Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Grazielly Vieira Cintra – [email protected] MBA Engenharia Sanitária e Ambiental Instituto de Pós-Graduação - IPOG Goiânia, GO, 06 de agosto de 2013. Resumo Este artigo trata-se de um estudo sobre os procedimentos utilizados como medidas de controle ambiental durante o processamento de pescados e beneficiemento de subprodutos de do frigorífico Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda, localizado no município de Quirinópolis – GO. Em virtude do grande desperdício durante o processamento de pescados, há a possibilidade de reaproveitamento dos subprodutos como uma alternativa para minimizar a quantidade de resíduos descartados, bem como a viabilidade de utilização das águas residuárias/efluente como fonte de irrigação, de maneira a buscar meios de produção mais sustentáveis? O presente trabalho tem como objetivo descrever as práticas de tratamento de efluentes e os métodos utilizados como fonte de reaproveitamento para os residuos de pescados. A metodologia utilizada neste trabalho teve como base a pesquisa bibliográfica, entrevista com os proprietários, registro fotográfico, levantamento de dados in loco e consequentemente análise e processamento de todas as informações coletadas. Os resultados encontrados indicam que os sistemas de tratamento, tanto de resíduos sólidos como de efluentes industriais atingem a eficiência esperada e atedem as legislações pertinentes. O presente trabalho evidenciou que as formas de tratamento realizadas no empreendimento concilia produção lucrativa, conservação do meio ambiente e desenvolvimento social. Palavras-chave: Frigorífico. Processamento. Resíduos. Efluentes. Tratamento. 1. Introdução De acordo com dados do Ministério da Pesca, através do Boletim Estatístico da Pesca e Aqüicultura, o Consumo Per Capita Aparente (CPA) de pescado no país tem crescido gradativamente anualmente. Os dados começaram a mudar a partir de 2005 quando o consumo nacional per capita anual passou de 6,66 quilos, para 9,75 Kg/hab./ano em 2010. Desse total, 66% do pescado consumido são produzidos no Brasil através da aqüicultura, a qual está presente na maioria dos estados brasileiros, e é hoje uma das atividades que merecem destaques com relação ao crescimento no Brasil, sobretudo na maricultura e piscicultura de água doce. Dentro desse panorama, de desenvolvimento de produção aqüícola aparecem oportunidades para atuação das indústrias de processamento e beneficiamento de pescados: ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 frigoríficos e entrepostos de abate. Uma vez em expansão, várias áreas relacionadas à produção de pescado são necessárias para o desenvolvimento sustentável de toda cadeia produtiva. Neste contexto, o processamento se torna uma peça fundamental para o desenvolvimento desta cadeia, sendo que, grande parte das empresas tem focado sua comercialização somente na produção de filé resfriados ou congelados e estes representam cerca 30% da produção deixando de aproveitar os resíduos gerados. Dessa maneira, a maioria das plantas processadoras de tilápia o rendimento do filé está em torno de 30%, considerando o peixe inteiro (SHOEMAKER, 1986; TACHIBANA, 2002). Durante o processamento dos pescados o rendimento de carcaça dos peixes varia em função de alguns fatores como: espécie, tamanho de abate, sexo, tipo de corte, época de abate, eficiência dos funcionários, dentre outros. Há pouco aproveitamento da carne comestível e um índice alto de desperdício de resíduos recuperáveis, que são predominantemente vísceras, cabeças, ossos, pele e escamas, os quais poderiam estar sendo utilizada como silagem, farinha de peixe ou fertilizante. No entanto, a maioria das empresas do gênero de processamento alimentício acabam descartando esses subprodutos de forma irracional, o que acaba resultando em poluição ambiental e perda de subprodutos que agregariam valor à produção. Nesse cenário, o empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda, localizado na Fazenda Sete Lagoas, município de Quirinópolis, microrregião sul do Estado de Goiás, é responsável pelo abate e processamento de pescados produzidos na própria