Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 A IMPORTÂNCIA DO PAÇO MUNICIPAL The importance of the municipal palace Amélia Simões SCHWERTNER1 Cristiane Schulz HAERTER2 RESUMO Este artigo visa apresentar os primeiros resultados da pesquisa sobre o "Resgate da história da paisagem dos paços municipais das sedes urbanas da microrregião do Vale do Jaguari – RS". O trabalho tem por finalidade resgatar, ou seja, buscar a história da paisagem dos paços municipais, para que esta não se perca com o tempo; mas, pelo contrario, que seja preservada a memória coletiva destes espaços. Pois, as paisagens de nossas cidades têm história, contam a evolução econômica, social e ambiental que ali aconteceu, junto com o crescimento de uma população que aos poucos foi modificando-a. Este trabalho consiste em buscar não só o que aconteceu naquele local em um período de tempo passado, mas também como isto se reflete nos dias de hoje. Também nos faz perceber que a configuração do presente influenciará o futuro deste espaço e a rotina das pessoas que nele vivem. De forma breve serão apresentadas algumas informações referentes ao paço municipal das cidades da Microrregião do Vale do Jaguari. Desta forma é possível conhecer o assunto a ser relatado e apreciar em parte esta pesquisa que está se desenvolvendo. Palavras-chave: Resgate histórico; Paisagens históricas; Espaço Institucional; Paço Municipal. ABSTRACT This article aims to present the first results of the research on the "Rescue the history of the landscape of municipal palaces of urban headquarters of the microregion Vale do Jaguari - RS". The work is to rescue, or search the history of the landscape of municipal palaces, that is not lost with time; however, that collective memory is preserved these spaces. Well, the landscape of our cities history, include the economic, social and environmental that happened, along with the growth of a population that has little to modifying it. This work is to get not only what happened in that place in a period of time, but also reflects today. It makes us realize that the design of this influence the future of this area and the routine of people living in it. Will briefly presented some information on the municipal palace of cities of microregion Vale do Jaguari. This way you can know this to be reported in part and enjoy this research that is developing. Key words: Rescue historic; historic landscapes; Institutional Area; Palace Municipal. A IMPORTÂNCIA DO PAÇO MUNICIPAL Há espaços urbanos que são fundamentais e que caracterizam as paisagens de uma cidade. Um deles é o Paço Municipal, onde estão localizados a Praça, a Prefeitura, a Igreja, a Câmara de Vereadores, o Museu, a Biblioteca, entre outros. O Paço Municipal, local da animação histórica e 1 Arq. MSc. Orientadora PIIC-URI e Professora do Depto. Ciências Sociais Aplicadas da URI – Campus de Santiago, Curso de Arquitetura e Urbanismo. [email protected]. 2 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo e Bolsista PIIC - URI – Campus de Santiago. [email protected]. Vivências. Vol.5, N.7: p.107-111, Maio/2009 107 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 funcional da gestão de uma cidade, é um lugar que tem na sua paisagem e espaços particularidades interessantes e importantes de tudo que ocorreram ali. O conceito de Paço Municipal, segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis: Paço: sm (lat palatiu) 1 Palácio real ou episcopal. 2 Corte, conjunto de pessoas que habitam o palácio real. Municipal: adj (lat municipale) Pertencente ou relativo ao município ou à municipalidade. sm Teatro mantido pela municipalidade. (MICHAELIS, 1998). Muitos Paços Municipais aconteceram por acaso, outros por doações do Reino de Portugal; outros se formaram sobre antigas reduções jesuíticas. Estes lugares têm, cada um, sua particular importância e devem ser analisados e descritos de forma a se publiscitar suas características formais, históricas e culturais. Muitos desses espaços contam animações históricas de seu passado, outros, mais modernos falam do presente e até se pode vislumbrar o futuro. As paisagens de nossas cidades têm história, contam a evolução econômica, social e ambiental que ali aconteceu junto com o crescimento de uma população urbana, que aos poucos a foi modificando. E aí vêm as questões do que ficou de bens material e imaterial destes lugares e como resgatá-los? Como são valorizados estes espaços? São histórias ou lendas que nos relatam as pessoas antigas do lugar? E aquela árvore centenária, quem a plantou, por que ela se