Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Sociais e Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado
Fábio Rogério Rodrigues Gomes
Cartografia Lingüística e Educação na
Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala
na/da Microrregião Marabá/Pará
Belém
2007
2121
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Fábio Rogério Rodrigues Gomes
Metropolitana
De Belém
Baixo Amazonas
Marajó
Nordete
Paraense
Sudoeste Paraense
Belém
2007
Sudeste Paraense
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2222
Fábio Rogério Rodrigues Gomes
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Educação, Linha de Pesquisa Saberes Culturais e Educação
na Amazônia e Área de Concentração em Identidade e
Diversidade Lingüística e Educação na Amazônia, do Centro
de Ciências Sociais e Educação, da Universidade do Estado
do Pará, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Educação, orientada pela Profª. Dr. Maria do
Perpétuo Socorro Cardoso da Silva.
Belém
2007
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2323
Dados Internacionais de catalogação na publicação
Biblioteca do Centro de Ciências Sociais e Educação da UEPA
G633c Gomes, Fábio Rogério Rodrigues
Cartografia lingüística e educação na Amazônia: um estudo semânticolexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará / Fábio Rogério Rodrigues
Gomes; Orientador, Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva - 2007.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará,
Belém, 2007.
1. Lingüística 2. Sociolingüística 3. Semântica I.Título.
CDD: 21 ed. 410
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2424
Fábio Rogério Rodrigues Gomes
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo
semântico-lexical da fala na/da Microrregião Marabá/Pará
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Educação, Linha de Pesquisa Saberes Culturais e Educação
na Amazônia e Área de Concentração em Identidade e
Diversidade Lingüística e Educação na Amazônia, do Centro
de Ciências Sociais e Educação, da Universidade do Estado
do Pará, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Educação, orientada pela Profª. Dr. Maria do
Perpétuo Socorro Cardoso da Silva.
Data de aprovação: 08/08/2007
Banca Examinadora:
___________________________________________ (Orientadora)
Profª. Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva
Dr. em Semiótica e Lingüística Geral
Universidade do Estado do Pará
___________________________________________ (Membro externo)
Profa. Laura Maria Silva Araújo Alves
Dr. em Educação
Universidade Federal do Pará
___________________________________________ (Membro interno)
Profª. Denise de Souza Simões Rodrigues
Dr. em Sociologia
Universidade do Estado do Pará
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2525
“Dotô, to c’uma dô diacisada, que começa no mucumbú, vai na passarinha, bate na titela e dá um nó no fato.”
“Doutor, estou com uma dor muito forte, que começa no cóccix, passa pelo baço, pela caixa toráxica e provoca
movimentos peristálticos no instestino”. Resumindo: gases intestinais!
(Atzingen, 2004)
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2626
A Deus,
pelo dom da vida... da sabedoria ...e do amor, e por tatuar, em mim, a palavra – marca divina – transmitida aos
homens, que se fez carne e habitou entre nós.
À minha mãe,
Ana Acácio Gomes, pela cumplicidade e inesgotável força, para levar adiante um ideal.
Ao meu pai,
Júlio Rodrigues de Sá, pelos ensinamentos que construíram a essência da minha personalidade.
Aos meus manos, Julio Sérgio e Zaqueu.
Ao primeiro, pelo privilégio de poder compartilhar uma nova e, talvez, a mais bonita fase de sua vida e, ao segundo,
pelo companheirismo, com quem divido, dia a dia, desde a sua infância, alegrias e tristezas.
À Lice e Marcos,
pela companhia,tantas vezes dividida, e sempre que renovada continua a contagiar de alegria meu coração.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2727
Aos amigos,
em especial, à Marlene Chavito e Fernando Melo, por terem sempre aberto, para mim, as portas de seus generosos corações, e a
Silvaneto, Janete, Madalena, Rafael, Teresa, Aparecida (Pú), Jânio, Day, Vera Froz e Rosinete.
À Administração Superior da Universidade do Estado do Pará – UEPA,
representada pelo Magnífico Reitor, Prof. Ms. Fernando Antonio Colares Palácios, pelo empenho na realização de uma
inquestionável ação acadêmica que significa este primeiro Mestrado em Educação.
À Profa. Ms. Ana Claudia Serruya Hage,
Diretora do Centro de Ciências Sociais e Educação – CCSE, da UEPA, por haver rememorado, em mim, nestes momentos finais
de conclusão do Mestrado, o início dele, o exato primeiro dia – A aula inaugural – quando, sabiamente, professou: “... guerreiros
são pessoas, por isso são fortes e são fracos...”.
À Profa. Dr. Ivanilde Apoluceno de Oliveira,
Coordenadora do Programa de Pós–Graduação em Educação – Mestrado – do CCSE-UEPA, de quem tive o privilégio de ser
aluno e o prazer de me encantar com seus ensinamentos éticos, políticos e epistemológicos.
À Profa. Dr. Cely do Socorro Costa Nunes,
Vice-Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado – do CCSE-UEPA, pela delicada bravura com que
superou as aparentes limitações.
À Profa. Dr. Denise de Souza Simões Rodrigues,
pela inesquecível alegria de haver sido seu aluno, mesmo entre o caloroso frio da Qualificação e o desafio libertador das suas
mágicas palavras, na Banca Examinadora, ou, simplesmente, por haver contemplado uma excentricidade que somente a ela é
peculiar.
À Profa. Dr. Laura Maria Silva Araújo Alves,
docente do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Pará, por aceitar o convite para compor a
Banca Examinadora deste trabalho, o que requereu disponibilizar e dividir seu tempo, já comprometido com inúmeros
compromissos acadêmicos, o meu muito obrigado.
Ao Prof. Dr. Orlando Nobre Bezerra de Souza,
Souza,
pelas instigantes questões, no Exame de Qualificação, como membro da Banca Examinadora, as quais não só recorri para
reconfigurar este texto, mas as inscrevi como sub-texto, o não dito, o interdito, em minha mente. Muito obrigado sempre.
Aos professores do Mestrado em Educação do CCSECCSE-UEPA,
Albene, Josebel, Jesus, Graça, Pedro, Elizabeth, Emmanuel, Nilda, Socorro França, Josefa e Betänia – entre estes, uns se
inscrevem na minha gratidão pelo contato direto, ocasionado pelo privilégio que tive de ser aluno; outros, por terem escritos (e
ainda escreverem) textos que alargaram meu modo de ver e analisar as questões que envolvem educação.
