ASSOCIAÇÃO FEMININA SANTISTA: A HISTÓRIA DE SUA INSTITUIÇÃO ESCOLAR (1930-1945). Maria Apparecida Franco Pereira e Magda Fernandes Garcia Ventura Mestrado Educação Unisantos - SP. Eixo temático: 8. Pesquisa, Educação, Memória e Patrimônio. Pôster Resumo: O objetivo principal da pesquisa é o conhecimento do desenvolvimento histórico e o pensamento educacional dessa instituição, fundada em 1902, e a influência e os reflexos do período getulista (1930 – 1945), em sua estrutura organizacional, tendo como conceito de análise o de cultura escolar na abordagem tríplice levantada por Escolano: cultura empírica, cultura propriamente científica da educação e cultura político-organizacional. Nessa perspectiva, observar-se-ão os cursos desenvolvidos pela instituição, a atuação de seu corpo dirigente feminino e as práticas educativas sob a direção dos princípios da Escola Nova, orientados pelo Código da Educação de São Paulo de 1933. A metodologia é a histórica e etnográfica e parte do levantamento de documentos de escrituração oficial como livros de matrículas, de atas de reuniões do corpo docente, de cópias de correspondência, de relatórios anuais da Diretoria, material iconográfico encontrados no bem organizado e conservado acervo da Escola. Por outro lado, outra fonte importante são as publicações do jornal A Tribuna, de Santos, pois a escola tinha muito prestígio na comunidade santista. Palavras chave: Liceu Feminino Santista; Atuação de mulheres na educação ; Práticas de Escola Nova. ASSOCIAÇÃO FEMNINA SANTISTA: A HISTÓRIA DE SUA INSTITUIÇÃO ESCOLAR (1930-1945). Maria Apparecida Franco Pereira e Magda Fernandes Garcia Ventura Mestrado Educação Unisantos,SP. Introdução: A história do Liceu Feminino Santista que pertenceu à Associação Feminina Santista, ressente-se de estudos historiográficos. A história dessa renomada instituição santista limita-se a pesquisas referentes ao período da 1ª República (1889 – 1930), desenvolvidos por M. Apparecida Franco Pereira, que atuou na escola durante trinta anos. . Dessa maneira, o presente projeto torna-se original ao pretender reconstituir a história do Liceu Santista dentro de um período tão emblemático que é o do governo de Getúlio Vargas. A Associação Feminina Santista (AFS) foi uma instituição que teve um grande destaque na sociedade santista, iniciando sua vida com o objetivo de ser vanguardeira na elevação da mulher no mundo da época (1902). A professora normalista Eunice Caldas (1879-1967) consegue reunir um grupo de senhoras da sociedade local e cria a Associação Instrutiva em Santos. Era uma tentativa de tirar da inércia as mulheres a respeito do ensino (CAPUTO, 2004). A AFS envolveu mulheres que se destacaram na instrução e na cultura da cidade, preocupando-se também com o crescimento de crianças dos estratos menos favorecidos economicamente. Começou como escola de preparação de professoras (o Liceu Feminino Santista) para atuar em suas escolas maternais para as crianças de menor condição social, na época muitas filhas de imigrantes. É em 1902, que surge, nos moldes correntes da época, a primeira grande instituição voltada fundamentalmente para a educação feminina, fundada e organizada por mulheres. E dentro do clima de modernização. É importante saber a evolução de uma entidade educacional que tem uma vida tão longa, já que o Liceu Santista está com 112 anos, embora desde 1977 a sua mantenedora inicial, a Associação Feminina Santista, tenha sido extinta, mas passando suas instituições à Mitra Diocesana de Santos, que encaminhou a sua administração para a Sociedade Visconde de São Leopoldo, que mantém também a Universidade Católica de Santos. Passaram pelo Liceu inúmeros professores, homes e mulheres presentes na vida da cidade, como Eunice Caldas, Robertina C. Simonsen, Adolfo Porchat de Assis, Arthur Assis, Tarquínio Silva, o pintor Benedicto Calixto, Aristóteles de Menezes, Zulmira Campos e o poeta Vicente de Carvalho. Professores do Liceu (1902) Fonte: Acervo da Escola. No período que estamos estudando. Zeny de Sá Goulart, uma das presidentes da Associação neste período getulista, é a primeira mulher vereadora da cidade. Zeny de Sá Goulart, como presidente da AFS. Fonte: web. Objetivos: O objetivo principal da pesquisa, portanto, é o conhecimento do desenvolvimento histórico e o pensamento educacional dessa instituição e as possíveis influências e reflexos do período getulista, em sua estrutura organizacional, uma vez que se quer focar o espaço temporal de 1930 – 1945 O estudo