repete em outra cidade em lugar de destaque em seu Paço Municipal? Nestes paços, as aguadas eram primordiais, bem como a ampla visão dos arredores, com sistemas particulares de comunicação e segurança. Outras cidades se formaram ao longo de estradas, antigas rotas de transporte de gado e demais artigos da economia da época. Algumas, por decreto real, Cartas Régias designando o traçado das ruas, a localização dos principais prédios como a Casa de Câmara e Cadeia, a Igreja, o comércio e as casas de habitação. Sempre obedecendo aos pontos cardeais. Há curiosidades ímpares em cada um desses espaços, algumas históricas, como as marcas de balas de tiroteios acontecidos ali, na praça pública, defronte à Prefeitura e à Igreja de São Francisco de Assis. Outras duas têm palmeiras imponentes, centenárias que se impõem nas paisagens dos respectivos Paços Municipais. Schwertner, A. e Haerter, C. 108 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 É na Praça, geralmente defronte à Prefeitura, que se pode contar um pouco da história da cidade. A Praça centraliza, distribui e enaltece os prédios que a emolduram. É no conjunto dos espaços que fazem parte do Paço Municipal, dentre eles a Praça, cujos monumentos e vegetação dão identidade e podem contar a história do lugar e a sua pujança. OS PAÇOS MUNICIPAIS DA MICRROREGIÃO DO VALE DO JAGUARI Esta pesquisa abrange os municípios que compõe a Microrregião do Vale do Jaguari, dentre eles estão: São Vicente do Sul, Jaguari, Santiago, São Francisco de Assis, Cacequi, Mata, Nova Esperança do Sul, Unistalda e Capão do Cipó, conforme ilustração abaixo. Após a descoberta da América, houve interesse pelos descobridores de povoar e tomar posse destas terras. Foi neste período que foram elaboradas as leis destinadas a ordenar as novas cidades, vilas e povoados que iam se formando. O livro “Origem e evolução das cidades rio-grandenses” de Günter Weimer relata exatamente como eram essas leis: Entre a praça maior e o templo se edifiquem as Casas Reais, a Prefeitura, o Conselho, a Alfândega e o Arsenal em tal distância que enfatizem o templo e não o obstruam...(WEIMER, 2004). Dentre as cidades pesquisadas, a mais antiga é São Vicente do Sul, que conforme o trabalho de pesquisa científica PIIC-URI sobre a “Evolução Urbana dos Municípios da Região do Vale do Jaguari - RS”, feito por Lúcio Flávio Gross Freitas (2006) relata que o Paço Municipal de São Vicente do Sul teve seus espaços determinados pelo formato jesuítico onde assim descreve: A formação do núcleo da cidade com a praça central e localização da igreja defronte a mesma, estão ambas no mesmo local desde seu surgimento. À direita da igreja existe atualmente uma casa no local do antigo cemitério jesuíta e à esquerda também existe uma casa que foi edificada no local onde teria sido a casa dos padres”. (FREITAS, 2006). Embora a cidade de São Vicente do Sul tenha influência no traçado jesuítico, esta segue o padrão europeu de colonização, já que os índios foram catequizados pelos jesuítas espanhóis. Vivências. Vol.5, N.7: p.107-111, Maio/2009 109 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Freitas fala também, que São Vicente herdou de seus fundadores a marcação regular das ruas centrais onde se concentra o Paço Municipal, e que tem sua data de criação no ano de 1876. A cidade de Jaguari colonizada principalmente por italianos, em 1888 recebeu as primeiras famílias de imigrantes, e pouco tempo depois foi fundada a Colônia Jaguari. O local foi se desenvolvendo, mas foi a partir da implantação da RFFSA que a sede urbana se consolidou. Já Santiago, começa a despontar no período das Missões Jesuíticas, servia de caminho principal de passagem, tanto de pessoas que vinham ou iam para as missões, como também de tropas de gado, estabelecendo a partir daí, o sitio urbano que posteriormente formou o Paço Municipal. Outra cidade a ser descrita, é São Francisco de Assis, que teve sua origem na Sesmaria do Itajurú doada pela Corte para a finalidade da implantação da vila. Abaixo se pode constatar tal fato conforme relatado por Hugo, Iolete e Renato (1984): Tratados vários delimitaram os direitos e as posses. Tordesilhas, Madrid, Santo Ildefonso até o advento da guerra guaranítica que aos poucos delimitou as fronteiras. Corria o ano de 1801, Guerras de fronteiras se digladiavam pelo mundo afora, e, nesse mesmo ano Vitor Nogueira da Silva, na tomada das Missões, fazia parte da tropa de Manoel dos Santos Pedroso, Ribeiro de Almeida e mais uns, numa refrega com seu piquete de 14 homens, armou uma emboscada a 200 espanhóis