Aos sujeitos, homens
homens e mulheres,
desta pesquisa, cuja língua e solo os constituem e os enraízam neste espaço amazônico, a Microrregião Marabá.
Ao Hidelfonso de Abreu Araújo,
Prefeito do município de Abel Figueiredo, pela capacidade visionária e pelo incentivo ao empreendimento intelectual.
À Profa. Kátia Virginia Américo Garcia,
Secretária de Educação do município de Marabá, minha gratidão, por me apoiar em mais esta formação.
2828
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
LISTA DE MAPAS E TABELAS
Mapa 1
Divisão Regional do Estado do Pará
57
Mapa 2
Mesorregiões Paraenses X Ocupação populacional
63
Mapa 3
Mesorregiões Paraenses
65
Mapa 4
Microrregião Marabá no Estado do Pará
77
Mapa 5
Município de Marabá
81
Mapa 6
Município de Palestina do Pará
94
Tabela 1
Campos Semânticos: questão respondida X não respondida
135
Tabela 2
Campo Semântico I: acidentes geográficos
137
Tabela 3
Todas as ocorrências, por Campo Semântico, com freqüência 149
igual ou superior a 75% no corpus
Tabela 4
Ocorrências, por Campo Semântico, com freqüência igual ou 156
superior a 75% no corpus e coincidentes as propostas pelo QSL
Tabela 5
Ocorrências
não-coincidentes
com
o
QSL,
por
Campo 159
Semântico, com freqüência igual ou superior a 75% no corpus
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2929
LISTA DE GRÁFICOS, FIGURAS E QUADROS
Quadro 1
Sistema, normas e falas
4
Gráfico 1
Quadro 2
Língua escrita literária: o “ideal”
Área, população e densidade demográfica do estado do Pará
2
5
Gráfico 2
Quadro 3
Língua-sociedade
Estado do Pará: mesorregiões, microrregiões e municípios
3
6
Gráfico 3
Quadro 4
Erro & Prestígio social
Dados populacionais e densidade demográfica de Marabá
3
8
Gráfico 4
Quadro 5
Nível de água/enchente
Dados populacionais e densidade demográfica de Palestina do Pará
8
9
Gráfico 5
Quadro 6
Perfil desejável dos sujeitos
Perfil da população-amostra
11
11
Gráfico 6
Quadro 7
Lexias coincidentes X não – coincidentes
Campos Semânticos do Questionário Semântico-Lexical – QSL (ALiB, 2001)
16
11
Gráfico 7
Quadro 8
O desempenho dos alunos em língua portuguesa
Educação: o Brasil no cenário internacional
18
18
Figura 1
Quadro 9
Níveis de estrutura da língua portuguesa
O desempenho dos alunos no SAEB/MEC
2
18
Figura 2
Quadro 10
Variável: faixa etária
Aula de língua portuguesa
4
18
Figura 3
Variável: sexo
4
Figura 4
Variável: espaço geográfico
4
Figura 5
Estigma X Prestígio
4
Figura 6
Baldeação de Castanha-do-pará na Itaboca durante o verão de 1926
6
Figura 7
Trabalhadores da Serra Pelada
6
Figura 8
Tribo Indígena Suruí-Sororó
6
Figura 9
Peões libertados pela PM: do desemprego no Maranhão ao trabalho forçado no Sul do Pará
7
Figura 10
A rota do tiro ao alvo
7
Figura 11
Os números da CPT
7
Figura 12
Vista aérea de Marabá – confluência dos rios Itacaiúnas e Tocantins
8
Figura 13
Batelões usados como abrigo – Marabá Pioneira
8
Figura 14
Burgo agrícola
8
Figura 15
Enchente de 1926
8
Figura 16
Enchente de 1980 – Praça Duque de Caxias
8
Figura 17
Travessa Parsondas de Carvalho – Marabá Pioneira
8
Figura 18
Avenida Silvino Santis – Nova Marabá
9
Figura 19
Vista aérea de Palestina do Pará
9
Figura 20
Início da ocupação de Palestina do Pará
9
Figura 21
Cachoeira de Santa Isabel do Araguaia
9
Figura 22
Terras alagadas em Palestina do Pará
9
Figura 23
Índios da Tribo Suruí-sororó
10
Figura 24
Coco babaçu
10
Figura 25
Praia Beira Rio-Palestina do Pará
11
Figura 26
Grupo de dança folclórica boi-bumbá
11
Figura 27
Vila Jarbas Passarinho – cheia de 2005
11
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
3030
LISTA DE CARTAS LEXICAIS
1
139
2
140
3
141
4
Carta Lexical
Campo Semântico I: acidentes geográficos
142
5
143
6
144
7
145
1
Campo Semântico I – Acidentes Geográficos
169
2
Campo Semântico II – Fenômenos Atmosféricos
170
3
Campo Semântico III – Astros e Tempo
171
4
Campo Semântico IV – Flora
172
5
Campo Semântico V – Atividades Agropastoris
173
6
Campo Semântico VI – Fauna
174
7
Campo Semântico VII – Corpo Humano
175
8
Campo Semântico VIII – Convívio e Comportamento 176
Social
9
Campo Semântico IX – Ciclos da Vida
177
10
Campo Semântico X – Religiões e Crenças
178
11
Campo Semântico XI – Festa e Divertimentos
179
12
Campo Semântico XII – Habitação
180
13
Campo Semântico XIII – Alimentação e Cozinha
181
14
Campo Semântico XIV – Vestiário
182
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
3131
SUMÁRIO
RESUMO
10
ABSTRACT
11
APROXIMAÇÕES INICIAIS
12
CAPÍTULO I – SOCIEDADES, HISTÓRIAS E LÍNGUAS
20
1.1 PORTUGUÊS BRASILEIRO: RAÍZES E TRAJETÓRIAS
21
1.2 DIALETOLOGIA E SOCIOLINGÜÍSTICA: AS LÍNGUAS E QUEM FALA
36
1.3 LÉXICOS, SIGNIFICADOS E NORMAS
46
CAPÍTULO II – GEOLINGÜÍSTICA: O MÉTODO CARTOGRÁFICO
53
2.1 TIPO DE ESTUDO
54
2.2 MESO-MICRORREGIÕES PARAENSES: REDE DE PONTOS LINGÜÍSTICOS
56
2.2.1 PONTO LINGÜÍSTICO 1: MARABÁ
79
2.2.2 PONTO LINGÜÍSTICO 2: PALESTINA DO PARÁ
92
2.3 SUJEITOS
113
2.4 MATERIAL TÉCNICO, APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO E
TRANSCRIÇÃO GRAFEMÁTICA DOS DADOS E CONSTITUIÇÃO DO CORPUS
116
2.5 ELABORAÇÃO DE TABELAS E CARTAS LEXICAIS E ANÁLISE DO CORPUS
123
CAPÍTULO III – VARIAÇÃO E EDUCAÇÃO LINGÜÍSTICA
124
3.1 FACES SECRETAS DAS PALAVRAS
125
3.2 SIMBOLISMO CULTURAL DAS LEXIAS
146
3.3 VERNÁCULO E ENSINO
183
APROXIMAÇÕES FINAIS
195
REFERÊNCIAS
200
APÊNDICE
209
ANEXOS
240
A – Ficha da localidade
B – Ficha do sujeito
C – Questionário Semântico-Lexical (QSL: ALiB, 2001)
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
3232
RESUMO
O trabalho, em questão, apresenta uma análise semântico-lexical dos dados
resultantes da aplicação, in locu, dos instrumentos definidos para esta pesquisa.
