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Sêmen pode ajudar na preservação do lobo-guará
Cláudia Rezende
Repórter
Depois de cinco anos de tentativas, técnicos do Centro de Predadores (Cenap) do
Ibama e da organização não-governamental (ONG) Pró-Carnívoros conseguiram,
neste ano, coletar sêmen de lobos-guarás da Serra da Canastra, na Região CentroOeste de Minas Gerais. O material foi recolhido de animais que vivem dentro da
reserva ambiental. A meta dos pesquisadores é que, no ano que vem, seja possível
extrair material de maior número de espécimes, inclusive daqueles que estão fora da
área de proteção.
De acordo com o coordenador da pesquisa para conservação do lobo-guará, o
biólogo do Ibama e da ONG Rogério Cunha de Paula, mesmo em animais de
zoológico, a equipe não havia obtido êxito na coleta do material. ‘Não sabemos
porque não tínhamos conseguido antes. Se por causa do anestésico, da comida...
Mas fomos aperfeiçoando a técnica até conseguirmos‘, diz. O sêmen foi extraído de
três lobos e será congelado e analisado em laboratório. Não há data limite para
utilização em fertilização in vitro.
Uma nova coleta só poderá ser realizada daqui a um ano, porque os lobos-guarás só
se reproduzem entre março e maio. Segundo Rogério Cunha, o grupo vem
estudando a reprodução da espécie. ‘Procuramos saber se são ou não capazes de
copular, a fase de pré-reprodução, os impactos que o estresse gera nos animais‘,
informa. O biólogo explica que alterações emocionais podem interferir nas taxas
hormonais, prejudicando a reprodução e a produção de leite. A gestação da loba
dura 60 dias e, a cada cria, nascem, em média, dois filhotes.
Apesar da presença humana e da ameaça de extinção, os lobos-guarás da reserva
têm conseguido se reproduzir. No entanto, a partir deste ano, os técnicos começarão
a monitorar mais de perto o processo. Conforme Rogério Cunha, no ano passado, a
equipe perdeu de vista filhotes que estavam em tocas com as mães. Segundo ele,
não foi possível identificar a causa do desaparecimento dos animais, mas uma das
hipóteses que serão investigadas é a influência de doenças de bichos domésticos,
como a parvovirose, que ataca cães.
Uma das ações que a equipe acabou de iniciar foi a educação ambiental junto aos
moradores da região da Serra da Canastra para aceitação do lobo-guará. ‘Queremos
mostrar que ele não é um lobo mau. É um lobo bom. Um animal muito tímido e
manso‘, afirma. Ele garante que a espécie pode conviver ‘na porta‘ das casas sem
atacar os moradores. As atividades do grupo vão enfatizar a importância de se
construir galinheiros-modelos para evitar que os animais ataquem as aves. Segundo
Rogério Cunha, ainda é comum que fazendeiros matem os lobos por causa das
galinhas. Os galinheiros sugeridos pelos técnicos são mais reforçados e vedados.
A equipe distribuirá materiais impressos e irá de fazenda em fazenda para dar
explicações sobre o lobo-guará, tentando mudar a percepção sobre o bicho e
mostrando a sua função na natureza, como a de dispersar sementes. Além disso,
nas áreas rurais, serão exibidos filmes sobre a importância de se preservar a espécie
e o Cerrado. O projeto inclui, ainda, a produção de um livro de autoria da
comunidade, contando a percepção dos moradores sobre a região. A área de
abrangência da Serra da Canastra é um dos pontos onde mais existem lobos-guarás.
Dentro do parque, vivem cerca de cem animais. Três deles usam colar para
monitoramento via Global Position System (GPS), por satélite, para acompanhar os
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