UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal Paulo Jorge Trigo Ribeiro (Licenciado) Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia e Gestão de Tecnologia Orientador: Doutor Paulo Manuel Cadete Ferrão Presidente do Júri: Doutor Manuel Frederico Tojal de Valsassina Heitor Vogais : Doutor Paulo Manuel Cadete Ferrão Doutor Manuel Arlindo Amador de Matos Doutor Tiago Morais Delgado Domingos Outubro de 2002 Resumo Resumo As embalagens são um elemento fundamental de quase todos os produtos alimentares e igualmente uma importante fonte de impactes ambientais e de resíduos em Portugal e no resto do mundo. De modo a se reduzir a pressão das embalagens sobre o ambiente é necessário avaliar os seus impactes ao longo de todo o seu ciclo de vida. Para tal foi realizada uma Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) às principais embalagens de bens alimentares portuguesas e efectuaram-se recomendações com base nos resultados obtidos com o objectivo de permitir aos agentes decisores: produtores, embaladores, entidades governamentais, etc. a elaboração de políticas fundamentadas tecnicamente que possibilitem a redução do impacte ambiental associado à produção, embalamento, distribuição e deposição final das embalagens de bens alimentares. Foram avaliadas embalagens de metal, madeira, plástico, papel/cartão e vidro e os sectores de produtos lácteos, gorduras alimentares, frutas e legumes, confeitaria e congelados. Com base na situação actual foram analisados vários cenários de eco-eficiência e efectuadas considerações sobre políticas de embalagem que, em termos gerais, devem contribuir para a inovação e desenvolvimento tecnológico do sector. Palavras-chave: Avaliação de Ciclo de Vida, embalagens, bens alimentares, políticas de embalagem, reciclagem de materiais, eco-design. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal i Abstract Abstract Packaging is a fundamental element of almost every food product and at the same time an important source of environmental burdens and waste in Portugal and in the rest of the world. To reduce its environmental pressure is necessary to take into account the entire life cycle of packages. Thus a Life Cycle Assessment of the most important Portuguese food packages was conducted and with the results obtained some recommendations were made to allow the elaboration of technical funded policies by the stakeholders - producers, packagers, governmental entities, etc. – in order to reduce the environmental impacts of production, packaging, distribution and disposal of food packages. The packages assessed were constituted by steel, wood, plastic, paper/board and glass and belonging to the dairy products, alimentary fats, fruits and vegetables, confectionery and frozen products sectors. Taking into account the present situation different eco-efficiency scenarios were analysed and considerations about packaging policies were made, which in general terms, should encourage innovation and the technological development of the sector. Key words: Life Cycle Assessment, packages, food products, packaging policies, materials recycling, design for environment. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal ii Agradecimentos Agradecimentos Desejo agradecer em primeiro lugar ao Prof. Paulo Ferrão pela sua orientação, apoio e boa disposição sem os quais esta dissertação não teria sido possível. À SPV a qual financiou o projecto “Avaliação de Ciclo de Vida de Embalagens em Portugal” e aos produtores, embaladores, recicladores e demais empresas e associações que forneceram os dados fundamentais para a realização deste trabalho. Aos meus pais que estiveram sempre presentes quando necessitei e que me encorajaram e deram condições para prosseguir a minha formação académica. À minha restante família, especialmente à minha irmã, pelo interesse e apoio manifestado no decorrer deste trabalho. À Mónica por me ter dado força na última fase da dissertação. A todos os meus colegas e amigos pelo seu incentivo, amizade e riqueza de experiências de trabalho que muito valorizaram esta dissertação. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal iii Nomenclatura Nomenclatura ACV - Avaliação de Ciclo de Vida AFCAL - Associação dos Fabricantes de Cartão para Alimentos Líquidos AIMGA - Associação dos Industriais de Margarinas e Gorduras Alimentares AIVE - Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem AMAVE - Associação de Municípios de Vale do Ave AMTRES - Associação de Municípios de Cascais, Oeiras e Sintra para o Tratamento de Resíduos Sólidos ANIL - Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios APME - Association of Plastics Manufacteurs in Europe B&A - Barbosa e Almeida BGMC - British Glass Manufacturers Confederation CELPA - Associação Nacional da Indústria Papeleira CEPI - Confederation of the European Paper Industries CERV - Associação de Reciclagem dos Resíduos de Embalagens de Vidro CIR - Companhia Industrial de Reciclagem CMO - Câmara Municipal de Oeiras CTCV - Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro DGA - Direcção Geral do Ambiente ECE - Economic Commission for Europe EEA - European Environment Agency EMBAR - Associação Nacional de Recuperação e Reciclagem de Resíduos de Embalagem de Madeira ERPA - European Recovered Paper Association FAO - Food and Agricultural Organization FEVE - Federação Europeia do Vidro de Embalagem Fileira Metal - Associação Nacional para a Recuperação, Gestão e Valorização de Resíduos de Embalagens Metálicas FIOVDE - Federação das Indústrias de Óleos Vegetais, Derivados e Equiparados FIPA - Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares Horeca - Canal de distribuição constituído pelos hotéis, restaurantes e cafés INA - Índice Nielsen Alimentar INCIM - Índice Nielsen de Consumo Imediato INE - Instituto Nacional de Estatística Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal iv Nomenclatura INR - Instituto dos Resíduos IPTS - Institute for Prospective Technological Studies ITN - Instituto Tecnológico e Nuclear ITVE - Instalação de Tratamento de Valorização de Escórias JMD - Jerónimo Martins Distribuição JRC - Joint Research Centre LCA - Life Cycle Assessment p.l. - Peso líquido PAH - Polynuclear Aromatic Hydrocarbons PE - Polietileno PEAD - Polietileno de alta densidade PEBD - Polietileno de baixa densidade PERSU - Plano Estratégico Sectorial de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos PESCADO - Associação de Comerciantes de Pescado PET - Polietileno de Tereftalato PLASTVAL - Valorização de Resíduos Plásticos S.A. PP - Polipropileno PS - Poliestireno PVC - PolyVinyl Chloride (Policloreto de Vinilo) RECIPAC - Associação Nacional de Recuperação e Reciclagem de Papel e Cartão RSU - Resíduos Sólidos Urbanos SETAC - Society of Environmental Toxicology and Chemistry SIGRE - Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens SPM - Suspended Particulate Matter SPV - Sociedade Ponto Verde TCE - Taxa de Cobertura Estimada do universo Nielsen USEPA - United States Environmental Protection Agency Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal v Índice Índice Resumo........................................................................................................................................ i Abstract ...................................................................................................................................... ii Agradecimentos ........................................................................................................................ iii Nomenclatura ............................................................................................................................iv Índice..........................................................................................................................................vi Índice de Figuras...................................................................................................................... xi Índice de Tabelas .....................................................................................................................xvi 1 Introdução..........................................................................................................................1 1.1 Motivação, âmbito e objectivos...........................................................................1 1.1.1 Motivação......................................................................................................................... 1 1.1.2 Âmbito e objectivos ......................................................................................................... 2 1.2 Organização da dissertação ................................................................................3 1.3 As embalagens e o ambiente ...............................................................................4 1.3.1 A função das embalagens................................................................................................. 4 1.3.2 A embalagem como resíduo............................................................................................. 5 1.3.3 A embalagem e a Ecologia Industrial............................................................................... 6 1.4 A metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida...................................................8 1.4.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 8 1.4.2 Definição do âmbito e objectivos................................................................................... 10 1.4.2.1 Âmbito e objectivos da ACV de embalagens de bens alimentares ......................... 10 1.4.2.2 Unidade funcional.................................................................................................. 10 1.4.2.3 Fronteiras do sistema............................................................................................. 11 1.4.3 Análise de inventário...................................................................................................... 12 1.4.4 Avaliação de impactes ambientais ................................................................................. 13 1.4.4.1 Considerações iniciais ........................................................................................... 13 1.4.4.2 Classificação / Caracterização .............................................................................. 14 1.4.4.3 Normalização ......................................................................................................... 16 1.4.4.4 Avaliação ............................................................................................................... 17 1.4.5 Interpretação de resultados............................................................................................. 18 1.4.6 Software de ACV - SIMAPRO ..................................................................................... 18 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal vi Índice 2 As embalagens de bens alimentares em Portugal...........................................................20 2.1 Tipos de embalagens..........................................................................................20 2.1.1 Considerações iniciais .................................................................................................... 20 2.1.2 Sectores e materiais de embalagem relevantes............................................................... 21 2.1.3 Produtos lácteos ............................................................................................................. 23 2.1.4 Gorduras alimentares ..................................................................................................... 26 2.1.5 Frutas e legumes............................................................................................................. 29 2.1.6 Confeitaria...................................................................................................................... 30 2.1.7 Produtos congelados....................................................................................................... 31 2.2 3 Circuitos actuais de processamento de resíduos .............................................33 2.2.1 Considerações iniciais .................................................................................................... 33 2.2.2 Embalagens de aço......................................................................................................... 34 2.2.3 Embalagens de alumínio ................................................................................................ 35 2.2.4 Embalagens de cartão canelado e papel ......................................................................... 36 2.2.5 Embalagens de cartão para alimentos líquidos............................................................... 38 2.2.6 Embalagens de madeira.................................................................................................. 38 2.2.7 Embalagens de plástico .................................................................................................. 40 2.2.8 Embalagens de vidro ...................................................................................................... 40 Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal..............42 3.1 Caracterização do estudo ..................................................................................42 3.1.1 Fontes de informação e qualidade da informação .......................................................... 42 3.1.2 Apresentação de dados e resultados ............................................................................... 43 3.1.3 Pressupostos assumidos.................................................................................................. 44 3.1.3.1 Considerações prévias ........................................................................................... 44 3.1.3.2 Embalamento ......................................................................................................... 45 3.1.3.3 Transporte.............................................................................................................. 45 3.1.3.4 Utilização ............................................................................................................... 46 3.1.3.5 Fim de vida............................................................................................................. 46 3.2 Embalagens de produtos lácteos.......................................................................46 3.2.1 Introdução ...................................................................................................................... 46 3.2.2 Leites.............................................................................................................................. 47 3.2.2.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 47 3.2.2.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 48 3.2.2.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 48 3.2.3 Iogurtes........................................................................................................................... 51 3.2.3.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 51 3.2.3.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 54 3.2.3.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 54 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal vii Índice 3.3 3.2.3.3.1 Copos de PS..................................................................................................... 54 3.2.3.3.2 Garrafa de PEAD............................................................................................. 57 Embalagens de gorduras alimentares ..............................................................59 3.3.1 Introdução ...................................................................................................................... 59 3.3.2 Óleos vegetais ................................................................................................................ 60 3.3.2.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 60 3.3.2.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 61 3.3.2.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 62 3.3.3 Azeite ............................................................................................................................. 64 3.3.3.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 64 3.3.3.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 66 3.3.3.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 67 3.3.3.3.1 Garrafas de Vidro ............................................................................................ 67 3.3.3.3.2 Lata de folha de flandres ................................................................................. 69 3.3.4 Margarinas ..................................................................................................................... 72 3.3.4.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 72 3.3.4.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 74 3.3.4.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 74 3.3.4.3.1 Embalagens de PP ........................................................................................... 74 3.3.4.3.2 Embalagens de Papel/Alumínio/PE................................................................. 77 3.3.5 Manteigas ....................................................................................................................... 79 3.3.5.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 79 3.3.5.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 81 3.3.5.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 81 3.4 Embalagens de frutas e legumes.......................................................................84 3.4.1 Introdução ...................................................................................................................... 84 3.4.2 Frutas e legumes industriais ........................................................................................... 85 3.4.2.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 85 3.4.2.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 86 3.4.2.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 87 3.4.3 Frutas e legumes frescos ................................................................................................ 89 3.4.3.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 89 3.4.3.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 91 3.4.3.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 91 3.5 Embalagens de confeitaria ................................................................................93 3.5.1 Introdução ...................................................................................................................... 93 3.5.2 Bolachas ......................................................................................................................... 94 3.5.2.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 94 3.5.2.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 94 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal viii Índice 3.5.2.3 3.6 Embalagens de produtos congelados................................................................97 3.6.1 Introdução ...................................................................................................................... 97 3.6.2 Refeições prontas e pescado........................................................................................... 98 3.6.2.1 Descrição das embalagens..................................................................................... 98 3.6.2.2 Informação sobre o ciclo de vida ........................................................................... 99 3.6.2.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................. 100 3.6.3 Gelados......................................................................................................................... 102 3.6.3.1 Descrição das embalagens................................................................................... 102 3.6.3.2 Informação sobre o ciclo de vida ......................................................................... 103 3.6.3.3 Caracterização dos impactes ambientais............................................................. 104 3.7 Discussão dos resultados obtidos ....................................................................106 3.7.1 Fase de produção.......................................................................................................... 106 3.7.2 Fase de embalamento ................................................................................................... 106 3.7.3 Fase de distribuição...................................................................................................... 106 3.7.4 Fase de fim de vida ...................................................................................................... 108 3.7.5 Análise dos contributos dos diferentes materiais para o impacte ambiental ................ 109 3.7.5.1 Aço ....................................................................................................................... 109 3.7.5.2 Madeira................................................................................................................ 110 3.7.5.3 Plásticos ............................................................................................................... 110 3.7.5.4 Papel/Cartão........................................................................................................ 111 3.7.5.5 Vidro .................................................................................................................... 112 3.7.6 4 Caracterização dos impactes ambientais............................................................... 95 Observações finais ....................................................................................................... 112 Contributos para a definição de políticas orientadas para a redução do impacte ambiental das embalagens de bens alimentares..........................................................113 4.1 Cenários de eco-eficiência e comparação dos resultados obtidos com outros estudos ....................................................................................................................113 4.1.1 Produtos lácteos ........................................................................................................... 114 4.1.1.1 Embalagem de cartão para alimentos líquidos para leite ................................... 114 4.1.1.2 Embalagem de PEAD para iogurte líquido.......................................................... 116 4.1.1.3 Embalagem de PS para iogurte ........................................................................... 118 4.1.2 Gorduras alimentares ................................................................................................... 120 4.1.2.1 Embalagem de PET para óleos vegetais .............................................................. 120 4.1.2.2 Embalagem de vidro para azeite.......................................................................... 122 4.1.2.3 Embalagem de Lata para azeite........................................................................... 123 4.1.2.4 Embalagem de PP para margarinas .................................................................... 125 4.1.3 4.1.3.1 4.1.4 Frutas e Legumes ......................................................................................................... 127 Embalagens de madeira para frutas e legumes frescos ....................................... 127 Comparação entre os diversos materiais de embalagem .............................................. 128 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal ix Índice 4.1.5 Comparação dos resultados obtidos com outros estudos.............................................. 129 4.2 Eco – design e design for recycling.................................................................132 4.3 Perspectivas de evolução tecnológica das embalagens .................................133 4.4 Considerações sobre as políticas de embalagem ...........................................135 4.4.1 Sistemas europeus de recolha de embalagens e nova directiva europeia ..................... 135 4.4.2 Mercado de embalagens e opções de fim de vida ........................................................ 138 4.5 Comentários finais ...........................................................................................140 Referências .............................................................................................................................143 Bibliografia ........................................................................................................................143 Sites da Internet Consultados ..........................................................................................149 Lista de empresas e associações contactadas ..................................................................151 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal x Índice de Figuras Índice de Figuras Figura 1 – Diagrama esquemático do ciclo de vida de uma embalagem...................................12 Figura 2 – Método Eco-indicador 95.........................................................................................14 Figura 3 – Áreas Nielsen (adaptado do Anuário Food 1999)....................................................21 Figura 4 – Importância dos principais sectores de embalagens em 2000 (SPV, percentagem em peso). ............................................................................................22 Figura 5 – Importância dos materiais no total de embalagens em 2000 (SPV, percentagem em peso). .................................................................................................................22 Figura 6 – Importância dos sectores de bens alimentares em 2000 (SPV, percentagem em peso). .......................................................................................................................23 Figura 7 – Importância dos materiais no total de embalagens de bens alimentares em 2000 (SPV, percentagem em peso). .................................................................................23 Figura 8 – Distribuição geográfica do consumo de leite (INA, 1999). .....................................25 Figura 9 – Distribuição geográfica do consumo de iogurtes (INA, 1999). ...............................26 Figura 10 – Distribuição geográfica do consumo de óleos vegetais (INA, 1999).....................27 Figura 11 – Distribuição geográfica do consumo de azeite (INA, 1999). .................................28 Figura 12 – Distribuição geográfica do consumo de margarina (INA, 1999). ..........................29 Figura 13 – Distribuição geográfica do consumo de manteiga (INA, 1999).............................29 Figura 14 – Distribuição geográfica do consumo de bolachas (INA, 1999). ............................31 Figura 15 – Distribuição geográfica do consumo de congelados (INA, 1999). ........................32 Figura 16 – Distribuição geográfica do consumo de gelados take home (INA, 1998)..............33 Figura 17 – Diagrama de fim de vida das embalagens de aço para 2001, em Portugal. ...........35 Figura 18 – Diagrama de fim de vida das embalagens de alumínio para 2001, em Portugal. ..................................................................................................................36 Figura 19 – Diagrama de fim de vida das embalagens de cartão canelado, para o ano 1999, em Portugal....................................................................................................37 Figura 20 – Diagrama de fim de vida das embalagens de cartão para alimentos líquidos , em 2000, para Portugal............................................................................................38 Figura 21 – Diagrama de fim de vida das embalagens de madeira em 1999. ...........................39 Figura 22 – Diagrama de fim de vida das embalagens de madeira one-way, para o ano de 1999, em Portugal....................................................................................................39 Figura 23 – Diagrama de fim de vida das embalagens domésticas de plástico, para o ano 2000, em Portugal....................................................................................................40 Figura 24 – Diagrama de fim de vida das embalagens domésticas de vidro one-way, no ano 1999, em Portugal.............................................................................................41 Figura 25 – Impacte ambiental agregado das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite........................................................................................................49 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xi Índice de Figuras Figura 26 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. ......................................................................................49 Figura 27 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. ..............................................................................50 Figura 28 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. ..............................................................................50 Figura 29 – Impacte ambiental agregado de copos em PS de iogurte. ......................................55 Figura 30 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida de copos em PS de iogurte...........55 Figura 31 – Impactes ambientais relativos à fase de produção de copos em PS de iogurte. .....56 Figura 32 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida de copos em PS de iogurte......................................................................................................................57 Figura 33 – Impacte ambiental agregado da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido. .........57 Figura 34 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido. ........................................................................................................58 Figura 35 – Impactes ambientais relativos à fase de produção da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido.....................................................................................................58 Figura 36 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido..................................................................................................59 Figura 37 – Impacte ambiental agregado da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais. .................62 Figura 38 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais. ...................................................................................................................63 Figura 39 – Impactes ambientais relativos à fase de produção da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais...........................................................................................................63 Figura 40 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais...........................................................................................................64 Figura 41 – Impacte ambiental agregado das garrafas de vidro de azeite. ................................67 Figura 42 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das garrafas de vidro de azeite.....68 Figura 43 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das garrafas de vidro de azeite........................................................................................................................68 Figura 44 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das garrafas de vidro de azeite........................................................................................................................69 Figura 45 – Impacte ambiental agregado da embalagem de azeite em folha de flandres..........69 Figura 46 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de azeite em folha-de-flandres......................................................................................................70 Figura 47 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de azeite em folha-de-flandres................................................................................................71 Figura 48 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de azeite em folha-de-flandres................................................................................................71 Figura 49 – Impacte ambiental agregado das embalagens em PP de margarinas......................75 Figura 50 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens em PP de margarinas. ..............................................................................................................75 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xii Índice de Figuras Figura 51 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens em PP de margarinas. ..............................................................................................................76 Figura 52 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens em PP de margarinas. ..............................................................................................................77 Figura 53 – Impacte ambiental agregado das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas. ..............................................................................................................77 Figura 54 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas...........................................................................78 Figura 55 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas...........................................................................78 Figura 56 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas...........................................................................79 Figura 57 – Impacte ambiental agregado das embalagens de manteigas. .................................82 Figura 58 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de manteiga........82 Figura 59 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de manteigas.................................................................................................................83 Figura 60 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de manteigas.................................................................................................................83 Figura 61 – Impacte ambiental agregado das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. ...............................................................................................................87 Figura 62 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. ....................................................................................88 Figura 63 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. ............................................................................88 Figura 64 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. ............................................................................89 Figura 65 – Impacte ambiental agregado das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos. ......................................................................................................91 Figura 66 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos...................................................................................92 Figura 67 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos...................................................................................92 Figura 68 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos. ....................................................................93 Figura 69 – Impacte ambiental agregado das embalagens de bolachas.....................................95 Figura 70 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de bolachas. .......96 Figura 71 – Impactes ambientais relativos à de produção das embalagens das embalagens de bolachas. .............................................................................................................96 Figura 72 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de bolachas. ..................................................................................................................97 Figura 73 – Impacte ambiental agregado das embalagens de refeições prontas e pescado.....100 Figura 74 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de refeições prontas e pescado...................................................................................................100 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xiii Índice de Figuras Figura 75 – Impactes ambientais relativos à de produção das embalagens de refeições prontas e pescado...................................................................................................101 Figura 76 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de refeições prontas e pescado. ..................................................................................101 Figura 77 – Impacte ambiental agregado das embalagens de gelados. ...................................104 Figura 78 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de gelados. .......105 Figura 79 – Impactes ambientais relativos à de produção das embalagens de gelados...........105 Figura 80 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de gelados...................................................................................................................106 Figura 81 – Impacte normalizado para a categoria smog de verão de diferentes pesos de sistemas de embalagem. ........................................................................................107 Figura 82 – Impacte normalizado para a categoria eutrofização de diferentes pesos de sistemas de embalagem. ........................................................................................107 Figura 83 – Impactes ambientais normalizados para a produção de 1 kWh de energia eléctrica. ................................................................................................................108 Figura 84 – Impacte ambiental da valorização energética de 1 kg de plásticos presentes em média nos R.S.U. .............................................................................................109 Figura 85 – Impacte normalizado para a reciclagem de kg de PEAD.....................................111 Figura 86 – Impacte ambiental desagregado para a embalagem de leite de C.A.L. na situação de referência e cenários 1, 2 e 3. .............................................................114 Figura 87 – Impacte ambiental agregado para a embalagem de leite de C.A.L. na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3...........................................................................115 Figura 88 – Impacte ambiental desagregado para a embalagem de PEAD de iogurte líquido na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3............................................116 Figura 89 – Impacte ambiental agregado para a embalagem de PEAD de iogurte líquido na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3. .......................................................117 Figura 90 – Impacte ambiental desagregado para os copos de iogurte de PS na situação de referência e cenários 1 e 2. ....................................................................................119 Figura 91 – Impacte ambiental agregado para os copos de iogurte de PS na situação de referência e cenários 1 e 2. ....................................................................................119 Figura 92 – Impacte ambiental desagregado para a embalagem de PET de óleos vegetais na situação de referência e cenários 1 e 2..............................................................121 Figura 93 – Impacte ambiental agregado para a embalagem de PET de óleos vegetais na situação de referência e cenários 1 e 2. .................................................................121 Figura 94 – Impacte ambiental desagregado para as embalagens de vidro de azeite na situação de referência e cenários 1, 2. ...................................................................122 Figura 95 – Impacte ambiental agregado para as embalagens de vidro de azeite na situação de referência e cenários 1, 2. ...................................................................123 Figura 96 – Impacte ambiental desagregado para as latas de folha de flandres de azeite na situação de referência e cenários 1 e 2. .................................................................124 Figura 97 – Impacte ambiental agregado para as latas de folha de flandres de azeite na situação de referência e cenários 1 e 2. .................................................................124 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xiv Índice de Figuras Figura 98 – Impacte ambiental desagregado para as embalagens PP de margarina na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3.............................................................126 Figura 99 – Impacte ambiental agregado para as embalagens de PP de margarina na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3.............................................................126 Figura 100 – Impacte ambiental desagregado para as embalagens de madeira de frutas e legumes frescos na situação de referência e cenários 1 e 2. ..................................127 Figura 101 – Impacte ambiental agregado para as embalagens de madeira de frutas e legumes frescos na situação de referência e cenários 1 e 2. ..................................128 Figura 102 – Aumento da taxa de reciclagem vs. redução do consumo de energia. ...............129 Figura 103 – Redução do peso da embalagem primária vs. redução do consumo de energia. ..................................................................................................................129 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xv Índice de Tabelas Índice de Tabelas Tabela 1 – Embalagens estudadas. ..............................................................................................3 Tabela 2 – N.