Esta investigação se justifica por cartografar um léxico nunca antes descrito, o da
Microrregião pesquisada. Dessa perspectiva, partimos da hipótese que o acervo
semântico-lexical falado por moradores da Microrregião Marabá/PA, é diferente
comparado ao proposto pelo Questionário Semântico-Lexical, do Comitê
encarregado de elaborar o Atlas Lingüístico do Brasil (QSL: ALiB, 2001). O objetivo
geral é analisar as ocorrências semântico-lexicais, de natureza diatópica e
diastrática, encontradas na fala de moradores desta Microrregião, situada no
Sudeste Paraense, em comparação às referidas anteriormente. Após leituras
prévias, reconhecemos um dos pontos lingüísticos a ser pesquisado, neste caso, o
município de Marabá, onde realizamos um piloto, para avaliar a produtividade ou
não dos instrumentos selecionados. Posteriormente, prosseguimos com a pesquisa
para: identificar as lexias encontradas na fala de moradores, coletadas por meio do
QSL, composto de 196, distribuídas em 14 campos semânticos, com base nas
variáveis sociais: sexo, faixa etária e classe social, em 8 (oito) sujeitos com menor e
maior nível de escolaridade; registrar, em tabelas, as lexias cuja freqüência foi igual
ou superior a 75% e não coincidentes com a proposta pelo QSL, por campo
semântico; documentar cartograficamente esse corpus e analisá-lo, de acordo com
um recorte geográfico, e uma abordagem quali-quantitativa. O estudo, em questão,
pauta-se na Geolingüística, método cartográfico utilizado em estudos de caráter
Dialetológico. Insere-se, portanto, no domínio de três áreas da ciência da linguagem
– a Lingüística – o que requer a leitura prévia de construtos teóricos da Dialetologia,
da Sociolingüística e da Semântica-Lexical, e na correlação dessas, nesta pesquisa
em especial, com práticas educacionais que se processam na região
amazônica/dialeto paraense. Os dados demonstram um índice de lexias não
coincidentes com as propostas pelo QSL, num total de 30 ocorrências, o que
equivale, aproximadamente, a 40% do total, composto de 73 ocorrências, que
resultaram da aplicação de 196 questões, a 8 sujeitos. O baixo percentual do
número de lexias, de maior freqüência e não coincidentes pode conduzir,
inicialmente, a inferirmos que não há, de fato, uma considerável diversidade
semântico-lexical entre os falantes localizados geograficamente nos extremos do
Brasil, ao considerarmos que o local da pesquisa está no Norte do País e o QSL foi
elaborado no Estado do Paraná, Sul do Brasil. Este percentual, no entanto, indica o
contrário, o que nos permite reavaliar a afirmação inicial, acerca da ausência de
diversidade semântico-lexical entre os falares desta e daquela região. Significa dizer
que esta baixa freqüência revela, talvez, a diversidade entre os falares dos próprios
sujeitos moradores de uma mesma região, ou melhor, neste caso, de um mesmo
município, onde predomina um fluxo migratório, no caso, Microrregião Marabá.
Palavras-chave: diversidade cultural – saberes lingüísticos – variação semânticolexical – normas – educação.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
3333
ABSTRACT
The present work presents a analyse data as a result of the application, in loco, of
instruments. This investigation justifies itself for map-marking a lexion never before
described in the microregion researched. In this perspective, there is a hypothesis
that the multitude semantic lexicon spoken by people from the microregion Marabá in
the state of Pará, formed by people from different regions of the country, which is
different compared to the one proposed by the Questionary Semantic-Lexion, from
the communities in charge of elaborating the linguistic Atlas of Brazil (QSL: ALiB,
2001). The overall objective is to analyse the ocurrencies semantic-lexicon of special
and social variation nature, found on the speaking of people from this microregion,
situated in the southeast of Pará, in comparison to the ones previously mentioned.
After previous reading, me recognize one of the linguistic issues to be researched, in
this a case, the district of Marabá where a archetype was mad to evaluate the
productivity or not of the selected instruments. Posteriority, we continue the research
to: identify the lexion found in the speaking of inhabitant, collected through QSL,
composed by 196, distributed in fourteen semantic fields, based on the sex social
variables, age cange and social status, in eight people with lower and higher school
levels; register, in charts , the lexicon which the frequency was the same or superior
to 75% and not the same with the QSL proposal, by semantic field; map-making
documenting this corpus and analyse it according to geographical scissoring in a
quality and quantity approach. This study has guide line in Geolinguistic, map-making
method, used in Dialectologia feature studies. Womever, inserts itself in there
language areas – linguistics – which requires previous readings theory, of social
linguistic and semantic lexicon, and in the correlation of these, in this research in
special, with educational practice that happen in the Amazon region/Pará’s dialect.
The preliminary data show a low rate of lexicon not the same as the one proposed by
the QSL, a total of 30 ocurrencies, which it is equivalent, approximatty to 40% of the
total, composed by 73 ocurrencies which were the result of 196 questions in 8 people
the percentage of the lexicon numbers, of higher frequency an hot the same can
lead, initially, to deduct that there is not, in fact , a consirable diversity semantic
lexicon among
the speakers located geographically – in Brazil’s extremes,
considering that Microregion Marabá is situated in the youth and that QSL was
elaborated in Paraná’s state, south of Brazil. This percentage hoverer, indicates the
opposite, which allows us to rev-evaluate initial statement, about the absence of the
diversity semantic lexicon between the speakers of different regions. Perhaps, this
low frequency reveals the diversity among the speakers of the own inhabitants of
one’s region, or better, in this case, of the same district, where the migrate flow
prevails, in this case, Microregion Marabá.
