MÉDICO-VETERINÁRIO, SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO! Tenho visto ao longo desses meus modestos quatorze anos de profissão, centenas de “supostamente” colegas, serem despejados no concorrente mercado de trabalho, desprovidos de qualquer consciência ética. E quando falo de ética, não me refiro tão somente à prática de recursos desonestos comerciais, com que estes glorificam seus próprios honorários. Até porque a longo prazo, isto gera um feedback negativo, contra aqueles que assim procedem. Mas me refiro muito mais, à ausência total de princípios e procedimentos médicos na vida de tais (infelizmente tenho que chamá-los assim, porque também possuem diploma de graduação) “médicosveterinários”. Antes de citar alguns exemplos, que escandalizariam até os primórdios e patriarcas da medicina veterinária em seu rústico prelúdio; por ser egresso e me sentindo honrado por isto, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, lembrarei as sábias e pragmáticas classificações do saudoso professor de clínica-médica, Dr. Ydérsio Luiz Viana, quando certa vez dirigindo-se a nossa turma, apresentou uma tríplice escolha para o nosso futuro profissional. Assim dizia: “Vocês poderão se tornar futuros médicos veterinários, simplesmente veterinários, ou até mesmo, acreditem, “vitirinários”. A escolha é de vocês”! Seria o ilustre doutor um profeta, ou será que também faltou dizer isto, em algumas outras escolas do país? Passemos então aos fatos; O que pratica o médico veterinário que vende vacinas à pessoas leigas para imunizar seus próprios animais? Que tipo de raciocínio profilático ele possui? Qual será a sua escola de formação? Será que ele sabe o que é uma vacina? Como entender que princípios de prevenção, de importância para a saúde pública veterinária e humana, sejam negligenciados por um indivíduo que possui o mesmo diploma que eu; que lhe confere o mesmo título, direitos e prerrogativas legais; e sobre o qual despreza, agindo, como um comerciante, sem escrúpulo e nenhuma consciência médica? Fico pensando como o Dr. Ydérsio o classificaria. E aquela figurinha, que se vende a um comerciante por consulta de “dez reais”, para atender animais em cima de sacos de ração, praticando a famosa “empurroterapia” de medicamentos da loja e inventando bobagens homéricas para impressionar clientes? O que não dizer também de um veterinário distribuidor de vacinas, que vende vacinas éticas para comerciantes, que conseqüentemente, serão vendidas em água gelada, em balcões de loja, para como um David Coperfield criar a ilusão, em proprietários de animais, de que os mesmos estão protegidos? O que falar de outros que trabalham em órgãos públicos, cumprindo horas enfadonhas de satisfazer os caprichos de diretores saprófitas, obtusos e desconhecedores de princípios básicos de saúde, na área de vigilância sanitária de alimentos e zoonoses; e o pior, com medo de se imporem como profissionais, para não perderem seus preciosos salários, no final do mês? E aquele veterinário que no mesmo ato de consulta, aplica uma vacina, administra um vermífugo, um ectoparasiticida, e sabe lá Deus o que mais; visando engrossar a conta do cliente, e estando muito pouco preocupado com a integridade orgânica do seu paciente? Será que este esqueceu do seu juramento profissional e virou um comerciante? É hilário e até ultrajante, também ouvir que veterinários incentivadores da cirurgia de corte de orelha (conchectomia parcial, conchoplastia, ou como queiram chamar), impressionam os donos de cães das raças, dogue alemão, doberman e boxer, com teorias de que se os mesmos não realizarem a referida cirurgia, seus animais ficarão atrofiados e estará comprometido o seu crescimento. É, talvez a orelha do cão, absorva boa parte dos nutrientes (suplementos vitamínicos e minerais) ingeridos na alimentação de um cachorro, e tenha mesmo que ser retirada (“palavra de vitirinário”). Como entender, veterinários que emitem guias de trânsito animal - GTA, sem examinar os animais, bastando que se apresente um comprovante de vacina contra Raiva da prefeitura (comprovante que não é assinado por médico veterinário)? E olha que eles estão credenciados pelo Ministério da Agricultura! Inacreditável mesmo, foi o fato de um veterinário de outro estado, ter colado um rótulo de vacina contra Raiva, em um atestado, assinando, carimbando e autorizando, através de uma guia de trânsito animal, o animal a viajar para Manaus; onde o proprietário me procurou, após 30 dias de sua chegada, para fazer a vacinação anti-rábica verdadeira. Após tentar entender o fato; segundo sua explicação, o veterinário teria “quebrado um galho” em fraudar a carteira de vacinação, por não ter havido tempo disponível para levar o animal a sua clínica. O mais incrível é que nem a fiscalização do aeroporto ( se é que ela existe mesmo?) verificou não haver sido cumprido o período negativo de imunidade de 30 dias, para emissão da GTA ( a idade deste cão era de 6 meses, quando foi vacinado em Manaus). Se continuasse a dar exemplos, teria assunto para escrever um livro (um Best Seller sobre a realidade vergonhosa da “vitirinária” brasileira). Mas você aí, que está lendo este artigo! Já se perguntou o que você é? Do que o ilustre Dr. Ydérsio o classificaria; “médico veterinário”, “veterinário” ou “vitirinário”? Reflita conscientemente, se você vem sendo correto em sua conduta profissional. Faça seu próprio julgamento. Afinal de contas a Medicina Veterinária , merece o seu respeito! Mas se você se sentiu ofendido, com o que aqui foi dito, procure o CRMV de sua região, e mova um processo ético contra a minha pessoa; pois numa sociedade onde reina a total inversão de valores, não é de surpreender que eu possa estar equivocado e provavelmente , ficando velho e esclerosado; quem sabe até possa ser considerado o vilão da medicina veterinária do Amazonas. Mas satisfaça pelo menos a minha curiosidade, e responda a pergunta inicial; você é ou não é? Esta é a questão! José Brites Neto Médico Veterinário CRMV-SP nº 11996