região, com a produção média em torno de 40 ton/mês. A empresa tem buscado soluções alternativas na tentativa de reaproveitamento dos subprodutos e redução da quantidade de materiais descartados, e consequentemente mitigando os impactos ambientais de forma a conciliar produção com sustentabilidade. Diante desses fatos, este trabalho objetiva descrever os procedimentos realizados no empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda durante o processamento/beneficiamento do pescado, bem como apresentar os procedimentos realizados no sistema de tratamento de águas residuárias e tratamento de resíduos, através de um plano de controle e monitoramento ambiental executado no empreendimento. 2. Abate, Processamento e Quantidade de Resíduos Gerados A empresa Kipeixe iniciou suas atividades no ano de 2008 e possui como atividade econômica principal o comércio, preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado, compreendendo a preparação de peixes, frigorificados ou congelados e a preparação de conservas de peixes. A matéria-prima principal consiste principalmente em pescados: tilápias (Oreochromis niloticus), tambacús (cruzamento da fêmea Colossoma macropomum com o macho Piaractus mesopotamicus) e pintados (Pseudoplatystoma corruscans). Estes peixes são provenientes da produção aqüícola de tanques-rede e tanques escavados convencional localizados em propriedades rurais da região. Atualmente, o empreendimento opera cinco dias por semana e abate 2 ton/dia, sendo o processamento distribuído basicamente da seguinte forma. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 Espécies Tipo de produto beneficiado Dias da semana de abate de cada espécie Quantidade abatida de cada espécie (kg) Tilápia Filé 4 dias 8.000 kg Tambacú Costelinha Meio dia 1.300 kg Pintado Postas Meio dia 700 kg Tabela 1 – Quantidade de pescado abatido por espécie por semana Fonte: Kipeixe (2013) Para o processamento dos pescados, inicialmente a matéria-prima passa pelo tanque de depuração por um período de aproximadamente 24 horas. A finalidade desta etapa é eliminar os sabores e odores desagradáveis do peixe. Após a depuração o pescado segue para o abate, o qual é realizado através de choque térmico. Os pescados são colocados em tanques de hipotermia com água potável totalmente resfriada e mantidos neste local até a insensibilização. Após a insensibilização os animais são encaminhados para o local da sangria, de onde são despachados para o setor da evisceração. A sala de evisceração é o local onde ocorre a retirada das escamas/couro, cabeça, nadadeiras e remoção das vísceras dos pescados. Posteriormente, após a remoção das vísceras é realizada uma lavagem final para remoção dos resíduos aderidos ao pescado. Somente depois de eviscerado, lavado e decapitado, que o pescado é encaminhado para o beneficiamento. A fase de beneficiamento consiste em preparar o pescado, gerando produtos comestíveis aptos para comercialização. Os principais são: files de tilápia, costelinha de tambacú e postas de pintado. Durante a produção de resíduos de frigorífico processadores de peixe, principalmente da indústria de filetagem de tilápias representa, segundo Boscolo et al., (2001), entre 62,5 e 66,5% da matéria-prima. Caracteriza-se por resíduo a cabeça, as nadadeiras, pele, escamas e vísceras que, dependendo da espécie, pode chegar a 66% em relação ao peso total (CONTERAS-GUZMÁN, 1994). Para a tilápia, a cabeça, carcaça e vísceras constituem 54% dos resíduos, a pele 10%, escamas 1% e as aparas dorsais e ventrais e do corte em “v” do filé, 5% (VIDOTTI e BORINI, 2006). No frigorífico estudado, a produção de resíduos se configura da seguinte forma: Espécies Quantidade aproveitamento direto Quantidade de subprodutos gerados (kg) Quantidade de resíduo “descartado” (kg) Composteira Silagem Tilápia 40% 4.800kg 1.500 kg 3.300kg Tambacú 70% 390kg 120 kg 270kg Pintado 75% 175kg 60 kg 115kg ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 Tabela 2 – Produção de resíduos gerados durante o processamento de pescados por semana Fonte: Kipeixe (2013) Para o processamento de pescados é gerando uma grande quantidade de resíduos, sendo a tilápia responsável pela produção de cerca de 60% de resíduos. Para as demais espécies o indície de desperdício é bem inferior, conforme tabela acima. Figura 1 – Descartes de resíduos para compostagem Fonte: CINTRA (2012) Assim faz-se necessário o emprego de técnicas de tratamento para reaproveitamento desses subprodutos e até mesmo descarte adequado para os resíduos, além do tratamento de efluentes, de maneira a minimizar os impactos gerados no meio ambiente. 