CÁLCULO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL ATRAVÉS DO METODO DE THORNTHWAITE E COMPARAÇÃO COM DADOS DE REANÁLISE DE EVAPORAÇÃO POTENCIAL DO NCEP PARA A CIDADE DE PELOTAS-RS Diego Simões Fernandes 1 , Paulo Roberto Pelufo Foster 2 RESUMO – A evapotranspiração potencial é o total de água para a atmosfera por evaporação e transpiração, por unidade de tempo, de uma superfície extensa completamente coberta de vegetação de porte baixo e bem suprida de água. Já a evaporação potencial é a perda de água para a atmosfera de uma superfície saturada exposta as condições reinantes de fatores meteorológicos. O objetivo deste trabalho foi de comparar a evapotranspiração potencial calculada pelo método de Thornthwaite com a evaporação potencial com dados de reanálise do NCEP para o período de 1998 a 2005 para a cidade de Pelotas-RS. Pode-se observar que as curvas de evapotranspiração potencial e evaporação potencial evoluem sem grandes diferenças. Quase sempre que se observa uma variação em uma curva, a outra, segue esse variação. Observa-se déficit hídrico em todos os meses de todos os anos estudados, sendo que em alguns casos o déficit e desprezível. Abstract - The potential evapotranspiration is the entire of water for the atmosphere for evaporation and perspiration, for unit of time, of an extensive surface completely covered with load vegetation low and well supplied of water. Already the potential evaporation is the loss of water for the atmosphere of a surface saturated exposed the conditions reinantes of meteorological factors. The objective of this work was of comparing the potential evapotranspiration made calculations by the method of Thornthwaite with the potential evaporation with data of reanalisys of NCEP for the period from 1998 to 2005 for city of Pelotas/RS. It can be observed that the curves of potential evapotranspiration and potential evaporation develop without great differences. Almost always that a variation is observed in a curve, the other, follows that variation. Deficit hydric is observed in all of the months of all of the studied years, and in some cases the deficit and despicable. Palavras-Chave – evapotranspiração potencial, evaporação potencial, Thornthwaite, reanálise. INTRODUÇÃO A transferência de água para a atmosfera, no estado de vapor, quer pela evaporação de superfícies liquidas, quer pela evaporação de superfícies úmidas ou pela transpiração vegetal, constitui importante ciclo hidrológico da natureza. A Evaporação Potencial (EP) é a perda de água para a atmosfera de uma superfície saturada exposta as condições reinantes de fatores meteorológicos. É uma medida do grau em que o tempo ou clima de uma região é favorável ao processo de evaporação (HUSCHKE, 1970). A 1 Aluno do curso de Bacharelado em Meteorologia – Universidade Federal de Pelotas – Campus Universitário s/nº – Caixa Postal 354, Pelotas, RS – 96010-900 – 53 3223-2449 – e-mail: [email protected] 2 Professor Doutor do Departamento de Meteorologia – Universidade Federal de Pelotas– Campus Universitário s/nº – Caixa Postal 354, Pelotas, RS – 96010-900 – 53 3275-7328 – e-mail: [email protected] Evapotranspiração Potencial (ETP), segundo PENMAN (1956), é o total de água para uma superfície extensa completamente coberta de vegetação de porte baixo e bem suprida de água. Algumas variáveis meteorológicas são fatores determinantes da evaporação e evapotranspiração. As temperaturas do ar e da água estão grandemente associadas à radiação solar e, portanto, também se correlacionam positivamente com a evaporação. O efeito do vento na evaporação é exercido pela remoção e renovação do ar logo acima da superfície evaporante. Em igualdade de outras condições a evaporação é proporcional à diferença entre pressão do vapor saturado à temperatura da água e à pressão do vapor do ar. O conceito de evapotranspiração potencial, o mais significativo avanço no conhecimento dos aspectos da umidade climática, foi introduzido em 1944 por Thornthwaite, quando trabalhava com problemas de irrigação, no México (MATHER, 1958). A evapotranspiração potencial (ETP) passou a ser considerada, como