da realidade escolar do Liceu Santista no governo de Getúlio é importante, pois significa identificar uma ideologia que marcou a juventude santista. Assim estará se revelando um período muito importante da história do Liceu Santista. Desse modo, refletindo sobre o funcionamento interno da escola, pretendo fazer um estudo com o olhar voltado sobre a análise da cultura escolar. Reconstruir parte do passado dessa escola de acordo com as questões do presente será o objetivo do tema da pesquisa, tentando recuperar o sentido social da instituição. Para tal, busca-se: a) Elencar a organização e o corpo administrativo e docente do Liceu Santista; b) Estudar o tipo social de alunado que frequentou essas escolas da Associação Feminina Santista; c) Verificar a consecução dos seus objetivos iniciais de elevação e emancipação feminina, bem como do atendimento das crianças, no período indicado. d) Levantar aspectos de sua cultura escolar, entre elas as realizações e manifestações dessa instituição escolar, quer sejam atividades esportivas, desfiles cívicos, festas de formatura ou participação em campanhas. e) Conhecer as suas normas, o pensamento e as práticas escolares dos educadores e professores que militavam nessa escola. Portanto, algumas questões se colocam: Os objetivos iniciais da instituição ainda se colocam? Como a instituição vai se adaptando aos novos desafios da atualidade brasileira? Como o movimento da Escola Nova aí se desenvolve? Nota-se a interferência da nova política do governo Getúlio Vargas? Conceitos de análise: Inicialmente buscam-se os conceitos de cultura escolar, em Julia, Vinão Frago, e a tríplice dimensão da cultura da escola em Escolano. Até as décadas de 70 e 80, a pesquisa da história da educação atendia aos aspectos “sociais e econômicos externos do mundo acadêmico que condicionavam e explicavam suas configurações específicas”, a realidade interna era vista como produto dessas condições externas. Havia, portanto, um debate sobre políticas e práticas educativas e uma reprodução e consolidação dessa realidade escolar. A partir dessa época, a historiografia quebra um pouco o “mistério da caixa preta”. Um novo caminho começa a surgir com mais força para se entender o que acontecia na escola, não desconsiderando o documento oficial, ou seja, os atos institucionais formais e os do sistema educativo. Assim, a história da educação, pela via da cultura escolar, passou a prestar mais atenção a outras fontes alternativas como, por exemplo, os arquivos privados, cadernos escolares, a iconografia, discursos, fontes orais, arquitetura escolar etc. O autor chama a atenção para essas questões das investigações recentes que perpassam as relações interpessoais do cotidiano da escola. Seu texto cita a definição de Dominique Julia – “A cultura escolar como objeto histórico” - que vê a cultura escolar “como um conjunto de teorias, princípios ou critérios, normas e práticas sedimentadas ao longo do tempo no seio das instituições educativas” e se preocupa em estudá-las. Essa perspectiva na história da educação entra num momento em que os pesquisadores estão interessados em compreender essa “caixa preta da escola”, ou seja, aqueles processos internos próprios da instituição, onde “os atores” que fazem essa instituição atuam. O começo dos anos 90 é um período muito rico de produção nessa área. Portanto, o que se vivia no cotidiano da escola, a realidade escolar, os saberes que se produziam e reproduziam na escola, o currículo escolar, a avaliação do aprendizado, o significado do tempo, o calendário escolar, as disciplinas e a profissionalização docente passaram a ocupar lugar de destaque como objeto de estudo. Essa nova abordagem trazida pelos textos nos ajuda a enxergar esse espaço de disputa, de poder, não só pelo olhar macro, da norma, do legal, das políticas educativas, mas a partir do olhar interno da própria escola. No texto “Por una historia de la cultura escolar: enfoques, cuestiones, fuentes”(1998), Viñao Frago nos traz a ideia do que é pesquisar a cultura escolar e detalha essa busca na área da educação, facilitando uma análise histórica dessa cultura. É importante também a perspectiva de Escolano que entende a cultura da escola, em sua tríplice dimensão: Cultura empírica, ou seja, “aquela que os professores constroem no exercício de sua profissão”; Cultura científica, gerada nas academias de educação; cultura normativa produzida pelo discurso e as práticas de ordem político institucional (2005. p. 43-44). Diz Benito