3. Etapas de Tratamento Devido a grande quantidade de resíduos gerados durante as fases de processamento dos pescados, além do significativo volume de efluente líquido (cerca de 16m³/dia), proveniente dos processos de beneficiamento dos pescados. Tendo em vista que estes efluentes apresentam matéria orgânica, gordura e elevada concentração de nitrogênio, faz se obrigatório seu tratamento antecedente ao descarte, sendo de vital necessidade a operacionalização de um sistema eficiente para tratamento das águas residuárias e também a destinação correta para os subprodutos. Dessa forma, diversas tecnologias têm surgido com possíveis utilizações dos resíduos como fontes alimentares, transformando-os em produtos nutritivos e com boa aceitação no mercado. Para os resíduos produzidos por esta categoria de empreendimento existem diversas formas de aproveitamento, algumas já estão sendo utilizadas na indústria de processamento, outras ainda são pouco utilizadas. As diferentes formas de se aproveitar o resíduo está diretamente relacionada com a quantidade que é gerada. No empreendimento em questão, o sistema de controle de poluição é dividido em duas categorias: tratamento de efluente, o qual compreende as águas residuárias provenientes de lavagem e processamento dos pescados e o tratamento de resíduos, que compreende os ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 resíduos descartados das partes que não forão aproveitadas pela indústria alimentícia, tais como: escamas, pele, vísceras, cabeça, nadadeiras, etc. O sistema de tratamento das águas resíduárias do frigorífico geradas no processamento dos peixes (sangria, evisceração, esfola, filetagem, entre outros) é composto pelas etapas de Tratamento Preliminar: Gradeamento, Caixa de Gordura e Tratamento Secundário: Lagoa de Estabilização e Lagoa de Aeração. As etapas do processo de tratamento de efluente ocorrem conforme figura a seguir. Etapas do Processo de Tratamento Processamento: Geração de Subprodutos Gradeamento Tratamento Preliminar Caixa de Gordura Lagoa de Estabilização Tratamento Secundário Biológico Lagoa Aeração Irrigação Figura 2 – Fluxograma do sistema de tratamento de águas residuárias do frigorífico Kipeixe Fonte: CINTRA (2013) 3.1. Tratamento de Águas Residuárias A primeira etapa de tratamento do frigorífico é constituída pelo tratamento preliminar com gradeamento, no qual ocorre a remoção sólidos suspensos, areias, escamas e pequenos pedaços de peixes, que se desviaram durante a coleta para os recipientes de descartes para encaminhamento na produção de silagem ou compostagem. Segundo Giordano (2004) o tratamento preliminar tem como objetivo a remoção de sólidos grosseiros capazes de causar entupimentos e aspecto desagradável nas unidades do sistema de tratamento são utilizadas grades mecânicas ou de limpeza manual. O espaçamento entre as barras varia normalmente entre 0,5 e 2 cm. De acordo Sperling (2005) o tratamento preliminar destina-se à remoção de: sólidos grosseiros e areia e as principais finalidades da remoção dos sólidos grosseiros são: proteção dos dispostivitos de transporte (bombas e tubulações), proteção da unidades de tratamento subseqüentes e proteção dos corpos receptores. Já as finalidades da remoção da areia são: ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 evitar abrasão nos equipamentos e tubulações, eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações, tanques, orifícios, sifões, etc e também de facilitar o transporte do líquido em suas diversas fases. Seguida da etapa de gradeamento, tem-se a caixa de gordura, a qual tem a função de remover objetos maiores contidos na água servida e excesso de graxas e gorduras. Segundo Dezotti et al (2008), as caixas de gorduras