e os desbaratou. Em recompensa, Vitor Nogueira da Silva recebeu a Sesmaria do Itajurú, com a cláusula de meia légua quadrada, ficar reservada para o posterior desenvolvimento do Forte de São Francisco de Assis, já instalado à margem direita do Inhacundá. Foi a partir daí que a malha urbana de foi se formando conforme eram recomendadas na época pelo Império para as novas vilas: uma praça, ruas retas e alinhadas a partir da praça, onde estariam instalados a Casa de Câmara, a Cadeia, o poder Executivo e o Legislativo. Os lotes foram sendo doados à medida da demanda de habitantes que na Vila de São Francisco de Assis iam se instalar. A cidade de Cacequi foi inicialmente povoada por indígenas, assim como as outras cidades da região. Mas foi no final do século XIX (1890), com a construção da rede ferroviária (RFFSA), que Cacequi se desenvolveu, incrementando sua economia e realizando importante função no transporte de mercadorias e de passageiros. A Sede do Paço Municipal está localizada no alinhamento de uma esquina, sem recuos frontais, e distante da praça e da igreja. O município de Mata teve como seus primeiros colonizadores, um casal procedente do Estado de Pernambuco, a mando do Governo Imperial no ano de 1836. Estes se instalaram longe da atual Sede do município. Assim como Cacequi, foi a partir da estrada de ferro (RFFSA) que o Paço Municipal teve seu inicio. Como o sitio urbano de Mata é acidentado, a topografia influiu no traçado da Rede Ferroviária, e conseqüentemente na malha urbana da cidade. E, como Cacequi, a Sede do Paço Municipal está localizada no alinhamento de uma esquina, sem recuos frontais, e distante da praça e da igreja. O município de Nova Esperança do Sul surge a partir de 1860 com a chegada de imigrantes italianos e a instalação posterior de um curtume. Estes, ao se estabelecerem, preocuparam-se em demarcar a praça central e a igreja (defronte a mesma). A partir deste momento as residências e casas de comercio foram sendo dispostas ao seu redor, configurando desta forma as ruas da cidade. Unistalda a partir de 1935 formou seu sitio urbano com a construção da Estação Férrea. Foi ao longo da ferrovia (RFFSA) que um pequeno núcleo se desenvolveu, formando a cidade. Devido à estação estar localizada em um trecho linear da estrada de ferro, hoje se tem em uma malha urbana regular. Dos nove municípios que hoje compõe a Microrregião do Vale do Jaguari, Capão do Cipó é o mais recente, desmembrando-se em 1996. O sitio urbano se desenvolveu em volta do silo da Cooperativa Santiaguense. Favorecido pelo solo e topografia, este pequeno núcleo, calcou seu desenvolvimento nas atividades agrícolas. Schwertner, A. e Haerter, C. 110 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Desta forma sucinta, relatamos o que de mais importante ocorreu na criação e modificação destes espaços. A abrangência do trabalho consiste em buscar não só o que aconteceu nestes locais em um período de tempo no passado, mas também como se reflete nos dias de hoje. Faz-nos perceber também que a configuração do presente influenciará o futuro destes espaços e a rotina das pessoas que neles vivem. E, como popularmente se diz: “Um povo sem história é um povo sem memória!” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSTANTINO, Núncia Santoro de. Santiago-RS; da concepção à maturidade em compasso brasileiro. Porto Alegre, Martins Livreiro Editora, 1984. FREITAS, Lucio Flavio Gross. Evolução Urbana dos municípios da Região do Vale do Jaguari-RS. Pesquisa de Iniciação Científica PIIC-URI 2006. MARCHIORI, José Newton Cardoso. Esboço histórico de Jaguari. Santa Maria: Palloti, 1999. POZO, Guirahy. Um pouco da história de Santiago. 2° edição. Prêmio Grupo Gerdau. 1982. PRODETUR – Centro Oeste. Plano Diretor de Turismo: Caminho das Origens. Org PATRUCCO, Luis Gustavo; VIGO, Maria Alda; VITORIA, Lauro Severo; PAULUS, Beatris e HARTMANN, Cíntia Borges. Nova Esperança do Sul. 1998. SÃO FRANCISCO DE ASSIS. Publicação alusiva ao Centenário de Emancipação de São Francisco de Assis 1884-1984. Organizado por HARTMANN, Hugo; TOUREN, Renato Paiva; GIROTTO, Iolete de Fátima. São Francisco de Assis, 1984. WEIMER, Günter. Origem e evolução das cidades rio-grandenses. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2004. SITES CONSULTADOS http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=Paço http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=municipal&CP=115368&typeToSearchRadio=exactly&pagRadio=10 Recebido em abril de 2009 e aprovado em maio de 2009. Vivências. Vol.5, N.7: p.107-111, Maio/2009 111