Cystatin C after Renal Transplantation and Acute Rejection in Adults. Clinical Chemistry 1999; 45 (12): 2243-2249; 3 – Rish L.; Herklotz R.; Blumberg A. Effects of Glucocorticoid Immunosuppression on Serum Cystatin C Concentrations in Renal Transplant Patients. Clinical Chemistry 2001; 47 (11): 2055-2058.