Key-words: cultural plurality – linguistic diversity – norm semanti-lexicon – variation
– education.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
35
Há dois anos, ao ingressar neste Programa de Pós-Graduação em Educação –
Mestrado, na Linha de Pesquisa Saberes Culturais e Educação na Amazônia, na área
diversidade lingüística, do CCSE/UEPA, me propus a investigar aspectos relativos à
descrição da realidade lingüística da Microrregião Marabá/PA, e assim o fiz, e estes estão
registrados, academicamente, nesta Dissertação. Paralelamente a esta, se configurou em
mim, e creio que nos demais, um subtexto, difícil de se deixar escrever, de querer se expor,
posto que, demais subjetivo, talvez nem transpareça, mas que insiste em sussurrar em
minha alma: “Não somos um/Que outrora éramos um, ou pensamos sermos eu, você, o
outro,/três elementos distintos”. (Reynaldo Jardim. “Não Somos Um”).
Particularmente, o que despertou meu interesse foi a possibilidade de estudar as
ocorrências semântico-lexicais, do português brasileiro, encontradas na fala de moradores
desta microrregião, sobretudo, pelo fato da migração, constante, evidenciar a variação
dialetal, e, por conseguinte, o plurilingüismo, este nunca antes descrito, e assim contribuir
para a superação do mito da “unidade” lingüística – ‘norma padrão’ – cristalizado no
imaginário coletivo, e perpetuado pelo sistema escolar, cuja conseqüência mais desastrosa
é a segregação, de toda ordem, a que são submetidos os sujeitos que não dominam tal
‘norma’.
Para alcançar o amadurecimento acadêmico necessário a todo pesquisador, tanto
em relação aos estudos realizados durante o cumprimento dos créditos das disciplinas, bem
como aqueles relativos à pesquisa de campo, e à elaboração desta Dissertação, que ora
submeto à defesa, não obstante ambos constituírem exigência institucional quanto aos
requisitos necessários à conclusão do Mestrado –, tive o privilégio de contar com preciosas
orientações da Profª. Dr. Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva e dos demais
doutores, docentes deste Programa, ancorados na admirável responsabilidade intelectual e
na rigorosidade das discussões, às quais se soma a convivência com os demais mestrandos
desta que é a primeira turma, do primeiro Mestrado, do CCSE/UEPA.
Além desses registros iniciais, que, naturalmente, revitalizaram minha memória, em
especial a acadêmica e a docente, esta resultante da convivência diária com meus alunos,
no exercício do magistério, nos níveis Fundamental e Médio e da não tão longa experiência
adquirida como coordenador de ensino, e, por duas vezes, em municípios distintos,
secretário municipal de educação, aguçaram, em mim, a percepção e o interesse em
estudar o fenômeno da variação lingüística.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
36
Inquietação, esta, que resultou no Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação
em Letras, intitulado “Variação Lingüística: um fenômeno que deve ser reconhecido pela
escola”, que objetivou analisar as ocorrências fonético-fonológicas presentes nas produções
escritas de alunos do Ensino Fundamental, de escolas da rede pública do município de Abel
Figueiredo. De caráter similar ao que ora desenvolvo, este trabalho já evidenciava a
necessidade de ampliar a compreensão de outros fatos lingüísticos.
Posteriormente, na Pós-Graduação Lato Sensu, paralelamente à docência no Ensino
Médio, a possibilidade de ampliar essa compreensão foi possível por meio da pesquisaação, que resultou na Monografia intitulada “Diálogo por Escrito: uma estratégia de
avaliação textual”. Neste trabalho, prioritariamente, “dialogava” com os alunos, por escrito,
sobre aspectos “comprometedores” do desvelamento do discurso, materializados nos textos
escritos por estes produzidos, momento em que, para o restabelecimento da coesão e da
coerência textuais, necessárias à progressão temática, sugeria a refação dessas produções,
objeto dos “diálogos”.
Cursar este Mestrado me possibilitou reunir duas áreas que me interessam estudar:
língua e educação. E, assim, desfibrar, pelos sentidos das vozes, as instâncias históricoculturais, pelo registro, identificação, cartografação, análise e interpretação das ocorrências
semântico-lexicais, presentes nesta Microrregião onde resido e atuo como docente. Talvez
seja essa trajetória profissional que me impulsiona na busca de saberes lingüísticos que
potencializem práticas desafiadoras com as quais alunos e professores (con)vivem, no diaa-dia, na sala de aula e fora dela nas mais diversas situações de interlocuções, em
diferentes contextos sociais.
Paris (apud CUNHA, 1984) sintetizou, muito bem, a relação das línguas com
os contextos que as constituem, ao afirmar: “se não podemos impedir a flora de
nossos campos de perecer em face da cultura que a substitui devemos, antes que
ela desapareça totalmente, recolher com cuidados seus espécimes, descrevê-los e
classificá-los piedosamente num grande herbário nacional”.
Razões, portanto, de ordem lingüística, stricto sensu, social, histórica e de
políticas de ensino de língua “materna” e as relacionadas ao entendimento de
diferentes usos do português, nas diversas práticas educativas que se processam na
região amazônica, de forma resumida, justificam o investimento nesta pesquisa.
Assim, partimos da hipótese que o acervo semântico-lexical, usado por
moradores nativos da Microrregião Marabá/PA, é diferente se comparado ao
proposto pelo Questionário Semântico Lexical - QSL (ALiB, 2001).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
37
Para comprovação desta hipótese, se estabeleceu, como objetivo geral, analisar as
ocorrências semântico-lexicais, de natureza diatópica e diatrástica, encontradas na fala de
moradores desta Microrregião, situada na Mesorregião Sudeste Paraense, em comparação
às referidas anteriormente.
Para consecução deste objetivo, se procedeu a um estudo do cunho descritivo e
abordagem quantiqualitativa, com aporte teórico-metodológico nos estudos advindos da
Dialetologia, e da geolingüística, como método cartográfico largamente utilizado na
produção de dados semântico-lexicais, na formulação e, principalmente, nas diversas
possibilidades de respostas, as quais correspondem às ocorrências atribuídas aos
falantes/ouvintes de uma dada comunidade lingüística. Da Sociolingüística, cujo enfoque
agrega variáveis sociais, que dizem respeito a um falante-ouvinte real e não ideal, como
explicitava Chomsky In: LYONS (1968). As ocorrências relacionadas a cada pergunta, item
ou questão, se encontram visualizadas nas listas e cartas lexicais.