º de embalagens por 1000 L de produto...............................................................10 Tabela 3 – N.º de embalagens por 1000 kg de produto. ............................................................11 Tabela 4 – Exemplo de uma tabela de inventário – Tabela de inventário da produção de 1 kg de granulado de PEAD. ......................................................................................13 Tabela 5 – Métodos de classificação de impactes ambientais...................................................15 Tabela 6 – Categorias de impacte ambiental consideradas no método Eco-indicador 95. ........16 Tabela 7 – Factores de normalização do Eco-Indicador 95.......................................................17 Tabela 8 – Consumos dos diversos tipos de produtos lácteos. ..................................................24 Tabela 9 – Percentagem em quantidade do mercado dos diversos tipos de produtos lácteos. .....................................................................................................................24 Tabela 10 – Quantidades de leite vendidas em 1999 (INA, TCE de 60%). ..............................25 Tabela 11 – Quantidades vendidas de Iogurtes em 1999 (INA, TCE de 60%). ........................26 Tabela 12 – Consumos de gorduras alimentares em Portugal em 1997 e 1999. .......................27 Tabela 13 – Principais empresas em declarações à SPV nas frutas e legumes. ........................30 Tabela 14 – Consumo dos diversos tipos de confeitaria (INA, 1998 e 1999). ..........................30 Tabela 15 – Principais empresas de produtos congelados (INA, 1999). ...................................31 Tabela 16 – Quotas de mercado conjuntas das 3 principais marcas para os congelados (INA, 1999). ............................................................................................................32 Tabela 17 – Caracterização dos sistemas de embalagem para leites. ........................................47 Tabela 18 – Peso do sistema de embalagem de leite. ................................................................47 Tabela 19 – Logística associada aos materiais de embalagem de leites....................................47 Tabela 20 – Logística associada à distribuição do leite.............................................................48 Tabela 21 – Importância das embalagens consideradas por volume de vendas da Danone. .....51 Tabela 22 – Caracterização dos sistemas de embalagem para iogurtes.....................................52 Tabela 23 – Peso dos sistemas de embalagem de iogurtes........................................................52 Tabela 24 – Logística associada aos materiais de embalagem de iogurtes. ..............................53 Tabela 25 – Logística associada à distribuição do iogurte. .......................................................53 Tabela 26 – Caracterização dos sistemas de embalagem para óleos vegetais. ..........................60 Tabela 27 – Peso do sistema de embalagem de óleos vegetais. ................................................61 Tabela 28 – Logística associada aos materiais de embalagem de óleos vegetais......................61 Tabela 29 – Logística associada à distribuição do óleo vegetal. ...............................................61 Tabela 30 – Consumos de materiais no processo de embalamento de óleos vegetais...............62 Tabela 31 – Caracterização dos sistemas de embalagem para azeites.......................................65 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xvi Índice de Tabelas Tabela 32 – Peso do sistema de embalagem de azeite...............................................................65 Tabela 33 – Logística associada aos materiais de embalagem de azeites. ................................66 Tabela 34 – Logística associada à distribuição do azeite. .........................................................66 Tabela 35 – Caracterização dos sistemas de embalagem para margarinas em embalagem de PP........................................................................................................................72 Tabela 36 – Caracterização dos sistemas de embalagem para margarinas em embalagem de Papel/Al/PE.........................................................................................................73 Tabela 37 – Peso do sistema de embalagem de margarinas. .....................................................73 Tabela 38 – Logística associada aos materiais de embalagem de margarinas...........................73 Tabela 39 – Logística associada à distribuição da margarina....................................................74 Tabela 40 – Caracterização dos sistemas de embalagem para manteigas. ................................80 Tabela 41 – Peso do sistema de embalagem de manteiga. ........................................................80 Tabela 42 – Logística associada aos materiais de embalagem de manteiga..............................81 Tabela 43 – Logística associada à distribuição da manteiga. ....................................................81 Tabela 44 – Caracterização dos sistemas de embalagem de frutas e legumes industriais.........85 Tabela 45 – Peso do sistema de embalagem de frutas e legumes industriais. ...........................86 Tabela 46 – Logística associada aos materiais de embalagem de frutas e legumes industriais. ...............................................................................................................86 Tabela 47 – Logística associada à distribuição de frutas e legumes industriais. .......................86 Tabela 48 – Caracterização dos sistemas de embalagem. .........................................................90 Tabela 49 – Peso do sistema de embalagem..............................................................................90 Tabela 50 – Logística associada aos materiais de embalagem. .................................................90 Tabela 51 – Logística associada à distribuição. ........................................................................90 Tabela 52 – Peso dos sistemas de embalagem de bolachas.......................................................94 Tabela 53 – Caracterização dos sistemas de embalagem de refeições prontas e pescado.........98 Tabela 54 – Peso do sistema de embalagem de refeições prontas e pescado. ...........................99 Tabela 55 – Logística associada aos materiais de embalagem de refeições prontas e pescado. ...................................................................................................................99 Tabela 56 – Logística associada à distribuição de refeições prontas e pescado. .......................99 Tabela 57 – Caracterização dos sistemas de embalagem de gelados take-home e multipack. ..............................................................................................................102 Tabela 58 – Peso do sistema de embalagem de gelados take-home e multipack.....................103 Tabela 59 – Logística associada aos materiais de embalagem de gelados take-home e multipack. ..............................................................................................................103 Tabela 60 – Logística associada à distribuição de gelados take-home e multipack. ...............103 Tabela 61 – Taxas de reciclagem na União Europeia em 1997...............................................135 Tabela 62 – Propostas de metas de reciclagem para a nova directiva sobre embalagens para 2006 ...............................................................................................................138 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal xvii Introdução 1 Introdução 1.1 Motivação, âmbito e objectivos 1.1.1 Motivação O desenvolvimento de novos produtos que respeitem os fins para que foram originalmente criados, mas que originem igualmente o menor impacte ambiental possível ao longo do seu ciclo de vida constitui um contributo decisivo para o desenvolvimento industrial sustentável. Este objectivo exige que na concepção do produto se tenha em conta todo o ciclo de vida do produto, desde a produção das matérias primas que lhe dão origem, até ao seu fim de vida, de modo a optimizar o consumo de energia e materiais, minimizar as emissões para o ambiente e maximizar a recuperação de materiais e energia, numa óptica de Ecologia Industrial. As embalagens são um elemento fundamental de quase todos os sistemas de produção. Apesar da contenção do produto, protecção, estética e fornecimento de informação serem os aspectos principais que influenciam o design de embalagens, as embalagens têm sido alvo de diversas análises ambientais nas últimas duas décadas e a componente ambiental tem assumido cada vez mais importância na concepção das embalagens (Keoleian & Spitzley, 1999). Este aumento de preocupação em relação as consequências ambientais das embalagens deveu-se não só ao aumento das preocupações ambientais em geral, mas também ao aumento da diversidade e à “massificação” da embalagem (Letras, 2001). Neste contexto, a Comissão Europeia tem tomado acções legislativas e, em particular, a directiva 94/62/CE estipula a necessidade de serem valorizados, no mínimo, 50% em peso dos resíduos de embalagens em cada Estado-Membro, num prazo de 5 anos a contar da sua aplicação, isto é, até Junho de 2001 (entenda-se valorização como qualquer operação que permita a reutilização/reciclagem dos materiais de embalagem). A mesma directiva obriga a que 25% da totalidade das embalagens sejam recicladas, com um mínimo de 15% para cada tipo de material. Portugal, apesar ter uma derrogação prevista na directiva, é obrigado a atingir os valores previstos na directiva em 31 de Dezembro de 2005, sendo que até ao final de 2001 está obrigado a valorizar 25% dos seus resíduos de embalagens (D.L. n.º 366-A/97 de 20-12-1997). Assim sendo, para atingir este objectivo, avaliar todo o ciclo de vida das embalagens desde a sua produção até ao seu fim de vida torna-se bastante importante. Em Portugal, o D.L n.º 366-A/97 de 20-12-1997 refere nas suas considerações preliminares a importância da “…análise dos ciclos de vida das embalagens, com o fim de estabelecer uma hierarquia bem definida entre embalagens reutilizáveis, recicláveis e valorizáveis”. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 1 Introdução Outros países europeus têm conduzido estudos de Avaliação de Ciclo de Vida de diversos tipos de embalagem. No entanto, estes estudos não têm conduzido a respostas inequívocas sobre um sistema que seja, em qualquer contexto, preferível em termos ambientais, devido a diferenças existentes entre os diversos países ao nível do tratamento da informação obtida e metodologias utilizadas (EEA, 1997). Por conseguinte, a utilização de resultados de estudos realizados noutros países para a definição de políticas governamentais pode enviesar os objectivos definidos e conduzir a políticas ambientais desadequadas. Deste modo, é fundamental que o uso da ACV para a definição de políticas públicas sobre embalagens de bens alimentares num determinado país considere as especificidades locais e que a informação e a metodologia utilizada seja adequada à finalidade do estudo. É neste contexto que se integra a presente dissertação, a qual inclui um capitulo à análise das políticas para este sector e na definição de cenários de eco-eficiência para o ciclo de vida das embalagens, com vista a atingir-se um melhor design ambiental, gestão da produção, uso e fim de vida das embalagens de bens alimentares. 1.1.2 Âmbito e objectivos O âmbito do presente trabalho consiste na Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal e na definição de contributos para a redução do impacte ambiental destas embalagens. As normas ISO 14040 definem Avaliação de Ciclo de Vida (Life Cycle Assessement, LCA) como a compilação dos fluxos de entradas e saídas e avaliação dos impactes ambientais associados a um produto ao longo do seu ciclo de vida. Por sua vez a D.L. . n.º 366-A/97 de 20-12-1997 define embalagens como “todos e quaisquer produtos feitos de materiais de qualquer natureza utilizados para conter, proteger, movimentar, manusear, entregar e apresentar mercadorias, tanto matériasprimas como produtos transformados desde o produtor ao utilizador ou consumidor incluindo todos os artigos «descartáveis» utilizados para os mesmos fins” O objectivo desta dissertação consiste assim, em identificar e quantificar os impactes ambientais associados ao ciclo de vida das principais embalagens de bens alimentares em Portugal Continental e identificar oportunidades de eco-eficiência, com vista à elaboração de políticas e recomendações que possibilitem a redução do impacte ambiental associado à produção, embalamento, distribuição e deposição final das embalagens de bens alimentares. Dado a enorme variedade de actividades e embalagens no sector de bens alimentares, estudam-se as actividades mais relevantes dentro deste sector. O critério de selecção das actividades a estudar consistiu na quantidade de embalagens produzidas por cada sector, de acordo com as declarações à Sociedade Ponto Verde (SPV) e das embalagens colocadas no mercado pelas empresas embaladoras em 1999 e 2000. Sendo assim, a classificação das actividades ou sectores dentro dos bens alimentares e a sua nomenclatura é a mesma adoptada pela SPV. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 2 Introdução Neste contexto estudaram-se os 5 sectores económicos mais relevantes em termos de produção de embalagens dentro dos 21 sectores identificados nos códigos da SPV e que são: os produtos lácteos, as gorduras alimentares, as frutas e legumes, a confeitaria e os congelados. Estes sectores em conjunto representam 58,7% do total de embalagens declaradas em 2000 (ver Figura 6). O modelo de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) desenvolvido foi implementado num programa informático disponível comercialmente, o Simapro 4.0 e inclui a análise de 27 embalagens em 5 sectores de bens alimentares, as quais estão descritas na Tabela 1. Tabela 1 – Embalagens estudadas. Sector Produtos lácteos Gorduras alimentares Frutas e legumes Confeitaria Produtos congelados Embalagem Cartão para alimentos líquidos de 1 L PS de 125 g 85 PS de 140 g PEAD de 185 g (200 mL) PET de 1 L Vidro de 0,75 L Vidro de 1 L Aço de 1 L PP de 250 g PP de 500 g Papel/Alumínio/PE de 250 g Papel/Alumínio/PE de 1 kg PS de 15 g PP de 125 g PP de 250 g Vidro de 520 g Vidro de 1050 g Madeira de 9 kg Madeira de 12 kg PEBD/PS de 125 g PEBD de 180 g PEBD/Cartão de 200 g PEBD/PS/Cartão/Alumínio de 350 g PE/PET de 400 g PS/Cartão de 300 g PP/PEAD/Papel/PEBD de 342 g Papel/Alumínio/Cartão de 6x79,5 g Produto leite UHT iogurte óleos vegetais azeite margarina de mesa margarina de culinária manteiga frutas e legumes industriais frutas e legumes frescos bolachas peixe congelado e refeições prontas gelados 1.2 Organização da dissertação A presente dissertação encontra-se dividida em 4 secções cujo o conteúdo se resume nos parágrafos seguintes: Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 3 Introdução - Introdução, onde se explicam os objectivos e o âmbito do trabalho, fazse uma análise da problemática da embalagem como resíduo e discutese a metodologia que serviu de base à dissertação. - As embalagens de bens alimentares em Portugal, onde se analisa os tipos de embalagens estudados e os circuitos de processamento de resíduos existentes. - Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal, onde se descrimina o ciclo de vida de cada uma das embalagens estudadas e os seus impactes ambientais. - Contributos para a definição de políticas orientadas para a redução do impacte ambiental das embalagens de bens alimentares, onde se analisa alguns cenários de eco-eficiência, os quais suportam algumas considerações sobre políticas de embalagem para Portugal, compara-se os resultados do estudo com outros realizados noutros países e efectuam-se algumas considerações sobre o mercado de embalagens. 1.3 As embalagens e o ambiente 1.3.1 A função das embalagens Actualmente, as embalagens são fundamentais para a obtenção de bens de primeira necessidade e para satisfazer as necessidades dos consumidores. Nos produtos alimentares, a embalagem apresenta um papel especialmente relevante, uma vez que reduz substancialmente o desperdício de géneros alimentares dado impedir a degradação do mesmos. Estima-se que, com o aumento de 1% de embalagens, o desperdício alimentar diminui 1,6% (Pongrácz, 1998). Embalagem é definida como todos os produtos feitos de quaisquer materiais para serem usados no confinamento, protecção, manuseamento, distribuição e apresentação de bens, desde as matérias primas aos bens processados, desde o produtor ao utilizador, ou consumidor (Lox, 1994). As embalagens de bens alimentares são principalmente constituídas de plástico, vidro, papel e cartão, aço e alumínio e madeira. As embalagens podem ser divididas em 3 classes de acordo com a seu papel no sistema de embalagem de um produto, que, segundo Lox (1994), pode ser definido como todas as embalagens usadas para movimentar o produto desde a sua produção até ao seu consumidor final: • Embalagens de venda ou embalagens primárias, qualquer embalagem concebida com o objectivo de constituir uma unidade de venda ao utilizador ou consumidor final no ponto de compra; Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 4 Introdução • Embalagem grupada ou embalagem secundária, qualquer embalagem concebida com o objectivo de constituir, no ponto de compra, uma grupagem de determinado número de unidades de venda, quer estas sejam vendidas como tal ao utilizador ou consumidor final, quer sejam apenas utilizadas como meio de reaprovisionamento do ponto de venda; este tipo de embalagem pode ser retirado do produto sem afectar as suas características; • Embalagem de transporte ou embalagem terciária, qualquer embalagem concebida com o objectivo de facilitar a movimentação e o transporte de uma série de unidades de venda ou embalagens grupadas, a fim de evitar danos físicos durante a movimentação e o transporte. A embalagem de transporte não inclui os contentores para transporte rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo. 1.3.2 A embalagem como resíduo A crescente produção de resíduos está intimamente ligada ao desenvolvimento da nossa sociedade e ao consequente aumento do consumo de bens materiais. Os resíduos, que antes eram vistos exclusivamente como um subproduto da actividade produtiva e uma fonte de poluição ambiental, são hoje cada vez mais encarados como recursos naturais secundários cujo potencial económico urge aproveitar, de modo a potenciar um desenvolvimento económico mais sustentado. No entanto, o equilíbrio entre as dimensões económico, social e ambiental inerentes à persecução de políticas de desenvolvimento sustentado carece de estudos técnicos fundamentados da realidade nacional. Estima-se que a produção de RSU em Portugal tenha crescido nos últimos anos ao ritmo de 2,8%, cifrando-se em 2000 em 4,1 milhões de toneladas (DGA, 2000). Por outro lado a importância das embalagens nos RSU tem vindo a aumentar gradualmente, fruto da mudança dos hábitos de consumo dos Portugueses. Em Portugal, até há cerca de 5 anos, grande parte dos resíduos produzidos pela actividade económica, especialmente os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) eram encaminhados para lixeiras com pouco ou nenhum controle ambiental. Com o aumento da produção de resíduos e com o desenvolvimento da legislação ambiental esta solução de fim de vida tornou-se insustentável. Devido a este facto, houve um grande incentivo para o desenvolvimento de opções de fim de vida para os resíduos. Assim, foram criadas novas soluções para o encaminhamento de resíduos, nomeadamente através da reciclagem, valorização energética e deposição em aterro controlado. A própria Comissão Europeia reconheceu este facto ao verificar que as embalagens constituíam 30% a 40% dos RSU produzidos nos Estados-membros (EEA, 1999). Como tal, aprovou uma directiva para lidar exclusivamente com este problema. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 5 Introdução A Directiva Comunitária 94/62/CE de 20 de Dezembro estabelece para cada EstadoMembro, objectivos bem definidos para os circuitos de fim de vida das embalagens. Sendo assim, cada país necessita de, no mais tardar até 5 anos a contar da data de aplicação da directiva (o que significa que estes objectivos deveria ser atingidos em Junho de 2001): - valorizar no mínimo 50% e no máximo 65%, em peso, dos resíduos de embalagens; (entendendo-se valorização como qualquer operação que permita a reutilização/reciclagem dos materiais de embalagem); - reciclar no mínimo 25% e no máximo de 45%, em peso, da totalidade dos resíduos de embalagens, com um mínimo de 15% para cada material de embalagem. Portugal apesar de ter uma derrogação prevista na directiva, é obrigado a atingir os seguintes valores (D.L. n.º 366-A/97 de 20/12/1997): - até 31 de Dezembro de 2001, terão de ser valorizados um mínimo de 25%, em peso, dos resíduos de embalagens; - até 31 de Dezembro de 2005, devem ser valorizados um mínimo de 50% em peso dos resíduos de embalagens e reciclados um mínimo de 25%, em peso da totalidade dos resíduos de embalagens, com um mínimo de 15% para cada material de embalagem. Vários países têm vindo a desenvolver programas de acção no domínio das embalagens e dos seus resíduos em particular, quer através de regulamentação apropriada, quer através de acordos voluntários com operadores económicos. Em ambos os casos tem vindo a ser atribuída aos operadores económicos a responsabilidade pela gestão dos resíduos de embalagem (princípio do poluidorpagador). Esta responsabilidade pode, no entanto ser transferida para uma entidade licenciada para o efeito. Nesse contexto, em Portugal, foi criada a Sociedade Ponto Verde (SPV), entidade privada sem fins lucrativos, constituída pelos embaladores/importadores, distribuidores, fabricantes de embalagens e de materiais de embalagens que tem a responsabilidade de gerir o Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE), cujo o objectivo é a retoma e reciclagem dos resíduos de embalagens em Portugal. 1.3.3 A embalagem e a Ecologia Industrial A Ecologia Industrial é uma emergente disciplina que pretende fornecer um novo quadro de abordagem à interacção entre a economia e o ambiente e que difere da abordagem tradicional da politica ambiental porque tem como objectivo prioritário a sustentabilidade em termos globais, nas suas múltiplas dimensões (clima, biodiversidade, recursos naturais e renováveis, etc.) e encontra-se focada nos fluxos de materiais, produtos, serviços e processos numa perspectiva de ciclo de vida (from the cradle to the grave). A tradicional politica ambiental, centrada na mitigação e controle de emissões apresenta um âmbito mais local e mais voltado para os Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 6 Introdução problemas imediatos de saúde humana, como a qualidade da água ou ar, e consequentemente encontra-se focada em substâncias ou locais específicos (Allenby, 1999). Devido à elevada complexidade do sistema, por causa da abordagem sistémica e integral da relação economia-ambiente, a Ecologia Industrial pressupõe a integração de múltiplas disciplinas e ciências: Biologia, Física, Ciências Sociais, Economia, Engenharia, etc., que antes eram vistas na politica ambiental como entidades completamente separadas e distintas (Allenby, 1999). Deste modo, a Ecologia Industrial tem uma visão estratégica, sistémica e integral da relação entre economia e ambiente. Sob esta perspectiva, a economia de um país pode ser vista como um organismo vivo. A economia ingere matérias-primas, que são metabolizadas para a produção de bens e serviços e excretam resíduos na forma de materiais rejeitados e poluição (Adriaanse et al., 1997). Esta abordagem permite visualizar a economia como uma entidade física, para além da entidade financeira tradicional (Matthews et al., 2000). A criação de uma economia sustentável requer mais do que boas intenções, requer um conjunto de ferramentas e técnicas baseadas nos princípios da Ecologia Industrial. Estas técnicas e ferramentas formam o mecanismo em que as observações científicas e as considerações éticas e sociais sobre o ambiente são traduzidas em concretas politicas, instituições e mecanismos que formam a base da nossa economia. Mais concretamente, o conjunto de indicadores e métricas derivados destas ferramentas, que incluem indicadores físicos para além de indicadores financeiros e económicos, parecem ser o modo mais eficaz pelo qual se pode aumentar a robustez das iniciativas politicas que visam conduzir à sustentabilidade (Allenby, 1999; Matthews et al., 2000). Tal como na análise económica tradicional, para a formulação de politicas ambientais eficazes e eficientes é necessário a existência de informação detalhada para responder perguntas específicas da interacção entre o ambiente e a economia (Matthews et al., 2000). Deste modo, um conjunto alargado de ferramentas de ecologia industrial foi desenvolvido para procurar dar resposta a diferentes abordagens da relação economiaambiente. Entre estas ferramentas podem-se enumerar a Análise de Fluxo de Materiais, as Tabelas Input-Output Físicas, e a Avaliação de Ciclo de Vida. Por exemplo, métodos como a Análise de Fluxo de Materiais na economia de um país e as Tabelas Input-Output Físicas, fornecem as tendências de fundo das pressões ambientais, mas insuficientes ligações directas a impactos ambientais concretos e quantificáveis (Eurostat, 2000). Enquanto que ferramentas como a Avaliação de Ciclo de Vida se encontram centradas no produto e nos impactos deste sobre o ambiente. A Avaliação de Ciclo de Vida fornece informação ambiental sobre um produto, que pode e, deve ser, utilizada para reduzir o impacte ambiental desse produto, quer seja através da redução do uso de materiais e melhor design do produto na origem (ecodesign), quer seja para permitir um destino final do produto mais correcto (eco-design e design for recycling) de modo a fechar de ciclos de materiais, em que os resíduos originados pelo processo produtivo de um produto dão origem a outros produtos, à semelhança dos ciclos de substâncias naturais (água, CO2, etc.). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 7 Introdução As embalagens, devido à sua relevância, têm sido alvo de avaliações ambientais segundo a metodologia de ACV, mas estas concentram-se quase exclusivamente nas embalagens de bebidas (ver por exemplo RDC, 1997; Pongrácz, 1998; Krogh et al., 2001). As embalagens desempenham um papel fundamental na sociedade contemporânea. As mais variadas embalagens compostas de diversos materiais e tamanhos, cores e funções, fazem parte do nosso quotidiano, tornando difícil imaginar a vida actual sem elas (Letras, 2001). Nos últimos anos as embalagens foram colocadas na ribalta das discussões ambientais precipitando desenvolvimentos e investimentos nesta área (Keoleian & Spitzley, 1999). Se no inicio, as preocupações se limitavam a não exceder os limites legais para as descargas de resíduos para a água, ar e solo, na linha da tradicional visão do ambiente (Letras, 2001), hoje em dia a visão é muito mais abrangente. Devido à mudança de atitude da sociedade em geral em relação às questões ambientais e da pressão que começou a ser efectuada por consumidores e empresas, as embalagens são cada vez mais encaradas numa óptica mais sustentável e encaradas como parte integrante do produto embalado. Como prova disso estão os diplomas legais sobre os resíduos de embalagem que estipulam metas de recolha e reciclagem e casos de sucesso de eco-design e design for recycling de embalagens, inclusive no mercado nacional (Plastval, 2001 ; Embopar, 2002). Neste contexto, ganham especial relevância as ferramentas de ecologia industrial, como as Avaliações de Ciclo de Vida, de modo a sustentar cientificamente as politicas e práticas seguidas e por desenvolver, de modo a reduzir-se efectivamente a pressão das embalagens sobre o ambiente. Adicionalmente, em termos de politica ambiental, as embalagens apresentam outro aspecto relevante. Uma vez que se tratam de bens presentes no dia a dia do público em geral, um aumento da percepção da vertente ambiental, numa óptica de ecologia industrial, num produto como as embalagens, pode levar a uma maior consciencialização da importância do life-cycle thinking e das questões ambientais em relação a bens de consumo em geral. 1.4 A metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida 1.4.1 Considerações iniciais A ACV é uma ferramenta da ecologia industrial para a recolha de informação sobre os impactos ambientais de um produto ou serviço durante o seu ciclo de vida (Ehrenfeld et al., 2002). As normas ISO 14040, pelas quais este trabalho está de acordo, definem a Avaliação de Ciclo de Vida (Life Cycle Assessement, LCA) como a compilação dos fluxos de entradas e saídas e avaliação dos impactes ambientais associados a um produto ao longo do seu ciclo de vida. Ciclo de vida de um produto, na metodologia de ACV, significa todas as fases por que este passa, desde a extracção de matérias primas e produção de energia, que são usadas na sua manufactura, até aos processos envolvidos no fim de vida do produto (Ehrenfeld et al., 2002). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 8 Introdução A metodologia de ACV, que é baseada na 1ª e 2ª leis da termodinâmica (Ferrão, 1998), tem entre outros objectivos: fornecer um quadro de interacções de uma actividade com o ambiente; contribuir para o entendimento da natureza interdependente e global das consequências ambientais das actividades humanas; providenciar aos agentes decisores informações que identifiquem oportunidades de eco-eficiência (EEA, 1997 ; Daniels & Moore, 2002). A ACV é utilizada muitas vezes para comparar produtos concorrentes entre si (Reis, 1999). A ACV é igualmente valiosa em ajudar indivíduos, empresas, industrias e governos a subirem na complexa curva de aprendizagem, em mudar a sua cultura de modo a que comecem a pensar e encarar sistemas, processos e produtos em termos de ciclo de vida (life-cycle thinking) e a alterar algumas ideias erradas enraizadas no senso comum do público em geral (Allenby, 1999 ; Heiskanen, 2001). A ACV é uma metodologia informação intensiva. Na realização da ACV nem sempre se tem acesso a toda a informação do processo produtivo de um bem, ou de processos associados ao ciclo de vida desse bem, devido a questões de confidencialidade (Peeereboom et al., 1999). A este facto acresce que em muitos casos, essa informação pura e simplesmente não existe. Como tal, a informação normalmente é recolhida de uma variedade de fontes, que incluem base de dados públicas, base de dados comerciais, livros e artigos científicos, estudos de ACV, etc., o que acarreta uma variação acentuada na qualidade de informação (Peeereboom et al., 1999). Outra limitação da metodologia é que um estudo completo de Avaliação de Ciclo de Vida, que inclua todos os fluxos de materiais ao mais pequeno pormenor é um processo extremamente ambicioso e complexo, além de recurso intensivo. Mesmo uma descrição estática de um produto implica uma variedade de intricados fluxos e de relações interdependentes e de sinergia (Pesonen, 1999). Como tal, a incerteza nos resultados é inerente a metodologia de ACV, e consequentemente, deve-se fazer um esforço para a minimizar. A margem de incerteza deve ser determinada quando possível e explicitada (Peeereboom et al., 1999). A Avaliação de Ciclo de Vida é uma metodologia que está constantemente em evolução e como tal, diferentes abordagens do problema podem resultar em resultados diferentes (Pongrácz, 1998). No entanto a estandardização da metodologia nas ISO 14040 a 14043, veio atenuar bastante este problema. Estas normas estão vocacionadas para uma fase específica da metodologia, que se apresentam de seguida: - Definição do âmbito e objectivos (ISO 14041). - Análise de Inventário (ISO 14042). - Avaliação dos impactes ambientais (ISO 14043). - Interpretação dos resultados (ISO 14044). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 9 Introdução 1.4.2 Definição do âmbito e objectivos A definição do âmbito e objectivos envolve a definição do produto a ser estudado, a unidade funcional da avaliação de ciclo de vida, as alternativas a considerar e a profundidade do estudo, ou seja o nível de detalhe deste e as suas fronteiras. 1.4.2.1 Âmbito e objectivos da ACV de embalagens de bens alimentares O âmbito do presente trabalho consiste na Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Continental. O objectivo da ACV consiste em identificar e quantificar os impactes ambientais associados ao ciclo de vida das principais embalagens de bens alimentares em Portugal Continental e identificar oportunidades de eco-eficiência, com vista à elaboração de políticas e recomendações que possibilitem a redução do impacte ambiental associado à produção, embalamento, distribuição e deposição final das embalagens de bens alimentares. 1.4.2.2 Unidade funcional A unidade funcional deve indicar claramente a função do sistema que está a ser estudado e a sua escolha deve ser consistente com o objectivo e âmbito do estudo. A principal utilidade da unidade funcional consiste em estabelecer uma referência, de modo a relacionar as entradas e saídas do sistema. A unidade funcional deverá ter portanto em consideração a perspectiva do utilizador ou do sistema (Ferrão, 1998; ISO/DIS 14041, 1998). No caso da presente dissertação, a função das diversas embalagens consideradas consiste em fornecer o produto embalado ao consumidor, ou seja, disponibilizar ao consumidor um determinado volume de bebida e um determinado peso líquido de um bem alimentar. Como tal, as unidades funcionais escolhidas para as diversas embalagens são as seguintes: Para bens alimentares líquidos, 1000 L de líquido disponibilizado ao consumidor. Esta unidade funcional implica diferentes quantidades de embalagens, de acordo com a Tabela 2. Tabela 2 – N.º de embalagens por 1000 L de produto. Produto Embalagem Leite UHT Óleos vegetais Cartão para alimentos líquidos de 1 L PET de 1 L Vidro de 0,75 L Vidro de 1 L Aço de 1 L Azeite Nº de embalagens por unidade funcional 1000,0 1000,0 1333,3 1000,0 1000,0 Para bens alimentares sólidos, 1000 kg de produto disponibilizado ao consumidor. Esta unidade funcional implica diferentes quantidades de embalagens (ver Tabela 3). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 10 Introdução Tabela 3 – N.º de embalagens por 1000 kg de produto. Produto Iogurte Margarina Manteiga Frutas e legumes Industriais Frutas e legumes Frescos Bolachas Peixe congelado e Refeição pronta Gelados Embalagem PS de 125 g PS de 140 g PEAD de 185 g PP de 250 g PP de 500 g Papel/Alumínio/PE de 250 g Papel/Alumínio/PE de 1 kg PS de 15 g PP de 125 g PP de 250 g Vidro de 520 g Vidro de 1050 g Madeira de 9 kg Madeira de 12 kg PEBD/PS de 125 g PEBD de 180 g PEBD/Cartão de 200 g PEBD/PS/Cartão/Alumínio de 350 g PE/PET de 400 g PS/Cartão de 300 g PP/PEAD/Papel/PEBD de 342 g Papel/Alumínio/Cartão de 6x79,5 g N.º de embalagens por unidade funcional 8000,0 7142,9 5405,4 4000,0 2000,0 4000,0 1000,0 66666,7 8000,0 4000,0 1923,1 952,4 111,1 83,3 8000,0 5555,6 5000,0 2857,1 2500,0 3333,3 2924,0 12578,6 A razão para a escolha das unidades funcionais de 1000 kg e 1000 L e não outro valor de peso ou volume, deve-se a uma questão de facilidade de apresentação de resultados. 1.4.2.3 Fronteiras do sistema As fronteiras do sistema definem quais as fases e processos que vão ser incluídas no sistema a modelar. Idealmente, todos os processos e materiais que estão associados a um produto deveriam estar incluídos na avaliação, mas esta regra imporia uma impossibilidade física ao problema. Em qualquer Avaliação de Ciclo de Vida, devido a factores como a complexidade do sistema e os recursos existentes, não é possível ou necessariamente desejável incluir todas as fases e variantes do ciclo de vida do sistema que se está a analisar (Grant et al., 1999). Por exemplo, para a manufactura de um determinado produto é necessário um equipamento A, mas por sua vez o equipamento A foi produzido utilizando um equipamento B e este por um equipamento C e assim sucessivamente. Teoricamente dever-se-ia incluir o equipamento B e os outros a montante, pois contribuíram para a manufactura do produto, mas de uma forma geral trata-se de efeitos de 2ª ordem, com pouco significado e cuja análise exigiria recursos, quer temporais, económicos ou humanos, incompatíveis com os objectivos da presente análise. Normalmente a definição das fronteiras do sistema é feita inicialmente e deve ser corrigida à medida que o estudo vai decorrendo e se vai refinando o trabalho preliminar de identificação das fases e processo relevantes do ciclo de vida (ISO/DIS Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 11 Introdução 14041, 1998). No presente estudo foram consideradas as fases de produção, embalamento e destino final, assim como toda a logística (ver Figura 1). Figura 1 – Diagrama esquemático do ciclo de vida de uma embalagem. Matérias Primas Produção dos materiais de embalagem Transporte dos materiais de embalagem Produção das embalagens Produto Embalamento do produto Distribuição dos produtos embalados Utilização Resíduos de embalagem Recolha e triagem Aterro Incineração Reciclagem Reutilização Fonte: Adaptado de RDC, Coopers & Lybrand (1997). Nos casos em que foi possível obter os consumos energéticos e de materiais associados aos processos de embalamento, rotulagem e acondicionamento das embalagens, estes são incluídos na avaliação. Contudo, na sua maior parte, as empresas não conseguiram distinguir estes consumos dos consumos de energia e materiais do processo global de produção. Devido à diferença de qualidade e profundidade da informação obtida para as várias embalagens, em cada ciclo de vida são indicados casos particulares de processos que pela razão apontada anteriormente estão ou não incluídos na avaliação. 