REPORTAGEM
Ser
ou não ser
COVER?
Assim como todos os músicos anônimos que desejam formar uma banda
enfrentam dificuldades, os grupos covers também, muitas vezes, desafiam o
preconceito. Veja os obstáculos, as vantagens e conheça melhor os artistas
que se dedicam a interpretar e regravar sucessos já consagrados
Osiel Rangel
[email protected]
Q
ual a vantagem de regravar músicas que já fizeram sucesso na voz de outros músicos? O certo é que, cada vez mais
cresce o número de artistas anônimos que procuram a
fama e reconhecimento se apresentando como cover. O público,
por sua vez, aceita muito bem o trabalho desses artistas quando
feito de forma profissional. Para ser cover, conforme a opinião de
Johnny Morrison, vocalista e formador da banda 5TO1, que interpreta sucessos do The Doors, não é necessário ser fisicamente
igual ao artista, porém, é preciso ter talento e respeitar o músico
do qual você será cover.
A banda, que será oficializada como a cover latina do The
Doors esse ano, faz cerca de 70 shows por mês. De acordo com
Johnny, a dificuldade inicial consistiu em achar músicos com
talento e iniciativa para integrar o grupo. “No começo, também precisamos bancar alguns gastos, correr atrás de shows.
Nada cai do céu. É preciso arrumar integrantes que, além de
serem habilidosos, acreditem no grupo”, afirma o vocalista. De
acordo com Johnny, o 5TO1 não enfrenta nenhum tipo de
preconceito na caminhada, “pelo contrário, o pessoal curte saber que no Brasil há um cover oficial do The Doors” diz. Entretanto, nem sempre é assim. De qualquer forma, o respeito pela
banda original e o amor pelo que se faz, aliado ao profissio-
92 www.backstage.com.br
nalismo e talento, podem render o sucesso e a realização profissional tão almejados por todos. “Escolhemos ser cover porque
podemos nos sentir como aquele artista por algum momento.
Podemos levar a tradição do músico que obteve êxito em sua
carreira para o público fiel, ou não, que não poderia vê-lo pessoalmente”, conclui Johnny.
Há aproximadamente 14 anos, Paulo Mano vem se dedicando a
interpretar as músicas do Raul Seixas. Com um timbre de voz único e
semelhança física impressionante, ele emociona platéias do Brasil inteiro. Como possui um vasto repertório a ser explorado, Paulo mistura
grandes clássicos com canções menos conhecidas pelo público, fazendo com que o seu show se transforme num verdadeiro espetáculo.
É praticamente impossível, em função do seu longo tempo de
carreira, listar os eventos de que o cantor já participou. São bares,
casas noturnas, praças públicas e encontros no Brasil inteiro. Paulo
explica que o mercado dos grupos cover está em crescimento pelo
simples motivo de que o cachê cobrado por um artista que não é o
‘original’, é mais barato e, em alguns casos, a apresentação é de boa
qualidade. Para ele, a principal dificuldade em ser um artista cover
é a concorrência, e só vencem os que mostram um trabalho sério e
profissional. “Não dá para ficar rico sendo um cover no Brasil, mas o
cachê ajuda nas despesas”, destaca.
REPORTAGEM
“Hoje nós temos exemplos de algumas bandas e cantores covers que se
destacam por mostrar um trabalho muito profissional como The Police Live
Stage, U2 Cover, Iron Maiden Cover,
Ozzy Cover, Elvis Presley, e Rita Lee”,
afirma Marco Grecco, produtor da On
Stage e integrante da banda paulista
Rolling Stones Live Cover. Marco explica
ainda que, para uma banda cover ter
sucesso, é necessário ser original, profissional, disciplinado e ter direcionamento no trabalho. Sua banda realiza,
em média, de seis a oito shows por mês.
Marco procura valorizar o trabalho da
banda cover e salienta que o cachê cobrado é competitivo e que a banda só se
apresenta se valer a pena. O grupo já
participou de eventos para empresas e
Foto: Paulo mano / Divulgação
É preciso
ter profissionalismo
Banda 5to1
Paulo Mano
reportagens para a TV Bandeirantes –
no Dia Mundial do Rock – e no Programa TV Fama da Rede TV, numa re portagem sobre o show dos Rolling Stones
em Copacabana na turnê Bigger Bang Tour.
Marco, apesar de muitas levarem o trabalho a sério, os empresários que as contratam não pensam da mesma forma. Para
ser cover, é preciso estar preparado para
casas de show que não têm infra-estrutura adequada para uma boa apresentação, para que não queiram pagar o valor
do cachê cobrado e até levar calote.
Marco diz ainda que sempre foram alvos
de preconceito, mas, mesmo assim, eles
Ser artista cover
não é fácil!
São inúmeras as dificuldades enfrentadas por bandas cover. De acordo com
www.backstage.com.br 93
REPORTAGEM
continuam a apresentação de shows. E
acrescenta que “é um modo de ter a banda ou artista, para quem não pode assistir
o original”. Ao falar de mercado, ele diz
que, no geral, está em expansão e que as
oportunidades, principalmente em São
Paulo, estão escassas, mas que, no interior
das cidades e no Rio Grande do Sul há
mais chances, onde ele acredita que o
cover tem um reconhecimento maior.
Já o empresário da banda U2 Boy
Cover, José Carlos Vanzolini, diz que o
mercado em geral não está muito
bom, pois além da existência de mui-
U2 Boy Cover
tos concorrentes, existem muitas bandas que praticamente tocam de graça.
Com isso, deixam de lado o profissionalismo e atrapalham aqueles que fa-
zem um trabalho mais sério, que pagam vários encargos, como por exemplo, para o sindicato.