Quanto à abordagem Semântica, a que referencia esta pesquisa tem por objeto o
estudo do significado (sentido, significação) das lexias, ou seja, das formas lingüísticas
presentes em um dado espaço geográfico. No entanto, o campo associativo e significativo
dessas lexias é bem íntimo e próximo como se fosse um enorme campo semântico. Por
essa e outras razões, o estudo do significado ficará sempre no liame essencial entre o eu e
o mundo, pois abre espaço para o ser humano elaborar suas representações simbólicas da
vida e do mundo.
A primeira questão que se impõe no campo dos estudos semânticos diz respeito à
necessidade de definir a que área do conhecimento o estudo do significado das palavras
interessa vincular. Ao considerar os objetivos da formação acadêmica vivenciada neste
mestrado em educação, como espaço investigativo, nos interessa, sobretudo, vincular o
estudo da variação semântica a práticas educativas, em especial, a escolar. Portanto, se o
significado é antes de tudo cultural, cultura e educação, entre outros, são temas que, mais
de perto, também, aqui se evidenciam.
Ainda como parte de delinear um aporte teórico-metodológico, desta vez sobre a
região pesquisada, e a rede de pontos lingüísticos, nos valemos de fontes documentais
locais, artigos em jornais, revistas, fotografias e outras, produzidas na própria Microrregião,
ou seja, de por meio de entrevistas, preferencialmente, com moradores nativos nesta
localidade, os mais antigos possivel.
Esta Microrregião Marabá é o local desta pesquisa, e, nela, os municípios de Marabá
e Palestina do Pará funcionaram como pontos lingüísticos. Nestes, um total de 8 (oito)
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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sujeitos (4 em cada ponto) foi selecionado como população-amostra, a partir das variáveis:
grau de escolarização, faixa etária, sexo e classe social.
Os instrumentos usados para a produção dos dados relativos à região e aos sujeitos
foram os Anexos A e B e para a composição do corpus o Anexo C. Este, último, um
Questionário de Base Semântico-Lexical – QSL (ALiB, 2001), composto de 196 (Cento e
noventa e seis) questões, distribuídas em 14 (quatorze) campos semânticos, aplicado, por
meio da técnica da entrevista gravada, à população-amostra. As ocorrências, dadas como
respostas, após as transcrições grafemáticas, foram tabuladas, por campo semântico,
questões e freqüência.
Entre estas, as ocorrências semântico-lexicais, com freqüência igual ou superior a
75% e não coincidentes com aquelas propostas pelo QSL, registradas em cartas lexicais,
por campo semântico, constituíram o corpus sob análise, que privilegiou o tipo descritivo e a
abordagem quantiqualitativa, à luz dos princípios teóricos delineados no Capítulo I.
A interpretação quantitativa, com base na freqüência das ocorrências encontradas,
permitiu constituir a diferenciação e, ao mesmo tempo, definir a unidade do acervo
lingüístico, de cunho semântico-lexical, na área geográfica em estudo. A interpretação
qualitativa, à luz do aporte teórico já mencionado e da correlação deste com as práticas
educativas, especificamente aquelas processadas na escola, possibilita conduzir ao estudo
das estruturas do imaginário da comunidade da região pesquisada e à forma como esta
articula, lingüisticamente, sua realidade, em consonância com sua cultura e sistema de vida.
Conjugadas essas interpretações, a quantitativa e a qualitativa, uma investigação,
desta natureza, constitui um recorte dos veios do português brasileiro, entre tantos outros.
No entanto, segundo Bagno (2001), quando o objeto, sob estudo, diz respeito a aspectos
semântico-lexicais o enfoque se torna bem mais abrangente, e assim nos permite desvelar
áreas em que podemos nos diferenciar e nos identificar; as interfaces dos resultados com
outros ramos do conhecimento; que somos diversificados no uso da língua, porque as
palavras que a compõem invadem nossas vidas, formando redes, verdadeiros mosaicos de
formas e significados e, estes, por sua vez, possibilitam redimensionar o universo; e que a
totalidade é constituída de partes que se diferenciam e assemelham, ou seja, a
singularidade lingüística é um dos elementos das nossas identidades e, portanto, de um
multiculturalismo proporcional à dimensão continental deste país.
Ignorar as diferenças lingüísticas, presentes em qualquer nível da estrutura da
língua, seria o mesmo que ousar negar as diferenças culturais. Por outro lado, assumi-las,
como legítimas, constituem uma ‘fotografia’ – variável, mesmo conscientes que estas vale
39
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
por um certo período de tempo – que pode servir, por um certo período de tempo, de
material lingüístico, aos interessados nos estudos em linguagem e educação, cujo volume
de dados produzidos, seja fonético–fonológico, morfossintático, semântico e pragmático,
permite, nesse caso:
aos lexicógrafos, aprimorarem os dicionários;
aos
gramáticos,
atualizarem
as
informações
com
base
na
realidade
documentada pela pesquisa empírica;
aos autores de livros didáticos, adequarem a produção à realidade cultural de
cada região, e
aos professores, aprofundarem o conhecimento da realidade lingüística,
refletindo sobre uma das variedades que constituem a língua ‘portuguesa’ falada
na Microrregião Marabá, Sudeste Paraense e a relação dessas com aulas de
língua ‘portuguesa’.
Nessa perspectiva, esta Dissertação deseja ser uma contribuição, somada aos
esforços de outros pesquisadores que nos motivaram, sugerindo um sonho imprescindível,
para o momento atual de ampliação de nossos conhecimentos lingüísticos sobre o
português brasileiro: a “descoberta” de nossas identidades, pela descrição da multiplicidade
lingüística cultural brasileira. Confirmando, assim, o que afirmou Bachelard, em O direito de
sonhar, “na ordem da filosofia [e, nós acrescentamos, da lingüística, também], não se
persuade senão sugerindo sonhos fundamentais, senão restituindo aos pensamentos suas
avenidas de sonhos”.
Não sem dificuldade, optamos por estruturar esta Dissertação em itens que dessem
contam de comportar, na medida do possivel, o processo investigatório da pesquisa que nos
propusemos a realizar. Assim, o trabalho, em questão, além desta Introdução, intitulada
APROXIMAÇÕES INICIAIS, que contém um breve panorama de cada um dos itens
subseqüentes, comporta três (3) títulos, sob a forma de Capítulos, que, por sua vez,
recobrem um conjunto de premissas, selecionadas entre outras, posto que, não únicas,
como pertinentes à temática central que é o fenômeno da variação lingüística e da relação
desta com a educação. Somam-se, a estes – à guisa de conclusão – Aproximações
Conclusivas; Referências; Apêndice e Anexos.