1.4.3 Análise de inventário Este é o processo base da ACV. A análise de inventário envolve a recolha da informação relevante associada ao ciclo de vida do produto, isto é, as entradas e as saídas de materiais e energia dos processos envolvidos no ciclo de vida e que estejam dentro do âmbito do estudo. Esta informação é caracterizada por vários elementos, como por exemplo, o ano de recolha da informação, a sua representatividade tecnológica e geográfica e a sua precisão, entre outros, que por inerência apresentam incertezas. Deste modo, a qualidade desta informação é a que em última análise determina o grau de certeza e confiança dos resultados da ACV (Peereboom et al., 1999) Dentro de cada processo do ciclo de vida, as entradas podem ser de 2 géneros: matérias primas e energia ou produtos e energia que resultam de saídas de outros Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 12 Introdução processo. Por outro lado, as saídas dos processos do ciclo de vida podem ser de 2 tipos: emissões para o ambiente (solo, ar, água) ou produtos e energia. A partir das informações recolhidas sobre todos os processos do ciclo de vida e que se situam dentro da fronteira definida para a ACV, é construída uma tabela de inventário, em que todas as entradas e saídas existentes no ciclo de vida estão quantificadas. A Tabela 4 exemplifica uma tabela de inventário relativa à produção de PEAD. Tabela 4 – Exemplo de uma tabela de inventário – Tabela de inventário da produção de 1 kg de granulado de PEAD. Energia hidroeléctrica 390 kJ Metano CO2 2,1 kg Poeiras Crude (material prima) 550 g Sulfatos Petróleo 240 g Resíduos para incineração Carvão 77 g ClLinhite 76 g Substâncias dissolvidas n. orgânicas Resíduos de mineração 18 g CO COV’s (excepto metano) 17,3 g Ferro Resíduos de produção para aterro 13 g Iões metálicos 10 g Bauxite NOx (em NO2) 6 g Calcário SOx (em SO2) ... Sal gema 4 g Fonte: APME (1997), presente na bases de dados PRÉ, incluída no programa Simapro. 3,7g 2 g 1,3g 900 mg 800 mg 600 mg 600 mg 300 mg 300 mg 200 mg 200 mg 1.4.4 Avaliação de impactes ambientais 1.4.4.1 Considerações iniciais A avaliação de impactes ambientais é um processo quantitativo para avaliar os efeitos dos ambientais associados às componentes identificadas na análise de inventário. Esta fase da ACV pode ser dividida em 3 partes: - Classificação/ Caracterização - Normalização - Avaliação. O método de avaliação de impactes escolhido para o presente estudo é o método do Eco-indicador 95, que foi desenvolvido ao abrigo do programa National Reuse of Waste Research Programme (NOH) na Holanda, pela PRé Consultants, com a participação, entre outros, das Universidades de Leiden, Delft e Amesterdão e Ministério do Ambiente Holandês (Ferrão, 1998). Um diagrama esquemático da fase avaliação de impactes ambientais pode ser encontrado na Figura 2. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 13 Introdução Figura 2 – Método Eco-indicador 95. Inventário de Caracterização ciclo de vida e/ou Normalização CFC Pb Avaliação CAMADA DE OZONO METAIS PESADOS Cd AUMENTO MARGINAL DE MORTALIDADE Poeira SMOG DE VERÃO COV SMOG DE INVERNO DDT PESTICIDAS CO2 EFEITO DE ESTUFA SO2 SAÚDE VALORIZAÇÃO SUBJECTIVA CARCINOGENIA PAH ECOINDICADOR DEGRADAÇÃO DO ECOSSISTEMA ACIDIFICAÇÃO NOX P Intervenção ambiental EUTROFIZAÇÃO Categorias de impacte Parâmetro de avaliação Indicador Adaptado de Ferrão (1998). Analisam-se nos parágrafos seguintes as diferentes etapas da fase de avaliação de impactes. 1.4.4.2 Classificação / Caracterização Na fase de classificação, as substâncias que foram identificadas na fase de Inventário como fazendo parte do ciclo de vida do produto são agregadas em diferentes classes de acordo com o seu impacte ambiental. O tipo de classes e o número destas dependem do método utilizado para a classificação de impactes ambientais. Na Tabela 5 estão exemplificados 3 métodos diferentes desenvolvidos para a classificação de impactes. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 14 Introdução Tabela 5 – Métodos de classificação de impactes ambientais. CML (1992) SETAC Eco-indicator 95 Efeito de estufa Aquecimento global Efeito de estufa Diminuição da camada de ozono Diminuição da camada de ozono estratosférica Diminuição da camada de ozono Toxicidade humana Impactes toxicológicos humanos Toxicidade humana Eco toxicidade Impactes eco toxicológicos Pesticidas Formação fotoquímica de oxidantes Formação de foto-oxidantes “Smog” de Verão Acidificação Acidificação Acidificação Eutrofização Eutrofização Eutrofização Libertação de calor - - Odores Odores - Ruído Ruído - - Radiação - - - Emissão de metais pesados - - Carcinogenia - - “Smog” de Inverno Deplecção de recursos bióticos Deplecção de recursos bióticos Deplecção de recursos bióticos Deplecção de recursos abióticos Deplecção de recursos abióticos Deplecção de recursos abióticos Fonte: Ferrão (1998). As substâncias emitidas, denominadas intervenções ambientais na nomenclatura das normas ISO 14040, são agregadas por classes com recurso a factores de ponderação. Por exemplo, o potencial de efeito estufa de 1 kg de metano (CH4) é 11 vezes superior ao de 1 kg de CO2, sendo assim, diz-se que 1 kg de metano libertado para a atmosfera corresponde a 11 kg de CO2 equivalente emitido para a atmosfera. Este passo é denominado caracterização, em que os contributos das intervenções ambientais são estabelecidos por comparação com uma intervenção ambiental de referência. No exemplo descrito, as emissões de CH4 e o CO2 são convertidas em emissões de CO2 equivalente. Estas comparações são estabelecidas através de critérios científicos. Certas substâncias, como têm efeito em mais de que um tipo de impacte ambiental, são incluídas em mais de que uma classe. Por exemplo o NOx contribui não só para causar eutrofização, mas também para a acidificação de lagos, rios e solos. No método utilizado no presente estudo, o Eco-Indicador 95, são consideradas 11 classes de impacte ambiental (Tabela 6). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 15 Introdução Tabela 6 – Categorias de impacte ambiental consideradas no método Eco-indicador 95. Categoria Efeito de Estufa Unidades kg CO2 Diminuição da camada de ozono kg CFC11 Acidificação kg SO4 Eutrofização kg PO4 Metais pesados kg Pb Carcinogenia kg B(a)P Smog de Inverno kg SPM Smog de Verão kg C2H2 Pesticidas kg pesticidas Energia MJ Resíduos Sólidos kg Impactes ambientais Alterações climáticas aumento da radiação ultravioleta incidente no solo Acidificação de solos, rios e lagos Aumento de nitratos e outros fertilizantes nos rios, lagos e lençóis freáticos Toxicidade humana e os seres vivos em geral Saúde humana, aumento da incidência de cancros Problemas respiratórios causadas por partículas em suspensão Problemas respiratórios. Criação de ozono ao nível do solo Contaminação de lençóis freáticos e dos solos Consumo de energia Produção de resíduos sólidos 1.4.4.3 Normalização Na normalização, os resultados obtidos na caracterização, são adimensionalizados por um padrão que consiste na quantidade atribuída a um cidadão médio europeu (com excepção da antiga União Soviética) em 1990, para cada unidade de referência das categorias de impacte ambiental (PRé Consultants, 1995). A normalização, à semelhança da fase de caracterização. A magnitude do impacte ambiental de cada produto é determinado multiplicando o factor de normalização de cada classe pelo resultado da fase de caracterização em cada categoria de impacte ambiental. O factor de normalização é o inverso do valor da produção e emissão per capita de um cidadão europeu (ver Tabela 7). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 16 Introdução Tabela 7 – Factores de normalização do Eco-Indicador 95. Categoria Unidades Efeito de Estufa Diminuição da camada de ozono Acidificação Eutrofização Metais pesados Carcinogenia Smog de Inverno Smog de Verão Pesticidas Energia Resíduos Sólidos kg CO2 kg CFC11 kg SO4 kg PO4 kg Pb kg B(a)P kg SPM kg C2H2 kg pesticidas MJ kg Emissão per capita de um cidadão europeu 1.31E+04 9.26E-01 1.13E+02 3.82E+01 5.43E-02 1.09E-02 9.46E+01 1.79E+01 9.66E-01 1.59E+05 3,58E+03 Factor de Normalização 0,0000765 1,08 0,00888 0,0262 18,4 92 0,0106 0,0558 1,04 0,00000629 0,000284 Fonte: Pré Consultants (1995) Para a categoria de impacte resíduos sólidos, o método do Eco-indicador 95 não explicita um factor de normalização. No entanto, na ACV realizada, para se poder avaliar a magnitude dos impactes nesta categoria, calculou-se um factor de normalização com base nos dados de resíduos sólidos urbanos, industriais, de mineração e energia, produzidos na União Europeia no ano de 1995 (EEA, 1998), o qual figura na Tabela 7. 1.4.4.4 Avaliação Nesta fase, os resultados obtidos na fase de normalização são ponderados com factores de ponderação subjectivos, de modo a agregar os impactes ambientais traduzidos nas diferentes categorias de impacte num só indicador. Esta fase é bastante subjectiva e deve-se usar com cautela, uma vez que os factores de ponderação dependem também das condições geográficas, éticas e políticas de onde e quando foram estabelecidos. Por exemplo, os países do Norte da Europa mais industrializados que os do Sul, podem dar mais importância à categoria acidificação, em detrimento de outra, uma vez que este problema é mais premente na sua região. Do mesmo modo, os países do Sul poderão a dar mais relevância à categoria efeito de estufa, porque as alterações climáticas poderão acarretar diminuição de precipitação numa região já de si com baixos recursos hídricos. Os factores de avaliação no Eco-indicador 95 estão definidos de acordo 3 parâmetros de avaliação (PRé Consultants, 1995): - o aumento marginal de mortalidade para as categorias de impacte ambiental camada de ozono, metais pesados e carcinogenia; - o efeito na saúde humana para as categorias de impacte ambiental smog de verão e smog de inverno; - a degradação do ecossistema para as categorias de impacte ambiental efeito de estufa, acidificação, eutrofização e pesticidas; Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 17 Introdução As restantes categorias de impacte ambiental do método Eco-indicador 95, energia e resíduos sólidos não são consideradas na fase da avaliação, ou seja não contribuem para o resultado final do Eco-indicador 95. Na presente ACV optou-se por não realizar a fase de avaliação devido à sua maior subjectividade inerente e de esta fase não ser condição necessária para alcançar os objectivos a que se propôs o estudo. 1.4.5 Interpretação de resultados A interpretação de resultados é a fase da ACV em que os resultados das fases de inventário e avaliação de impactes ambientais são combinados. São tiradas ilações acerca dos resultados, e as conclusões e recomendações da ACV devem estar de acordo com o âmbito e objectivos do estudo (Ferrão, 1998 & ISO 14043, 2000). Nesta dissertação vai-se um pouco mais longe. Para além de serem analisados os resultados obtidos é efectuada uma análise de sensibilidade e de outras opções alternativas para a produção e fim de vida das embalagens de bens alimentares estudadas, de modo a reduzir o seu impacte ambiental e contribuir para a elaboração de políticas sobre embalagens que sejam ambientalmente mais sustentáveis. 1.4.6 Software de ACV - SIMAPRO Dado os requerimentos de informação numa ACV serem substanciais e normalmente um factor limitante na análise, ferramentas com base de dados incorporadas foram criadas para fornecerem valores típicos para a avaliação de impactes. No entanto, como muitos impactos são locais, este facto pode e introduz alguns erros na análise (Ehrenfeld et al., 2002) e como tal, a utilização destas bases de dados deve ser encarada com espírito critico. Entre software desenvolvido para apoiar a metodologia de ACV podem-se enumerar alguns programas, como sejam o GaBi, o TEAM e o SimaPro (Norris & Yost, 2002). O SimaPro é um dos programas informáticos de Avaliação de Ciclo de Vida mais conhecidos e divulgados internacionalmente. O programa permite utilizar vários tipos de métodos de avaliação de impactes identificar em cada fase do ciclo de vida os impactes associados. Para além de o programa permitir a criação de processos de produção, uso e fim de vida de produtos a partir de recolha de informação experimental, contém uma série de base de dados de inventários de vários processos elementares, que foram sendo compilados a partir de estudos realizados por várias instituições e empresas europeias e norte-americanas, que podem ser utilizados na elaboração do ciclo de vida quando necessário. A versatilidade do programa e a quantidade de informação que está contida nas suas bases de dados, simplificam não só a elaboração do ciclo de vida de um produto como também a comparação de resultados e da avaliação de várias opções e hipóteses do ciclo de vida considerado. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 18 Introdução As bases de dados usadas nesta ACV são as seguintes (Fonte: Pré Consultants): Base de dados PRÉ (incluída no Simapro 4.0) Base de dados BUWAL 250 (incluída no Simapro 4.0) Temas principais: materiais, energia, transportes, processos, tratamento de resíduos. Fontes de informação: instituições publicas BUWAL 132, ETH, SPIN, Chalmers, Kemna). (APME, Temas principais: materiais de embalagem (aço, alumínio, cartão e papel, Madeira, plásticos e vidro) energia, transportes, tratamento de resíduos. Fonte de Informação: BUWAL 250 2ª edição. Base de dados IDEMAT 96 (incluída no Simapro 4.0) Base de dados FRANKLIN (não incluída no Simapro 4.0) Temas principais: materiais de construção (aço, ligas, madeiras, plásticos), energia e transportes. Fonte de informação: Universidade de Delft, Holanda Temas principais: dados norte-americanos sobre energia, transportes, aço, plásticos e processos Fonte de informação: Franklin Associates, USA. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 19 As embalagens de bens alimentares em Portugal 2 As embalagens de bens alimentares em Portugal 2.1 Tipos de embalagens 2.1.1 Considerações iniciais Para a identificação dos principais sectores e embalagens de bens alimentares, foram utilizados dados e informações da SPV, de associações sectoriais, da empresa AC. Nielsen Portugal e do INE. Os dados declarados à SPV e utilizados na presente dissertação são referentes a 1998, 1999 e 2000 e estão agregados segundo os sectores económicos. A desagregação por material é efectuada em 7 grupos: vidro, papel e cartão, plástico, aço, alumínio, madeira e outros materiais. As embalagens de cartão complexo são incluídas exclusivamente no grupo papel-cartão. No contexto do presente trabalho foram contactadas, entre outras, as seguintes associações: Associação dos Industriais de Margarinas e Gorduras Alimentares (AIGMA), Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL), Federação das Indústrias de Óleos Vegetais, Derivados e Equiparados (FIOVDE), Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), mas os dados obtidos das associações foram geralmente bastantes escassos. Os dados da empresa ACNielsen Portugal são dados referentes ao Índice Nielsen Alimentar (INA) dos anos de 1998 e 1999 presentes nos Anuários FOOD 1998 e FOOD 1999. O índice INA engloba os canais dos hipermercados, dos supermercados e do comércio tradicional (mercearias, pastelarias, leitarias, etc.) e os resultados são expressos em volumes de vendas. Este índice, segundo a Nielsen tem uma taxa de cobertura de 60% do mercado total (Taxa de Cobertura Estimada (TCE)) do universo Nielsen. De referir que o canal Horeca, que engloba os hotéis, restaurantes e cafés, não se encontra contabilizado neste índice. No INA estão ainda representadas as variações do consumo dos diversos anos, as três principais marcas de cada segmento de produtos e a respectiva quota de mercado conjunta e o consumo por área geográfica. Existem 6 áreas geográficas de consumo identificadas no INA (Figura 3), sendo elas: Grande Lisboa, Grande Porto, Litoral Norte, Litoral Sul, Interior Norte, Sul. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 20 As embalagens de bens alimentares em Portugal Figura 3 – Áreas Nielsen (adaptado do Anuário Food 1999). Os dados sobre a distribuição geográfica do consumo em Portugal por tipo de produto presentes no relatório Nielsen FOOD são utilizados para calcular as distâncias médias percorridas por uma embalagem até ao seu local de consumo e por um resíduo de embalagem desde o local do seu consumo até ao seu fim de vida final. Uma estimativa das distâncias entre o local de produção e cada área geográfica Nielsen é calculada com base na distribuição populacional dentro dessas áreas. Por sua vez, esta estimativa e o valor do consumo dentro de cada área, presente no relatório Nielsen FOOD, são utilizados para calcular a distância média percorrida por uma embalagem desde a sua produção até ao local de consumo. Um raciocínio análogo é efectuado para calcular as distâncias médias percorridas por um resíduo de embalagem. O Instituto Nacional de Estatística não tem dados específicos sobre embalagens. Os dados referidos neste estudo foram obtidos com base nas estatísticas agrícolas e nos balanços de aprovisionamento e dizem respeito a consumos, capitações e produções. 2.1.2 Sectores e materiais de embalagem relevantes Em 2000 foram declaradas à Sociedade Ponto Verde um total de 685 987 toneladas de embalagens, ou seja, incluindo as embalagens primárias, secundárias e terciárias. Os sectores que mais contribuem para este valor são o sector das Bebidas (41,7%) e o sector dos bens alimentares (26,9%) (ver Figura 4). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 21 As embalagens de bens alimentares em Portugal Figura 4 – Importância dos principais sectores de embalagens em 2000 (SPV, percentagem em peso). Outros Saúde,Higiéne, 10,6% Beleza 4,4% Químicos 5,0% Bebidas 41,7% Distribuição 11,4% Bens Alimentares 26,9% Da análise do gráfico anterior ressalta que os dois sectores mais importantes, ou seja, as bebidas e os bens alimentares, são responsáveis por mais de 2/3 dos resíduos de embalagens. Em termos de materiais de embalagem, no total de embalagens declaradas à SPV, a Figura 5 mostra que, em peso, o vidro, o papel e cartão e o plástico são os materiais mais utilizados, contabilizando conjuntamente 91% de todas as embalagens declaradas à Sociedade Ponto Verde. O vidro é o material que apresenta maior percentagem, 42,2%, mas também é bastante mais pesado por unidade de volume que o papel e cartão e que o plástico. O plástico, por sua vez, é mais leve que o papel e o cartão. O aço apresenta uma percentagem reduzida, 5,7% e o alumínio e a madeira praticamente percentagens irrisórias, 0,9% e 0,5%, respectivamente. Figura 5 – Importância dos materiais no total de embalagens em 2000 (SPV, percentagem em peso). Aço 5,7% Alumínio 0,9% Outros 1,5% Madeira 0,5% Vidro 42,2% Plástico 31,9% Papel e Cartão 17,2% Os bens alimentares, tal como foi dito anteriormente, são o segundo sector mais importante em termos de embalagens, logo a seguir às bebidas, tendo em 2000 sido declaradas à Sociedade Ponto Verde 184 761 toneladas de embalagens. Dentro dos bens alimentares estudaram-se os sectores de produtos lácteos, gorduras alimentares, Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 22 As embalagens de bens alimentares em Portugal frutas e legumes, confeitaria e congelados (Figura 6) que apresentam as embalagens de bens alimentares mais importantes. Estes cinco sectores representam em conjunto 58,7% em peso das embalagens de bens alimentares. Os restantes sectores apresentam embalagens bastante diversificadas e vão desde embalagens para peixe fresco (2,4%), charcutaria (0,6%) a produtos naturais e dietéticos (0,5%) e mel (0,3%). Figura 6 – Importância dos sectores de bens alimentares em 2000 (SPV, percentagem em peso). Produtos Lácteos 24,8% Gorduras Alimentares 16,6% Outros 41,3% Frutas e Legumes 7,5% Congelados Confeitaria 5,2% 4,6% O principal tipo de material empregue para embalagem no sector dos bens alimentares é o papel e cartão que representa quase metade das 184,7 mil toneladas de embalagens primárias, secundárias e terciárias declaradas. O vidro é o segundo material mais importante com 25,3% e o plástico é o terceiro com 16,9%. O alumínio e a madeira têm expressões quase residuais (ver Figura 7). Figura 7 – Importância dos materiais no total de embalagens de bens alimentares em 2000 (SPV, percentagem em peso). Alumínio 1,0% Aço 6,8% Papel-Cartão 47,3% Madeira 2,0% Outros 0,7% Vidro 25,3% Plástico 16,9% 2.1.3 Produtos lácteos O sector dos produtos lácteos engloba as indústrias de produção de leite, iogurtes, queijos, natas e sobremesas lácteas. Dados do INE revelam que, em 1998, o volume de vendas da indústria de leite e derivados ascendeu a 201 998 milhões de escudos, o que reflecte um forte aumento em relação a 1996, onde o volume de negócios neste sector foi de 159 376 milhões de escudos. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 23 As embalagens de bens alimentares em Portugal Optou-se por fazer a síntese do mercado total de produtos lácteos a partir dos dados do INE, quando estes estivessem disponíveis. A partir da análise da informação existente na Tabela 8 verifica-se que a Lactogal detém mais de dois terços deste mercado. Nos iogurtes, este grupo não detém uma posição muito forte. Tabela 8 – Consumos dos diversos tipos de produtos lácteos. Produtos Estimativa do mercado (106 kg) (1998) Principais empresas (1998 e 1999) Quota de mercado (%) Leites 912,0* Lactogal (99) 63% Iogurtes 120,0 Danone, Nestlé e Lactogal (99) Lactogal (99) 59% 11,6% Queijo 87,0 Limiano, Gresso, Pastor Lactogal (99) 18% 10,2% Danone, Gelgurte, Nestlé (99) 53% Sobremesas 16,2 (129,7)** Mimosa, Agros, Gresso (99) 59% Lactogal (99) 54,7% Nota: Dados do INE de consumo, à excepção das sobremesas que são estimadas do INA, considerando TCE de 60%, e das natas que são dados de produção do INE. As quotas de mercado da Lactogal provêm do próprio grupo. A fonte das quotas conjuntas é o índice INA de 1998 e 1999. * - valor em milhões de litros, ** - milhões de unidades de 125g. Natas 12,9 No sector de produtos lácteos estudaram-se as embalagens de leites e iogurtes. Como seria de esperar, os leites são o produto mais importante dentro do sector dos produtos lácteos com uma quota de mercado significativa, aproximadamente de 80%. O segundo produto mais importante é os iogurtes, com uma quota de mercado bastante inferior ao leite (10,5%) como se encontra patente na Tabela 9. Tabela 9 – Percentagem em quantidade do mercado dos diversos tipos de produtos lácteos. Leites Iogurtes Queijo Sobremesas Natas % do mercado dos produtos lácteos em quantidade 79,4% 10,5% 7,6% 1,4% 1,1% Leites Segundo o INE, o consumo anual per capita de leite em Portugal foi cerca de 91,2 kg em 1998. Uma estimativa com base no INA aponta para um consumo anual per capita de cerca de 88,3 L. Do leite consumido em Portugal, 94% é leite UHT e aromatizado e 6% é leite pasteurizado (Tabela 10). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 24 As embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 10 – Quantidades de leite vendidas em 1999 (INA, TCE de 60%). Tipo Quantidade vendida (103 L) Estimativa considerando a TCE (103 L) 479 243 21 526 29 236 530 005 798 738 35 877 48 727 883 342 UHT Aromatizado Pasteurizado Total Quota do mercado (%) 94,0% 6,0% 100,0% O principal grupo de leites em Portugal é o grupo Lactogal que em 1999 detinha 63,2% da quota de mercado dos leites (Fonte: Lactogal). A distribuição geográfica do consumo de leite é apresentada na Figura 8. Verifica-se que 64% do consumo de leite em Portugal é realizado nas áreas da grande Lisboa, grande Porto e no litoral Norte, onde está concentrada grande parte da população portuguesa. Figura 8 – Distribuição geográfica do consumo de leite (INA, 1999). p 27% 25% 14% 12% I - Grande Lisboa II - Grande Porto 10% III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte 12% V - Sul Em termos de embalagens, utiliza-se para os leites o cartão complexo, o vidro e também existem embalagens de polietileno. A embalagem mais utilizada nos leites é o cartão complexo de 1 L (do tipo tetra-brick). Iogurtes Considerando o índice INA e a sua taxa de cobertura estimada (60%), em 1999, a venda de iogurtes ascendeu a cerca de 1 114 milhões de unidades de 125 g, isto é, cerca de 139 milhões de kg, o que equivale a 13,9 kg per capita/ano. As quantidades comercializadas por tipo de iogurte encontram-se discriminadas na Tabela 11. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 25 As embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 11 – Quantidades vendidas de Iogurtes em 1999 (INA, TCE de 60%). Tipo Quantidade vendida (103 unid. de 125 g) Aromas Líquido Frutas Magro C/ cereais e fruta Naturais Total 232 612 168 797 102 766 73 759 54 944 35 705 668 583 Estimativa com a TCE (103 unid. de 125 g) Quota de mercado (%) 387 687 281 328 171 277 122 932 91 573 59 508 1 114 305 34,8% 25,2% 15,4% 11,0% 8,2% 5,3% 100,0% As principais marcas comercializadas de iogurtes são a Danone, a Nestlé e Lactogal, tendo conjuntamente uma quota de mercado de 59% (INA 1999). O grupo Lactogal que detém as marcas Mimosa, Agros, Gresso e Adagio tinha em 1999 uma quota de mercado de 11,6%. A distribuição geográfica do consumo de iogurtes é apresentada na Figura 9. Verificase que a distribuição de iogurtes é semelhante a de leite, apenas com uma ligeira maior incidência na área da grande Lisboa. Figura 9 – Distribuição geográfica do consumo de iogurtes (INA, 1999). 29% 25% 14% 13% 11% 8% I - Grande Lisboa II - Grande Porto III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte V - Sul As embalagens de iogurtes são normalmente de poliestireno (PS), sendo as de iogurte líquido de polietileno de alta densidade (PEAD). Também existem embalagens de vidro. 2.1.4 Gorduras alimentares O sector das gorduras alimentares engloba as indústrias do azeite, dos óleos alimentares, da manteiga e da margarina. A manteiga é englobada neste sector para que a classificação da SPV seja respeitada. Dos quatro tipos de gorduras alimentares considerados verifica-se que existem 2 grandes grupos produtores de gorduras alimentares, os grupos Nutrinveste e Fima. Nos óleos vegetais, a Nutrinveste tem cerca de ¾ do mercado através das suas 7 marcas de óleos e no azeite, este grupo detém ainda a segunda marca do mercado, o azeite Oliveira da Serra. A comercialização dos produtos deste grupo é feita pela Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 26 As embalagens de bens alimentares em Portugal Sovena. O grupo Fima têm a marca Vaqueiro nos óleos vegetais com uma quota de mercado ainda significativa (praticamente a não detida pela Nutrinveste) e detém a quase totalidade do mercado de margarinas (85%). Na manteiga, a Lactogal tem uma quota de mercado superior a 50% (ver Tabela 12). Tabela 12 – Consumos de gorduras alimentares em Portugal em 1997 e 1999. Produtos Quantidade vendida (106 kg) Principais empresas Quota de mercado Óleos Vegetais Margarina Azeite Manteiga 102 60 56 16 Nutrinveste Fima Gallo, Oliveira da Serra, Condestável Lactogal 70-80% 85% 61% 58% Fonte: (Fonte: Associações sectoriais, Lactogal e Nielsen). Os dados de vendas de azeite e manteiga dizem respeito a 1997 e os restantes a 1999. Óleos Vegetais A produção global de óleos vegetais em Portugal em 1999, atingiu as 102.000 toneladas, correspondendo este valor a 115 milhões de litros de óleos refinados embalados (Fonte: FIOVDE). Do total de óleos vegetais, segundo o INA, em 1998, 87,8% destes eram óleos de culinária, 7,7% óleos de mesa e 4,5% óleo de soja. O líder de mercado é o grupo Nutrinveste, que detém 7 marcas: Fula, Vêgê, Frigi, e Finóleo, AAA, Solmil e Maná. Este grupo detém actualmente cerca 70% a 80% da quota de mercado (em 1994 o valor era de 73%). O segundo grupo mais importante é o grupo Fima, que tem a marca Vaqueiro, produzida pela fábrica Victor Guedes. A distribuição geográfica do consumo de óleos vegetais é apresentada na Figura 10. Figura 10 – Distribuição geográfica do consumo de óleos vegetais (INA, 1999). 36% 19% 16% 11% I - Grande Lisboa II - Grande Porto III - Litoral Norte 10% III - Litoral Sul IV - Interior Norte 8% V - Sul O principal material utilizado nas embalagens é o politereftalato de etileno (PET). O policloreto de vinilo (PVC), que antes era o material mais utilizado, encontra-se a ser substituído pelo PET. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 27 As embalagens de bens alimentares em Portugal Azeite Dados do INE indicam que em 1997, o consumo de azeite em Portugal foi de 56 milhões de kg, o que corresponde a 61 milhões de litros dado a densidade do azeite ser 0,916. Sendo assim a capitação anual é de 5,6 kg/pessoa.ano, ou 6,1 L/pessoa.ano. As principais marcas são o azeite Gallo, o azeite Oliveira da Serra e o azeite Condestável, que têm em conjunto uma quota de mercado de 61% (dados INA, 1999). A distribuição geográfica do consumo de azeite é apresentada na Figura 11. Figura 11 – Distribuição geográfica do consumo de azeite (INA, 1999). 31% 23% 14% 14% 12% 6% I - Grande Lisboa II - Grande Porto III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte V - Sul As embalagens de azeite são sobretudo de vidro, existindo também embalagens em folha de flandres. Margarinas Existem dois tipos principais de margarinas: as margarinas de consumo geral e as margarinas industriais usadas nas indústrias de panificação e confeitaria. As margarinas de consumo têm uma produção de cerca de 45.000 toneladas por ano. As margarinas industriais produzidas em Portugal são mais de 6.000 toneladas por ano, havendo alguma importação, sendo que este nicho de mercado no total representa aproximadamente 15.000 toneladas por ano (Fonte: AIGMA). Das margarinas de consumo, 60% são de mesa ou têm dupla finalidade e 40% são de culinária. A Fima detém praticamente a totalidade do mercado de margarinas de consumo em Portugal com as suas várias marcas. A distribuição geográfica do consumo de margarina está representada na Figura 12. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 28 As embalagens de bens alimentares em Portugal Figura 12 – Distribuição geográfica do consumo de margarina (INA, 1999). 30% 17% 18% 10% 9% I - Grande Lisboa II - Grande Porto 16% III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte V - Sul Manteiga Segundo dados do INE, o consumo de manteiga em Portugal no ano de 1997 foi de cerca de 16 milhões de kg. O principal grupo que produz e comercializa manteiga em Portugal é a Lactogal que têm uma quota de mercado de 58,2%. A distribuição geográfica do consumo de manteiga é semelhante à de margarinas e encontra-se referida na Figura 13. Figura 13 – Distribuição geográfica do consumo de manteiga (INA, 1999). 36% 15% 17% 14% 12% 6% I - Grande Lisboa II - Grande Porto III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte V - Sul As embalagens de manteiga são principalmente de polipropileno (PP), mas também existem de papel e de folha de alumínio. 2.1.5 Frutas e legumes O mercado das frutas e legumes é um mercado extremamente vasto e diversificado. A maior parte dos produtos são embalados nos produtores e não no grossista, sendo que só alguns destes é que embalam para as grandes superficiais comerciais. Dado o número de produtores ser extremamente elevado, este facto origina grandes dificuldades no controlo e caracterização das embalagens. O mercado de Hortofrutícolas tem vindo a crescer lentamente nas últimas duas décadas, e apesar de uma quebra em 1997, a capitação média anual ascende a 236 kg, enquanto que em 1981 era de 148 kg (Distribuição Hoje, nº 243). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 29 As embalagens de bens alimentares em Portugal As embalagens de frutas e legumes são bastante diversificadas em termos de material, forma e volume, variando muito de produto para produto e dentro de cada produto. As embalagens de frutas e legumes incluem embalagens de cartão, vidro, plástico, com os mais variados volumes, embalagens de filmes plásticos, paletes de madeira, cartão e plástico, etc. As principais empresas declaradoras de embalagens à SPV são apresentadas na Tabela 13: Tabela 13 – Principais empresas em declarações à SPV nas frutas e legumes. INDÚSTRIAS DE ALIMENTAÇÃO IDAL, LDA F. A. CAIADO - INDUSTRIAS DE PRODUTOS ALIMENTARES, S.A. MAÇARICO, LDA. MARTINS & SANTOS, LDA. SIMÕES, LDA - IMPORT. E COM. DE FRUTAS E PROD. HORTÍCOLAS 2.1.6 Confeitaria Os produtos de confeitaria são constituídos pelas bolachas, bolos embalados, chocolates, pastilhas elásticas, etc. Este sector é bastante diversificado, no entanto nos próximos anos a tendência será para um aumento dos níveis de importação e para a concentração da produção nacional em apenas algumas marcas (Distribuição Hoje, nº 233). As bolachas são o principal tipo de produtos neste sector, ultrapassando claramente os chocolates e os bolos embalados. Nas bolachas as principais marcas são a Triunfo, a Cuetara e a Nabisco com uma quota de mercado conjunta de 45% (Tabela 14). Tabela 14 – Consumo dos diversos tipos de confeitaria (INA, 1998 e 1999). Estimativa do mercado (106 kg) Principais empresas Quota de mercado (%) Bolachas 56,3 Cuetara, Triunfo, Artiach (99) 45% Chocolates 13,3 Nestlé, Effem, Ferrero (99) 49% Bolos embalados 13,3 Panrico, Dan Cake, Bimbo (98) 58% Produtos Bolachas A estimativa do mercado de bolachas em 1998 considerando o índice INA e a taxa de cobertura estimada para esse índice apontam para um volume de vendas de 56,3 milhões de kg. As principais marcas que comercializam este tipo de produtos são a Triunfo, a Cuetara e a Artiach, visto terem em conjunto uma quota de mercado de 45% (INA 1999) A distribuição do consumo de bolachas por áreas geográficas é apresentada na Figura 14. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 30 As embalagens de bens alimentares em Portugal Figura 14 – Distribuição geográfica do consumo de bolachas (INA, 1999). 30% 25% 14% 12% 9% I - Grande Lisboa II - Grande Porto III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte 10% V - Sul As embalagens de bolachas são muitos variadas em forma, volume e material. Muitas vezes elas são constituídas por vários materiais, em que se incluem principalmente o papel/cartão e o plástico. 2.1.7 Produtos congelados O sector dos congelados engloba as indústrias dos congelados (vegetais congelados, refeições pré-prontas, peixe e marisco, etc.) e dos gelados. Os gelados considerados são os gelados do tipo take home, ou seja, gelados de sobremesa ou embalagens multipack. Apesar de ser um mercado segmentado, as principais marcas dos produtos congelados são a Iglo e a Pescanova devido a serem as duas principais marcas de alimentos para cozinhar (Tabela 15). Tabela 15 – Principais empresas de produtos congelados (INA, 1999). Produtos Congelados Gelados Quantidade vendida INA (c/TCE) (103 kg) Principais empresas Quota de mercado 105 147 Iglo, Pescanova, Bonduelle 27% 14 700 Olá, Haagen Dazs, Camy 67% Congelados Em 1998, foram vendidos cerca de 105,1 milhões de kg de congelados (considerando o índice INA e a taxa de cobertura de 60%). Estes englobam, os vegetais congelados crus e preparados, peixe, marisco, as componentes de refeições prontas, etc. Dentro destes os mais importantes são os vegetais congelados e o peixe, sendo responsáveis por 74,4% do mercado. As principais marcas em termos de quota de mercado são referidas na Tabela 16. Verifica-se que as marcas mais importantes em praticamente todos os segmentos de produto são a Iglo, a Pescanova. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 31 As embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 16 – Quotas de mercado conjuntas das 3 principais marcas para os congelados (INA, 1999). Quantidade vendida Quota de Principais empresas (103 kg) mercado (%) Vegetais 44 150 Iglo, Pescanova, Bonduelle 39,0% Peixe 34 033 Pescanova, Beira frio, Iglo 14,0% Componentes de refeições 13 123 Iglo, Pescanova, F. Ferreira 41,0% Marisco 7 518 Pescanova, Dica, Comepeixe 18,0% Refeições prontas 6 322 Iglo, Nestlé, Pescanova 53,0% Produto Em termos da distribuição de consumo, verifica-se que a zona da Grande Lisboa é responsável por um terço do consumo de congelados (Figura 15). Figura 15 – Distribuição geográfica do consumo de congelados (INA, 1999). 31% 23% 14% 11% I - Grande Lisboa II - Grande Porto 12% 9% III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte V - Sul As embalagens de produtos congelados são normalmente de cartão, filme plástico e uma combinação destes dois materiais. Gelados No caso dos gelados apenas se contabilizam os gelados do tipo take home, não se tendo em conta os gelados de consumo imediato. O mercado total dos gelados foi da ordem dos 14,3 milhões de litros (considerando a TCE do índice INA). 73% destes são gelados de sobremesas, enquanto o restante são do tipo Multipack. As principais marcas são a Olá, a Haagen Dazs e a Camy, que em conjunto têm uma quota de mercado de 67% (dados INA 1999). A distribuição geográfica do consumo em 1999 foi a seguinte (Figura 16). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 32 As embalagens de bens alimentares em Portugal Figura 16 – Distribuição geográfica do consumo de gelados take home (INA, 1998). 35% 17% 13% 14% 13% 8% I - Grande Lisboa II - Grande Porto III - Litoral Norte III - Litoral Sul IV - Interior Norte V - Sul As embalagens de gelados são de cartão, polipropileno (PP) ou ainda embalagens de cartão que contém gelados individuais com embalagens de plástico ou papel. 2.2 Circuitos actuais de processamento de resíduos 2.2.1 Considerações iniciais O Sistema de RSU engloba as fases de recolha, transporte e destino final. As operações de fim de vida existentes em Portugal para o processamento de resíduos são fundamentalmente as seguintes: reciclagem, valorização energética e deposição em aterro controlado. Em termos de recolha existem fundamentalmente dois tipos: recolha indiferenciada e recolha selectiva. Na recolha indiferenciada os resíduos encontram-se todos misturados o que origina que a reciclagem de materiais, nomeadamente materiais de embalagem, se torne mais onerosa devido à necessidade da existência de operações de triagem, lavagem e tratamento. Na recolha selectiva, os materiais são recolhidos separadamente consoante o material, de modo a facilitar a reciclagem dos mesmos. Neste caso, os circuitos de processamento são diferentes para cada material e são apresentados nos sub-capítulos seguintes. Para a caracterização dos circuitos de fim de vida dos materiais de embalagem, fizeram-se algumas considerações. Tendo em conta a capacidade das incineradoras das estações de valorização energética da Valorsul e Lipor, que perfazem 1.042 mil toneladas/ano de RSU, e da quantidade de RSU recolhidos indiferenciadamente em Portugal, que se estimou em cerca de 3,7 milhões de toneladas/ano, estimou-se que a valorização energética representa 28% dos resíduos recolhidos indiferenciadamente. Embora os resíduos de embalagem não sofram compostagem, os resíduos que são encaminhados por este circuito foram estimados em 9,5% dos resíduos recolhidos indiferenciadamente, com base nas capacidades das estações de compostagem Portuguesas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 33 As embalagens de bens alimentares em Portugal Os restantes 62,5% do RSU recolhidos indiferenciadamente têm como destino o aterro controlado. Esta distribuição foi assumida para todos os materiais de embalagens com excepção do alumínio e do aço, uma vez que estes materiais são contabilizados à saída das operações de valorização energética e de triagem/compostagem, com o intuito de serem reciclados (onde se conseguem apurar valores mais precisos). Finalmente, convém referir que os diagramas de fim de vida dos diversos materiais dizem respeito a todo o tipo de embalagens e não só a embalagens de bens alimentares e bebidas e que enquanto que no circuito de recolha indiferenciada os dados apresentados dizem respeito a estimativas para o ano 2001, nos circuitos de recolha selectiva dos diversos materiais utilizaram-se dados apurados de 1999, 2000 e estimativas para 2001, consoante as especificidade de cada fileira. No que respeita aos transportes utilizados nos circuitos de processamento de resíduos, consideraram-se, entre outros, os seguintes pressupostos: - qualquer produto é consumido no mesmo local de onde foi comprado e o resíduo de embalagem resultante é recolhido igualmente no mesmo local; - a probabilidade de um resíduo de embalagem ser reciclada num determinado reciclador é apenas dependente da quota de mercado desse reciclador; - o transporte de resíduos para processamento é apenas feito quando a quantidade justifica o enchimento de um camião; - para o cálculo das distâncias dos sistemas de recolha selectiva aos recicladores utilizaram-se os dados acumulados das retomas por sistema de Janeiro de 2000 até Setembro do mesmo ano. Com base nas distâncias médias, por estrada, desses sistemas até aos recicladores existentes e na quota de mercado aproximada de cada reciclador, calculou-se a distância média percorrida por um camião desde a recolha dos resíduos em cada sistema até à reciclagem; - devido à dificuldade de caracterizar o mercado paralelo e de operadores privados em alguns materiais de embalagem, como por exemplo no aço, considerou-se que o circuito é o mesmo que o de recolha selectiva no âmbito do SIGRE. 