estão presentes em alguns sistemas de tratamento, estas consistem em tanques de retenção de materiais flutuantes destinados à remoção de gorduras, óleos e graxas, além de outras substâncias com densidade menor do que a água. O dimensionamento do sistema de tratamento se baseia na atual quantidade de abate semanal (10 ton/semana), e no provável crescimento desta demanda em função do aumento das melhorias das condições de uso, que atenderão aos padrões exigidos pelas normas vigentes. O projeto, além dos aspectos técnicos, visa também compatibilizar tais aspectos com a realidade econômica do município. A construção do frigorífico segue as orientações da Agência Goiana de Defesa Agropecuária - Agrodefesa do Estado de Goiás, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA e também do órgão ambiental do Estado – SEMARH/GO responsável pela fiscalização e emissão da licença ambiental. A segunda etapa é composta pelo tratamento secundário, de ordem biológica, no qual todo efluente industrial, após passar pelo gradeamento e caixa de gordura é conduzido através de tubulação e canaletas para a primeira lagoa de estabilização – Lagoa de Facultativa. Estas são lagoas de estabilização especialmente projetadas, construídas com a finalidade de tratar os efluentes (SPERLING, 2005) Para Sperling (2005), o objetivo do tratamento secundário é a remoção da matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e matéria orgânica em suspensão (DBO suspensa). A vazão do efluente industrial está diretamente relacionada com o tempo de funcionamento de cada linha de produção e com as características do processo, da matériaprima (diferentes tipos de pescados: tilápias, tambacus ou pintados) e dos equipamentos, podendo ser constante ou bastante variada, em média o consumo de água em dias de processamento é de 20m³/dia. Os tratamentos biológicos de esgotos e efluentes industriais têm como objetivo remover a matéria orgânica dissolvida e em suspensão, através da transformação desta em sólidos sedimentáveis (flocos biológicos), ou gases (RAMALHO, 1991). Os produtos formados devem ser mais estáveis, tendo os esgotos ou efluentes industriais tratados um aspecto mais claro, e significativa redução da presença de microorganismos e menor concentração de matéria orgânica. Esta etapa de tratamento tem como princípio utilizar a matéria orgânica dissolvida ou em suspensão como substrato para microorganismos tais como bactérias, fungos e protozoários, que a transformam em gases, água e novos microorganismos. A análise das características dos efluentes de frigorífico pode ser uma tarefa mais complicada do que se pensa, pois depende muito da situação operacional de cada estabelecimento. De acordo com BRAILE e CAVALACANTI (1995), os despejos de matadouros e frigoríficos têm grande carga de sólidos em suspensão, nutrientes, material ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 flotável, graxos, sólidos sedimentáveis e uma DBO que fica entre 800 e 32.000 mgL-1 , que podem variar em função dos cuidados na operação e com o reaproveitamento da matéria. Entretanto, a melhor alternativa para realizar esse tipo de tratamento são as lagoas de estabilização. Essas que por sua vez, são unidades especialmente construídas com a finalidade de tratar as águas residuárias por meios predominantemente biológicos, isto é por ação de microrganismos naturalmente presentes no meio. No Frigorífico Kipeixe a lagoa de estabilização possui volume total de 70m³ (comprimento: 10m, largura: 3,5m e profundidade: 2m), com tempo de detenção de 3 dias. Esta lagoa é impermeabilizada com manta PEAD e com uma camada de massa concretada, constituí a primeira etapa do Tratamento Secundário – Lagoa Facultativa. Figura 3 – Lagoa de Estabilização - Facultativa Fonte: CINTRA (2013) Após o período de três dias de detenção na lagoa facultativa, a água pré-tratada segue para a lagoa de aeração, permanecendo por mais oito horas com estimulação de aerador, onde ocorre o tratamento biológico, sendo acrescidas a presença de bactérias facultativas (tratamento probiótico). Esta lagoa de aeração possui 600m³ de volume total, com vazão de 20m³/dia. Figura 4 – Lagoa de Aeração