No Capítulo I, intitulado SOCIEDADES, HISTÓRIAS E LÍNGUAS, delineamos alguns
aportes teóricos advindos da Dialetologia, Sociolingüística e Semântica-Lexical, áreas da
ciência da linguagem – a lingüística – indispensáveis à compreensão, interpretação e
análise dos dados produzidos, na medida em que é preciso referenciar a pesquisa em
estudos já produzidos sobre o tema. A opção pela descrição do português falado no Brasil
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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reside no fato da ausência desta impedir o (re)conhecimento da realidade lingüística
brasileira, o que traz sérias conseqüências ao ensino de língua ‘materna’. E, por não ser a
única, esta opção não ignora, tampouco, outros aportes, e, sim, desejamos que fosse
produtiva, capaz de fornecer explicações mais amplas e adequadas às ocorrências
semântico-lexicais, objeto deste estudo, como bases científicas consistentes, derivadas de
investigações que priorizam descrições criteriosas sobre a língua e a heterogeneidade desta
e a análise de suas múltiplas variedades regionais, sociais, etárias etc., mas que não nos
cegue para as demais.
No Capítulo II, intitulado GEOLINGÜÍSTICA: O MÉTODO CARTOGRÁFICO,
contextualizamos o local pesquisado, a Microrregião Marabá, e nesta os municípios de
Marabá e Palestina do Pará, que funcionaram como pontos lingüísticos e nestes os sujeitos
que constituíram a população-amostra, segundo os pressupostos da Geolingüística, método
da Dialetologia, e modelo historicamente utilizado neste tipo de pesquisa. Assim, esses
pressupostos incluem o tipo de estudo e a abordagem, necessários à compreensão,
interpretação e análise do objeto de estudo; ambos agrupados às variáveis diatópica
(geográfica) e diastrática (social): a primeira diz respeito à região pesquisada e, nela, os
pontos lingüísticos e, a segunda, às características dos sujeitos, resultantes da conjugação
de variáveis do tipo: faixa etária, gênero, grau de escolarização e classe social; bem como,
informa sobre o material técnico; os instrumentos e a técnica de produção dos dados; a
constituição do corpus e a perspectiva de análise, à luz dos referenciais constantes no
Capítulo I deste trabalho. Sem, no entanto, deixar de atentar para a utilização, alcance,
limite e possibilidade inerentes a todo método.
No Capítulo III, intitulado VARIAÇÃO E EDUCAÇÃO LINGÜÍSTICA, identificamos,
descrevemos, registramos, tabulamos e cartografamos, inicialmente, todas as ocorrências
semântico-lexicais, resultantes da aplicação do instrumento de produção dos dados,
encontradas na Microrregião Marabá, com o objetivo de testar a hipótese da qual partimos.
Entre estas ocorrências, tabulamos aquelas cuja freqüência no corpus foi igual ou
superior a 75%; destas, após comparação, selecionamos as não-coincidentes com as
propostas pelo QSL (ALiB, 2001), as registramos em Cartas Lexicais, por Campo
Semântico, ou seja, na dimensão diatópica; associada às variáveis gênero, grupos etários,
grau de escolarização e classe social, ou seja, na dimensão diastrática e as analisamos no
âmbito da heterogeneidade dialetal e nesta variação semântico-lexical e educação
lingüística.
Os resultados da análise dos dados revelam que, de um universo composto de 196
(Cento e noventa e seis) questões, aplicadas a oito (8) sujeitos, 73 (Setenta e três)
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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ocorrências (dadas como respostas), encontradas na Microrregião, obtiveram freqüência
igual ou superior a 75% (corpus sob análise); 30 (Trinta) destas, não coincidiram com
aquelas propostas pelo QSL, dentro deste universo estabelecido. E, deste mesmo universo,
43 (Quarenta e três) coincidiram. A interpretação desses dados permitiu constatar que a
variação semântico-lexical não se revelou tanto pela baixa quantidade de lexias nãocoincidentes com as do QSL e sim pela alta quantidade de lexias cuja freqüência não
alcançou 75% de freqüência no corpus.
Neste Capítulo, registramos uma breve reflexão sobre alguns dos muitos mitos sobre
o que é uma língua, o que é saber ‘português’ e, principalmente, o da língua única, em meio
a diferentes culturas. Se a língua é um dos fatores de identificação cultural, como a escola
pode ignorar a variação lingüística, evidenciada nela própria, por meio das falas dos alunos,
dos professores, dos pais, etc...? E cujos sujeitos, desta pesquisa, só nos ajudaram a
confirmar a hipótese da qual partimos – a de que há, sim, não uma, mas inúmeras variáveis
semântico-lexicais, diferentes, se comparadas às propostas pelo QSL, na região estudada, e
são tantas que co-ocorrem entre os próprios sujeitos das referidas localidades. Por fim, a
estrutura
deste
trabalho
comporta,
REFERÊNCIAS, ANEXOS e APÊNDICE.
ainda,
APROXIMAÇÕES
CONCLUSIVAS;
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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43
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
1.1 PORTUGUÊS BRASILEIRO: RAÍZES E TRAJETÓRIAS
Quando o português ‘chegou’,
debaixo de uma chuva fina,
vestiu o índio.
Se fosse uma manhã de sol,
o índio teria vestido o português.
(Oswald de Andrade. Erro de Português,
Português 1922)
Qualquer reflexão que se deseje empreender, no limiar do século XXI e do III milênio,
sobre a língua falada no Brasil, não pode prescindir de dois aspectos, sabiamente,
destacados por Bagno (2001), posto que, como rastros, insistem em permanecer em forma
de ‘feridas’ incicatrizáveis, para testemunhar que:
há muito nessa língua que é característica nossa, parte integrante da nossa
identidade nacional, construída, a duras penas, com o extermínio de centenas de nações
indígenas – só porque não era uma manhã de sol – como, metaforicamente, expressa o
grande poeta na epígrafe deste Capítulo; com o monstruoso massacre físico e espiritual de
milhões de negros africanos trazidos para cá como escravos, e com todas as lutas que o
povo brasileiro enfrentou e continua a enfrentar para se constituir como nação;
o nosso passado colonial não pode ser apagado, porque é história, e a história
não é passado, é presente, premente e insistente. Somos um país nascido de um doloroso
processo colonizador, com tudo o que isso representa.
