Curitiba 22 de julho de 2015 Dr. Paulo Jorge Parreira dos Santos Coordenador de Área Biodiversidade CAPES cc. Dr. Carlos A. Nobre, presidente CAPES Dr. Arlindo Philippi Jr, Diretor de Avaliação CAPES Prezado Dr. Paulo Santos A Sociedade Brasileira de Zoologia, juntamente com outras Sociedades Científicas, tomaram conhecimento da nova tabela QUALIS que foi divulgada aos coordenadores da área Biodiversidade e gostaríamos de fazer alguns comentários e externar algumas preocupações. Em primeiro lugar temos que louvar o trabalho realizado nos quesitos transparência e comunicação. Dizemos isso porque é a primeira vez que temos um QUALIS com regras claras e que em sua essência não mudaram de 2013 para cá. No entanto, uma mudança importante foi realizada e diz respeito à desconsideração quase total do SciELO como qualificador de revistas científicas, pois as revistas divulgadas pelo portal da SciELO tem qualidade muito superior ao agora atribuído B5 (em muitos casos) e estavam melhor caracterizadas no nível B3, como havia sido considerado no QUALIS 2013. A comunidade acadêmica já se manifestou anteriormente sobre a preocupação de basear a avaliação da pós-graduação Brasileira e criar uma dependência extrema de indexadores internacionais e associados a empresas privadas, uma delas também editora. É positivo que se tenha passado a trabalhar com mais de um índice (JCR e SCOPUS) na área Biodiversidade, mas nos parece injustificável não considerar o SciELO também. Esse é um projeto extremamente exitoso visando a qualificação e manutenção das revistas nacionais em acesso aberto e deveria ser apoiado e incentivado. Será que uma revista que tem FIp < 0,25 é realmente de melhor qualidade do que uma revista do SciELO sem fator de impacto JCR ou Scopus? É importante ressaltar que o SciELO faz uma seleção rígida das revistas no seu portal, exigindo qualificação do comitê editorial e dos procedimentos de avaliação dos artigos. O critério utilizado em 2013 para classificação das revistas, baseado em Fator de Impacto nos níveis A1 a B2, qualificação pelo SciELO no nível B3, e uso pela comunidade científica, nos níveis B4 e B5 nos parece um critério mais justo e que reflete com maior realidade a situação nacional. Considerando também que, durante a avaliação, o peso maior recai sobre os níveis B2 a A1. Outra preocupação é a mudança constante da classificação das revistas, já que baseada em índices que mudam a cada ano. É patente que um sistema construído em níveis de uma escala, faz com que os elementos próximos à mudança de níveis fiquem sujeitos à mudança de classe de ano para ano. E sabemos que uma revista que aumenta ou reduz seu FI em 2 ou 3 décimos não mudou realmente sua qualidade, mas pode mudar de A para B1 ou B1 para B2 e vice-versa, o que faz uma enorme diferença em nosso atual sistema de avaliação. Mesmo que haja uma adequação da avaliação dos PPGs em função do novo QUALIS, a sensação de instabilidade é muito grande e não é fácil convencer a comunidade científica de que uma revista B2 nos próximos dois anos será tão boa como uma B1 dos últimos dois anos... Por mais que se alegue que os pesquisadores devam buscar revistas de maior QUALIS para a divulgação de seu trabalho, e parece que foi isso o que aconteceu, esses pesquisadores serão ainda assim penalizados, pois não é fácil antever o futuro e qual será a tendência de citação futura das revistas! Desta forma, mais uma vez apelamos para a instituição que baseie seu sistema de avaliação em regras estabelecidas a priori e não a posteriori. Duas sugestões são oferecidas: 1. Congelamento do QUALIS usado para avaliação dos Programas de Pós-Graduação no início de cada quadriênio, com possível reconsideração apenas para revistas que durante o período tenham mudado sua situação mais de dois níveis para cima ou para baixo. Isso para ão penalizar revistas congeladas em níveis inferiores mas que estejam se qualificando rapidamente e também para não supervalorizar revistas em decadência que eventualmente tenham sido congeladas em níveis altos. Desta forma, o quadriênio em curso seria avaliado pelo QUALIS 2013, e o QUALIS apresentado agora seria apenas um indicador, sendo que o QUALIS futuramente calculado em 2017 seja o referencial para a avaliação do próximo quadriênio. 2. Que o QUALIS seja congelado anualmente, isto é, a cada relatório fornecido pelos coordenadores com os dados de ISI e Scopus daquele ano. Outra proposta é que o fator de impacto a ser considerado na avaliação das revistas seja aquele de cinco anos e não o de dois anos. Isso porque na área de Biodiversidade as informações geradas não perdem validade com tanta rapidez. A somatória de citações por cinco anos refletiria de forma mais adequada os artigos realmente influentes, com tempo para que a comunidade científica possa avaliálos, discuti-los e criticá-los. O fator de impacto de dois anos apenas favorece as revistas de grandes empresas com diversos números ao ano e com publicação “online first” que aumenta o tempo de exposição dos mesmos e sua probabilidade de citação. Se, por um lado, procura-se minimizar a flutuação do QUALIS no processo de avaliação dos PPGs, por outro lado, nós diretores de Sociedades Científicas e editores de revistas sabemos e vivenciamos a cada ano o poder indutor do QUALIS. A demanda de manuscritos direcionados às revistas é diretamente proporcional à sua