Fonte: CINTRA (201 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 As bactérias facultativas (Nitrossomonas, Nitrobacters e Bacilos) auxiliam na mineralização da matéria orgânica em compostos inorgânicos que são aproveitados pelas microalgas durante o ciclo produtivo. Desta forma, leva a melhoria da qualidade da água. Sperling (2005), observa que na lagoa facultativa o oxigênio é adivindo principalmente da fotossintese, no caso da lagoa aerada o oxigêncio é obtido através de equipamentos denominados aeradores. Os aeradores mecânicos são unidades de eixo vertical que, causam um grande turbilhonamento na água, que propicia a penetração do oxigênio atmosférico na massa líquida onde ele se dissolve, o que permite a decomposição da matéria orgância mais rapidamente (SPERLING 2005). Na empresa Kipeixe, após o período de detenção de oito horas, a água tratada segue para a irrigação de árvores frutíferas, através de queda gravitacional. A área irrigada possui a área total de 1.600m² (40m x 40m), com 240 mudas plantadas, sendo que 23 espécies são frutíferas nativas do cerrado. O plantio foi realizado durante o segundo semestre do ano de 2012 e as mudas tem mostrado adaptação ao local, sendo que algumas espécies já estão produzindo frutos e outras estão em floração. Figura 5 – Árvores frutíferas - Irrigação Fonte: CINTRA (2013) Para monitoramento da área irrigada o empreendimento deve apresentar análise completa do solo conforme determina a licença ambiental emitida pela SEMARH. Além da análise do solo deve-se monitorar periódicamente o tratamento de efluente, sendo que a última análise de efluente realizada, o efluente bruto coletado na entrada do sistema apresentou DBO 240 mg/LO2, DBO 460,6 mg/LO2, Nitrato 2,8 mg/LNO3 e Ph 6,72 e após o efluente tratado coletado na sáida do sitema, obteve-se a redução desses parâmentro, tendo: DBO 60 mg/LO2, DQO 141,6 mg/LO2, Nitrato 1,7 mg/LNO3 e Ph 5,75. (Resultado de análise de efluente – Aqualit Tecnologia em Saneamento – 2012, empresa acreditada pela ISO 17025). Sendo a lagoa de aeração responsável pela última etapa do tratamento de efluentes. Após tratado é utilizado para irrigação. 3.2. Tratamento de Subprodutos e Resíduos ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 3.2.1. Silagem No frigorífico durante o processamento dos pescados os resíduos sólidos (subprodutos) gerados são encaminhados para a silagem ou diretamente para a composteira. Para a silagem é utilizado, os subprodutos, escamas, ossos, nadadeiras, couro/pele, pedaços de carnes, entre outros e para a composteira é direcionado todo o material de descarte como víscera, tripas, etc. Por ser a tilápia a espécie de maior quantidade abatida no empreendimento, os descartes podem chegar a 60% da produção total diária. Dessa forma, o aproveitamento do material residual deve ser reaproveitado na tentativa de aumentar a renda da produção, além de sanar o grande problema de eliminação de resíduos, matéria poluente e de difícil descarte, traz vantagens econômicas para a indústria. Para Arruda (2002) os resíduos da industrialização do pescado podem ser dirigidos para vários tipos de aproveitamento e divididos em quatro categorias: alimentos para consumo humano, ração para animais, fertilizantes e produtos químicos. A silagem de peixe é um produto líquido com alta digestibilidade e rico em aminoácidos livres. Existem basicamente dois métodos de produção: a silagem química em que são adicionados ácidos aos resíduos e a silagem fermentada obtida pela ação de bactérias láticas, produtoras de ácido lático, através da degradação da biomassa por enzimas e microorganismos. Para Vidotti et al. (2002), o processo de produção de silagem é acessível em pequena escala, mostrando potencial e viabilidade para a utilização em dietas para organismos aquáticos, uma vez que não há necessidade de equipamentos de alto custo. No frigorífico, os empreendedores processam a silagem através da fermentação bacteriológica, e posteriormente este produto (70% do volume) é somado a cerca de mais 30% de um mix de cereais (farelo, soja, milho, etc). O produto final é considerado como uma fonte de proteína para ser incorporado na ração