Ignorá-los, no mínimo, implica em esquecimentos sérios e perigosos, por tudo que
significaram e significam na constituição do conjunto dos elementos que, atualmente, nos
singuralizaram, e, ao mesmo tempo, nos diferenciam uns dos outros.
É preciso não esquecê-los, porque a língua e a história de sua estrutura funcional
não se podem separar da história dos falantes que a modificam, que a recriam, ao largo do
tempo. Este fato explica ser a língua como é, não como alguns acham que deveria ser.
Saber como uma língua é, se faz necessário descrevê-la.
Este Capítulo I, intitulado Sociedades, Histórias e Línguas, é uma tentativa de
(re)contextualização e (re)construção de alguns saberes sobre a língua, de aportes teóricos,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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para conhecer e analisar os usos semântico-lexicais, objeto desta pesquisa. Para tanto,
estudos advindos da dialetologia e da geolingüística (como método da dialetologia),
sociolingüística, semântica lexical, norma, cultura, educação, entre outros, são, aqui,
mobilizados e evidenciados.
Nas investigações referentes à língua, sem dúvida, entre as principais inovações
introduzidas pela Lingüística, nas últimas três décadas, merecem destaque a inclusão da
fala, como objeto de estudo, bem como a dos sujeitos. A primeira, pelo fato da ciência da
linguagem, desde seus primórdios, haver eleito o sistema, a que denominou língua (langue),
como seu objeto de estudo, por considerá-la homogênea.
Ao fazer isso, deixou de fora a fala (parole) – realização individual da langue – por
conseguinte, de caráter heterogêneo, portanto, segundo Saussure (2000)1, dependente de
fatores referentes aos sujeitos, como, por exemplo, o estado psicológico destes.
Dado este caráter, difícil de sistematizar seus estudos. Por isso, o fato de atribuir à
língua falada a importância que sempre lhe fora negada, durante o longo império da
gramática tradicional, e com ela os sujeitos que a usam, redesenhou, definitivamente, os
limites e objetivos desta ciência, mesmo conscientes que este tipo de investigação é uma
parte, um dos possíveis recortes, de um sistema lingüístico composto de outros níveis,
também passíveis de análise.
A importância da língua falada para o estudo científico da linguagem reside no fato
de ser nesta modalidade lingüística que ocorrem as variações e as mudanças que
incessantemente transformam a língua. Isso porque a principal característica das línguas é a
heterogeneidade (BAGNO, 2002).
Heterogeneidade, esta, exposta no quadro histórico-social, político-econômico e
cultural do Brasil e, neste estudo específico, no da microrregião Marabá, somada à
imprescindível descrição sistemática e geral da realidade lingüística brasileira, necessária,
sobretudo, à difusão de um ensino adequado ao caráter pluricultural do país, estão a exigir,
sem mais demora, um esforço coletivo na tentativa de concretizar estudos mais amplos que
levem a um conhecimento global acerca dos fatos lingüísticos, ou seja, a diversidade das
variações normativas. Estas, sim, passíveis de descrição, explicação, análise e aplicação
(MARTIN, 2003).
1
A Lingüística ‘ganhou’ o status de ciência, entre 1913, morte de Ferdinand Saussure, ‘o mestre de Genebra’, e
o lançamento da obra Curso de Lingüística Geral (1916), organizada por alunos deste genebriano, a partir das
anotações dos Cursos de Lingüística ministrados por ele. Este livro tem o mérito de reunir as bases conceituais
da Lingüística Moderna. Nele, Saussure define a lingua como um sistema de signos duplamente articulados e a
fala como a realização individual deste sistema. E deixou claro que não estudaria a fala por esta ser
heterogênea.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
45
Como maneira de ver a vida humana, inscreve-se, este estudo, no conjunto
de pressupostos que vêem o sujeito como um ator/autor ligado a uma realidade que
o constrói como membro de uma comunidade e ao mesmo tempo é construída pelo
próprio.
Os estudos sobre cultura desenvolvem este pensamento de forma bastante
apropriada ao dizer que o homem é um animal suspenso em teias de significado que
ele mesmo teceu, assim entendemos a cultura como sendo uma dessas teias, e, sua
análise, portanto, como sendo não uma ciência experimental em busca de leis, mas
uma ciência interpretativa em busca de significados.
Podemos ampliar essa idéia ao constatarmos que os fenômenos sociais que
integram essas teias, tais como cultura, língua(gem) e interação encontram-se
imbricados e, atualmente, são vistos, por alguns estudiosos, como objetos de
investigação de uma mesma pesquisa, favorecendo ao desenvolvimento de estudos
multidisciplinares e interpretativas.
É nesse sentido que Marcuschi (1999) apresenta o lugar da Análise de
Interação Verbal (AIV). Segundo este autor, a AIV situa-se na interface de disciplinas
como Sociologia, Antropologia, Etnografia, Lingüística, Psicologia Social, e aqui
incluímos também a Lingüística Aplicada, e cuja maior dificuldade é a construção do
acervo teórico, e não da natureza dos dados, visto que a AIV tem uma carga
informacional de dados imensa e complexa, dados estes que se apresentam
“multifacetados e cheios de nuances, de tal modo que, com poucos minutos de
gravação, se tem material para muita análise” (p.3).
A dificuldade de estudos e pesquisas em uma perspectiva de interface,
referida por este autor, não é assim tão grande se reconhecermos que a natureza da
questão está na escolha de um determinado posicionamento acadêmico mais
subjetivo e sem modelos pré-concebidos de fatos para analisar certas questões
concernentes à interlocução e à linguagem.
Entre as décadas 20 e 30, do século XX, surge uma nova postura intelectual
sobre significado e interação, entre outras correntes teóricas contemporâneas sobre
a linguagem. A noção de símbolo, advinda deste novo paradigma, está ligada a
sinais, línguas, gestos, ou qualquer outra marca que contenha a noção de
significado, sendo o significado, portanto, construído socialmente.
Esta visão efetuou uma ruptura com o que era postulado, na época, sobre
comportamento humano, que ora era visto como resultado de processos
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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psicológicos internos e ora como produto de forças estruturais na sociedade. O
homem é então definido como um sujeito criativo, construtor, que, continuamente,
interage com o mundo, ajusta seus significados e influencia e é influenciado pelas
estruturas sociais.