classificação. Independente dos esforços de internacionalização das revistas, mais de 90% de nossa clientela são os pesquisadores envolvidos nos programas de pósgraduação brasileiros. Verificamos que a maioria das revistas brasileiras da área de Biodiversidade reduziram seu FI em 2014 em relação à 2012 ou 2013 e todas foram reclassificadas no QUALIS 2015 um nível abaixo, portanto a tendência é piorar. A situação é desalentadora, pois o esforço realizado pelas revistas nos últimos 10 anos no sentido da internacionalização, com a publicação de conteúdos em inglês, inclusão de pesquisadores internacionais em seus comitês editoriais, redução do tempo de publicação, manutenção do verdadeiro acesso aberto e democrático para autores e leitores, tornam-se inócuos quando não existe uma política de incentivo. Ao contrário, a política vigente leva a uma drenagem contínua dos melhores artigos do país para revistas estrangeiras. Já se demonstrou várias vezes que realizamos uma pesquisa de excelência no país na área de biodiversidade e, por outro lado, as revistas científicas nacionais da área sempre “parecem” ruins!! Há algo errado nesta equação. Excelentes pesquisadores estão dedicando parte de seu precioso tempo na administração de revistas científicas nacionais porque acreditam na importância estratégica deste patrimônio. Não acreditamos que vender nossas revistas para as grandes editoras seja a solução. Precisamos de uma verdadeira política nacional que passe 1. pela valorização da atuação do editor e do revisor na avaliação dos programas de PG e dos pesquisadores, 2. pela mudança de cultura que acha que apenas o que é feito no exterior é bom, valorizando a publicação nacional e a citação de artigos nacionais, 3. pela popularização dos artigos publicados nas revistas brasileiras por meio de profissionais contratados para esse fim (como fazem as grandes editoras), pois sabemos que boa parte do FI depende do fato da revista ou tema que ela cobre estar “em moda”, 4. classificação diferenciada do QUALIS para revistas de Sociedades Científicas e afins, e para revistas publicadas por empresas editoriais. Sobre essa última questão, todos conhecemos exemplos na área de biodiversidade de revistas tradicionais, muito bem conceituadas, geralmente associadas a Museus, Universidades ou Sociedades Científicas e cujo fator de impacto é consistentemente inferior a 1. Todas elas sofrem do mesmo mal – não há recursos para pagar profissionais dedicados e, por isso, não podem competir com o tempo de publicação das empresas; não dispõem de profissionais para insistentemente divulgar os artigos publicados em outros meios e aumentar sua probabilidade de citação; o círculo vicioso dos baixos FIs leva à baixa demanda de bons artigos; a baixa demanda reduz a qualidade daqueles publicados e impede manutenção de sistemas online first – todos esses atrativos das grandes empresas. A competição é simplesmente injusta! O grande diferencial da área de Biodiversidade em relação a um QUALIS mais justo foi o reconhecimento de que as subáreas (Ecologia, Zoologia, Botânica e Oceanografia) tinham características distintas e a partir daí foi desenvolvido o FI padronizado de acordo com a mediana de cada área. Agora estamos propondo que seja reconhecido o fato de que as revistas têm condições muito diferentes de publicação, se publicadas por Editora Empresarial ou não, e que isso se reflete no FI de cada uma. Classificação paralela e separada destas revistas pode ser uma solução. Nesta proposta seria feita uma avaliação da proporção de revistas publicadas por editoras e, em cada nível do QUALIS (A1, A2, B1 e B2), seria estipulada uma cota proporcional para essas revistas e uma cota proporcional para revistas publicadas por outras instituições. A preocupação de que essa proposta possa reduzir a qualidade dos artigos da área e criar acomodação entre autores e editores é infundada. Isso porque ainda haveria classificação e competição, apenas que entre iguais e não entre desiguais. Depois, porque o aumento de demanda de bons artigos para as revistas consideradas atualmente mais fracas deverá, pela lógica do sistema, aumentar seu FI, já que todas apresentam limitações financeiras e de pessoal e a limitação no número de artigos publicados criará competição e eliminação dos artigos ruins. Ninguém publica artigo ruim por opção. Ainda, a publicação dos melhores artigos dos pesquisadores brasileiros atrairá seus colaboradores e outros pesquisadores estrangeiros, internacionalizando as revistas. Desta forma, todos ganham. Compreendemos que, além do QUALIS, uma política de valorização das revistas nacionais envolve outros aspectos, como citado acima. Desta forma, procuraremos sensibilizar outros órgãos da administração pública envolvidos em Ciência e Divulgação Científica para discutir a proposta de uma política nacional para as revistas científicas. Esperamos assim ter contribuído para a discussão de um sistema de avaliação que valorize todos os atores envolvidos no desenvolvimento científico do país e nos colocamos à disposição para estender essa discussão e colaborar com a realização de estudos mais aprofundados sobre as propostas aqui apresentadas. Atenciosamente, Sociedade Brasileira de Zoologia Sociedade Brasileira de Carcinologia Sociedade Brasileira de Ictiologia Sociedade Brasileira de Biologia Marinha Sociedade Entomológica do Brasil