animal. Figura 6 – Silagerm pronta para ser trasnsformada em ração animal Fonte: CINTRA (2013) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 3.2.2. Compostagem Define-se compostagem como um processo biológico, aeróbio, controlado, por meio do qual se consegue a humificação do material orgânico obtendo-se, como produto final, o composto orgânico. O processo de compostagem é desenvolvido em duas fases distintas, em que na primeira ocorre a degradação ativa e, na segunda, maturação (humificação) do material orgânico, ocasião em que é produzido o composto propriamente dito (MATOS et al., 1998). Para Prosab (1999) a compostagem é uma técnica muito antiga usada como alternativa de destino para resíduos facilmente biodegradáveis, sendo assim um processo que emprega processos químicos, físicos e biológicos no qual, organismos, como bactérias e fungos, degradam a matéria orgânica, estabilizando-as. O processo de compostagem instalado do empreendimento tem proporcionado diversas vantagens, principalmente se comparada a outras metodologias de tratamento de resíduos. As principais vantagens do processo de compostagem executado no frigórifico são: evita a poluição ambiental, fornece adubo de alta qualidade, melhora a qualidade de vida dentro da propriedade, custo baixo para funcionamento do projeto de compostgem, evita a propagação de insetos e odores desagradáveis, é um processo que pode ser feito de acordo com o porte da propriedade e produção e o processo é independente de equipamentos mecânicos, energia elétrica ou combustível. No frigorífico a compostagem é realizada com cerca de 31,30% do produto total diário, sendo composta pelo material que seria diretamente descartado sem aproveitamento, ou seja vísceras tripas, etc. Figura 7 – Composteira com adubo orgânico curtido. Fonte: CINTRA (2013) Juntamente aos resíduos é adicionado um substrato composto por terra e maravalha (serragem), o que permite uma melhor relação entre carbono e nitrogênio, favorecendo o processo de decomposição. A composteira é umedecida diariamente com água dos tanques de depuração, para acelerar o processo de compostagem por conter microorganismos benéficos e também evitar o consumo de outro fonte de recurso hídrico. Os empreendedores monitoram o tempo de compostagem, de acordo com a ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 temperatura do ambiente, o prazo para o curtimento do composto pode variar de 90 a 120 dias, até que os ossos maiores (carcaças) estejam totalmente decompostos. Gradativamente, quando as células da composteira vão sendo abertas, após o curtimento, o composto orgânico é espalhado sobre áreas de pastagem da propriedade. 4. Procedimentos Metodológicos A metodologia utilizada para o desenvolvimento do estudo teve como base a pesquisa bibliográfica específica, sites especializados, entrevista verbal com os proprietários, registro fotográfico, levantamento de dados in loco e consequentemente análise e processamento de todas as informações coletadas. Os trabalhos de campo foram realizado em seis etapas, através de visita para registro fotográfico e levantamento de dados, durante uma vez por mês nos meses de novembro e dezembro/2012 e janeiro, fevereiro, março, abril e maio de 2013. Também foram realizadas consulta aos resultados de análise de água de efluente bruto e efluente tratado, o qual foi realizado pela empresa Aqualit Tecnologia em Saneamento de Goiânia (empresa acreditada pela ISO 17025), bem como acesso a licença ambiental – Licença de Funcionamento 1048/2013 – SEMARH. Os parâmetros adotados para verificação da eficiência do sistema de controle de poluição foram selecionados atraves de leis ambientais vigitentes estabelecidas para aquisição da licença ambiental, e principalmente seguindo os parâmetros estabelecidos pelo CONAMA, através da Resolução nº 357/ 2005, a qual dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como Resolução nº 430/2011, que estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. 