a chuva, um elemento meteorológico padrão, fundamental, representando a chuva necessária para atender às carências de água da vegetação. Dados confiáveis de evapotranspiração são exigidos para o planejamento, construção e operação de reservatórios e sistemas de irrigação e drenagem, diminuindo, assim, os gastos necessários para irrigação de cultivares agrícola. O método de Thornthwaite é muito utilizado em todas as regiões, já que se baseia somente na temperatura, que é um dado normalmente coletado em estações meteorológicas. O objetivo deste trabalho é calcular a evapotranspiração potencial (ETP) pelo método de Thornthwaite e comparar a média mensal do método com a média da evaporação potencial de dados de reanálises do NCEP, para a cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, para o período de 1998 a 2005. MATERIAL E METODOS Para o calculo do método de Thornthwaite foram utilizados dados de temperatura média do ar obtidos junto à estação agroclimatológica da cidade de Pelotas-RS (Latitude: 31° 52’ 00” S Longitude: 52° 21’ 24” W. GRW Altitude: 13,24 m). Dados de reanálises da taxa de evaporação potencial (EP) obtidos com o NCEP (National Centers for Environmental Prediction) foram utilizados para obter a taxa mensal de evaporação potencial. O método de Thornthwaite para a evapotranspiração potencial foi obtido com o calculo da seguinte formula: ⎛ 10.t ⎞ ETP = f .1,6⎜ ⎟ ⎝ I ⎠ onde: a (1) ETP – evapotranspiração potencial; f – fator de ajuste em função da latitude e mês do ano; t – temperatura média mensal, em ºC; I – índice de calor anual. O índice de calor anual é calculado pela seguinte equação: 12 t ⎛ ⎞ I = Σ⎜ ⎟ 1 5 ⎝ ⎠ 1, 514 (2) O valor de a é dado pela função cúbica do índice anual: a = 6,75 × 10 −7.I 3 − 7,71 × 10 −5.I 2 + 1,7292 × 10 −2.I + 0,49239 (3) Os valores obtidos pela fórmula de Thornthwaite são válidos para meses de 30 dias com 12 horas de luz solar por dia. Como o número de horas de luz por dia muda com a latitude e também porque há meses com 28 e 31 dias, torna-se necessário proceder a correções. Este fator de correção (f) é obtido da seguinte forma: f = h n × 12 30 (4) onde: h – número de horas de luz solar na latitude considerada; n – número de dias do mês em estudo. Foram utilizados dados de brilho solar diário, tabelados para a latitude considerada, sendo que os valores correspondem ao 15º dia de cada mês (dados interpolados de Smithsonlan Meteorological Tables 6ª Edição - Quadro 171). Para fazer os balanços hídricos dos anos estudados, comparou-se dados de evapotranspiração potencial e dados de precipitação (figuras 2a-h). RESULTADOS E DISCUSSÕES Podemos notar (figura 1) que as curvas de evapotranspiração potencial calculada pelo método de Thornthwaite e pela curva da evaporação potencial obtida com os dados de reanálise do NCEP, evoluem sem grandes diferenças. Nota-se, em geral, sempre que há uma diminuição na evapotranspiração potencial, essa diminuição é seguida pela curva da evaporação potencial. Foram observados os maiores valores de evapotranspiração potencial nos meses de verão, e isto se dá devido que, a evapotranspiração potencial leva em consideração a transpiração das plantas, que transpiram mais que nos meses de inverno. No ano de 1998 (figura 1b) registrou-se uma evaporação potencial maior do que as registradas em todo o período estudado, sendo que, para este ano, o período de junho a agosto não representou uma evolução uniforme, como pode se observar na maioria dos anos. Para os meses de janeiro, fevereiro e março, dos anos de 1998, 1999, 2002 e 2004 (Figuras 1a, 1b, 1e e 1g), as curvas de evapotranspiração potencial e evaporação potencial não mostram uma uniformidade, sendo que a diferença se dá para mais ou para menos, não seguindo um padrão. De todos os anos estudados, em 2003 (figura 1f) as curvas de evapotranspiração potencial e evaporação potencial foram as que tiveram uma melhor uniformidade na evolução no decorrer o ano. No balanço híbrico (figura 2a-h) entre a evapotranspiração potencial, calculada pelo método de Thornthwaite e a precipitação mensal, observa-se que em todos os anos estudados