2.2.2 Embalagens de aço A Fileira Metal é a entidade responsável pela recuperação e reciclagem de embalagens de aço em Portugal no âmbito do SIGRE. O diagrama de fim de vida presente na Figura 17 foi construído a partir de estimativas para o ano 2001. Neste ano, prevê-se que a totalidade de resíduos de embalagem de aço atinja as 74 mil toneladas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 34 As embalagens de bens alimentares em Portugal Figura 17 – Diagrama de fim de vida das embalagens de aço para 2001, em Portugal. 74.176 ton 2001 Resíduos de embalagens de Aço • Todos os valores são estimativas para 2001 67,3% 32,7% 49.884 ton 24.292 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 67,9% 4,8% 2.413 ton 13.602 ton Triag./Comp. 77% Perdas 23% 76,3% 27,3% Valorização Energética 18.544 ton M. Paralelo* 100% 100% 4,9% 18,8% 1.194 ton Sist. Mult. e Autarquias 4.554 ton Op. Privados 100% 100% Triagem ITVE 100% Aterro Controlado 34.425 ton 100% Reciclagem * Fora do SIGRE 39.751 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). Segundo estimativas da fileira Metal, se considerarmos apenas os resíduos recolhidos no âmbito do SIGRE e pelos operadores privados, a taxa de reciclagem esperada é de 28,6%. De salientar que a quantidade de aço esperado encaminhado para reciclagem através do sistema de valorização energética da Valorsul e Lipor é bastante maior que a quantidade de aço recolhido selectivamente. Num futuro próximo prevê-se que exista um aumento da taxa de reciclagem e um aumento da percentagem de embalagens recolhidas selectivamente, em detrimento das embalagens encaminhadas através do circuito paralelo e das ITVE (Instalações de Tratamento e Valorização de Escórias) das centrais de valorização energética. 2.2.3 Embalagens de alumínio A Fileira Metal é a entidade responsável pela recuperação e reciclagem de embalagens de alumínio em Portugal no âmbito do SIGRE. Da mesma forma que para o aço, o diagrama de fim de vida presente na Figura 18 foi construído a partir de estimativas para o ano 2001, onde se prevê que os resíduos de embalagem de alumínio ascendam a 8,5 mil toneladas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 35 As embalagens de bens alimentares em Portugal Estima-se que 76% dos resíduos sejam recolhidos indiferenciadamente, sendo os restantes 24% recolhidos selectivamente, embora, na sua maior parte por operadores do mercado paralelo. As elevadas quantidades de alumínio existentes no mercado paralelo devem-se ao facto da sucata de alumínio apresentar um alto valor de mercado. Figura 18 – Diagrama de fim de vida das embalagens de alumínio para 2001, em Portugal. 8.511 ton 2001 Resíduos de embalagens de Alumínio • Todos os valores são estimativas para 2001 76,0% 24,0% 6.468 ton 2.043 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 81,6% 6,3% 406 ton 786 ton Triag./Comp. 35% Perdas 65% 83,2% 12,2% 1.700 ton Valorização Energética M. Paralelo* 100% 100% 14,7% 2,1% 300 ton Sist. Mult. e Autarquias 43 ton Op. Privados 100% 100% Triagem ITVE 100% Aterro Controlado 5.541 ton 100% Reciclagem * Fora do SIGRE 2.970 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). Existe uma quantidade significativa de alumínio que é recuperada via ITVE, no entanto, este alumínio apresenta uma qualidade bastante inferior ao alumínio proveniente da recolha selectiva. Considerando apenas a reciclagem proveniente dos sistemas de gestão de RSU, dos operadores privados, do aproveitamento das escórias de fundo do forno das incineradoras e da triagem antes da compostagem de RSU, a taxa de reciclagem prevista para 2001 é de 14,9%. Ao considerar o alumínio que é encaminhado para reciclagem pelo mercado paralelo, a taxa de reciclagem estima-se que atinja os 34,9%. 2.2.4 Embalagens de cartão canelado e papel Em Portugal, praticamente as únicas embalagens de papel/cartão que são recicladas são as embalagens de cartão canelado, sendo que a taxa de reciclagem destas embalagens é elevada, cerca de 69,9%. O cartão canelado apresenta uma taxa de Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 36 As embalagens de bens alimentares em Portugal reciclagem elevada devido ser uma matéria prima bastante valiosa em termos económicos (ver Figura 19). O cartão que é proveniente do circuito do SIGRE apresenta uma qualidade pior que o cartão que é recolhido via operadores privados, o que origina dificuldades em convencer os operadores privados a aderir ao SIGRE. A Recipac é a entidade responsável pela gestão dos resíduos de embalagens de cartão no âmbito do SIGRE. Figura 19 – Diagrama de fim de vida das embalagens de cartão canelado, para o ano 1999, em Portugal. 211.000 ton 1999 Resíduos de embalagens de Cartão canelado • Em itálico estão as estimativas 3% 97% 6.330 ton 204.670 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 62,5% 9,5% 3% 28% 97% 6.140 ton 601 ton Triag./Comp. 1.772 ton 198.530 ton SIGRE Valorização Energética M. Paralelo + Op. Privados + Câmaras N/SIGRE 100% 100% Triagem 100% Perdas Retomador Retomador 12% 88% Aterro Controlado 61.181 ton Perdas 24% Perdas 5% 95% Reciclagem 147.445 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). O papel e cartão usados como embalagens primárias nos bens alimentares, à excepção do cartão canelado, como é o caso das pizzas e de alguns bolos, tem praticamente como único destino o aterro sanitário e a valorização energética devido à baixa taxa de recolha destes tipos de embalagem e a estes serem de má qualidade devido à sua contaminação. O mesmo destino têm os rótulos de papel que se encontram, por exemplo, nas embalagens de óleos alimentares, dado que não compensa economicamente a sua reciclagem e se encontram contaminados com colas que os tornam pouco apetecíveis para a reciclagem. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 37 As embalagens de bens alimentares em Portugal 2.2.5 Embalagens de cartão para alimentos líquidos A grande parte de embalagens de cartão para alimentos líquidos colocadas no mercado português são embalagens de leite e o seu consumo encontra-se muito localizado no litoral, mesmo tendo em conta a distribuição populacional no nosso país. Deste tipo de embalagem, 8% são recolhidas selectivamente (incluindo as embalagens colocadas no mercado mas não consumidas) e 4% via SIGRE (ver Figura 20). Figura 20 – Diagrama de fim de vida das embalagens de cartão para alimentos líquidos , em 2000, para Portugal. 29.521 ton 2000 Resíduos de embalagens domésticas de cartão p/ alimentos liquídos • Em itálico estão as estimativas 92% 8% 27.159 ton 2.362 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 54,8% nd% nd ton Triag./Comp. 50 % 45,2% 12.289 ton Valorização Energética 50 % 1.181 ton 1.181 ton SIGRE Retomadores N/SIGRE (resíduos de produção+devoluções) 100% 100% Aterro Controlado 14.870 ton Reciclagem Mecânica 2.362 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). A Recipac é a entidade licenciada pela gestão dos resíduos de embalagens de cartão para alimentos líquidos no âmbito do SIGRE. 2.2.6 Embalagens de madeira Dos resíduos de embalagens de madeira estimam-se que apenas 10% são de embalagens one-way e que os restantes são de embalagens reutilizáveis, que não entram no circuito do SIGRE gerido pela Embar, embora ocasionalmente possam aparecer neste circuito por engano alguns resíduos de embalagens reutilizáveis, mas que não são significativos em relação às embalagens one-way colocadas no mercado Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 38 As embalagens de bens alimentares em Portugal (ver Figura 21). Dos resíduos de embalagem de madeira cerca de 58% são recolhidos selectivamente e 42% são alvo de recolha indiferenciada (ver Figura 22). Figura 21 – Diagrama de fim de vida das embalagens de madeira em 1999. 1999 Resíduos de embalagens de Madeira • Em itálico estão as estimativas 10,0 % Resíduos de embalagens de Madeira One-Way 90,0 % 41,9 % 58,1 % Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada Reutilização Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). Figura 22 – Diagrama de fim de vida das embalagens de madeira one-way, para o ano de 1999, em Portugal. 50.100 ton 1999 Resíduos de embalagens de Madeira One-Way (Ind+Dom) • Em itálico estão as estimativas 58,1 % 41,9 % 29.095 ton 21.005 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 9,5% 62,5% 0,2% 30,1% 28% 8.768 ton 1.995 ton SIGRE 100 % 100 % 20.285 ton 42 ton M. Paralelo Triag./Comp. 69,7 % Câmaras/O.P. 100 % 100 % Separação 100 % Aterro Controlado Valorização Energética 15.124 ton 5.881 ton Reutilização 8.768 ton Reciclagem 20.327 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). Da análise da figura anterior pode-se verificar que a quantidade recolhida via SIGRE é insignificante quando comparada com o mercado paralelo. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 39 As embalagens de bens alimentares em Portugal 2.2.7 Embalagens de plástico A quase totalidade dos resíduos de embalagem de plástico presentes nos RSU são alvo de recolha indiferenciada. Apenas cerca de 2,6% são recolhidos selectivamente e encaminhados para reciclagem. Estes resíduos passam por uma operação de triagem onde são separados os plásticos que podem ser reciclados dos outros, que, devido à própria embalagem (ex: constituída por diversos tipos de plásticos), ao material (ex: poliestireno) ou ao tipo de produto embalado (ex: alguns bens alimentares, como óleos vegetais) não são reciclados. Dos resíduos de plástico recolhidos selectivamente, cerca de 20% são resíduos que acabam por ter como destino o aterro controlado, 5% são valorizados energeticamente e apenas 75% são efectivamente reciclados (ver Figura 23). Figura 23 – Diagrama de fim de vida das embalagens domésticas de plástico, para o ano 2000, em Portugal. 172.000 ton • É válido para os plásticos: PET, PP, PEAD, PEBD e EPS 2000 Resíduos de embalagens domésticas de Plástico • Em itálico estão as estimativas 97,4% 2,6% 167.600 ton 4.400 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 9,5% 62,5% 100% 28% 15.922 ton SIGRE Triag./Comp. 100% 100 % Triagem Perdas 20% 5% Aterro Controlado Valorização Energética 121.552 ton 47.148 ton 75% Reciclagem Mecânica 3.300 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). Estimativa para 2000 baseada em dados apurados até Outubro de 2000. 2.2.8 Embalagens de vidro A Cerv é a entidade licenciada para promover a retoma, processamento e reciclagem do vidro de embalagem no âmbito da SPV. Apesar de esta entidade ser recente, o sistema de recolha de vidro de embalagem já existe desde a década de 80, em que os resíduos de embalagens de vidro eram recolhidos selectivamente pelos fabricantes Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 40 As embalagens de bens alimentares em Portugal (e recicladores) de vidro de embalagem através dos “vidrões”. Dos resíduos de embalagem, cerca de 38% são recolhidos selectivamente e enviados para reciclagem, sendo que grande parte destas são embalagens recolhidas por agentes económicos directamente nos grandes embaladores (Figura 24). Figura 24 – Diagrama de fim de vida das embalagens domésticas de vidro one-way, no ano 1999, em Portugal. 287.204 ton • Esta caracterização não contabiliza o Casco Industrial 1999 Resíduos de embalagens domésticas de Vidro One-Way • Em itálico estão as estimativas 62,0% 38,0% 109.000 ton 178.204 ton Recolha Selectiva Recolha Indiferenciada 62,5% 9,5% 16.929 ton Triag./Comp. 100% 65,1% 28% 49.897 ton Valorização Energética 100% 71.000 ton 15,6% 21.000 ton 17.000 ton M. Paralelo 19,3% SIGRE Câmaras N/SIGRE 100% 100% Perdas 10% 100% Vidrociclo 90% Aterro Controlado 189.104 ton Reciclagem 98.100 ton Fonte: Ribeiro, Silva e Ferrão (2001). Os resíduos encaminhados para reciclagem são tratados previamente na empresa Vidrociclo – Reciclagem de Resíduos, Lda. que recebe casco de origem industrial e doméstico. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 41 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3 Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.1 Caracterização do estudo 3.1.1 Fontes de informação e qualidade da informação As empresas contactadas e as embalagens consideradas foram escolhidas com base na sua representatividade no mercado nacional. As empresas são as seguintes. Produtos lácteos. • Lactogal (líder no mercado dos leites ultrapasteurizados, que detém entre outras as marcas Mimosa, Gresso e Agros). • Danone (líder de mercado de iogurtes). Gorduras alimentares. • Sovena (Nutrinveste) (líder no mercado de óleos vegetais, com as marcas Fula, Vêgê, entre outras). • Fima (Victor Guedes) e Sovena (Fábrica Torrejana de Azeites) (o azeite Gallo, da Fima e o azeite Oliveira da Serra são as principais marcas vendidas no país). • Fima (líder no mercado de margarinas de mesa e para culinária com as marcas Planta e Vaqueiro, entre outras). • Lactogal (líder de mercado nas manteigas, com a Mimosa). Frutas e Legumes. • Industrias de Alimentação IDAL, Lda (principal declarador à SPV no sector de frutas e legumes). • Hortorres (embalador de frutas e legumes em embalagens de madeira). Confeitaria. • Triunfo (líder de mercado nas bolachas). Congelados. • Iglo (líder de mercado nas refeições prontas e peixe congelado). • Olá (líder de mercado nos gelados). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 42 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Dentro dos produtos comercializados por estas empresas, escolheram-se as embalagens mais representativas, isto é, as mais vendidas, se bem que, por vezes, nomeadamente nos congelados e confeitaria, as embalagens escolhidas, apesar de serem as mais vendidas pelas suas empresas, têm globalmente uma quota de mercado reduzida, devido à enorme variedade de produtos. No caso das frutas e legumes frescas, a dificuldade é não só a grande variedade de embalagens mas também a grande dispersão de empresas. Neste caso, optou-se por estudar as embalagens de madeira comercializadas pela Hortorres, que facilitou o acesso à informação. Para além de informações fornecidas pelas empresas contactadas e existentes nas bases de dados do Simapro sobre os processos dos ciclos de vida das embalagens, utilizaram-se outras fontes de informação, como por exemplo, os eco-profiles da industria europeia de plásticos (Association of Plastics Manufactures in Europe, APME) e a Agência Europeia do Ambiente (European Environment Agency, EEA). 3.1.2 Apresentação de dados e resultados Os dados apresentados em cada sector dizem respeito a todo o sistema de embalamento das embalagens consideradas, o que inclui informações acerca das embalagens primárias, secundárias e terciárias, os materiais de que são feitas, qual o seu peso, o número de embalagens existentes por unidade funcional considerada (1000 kg e 1000 L), etc. Para além de informações sobre o sistema de embalagem, estão também descritas as informações mais relevantes sobre a logística associada ao transporte dos materiais de embalagem para o embalador, a logística associada à distribuição desde o embalador até ao consumidor final e informações que dizem respeito ao embalamento, como por exemplo, as quebras do processo e os consumos de energia e materiais, quando disponíveis. Em alguns casos devido a se tratarem de questões sensíveis às empresas que forneceram as informações sobre as embalagens (como por exemplo, quotas de mercado e fornecedores), optou-se por não explicitar esses dados, ou apresentaram-se de uma forma agregada. Em cada sector faz-se a avaliação de ciclo de vida das embalagens consideradas por material e volume. Os resultados são apresentados por tipo de material e consistem numa média ponderada da importância dessas embalagens dentro das embalagens com o mesmo material no mesmo sector. Por exemplo, os resultados para as embalagens de iogurte de PS são uma média ponderada das embalagens de PS 125g e 140g, que constituem 97% do universo das embalagens de PS para iogurtes colocadas no mercado pela Danone. O objectivo da avaliação, como já foi referido, é identificar e quantificar os impactes ambientais das embalagens de bens alimentares e identificar as fases do ciclo de vida que apresentam maiores impactes ambientais e a natureza desses impactes, de modo a possibilitar o estudo de oportunidade de eco-eficiência e a avaliação de cenários Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 43 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal futuros para a produção, embalamento, transporte e deposição final das embalagens de bens alimentares. Os resultados são apresentados basicamente em quatro formas: - Gráfico da fase de normalização da ACV, que permite identificar quais as categorias de impacte ambiental mais relevantes e o contributo de cada fase do ciclo de vida para o impacte ambiental total. - Gráfico da fase de normalização da ACV, que permite identificar o contributo de cada componente do sistema de embalagem para o impacte ambiental da fase de produção. - Gráfico da fase de normalização da ACV, que permite identificar o contributo do fim de vida de cada componente do sistema de embalagem para a redução do impacte ambiental do ciclo de vida da embalagem. - Gráfico que indica o impacte ambiental normalizado em cada categoria de impacte ambiental, ao longo do ciclo de vida da embalagem. Para cada tipo de material em cada sector são apresentados outros resultados que se julgaram relevantes e os resultados gerais do estudo. 3.1.3 Pressupostos assumidos 3.1.3.1 Considerações prévias Neste capítulo apresentam-se os pressupostos gerais assumidos no presente estudo. No caso de pressupostos específicos de em cada sector, estes são referidos nos respectivos capítulos. Analisaram-se as embalagens mais comercializadas pelas empresas que são as líderes de mercado em cada sector e considerou-se que essas embalagens, o seu sistema de embalamento e toda a logística associada são representativas de todo o sector. Em alguns casos, como nos leites, iogurtes e óleos vegetais, as embalagens estudadas cobrem praticamente o universo das embalagens existentes nesse sector. Em sectores como os frutos e legumes frescos e os produtos congelados, devido à diversidade de embalagens e multiplicidade de empresas embaladoras, isto já não é verdade. No entanto, apesar da grande variedade de embalagens e empresas existentes, os materiais utilizados e o tipo de embalagens são normalmente semelhantes e os resultados obtidos podem ser extrapolados para o universo desse sector, embora com as devidas ressalvas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 44 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.1.3.2 Embalamento As quebras no processo de embalamento estão diferenciadas, sempre que possível, por materiais e por tipo de embalagem. Quando não for o caso este o caso, as quebras dizem respeito ao sistema de embalagem total. 3.1.3.3 Transporte Assumiu-se que as distâncias médias associadas à reutilização de componentes dos sistemas de embalagens e do transporte de embalagens não consumidas são idênticas às distâncias entre o embalador e consumidor e que o tipo de transporte é idêntico. Sempre que possível usaram-se os dados fornecidos pelos embaladores sobre a logística associada à distribuição dos produtos até aos consumidores. No entanto, raras foram as empresas que conseguiram fornecer valores fidedignos. Devido à complexidade da logística, visto existirem normalmente vários tipos de circuitos diferentes (diferentes hipermercados e supermercados têm circuitos diferentes, diferentes áreas geográficas apresentam logísticas diferentes, etc.), houve que se assumir os seguintes pressupostos. - No caso em que não foi fornecida nenhuma distância média entre o embalador/ distribuidor e o consumidor, estimaram-se estas distâncias com base nos valores Nielsen-INA (Índice Nielsen Alimentar), respeitantes a 1999, de consumo geográfico por tipo de produtos. Com base neste índice estimaram-se as distâncias entre os embaladores/distribuidores e o consumidor final, não se tendo em conta os circuitos eventuais que existem a partir de concessionários regionais. - Em relação ao tipo de transporte utilizado, quando estes são variáveis consoante os circuitos, estimou-se um tipo de camião médio, com base nas informações existentes sobre os circuitos de logística. Considerou-se que o camião que transporta as embalagens e materiais de embalagem apenas transporta essa embalagem e esses materiais, não distribuindo outros produtos. No transporte das embalagens e materiais de embalagem, considerou-se que os camiões se encontram cheios quando realizam esse transporte e que na viagem de volta, realizam o mesmo circuito e retornam vazios, ou seja, em média o camião carrega 50% da sua carga máxima. A caracterização dos processos de transporte para camiões foi segmentada em camiões de 3,5 ton, 10 ton, 16 ton e 24 ton. Nos casos em que os transportes dos materiais e produtos são feitos em diferentes tipos de camiões, considerou-se para efeitos da avaliação do ciclo de vida aquele que mais se aproximava do tipo de transporte real. Tendo em conta os pressupostos assumidos quanto à distribuição, não se espera que estes estejam muito fora da realidade e que influenciem negativamente os resultados do estudo. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 45 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.1.3.4 Utilização Considerou-se que uma embalagem que é adquirida por um consumidor é consumida no local e imediatamente e que o resíduo de embalagem consequente tem o seu destino final no mesmo local em que foi adquirido. 3.1.3.5 Fim de vida Quando não existe informação sobre a taxa de reutilização das paletes de madeira considerou-se que esta apresenta um valor de 95%, sendo os restantes 5% quebras que têm como destino o aterro, visto a madeira das paletes estar partida. 3.2 Embalagens de produtos lácteos 3.2.1 Introdução As embalagens de produtos lácteos consideradas foram as embalagens utilizadas para acondicionar leites e iogurtes que são os dois tipos de produto mais importantes dentro do sector dos produtos lácteos. A informação utilizada para a avaliação do ciclo de vida das embalagens mais utilizadas neste sector foi obtida a partir de informações recolhidas nas empresas Lactogal e Danone. A Lactogal é a empresa mais importante no sector dos leites tendo uma quota de mercado de cerca de 63%. No sector dos iogurtes a empresa com maior quota de mercado é a Danone. Nos casos dos leites a embalagem considerada é: • Cartão para alimentos líquidos de 1L, do tipo UHT. No caso das embalagens de iogurtes, as embalagens consideradas são: • PS de 125g. • PS de 140g, bicompartimentada. • PEAD de 200 mL (correspondente a 185g). Estas embalagens representam a maior parte do universo de embalagens utilizadas para acondicionar estes produtos, nomeadamente, no caso dos leites, esta embalagem representa a quase totalidade do leite UHT vendido pela Lactogal e no caso dos iogurtes as três embalagens acima descritas cobrem 97% do universo das embalagens colocadas no mercado pela Danone. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 46 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.2.2 Leites 3.2.2.1 Descrição das embalagens A embalagem primária de leite ultra-pasteurizado é de cartão para alimentos líquidos (C.A.L.), que é um laminado constituído em 75% por papel, 20% por PE e restantes 5%, por alumínio. A embalagem secundária de leite é constituída por um filme retráctil (Tabela 17). O sistema de embalagem é bastante leve, constituindo menos de 6% do peso do conjunto embalagem + produto (Tabela 18). Tabela 17 – Caracterização dos sistemas de embalagem para leites. Designação Embalagem Primária C.A.L. 1 L Secundária C.A.L. 1 L (Leite UHT) Filme retráctil Terciária Filme estirável Palete de madeira Peso (g) N.º por palete Dimensão/ Volume Material 1L CAL 25,7 720 12 unidades PEBD 1,4 60 60 grupos 1200*800*144mm PEBD Madeira 30 25000 1 1 Tabela 18 – Peso do sistema de embalagem de leite. Tipo de embalagem C.A.L. 1 L (UHT) Peso por palete (incluindo produto) (kg) 763,6 Peso do sistema de embalagem por 1000 L de produto (kg) 1060,6 De acordo com a Lactogal, a caracterização da distância média e do tipo de transporte utilizado é bastante complexa, uma vez que a Lactogal tem vários fornecedores a que recorre, de acordo com o mercado. Tendo este facto em conta, considerou-se apenas as características do fornecedor mais comum para cada material (Tabela 19). Tabela 19 – Logística associada aos materiais de embalagem de leites. Material de embalagem Cartão para alimentos líquidos 1 L Filme retráctil Filme estirável Palete de madeira Camião utilizado (ton) 24 10 10 10 Distância média percorrida (km) 650 20 20 270 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 47 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Na logística associada à distribuição do leite, considerou-se o valor fornecido pela Lactogal para distância média entre o embalador e o consumidor, neste tipo de produto (Tabela 20). Tabela 20 – Logística associada à distribuição do leite. Tipo de transporte Embalador - Consumidor Camião utilizado (ton) 24 Distância média percorrida (km) 110 3.2.2.2 Informação sobre o ciclo de vida Para o processo de embalamento dos leites UHT, utilizaram-se dados de uma outra empresa que embala e comercializa leites, uma vez que não se conseguiu obter da Lactogal valores de consumos de energia e materiais para o embalamento do leite UHT. Os dados fornecidos pela Lactogal não se encontravam discriminados por fases de produção, sendo apenas valores totais de produção. As quebras do processo de embalamento estimadas pela Lactogal são 2% para as embalagens primárias e secundárias. As retomas dos leites que não foram consumidos estimaram-se em 2% das embalagens de leite colocadas no mercado. Em relação ao fim de vida das embalagens, na reciclagem de cartão canelado considerou-se que apenas o cartão é recuperado, sendo o plástico e alumínio depositado em aterro. Na realidade, a empresa Reficel aproveita as fibras do cartão da embalagem e neste momento, visto não dispor de condições para aproveitar o polietileno e o alumínio, armazena os resíduos contendo estes dois materiais, com o objectivo de no futuro os queimar no processo de fabrico de cartão kraft. Considerou-se que os filmes retrácteis e estirável são recolhidos indiferenciadamente. A palete de madeira é reutilizável e considerou-se uma taxa de reutilização de 95%. 3.2.2.3 Caracterização dos impactes ambientais A principal categoria de impacte associada à utilização da embalagem de cartão para alimentos líquidos é a utilização de energia. O impacte ambiental das restantes categorias relevantes é relativamente homogéneo, como se encontra demonstrado na Figura 25. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 48 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 25 – Impacte ambiental agregado das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. 0,014 0,012 0,01 0,008 0,006 0,004 0,002 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A distribuição das contribuições de cada fase do ciclo de vida para cada categoria de impacte ambiental, apresentada na Figura 26, mostra que a produção é responsável pela maior parte do impacte em todas as categorias. O embalamento não é muito significativo em todas as categorias exceptuando a de metais pesados, onde é responsável por cerca de 30% do impacte global. O impacte do processo de embalamento, deve-se à energia eléctrica utilizada no processo. A distribuição, apesar de ser menos significativa que a fase de produção é ainda importante na acidificação, no efeito de estufa e no smog de verão (Figura 26). impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 26 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. 0,025 0,02 Destino final 0,015 Distribuição Embalamento 0,01 Produção 0,005 0 -0,005 -0,01 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 49 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Na categoria que apresenta maior impacte, a energia, a produção é a fase mais relevante e, dentro desta, a componente do sistema de embalagem que produz um maior impacte é a produção da embalagem de cartão para alimentos líquidos. Na categoria de carcinogenia, a principal origem é igualmente a embalagem primária do leite, mais concretamente da folha de alumínio que serve de protecção para o leite, como se pode observar na Figura 27. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 27 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. 0,018 0,016 Palete de madeira Filme estirável 0,014 0,012 Filme de LPDE 0,01 CAL 0,008 0,006 0,004 0,002 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. O fim de vida permite a redução significativa do impacte na categoria energia sobretudo devido à reutilização da palete de madeira e à valorização energética da embalagem de cartão para alimentos líquidos, conforme quantificado na Figura 28. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 28 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de cartão para alimentos líquidos de leite. 0,003 0,002 0,001 Dest. Final quebras 0 Dest. Final palete de madeira -0,001 -0,002 Dest. Final filme estirável -0,003 Dest. Final filme de LPDE -0,004 Dest. Final CAL -0,005 -0,006 -0,007 -0,008 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 50 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.2.3 Iogurtes 3.2.3.1 Descrição das embalagens As embalagens tomadas como referência foram as embalagens mais representativas da marca Danone e que cobrem 97% do universo de embalagens colocadas no mercado por essa empresa (Tabela 21), ou seja, o copo ERCA (embalagem clássica) de poliestireno de 125 g de peso líquido, o copo ELTON (embalagem bicompartimentada) de poliestireno de 140 g de iogurte com pedaços e a garrafa REMY (embalagem do iogurte líquido Dan’up) de Polietileno de alta densidade de 200 mL, que correspondem aproximadamente a 180 g de iogurte líquido. Tabela 21 – Importância das embalagens consideradas por volume de vendas da Danone. PS de 125 g PS de 140 g PEAD de 200 mL % vendas em volume 66% 7% 24% O copo de 125 g é fabricado com poliestireno, através de termoformação e injecção. Este copo é envolvido por um rótulo de papel, que lhe dá mais resistência, e a zona de abertura da embalagem é de um material composto por papel e por poliéster metalizado (mistura de plástico e alumínio), chamado mix-paper. Este material, cujo peso por m2 é de 62 g encontra-se classificado como plástico e é feito por laminagem, sendo que 72% em peso é papel e o restante é poliéster metalizado. O rótulo de papel é colado ao copo de PS e a abertura em mix-paper é termo-soldada ao mesmo copo. Os copos encontram-se agregados em packs de 4 embalagens, servindo uma cartolina de embalagem secundária. As embalagens primárias que antes eram transportadas em embalagens secundárias de cartão, são actualmente transportadas em embalagens de PEAD reutilizáveis, com capacidade para 48 copos. Por sua vez, estas embalagens secundárias são transportadas em embalagens terciárias de madeira, do tipo europalete, com uma dimensão de 1200x800x144 mm, não sendo necessário filme estirável para embalar as caixas de PEAD. Cada palete tem uma capacidade para 88 caixas de PEAD. O copo de 140 g para iogurtes com pedaços é bicompartimentado e à semelhança com o copo ERCA é feito de poliestireno. A embalagem apresenta duas etiquetas de papel que pesam em conjunto 0,26 g e a zona de abertura é constituída de mix-paper. As embalagens são transportadas em embalagens secundárias de PEAD reutilizáveis, em conjuntos de 24 unidades. A palete de madeira é utilizada como embalagem terciária e tem capacidade para 88 caixas de PEAD, o que equivale a 2112 unidades de 140 g. A garrafa utilizada para embalar os iogurtes líquidos é de polietileno de alta densidade. Esta embalagem é moldada por injecção no próprio local, a partir de uma pré-forma. A zona de abertura da garrafa é do mesmo material e o rótulo é de papel. A maior parte das embalagens deste tipo são agregadas em conjuntos de 4 por um filme retráctil de PEBD, existindo também embalagens que são agrupadas com cartolina. As caixas que servem de embalagem secundária são igualmente de PEAD e reutilizáveis Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 51 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal e a embalagem terciária é constituída unicamente por uma palete de madeira reutilizável. Uma descrição mais completa dos sistemas de embalagem encontra-se presente na Tabela 22 e Tabela 23. Tabela 22 – Caracterização dos sistemas de embalagem para iogurtes. Designação PS 125g PS 140g PEAD 185 g Embalagem Primária Copo PS de 125 g Tampa em mix-paper Rótulo de papel Secundária Cartolina Caixa de PEAD reutiliz. Terciária Palete de madeira Primária Copo PS de 140 g Tampa em mix-paper Etiqueta CB Etiqueta deco Secundária Caixa de PEAD reutiliz. Terciária Palete de madeira Primária Garrafa PEAD de 185 g Cápsula Rótulo de papel Secundária Filme retráctil Caixa de PEAD reutiliz. Terciária Palete de madeira Dimensão/ Volume Material 125 g p.l. 1 unidade 1 unidade PS Mix-paper Papel 4 copos 48 copos Cartão PEAD 1200*800*144 mm Madeira 140 g p.l. 1 unidade 1 unidade 1 unidade PS Mix-paper Papel Papel 24 copos PEAD 1200*800*144 mm Madeira 185 g p.l.(200 mL) 1 unidade 1 unidade PEAD PEAD Papel 11,74 2,13 0,89 4224 4224 4224 4 garrafas 48 garrafas PEBD PEAD 4,45 800 1056 88 1200*800*144 mm Madeira Peso (g) 3,56 0,29 1,13 N.º por palete 4224 4224 4224 13 800 1056 88 25000 1 8,8 0,74 0,094 0,168 2112 2112 2112 2122 800 88 25000 1 25000 1 Tabela 23 – Peso dos sistemas de embalagem de iogurtes. Tipo de embalagem Copo PS de 125 g Copo PS de 140 g Garrafa PEAD de 185 g Peso por palete (incluindo produto) (kg) 658,2 411,8 943,9 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1246,5 1392,7 1207,9 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 52 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Em termos de logística das matérias primas, há a referir que as tampas em mix-paper que são utilizadas nos iogurtes de 125 g e 140 g, têm origem em Espanha. A distância estimada para o transporte até à fábrica de Castelo Branco foi de 1000 km. Além disso, apesar de as embalagens de PS e PEAD serem formadas no local de embalamento, o filme de PS e as pré-formas de PEAD, a partir das quais as embalagens de iogurtes são feitas, são produzidos noutros locais. Os rótulos, a cartolina e as cápsulas têm uma origem diversa, cuja distância média do fornecedor à fábrica se estima 500 km para as cápsulas e 625 km para os restantes materiais. A restante logística associada aos materiais de embalagem pode ser consultada na Tabela 24. Tabela 24 – Logística associada aos materiais de embalagem de iogurtes. Material de embalagem Camião utilizado (ton) Copo em PS Garrafa de PEAD Tampa em mix-paper Cápsula de PEAD Rótulo de papel Etiqueta CB Etiqueta deco Cartolina Filme retráctil Caixa de PEAD reutiliz. Palete de madeira 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 Distância média percorrida (km) 625 150 1000 500 625 625 625 625 1000 170 220 A distribuição dos iogurtes Danone, cujo fabrico é realizado em Castelo Branco, está a cargo da empresa Salvesen Logística, que tem o seu centro de distribuição na Azambuja. Assim, todos os produtos da fábrica de Castelo Branco são transportados para a Azambuja e armazenados para expedição, mesmo aqueles que posteriormente serão enviados para clientes situados na zona de Castelo Branco. Este transporte é realizado em camiões de 24 ton e a distância percorrida é de cerca de 220 km. Do centro de distribuição, os iogurtes são enviados para todo o país, quer através do operador logístico da Danone, quer através de outros operadores, como os das grandes superfícies. Através do consumo geográfico de iogurtes em 1999, estimou-se que a distância média que um iogurte percorre desde o centro de distribuição até ao consumidor final é de cerca de 190 km e o camião médio utilizado estima-se que seja de 16 ton (ver Tabela 25). Tabela 25 – Logística associada à distribuição do iogurte. Tipo de transporte Embalador – Centro de distribuição Centro de distribuição - Consumidor Camião utilizado (ton) 24 16 Distância média percorrida (km) 220 187 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 53 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.2.3.2 Informação sobre o ciclo de vida Dado não ter sido possível dissociar os consumos de energia e material no processo de embalamento, dos consumos globais de energia e materiais na produção dos iogurtes Danone, não se tem em conta esta fase no ciclo de vida. As quebras no processo de embalamento da Danone são residuais, inferiores a 1% nas embalagens primárias e terciárias, e estimam-se em 2,5% para as caixas de PEAD reutilizáveis. No caso destas, as perdas devem-se fundamentalmente a caixas de PEAD que são desviadas do circuito da Danone pelos consumidores e retalhistas para serem utilizadas para outros fins. Para além das perdas no processo de embalamento, existem embalagens que são colocadas no mercado, mas que devido ao seu prazo de validade acabam por retornar à fábrica. No caso dos iogurtes essas embalagens não vendidas representam 4% das embalagens colocadas no mercado. As embalagens de PS não são recicladas e o seu destino final é a valorização energética ou o aterro controlado. As embalagens de iogurtes líquidos em PEAD são recicladas, mas a taxa de reciclagem é baixa (2,6% em 1999). Considerou-se que os rótulos das garrafas de PEAD que são encaminhadas para aterro acabam por ser depositados em aterro. No caso da cartolina e filme de PEBD que servem para agregar as embalagens de iogurtes, o seu destino final é a recolha indiferenciada. As caixas de PEAD utilizadas com embalagem secundária são reutilizáveis a 97,5% e para a palete de madeira considerou-se uma taxa de reutilização das embalagens de 95%. Considerou-se ainda que o consumidor que utiliza a embalagem de iogurte líquido acaba por voltar a colocar a cápsula na garrafa, ou seja, o circuito final da cápsula é idêntico ao da garrafa. No caso das embalagens que retornam à fábrica, devido ao seu prazo de validade, o destino final dos materiais de embalagem é o aterro, exceptuando as caixas de PEAD e palete de madeira que são reutilizáveis. 3.2.3.3 Caracterização dos impactes ambientais 3.2.3.3.1 Copos de PS Verifica-se pela análise do gráfico Figura 29 que os principais impactes associados ao ciclo de vida das embalagens de iogurtes de PS são nas categorias de metais pesados, energia, smog de verão, acidificação e efeito de estufa. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 54 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 29 – Impacte ambiental agregado de copos em PS de iogurte. 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A distribuição das contribuições de cada fase do ciclo de vida para cada categoria de impacte ambiental, apresentada na Figura 30, mostra que a principal fase responsável pelos impactes é a produção das embalagens. A fase de distribuição apresenta um impacte diminuto comparada com a fase de produção. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 30 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida de copos em PS de iogurte. 0,150 0,100 Destino final Distribuição 0,050 Produção 0,000 -0,050 -0,100 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Deve-se salientar que, curiosamente, como ilustrado na Figura 31, na fase de produção é a produção da caixa de PEAD que acaba por ter maior impacte ambiental nas principais categorias, à excepção da categoria de metais pesados. No entanto, como a caixa é reutilizada, globalmente, esta embalagem apresenta um impacte diminuto em relação as embalagens de PS, que são penalizadas por não serem nem reutilizáveis nem recicláveis. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 55 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Os metais pesados existentes no ciclo de vida das embalagens de iogurte em PS, são provenientes da fase de produção de PS, mais concretamente na produção do polímero de PS (APME, 1997). Como neste estudo os metais referenciados não são discriminados pela sua origem, admite-se o pior caso possível, dai que na realidade, esta categoria de impacte possa estar um pouco sobreavaliada. No entanto, a produção de PS termoformado, quando comparada com a produção de outros plásticos, como por exemplo polipropileno moldado por injecção e polietileno de alta densidade moldado por sopro, apresenta maiores teores de metais emitidos para a atmosfera e para efluentes líquidos (APME, 1997). De referir que, no sistema de embalagem, a cartolina usada para agrupar as embalagens primárias de PS ainda tem alguma importância, sobretudo quando comparada à produção da embalagem de PS, representando em conjunto cerca de 15% do impacte ambiental associado à produção das embalagens, nas categorias de efeito de estufa e acidificação. Este valor é importante, nomeadamente se tivermos em conta o ciclo de vida global, uma vez que a produção das caixas de PEAD (que são reutilizadas) é a que provoca maior impacte ambiental na produção das embalagens. As embalagens que são colocadas no mercado, mas que não são consumidas e, por isso, têm que voltar para o embalador, não apresentam impactes significativos no seu fim de vida devido à taxa de retoma ser reduzida. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 31 – Impactes ambientais relativos à fase de produção de copos em PS de iogurte. 0,140 0,120 Palete de madeira Caixa de PEAD 0,100 Cartolina T ampa 0,080 Rótulo Embalagem PS 0,060 0,040 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. O fim de vida dos diversos materiais de embalagens permite que o impacte ambiental da fase de produção e distribuição seja bastante atenuado, sobretudo ao nível de energia e smog de verão, devido principalmente à reutilização das caixas de PEAD que servem de embalagem secundária (ver Figura 32). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 56 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 32 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida de copos em PS de iogurte. 3.2.3.3.2 0,020 Dest. Final quebras 0,000 Dest. Final palete de madeira Dest. Final caixa de PEAD -0,020 Dest. Final cartolina Dest. Final tampa Dest. Final rótulo -0,040 Dest. Final embalagem PS -0,060 -0,080 -0,100 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Garrafa de PEAD Os principais impactes associados ao ciclo de vida da garrafa de PEAD para iogurtes líquidos são devidos à fase de produção e concentram-se sobretudo a nível da energia, smog de verão, acidificação e efeito de estufa conforme ilustrado na Figura 33. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 33 – Impacte ambiental agregado da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido. 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Da avaliação do ciclo de vida da garrafa de PEAD de iogurtes líquidos verifica-se que a distribuição tem uma relevância diminuta quando comparada com a produção. Mesmo considerando a redução do impacte associado ao fim de vida do sistema de embalagem, a importância da distribuição nas principais categorias não excede os 30% na acidificação e 21% no efeito de estufa (Figura 34). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 57 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 34 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido. 0,150 0,100 Destino final 0,050 Distribuição Produção 0,000 -0,050 -0,100 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Os principais impactes na fase de produção são consequência do fabrico da garrafa e da caixa que serve como embalagem secundária. No entanto, à semelhança com o que acontece com os copos de PS, como a caixa de PEAD é reutilizável, globalmente os impactes ambientais da responsabilidade desta embalagem são diminutos. Os outros componentes do sistema de embalagem, como a tampa e o rótulo, têm uma expressão insignificante em todas as categorias, excepto na energia e smog de verão (sobretudo devido ao fabrico da tampa) onde, ainda assim, a sua importância é bastante reduzida quando comparada com a da produção da garrafa e caixa de PEAD, conforme patente na Figura 35. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 35 – Impactes ambientais relativos à fase de produção da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido. 0,140 0,120 Palete de madeira 0,100 Caixa PEAD Filme retráctil 0,080 Rótulo Cápsula Embalagem PEAD 0,060 0,040 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 58 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Verifica-se também que o destino final dos materiais que constituem o ciclo de vida da garrafa de PEAD permite uma redução significativa do consumo de energia associado à sua produção, que se explica em grande parte pela reutilização da caixa de PEAD (ver Figura 36). Dado a taxa de reciclagem da garrafa de PEAD ser bastante reduzida, o efeito desta é praticamente insignificante no ciclo de vida. Pela mesma razão das embalagens de PS, as garrafas de PEAD que são colocadas no mercado e não são consumidas, não apresentam impactes significativos no seu fim de vida. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 36 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida da garrafa de PEAD 185 g de iogurte líquido. 0,030 0,020 0,010 Dest. Final quebras 0,000 Dest. Final palete de madeira -0,010 Dest. Final caixa PEAD -0,020 Dest. Final filme retráctil -0,030 Dest. Final rótulo Dest. Final cápsula -0,040 Dest. Final embalagem PEAD -0,050 -0,060 -0,070 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.3 Embalagens de gorduras alimentares 3.3.1 Introdução As embalagens de gorduras alimentares consideradas foram as embalagens mais representativas para acondicionar óleos vegetais, azeite, margarina e manteiga. A informação sobre o sistema de embalagem usada para a avaliação de ciclo de vida foi obtida a partir de informações fornecidas pela Sovena, FIMA e Lactogal. Nos óleos vegetais foi analisada a embalagem: • 1 L em PET, da marca Fula, da empresa Sovena. Nos azeites foram analisadas 3 embalagens: • Vidro de 0,75 L, da marca Oliveira da Serra, da Sovena. • Vidro de 1 L, da marca azeite Gallo, da FIMA. • Lata de 1 L, da FIMA. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 59 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Nas margarinas foram analisadas 3 embalagens • PP de 250 g, da marca Planta, da FIMA. • PP de 500 g, da marca Planta, da FIMA. • Papel/Alumínio/PE de 250 g, da marca Vaqueiro, da FIMA. • Papel/Alumínio/PE de 1 kg, da marca Vaqueiro, da FIMA. Nas manteigas foram analisadas 3 embalagens: • PS de 15 g, da marca Mimosa, da Lactogal. • PP de 125 g, da marca Mimosa, da Lactogal. • PP de 250 g, da marca Mimosa, da Lactogal. 3.3.2 Óleos vegetais 3.3.2.1 Descrição das embalagens A embalagem tomada como referência foi a embalagem de PET de 1 L da marca Fula, comercializada pela Sovena. As embalagens de 1 L, que são quase exclusivamente em PET, representam cerca de 98% de vendas em volume dos óleos vegetais comercializados pela Sovena. Outros volumes como 3 L e 5 L são desprezáveis quando comparados com a embalagem de 1 L, em termos de quota de mercado. As embalagens de PET são feitas no local de embalamento a partir de pré-formas. A pré-forma é produzida por um processo de extrusão-sopro e a embalagem de PET é posteriormente moldada através de injecção-sopro. As cápsulas utilizadas são de polipropileno (PP), através do processo de injecção. Uma descrição do sistema de embalagem pode ser encontrado na Tabela 26 e Tabela 27. Tabela 26 – Caracterização dos sistemas de embalagem para óleos vegetais. Designação PET 1L Embalagem Dimensão/ Volume Material Primária Garrafa de 1L 1L PET Cápsula 1 unidade PP Rótulo 1 unidade Papel Secundária Caixa de cartão 12 garrafas Cartão canelado Terciária Filme estirável 60 caixas PEBD Palete de madeira 1200*800*144mm Madeira Peso (g) N.º por palete 27,0 4,0 2,5 235 115,2 25000 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 720 720 720 60 1 1 60 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 27 – Peso do sistema de embalagem de óleos vegetais. Tipo de embalagem Garrafa de PET 1 L Peso por palete (incluindo produto) (kg) 718,5 Peso do sistema de embalagem por 1000 L de produto (kg) 998,0 Em relação à logística associada aos materiais de embalagem, há que referir que as cápsulas de PP usadas têm origem em dois fornecedores, um nacional, em que o transporte é feito num camião de até 10 ton e um estrangeiro, em que as cápsulas são transportadas num camião de 24 toneladas até à fábrica (ver Tabela 28). Tabela 28 – Logística associada aos materiais de embalagem de óleos vegetais. Material de embalagem Garrafa de 1 L Cápsula Rótulo Caixa de cartão Filme estirável Palete de madeira Camião utilizado (ton) 24 24 e 10 <4 24 <4 24 Distância média percorrida (km) 270 1450 330 275 70 50 O óleo Fula é embalado no Barreiro e a distribuição para o resto do país é feita deste local e de um armazém situado na Póvoa de Santa Iria. Tendo em conta as quantidades de óleos que são expedidas a partir dos dois armazéns, a distância média entre a fábrica e os centros de distribuição é de cerca de 9 km. Com base na distribuição geográfica do consumo no ano de 1999, estimou-se que a distância média dos centros de distribuição aos consumidores é de cerca de 240 km (ver Tabela 29). Tabela 29 – Logística associada à distribuição do óleo vegetal. Tipo de transporte Embalador – centro de distribuição Centro de distribuição - consumidor Camião utilizado (ton) 24 16 Distância média percorrida (km) 8 241 3.3.2.2 Informação sobre o ciclo de vida As quebras de embalagem estimadas no embalamento do óleo são respectivamente 0,2%, 0,4% e 0,4% para as embalagens primárias, secundárias e terciárias. No ciclo de vida destas embalagens inclui-se o consumo de energia e de materiais no processo de embalamento do óleo, os quais são quantificados na Tabela 30. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 61 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 30 – Consumos de materiais no processo de embalamento de óleos vegetais. Designação PET 1L Fonte: Sovena Consumo de Electricidade (KWh/L embalado) 0,00117 Consumo de Azoto (m3/L embalado) Consumo de Cola (kg/ L embalado) 0,0014 0,00036 A garrafa de PET utilizada para embalar óleos vegetais não é reciclada devido ao alto teor de gordura impregnada na garrafa, a qual tornaria bastante oneroso o processo de reciclagem. Sendo assim, o destino final destas garrafas é unicamente a recolha indiferenciada, em que as garrafas são colocadas em aterro ou valorizadas energeticamente. Os rótulos, e as cápsulas acabam por ter idêntico destino. As caixas de cartão canelado são recicladas na sua maior parte e a palete de madeira é reutilizável. Considerou-se uma taxa de reutilização da palete de madeira de 95% e que o filme estirável que serve como embalagem terciária é recolhido indiferenciadamente. 3.3.2.3 Caracterização dos impactes ambientais As quatro principais categorias de impacte ambiental da garrafa de PET de óleos vegetais são o smog de verão, a acidificação, a energia, o smog de inverno e o efeito de estufa (ver Figura 37). impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 37 – Impacte ambiental agregado da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais. 0,04 0,035 0,03 0,025 0,02 0,015 0,01 0,005 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Pela análise da Figura 38 podemos verificar que a fase de produção das embalagens é a principal responsável pelo impacte ambiental, que a fase de distribuição é relevante ainda que com menor impacte que a produção (entre 20% a 30% nas principais categorias) e que os impactes resultantes do embalamento são praticamente desprezáveis. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 62 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 38 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais. 0,04 0,03 Destino final Distribuição 0,02 Embalamento Produção 0,01 0 -0,01 -0,02 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Na fase de produção, a maior parte dos impactes ambientais devem-se à produção da garrafa de PET. A componente a seguir à garrafa de PET mais importante é a tampa de polipropileno, principalmente nas categorias acidificação, smog de inverno e smog de verão (ver Figura 39). impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 39 – Impactes ambientais relativos à fase de produção da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais. 0,04 0,035 Palete de madeira 0,03 Filme estirável Caixa de cartão 0,025 Rótulo Cápsula 0,02 Garrafa PET 0,015 0,01 0,005 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. No fim de vida das embalagens destaca-se o facto de com os circuitos actuais, se reduzir em cerca de 30% o impacte ambiental na categoria de energia. Este facto deve-se sobretudo à reutilização da palete de madeira e reciclagem da embalagem secundária de cartão canelado e, em menor parte, à valorização energética dos materiais de embalagem. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 63 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Nas restantes categorias de impacte, o fim de vida actual não reduz significativamente o impacte ambiental associado à garrafa de PET 1 L, uma vez que a garrafa de PET, que é principal responsável pelo impacte ambiental na fase de produção, não é reciclada devido ao seu alto teor de gordura, tendo como destino o aterro e a valorização energética, Esta última, apesar de ter efeitos benéficos em categorias como a energia e o smog de verão, tem efeitos negativos em outras, como por exemplo, na categoria de efeito de estufa (ver Figura 40). impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 40 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida da garrafa de PET 1 L de óleos vegetais. 0,015 Dest. Final quebras 0,01 Dest. Final palete de madeira Dest. Final filme estirável Dest. Final caixa de cartão 0,005 Dest. Final rótulo Dest. Final cápsula Dest. Final garrafa PET 0 -0,005 -0,01 -0,015 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.3.3 Azeite 3.3.3.1 Descrição das embalagens As embalagens de azeite tomadas como referência foram as embalagens de vidro e lata de 1 L, do azeite Gallo de 1,5 graus e a embalagem de vidro 0,75 L, do azeite Oliveira da Serra virgem extra de 1 grau. Com base nos dados obtidos, o volume de azeite embalado em garrafas de 0,75 L representa cerca de 45% das embalagens colocadas no mercado, enquanto as embalagens e garrafas de 1 L representam 48%. A Lata de 1 L é bastante menos relevante que as garrafas de vidro, no entanto, devido a especificidade da embalagem, estudou-se o azeite comercializado em lata. As garrafas de vidro são ambas produzidas fora do local do embalamento. A lata de aço considerada é igualmente produzida longe do local de embalamento e o seu material é folha de flandres. As cápsulas existentes nas embalagens de vidro de 1 L e 0,75 L são ambas de polipropileno. No caso da lata de aço, a tampa da embalagem é no mesmo material que a embalagem, ou seja, folha de flandres. Esta embalagem não necessita de rótulo, uma vez que as informações sobre o produto se encontram Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 64 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal directamente impressas sobre a lata. A embalagem secundária utilizada em qualquer um dos casos é uma caixa de cartão canelado, e a embalagem terciária é constituída por uma palete de madeira e um filme de PEBD a envolver as caixas de cartão com as latas e garrafas. Uma descrição mais completa do sistema de embalagem das embalagens encontra-se disponível nas Tabela 31 e Tabela 32. Tabela 31 – Caracterização dos sistemas de embalagem para azeites. Designação Vidro 0,75 L Vidro 1L Lata 1L Embalagem Primária Garrafa de 0,75 L Cápsula Rótulo Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Garrafa de 1 L Cápsula Rótulos Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Lata de 1 L + tampa Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira N.º por palete Dimensão/ Volume Material 0,75 L 1 unidade 1 unidade Vidro PP Papel 12 garrafas Cartão canelado 188 70 PEBD Madeira 218,4 25000 1 1 1L 1 unidade 1 unidade Vidro PP Papel 400 3,9 3,7 600 600 600 12 garrafas Cartão canelado 50 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira 1L 70 caixas 1200*800*144mm Peso (g) 440 4,9 1,4 840 840 840 237 50 250 25000 1 1 Aço (F. de Flandres) 134 600 20 latas Cartão canelado 286 30 30 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira 60 25000 1 1 Tabela 32 – Peso do sistema de embalagem de azeite. Tipo de embalagem Garrafa de vidro 0,75 L Garrafa de vidro 1 L Lata de aço 1 L Peso por palete (incluindo produto) (kg) 988,5 826,1 661,8 Peso do sistema de embalagem por 1000 L de produto (kg) 1569,0 1376,8 1103,1 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 65 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Na logística associada ao transporte de dos materiais de embalagem, há que referir que as cápsulas de polipropileno, utilizadas usadas no azeite Oliveira da Serra e Gallo são provenientes de França (Tabela 33). Tabela 33 – Logística associada aos materiais de embalagem de azeites. Designação Vidro 0,75 L Vidro 1 L e lata 1 L Material de embalagem Garrafa de 0,75 L Cápsula Rótulo Caixa de cartão Filme estirável Palete de madeira Garrafa de 1 L Lata de 1 L + tampa Cápsula Rótulos Caixa de cartão Filme estirável Palete de madeira Camião utilizado (ton) 24 24 <4 24 <4 24 24 24 24 <4 16 10 24 Distância média percorrida (km) 90 2000 140 70 70 170 90 200 2000 170 220 240 170 Na maior parte dos casos, as garrafas de azeite Oliveira da Serra são transportadas da sua fábrica em Abrantes até ao centro de distribuição do Barreiro. A partir deste centro de distribuição, as embalagens são expedidas para os clientes do continente. No caso do azeite Gallo, a distribuição é feita a partir da fábrica para todo o país (Tabela 34). Tabela 34 – Logística associada à distribuição do azeite. Designação Tipo de transporte Garrafa de vidro 0,75 Embalador – centro de distribuição Centro de distribuição - consumidor Garrafa de vidro 1 L e lata 1 L Embalador - consumidor Camião utilizado (ton) 24 16 Distância média percorrida (km) 170 241 24 191 3.3.3.2 Informação sobre o ciclo de vida As quebras no processo de embalamento estimadas pela Fábrica Torrejana de Azeites, que produz o azeite Oliveira da Serra, são de 1% nas embalagens primárias e 0,5% nas embalagens secundárias. Para o azeite Gallo, as quebras dos materiais de embalagem são de 1% para as embalagens primárias e secundárias. No caso do azeite Oliveira da Serra, o consumo de energia por litro embalado é de 0,0029 kWh. Apesar de a FIMA ter fornecido dados sobre os consumos e emissões no processo de embalamento, uma vez que estes dados ainda tinham influências da operação de refinaria, optou-se por considerar que a operação de embalamento era semelhante à do azeite Oliveira da Serra e como tal utilizou-se os dados do embalamento deste azeite. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 66 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal As garrafas de vidro de azeite são em parte recicladas, sendo para esse efeito enviadas para a Vidrociclo. Os rótulos e as cápsulas encontram-se associados à garrafa e considera-se que são igualmente transportados para a Vidrociclo e o seu destino final é o aterro. A caixa de cartão segue o circuito do cartão canelado e considera-se que o filme estirável é objecto de recolha indiferenciada. A palete de madeira é reutilizável e considerou-se uma taxa de reutilização de 95%. No caso das latas de azeite, estas seguem o circuito definido para as embalagens de aço e alumínio. 3.3.3.3 Caracterização dos impactes ambientais 3.3.3.3.1 Garrafas de Vidro Verifica-se pela análise da Figura 41 que os principais impactes ambientais são nas categorias de resíduos sólidos, metais pesados e smog de inverno. Dentro destes, o impacte na categoria de resíduos sólidos destaca-se claramente dos impactes das outras duas categorias. impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 41 – Impacte ambiental agregado das garrafas de vidro de azeite. 0,120 0,100 0,080 0,060 0,040 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A fase de produção é a principal origem dos impactes em todas as categorias de impacte ambiental, à excepção dos resíduos sólidos, em que o fim de vida é mais relevante (ver Figura 42). O contributo do embalamento é desprezável para o impacte ambiental da embalagem. Nas categorias onde a distribuição é mais relevante, esta representa pouco mais de 20% e cerca de 15% dos impactes do ciclo de vida da embalagem nas categorias smog de verão e acidificação. Na fase de fim de vida, para além do aumento dos resíduos sólidos, esta fase contribui para a redução substancial do impacte ambiental a nível de metais pesados, devido à reciclagem da garrafa de vidro. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 67 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 42 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das garrafas de vidro de azeite. 0,120 0,100 Destino final 0,080 Distribuição 0,060 Embalamento 0,040 Produção 0,020 0,000 -0,020 -0,040 -0,060 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Em todas categorias de impacte ambiental, à excepção da de resíduos sólidos, a principal origem dos impactes ao longo do ciclo de vida encontra-se na produção das garrafas de vidro, devido em grande parte ao consumo de energia necessário para fabricar a garrafa de vidro, como se encontra ilustrado na Figura 43. impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 43 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das garrafas de vidro de azeite. 0,120 0,100 Palete de madeira Filme Estirável 0,080 Caixa de cartão Rótulo 0,060 Cápsula Garrafa vidro 0,040 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Na categoria de resíduos sólidos, a deposição das garrafas e outras componentes do sistema de embalagem em aterro e a valorização energética das garrafas (que acabam por ter como destino igualmente o aterro controlado), são os principais responsáveis pelo impacte ambiental nesta categoria, dado o elevado peso das garrafas de vidro. Na categoria energia não existe redução do impacte ambiental pela reciclagem das garrafas de vidro, conforme demonstrado na Figura 44, uma vez que a redução do consumo de energia devido à utilização de casco encontra-se contabilizado na produção da garrafa. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 68 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 44 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das garrafas de vidro de azeite. 0,120 0,100 Dest. Final quebras 0,080 Dest. Final palete de madeira Dest. Final filme estirável 0,060 Dest. Final caixa de cartão 0,040 Dest. Final rótulo 0,020 Dest. Final cápsula 0,000 Dest. Final garrafa vidro -0,020 -0,040 -0,060 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Esta avaliação foi realizada com base em informações de empresas diferentes para as duas embalagens consideradas, que têm sistemas de embalagem e circuitos de distribuição ligeiramente diferentes, no entanto pela análise realizada e pelos resultados obtidos não é de crer que a utilização de dados da mesma empresa para as duas embalagens produzisse resultados diferentes, uma vez que a garrafa de vidro que é a principal origem do impacte ambiental é semelhante nas duas empresas. 3.3.3.3.2 Lata de folha de flandres Os principais impactes da embalagem de azeite em folha-de-flandres situam-se ao nível do smog de verão, energia, resíduos sólidos e metais pesados, conforme ilustrado na Figura 45. impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 45 – Impacte ambiental agregado da embalagem de azeite em folha de flandres. 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 69 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal A produção é a fase do ciclo de vida que mais contribui para o impacte ambiental da embalagem de azeite em folha de flandres nas 11 categorias consideradas no método Eco-indicador 95. O processo de embalamento no ciclo de vida da embalagem é irrelevante em termos de impacte ambiental. A distribuição é pouco relevante no ciclo de vida. Nas duas categorias de impacte mais relevantes, a distribuição apenas representa 8% e 6% do impacte do ciclo de vida da embalagem. O fim de vida existente permite a redução significativa do impacte nas categorias smog de verão e energia, sendo em termos percentuais 41% e 42% do impacte realizados durante as fases de produção, embalamento e distribuição (ver Figura 46). impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 46 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de azeite em folhade-flandres. 0,12 0,1 Destino final 0,08 Distribuição 0,06 Embalamento 0,04 Produção 0,02 0 -0,02 -0,04 -0,06 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. A principal origem do impacte ambiental associado a lata de azeite, em folha de flandres é proveniente da embalagem primária. Esta é responsável em todas as categorias em pelo menos 80% dos impactes associados à fase de produção, conforme patente na Figura 47. Na categoria se resíduos sólidos, o impacte existente também é principalmente devido à fase de produção e ao fabrico de folha de flandres, uma vez que para produzir esta embalagem é necessário ferro que produz bastantes resíduos nas operações de extracção e concentração e fundição do minério. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 70 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 47 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de azeite em folha-de-flandres. 0,12 0,1 Palete de madeira Filme estirável 0,08 Caixa de cartão Lata 0,06 0,04 0,02 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. O fim de vida aumenta os impactes relacionados com os metais pesados devido à libertação de metais na valorização energética (escórias do fundo do forno e cinzas volantes) e a processos de lixiviação em aterro. A redução existente ao nível do efeito de estufa deve-se à reciclagem, quer de embalagens recolhidas selectivamente, como da reciclagem do aço presente nas escórias do fundo do forno (ver Figura 48). impacte ambiental 1000 Lts. / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 48 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de azeite em folha-de-flandres. 0,04 0,03 Dest. Final quebras 0,02 Dest. Final palete de madeira 0,01 Dest. Final filme estirável 0 Dest. Final caixa de cartão Dest. Final garrafa PET -0,01 -0,02 -0,03 -0,04 -0,05 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 71 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.3.4 Margarinas 3.3.4.1 Descrição das embalagens As margarinas são embaladas em dois tipos de embalagem: As embalagens de PP, para as margarinas de mesa, e as embalagens de um laminado de papel, alumínio e polietileno, para as margarinas utilizadas em culinária. Os volumes de embalagem mais comuns são as embalagens de 250 g e 500 g para as embalagens de PP e de 250g e 1 kg, para as embalagens papel/alumínio/PE. As embalagens escolhidas representam cerca de 40% do volume total de margarina colocada no mercado pela FIMA, incluindo as que se destinam a aplicações industriais. Nas embalagens de PP consideradas, o fundo da embalagem é constituído por este material, enquanto que a tampa de embalagem é de PVC, e o diafragma, cuja função é de protecção da margarina, é de folha de alumínio. A embalagem não apresenta rótulo, sendo as informações acerca do produto e embalagens colocadas directamente sobre a embalagem. Nas embalagens de margarina de culinária, o envoltório, para as embalagens de 250 g e 1 kg, é constituído por papel (62%), alumínio (21%), PE (12%) e tintas (5%). Em ambos os casos as embalagens são agrupadas numa caixa de cartão canelado, que no caso das embalagens de PP 500g leva ainda um separador entre camadas, como descrito na Tabela 35, Tabela 36 e Tabela 37. Tabela 35 – Caracterização dos sistemas de embalagem para margarinas em embalagem de PP. Designação PP 250g PP 500g Embalagem Primária Fundo Tampa Diafragma Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Fundo Tampa Diafragma Secundária Separador entre camadas Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Dimensão/ Volume Material 250 g p.l. 1 unidade 1 unidade PP PVC Alumínio 30 embalagens Cartão canelado 48 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira 500 g p.l. 1 unidade 1 unidade PP PVC Alumínio 1 por caixa 16 embalagens Cartão canelado Cartão canelado 45 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira Peso (g) 11,0 4,3 1,0 N.º por palete 1440 1440 1440 355 48 300 25000 1 1 17,2 6,3 1,5 720 720 720 61 330 45 45 300 25000 1 1 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 72 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 36 – Caracterização dos sistemas de embalagem para margarinas em embalagem de Papel/Al/PE. Primária Envoltório Secundária Papel/Al/PE Caixa de cartão 250g Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Envoltório Secundária Papel/Al/PE Caixa de cartão 1000g Terciária Filme estirável Palete de madeira 250 g p.l. Papel/Al/PE 32 embalagens Cartão canelado 108 caixas 1200*800*144 PEBD Madeira 1000 g p.l. Papel/Al/PE 16 embalagens Cartão canelado 48 caixas 1200*800*144 PEBD Madeira 1,87 3456 188,49 108 300 25000 1 1 8,89 768 312,79 48 300 25000 1 1 Tabela 37 – Peso do sistema de embalagem de margarinas. Tipo de embalagem PP 250g PP 500g Papel/Al/PE 250g Papel/Al/PE 1000g Peso por palete (incluindo produto) (kg) 425,8 420,9 916,1 815,1 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1182,1 1169,1 1060,3 1061,4 Quanto à logística associada aos materiais de embalagem e à distribuição das margarinas aos consumidores, há que referir que, no caso das PP, estas são moldadas junto à fábrica da Fima e que a distribuição do produto é feita a partir da fábrica para todo o país. (ver Tabela 38 e Tabela 39). Tabela 38 – Logística associada aos materiais de embalagem de margarinas. Material de embalagem Fundo Tampa Diafragma Envoltório Papel/Al/PE Separador entre camadas Caixa de cartão Filme estirável Palete de madeira Camião utilizado (ton) 16 16 <4 <4 10 10 <4 <4 Distância média percorrida (km) 200 200 25 25 20 20 25 25 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 73 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 39 – Logística associada à distribuição da margarina. Tipo de transporte Distribuidor - consumidor Camião utilizado (ton) 24 Distância média percorrida (km) 169 3.3.4.2 Informação sobre o ciclo de vida Não foi possível dissociar os consumos de energia e de materiais dos processos de embalamento da FIMA dos consumos totais do processo produtivo das margarinas. Como tal, não se teve em conta esta fase na elaboração do ciclo de vida da embalagem. As quebras dos materiais utilizados para o processo de embalamento foram estimadas em 5% pela FIMA, tanto para as embalagens primárias, como para as embalagens secundárias. O destino final das embalagens de corpo em PP e tampa em PVC é a recolha indiferenciada, uma vez que o PVC não é reciclado e o PP devido ao seu teor de gordura também não o é. O alumínio do diafragma acaba por também ter o mesmo destino final, ou seja, a deposição em aterro ou a valorização energética, em que é recolhido posteriormente nas escórias do fundo do forno. O filme estirável considerou-se que é recolhido indiferenciadamente e a palete de madeira reutilizável considerou-se que tem uma taxa de reutilização de 95%. A embalagem constituída por de Papel/Al/PE é recolhida indiferenciadamente, e como tal o seu destino final é o aterro ou a valorização energética. 3.3.4.3 3.3.4.3.1 Caracterização dos impactes ambientais Embalagens de PP Os impactes ambientais das embalagens de polipropileno de margarinas ocorrem principalmente nas categorias de energia e smog de verão, embora as restantes categorias à excepção da camada de ozono, pesticidas e eutrofização sejam igualmente relevantes (ver Figura 49). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 74 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 49 – Impacte ambiental agregado das embalagens em PP de margarinas. 0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A distribuição das contribuições de cada fase do ciclo de vida para cada categoria de impacte ambiental, apresentada na Figura 50, mostra que A produção das embalagens é a fase mais importante do ciclo de vida. A fase da distribuição provoca impactes sobretudo a nível do smog de verão e acidificação, se bem que o seu contributo para impacte nessas categorias seja bastante menos significativo que o da produção (na ordem dos 15%). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 50 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens em PP de margarinas. 0,070 0,060 0,050 Destino final 0,040 Distribuição 0,030 Produção 0,020 0,010 0,000 -0,010 -0,020 -0,030 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 75 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal A produção da embalagem de PP é a componente do ciclo de vida que mais impacte ambiental provoca em todas as categorias, à excepção da carcinogenia, em que o impacte quase exclusivamente se deve à produção do diafragma de alumínio usado como protecção do produto (ver Figura 51). A produção da tampa em PVC, da caixa de cartão e da palete de madeira, se bem que menos relevantes que a produção do fundo em PP, são também importantes para impacte ambiental associado à produção dos materiais que constituem o sistema de embalagem. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 51 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens em PP de margarinas. 0,070 0,060 Palete de madeira Filme estirável 0,050 Caixa de cartão Diafragma 0,040 Tampa PVC 0,030 Fundo PP 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Na fase de fim de vida deste tipo de embalagens deve-se referir que, pelo facto de a embalagem primária não poder ser reciclada ou reutilizada, a redução do impacte nas diversas categorias deve-se principalmente a reciclagem da embalagem secundária de cartão canelado e também a reutilização da palete de madeira. O fim de vida destas embalagens origina um aumento do impacte ambiental na categoria de resíduos sólidos, explicado em parte pela elevada quantidade de resíduos de embalagem primária encaminhados para aterro, e também um aumento do impacte ambiental na categoria de metais pesados. Neste caso, a explicação reside no facto de a tampa da embalagem de PP ser em PVC que, quando incinerado, produz emissões para a atmosfera que contém metais pesados (ver Figura 52). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 76 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 52 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens em PP de margarinas. 3.3.4.3.2 0,015 0,010 Dest. Final quebras 0,005 Dest. Final palete de madeira 0,000 Dest. Final filme estirável Dest. Final caixa de cartão -0,005 Dest. Final diafragma -0,010 Dest. Final tampa PVC -0,015 Dest. Final fundo PP -0,020 -0,025 -0,030 Estuf. Ozon. Acid. Eutr.M. p. Carc.S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de Papel/Alumínio/PE Da análise da Figura 53 verifica-se que não existe uma categoria de impacte ambiental que se destaque de todas as outras. Com a excepção da categoria camada de ozono, pesticidas, smog de inverno e eutrofização, as restantes categorias apresentam impactes bastante homogéneos. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 53 – Impacte ambiental agregado das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas. 0,008 0,007 0,006 0,005 0,004 0,003 0,002 0,001 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 77 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Verifica-se também que a distribuição é bastante relevante ao nível do ciclo de vida, nomeadamente nas categorias smog de verão e acidificação, onde representa cerca de 50% e 40%, respectivamente, do impacte provocado pela fase de produção, conforme patente na Figura 54. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 54 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas. 0,020 0,015 Destino final 0,010 Distribuição 0,005 Produção 0,000 -0,005 -0,010 -0,015 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. O principal responsável pelo impacte ambiental em termos de carcinogenia, categoria que apresenta um impacte normalizado mais elevado tendo em conta todo o ciclo de vida do produto, é o alumínio usado na embalagem primária. Nas restantes categorias mais relevantes, o impacte continua-se a dever sobretudo à embalagem primária, mas a origem é repartida entre o papel e o alumínio que constituem a mesma embalagem (ver Figura 55) . impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 55 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas. 0,016 0,014 Palete de madeira 0,012 Filme estirável Caixa de cartão 0,010 Envoltório 0,008 0,006 0,004 0,002 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 78 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal A redução do impacte na categoria de energia devido ao fim de vida das embalagens deve-se praticamente em partes iguais à reciclagem das caixas de cartão canelado e reutilização da palete de madeira (ver Figura 56). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 56 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens em Papel/Alumínio/PE de margarinas. 0,002 0,000 Dest. Final quebras Dest. Final palete de madeira -0,002 Dest. Final filme estirável -0,004 Dest. Final caixa de cartão Dest. Final envoltório -0,006 -0,008 -0,010 -0,012 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.3.5 Manteigas 3.3.5.1 Descrição das embalagens A embalagem primária de manteiga de 15 g é de poliestireno, que é termoformado no processo de embalamento. A tampa desta embalagem é de mix-paper, um complexo de papel, alumínio e PE que se utiliza também nas embalagens de iogurtes. As embalagens de manteigas com uma capacidade superior, 125 g e 250 g, são de polipropileno, inclusive a tampa (Tabela 40 e Tabela 41), ao contrário do que se passa com as embalagens de margarina estudadas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 79 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 40 – Caracterização dos sistemas de embalagem para manteigas. Designação PS 15 g PP 125 g PP 250 g Embalagem Primária Taça Tampa Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Taça Tampa Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Taça Tampa Secundária Caixa de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Dimensão/ Volume Material 15 g p.l. 1 unidade PS Mix-paper 1,0 0,2 20000 20000 100 unidades Cartão canelado 53,3 200 200 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira 125 g p.l. 1 unidade PP PP 11,5 2,0 2400 2400 40 unidades Cartão canelado 53,3 60 60 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira 250 g p.l. 1 unidade PP PP 20 unidades Cartão canelado 60 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira Peso (g) 30 25000 30 25000 12,6 2,0 N.º por palete 1 1 1 1 1200 1200 52 60 30 25000 1 1 Tabela 41 – Peso do sistema de embalagem de manteiga. Tipo de embalagem PS 15 g PP 125 g PP 250 g Peso por palete (incluindo produto) (kg) 359,7 360,6 345,7 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1199,0 1202,1 1152,2 À semelhança do que acontece com a embalagem de cartão para alimentos líquidos de 1 L para leite, dado usarem-se igualmente dados da Lactogal, a caracterização da distância média e do tipo de transporte utilizado é bastante complexa, uma vez que a Lactogal tem vários fornecedores a que recorre, consoante as condições de mercado. Deste modo, consideram-se apenas as características do fornecedor mais comum para cada material (ver Tabela 42). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 80 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 42 – Logística associada aos materiais de embalagem de manteiga. Designação PS 15 g PP 125 g e 250 g Camião utilizado (ton) 10 24 10 10 10 10 10 10 10 10 Material de embalagem Taça Tampa Caixa de cartão Filme estirável Palete de madeira Taça Tampa Caixa de cartão Filme estirável Palete de madeira Distância média percorrida (km) 80 1000 50 40 270 80 80 50 40 270 Na logística associada à distribuição de manteigas, considerou-se o valor fornecido pela Lactogal para distância média entre o embalador e o consumidor, neste tipo de produto (Tabela 43). Tabela 43 – Logística associada à distribuição da manteiga. Tipo de transporte Distribuidor - consumidor Camião utilizado (ton) 24 Distância média percorrida (km) 215 3.3.5.2 Informação sobre o ciclo de vida Na avaliação de ciclo de vida das embalagens de manteiga, optou-se por juntar a embalagem de PS com as embalagens de PP, em vez de considerar separadamente os dois materiais, uma vez que o restante sistema de embalagem é comum às embalagens e já se realizou a ACV para embalagens de PP e PS separadamente (copos de iogurtes e embalagens de margarina). As quebras do processo de embalamento estimadas pela Lactogal são 2% para as embalagens primárias e secundárias. Devido à gordura existente nas embalagens primárias, estas não são recicladas. Considerou-se que os filmes retrácteis e estirável são recolhidos indiferenciadamente. A palete de madeira é reutilizável e considerou-se uma taxa de reutilização de 95%. 