5. Resultados Os dados coletados mostraram que, do valor total de resíduos gerados,5.365 kg/semana (100%), incluindo o descarte dos subprodutos, é correspondente a variação do abate por espécie, sendo: 89,5% de tilápia, 7,30% de tambacú e 3,20% de pintado. Sendo que o produto final pós-tratamento corresponde a 31,30% de adubo orgânico pelo processo de compostagem e 68,70% de silo produzido para ser agregado a outros componentes para a fabricação de ração animal. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 Resíduos gerados/semana 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Resíduos gerados/semana Figura 8 – Geração de resíduos de acordo com as espécies processadas Fonte: CINTRA (2013) Tratamento de Resíduos Gerados no Processamento de Pescados - kipeixe 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Tratamento Resíduos/seman a Figura 9 – Tratamento de resíduos: silagem e compostagem Fonte: CINTRA (2013) Contudo, o tratamento de resísuos sólidos resultou no aproveitamento integral dos produtos de descarte provenientes do abate e processamento de peixes do frigorífico Kipeixe. Com relação as águas residuárias para o tratamento realizado comprovou-se a eficiência de remoção da DBO de 75%, sendo que os demais parâmetros atenderam as Resoluções nº 357/2005 e 430/2011 – CONAMA. Dessa forma, além do tratamento adequado dos resíduos gerados no processamento dos pescados, o empreendimento contribui com as questões ambientais, de maneira a conservar os recursos naturais: ar, água e solo, além da contribuição para geração de emprego, ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 através da sustentabilidade social, a qual está sendo aumentada em função das tecnologias que favorecem a criação de empregos diretos e indiretos. 6. Conclusão Com base nos resultados obtidos conclui-se que o sistema de tratamento de águas residuárias, que compreende as etapas de tratamento físico e tratamento biológico possui a eficiência desejada, pois mesmo que o efluente tratado não esteja sendo lançado diretamente em nenhum curso d’água, atende os padrões de lançamento ao corpo receptor classificado como Classe 2, estando de acordo com os padrões aceito pela legislação Resoluções CONAMA nº. 357/2005 e 430/2011, a qual dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Sobre a geração dos resíduos evidenciou-se que que o reaproveitamento dos subprodutos para silagem e tratamento dos resíduos para produção de adubo orgânico reduz de forma siginificativa os descartes inadequados desses produtos permitindo a redução de impactos no meio ambiente. 7. Referências ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: formatação de trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2002. Arruda, LF Borghesi, R.; Brum, A.; Regitano D'Arce, M.; Oetterer, M. Aspectos nutricionais da tilápia do Nilo ( Oreochromis niloticus ) da silagem. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.26, n.4, p.749-756, 2006. BOLETIM ESTATÍSTICO DA PESCA E AQUICULTURA Brasil 2010. Disponível em: http://www.mpa.gov.br/images/Docs/Informacoes_e_Estatisticas/Boletim%20Estat%C3%AD stico%20MPA%202010.pdf. Acessado di 15/06/2013. BOSCOLO, W.R.; FEINDEN, A. Industrialização de tilápias. Toledo: GFM. Gráfica & Editora, 2007. 272p. BRAILE, P.M., CAVALCANTI, J.E.W.A. Manual de águas residuárias. São Paulo: CETESB, 1995. CONTRERAS-GUZMÁN, E.S. Bioquímica de pescados e derivados. Jaboticabal: FUNEP, 1994. 409 p. CONAMA. Resoluções nº 357 de 2005 e nº 430 de 2011. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível em: www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf. Acessado dia 10/06/2013. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014 Tratamento de resíduos industriais provenientes do processamento de pescados do empreendimento Kipeixe Indústria e Comércio de Pescado Ltda Julho 2014 DEZOTTI, Marcia (coord.) et al. Processos e técnicas para o controle ambiental de efluentes líquidos. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 360p. GIORDANO. Gandhi. Tratamento e Controle de Efluentes Industriais. Rio de Janeiro, RJ, p. 5-6, 2004. Matos, A. T.; Vidigal, S. M.; Sediyama, M. A.; Garcia, N.C.P.C.; Ribeiro, M. F. Compostagem de alguns resíduos orgânicos, utilizando-se águas residuárias da suinocultura como fonte de nutrientes. 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