teve um déficit hídrico. O maior déficit hídrico foi observado no período de dezembro-janeiro do ano de 2003 (figura 2f). Em 2001 e 2002 (figuras 2d e 2e), foram observados um déficit muito pequeno, praticamente desprezível. Podemos notar no período estudado, que os gráficos do balanço hídrico, mostram que o déficit hídrico ocorre nos meses de janeiro, fevereiro, março, outubro, novembro e dezembro, apenas em 2005 (figura 2h), observa-se déficit hídrico no mês de junho. Isto pode ser explicado porque nos meses de inverno, os sistemas frontais atuam mais intensamente causando maiores precipitações no inverno. CONCLUSOES Resultados mostram que os valores obtidos através do cálculo da evapotranspiração potencial pelo método de Thornthwaite e os dados de reanálises do NCEP de evaporação potencial são bem similares, sendo que as curvas evoluem uniformemente em quase todos os anos estudados e, isso faz com que se tenha uma boa comparação entre os dados comparados. Por fim, ao comparar dados de precipitação e evapotranspiração potencial, a fim de se obter o balanço hídrico, verificou-se que os meses em que ocorrem déficit são janeiro, fevereiro, março, outubro, novembro e Dezembro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HUSCHE, R.E., 1970: Clossary of Meteorology. Amer. Meteor. Soc., 638pp. MATHER, J.R. Preface. Centerton, N.J., 1958, p.247-248. (publications in Climatology, v.XI, n.3) PENMAN, H.L. Evaporation: na introductory survey. Netherlands. Journal of Agricultural Science, Cambridge, v.4, p.9-29, 1996. EP - NCEP ETP - TORNTWAITE 21 120 15 100 12 60 9 6 40 6 3 20 3 0 0 12 60 9 40 20 Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Mês (a) EP - NCEP ETP - THORTWAITE 21 140 60 9 40 20 0 Jun Jul Ago Set Out Nov ETP (mm/mês) 12 Mai 18 15 80 12 60 9 6 40 6 3 20 3 0 0 Dez 0 Jan Fev Mar Abr Mai (c) Jun ETP - THORTWAITE 140 60 9 40 20 0 Jul Ago Set Out Nov ETP (mm/mês) 12 15 80 12 60 9 6 40 6 3 20 3 0 0 Dez 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun ETP - THORTWAITE 140 Out Nov Dez 60 9 40 20 0 Jul Ago Set Out Nov Dez ETP (mm/mês) 12 EP - NCEP 21 18 15 100 EP (mm/mês) ETP (mm/mês) 80 Mês Set 120 15 100 Jun Ago 140 18 120 Mai Jul (f) EP - NCEP 21 Abr EP - NCEP 18 (e) Mar Dez Mês ETP - THORTWAITE Fev Nov 21 Mês Jan Out 100 EP (mm/mês) ETP (mm/mês) 80 Jun Set 120 15 100 Mai Ago 140 18 120 Abr Jul (d) EP - NCEP 21 Mar EP - NCEP Mês ETP - THORTWAITE Fev Dez 21 Mês Jan Nov 100 EP - (mm/mês) ETP - (mm/mês) 80 Abr Out 120 15 100 Mar Set 140 18 120 Fev Ago (b) ETP - THORNTWAITE Jan Jul Mês EP (mm/mês) Fev EP (mm/mês) Jan 15 80 80 0 18 80 12 60 9 6 40 6 3 20 3 0 0 EP (mm/mês) ETP (mm/mês) 100 18 ETP (mm/mês) 120 21 140 EP (mm/mês) 140 EP - NCEP EP (mm/mês) ETP - THORNTWAITE 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês (g) (h) Figura 1. Comparações de ETP calculado pelo método de Thornthwaite e EP de dados de reanálise do NCEP: (a) 1998; (b) 1999; (c) 2000; (d)2001; (e) 2002; (f) 2003; (g) 2004 e (h) 2005. Precipitação ETP - THORNTHWAITE 350 300 300 250 250 ETP e Pr (mm/mês) ETP e Pr (mm/mês) ETP - THORTHWAITE 350 200 150 200 150 100 100 50 50 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Mês (a) Ago Set Out Nov Dez Set Out Nov Dez Set Out Nov Dez Set Out Nov Dez (b) Precipitação ETP - THORHTHWAITE 350 350 300 300 250 250 ETP e Pr (mm/mês) ETP e Pr (mm/mês) Jul Mês ETP - THORNTHWAITE 200 150 Precipitação 200 150 100 100 50 50 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Mês Jul Ago Mês (C) (d) ETP - THORNTHWAITE Precipitação ETP - THORNTHWAITE 350 350 300 300 250 250 ETP e Pr (mm/mês) ETP e Pr (mm/mês) Precipitação 200 150 200 150 100 100 50 50 0 Precipitação 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Mês Jul Ago Mês (e) (f) ETP - THORNTHWAITE Precipitação ETP - THORTHWAITE 500 Precipitação 350 450 300 400 250 ETP e Pr (mm/mês) ETP e Pr (mm/mês) 350 300 250 200 150 200 150 100 100 50 50 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Mês Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Mês (g) (h) Figura 2. Balanço Hídrico: (a) 1998; (b) 1999; (c) 2000; (d)2001; (e) 2002; (f) 2003; (g) 2004 e (h) 2005.