3.3.5.3 Caracterização dos impactes ambientais O sistema de embalagem de manteigas estudado é bastante semelhante ao sistema de embalagem das margarinas de mesa, com apenas duas diferenças significativas: nas embalagens de PP de manteiga, a tampa é igualmente de polipropileno; a embalagem de manteiga mais pequena (15g) apresenta o corpo em PS e abertura em mix-paper. De um modo geral, os impactes são igualmente semelhantes. As diferenças mais notórias dizem respeito as categorias metais pesados e carcinogenia. As embalagens de manteiga apresentam valores de carcinogenia menores devido a não terem o diafragma em alumínio, como as margarinas. Em contrapartida, na categoria metais Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 81 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal pesados apresentam impactes maiores, devido sobretudo a embalagem de PS de 15g (ver Figura 57). O facto das embalagens de manteiga apresentarem impactes superiores em termos absolutos deve-se também ao facto das embalagens de manteiga se apresentarem em volumes mais pequenos que as de margarina. Figura 57 – Impacte ambiental agregado das embalagens de manteigas. 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Ef. e. C. oz. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. En. R.S. A distribuição das contribuições de cada fase do ciclo de vida para cada categoria de impacte ambiental, apresentada na Figura 58, mostra que a produção das embalagens é a fase mais relevante em termos de impacte ambiental. A fase da distribuição provoca impactes sobretudo a nível do smog de verão e acidificação, embora seja pouco relevante no ciclo de vida. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 58 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de manteiga. 0,100 0,080 Destino final 0,060 Distribuição 0,040 Produção 0,020 0,000 -0,020 -0,040 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 82 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Na fase de produção, a principal componente que contribui para o impacte ambiental do ciclo de vida das embalagens de manteigas é a embalagem primária, mais concretamente a taça de PP e PS (ver Figura 59). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 59 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de manteigas. 0,090 0,080 Palete de madeira 0,070 Filme estirável 0,060 Caixa de cartão 0,050 Tampa 0,040 Taça 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. A ligeira redução do impacte em algumas categorias deve-se principalmente à reutilização da palete de madeira (ver Figura 60). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 60 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de manteigas. 0,020 0,015 Dest. Final quebras 0,010 Dest. Final palete de madeira Dest. Final filme estirável 0,005 Dest. Final caixa de cartão 0,000 Dest. Final tampa -0,005 Dest. Final taça -0,010 -0,015 -0,020 -0,025 Estuf.Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 83 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.4 Embalagens de frutas e legumes 3.4.1 Introdução Nas frutas e legumes estudaram-se exemplos de embalagem para os sectores de frutas e legumes industriais e frutas e legumes frescas. Assim, no caso das frutas e legumes industriais, estudaram-se as duas embalagens do produto mais importante produzido em Portugal pelas Industrias de Alimentação, IDAL e vendido igualmente no nosso país. Esta empresa é o principal declarador à SPV neste sector. No caso das Frutas e legumes frescas estudaram-se 2 caixas de madeira que são usadas para embalar tomate e hortaliças provenientes da Hortorres. Estas duas embalagens com uma dimensão de 50x30x15 cm e 60x40x20 cm, têm capacidade para embalar, respectivamente 9 kg e 12 kg de produto e representam ambas 55% das embalagens de madeira colocadas no mercado pela Hortorres. De referir que devido à grande variedade de produtos e embalagens existentes neste sector e ao elevado número de empresas que produzem, embalam e comercializam frutas e legumes, é bastante difícil, se não impossível, encontrar uma empresa e uma embalagem que se possa afirmar que é representativa do mercado. As próprias condicionantes do mercado contribuem bastante para este facto. Por exemplo, as dimensões das caixas de madeiras utilizadas para as diversas frutas e legumes frescas variam de acordo com o preço de cada produto, isto é, se um determinado produto estiver com um preço relativamente baixo, a quantidade desse produto por caixa é maior que quando o produto apresenta um preço elevado, em que a dimensão da caixa utilizada para o embalar é menor. Sendo assim, procurou-se estudar exemplos de embalagens de frutas e legumes que apesar de tudo, tivessem importância neste sector, sendo assim, as embalagens estudadas são as seguintes: No caso das Frutas e legumes industriais: • Vidro de 1050 g de p.l., correspondente a 1 L, para polpa de tomate. • Vidro de 520 g de p.l., correspondente a 0,5 L, para polpa de tomate. No caso das Frutas e legumes frescas: • Madeira de 9 kg de p.l. e dimensões 50x30x15 para tomate. • Madeira de 12 kg de p.l. e dimensões 60x40x20 para hortaliças. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 84 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.4.2 Frutas e legumes industriais 3.4.2.1 Descrição das embalagens As duas embalagens consideradas para a ACV representam cerca de 31% das vendas em volume dos produtos produzidos em Portugal pela IDAL e vendidos no nosso país, sendo as duas embalagens mais comercializadas desta empresa. As embalagens dizem respeito à marca de Polpa de tomate Guloso e são ambas em vidro. O sleeve é um material plástico (de PEBD) que serve para garantir que a embalagem não é aberta antes do consumo efectivo. Uma completa descrição dos sistemas de embalagem associados a este produto encontra-se presente nas Tabela 44 e Tabela 45. Tabela 44 – Caracterização dos sistemas de embalagem de frutas e legumes industriais. Designação Vidro 520 g (~0,5 L) Vidro 1050 g (~1 L) Embalagem Primária Embalagem de 520g Cápsula Rótulo de papel Sleeve Secundária Filme retráctil Bandeja de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Primária Embalagem de 1050g Cápsula Rótulo de papel Sleeve Secundária Filme retráctil Bandeja de cartão Terciária Filme estirável Palete de madeira Dimensão/ Volume Material Peso (g) N.º por palete 520 g p.l. (~0, 5 L) 1 unidade 1 unidade 1 unidade Vidro F. de Flandres Papel PEBD 250 7,2 0,9 0,3 840 840 840 840 12 embalagens 12 embalagens PEBD Cartão canelado 25,5 49 70 70 1200*800*144mm PEBD Madeira 1050 g p.l. (~1 L) 1 unidade 1 unidade 1 unidade Vidro Folha de flandres Papel PEBD 500 7,2 0,9 0,3 384 384 384 384 6 embalagens 6 embalagens PEBD Cartão canelado 25,5 49 64 64 1200*800*144mm PEBD Madeira 500 25000 500 25000 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 1 1 1 1 85 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 45 – Peso do sistema de embalagem de frutas e legumes industriais. Tipo de embalagem Vidro 520 g Vidro 1050 g Peso por palete (incluindo produto) (kg) 684,6 628,2 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1567,2 1558,0 Em relação à logística associada aos materiais de embalagem, é de referir que devido ao fornecedor das cápsulas se situar em Inglaterra, a distância percorrida por este material de embalagem é bastante superior às restantes (ver Tabela 46). Tabela 46 – Logística associada aos materiais de embalagem de frutas e legumes industriais. Material de embalagem Embalagem de vidro Cápsula Rótulo de papel Sleeve Filme retráctil Bandeja de cartão Filme estirável Palete de madeira Camião utilizado (ton) 24 24 <4 24 <4 24 <4 <4 Distância média percorrida (km) 160 3000 60 3000 300 70 300 60 A distribuição dos produtos produzidos pela IDAL na sua fábrica de Benavente é feita em outsourcing, sendo da responsabilidade da Jerónimo Martins Distribuição. Assim, as embalagens são transportadas da fábrica da IDAL até ao armazém da JMD em Bucelas. Este transporte é feito em camiões de 24 ton e a distância média percorrida é de 50 km. A partir deste armazém as embalagens são expedidas para o resto do país (Tabela 47). Tabela 47 – Logística associada à distribuição de frutas e legumes industriais. Tipo de transporte Embalador - distribuidor Distribuidor - consumidor Camião utilizado (ton) 24 16 Distância média percorrida (km) 50 182 3.4.2.2 Informação sobre o ciclo de vida Dado não ser possível à empresa IDAL separar os consumos energéticos e de materiais do processo de embalamento dos consumos globais da fábrica, não é possível incluir esses mesmos consumos na avaliação de ciclo de vida das duas embalagens. De acordo com esta empresa, as quebras verificadas são cerca de 1% para as garrafas, 2% para as cápsulas, 1% para as bandejas e 5% para os rótulos. Em relação ao fim de vida, considerou-se que o rótulo como se encontra agregado ao boião de vidro, é também transportado para a Vidrociclo juntamente com o boião. Considera-se que o seu destino final acaba por ser o aterro. À semelhança do rótulo pressupôs-se que segue o mesmo circuito que o boião, ou seja, considera-se que o Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 86 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal consumidor coloca de volta a cápsula no boião antes de se desfazer dele e parte-se do pressuposto que a cápsula acaba em aterro. Em relação aos restantes materiais, o sleeve é alvo de recolha indiferenciada. Considerou-se igualmente que os filmes retrácteis e estirável são recolhidos indiferenciadamente. A palete de madeira é reutilizável e considera-se uma taxa de reutilização de 95%. 3.4.2.3 Caracterização dos impactes ambientais O tipo de impactes ambientais, como já era de esperar, são semelhantes aos das garrafas de vidro de azeite. Das 11 categorias de impacte ambiental, a de resíduos sólidos é aquela que apresenta maiores impactes, fundamentalmente devido ao destino final das embalagens de vidro. Depois dos resíduos sólidos, se considerarmos a globalidade do ciclo de vida, as outras categorias mais relevantes são os metais pesados, o smog de inverno e o efeito de estufa (ver Figura 61). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 61 – Impacte ambiental agregado das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. 0,120 0,100 0,080 0,060 0,040 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A produção das componentes do sistema de embalagem é a principal origem dos impactes em todas as categorias de impacte, à excepção dos resíduos sólidos. A distribuição, nas categorias mais relevantes, quando comparada com a produção das componentes de embalagem, apenas representa respectivamente cerca de 25% e 10% do impacte desta, nas categorias smog de verão e efeito de estufa (ver Figura 62). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 87 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 62 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. 0,120 0,100 Destino final 0,080 0,060 Distribuição 0,040 Produção 0,020 0,000 -0,020 -0,040 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Como já referido, em todas categorias de impacte, à excepção de resíduos sólidos, a principal origem dos impactes ao longo do ciclo de vida deve-se à produção das embalagens de vidro. Este facto deve-se, em grande parte, à queima de gás natural para produção de calor usado no fabrico do vidro. A produção e transporte das cápsulas em folha de flandres, se bem que apresentem impactes bastante menores que a garrafa de vidro, ainda é relativamente significativa em algumas categorias, como por exemplo a energia e o smog de verão, em que representam 15% e 10% do impacte de todas as componentes de embalagem, conforme demonstrado na Figura 63. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 63 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. 0,120 Palete de madeira 0,100 Filme estirável bandeja de cartão 0,080 Filme retráctil Sleeve 0,060 Rótulo Cápsula 0,040 Embalagem vidro 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 88 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Na categoria de resíduos sólidos, principalmente a deposição directa em aterro, mas também os resíduos resultantes da valorização energética, são os principais responsáveis pelo impacte ambiental, o que se explica devido ao grande peso que as embalagens de vidro apresentam (ver Figura 64). O fim de vida, para além do referido aumento dos resíduos sólidos, contribui para a redução substancial do impacte ambiental a nível de metais pesados, devido à reciclagem da embalagem de vidro. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 64 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de vidro para frutas e legumes industriais. 0,120 0,100 Dest. Final quebras Dest. Final palete de madeira 0,080 Dest. Final filme estirável 0,060 Dest. Final bandeja de cartão Dest. Final filme retráctl 0,040 Dest. Final sleeve 0,020 Dest. Final rótulo Dest. Final cápsula 0,000 Dest. Final embalagem vidro -0,020 -0,040 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.4.3 Frutas e legumes frescos 3.4.3.1 Descrição das embalagens O sistema de embalamento estudado é bastante simples, consiste em embalagens primárias de madeira onde o tomate e as hortaliças são transportados e em paletes, também de madeira, que servem para transportar as caixas. De referir que as paletes utilizadas pela Hortorres são, na sua maior parte, de tara perdida (70%), sendo que as restantes, apesar de serem reutilizáveis, têm taxas de quebras bastante elevadas, cerca de 50% (ver Tabela 48 e Tabela 49). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 89 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 48 – Caracterização dos sistemas de embalagem. Designação Embalagem Primária Caixa de Caixa de madeira Madeira – Tomate 9kg Terciária Palete de madeira Caixa de Primária Madeira – Caixa de madeira Hortaliças Terciária 12kg Palete de madeira Dimensão/ Volume Material Peso (g) N.º por palete 50*30*15 cm Madeira 1000 96 - Madeira 12000 1 60*40*20 cm Madeira 1500 50 - Madeira 12000 1 Tabela 49 – Peso do sistema de embalagem. Tipo de embalagem Caixa de Madeira – Tomate 9 kg Caixa de Madeira – Hortaliças 12 kg Peso por palete (incluindo produto) (kg) 972 687 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1125 1145 A Hortorres adquire as suas embalagens e paletes de madeira à empresa Fepal que se situa praticamente ao lado da sua unidade industrial (ver Tabela 50). A Fepal por sua vez apenas monta as caixas e paletes de madeira e vai buscar a madeira a cerca de 250 km de distância e os outros componentes a 320 km. Em ambos os casos o transporte é feito em camião de 24 ton. Tabela 50 – Logística associada aos materiais de embalagem. Material de embalagem Caixa de madeira Palete de madeira Camião utilizado (ton) 24 24 Distância média percorrida (km) 1 1 De acordo com a Hortorres as caixas de madeira percorrem cerca de 150 km, no entanto este valor é muito difícil de estimar uma vez que é muito variável a distância percorrida. O mesmo ocorre com o tipo de transporte. Ambos dependem bastante das condições do mercado (Tabela 51). De acordo com os dados fornecidos , considerouse que, em média, o tipo de camião utilizado tem uma tara de 16 ton. Tabela 51 – Logística associada à distribuição. Tipo de transporte Embalador - consumidor Camião utilizado (ton) 16 Distância média percorrida (km) 150 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 90 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.4.3.2 Informação sobre o ciclo de vida Devido as frutas e legumes serem um produto com um tempo de vida útil muito curto, existem embalagens que retornam à Hortorres com produto não consumido. Estima-se que esta quantidade seja cerca de 4% das embalagens colocadas no mercado. As quebras no processo de embalamento da Hortorres são cerca de 0,5% para as embalagens primárias. O gasto de energia do processo de embalamento do produto não foi possível de quantificar, no entanto, de acordo com a Fepal, em média, a montagem de uma caixa de madeira consome cerca de 0,0146 kWh. As paletes de madeira, como já referido, são na sua maior parte de tara perdida e apenas 30% são reutilizáveis, no entanto, como se tratam de paletes muito frágeis, a taxa de quebras destas é bastante elevada, estimando-se em cerca de 50%, ou seja, em média uma palete reutilizável apenas percorre 2 ciclos de vida do produto. As caixas de madeira que retornam à Hortorres por o produto não ter sido consumido, são reutilizadas. 3.4.3.3 Caracterização dos impactes ambientais As categorias de impacte ambiental mais importantes das embalagens de madeira consideradas são os resíduos sólidos e a energia. O smog de verão, acidificação e efeito de estufa são também bastante relevantes, como se encontra ilustrado na Figura 65. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 65 – Impacte ambiental agregado das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos. 0,018 0,016 0,014 0,012 0,010 0,008 0,006 0,004 0,002 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 91 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Uma conclusão importante a reter da análise da Figura 66 é que a distribuição contribui bastante para algumas categorias de impacte, nomeadamente smog de verão, acidificação, eutrofização e efeito de estufa. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 66 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos. 0,035 0,030 0,025 Destino final 0,020 Distribuição 0,015 0,010 Produção 0,005 0,000 -0,005 -0,010 -0,015 -0,020 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Na fase de produção, a quase totalidade do impacte ambiental é provocado pela caixa de madeira, que serve de embalagem primária. A palete de madeira, quando comparada com esta última apenas é responsável por cerca de 10% do impacte da produção. Aliás, este facto já era expectável, uma vez que as componentes do sistema de embalagem são praticamente idênticos em termos de materiais utilizados e processo de fabrico e a quantidade de material utilizado para o fabrico das caixas de madeira, por unidade funcional, é bastante superior ao utilizado para o fabrico das paletes de madeira (ver Figura 67). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 67 – Impactes ambientais relativos à fase de produção das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos. 0,030 0,025 Palete de madeira 0,020 Caixa de madeira 0,015 0,010 0,005 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 92 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal O fim de vida das componentes do sistema de embalagem estudado permite uma redução do impacte ao nível de energia e metais pesados. Este facto deve-se essencialmente à reciclagem e valorização energética das caixas de madeira. A reciclagem da madeira e a recuperação de energia pela sua valorização energética, permite que globalmente se reduza o consumo de energia e consequentemente se diminua a libertação de metais para a atmosfera, associados aos processos de queima de combustíveis fósseis, nomeadamente carvão. O aumento do impacte ambiental na categoria de resíduos sólidos provocada pela fase de fim de vida é devido às caixas de madeira que são encaminhadas para aterro (ver Figura 68). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 68 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de madeira para frutas e legumes frescos. 0,010 0,005 Dest. Final quebras Dest. Final palete de madeira 0,000 Dest. Final caixa de madeira -0,005 -0,010 -0,015 Estuf.Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.5 Embalagens de confeitaria 3.5.1 Introdução Para estudar o tipo de embalagens utilizadas no sector da confeitaria, nomeadamente em embalagens de bolachas, que representavam, em 1998, 67,9% do mercado dos produtos de confeitaria, foi seleccionada a empresa Triunfo, devido a ser o principal actor no mercado de bolachas. Dentro dos inúmeros produtos da Triunfo, estudaram-se as 4 embalagens mais importantes, que representam em conjunto mais de 20% das vendas em volume da empresa e que representam igualmente os diversos tipos de embalagens comercializadas por esta empresa. Das embalagens consideradas, as principais são as de bolacha Maria e de Bolacha Integral. As embalagens consideradas foram: • Bolacha Maria de 180 g (película de plástico). • Bolacha Integral de 200 g (película de plástico + caixa de cartão). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 93 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal • Bolacha Chipmix chocolate de 125 g (película de plástico + cuvette de plástico). • Bolacha Sortido Tradição de 350 g (película de plástico + cuvette de plástico + caixa de cartão + película de alumínio). A informação recolhida junto da Triunfo foi considerada confidencial por esta empresa e, como tal, as informações relativas ao sistema de embalagem e logística que são apresentadas, encontram-se de uma forma agregada. 3.5.2 Bolachas 3.5.2.1 Descrição das embalagens As embalagens primárias, apesar de serem basicamente constituídas por cartão e plástico, apresentam uma grande variedade em termos de forma e quantidade de produto disponibilizado ao consumidor, devido em grande parte a factores de marketing. Estudou-se a embalagem mais representativa em cada dos 4 grandes grupos de embalagem existentes, ou seja, embalagens primarias constituídas unicamente por uma película de plástico, por uma película de plástico e caixa de cartão, por uma película de plástico e uma cuvette de plástico e por uma película de plástico, caixa de cartão, cuvette de plástico e película de alumínio. As embalagens secundárias utilizadas são sobretudo caixas de cartão, existindo também filme retráctil de PEBD. A embalagem secundária apresenta sempre uma etiqueta de papel a identificar a embalagem. As embalagens secundárias são agrupadas numa palete de madeira reutilizável, do tipo europalete, envolvida num filme estirável de PEBD. Todas as embalagens consideradas são produzidas por terceiros e apenas o processo de embalamento é realizado na Triunfo. Tabela 52 – Peso dos sistemas de embalagem de bolachas. Tipo de embalagem Maria 180g Integral Triunfo 200g Chipimix Chocolate 125g Sortido Tradição 350g Peso por palete (incluindo produto) (kg) 232,3 211,9 126,7 154,3 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1194,7 1338,0 1408,0 1574,6 3.5.2.2 Informação sobre o ciclo de vida Não se inclui os consumos de energia e materiais do processo de embalamento no ciclo de vida das embalagens, uma vez que a Triunfo não tem tipificado esses consumos por processos, ao longo da linha produtiva. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 94 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Foram contabilizadas as quebras dos materiais de embalagem no processo de embalamento. Considerou-se que o filme estirável usado em conjunto com a palete de madeira acaba por ter como destino a recolha indiferenciada e que as paletes de madeira são reutilizáveis a 95%, isto é, apresentam uma taxa de quebras de 5%. As quebras do processo de embalamento têm como destino o aterro. Como as embalagens de confeitaria estudadas são bastante diferentes entre si, optouse por apresentar os impactes da fase de produção e fim de vida agregados consoante o tipo de embalagem (Figura 71 e Figura 72), ou seja, por embalagem primária, secundária e terciária. 3.5.2.3 Caracterização dos impactes ambientais Os principais impactes ambientais das embalagens de bolachas situam-se nas categorias energia, smog de verão, metais pesados, efeito de estufa e acidificação, como se pode observar na Figura 69. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 69 – Impacte ambiental agregado das embalagens de bolachas. 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A fase que provoca maiores impactes é a fase de produção. A distribuição se bem que menos relevante que a produção, apresenta impactes não desprezáveis em categorias como o smog de verão e acidificação (ver Figura 70). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 95 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 70 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de bolachas. 0,12 0,1 0,08 Destino final 0,06 Distribuição 0,04 Produção 0,02 0 -0,02 -0,04 -0,06 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Na fase de produção, é o fabrico da embalagem primária que provoca maiores impactes ambientais. O contributo da produção da palete de madeira é significativo, como ilustrado na Figura 71, nomeadamente na categoria de energia, sobretudo nas embalagens que são menos complexas, como por exemplo a de PEBD de 185g. Dado nesta análise se considerar vários tipos de embalagens diferentes com diferentes materiais (filme de PEBD, cuvette de PS e filme de PEBD, etc.) é de esperar que os impactes em cada categoria tenham origens diversas. Por exemplo, na categoria de metais pesados, os impactes provêm principalmente das cuvetes de PS e das cartolinas impressas. Na categoria de carcinogenia, apesar de ser pouco relevante, o impacte provêm do alumínio usado nas embalagens de sortidos. Devido à razão apontada, uma alteração significativa da distribuição do consumo de bolachas, que favoreça o consumo de um tipo de embalagens em detrimento de outra, pode originar uma alteração relevante nos impactes apresentados. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 71 – Impactes ambientais relativos à de produção das embalagens das embalagens de bolachas. 0,1000 0,0900 Embalagem terciária 0,0800 0,0700 Embalagem secundária 0,0600 Embalagem primária 0,0500 0,0400 0,0300 0,0200 0,0100 0,0000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 96 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Devido à palete de madeira ser reutilizada, na sua maior parte, o impacte provocado na produção é eliminado. Aliás, uma parte substancial da redução dos impactes ambientais associados ao ciclo de vida das embalagens de bolachas deve-se precisamente à reutilização da palete de madeira (ver Figura 72). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 72 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de bolachas. 0,0100 0,0000 Dest. Final quebras Dest. Final emb. terciária -0,0100 Dest. Final emb. secundária Dest. Final emb. primária -0,0200 -0,0300 -0,0400 -0,0500 Estuf. Ozon.Acid. Eutr.M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.6 Embalagens de produtos congelados 3.6.1 Introdução Nos produtos congelados foram estudadas 4 embalagens: duas de peixe congelado e refeições prontas e duas de gelados take-home e multi-pack. Nas refeições prontas foram estudadas dois dos produtos mais vendidos pela IGLO neste sector e que são embalados em Portugal, que apesar de tudo representam apenas 4,5% das vendas totais, dado a enorme variedade de produtos existentes e de grande parte das embalagens de refeições prontas e peixe congelado serem importadas. Não se estudou nenhuma embalagem importada uma vez que não foi possível obter a informação necessária para a realização da ACV. Os produtos embalados em Portugal, não são embalados directamente pela IGLO, mas sim por outras empresas, de que as postas de pescada e o bacalhau à Brás são um exemplo. Nos gelados take-home e multipack foram estudados os produtos mais vendidos pela Olá nestes tipos de produto, ou seja o gelado Vienetta e o multipack Cornetto. As embalagens estudadas foram portanto as seguintes. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 97 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal No peixe congelado e refeições prontas: • Saco de PE/PET 400 g, de posta de pescada nº3. • Bandeja de PS e Cartolina 300 g, de bacalhau à Brás. No gelados take-home e multipack: • Tabuleiro de PP/PEAD e Envoltório de Papel/PEBD 600 mL, do gelado Vienetta. • Caixa de Cartolina e sleeve de Papel/Alumínio 6 x 79,5 g, da embalagem multipack Cornetto. 3.6.2 Refeições prontas e pescado 3.6.2.1 Descrição das embalagens A embalagem primária da posta de pescada nº3 de 400g é um saco constituído na sua maior parte por polietileno, que se encontra em contacto com o alimento, sendo o restante de PET, que serve como base de impressão. A camada de PE tem 75 microns e a de PET 12 microns. A embalagem de bacalhau à Brás de 300g é constituída por uma bandeja e tampa de poliestireno, estando envolvida por uma cartolina. Em ambos os casos a embalagem secundária é uma caixa de cartão canelado e as embalagens são transportadas numa palete de madeira. Uma descrição mais pormenorizada do sistema de embalagem encontra-se presente nas tabelas Tabela 53 e Tabela 54. Tabela 53 – Caracterização dos sistemas de embalagem de refeições prontas e pescado. Designação Embalagem Primária Saco Postas de Secundária Pescada nº 3 Caixa de cartão (400g) Terciária Filme estirável Palete de Madeira Primária Bandeja + tampa Cartolina Bacalhau à Secundária Brás Caixa de cartão (300g) Terciária Filme estirável Palete de Madeira Dimensão/ Volume Material 400 g p.l. PEBD/PET 12 sacos Cartão 81 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira 300 g p.l. 1 unidade PS Cartolina 12 bandejas Cartão 81 caixas 1200*800*144mm PEBD Madeira Peso (g) 11,0 N.º por palete 1080 230 90 500 23000 1 1 20,0 30,8 972 972 230 81 500 23000 1 1 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 98 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 54 – Peso do sistema de embalagem de refeições prontas e pescado. Designação Postas de Pescada nº3 (400g) Bacalhau à Brás (300g) Peso por palete (incluindo produto) (kg) 488,1 383,1 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1129,8 1313,8 A logística associada aos materiais de embalagem de postas de pescada nº3 e bacalhau à Brás encontra-se presente na Tabela 55. Tabela 55 – Logística associada aos materiais de embalagem de refeições prontas e pescado. Designação Postas de Pescada nº3 (400g) Bacalhau à Brás (300g) Material de embalagem Saco Caixa de cartão Filme estirável Palete de Madeira Bandeja + tampa Cartolina Caixa de cartão Filme estirável Palete de Madeira Camião utilizado (ton) 8-12 12 8-12 24 20 3 8-12 12 24 Distância média percorrida (km) 300 10 50 30 300 230 250 90 85 O embalamento das postas de pescada é feito pela Gelpeixe, em Loures e o do bacalhau à Brás pela Peipen, que se situa em Peniche. Depois de embalados, estes produtos são transportados para o centro de distribuição da IGLO e a partir dai enviados para todo o país (Tabela 56). Tabela 56 – Logística associada à distribuição de refeições prontas e pescado. Designação Postas de Pescada nº3 (400g) Bacalhau à Brás (300g) Tipo de transporte Embalador – distribuidor Distribuição - consumidor Embalador – distribuidor Distribuição - consumidor Camião utilizado (ton) 24 24 24 24 Distância média percorrida (km) 45 170 80 170 3.6.2.2 Informação sobre o ciclo de vida Não foi possível obter as taxas de quebras no processo de embalamento dos produtos estudados, sendo assim não se tem em conta este aspecto no ciclo de vida. Igualmente, pela mesma razão, o consumo de energia e de materiais no processo de embalamento não é considerado no ciclo de vida. No fim de vida das embalagens, considerou-se que as embalagens de primárias de ambos os produtos são recolhidas indiferenciadamente, sendo, portanto, o seu destino a valorização energética ou o aterro controlado e que o filme estirável é igualmente recolhido indiferenciadamente. Considerou-se igualmente que as paletes de madeira apresentam uma taxa de reutilização de 95%. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 99 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.6.2.3 Caracterização dos impactes ambientais Os principais impactes ambientais das embalagens de refeições prontas e pescado estudadas são nas categorias de metais pesados, energia, smog de verão, efeito de estufa e acidificação (Figura 73). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 73 – Impacte ambiental agregado das embalagens de refeições prontas e pescado. 0,090 0,080 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. Mais uma vez, os impactes são devidos sobretudo à produção da embalagem primária. A distribuição tem um impacte pouco relevante no ciclo de vida da embalagem, conforme demonstrado na Figura 74. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 74 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de refeições prontas e pescado. 0,100 0,080 Destino final 0,060 Distribuição 0,040 Produção 0,020 0,000 -0,020 -0,040 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 100 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal A categoria de metais pesados apresenta um valor elevado em relação às restantes devido principalmente à existência de poliestireno na embalagem de refeição pronta de bacalhau à Brás, que na sua produção origina metais como resíduo (ver Figura 75). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 75 – Impactes ambientais relativos à de produção das embalagens de refeições prontas e pescado. 0,080 0,070 Palete de madeira 0,060 Filme estirável Caixa de cartão 0,050 Cartolina Badeja + tampa 0,040 Saco 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. O destino final apenas permite reduzir sensivelmente o impacte na categoria energia, sobretudo devido à reciclagem da embalagem secundária de cartão canelado e da embalagem terciária de madeira (ver Figura 76). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 76 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de refeições prontas e pescado. 0,015 0,010 Dest. Final quebras 0,005 Dest. Final palete de madeira Dest. Final filme estirável 0,000 Dest. Final caixa de cartão -0,005 Dest. Final cartolina Dest. Final badeja+tampa -0,010 Dest. Final saco -0,015 -0,020 -0,025 -0,030 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 101 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal 3.6.3 Gelados 3.6.3.1 Descrição das embalagens O gelado Take-home da Iglo mais vendido é a Viennetta de 600 mL. A sua embalagem primária é constituída por duas partes: Um tabuleiro de uma mistura de 60% de PP e 40% de PEAD e um envoltório constituído por papel kraft (67%), PEBD (25%), verniz (3%) e um cold-seal (5%). A embalagem primária é embalada numa caixa de cartolina e as caixas são agrupadas por um filme de PEBD. Finalmente, a embalagem terciária é constituída por uma palete de madeira e por um filme estirável que mantém coeso o sistema de embalagem. O Multipack de Cornetto, é constituído por 6 embalagens primárias de Cornetto. Cada um destes gelados está embalado num sleeve constituído por papel kraft branco (79%), alumínio (19%) e verniz (2%). A tampa que sela a embalagem é constituída por 95% de cartolina folding e 5% de polietileno. Os Cornetto são embalados em packs de 6, em caixas de cartolina, e estas caixas são agrupadas por um filme de PEBD. A embalagem terciária, à semelhança da embalagem terciária da Viennetta, é constituída por uma palete de madeira e um filme estirável para dar consistência ao agrupamento (Tabela 57 e Tabela 58). Tabela 57 – Caracterização dos sistemas de embalagem de gelados take-home e multipack. Designação Embalagem Primária Tabuleiro Envoltório Secundária Viennetta de 342g Caixa de cartolina (600 mL) Filme de PEBD Terciária Filme estirável Palete de Madeira Primária Sleeve Tampa Multipack Secundária Cornetto Caixa de cartolina 6*79,5 g Filme de PEBD Terciária Filme estirável Palete de madeira Nº por palete Dimensão/ Volume Material 342 g p.l. (600mL) 1 unidade PP/PEAD Papel/PEBD 5,0 5,6 1056 1056 1 por emb. p. 6 cartolinas Cartolina PEBD 34 12,33 1056 176 176 packs Europalete PEBD Madeira 1 unidade 1 unidade Papel/Alumínio Cartolina/PE 1,77 1,06 3888 3888 1 por 6 emb. pr. 6 cartolinas Cartolina PEBD 45,3 18,19 648 108 108 packs Europalete PEBD Madeira Peso (g) 400 23000 400 23000 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 1 1 1 1 102 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Tabela 58 – Peso do sistema de embalagem de gelados take-home e multipack. Tipo de embalagem Viennetta de 342 g (600 mL) Multipack Cornetto 6x79,5g Peso por palete (incluindo produto) (kg) 433,8 374,8 Peso do sistema de embalagem por 1000 kg de produto (kg) 1201,2 1212,6 Na logística associada aos materiais de embalagem é de referir que o tabuleiro da Viennetta, assim como o sleeve dos Cornettos e os filmes de PEBD, são importados, nomeadamente de Inglaterra, Itália e França, respectivamente (ver Tabela 59). Tabela 59 – Logística associada aos materiais de embalagem de gelados take-home e multipack. Designação Vienetta de 600 mL (342g) Multipack Cornetto 6*79,5g Camião utilizado (ton) 24 8-12 8-12 24 24 24 24 8-12 8-12 24 24 24 Material de embalagem Tabuleiro Envoltório Caixa de cartolina Filme de PEBD Filme estirável Palete de Madeira Sleeve Tampa Caixa de cartolina Filme de PEBD Filme estirável Palete de madeira Distância média percorrida (km) 2500 8 25 2000 2000 30 3000 250 250 2000 2000 30 Depois de embalados, os gelados são transportados para o centro de distribuição da Olá e a partir dai, são enviados para todo o país para os concessionários em cada região. A partir dos concessionários são distribuídos para o consumidor. No entanto, não foi possível quantificar a distância média de um concessionário ao consumidor nem o tipo de transporte utilizado dado ser bastante variável (Tabela 60). Tabela 60 – Logística associada à distribuição de gelados take-home e multipack. Tipo de transporte Embalador – centro de distribuição Centro de distribuição – consumidor Camião utilizado (ton) 24 24 Distância média percorrida (km) 25 170 3.6.3.2 Informação sobre o ciclo de vida As quebras dos materiais de embalagem no processo de embalamento, estimam-se em 4,5% para as embalagens primárias e secundárias. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 103 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal No avaliação de ciclo de vida dos gelados multipack e take-home, não se tem em conta os consumos de energia e materiais no processo de embalamento, uma vez que a Olá não tem estes consumos separados por etapas no processo de fabrico dos gelados. No fim de vida destas embalagens considerou-se que os materiais são recolhidos indiferenciadamente, à excepção das paletes que são reutilizáveis. De acordo com a Olá, a taxa de reciclagem destas embalagens é 95,5%. 3.6.3.3 Caracterização dos impactes ambientais Verifica-se pela análise da Figura 77 que claramente o maior impacte ambiental do ciclo de vida das embalagens de gelados take-home e multipack ocorre na categoria de energia. Em seguida as categorias mais relevantes em termos de impacte ambiental são o smog de verão, o efeito de estufa e acidificação. Figura 77 – Impacte ambiental agregado das embalagens de gelados. 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Ef. e. C. oz. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. En. R.S. A distribuição apresenta uma relevância bastante inferior à fase da produção (ver Figura 78). O fim de vida apenas permite reduzir em cerca de 15% o impacte energético e diminuir marginalmente as outras categorias relevantes. Na categoria de resíduos sólidos o fim de vida contribui mesmo para o aumento dos resíduos associados ao ciclo de vida. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 104 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 78 – Impactes ambientais relativos ao ciclo de vida das embalagens de gelados. 0,090 0,080 0,070 Destino final 0,060 Distribuição 0,050 0,040 Produção 0,030 0,020 0,010 0,000 -0,010 -0,020 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. O impacte na categoria de energia deve-se principalmente à produção da caixa de cartolina em ambos os gelados estudados. Nas restantes categorias, a produção da caixa de cartolina continua a ser a principal origem do impacte ambiental, à excepção da categoria carcinogenia, que no entanto, é pouco relevante, quando comparada com as restantes (ver Figura 79). impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 79 – Impactes ambientais relativos à de produção das embalagens de gelados. 0,080 0,070 Palete de madeira 0,060 Filme estirável Filme PEBD 0,050 Caixa de cartolina 0,040 Embalagem 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. A redução do impacte no fim de vida tem sobretudo a ver com a reutilização da palete de madeira, conforme ilustrado na Figura 80. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 105 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 80 – Impactes ambientais relativos à fase de fim de vida das embalagens de gelados. 0,010 Dest. Final quebras 0,005 Dest. Final palete de madeira Dest. Final filme estirável 0,000 Dest. Final filme PEBD Dest. Final caixa de cartolina Dest. Final embalagem -0,005 -0,010 -0,015 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. 3.7 Discussão dos resultados obtidos 3.7.1 Fase de produção De um modo geral pode-se afirmar que a fase mais relevante para o ciclo de vida das embalagens de bens alimentares é a fase da produção e, dentro desta, a produção da embalagem primária. A palete de madeira em certos tipos de embalagens é responsável por uma parte significativa do impacte ambiental da fase de produção, mas uma vez que esta é reutilizável, o impacte ambiental da responsabilidade desta componente de embalagem, considerando todo o ciclo de vida, é reduzido. 