A banda U2 Boy é formada por músicos profissionais que apresentam um repertório sempre renovado, incluindo
músicas em versões inéditas e diversos
temas do cinema. Os cuidados com o
visual dos integrantes e com a iluminação são cuidadosamente planejados.
Utilizam recursos como filmes, clipes e
imagens perfeitamente sincronizados
em telões. Com o surgimento da música
eletrônica, ficou mais difícil ainda, por-
Astros do rock reinventam os Beatles
Danielle Kiffer
Eles já são famosos, consagrados
como músicos no Brasil, e, por paixão
à música e um empurrão do destino,
eles inovaram e reverteram um pouquinho o caminho seguido por muitos
em busca da fama. George Israel,
Guto Goffi, Nani Dias e Rodrigo Santos
se uniram e formaram Os Britos, em
referência aos Beatles.
Tudo começou muito por acaso. Os
músicos foram convidados pelo produtor do Circo Voador, Alexandre Rossi, o
Rolinha, em 1994, para um projeto em
homenagem aos Beatles durante o lançamento do filme “Backbeat” que conta
a história dos quatro rapazes de
Liverpool. A partir daí, pela química presente entre os quatro artistas e a grande
aceitação do público, os Britos seguiram adiante com muito sucesso.
94 www.backstage.com.br
“Na verdade, não somos uma banda
cover dos Beatles. Fazemos releituras deles
como ninguém. Temos personalidade própria, tocamos Beatles com alma de Stones.
Aonde chegamos, plugamos e tocamos,
seja elétrico ou acústico, o espírito Brito está
estabelecido. Não tocamos igual aos
Beatles, temos uma química de banda que
é muito própria, o que nos dá uma linguagem particular. Afinal, você sabe o que é
ser um Brito? É antes de tudo, se divertir.
Fizemos versões com zabumba, bandolin,
baixolão, triângulo e sotaque nordestino-irlandês, o que nos traz três características:
somos únicos, não temos os cabelos iguais
aos deles e somos a pior banda de Beatles
do mundo, se formos levar o quesito cover
em questão, mas somos, com certeza, os
mais espontâneos e divertidos”, fala
Rodrigo Santos.
Mesmo com um início bem despretensioso, os Britos têm tido êxito em todos os
lugares e públicos por onde se apresentaram. No Leblon, na Lapa e até na Inglaterra e na Irlanda. O príncipe Andrew,
irmão do príncipe Charles, da família real
britânica, quando esteve no Brasil, também viu o show do grupo e gostou muito,
de acordo com George Israel. “E o embaixador da Inglaterra se esbaldou em
nosso show em Joinville”, afirma.
A relação dos músicos com as bandas que tocam sucessos do Kid Abelha e Barão Vermelho é amistosa. “Algumas bandas covers do Kid Abelha
já se corresponderam comigo. Os trato com o devido respeito, afinal, estão
tocando nossas músicas, devem gostar bastante” diz. “As bandas que tocam Barão são ótimas. E olha que não
é fácil tocar músicas nossas!”, ressalta Rodrigo.
Qual a receita para fazer sucesso?
Nessa questão, Nani Dias é enfático. “Primeiro, a banda precisa compor uma boa
canção, depois gravar com qualidade e
requinte de produção. O terceiro passo é
ter grana para comprar espaço nas rádios, um bom clip e conquistar muitos fãs
para convencer o resto das pessoas de
que o negócio é bom mesmo”, afirma.
Fácil não é, mas com o exemplo de tantas
bandas que conquistaram o tão almejado sucesso, pode-se comprovar que não
é impossível. Mãos à obra!
Foto: Marco studio / Divulgação
REPORTAGEM
Marco Grecco
que nesse tipo de evento o custo é bem
baixo e não exige tantos equipamentos.
De acordo com Vanzolini, para a apresentação de uma banda cover são necessários figurino e equipamentos de
som que ofereçam um áudio mais próximo do original.
A banda de rock inglesa, Os Beatles, surgiu no final da década de
1950. Formada por John Lennon, Paul
McCartney, George Harrison e Ringo
Star, no início dos anos 60, fizeram
fama, popularidade e possuem notoriedade até hoje. Por isso, podemos encontrar muitas bandas que fazem um
tributo a estes ídolos. No Rio de Janeiro, temos a banda Black Bird que procura reproduzir com a máxima fidelidade as gravações originais dos Beatles, inclusive as músicas que jamais
foram executadas ao vivo pelos rapazes de Liverpool. O grupo faz, em média, 12 shows por mês e já se apresentou em diversas ocasiões importantes,
como nas comemorações do aniversário da Rainha Elizabeth II na Comunidade Inglesa do Rio de Janeiro, que
condecorou a banda como The Number One Beatles Cover Band in Brazil.
Em 2004, a Black Bird fez mais de 120
apresentações, entre shows com entrada franca e pagos, festivais e festas.
A produção dos shows conta ainda
com iluminação, DJ, equipamento de
palco, P.A. e mesa de som para todos
os tipos de eventos.
Segundo a promoter da banda, Janete
Barros, o segredo para o sucesso é principalmente ter respeito e empatia com o
público. Para ela, a concorrência existe,
entretanto, alguns grupos deixam a desejar porque não são qualificados e acabam
deflacionando o mercado para outros
grupos que trabalham com seriedade e
respeito ao público. Ela acrescenta ainda
que o público quer encontrar um artista
que faça lembrar o grupo original e finaliza que “ser cover com todos os detalhes
é o que os fãs esperam”.
Para saber mais
www.thedoorscover.com.br
www.blackbirdband.com
www.u2boy.mus.br
www.onstage.com.br
www.paulomano.com
www.backstage.com.br 95
Download

ou não ser - Backstage