Escolano: La primeira de estas dimensiones de Lacultura escolar, a La empírica, es básicamente etnográfica y se objetiva em lós registros que Dan contenido a lós museus pedagógicos y centros de memoria de La educación, hoy em auge em todo El mundo, a juzgar por lãs múltiplas iniciativas que emergen a diário em lós entornos académicos y socioculturales vinculados a veces a proyectos de introducción de La hermenêutica histórica em lós procesos de cambio educativo); A cultura escolar científica é assim explicada por Escolano: La segunda perspectiva se plasma em lós textos científicos y en lós discursos que ensayan interpetaciones teóricas acerca de La escuela. Esta cultura se construye desde finales Del siglo pasado, em lós círculos intelectuales y acadêmicos em lós que se cultivan lãs llamadas ciências de La educación. Referenciando Barroso, 1996, Escolano enuncia o que entende pela terceira dimensão da cultura escolar La tercera, que da origen a uma teoria práctica de La escuela como organización, se configura em lós entornos administrativos y burocráticos que regulan y gestionan El funcionamiento de lós sistemas e instituciones em interacción com lós agentes y grupos que intervienen em La gestión de La realidad educativa. Metodologia: Será utilizada a metodologia histórica, que compreende a busca da bibliografia existente sobre a educação do período Vargas. As fontes para reconstruir esse passado histórico serão provenientes do arquivo existente na própria instituição, muito bem conservado, através das atas, relatórios das Diretorias, livros de matrículas e ofícios, álbuns de formatura e outros materiais iconográficos. A documentação da Associação Feminina Santista é o material mais fundamental da pesquisa na reconstituição da cultura escolar da Instituição Serão considerados também os impressos como, os periódicos de A Tribuna onde, poderemos investigar possível material iconográfico, discursos, formaturas e outras informações sobre os diversos cursos de época, que a instituição manteve. A abordagem qualitativa tem presente o enfoque etnográfico, pois serão interpretados os dados coletados através do enfoque cultural para a compreensão da realidade educacional da época. Menga e André, desejando caracterizar bem o uso da abordagem etnográfica em educação indicam alguns aspectos importantes que serviram de balizamento para esta pesquisa (MENGA e ANDRÉ, 1986, p.14): Wolcott chama a atenção para o fato de que o uso da etnografia em educação deve envolver uma preocupação em pensar o ensino e a aprendizagem dentro de u contexto cultural amplo. Da mesma maneira, as pesquisas sobre a escola não devem se restringir ao que se passa no âmbito da escola, mas sim relacionar o que é aprendido dentro e fora da escola. Algumas considerações iniciais conclusivas neste estudo: Desde a metade do século XIX, Santos é fundamentalmente cidade portuária e comercial que impulsiona transformações importantes não só no seu traçado urbano mas também na sua composição demográfica e social. O Liceu Feminino Santista foi organizado nessa cidade cujo desenvolvimento urbano, impulsionado pela riqueza do café trouxe muitas inovações como a ferrovia, a modernização do porto, o saneamento. A presença das mulheres dirigentes da Associação Feminina Santista pertencentes à elite econômica da cidade foi fator importante e que a experiência das dessas mulheres contou com o apoio de profissionais liberais, mentes ilustradas. Assim, ao final da República Velha, como está a cidade com suas elites atuando no Liceu Feminino Santista? Seu porto continua importante e as indústrias petrolíferas estão chegando à cidade vizinha do Cubatão. O prédio da Escola (1945). Acervo da Escola Durante o período getulista, o curso primário foi implantado (1936) e em 1937 iniciou-se o ginasial. A Escola Normal (1902) que não era reconhecida em nível estadual foi interrompida em 1939; em 1962, volta a funcionar, agora reconhecida estadualmente. Houve também cursos livres de pintura e piano, além do Comercial, que teve pouca duração (de 1934 a 1936). BIBLIOGRAFIA INICIAL: ALVES, Gilberto L. Em busca da historicidade das práticas escolares. In: NASCIMENTO, Maria I. M. et al. Instituições Escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2007. BUFFA, Ester e NOSELLA, Paolo. Instituições Escolares: por que e como pesquisar. Campinas, São Paulo: Alínea, 2009. CAPUTO, Melissa Mendes Serrão. O “Espírito Feminino” de Eunice Caldas. 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