3.7.2 Fase de embalamento Não foi possível avaliar com exactidão o efeito do processo de embalamento, no entanto, de acordo com as informações existentes o impacte nunca seria muito significativo, uma vez que os casos em que existe informação indicam que este tem um contributo pouco relevante em comparação com a produção das embalagens. 3.7.3 Fase de distribuição Esta fase tem uma particularidade interessante em relação à produção. Enquanto que o impacte resultante da produção das embalagens pode ser atenuado na fase de fim de vida das embalagens, nomeadamente através da reutilização, reciclagem e valorização energética das embalagens, na distribuição, o impacte desta fase é permanente e não pode ser atenuado, a não ser por alteração directa ou indirecta das condições de distribuição. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 106 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal Verifica-se pela análise das ACV realizadas que a importância relativa da distribuição é maior nas categorias de eutrofização, acidificação e smog de verão. O contributo da distribuição para o impacte ambiental do ciclo de vida entre as diversas embalagens estudadas depende muito, para além da logística associada ao transporte do produto, da relação entre o peso da embalagem e o peso do produto. Quanto mais pesado for o sistema de embalagem para o mesmo produto e mesma unidade funcional (ex: margarina embalada em PP e em Papel/Alumínio/PE), maior o impacte ambiental absoluto associado à distribuição (ver Figura 81 e Figura 82). Figura 81 – Impacte normalizado para a categoria smog de verão de diferentes pesos de sistemas de embalagem. Sm og de ve r ão 0,014 0,012 Iogurtes s mog de v erão impac te ambiental normaliz ado na c ategoria 0,016 0,010 Congelados 0,008 Manteigas Margarinas 0,006 0,004 0,002 0,000 1000 1100 1200 1300 1400 peso do s is tema de embalagem / Unidade f unc ional Figura 82 – Impacte normalizado para a categoria eutrofização de diferentes pesos de sistemas de embalagem. Eutr ofiz ação 0,014 Iogurtes 0,012 eutrof iz aç ão impac te ambiental normaliz ado na c ategoria 0,016 Congelados Manteigas 0,010 Margarinas 0,008 0,006 0,004 0,002 0,000 1000 1100 1200 1300 1400 peso do s is tema de embalagem / Unidade f unc ional A logística associada à distribuição do produto não se encontra tão bem caracterizada como as fases de produção de embalagens e de fim de vida das mesmas, uma vez que é bastante difícil caracterizar com rigor os diversos tipos de transportes e circuitos de distribuição existentes, devido em grande parte à complexidade dos circuitos. Devido Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 107 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal ao âmbito e objectivo deste estudo, que pretende avaliar um significativo número das embalagens de bens alimentares, caracterizou-se a logística em termos gerais. Num estudo mais exaustivo sobre determinada embalagem ou determinado tipo de embalagem, esta fase do ciclo de vida da embalagem deverá ser caracterizada mais pormenorizadamente. 3.7.4 Fase de fim de vida Normalmente, a opção de fim de vida reduz significativamente o impacte na categoria de energia. Apesar da origem da redução variar com o tipo de embalagem e sistema de embalagem, de um modo geral pode-se afirmar que a redução do impacte na categoria de energia, assim como em outras categorias, deve-se principalmente à reutilização da palete de madeira e também à reciclagem da embalagem secundária de cartão canelado (quando existe), e menos à valorização energética dos resíduos de embalagem. O contributo da reciclagem da embalagem primária é variável e depende não só da taxa de reciclagem, mas também do material considerado. Em muitos ciclos de vida, a redução do impacte ambiental a nível da categoria de energia, devido ao fim de vida das embalagens, não tem a correspondência directa na redução do impacte ambiental na categoria de efeito de estufa por várias razões. - parte da energia utilizada para a produção das embalagens tem origem hídrica, que não produz emissões atmosféricas, conforme ilustrado na Figura 83; Figura 83 – Impactes ambientais normalizados para a produção de 1 kWh de energia eléctrica. Impacte normalizado para a produção de 1 kWh de energia 7E-05 6E-05 5E-05 Carvão 4E-05 Petróleo Gás 3E-05 Hídrica Nuclear 2E-05 1E-05 0E+00 Estuf. - Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. quando a origem dos materiais de embalagem é o estrangeiro, há que ter em conta que o país de origem pode produzir energia eléctrica também através da cisão nuclear, que à semelhança da hidroelectricidade, não produz CO2 ou outros gases de efeito de estufa (ver Figura 83); Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 108 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal - a valorização energética dos plásticos, cartão/papel e madeira, apesar de produzir energia, origina também gases de efeito de estufa, nomeadamente CO2. Este facto é tanto ou mais importante para o ciclo de vida das embalagens, quanto menor a taxa de reciclagem das embalagens. Por exemplo, este facto é particularmente evidente no ciclo de vida das embalagens de óleos vegetais em PET e embalagens de margarinas em PP, porque a reciclagem destas embalagens é inexistente devido ao elevado teor de contaminação em gorduras das mesmas (Figura 84). Figura 84 – Impacte ambiental da valorização energética de 1 kg de plásticos presentes em média nos R.S.U. Impacte normalizado para a valorização energética de 1kg de resíduos de plásticos presentes nos R.S.U. 0,00015 0,0001 0,00005 0 -0,00005 -0,0001 -0,00015 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. 3.7.5 Análise dos contributos dos diferentes materiais para o impacte ambiental 3.7.5.1 Aço A embalagem de aço estudada foi a da lata em folha de flandres para azeite. Da análise desta lata podem-se tirar as seguintes conclusões. Os principais impactes são ao nível do smog de verão, energia e resíduos sólidos. Os impactes desta categoria são devido principalmente à produção da folha de flandres, mais concretamente à energia utilizada para a produção do ferro no alto forno. O processo de reciclagem da folha de flandres permite reduzir ligeiramente os impactes ambientais em quase todas as categorias, exceptuando na dos metais pesados, devido ao uso de energia eléctrica no processo de reciclagem. Apesar de não se produzir energia através da valorização energética das latas de aço, o aço que fica como resíduo nas escórias do fundo do forno pode ser reciclado, mesmo tendo em conta a sua pior qualidade. Devido a este facto e ao processo de valorização Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 109 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal energética também implicar emissões poluentes para a atmosfera, é preferível que o aço que tem como destino a reciclagem seja desviado deste circuito. 3.7.5.2 Madeira As embalagens de madeira estudadas foram as caixas de madeira para frutas e legumes. Na madeira, as categorias com maiores impactes são os resíduos sólidos e a energia. Na categoria dos resíduos sólidos os impactes advêm não só dos resíduos do processo de fabrico de caixas e paletes de madeira, mas também das embalagens de madeira que acabam por ter como destino o aterro. No caso da energia os impactes são resultantes do corte, serragem e secagem da madeira que é usada para produzir caixas e paletes de madeira. O efeito da redução da fixação de carbono pela atmosfera pelo abate de árvores não é tido em conta no método utilizado. Os impactes nas categorias pesticidas, camada de ozono e carcinogenia são praticamente inexistentes. A reciclagem da madeira para fazer aglomerados permite reduzir o impacte ambiental em praticamente todas as categorias, uma vez que a operação de reciclagem não consome muitos recursos e evita a utilização de madeira virgem. A valorização energética da madeira tem efeitos positivos pois permite a recuperação de energia, mas ao mesmo tempo aumenta as emissões de CO2 e NOx para a atmosfera, aumentando o impacte ambiental nas categorias efeito de estufa e acidificação, por exemplo. 3.7.5.3 Plásticos Devido à diversidade de plásticos usados como embalagens de bens alimentares não é possível tirar conclusões muito específicas, uma vez que os impactes variam consoante o tipo de plástico e em bastantes situações as embalagens são compostas por mais de um tipo de plástico. PP – Os principais impactes situam-se nas categorias de energia e smog de verão. Os impactes nas categorias camada de ozono e pesticidas são praticamente inexistentes e a de eutrofização tem pouco expressão. PS – As categorias mais relevantes são os metais pesados e a energia. Os impactes ao nível dos pesticidas e camada de ozono são praticamente inexistentes e a carcinogenia tem pouca expressão. PEAD – As principais categorias em termos de impacte são a energia e o smog de verão, enquanto que a de pesticidas, carcinogenia e camada de ozono são desprezáveis. PET - Os principais impactes situam-se nas categorias de smog de verão e acidificação. Os impactes nas categorias camada de ozono e pesticidas são desprezáveis. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 110 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal As embalagens de plásticos não são praticamente recicladas por várias razões: existem plásticos que não são reciclados (ex. caso de poliestireno); o tipo de produto embalado pode impedir a reciclagem (ex. óleos vegetais); a taxa de reciclagem de plásticos é bastante reduzida. Das principais embalagens de plástico estudadas as únicas que são recicladas são as de PEAD de iogurte líquido. Neste caso, a reciclagem apesar de ter efeitos positivos ao nível do impacte em energia e smog de verão, por exemplo, aumenta ligeiramente o impacte nas categorias efeito de estufa, acidificação e metais pesados, devido ao consumo de energia associado ao processo de reciclagem (ver Figura 85). Figura 85 – Impacte normalizado para a reciclagem de kg de PEAD. Impacte normalizado para a reciclagem de 1 kg de PEAD 3,00E-04 2,00E-04 1,00E-04 0,00E+00 -1,00E-04 -2,00E-04 -3,00E-04 -4,00E-04 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M.p. Carc. S.i. S.v. Pest. Ener. R.S. A valorização energética de plásticos apesar de ter efeitos benéficos em categorias como a energia e o smog de verão, devido à produção de energia, e consequentemente contribuir para reduzir a dependência dos combustíveis fosseis, provoca impactes em outras, como por exemplo, nas categorias de efeito de estufa e eutrofização. 3.7.5.4 Papel/Cartão Todas as embalagens primárias que contêm papel e cartão são compostas igualmente de outros materiais, o que torna difícil avaliar quais os tipos de impacte ambiental associados às embalagens deste material, uma vez que dependem muito da embalagem considerada. No caso do cartão para alimentos líquidos, que também é uma embalagem composta, o principal impacte situa-se na categoria de energia, sendo os restantes impactes bastante homogéneos, exceptuando nas categorias camada de ozono e pesticidas, sem expressão e eutrofização e smog de inverno, pouco relevantes. Devido ao tipo de produtos embalados, as embalagens primárias que contêm papel e cartão não são recicladas devido à sua contaminação e ao tipo de recolha de resíduos efectuada, exceptuando as embalagens de cartão para alimentos líquidos. Neste caso, Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 111 A Avaliação de Ciclo de Vida de embalagens de bens alimentares em Portugal a taxa de reciclagem ainda é reduzida. O processo existente actualmente permite reduzir muito ligeiramente o impacte associado a este tipo de embalagem, devido à reciclagem das fibras de celulose. Do mesmo modo que nos plásticos e madeira, a valorização energética do cartão e papel contribui para a redução do impacte ambiental em categorias como a energia e smog de verão, mas aumenta o impacte em outras, como nas categorias de efeito de estufa e eutrofização. 3.7.5.5 Vidro Para o vidro, as categorias em que existem maiores impactes ambientais são as de resíduos sólidos e de metais pesados. O impacte na categoria resíduos sólidos deve-se, principalmente, ao elevado peso das embalagens de vidro e à elevada percentagem de embalagens que acabam por ter como destino o aterro controlado. O impacte na categoria metais pesados está associado a emissões do processo de fabrico de vidro. Os impactes a nível da camada de ozono e pesticidas são desprezáveis. A reciclagem de vidro permite, por um lado reduzir o impacte ambiental das categorias energia, metais pesados e smog de inverno, mas também das categorias efeito de estufa e acidificação, devido a incorporação de casco no processo de fabrico do vidro permitir uma redução do consumo de energia e de emissões poluentes de CO2, SOx e NOx. A valorização energética de vidro apenas contribui para o aumento do impacte ambiental, uma vez que se trata de um material inerte que tem como destino final o aterro controlado (juntamente com outras escórias e cinzas). 3.7.6 Observações finais Apesar das componentes de embalagem mais comuns, que não a embalagem primária, terem geralmente impactes bastante menores que esta última, os principais impactes por tipo de componente são os seguintes: rótulo de papel: energia, efeito de estufa e acidificação. caixa de cartão: energia, resíduos sólidos e efeito de estufa. filme de PEBD: energia e smog de verão. palete de madeira: energia e resíduos sólidos. Em termos gerais, apesar de o tipo de impactes variar consoante o tipo de embalagem, pode-se afirmar que as categorias mais relevantes na maior parte das embalagens de bens alimentares estudadas são a energia e o smog de verão. No extremo oposto estão as categorias de impacte ambiental pesticidas e camada de ozono, que não têm nenhuma expressão ao nível de embalagens. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 112 Conclusões finais 4 Contributos para a definição de políticas orientadas para a redução do impacte ambiental das embalagens de bens alimentares 4.1 Cenários de eco-eficiência e comparação dos resultados obtidos com outros estudos Realizou-se a análise de cenários de eco-eficiência para 6 tipos de produtos e 8 tipos de embalagem primária e que se enumeram de seguida: • Produtos: leite, iogurte, óleos vegetais, azeite, margarinas e frutas e legumes frescos. • Tipos de embalagem: cartão para alimentos líquidos, PEAD, PS, PET, vidro, lata de folha de flandres, PP, madeira. Dos cenários avaliados, alguns foram estabelecidos com as diversas fileiras de materiais, como por exemplo o cenário que considera a reciclagem química para o PET e o cenário em que se considera a utilização das garrafas de vidro de azeite mais leves existentes no mercado Português. Não se avaliaram cenários para as embalagens de manteiga, frutas e legumes industriais, bolachas e produtos congelados, uma vez que, em alguns casos, o material de embalagem destes produtos já tinha sido analisado (manteiga e frutas e legumes industriais) ou as embalagens primárias eram multi-material, bastante diferentes entre si, não recicladas (bolachas e produtos congelados). Devido aos principais impactes ambientais do ciclo de vida das embalagens de bens alimentares se deverem à embalagem primária, optou-se por avaliar cenários que diferem da situação de referência ao nível da produção da embalagem primária e taxa de reciclagem destas. Em grande parte dos casos, considerou-se que uma redução da quantidade de embalagem em 10% é um avanço tecnológico possível no curto, médio prazo. Este cenário é perfeitamente possível para a maior parte dos materiais, tendo por base a evolução ocorrida num passado recente com algumas embalagens de bens alimentares (Plastval, 2000) e pelas perspectivas de evolução tecnológica futura. Por exemplo, no vidro, Hekkert et al. (1997) referem que uma redução de 15% no peso das embalagens primárias deste material é expectável até 2010. Outro cenário que se estudou foi um aumento da taxa de reciclagem, de modo a se avaliarem os efeitos do aumento das taxas de reciclagem a nível nacional, mas usando a mesma tecnologia de produção das embalagens. A decisão de não se actuar ao nível da distribuição deveu-se a ter-se verificado que a distribuição na quase totalidade dos casos não é o factor relevante no ciclo de vida. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 113 Conclusões finais 4.1.1 Produtos lácteos 4.1.1.1 Embalagem de cartão para alimentos líquidos para leite Foram estudados 3 cenários, que se descrevem a seguir, de modo a se avaliarem as suas consequências ambientais, e cujo os resultados estão patentes na Figura 86 e Figura 87: Cenário 1 – Semelhante à situação de referência, mas com uma taxa de reciclagem de 25% e considerando que a reciclagem inclui o aproveitamento do cartão, a queima do polietileno para a produção de calor e a reciclagem do alumínio, como actualmente existente no mercado. Cenário 2 – Semelhante ao cenário 1, mas supondo que a taxa de reciclagem das embalagens de cartão para alimentos líquidos é de 75%. Cenário 3 – Semelhante à situação de referência e supondo que a evolução tecnológica permite uma redução do peso da embalagem de cartão para alimentos líquidos de 10%. Figura 86 – Impacte ambiental desagregado para a embalagem de leite de C.A.L. na situação de referência e cenários 1, 2 e 3. Produção Embalamento Distribuição Destino final 0,02 0,015 0,01 0,005 0 R C1 C2 C3 -0,005 -0,01 R - Situção de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 C3 - Cenário 3 -0,015 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal R.S. 114 Conclusões finais impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 87 – Impacte ambiental agregado para a embalagem de leite de C.A.L. na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3. Situação de referência Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 0,014 0,012 0,01 0,008 0,006 0,004 0,002 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Da análise dos gráficos apresentados em cima pode-se verificar que o aumento da taxa de reciclagem, acompanhado pela melhoria do processo de reciclagem em Portugal (aproveitamento das fibras de celulose do cartão, utilização do polietileno para produção de calor e recuperação do alumínio oxidado) contribui bastante para a redução do consumo de energia, do impacte na categoria carcinogenia e da produção de resíduos sólidos ao longo do ciclo de vida da embalagem de leite. Em relação à situação actual verifica-se que, mesmo utilizando os processos disponíveis actualmente, uma taxa de reciclagem mais elevada (25%) permitiria reduzir o consumo global de energia e a produção de resíduos sólidos em 15%, o impacte na categoria carcinogenia em 25% e ligeiras reduções nas restantes categorias. De resto, pode-se verificar que a redução do peso da embalagem primária também permite reduzir o impacte ambiental de todas as categorias, como seria de esperar, e que essa redução na maior parte das categorias é da mesma ordem de grandeza da redução do peso de embalagem. O aumento da taxa de reciclagem e uma eficaz reciclagem das embalagens de cartão para alimentos líquidos é importante para a redução do impacte ambiental do ciclo de vida destas embalagens. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 115 Conclusões finais 4.1.1.2 Embalagem de PEAD para iogurte líquido Avaliaram-se 3 cenários diferentes para as embalagens de PEAD de iogurte líquido. Em duas delas, consideram-se taxas de reciclagem bastante superiores às existentes actualmente e que serão dificilmente atingidas num futuro próximo, (respectivamente 25% e 75%), no entanto, consideraram-se estes dois cenários de modo a avaliar-se o efeito da reciclagem nas diversas categorias de impacte ambiental. Cenário 1 – Semelhante à situação de referência, mas pressupõe uma taxa de reciclagem de 25%. Cenário 2 – Supõe uma taxa de reciclagem de 75%. Cenário 3 – Supõe que o desenvolvimento tecnológico permite uma redução do peso da embalagem primária de PEAD de 10%. Os impactes ambientais associados à situação de referência e aos cenários considerados, são apresentados de seguida, na Figura 88 e na Figura 89. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 88 – Impacte ambiental desagregado para a embalagem de PEAD de iogurte líquido na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3. Produção Distribuição Destino final 0,150 0,100 0,050 0,000 R C1 C2 C3 -0,050 -0,100 R - Situação de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 C3 - Cenário 3 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal R.S. 116 Conclusões finais impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 89 – Impacte ambiental agregado para a embalagem de PEAD de iogurte líquido na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3. 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Da Figura 88 e Figura 89 podemos constatar que a reciclagem das garrafas de iogurte líquido de PEAD contribui para a redução do impacte ambiental de algumas categorias, como o consumo de energia, produção de resíduos sólidos e smog de verão, mas, em contrapartida, devido ao processo de reciclagem mecânica do plástico, existe um aumento do impacte ambiental em outras categorias, especialmente na categoria de metais pesados, onde este aumento é significativo em relação à situação de referência. O consumo global de energia ao longo do ciclo de vida é inferior devido ao facto de, ao reciclarmos as garrafas de iogurte líquido de PEAD, estarmos a evitar que seja necessário produzir mais polímeros a partir de material virgem, ou seja estamos a evitar fundamentalmente o consumo de petróleo utilizado para a produção dos polímeros de PEAD. No balanço final, a redução do consumo de energia da fase de produção de material reciclado, pela redução do consumo de petróleo para a produção dos polímeros de PEAD é superior ao gasto de energia na operação de reciclagem. Esta redução do consumo de energia não tem como correspondência directa um abaixamento das emissões de efeito de estufa porque, tal como está feita a modelação, o conteúdo energético do petróleo que serve como matéria prima para dar origem ao granulado de PEAD não tem associado emissões atmosféricas, uma vez que não sofre combustão. No cômputo global, a redução das emissões devido a evitarmos a produção de granulado de PEAD virgem é inferior às emissões associadas ao próprio processo de reciclagem do plástico, o que faz com que ao aumentarmos a taxa de reciclagem das garrafas de PEAD, aumentamos também ligeiramente o impacte ambiental na categoria efeito de estufa. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 117 Conclusões finais Por outro lado, na categoria de metais pesados, o aumento da taxa de reciclagem provoca um aumento do impacte ambiental nesta categoria. Isto deve-se ao facto de, ao aumentarmos a reciclagem das garrafas de PEAD, aumentarmos igualmente o consumo de energia eléctrica inerente a esta operação, e portanto aumentarmos o impacte ambiental na categoria de metais pesados (cuja origem se deve sobretudo à produção de energia eléctrica a partir do carvão). Este aumento na fase de reciclagem não é compensado por uma redução existente na fase de produção, dado que o impacte ambiental deve-se sobretudo ao processo de produção da garrafa. Verifica-se portanto que de modo a reduzir-se o impacte ambiental das garrafas de PEAD é necessário apostar no aumento da taxa de reciclagem e ao mesmo tempo promover medidas com outro cariz, como por exemplo, novas formas de reciclagem e redução do peso da embalagem, de modo a reduzirem-se igualmente os impactes ambientais em outras categorias, nomeadamente nos metais pesados. Para concluir, pode-se afirmar que o aumento das taxas de reciclagem das garrafas de PEAD não é uma medida tão eficaz em termos de redução relativa do impacte ambiental, como o é para outros materiais, como o vidro. 4.1.1.3 Embalagem de PS para iogurte Analisaram-se 2 cenários para as embalagens de PS. Um em que se considera a reciclagem dos copos de PS e outro em que se considera uma redução do peso da embalagem. Na realidade, actualmente as embalagens de PS de iogurtes não são recicladas. No entanto, a reciclagem destas é possível desde que o produto reciclado seja utilizado em aplicações cujas especificações comportem a utilização deste reciclado de má qualidade, como, em tubos de plástico para transporte de água, em que este tipo pode ser utilizado como enchimento entre duas camadas de plástico virgem que são respectivamente a camada interior e exterior. Os resultados dos cenários considerados estão patentes na Figura 90 e Figura 91. Cenário 1 – Idêntico à situação de referência mas supõe uma taxa de reciclagem de 25% para o PS, num processo que comporta a reciclagem de plásticos mistos. Cenário 2 – Idêntico à situação de referência, mas supõe que a evolução tecnológica permite uma redução da embalagem primária em 10%. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 118 Conclusões finais Figura 90 – Impacte ambiental desagregado para os copos de iogurte de PS na situação de referência e cenários 1 e 2. Produção Distribuição Destino final 0,150 0,100 0,050 0,000 -0,050 R C1 C2 -0,100 R - Situção de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 -0,150 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 91 – Impacte ambiental agregado para os copos de iogurte de PS na situação de referência e cenários 1 e 2. Situação de referência Cenário 1 Cenário 2 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Da análise das figuras anteriores podemos verificar que a existência de reciclagem diminui o impacte ambiental dos copos de PS, em todas as categorias de impacte ambiental, à excepção da carcinogenia, cujo impacte não é, no entanto, relevante no ciclo de vida das embalagens. A existência de reciclagem mecânica para estas embalagens permitiria, por exemplo, e considerando uma taxa de reciclagem de 25%, reduzir o impacte ambiental na categoria metais pesados em cerca de 10%. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 119 Conclusões finais 4.1.2 Gorduras alimentares 4.1.2.1 Embalagem de PET para óleos vegetais Avaliaram-se 3 cenários distintos para as garrafas de PET de óleos vegetais. Nos primeiros 2 cenários, avaliam-se os impactes associados à existência de um taxa de reciclagem de 25%, em que no primeiro cenário, a reciclagem é mecânica e no segundo cenário, a reciclagem é realizada através de processo químico, com base num processo que actualmente se encontra em investigação e desenvolvimento, e que vem a ser estudado e desenvolvido pelo ITN – Instituto de Tecnologia Nuclear e pela CIR – Companhia Industrial de Reciclagem e que é financiado pela SPV. Este processo é basicamente um processo de catálise do PET, em que existe libertação de CO2, H2 e CO, em que estas duas últimas substâncias são utilizadas na produção de metanol para ser utilizado como produto químico. Este processo tem como principais inputs por kg de PET, 1,1 kg de O2 e 0,16 kg de H2O e como outputs por kg de PET processado, 1 kg de O2, 0,1 kg de H2 e 1,61 kg de metanol e a reacção é exotérmica autosustentada. Cenário 1 – Supõe uma taxa de reciclagem de 25%, em que a reciclagem do PET é exclusivamente mecânica. Pelo mesmo facto das embalagens de PP de margarina, devido ao teor de gordura associado à embalagem, as garrafas de PET de óleos vegetais não são actualmente recicladas. No entanto, desde que existam aplicações para este reciclado específico, que se encontra contaminado com gordura, este tipo de embalagens pode ser reciclada mecanicamente. Cenário 2 – Avalia os impactes associados a uma taxa de reciclagem de 25%, mas em que a reciclagem é inteiramente química. Cenário 3 – Idêntico à situação de referência, mas supõe que a evolução tecnológica permite uma redução da embalagem primária em 10%. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 120 Conclusões finais impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 92 – Impacte ambiental desagregado para a embalagem de PET de óleos vegetais na situação de referência e cenários 1 e 2. Produção Embalamento Distribuição Destino final 0,04 0,03 0,02 0,01 0 -0,01 -0,02 R C1 C2 C3 R - Situç ão de referênc ia C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 C3 - Cenário 3 -0,03 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 93 – Impacte ambiental agregado para a embalagem de PET de óleos vegetais na situação de referência e cenários 1 e 2. Situação de referência Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 0,04 0,035 0,03 0,025 0,02 0,015 0,01 0,005 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Comparando os diferentes cenários presentes na Figura 92 e Figura 93 verifica-se que a reciclagem mecânica das garrafas de PET de óleos vegetais (que é possível desde que existam aplicações para este granulado contaminado e com gordura) permite reduzir o impacte ambiental em quase todas as categorias, à excepção dos metais pesados, nomeadamente nos resíduos sólidos, smog de verão e de inverno e energia. A razão devido à qual o impacte ambiental na categoria metais pesados aumenta com a reciclagem mecânica é idêntica à das garrafas de PEAD de iogurte líquido. A Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 121 Conclusões finais reciclagem química permite uma redução assinalável do impacte ambiental em todas as categorias de impacte, embora estes resultados tenham que ser analisados com cautela devido ao facto de este processo ainda se encontrar em fase de I&D em escala piloto. No entanto, segundo os resultados obtidos, em termos ambientais a reciclagem química é superior à reciclagem mecânica em todas as categorias, excepto na categoria de smog de verão. A redução do peso da embalagem primária permitirá reduzir o impacte ambiental das embalagens de PET de óleos vegetais. No entanto, esta redução terá que ser acompanhada por medidas que permitam reduzir o impacte igualmente na fase de fim de vida destas embalagens. Para este efeito a reciclagem é uma medida que se deve fomentar, especialmente através de processos mais limpos, como o processo químico descrito. 4.1.2.2 Embalagem de vidro para azeite Consideraram-se 2 cenários para as garrafas de vidro de azeite e que se discriminam de seguida e cujos resultados se encontram patentes na Figura 94 e Figura 95. Cenário 1 – Supõe que a taxa de reciclagem do vidro é de 75%. Esta taxa de reciclagem, embora seja superior à existente actualmente no nosso país, é semelhante às existentes em vários países europeus, nomeadamente na Holanda, Áustria, Alemanha e Finlândia. Cenário 2 – Pressupõe que as garrafas de azeite são idênticas às mais leves actualmente disponíveis no mercado português, ou seja, as garrafas de 0,75 L e de 1 L pesam respectivamente 340 g e 380 g (Fonte: B&A). Figura 94 – Impacte ambiental desagregado para as embalagens de vidro de azeite na situação de referência e cenários 1, 2. Produção Embalamento Distribuição Destino final 0,120 0,100 0,080 R - Situção de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 0,060 0,040 0,020 0,000 -0,020 -0,040 R C1 C2 -0,060 -0,080 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal R.S. 122 Conclusões finais impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 95 – Impacte ambiental agregado para as embalagens de vidro de azeite na situação de referência e cenários 1, 2. Situação de referência Cenário 1 Cenário 2 0,120 0,100 0,080 0,060 0,040 0,020 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Da análise dos gráficos apresentados anteriormente, pode-se constatar que o facto mais significativo é a redução substancial do impacte ambiental em todas as categorias pelo facto de se aumentar a taxa de reciclagem do vidro para 75%. Por exemplo, na categoria energia, a redução é de cerca de 40%, enquanto que a produção de resíduos sólidos é reduzida significativamente, cerca de 45%, devido ao facto de, por se reciclar a garrafa, se evitar a deposição em aterro do vidro. Outras reduções importantes do impacte ambiental ocorrem nas categorias smog de inverno, efeito de estufa e metais pesados. Outro facto relevante que se pode retirar da análise realizada é que com a tecnologia disponível actualmente é perfeitamente possível reduzir o impacte ambiental em todas as categorias, utilizando as garrafas mais leves que são produzidas em Portugal. O obstáculo à utilização destas garrafas prende-se com questões de marketing, uma vez que os embaladores querem diferenciar o seu produto também pela embalagem apresentada e como tal, por exemplo, em azeites de qualidade superior (menor grau de acidez e normalmente embalado em garrafas de 0,75L) impõem especificações para as garrafas que as faz tornarem-se mais pesadas. O aumento da taxa de reciclagem de vidro contribui significativamente para a redução do impacte ambiental deste material de embalagem. 4.1.2.3 Embalagem de Lata para azeite Foram estudados 2 cenários distintos da situação de referência, um em que a taxa de reciclagem é superior à actual e outro que supõe uma redução do peso da lata de azeite. Os impactes ambientais destes cenários são apresentados na Figura 96 e Figura 97. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 123 Conclusões finais Cenário 1 – Pressupõe uma taxa de reciclagem efectiva de 75% (isto é, proveniente da recolha selectiva e das escórias das ITVE). Cenário 2 – Pressupõe que a evolução tecnológica permitirá uma redução do peso da embalagem primária em 10%. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 96 – Impacte ambiental desagregado para as latas de folha de flandres de azeite na situação de referência e cenários 1 e 2. Produção Embalamento Distribuição Destino final 0,12 0,1 0,08 0,06 0,04 0,02 0 -0,02 -0,04 -0,06 R C1 C2 R - Situção de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 -0,08 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 97 – Impacte ambiental agregado para as latas de folha de flandres de azeite na situação de referência e cenários 1 e 2. Situação de referência 0,07 Cenário 1 Cenário 2 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal R.S. 124 Conclusões finais Verifica-se pela análise dos cenários estudados que o aumento da taxa de reciclagem das embalagens de folha de flandres contribui significativamente para a redução do impacte ambiental nas categorias energia, resíduos sólidos e smog de verão, que dado a situação actual são as categorias que apresentam maiores impactes. Nas restantes categorias, como por exemplo no efeito de estufa, acidificação e metais pesados, a redução é menor. A redução do impacte ambiental devido à utilização de embalagens mais leves permite reduzir o impacte ambiental em todas as categorias. No entanto, comparando uma redução de 10% no peso da embalagem, com o aumento da taxa de reciclagem para 75%, verifica-se que apenas nas categorias efeito de estufa e acidificação, a redução obtida pela redução do peso é superior à obtida pelo aumento da taxa de reciclagem. O aumento da taxa de reciclagem permite reduzir o impacte ambiental das embalagens de azeite em folhas de flandres, especialmente nas categorias energia, resíduos sólidos e smog de verão. 4.1.2.4 Embalagem de PP para margarinas Estudaram-se 3 cenários para as embalagens de margarina em polipropileno e que se apresentam de seguida. Cenário 1 – Baseado na situação de referência mas pressupõe que a tampa em PVC é substituída por uma tampa em PP com um peso de 2,0 g para a embalagem de 250 g de p.l. e de 2,9 g para a embalagem de 500 g de p.l. Cenário 2 – Idêntico à situação de referência mas supõe uma taxa de reciclagem de 25% para o PP. Devido ao teor de gordura e à semelhança das embalagens de PET de óleos vegetais, as embalagens de margarina em PP não são recicladas. No entanto a reciclagem mecânica destas é possível, desde que as aplicações do reciclado o permitam. Por exemplo, este tipo de reciclado pode ser utilizado como material de enchimento para tubos de transporte de água, em que é colocado entre duas camadas de plástico virgem. Cenário 3 – Idêntico à situação de referência, mas supõe que a evolução tecnológica permite uma redução da embalagem primária em 10%. Os impactes ambientais associados aos cenários descritos, encontram-se presentes na Figura 98 e Figura 99 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 125 Conclusões finais impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 98 – Impacte ambiental desagregado para as embalagens PP de margarina na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3. Produção Distribuição Destino final 0,080 0,060 R - Situação de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 C3 - Cenário 3 0,040 0,020 0,000 R C1 C2 C3 -0,020 -0,040 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. impacte ambiental 1000 kg / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 99 – Impacte ambiental agregado para as embalagens de PP de margarina na situação de referência e cenários 1 e 2 e 3. 0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. Da análise das figuras anteriores verifica-se que a substituição do material utilizado nas tampas das embalagens de margarina para polipropileno, permite reduzir ligeiramente o impacte ambiental em praticamente todas as categorias de impacte, excepto nas categorias metais pesados e smog de inverno. Nos metais pesados a Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 126 Conclusões finais substituição do PVC por PP permite uma redução significativa do impacte ambiental, enquanto que na categoria smog de inverno provoca um ligeiro aumento. Em relação ao aumento da taxa de reciclagem, verifica-se que o processo de reciclagem provoca um aumento dos metais pesados, enquanto permite reduzir o impacte ambiental em categorias como energia, o smog de verão e smog de inverno. A redução do peso da embalagem permite reduzir ligeiramente o impacte ambiental em todas as categorias de impacte. 4.1.3 Frutas e Legumes 4.1.3.1 Embalagens de madeira para frutas e legumes frescos Consideram-se 2 cenários diferentes para as embalagens de madeira de frutas e legumes frescos estudadas, em que se avalia o efeito do aumento da taxa de reciclagem das embalagens primárias e da taxa de reutilização das embalagens terciárias. Os impactes ambientais dos cenários considerados apresentam-se nas Figura 100 e Figura 101. Cenário 1 – Pressupõe uma taxa de reciclagem de 75% para as embalagens primárias de madeira. Cenário 2 – Pressupõe que a taxa de reutilização das paletes de madeira que servem de embalagem terciária é de 95%, bastante superior aos 15% de reutilização existente na situação de referência. impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 100 – Impacte ambiental desagregado para as embalagens de madeira de frutas e legumes frescos na situação de referência e cenários 1 e 2. Produção Distribuição Destino final 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000 -0,005 -0,010 -0,015 R C1 C2 R - Situção de referência C1 - Cenário 1 C2 - Cenário 2 -0,020 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal R.S. 127 Conclusões finais impacte ambiental 1000 Lts / impacte ambiental anual do cidadão médio europeu Figura 101 – Impacte ambiental agregado para as embalagens de madeira de frutas e legumes frescos na situação de referência e cenários 1 e 2. Situação de referência 0,018 Cenário 1 Cenário 2 0,016 0,014 0,012 0,010 0,008 0,006 0,004 0,002 0,000 Estuf. Ozon. Acid. Eutr. M. p. Carc. S. i. S. v. Pest. Ener. R.S. A análise das Figura 100 e Figura 101 permite verificar que o aumento da taxa de reciclagem das caixas de madeira one-way permite a redução dos impactes ambientais em todas as categorias, mas sobretudo nas categorias energia e resíduos sólidos. Por outro lado, demonstra-se que a introdução de paletes de madeira reutilizáveis, que servem como embalagem terciária, é vantajosa ambientalmente em relação ao uso de paletes de madeira não reutilizáveis e com reduzida taxa de reutilização, especialmente devido à redução do consumo global de energia e de produção de resíduos sólidos. 4.1.4 Comparação entre os diversos materiais de embalagem Com base nos cenários de eco-eficiência desenvolvidos pode-se comparar o efeito nos diferentes materiais de embalagem do aumento da taxa de reciclagem e da redução do peso da embalagem primária. Por exemplo, da análise da Figura 102 pode-se verificar que o efeito do aumento da taxa de reciclagem na redução do consumo de energia é maior nas embalagens de lata e vidro para azeite, enquanto que o esforço do aumento da taxa de reciclagem das embalagens de PEAD para iogurtes e de cartão para alimentos líquidos para leite, pouco contribuí para a redução do consumo de energia ao longo do ciclo de vida destas embalagens. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 128 Conclusões finais Figura 102 – Aumento da taxa de reciclagem vs. redução do consumo de energia. % de diminuição do consumo de energia 50% CAL leites 45% Pead 40% Vidro 35% Lata 30% Madeira 25% 20% 15% 10% 5% 0% 0% 200% 400% 600% % de aumento da taxa de reciclagem 800% 1000% Por outro lado, na Figura 103 pode-se verificar que o efeito da redução do peso da embalagem primária na redução do consumo de energia é mais eficaz na embalagem de cartão para alimentos líquidos e na lata de azeite, e menos eficaz no caso da embalagem de PS de iogurte, embora as diferenças existentes entre os diversos materiais sejam bem menos significativas que no caso do aumento da taxa de reciclagem. Figura 103 – Redução do peso da embalagem primária vs. redução do consumo de energia. % de diminuição do consumo de energia 10,0% CAL leites Pead 5,0% PS PET Vidro Lata PP 0,0% 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% % da redução do peso de embalagem 14% 16% 4.1.5 Comparação dos resultados obtidos com outros estudos Existem poucos estudos referentes exclusivamente a ACV de embalagens de bens alimentares. Na sua maior parte, as ACV existentes dizem respeito a embalagens de bebidas e centram-se muito nos materiais vidro e PET e na questão se ambientalmente é mais favorável ou não utilizar embalagens reutilizáveis. Sendo assim é difícil comparar directamente os resultados obtidos com estudos realizados em outros países. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 129 Conclusões finais Um estudo abrangente que focou diversos tipos de embalagem, mas que incidiu mais concretamente nas embalagens de bebidas e na avaliação ambiental dos destinos finais de embalagem foi o estudo da RDC (1997) que conclui que, em termos gerais, é preferível de um ponto de vista ambiental a reciclagem de materiais em detrimento da valorização energética para todos os materiais de embalagem e mais concretamente: - a reciclagem de vidro deve ser maximizada; - a de metais também, embora os resíduos possam ter origem nas escórias das centrais de valorização energética; - a reciclagem de papel é preferível desde que os resíduos de embalagem apresentem uma boa qualidade; - a reciclagem de plásticos é preferível desde que os resíduos de embalagem sejam de boa qualidade. O estudo da RDC conclui ainda que: - as embalagens secundárias de PEAD reutilizáveis são preferíveis às de cartão canelado one-way, embora condicionada por condições específicas; - as paletes de madeira reutilizáveis são preferíveis às paletes de madeira one-way; - o PET reutilizável apresenta menores impactes que os restantes materiais para embalagens de bebidas de grande volume (1L – 1,5L), embora as diferenças não sejam muito elevadas e o vidro reutilizável e o cartão para alimentos líquidos sejam também opções aceitáveis; - o cartão para alimentos líquidos é preferível para embalagens de bebidas de baixo volume (0,2L – 0,25L) e o vidro reutilizável e PET one-way em embalagens de bebidas de maior volume (1,5 L). Um outro estudo realizado igualmente pela RDC, mas em colaboração com a PIRA (RDC – Pira, 2001) refere que as embalagens de vidro one-way têm uma grande desvantagem que é o impacte da produção de vidro, mesmo nos casos em que a taxa de reciclagem é alta. Nos casos em que as embalagens de vidro são reutilizáveis (exemplo: bebidas), o peso da embalagem de vidro provoca que o transporte associado à reutilização das embalagens seja responsável por uma parte significativa do impacte ambiental do ciclo de vida das embalagens. Para além deste facto, fazendo a analogia com as embalagens de bebidas, o mesmo estudo conclui que as embalagens de vidro são ambientalmente mais desfavoráveis que as embalagens de PET. A ACV realizada permite corroborar as conclusões dos estudos descritas em cima, dado que, embora não comparando directamente a reciclagem com a valorização energética e os diversos materiais, pode-se observar o seguinte: - a reciclagem do vidro tem um grande potencial de redução do impacte ambiental nas embalagens de vidro consideradas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 130 Conclusões finais - a reciclagem do aço permite igualmente reduzir o impacte ambiental, especialmente nas categorias energia, smog de verão e resíduos sólidos - A reciclagem das embalagens de plástico permite reduzir em termos gerais o impacte ambiental associado ao seu ciclo de vida. - A reciclagem das embalagens de cartão para alimentos líquidos reduz o impacte ambiental destas embalagens, sobretudo devido ao aproveitamento das fibras de celulose do cartão. - A utilização de paletes de madeira reutilizáveis é ambientalmente favorável quando comparada com paletes one-way. O peso da embalagem é um dos factores que é apontado na literatura que está relacionado com o impacte ambiental das embalagens. Keoleian e Spitley (1999) concluem no seu estudo sobre as embalagens de leite no Estados Unidos que existe uma grande correlação entre a redução da embalagem e o consumo de energia no seu ciclo de vida. O estudo da ULS (1995) afirma mesmo que o uso de papel, folhas metálicas e plásticos é preferível ambientalmente a uso de materiais mais pesados e que a redução do peso das embalagens é uma excelente estratégia para reduzir o desperdício de materiais, independentemente do material utilizado, e a redução da embalagem oferece maiores benefícios do que a reciclagem em si. Devido à diferença existente entre os diversos tipos de materiais e embalagens, a partir dos resultados obtidos não se pode afirmar que é ambientalmente preferível o uso de materiais mais leves, no entanto o peso do material de embalagem primária é um dos factores relevantes para o impacte ambiental de um sistema de embalagem. Sendo assim, uma redução do peso da embalagem é importante para a redução do impacte ambiental. Tecnologicamente tem sido possível nos últimos anos reduzir os pesos das embalagens dos principais materiais. Por exemplo, dados da APME referem que, em 10 anos, as embalagens de cartão para alimentos líquidos tiveram uma redução de peso de 25%, as embalagens de PP de margarinas 27% e garrafas de bebidas 19% (Plastval, 2001). A redução de peso da embalagem deve ser de forma a manter os critérios de qualidade do produto e não subdimensionar a embalagem de modo a não ocorrer um aumento do impacte ambiental devido a um aumento do desperdício do produto embalado. Por exemplo, a nível do consumo de energia, a Packforsk chegou à conclusão que uma embalagem subdimensionada em 5% causava mais impacte que a mesma embalagem mas sobredimensionada em 5% (Plastval 2001). Uma política de redução do impacte ambiental associado às embalagens não se pode esgotar só em medidas que visem a redução de material, mas deve promover esquemas de recolha eficiente e eficaz dos resíduos desde que sejam economicamente viáveis. Como prova deste facto pode-se citar um estudo sobre embalagens de bebidas alemãs (German Federal Environment Ministry, 2000), que refere que em termos ambientais as embalagens reutilizáveis são preferíveis às restantes e que as embalagens de cartão para alimentos líquidos apresentam um bom comportamento Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 131 Conclusões finais quando comparadas com outras e que se deve bastante ao melhoramento da reciclagem destas. A reciclagem das embalagens é uma medida que em termos gerais é apontada na literatura como fundamental para a redução do impacte ambiental das embalagens. A maior vantagem da reciclagem situa-se ao nível das economias realizadas por substituir os materiais virgens por material reciclado (Grant et al. 1999). Este estudo chega ainda à conclusão que a energia recuperada pela reciclagem dos materiais é significativa no PET, vidro e aço. Os resultados obtidos permitem verificar que, na maior parte dos casos, o aumento da taxa de reciclagem permite reduzir o impacte ambiental causado pela energia consumida no ciclo de vida de uma embalagem. Em alguns materiais a redução devido à reciclagem é maior, como por exemplo no vidro e noutros casos, como por exemplo no PEAD, a redução é menor. Apesar de alguns dos resultados obtidos não serem directamente comparáveis com estudos existentes devido a algumas embalagens e metodologias serem diferentes, verifica-se que de uma maneira geral os resultados do estudo estão de acordo com resultados e conclusões de estudos realizados em outros países. 4.2 Eco – design e design for recycling A ACV é uma ferramenta que apoia a concepção e inovação das embalagens e processos de embalamento. Mais concretamente, uma das vertentes em que a ACV pode ser bastante útil para a indústria de embalagem é na fase de concepção da embalagem em que, aplicando o conceito de design for environment (DfE), ou ecodesign, os impactes ambientais da embalagem ao longo de todo o seu ciclo de vida são tomados em conta (EIA, 2000). O DfE pode-se desagregar em múltiplas dimensões mais específicas, mas que estão relacionadas entre si. Para além do design for recycling (Projectar para reciclagem), em que a preocupação se centra em facilitar e potenciar o processo de reciclagem, podem-se enumerar outras práticas como o design for waste minimization, design for energy conservation, design for chronic risk reduction e o design for accident prevention (Fiksel, 1996). O DfE é um factor de inovação de produto devido a fornecer novos critérios de avaliação do design através de escolha de materiais, técnicas de produção de embalamento e também estimular parcerias com fornecedores, distribuidores e recicladores, abrir novas áreas de negócios e melhorar a qualidade e imagem do produto (NRC, 2000). Espera-se que o estudo realizado seja um factor de inovação e um contributo para a indústria de embalagem, os embaladores e os distribuidores incorporarem as preocupações ambientais nos seus produtos. Apesar de os interesses ambientais serem muitas vezes contraditórios com os interesses económicos, deixam-se de seguida algumas ideias em termos de eco-design e design for recycling de modo a se reduzirem as consequências ambientais das embalagens: Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 132 Conclusões finais - redução do peso da embalagem, mas permitindo ao mesmo tempo manter os critérios de qualidade e protecção do produto existentes; - redução da diversidade de materiais e do número de partes utilizados numa determinada embalagem de modo a facilitar a sua separação e reciclagem, e de preferência, sempre que possível utilizar apenas um material; - no caso de as embalagens serem multi-materiais a concepção destas deve permitir uma fácil e rápida separação das componentes; - facilitar a identificação dos materiais utilizados nas embalagens de modo a facilitar a operação de triagem para posterior reciclagem; - eliminação da quantidade de embalagem primária desnecessária (ex. cartão utilizado para embalar tubos de colas que apenas serve para efeitos de marketing, que poderia ser feito no próprio tubo); - redução das embalagens secundárias e terciárias pela eliminação do espaço supérfluo existente e de quantidade de material supérfluo (ex: muitas vezes os plásticos retrácteis utilizados no agrupamento de embalagens secundárias estão sobredimensionados e podem ser usados retrácteis menos espessos); - utilização de materiais que sejam compatíveis entre si ou facilitem o processo de reciclagem (ex. no caso dos plásticos, garrafas de PET e tampas de poliolefinas com densidades inferiores a 1g/cm3 (Plastval, 2001)); - utilização de colas e rótulos que sejam compatíveis com a reciclagem, nomeadamente nos plásticos e que causem reduzidos impactes ambientais aquando da sua valorização energética ou deposição em aterro (ex. colas solúveis em água); - aumentar o tempo de vida das embalagens reutilizáveis; - utilização de materiais naturais e renováveis em embalagens, como por exemplo fibras naturais ou plásticos biodegradáveis; - incorporação de material reciclado sempre que as condições de higiene e segurança o assim permitam, especialmente de material reciclado do mesmo produto (closed-loop recycling). 4.3 Perspectivas de evolução tecnológica das embalagens Aliado a melhores praticas de concepção de embalagens, espera-se que os desenvolvimentos tecnológicos que se advinham possam reduzir o impacte ambiental das embalagens de bens alimentares. De seguida apresentam-se alguns exemplos de desenvolvimentos tecnológicos que poderão ocorrer futuramente e que ainda se encontram em fase de investigação e desenvolvimento. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 133 Conclusões finais Embalagens para óleos vegetais - Utilização de garrafas de PET reutilizáveis para óleos vegetais, à semelhança do que acontece para garrafas de bebidas na Holanda e Alemanha. Desde que se consiga uma lavagem eficaz e eficiente, este tipo de garrafas pode ser utilizado para embalar estes óleos. Uma garrafa de PET reutilizável tem aproximadamente o dobro do peso de uma garrafa one-way e está desenhada para ter um ciclo de vida de cerca de 20 viagens (Keoleian & Spitzley, 1999). - Produção de garrafas de material reciclado ou que incorporem material reciclado, por exemplo numa camada interior que não esteja em contacto com o alimento. Já existem exemplos práticos nesta matéria. A Coca-Cola desenvolveu uma garrafa que incorpora 25% de material reciclado numa camada interior e a Logoplaste, através da Logociclo, encontra-se a desenvolver um projecto de I&D para produzir garrafas de PET a partir de material reciclado (R-PET). Embalagens para azeite - Redução do peso das latas de aço através de um novo processo de fabrico e de uma nova estrutura das latas de modo a serem mais fortes. Por exemplo, a Continental Can encontra-se a desenvolver processos de fabrico revolucionários que permitem novas estruturas para as latas, como por exemplo com a forma honeycomb que poderá permitir uma redução de materiais na ordem dos 30% (Hekkert et al. 1997). Embalagens para iogurtes - Uma tendência que poderá ocorrer no futuro será a substituição dos copos de PS por copos constituídos por polipropileno mais leves. - Por outro lado, espera-se que a reciclagem de plásticos mistos tenha um desenvolvimento apreciável num futuro próximo. Este tipo de reciclado poderá ser usado como substituto de alguns produtos para construção (ex. estacas de madeira, como material para condutas de transporte de água ou saneamento básico) ou em aplicações alternativas. Embalagens para leites - Embalagens flexíveis para bebidas de laminados de PP e de LLDPE que são bastante leves quando comparadas com as embalagens rígidas. - Embalagens de PC (policarbonato), que já apareceram no mercado holandês. Estas embalagens de 1 litro pesam cerca de 74g e podem ser reutilizáveis, estimando-se o seu ciclo de vida em 30 viagens. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 134 Conclusões finais Filmes plásticos para embalagens primárias, secundárias e terciárias - Substituição de filmes de PEBD por filmes de PP no caso de filmes destinados a formarem uma barreira de baixa qualidade. - Uso de PET em vez de PP usado no fabrico de filmes laminados destinados a formarem uma barreira de alta qualidade. 4.4 Considerações sobre as políticas de embalagem 4.4.1 Sistemas europeus de recolha de embalagens e nova directiva europeia As embalagens colocadas no mercado na União Europeia ascenderam em 1997 a mais de 58 milhões de toneladas (Argus, 2001), sendo que as embalagens primárias estimam-se que sejam responsáveis por 3% das emissões de CO2 da Europa Ocidental (Hekkert et al., 1997) e as de embalagens secundárias e terciárias cerca de 1% (Hekkert et al., 1998). O consumo per capita nos Estados membros variaram entre os 189,2 kg/pessoa.ano, em França, e 74,4 kg/pessoa.ano na Grécia. Em média, as taxas de reciclagem e recuperação na EU (exceptuando Portugal, Grécia, Luxemburgo e Irlanda) foram de 46,3% e 52,6%, respectivamente (RDC - Pira, 2001). O vidro e o papel/cartão foram os principais responsáveis pelo atingir destas valores de reciclagem. Os valores médios de reciclagem por material da UE encontram-se descritos na tabela seguinte (Tabela 61). Tabela 61 – Taxas de reciclagem na União Europeia em 1997. Metal Plástico Papel/cartão 46,0% 15,5% 59% Média EU-11* * - Não inclui Portugal, Grécia, Irlanda e Luxemburgo Vidro 52,2% Madeira - Embora as metas de retoma e reciclagem de embalagens previstas na directiva embalagens tivessem que ser atingidas em Junho de 2001, grande parte dos estados membros já tinham atingido estas metas em termos globais bem antes desta data. O único problema que se coloca, e apesar de ainda não estarem contabilizados a totalidade dos dados referentes aos últimos dois anos, é o cumprimento por alguns Estados-Membros da meta mínima de reciclagem por material, ou seja 15%. Mais concretamente, o problema coloca-se no caso da reciclagem dos plásticos, uma vez que os dados disponíveis indicam que a taxa de reciclagem do plástico é bastante inferior à meta inscrita na directiva em alguns Estados-Membros. As projecções para o futuro apontam para um crescimento substancial do papel/cartão e do plástico e uma estabilização do metal. A evolução do vidro é em larga escala dependente do mercado de bebidas e do comportamento do plástico no mesmo mercado, mas a tendência é para um ligeiro decréscimo As estimativas para a madeira são difíceis de realizar devido à falta de informação sobre o material (Argus, 2001). Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 135 Conclusões finais Os países da União Europeia apresentam sistemas de recolha de resíduos de embalagem que são diferentes entre si devido ao seu trajecto histórico. Enquanto que, em alguns países, a regulação sobre embalagens já era existente à data da aprovação da directiva sobre embalagens, em outros tal não acontecia, nomeadamente em Portugal, o que originou que esses países tivessem que começar praticamente do zero na implementação de uma sistema de gestão de embalagens, construindo novas infraestruturas e criando condições para a recolha selectiva de embalagens, especialmente naquelas em que a recolha por operadores privados não era rentável, como nas embalagens de plástico. A recolha das embalagens de plástico presentes nos RSU na UE consiste quase exclusivamente na recolha de garrafas e frascos de PEAD, PET e PVC. Apenas com a excepção da Alemanha e Áustria, outras embalagens mais pequenas e outros plásticos não são recuperados devido aos elevados custos associados à sua recolha. A quase totalidade do papel/cartão retomado tem origem nas embalagens secundárias e terciárias e os esforços de reciclagem estão orientados para este tipo de embalagem, uma vez que os custos de recolha são inferiores e a qualidade bastante superior à dos resíduos de papel/cartão das embalagens primárias. Em todos os países membros a recolha do vidro é feita através de contentores exclusivamente destinados a esse material. No entanto, nem em todos os países o vidro é recolhido separadamente segundo a sua cor, o que diminui as aplicações para o vidro reciclado. O metal de embalagens de origem doméstica é retomado através de recolha selectiva desse material, ou através da separação dos RSU encaminhados para compostagem e recolha das escórias do fundo do forno das incineradoras (Argus, 2001). A recolha selectiva das embalagens visa a separação por tipo de material de modo a garantir resíduos de embalagem em quantidade e qualidade suficientes para posterior reciclagem. Entre as vantagens genéricas da reciclagem contam-se: a extensão do ciclo de vida dos materiais usados, a redução do uso de materiais virgens e da deposição dos materiais em fim de vida e a promoção da gestão responsável dos resíduos de embalagem pelos consumidores. Por outro lado as dificuldades da reciclagem situam-se ao nível dos custos de retoma, transporte e reciclagem, do limite de vezes que um material pode ser reciclado sem perder as suas qualidades, da instabilidade do mercado de resíduos reciclados e do “custo” imputado ao consumidor devido a colectar separadamente os materiais de embalagem que poderão desencorajar a separação dos resíduos pelo mesmo (Lancashire County Council, 1999). As barreiras à reciclagem das embalagens variam consoante o material e, como tal, as medidas para promover maiores taxas de reciclagem devem ter em conta esses problemas específicos. Nos materiais plásticos as barreiras situam-se não só nas condições de mercado existentes para os materiais reciclados (preço e qualidade quando comparados com o plástico virgem), mas fundamentalmente nas taxas de recolha existentes, que são bastante reduzidas. Como tal, para reduzir estas barreiras devem-se adoptar políticas que sustentem o desenvolvimento de novos processos de fabrico de embalagens que permitam a inclusão de material reciclado, de novos processos de reciclagem e de práticas que permitam maiores taxas de recolha de material, como seja apostar no design for recycling das embalagens de modo a permitir, de igual modo, uma melhor qualidade do material retomado e reciclado. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 136 Conclusões finais A recolha de papel e cartão é uma actividade que já se encontrava bem estabelecida aquando da constituição do sistema de gestão de embalagens e o mercado de reciclado é um mercado bem desenvolvido. Dado o aumento da recolha de papel/cartão ser facilmente absorvido pela capacidade instalada das papeleiras, o obstáculo a maiores taxas de reciclagem situa-se a nível das quantidades retomadas e da qualidade dessas retomas. Por esse facto as políticas para este material devem estar mais orientadas para o consumidor final e para os sistemas de recolha de resíduos de embalagem. O vidro apresenta uma taxa de reciclagem elevada quando comparada com outros materiais e a sua recolha, à semelhança do papel, era actividade bem desenvolvida antes do surgimento dos sistemas de gestão de resíduos de embalagem. A própria indústria vidreira desenvolveu um sistema de recolha próprio, dado que o resíduo de vidro apresenta um valor económico elevado. O ponto fundamental para o aumento da taxa de reciclagem de vidro situa-se na recolha de resíduos e fundamentalmente na sua qualidade. A separação por cores é fundamental, quer seja feita de um modo automático ou pelo consumidor, assim como o nível de impurezas existentes nos resíduos. Por exemplo, o chumbo existente nos cristais e ecrãs de televisores é nefasto para a produção de vidro e estes produtos, que muitas vezes acabam por ir parar ao sistema de recolha de vidro de embalagem, põem em causa a sua reciclagem, devido às especificações legais que o vidro de embalagem de bens alimentares necessita de apresentar. A taxa de reciclagem do metal de embalagem é apenas restrita pelos níveis de recolha existentes, uma vez que existe capacidade para o reciclar, e que é usado como matéria prima secundária para o fabrico de novos produtos. Os resíduos de embalagem já eram recolhidos e reciclados anteriormente, especialmente o alumínio, devido ao seu valor económico elevado. As políticas para aumentar a reciclagem deste material devem ser orientadas para o consumidor final e para os sistemas de recolha de resíduos, de modo a aumentar as retomas. A taxa de reciclagem da madeira é restringida principalmente pelo nível de recolha existente, embora em muitos casos, como acontece com as caixas de madeira de frutas e legumes, as embalagens one-way sejam utilizadas para outros fins que não aqueles para que foram inicialmente previstos. Neste momento encontram-se em discussão os novos contornos da directiva embalagens, que visa substituir a directiva 94/62/CEE. Devido aos diversos grupos de pressão existentes, ainda se desconhecem quais serão as alterações, uma vez que existem grandes desentendimentos acerca de qual deve ser o seu conteúdo, nomeadamente ao nível das metas de reciclagem para os diferentes materiais. Mas neste ponto, uma coisa parece certa: as metas de reciclagem vão ser bem mais exigentes do que as actuais. A Comissão Europeia e outros estudos financiados pela própria Comissão estabelecem metas bem mais ambiciosas que as actuais e que se referem na Tabela 62. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 137 Conclusões finais Tabela 62 – Propostas de metas de reciclagem para a nova directiva sobre embalagens para 2006 Vidro CE ARGUS RDC-PIRA 70 75 53-87 Papel/ cartão 60 65 60-74 Metal Plástico Madeira Global 50 55 63-76 26-31 20 20 26-36 47-66 60 60 50-68 Uma questão importante, nomeadamente para Portugal, é se a nova directiva vai estabelecer ou não derrogações para os países que a obtiveram na directiva 94/62/CEE. No entanto ainda existem outras questões importantes em aberto: - inclusão ou não da reciclagem química como um tipo de reciclagem possível para os plásticos e se a definição de reciclagem química comporta a valorização energética dos resíduos; - existência de metas para a valorização de resíduos, à semelhança da directiva 94/62/CE; - inclusão ou não de metas de redução de material de embalagem; - harmonização dos métodos de cálculo das taxas de valorização e reciclagem; - inclusão ou não na directiva do tema reutilização das embalagens. De qualquer modo, a União Europeia, ao definir as metas de reciclagem, valorização e reutilização a atingir pelos seus Estados-Membros, deve ter em conta que poderá provocar indirectamente alterações nas quotas de mercado dos diversos materiais e que a definição de metas especificas para cada material pode acarretar consequências ambientais adversas, ao penalizar embalagens ambientalmente mais correctas. 4.4.2 Mercado de embalagens e opções de fim de vida Nos parágrafos seguintes efectuam-se algumas considerações gerais sobre o mercado de embalagens e opções de fim de vida das mesmas. Uma medida fundamental para reduzir o impacte ambiental das embalagens é actuar ao nível da prevenção de embalagem e introduzir metas quantificadas a nível nacional e europeu para formalizar os objectivos a atingir, como já existentes em países como a Holanda, Finlândia e Bélgica. Esta política pode ser consubstanciada de duas formas: prevenindo o aumento do consumo de embalagens, ou prevenindo o aumento dos resíduos de embalagem, desde que seja assegurada a qualidade e protecção do produto. De igual modo as metas de reciclagem, valorização e reutilização das embalagens não devem ficar só ao nível dos materiais, mas deve-se igualmente procurar estabelecer acordos voluntários com os diversos sectores de bens alimentares de modo a existirem metas específicas para cada sector para incorporação de material reciclado, embalagens reutilizáveis e valorizadas. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 138 Conclusões finais Esta política permite ter em conta as especificidades de cada indústria e o tipo de embalagem usadas por estas, de modo a se poder actuar mais eficazmente na prossecução do objectivo global, ou seja, reduzir o impacte ambiental das embalagens (Pensar globalmente, agir localmente). Deve-se caminhar para um sistema de gestão de embalagens que diferencie os resíduos de embalagens industriais e de distribuição dos resíduos de embalagens de consumo, dado que os resíduos de origem industrial normalmente apresentam uma qualidade bastante superior e custos de recolha inferiores aos resíduos de consumo. Isto passa nomeadamente por subsidiar diferenciadamente a recolha dos resíduos de embalagem com base nos custos de recolha específicos e na qualidade do material retomado. Do mesmo modo, seria porventura benéfico estabelecer metas de recolha, reciclagem e valorização de acordo com o mesmo princípio, diferenciando os fluxos de resíduos de embalagem existentes. Os produtores de embalagens devem ter em conta todo o ciclo de vida da embalagem aquando da concepção de novos tipos de embalagem. Como tal, e entre outros aspectos, devem considerar o destino final da embalagem e nomeadamente a sua reutilização, reciclagem e valorização. Uma medida que poderia potenciar o ecodesign das embalagens seria a certificação das empresas ou embalagens ambientalmente correctas, que serviria igualmente como factor de diferenciação de mercado. Da mesma forma, deveriam ser estabelecidas embalagens e processos de referência (de acordo com a definição Best Available Technology) dentro de cada sector, que pudessem servirem como benchmark e suporte para a inovação de produto por parte dos fabricantes de embalagem e embaladores. Obviamente, devido às questões em causa, estas embalagens de referência deveriam ser estabelecidas com base em estudos realizados por entidades independentes e revistos periodicamente. A reutilização é uma opção de fim de vida que depende não só de questões técnicas mas sobretudo da vontade dos consumidores para devolverem a embalagem em boas condições e da vontade dos produtores em implementarem o sistema de reutilização. Introduzir metas de reutilização de alguns tipos de embalagens na futura directiva permitiria que os Estados-Membros apoiassem mais activamente esta opção de fim de vida. Esta medida permitiria além do mais uma maior uniformidade no espaço europeu e permitiria atenuar situações como a que está a ocorrer na Alemanha onde os produtores evocam a livre circulação de bens e distorções de concorrência no espaço europeu para colocarem acções legais contra o seu governo pela imposição de quotas maioritárias de embalagens reutilizáveis nos mercados de bebidas. O aumento das taxas de reciclagem deve ser incentivado, mas não se deve subsidiar o processo de reciclagem de um modo rígido quando não existem tecnologias ou aplicações que permitam que os materiais reciclados tenham boa aceitação em termos económicos, uma vez que se estariam a introduzir grandes distorções no mercado. Como tal, é necessário um esforço de I&D por parte dos organismos públicos ligados à gestão dos resíduos e dos operadores privados de modo a garantir o aumento das aplicações e mercados para os produtos reciclados. Por outro lado, apesar de ser predominantemente uma questão tecnológica, especialmente no sector de bens alimentares em que as exigências de qualidade e os parâmetros físico-químicos são muito restritos, os materiais reciclados deveriam ser Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 139 Conclusões finais usados em substituição do material virgem, ou seja, deveriam ser utilizados para o fabrico de novas embalagens, e preferencialmente com os mesmos fins, de modo a tornar o sector de embalagens mais responsável e sustentado ambientalmente. 4.5 Comentários finais O fluxo de materiais gerado pela sociedade humana está no centro de grande parte dos problemas ambientais existentes actualmente, o que origina que o metabolismo de uma sociedade seja um importante objecto de estudo. As embalagens através das suas múltiplas funções são um elemento fundamental na sociedade actual. O progressivo afastamento dos locais de produção e a necessidade do transporte e conservação dos produtos por maiores períodos de tempo, a alteração dos hábitos de consumo através de um maior recurso às grandes superfícies, a alimentos congelados e pré-prontos e o incremento da função de marketing da embalagem, contribuíram para o papel relevante das embalagens na sociedade actual. As embalagens para além das suas funções de confinamento, protecção, manuseamento, distribuição e marketing de produtos são também uma importante fonte de resíduos e apresentam consequências ambientais importantes, ao ponto de terem sido criados mecanismos para dar um destino final adequado aos resíduos de embalagem, com o objectivo último de se conseguir reduzir o impacte ambiental das embalagens. Este trabalho, que incide nas embalagens de bens alimentares, visa ser um contributo para a persecução desse objectivo e para que a industria de embalagem e outros agentes intervenientes no mercado de embalagens desenvolvam um mercado nacional com práticas mais avançadas e sustentáveis, que incluam o eco-design, a avaliação de fornecedores, a comunicação dos dados ambientais das empresas e a certificação ambiental, entre outras, que se encontram implementadas ainda incipientemente no nosso país. Ao fornecer informação ambiental detalhada aos agentes decisores, em que se incluem os governos, a indústria e outros actores, espera-se que estes considerem as implicações ambientais das suas decisões e clarifiquem a relação destas com as consequências sobre o meio ambiente. Espera-se também que a informação e os resultados presentes neste trabalho sejam um contributo para aumentar a consciência pública sobre as questões ambientais, especialmente as relacionadas com o mercado de embalagens. Mais que os legisladores, é o mercado em geral, e os consumidores em particular, que decidem o sucesso ou o insucesso das medidas ambientais. Só a aceitação por parte do público em geral do conceito de life-cycle thinking permitira a promoção de politicas ambientais orientadas segundo a perspectiva de ciclo de vida, e como tal, mais sustentáveis. Este trabalho é inovador dado tratar-se da primeira avaliação abrangente do impacte ambiental de embalagens de produtos lácteos, gorduras alimentares, frutas e legumes, confeitaria e congelados em Portugal. As principais conclusões do trabalho, e que se encontram descritas mais detalhadamente ao longo do texto, são referidas de seguida. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 140 Conclusões finais Em termos de impacte ambiental a produção é a fase mais relevante do ciclo de vida das embalagens e, mais especificamente, a produção da embalagem primária. O contributo da fase de distribuição no impacte ambiental é maior nas categorias eutrofização, acidificação e smog de verão. Globalmente a fase de fim de vida permite a redução do impacte ambiental das embalagens de bens alimentares, no entanto esse contributo é muito dependente do material, processo e categoria em questão. O contributo da reciclagem da embalagem primária é variável e depende do material considerado e da taxa de reciclagem existente. No entanto, de um modo geral a reciclagem permite reduzir o impacte ambiental das embalagens de bens alimentares. Em termos gerais as principais categorias de impacte associadas ao uso de embalagens de bens alimentares são as categorias de energia e smog de verão. Por outro lado estas embalagens provocam praticamente impactes ambientais nulos ao nível dos pesticidas e camada de ozono. Nas embalagens de aço as categorias de impacte ambiental mais relevantes são o smog de verão, energia e resíduos sólidos. A reciclagem do aço permite reduzir os impactes ambientais em praticamente todas as categorias e como tal deve-se fomentar a reciclagem destas embalagens e o aumento da qualidade dos resíduos através de uma maior taxa de recolha selectiva. Nas embalagens de madeira as principais categorias de impacte ambiental são os resíduos sólidos e a energia e a reciclagem da madeira permite reduzir o impacte ambiental destas embalagens em quase todas as categorias. A valorização energética permite diminuir o impacte ao nível da energia, mas aumenta as emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa, eutrofização e acidificação. O impacte ambiental das embalagens de plástico depende do tipo de plástico em questão. No entanto os principais impactes são nas categorias energia, smog de verão, acidificação e metais pesados. Apesar de poucas embalagens de bens alimentares serem actualmente recicladas devido à sua contaminação ou tipo de plástico utilizado, a reciclagem mecânica de plásticos mistos para aplicações não muito exigentes de qualidade de material, ou a reciclagem química do PET, por exemplo, permitirão num futuro próximo uma redução do impacte ambiental do ciclo de vida das embalagens de plástico de bens alimentares. À semelhança da madeira, a valorização energética destas embalagens permite a recuperação de energia mas aumenta a emissão de gases de efeito de estufa e acidificação e eutrofização. Na embalagem de cartão para alimentos líquidos o principal impacte diz respeito ao consumo de energia sendo os restantes impactes relevantes bastante homogéneos. O processo de reciclagem destas embalagens compostas permite reduzir o impacte ambiental devido ao aproveitamento das fibras de celulose e da energia pela queima do plástico. Sendo assim, o aumento da taxa de reciclagem e uma eficaz reciclagem das embalagens de cartão para alimentos líquidos é importante para a redução do impacte ambiental do ciclo de vida destas embalagens. O impacte da valorização energética destas embalagens é idêntico às de madeira e plástico. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 141 Conclusões finais As categorias de maior impacte no caso do vidro de embalagem são os resíduos sólidos e os metais pesados. A reciclagem do vidro permite reduzir significativamente os impactes causados por este material, sobretudo nos metais pesados, energia, smog de inverno e efeito de estufa e, como tal, deve ser incentivada. Dado a principal causa do impacte ambiental das embalagens de bens alimentares ser a fase de produção e mais concretamente a produção da embalagem primária deve-se apostar igualmente na redução da quantidade de material de embalagem para diminuir a pressão das embalagens sobre o ambiente, desde que seja assegurada a protecção do produto. Um dos modos para se atingir este fim é os produtores incorporarem as preocupações ambientais na fase de concepção do produto através do conceito de ecodesign. Por outro lado, as medidas para potenciarem o eco-design poderiam passar por, entre outras, a certificação das embalagens ambientalmente correctas e o estabelecimento de embalagem e processos de referência. A reciclagem deve continuar a ser fomentada e ao mesmo tempo deve haver um esforço pelas entidades privadas e públicas para se desenvolverem novas tecnologias e aplicações para o material reciclado. Por outro lado, o estabelecimento de novas metas de reciclagem, valorização e reutilização devem ter em conta não só os diferentes materiais mas também a possibilidade da existência de acordos voluntários com os vários sectores de bens alimentares para existirem metas específicas dentro de cada sector que tenham em conta as suas especificidades. No caso do sistema de gestão de resíduos deve haver uma diferenciação económica entre resíduos industriais e resíduos sólidos urbanos que tenha em conta o seu custo de recolha, a sua qualidade e igualmente as metas globais de recolha, reciclagem e valorização. Quanto ao desenvolvimento de trabalhos futuros na mesma área, fazem-se as seguintes sugestões. No seguimento do presente trabalho recomenda-se uma extensão do âmbito do mesmo e introduzir a componente económica na avaliação, o que permitirá definir mais concretamente o tipo de políticas a adoptar para reduzir os impactes ambientais de um modo mais eficaz e eficiente em termos económicos. Seria útil desenvolver casos concretos de aplicação do conceito de eco-design em que se inclua conjuntamente as componentes ambientais e económicas, de modo a servirem como casos de estudo para demonstrar à indústria portuguesa a importância da existência de políticas inovadoras no sector das embalagens. Estes estudos teriam obviamente de ser promovidos e desenvolvidos em a colaboração com a indústria nacional. Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 142 Referências Referências Bibliografia A.C. Nielsen (1999), ANUARIO - FOOD 1998. A.C. Nielsen Portugal, Lisboa, 342 pp. Adriaanse, A. Bringezu, S., Hammond, A., Moriguchi, Y., Rodenburg, E., Rogich, D., Schutz, H. 1997. Resource Flows: The Material Basis of Industrial Economies, World Resources Institute, Washington, D.C., USA. Allenby, B. (1999), Industrial Ecology: Policy Framework and Implementation, AT&T, Prentice Hall, New Jersey, USA. 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G. Ferreira Martins Ed Alto Dq-Lt 5,6º-Algés, Tel: 214 120 469, Fax: 214 120 469 SPV R João Chagas 53,1º-D-Ed Inf D.Henrique-Algés 1495-072 Algés Tel 214147300 Fax 214145246 Tratolixo Avenida 5 Junho - Trajouce RANA Tel: 214 450 703 1050 LISBOA 2775 SÃO DOMINGOS DE Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 152 Referências Triunfo Bairro S. Carlos - Mem Mart 2725-473 MEM MARTINS, Tel.: 219 266 700, Fax: 219 211 335 Valorsul Plataforma Ribeirinha CP-Estaç Mercadori as Bobadela Apartado 2103-S.João Talha 2696-801 São João da Talha Tel 219535900 Fax 219535929 Embalagens de bens alimentares: contributos para a definição de políticas eco-eficientes em Portugal 153