Ao trazermos para este estudo uma paisagem em que o sujeito é o protagonista, é
o construtor, assumimos, por conseguinte, que pesquisar é sempre um ato político, neste
caso, uma reação há um processo de dominação lingüística, que ocorreu juntamente com a
ocupação territorial e teve lances de grande genialidade, como o do padre José de Anchieta,
o “apóstolo do Brasil”, que encontrou uma maneira bastante ‘sugestiva’ de levar os índios à
adoção do Português.
Nas peças religiosas que encenava, em suja missão, Anchieta fazia com que o
português fosse a língua de expressão dos anjos e o tupinambá (ou tupi antigo) a dos
demônios. Nessa perspectiva de investigação, significa reconhecer a verdadeira questão
que se esconde sob o que seria, aparentemente, apenas uma questão lingüística.
O anseio pela identidade lingüística brota, como seria de esperar, em meio a todas
as outras manifestações românticas de independência cultural. José de Alencar cumpre,
então, importante função, procurando resgatar a função do índio na construção do
Português no Brasil, e povoa suas páginas com termos extraídos das línguas indígenas
conhecidas e descritas. Sua visão era idealizada – como de resto, tudo o mais no
Romantismo – mas estabelecia, de modo inequívoco, a necessidade de proclamarmos a
independência do Português do Brasil.
A luta pela nossa “liberdade lingüística”, porém, só seria iniciada cem anos mais
tarde, em 1922, quando escritores modernistas, capitaneados por Mário de Andrade2,
pregaram o abandono da sintaxe lusitana e a adoção do que, no dizer de Manuel Bandeira,
era a “Língua errada do povo/Língua certa do povo. Porque ele é que fala gostoso o
português do Brasil”. Português, este, que Mário de Andrade evidencia assim: “[...] Que
importa que uns falem mole descansado/Que os cariocas arranhem os erres na
garganta/Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais? [...] /juntos formamos este
assombro de misérias e grandezas/Brasil, nome de vegetal!”.
De 1922 aos dias atuais, temos caminhado a passos lentos, é bem verdade, no
entanto, há que se registrar – e o fazemos ainda neste item – os poucos, mas preciosos
estudos e pesquisas resultantes da dedicação dos nossos primeiros dialetólogos,
empenhados em descrever esta língua falada no Brasil.
2
Movimento conhecido como a “Semana de Arte Moderna”.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Pesquisar, em um país, como o nosso, em que ínfimo é o investimento das agencias
financiadoras neste fazer, principalmente quando este diz respeito às áreas ditas ‘humanas’,
exige, sobretudo, muito esforço e empenho quase exclusivamente pessoal dos
pesquisadores destas áreas. Mesmo assim, este fazer ainda move muitos de nós a não
desistir de refletir sobre novos fatos, ou a ensejar novas reflexões, outros ângulos, sobre os
mesmos fatos.
Para este estudo, por exemplo, reunimos, neste capítulo, algumas reflexões, de
variado teor, sobre assuntos fronteiriços, que, nas suas respectivas áreas de interesse,
ponderam temas e os põem em contato, direta ou indiretamente, com um vasto campo de
conhecimento, objetivando (re)constituir um referencial teórico-metodológico, ao mesmo
tempo, relevante e pertinente, na medida em que permitisse operar com a análise do objeto
de estudo desta Dissertação – aspectos semântico-lexicais da fala dos moradores na/da
Microrregião Marabá – para fazer jus à vinculação desta à Linha de pesquisa Saberes
Culturais e Educação na Amazônia, de um Mestrado em Educação.
Recorremos, inicialmente, ao pai da Lingüística Moderna, o mestre de Genebra,
Saussure (2000), que assim definiu língua:
Um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos
pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe
virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros de um
conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só
na massa ela existe de modo completo (p.21).
Este sistema de signos, objeto de estudo da lingüística, funciona na interlocução de
uma coletividade, constituído de uma estrutura fônica, gramatical e lexical. Fala-se em
“língua portuguesa”, francesa, inglesa, etc, porque cada uma delas apresenta uma estrutura
definida e distinta das demais.
A língua, entendida como sistema, estrutura, é uma abstração, posto que, como
substância, concretizada nos atos de fala, há uma gama de variações, conseqüência direta
da diversidade dos seus usuários.
Bakhtin (1988) considera a “língua como uma atividade social, em que o importante
não é o enunciado, o produto, mas sim a enunciação, o processo verbal. [...] A língua é (tal
como para Saussure) um fato social, cuja existência se funda nas necessidades da
comunicação. [...] (p.151-152).
A língua de um povo talvez seja, dentre os vários aspectos culturais que o
caracterizam, aquele que mais imediatamente lhe confere identidade. Defender a existência
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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de um português brasileiro significa defender um traço cultural que marca nossa
independência da metrópole colonizadora. Nossa maturidade lingüística traduz-se, assim,
em elemento constitutivo de um caráter nacional, que nos fortalece como povo único,
independente e livre.
Nessa perspectiva, a base conceitual desta pesquisa são os estudos referentes à
Dialetologia, e a Geolingüística, esta como método daquela (1991): de Ferreira; Cardoso
(1994), e, à Sociolingüística, de Labov (1983) e Tarallo (1986:1988), da Semântica-lexical,
de Pottier (1978) e a Norma de Coseriu (1982) entre outros, que, há muito, já mostraram
que nenhuma língua é homogênea, mas um conjunto de variedades
usadas,
diferentemente, de acordo com a época, o lugar, as características sociais do falante (faixa
etária, grau de escolaridade, sexo, classe social, profissão) e a situação de comunicação.
E, sobre cultura e educação, nos valemos de Brandão (2002), Candau (2005), Freire
(2004) e Hall (2002), entre outros. E, para situar a região pesquisada e a rede de pontos
lingüísticos nos valemos de Atzingen (2004), Firmino (1996), Marabá (2003), Moraes (1998),
Monteiro (2002), entre outros.
Segundo Bagno (2001), não é mais possível ignorar as diferenças entre o português
falado em Portugal e o falado no Brasil. Este último, na verdade, deveria receber o nome de
“português brasileiro”, o que já daria conta de mostrar essas diferenças entre Brasil e
Portugal, sem entrar no mérito do português falado nos demais países lusófonos.
No entanto, isso não basta, bem como não é a questão central, é necessário
reconhecer lingüística e politicamente, de fato, essas diferenças.
Reconhecer, lingüisticamente, a existência dessas diferenças inicia por pesquisar,
por construir conhecimento sobre elas, pela descrição e interpretação referentes aos níveis
fonético-fonológico, morfológico, sintático e semântico-lexical, que compõem a estrutura das
línguas (Figura 1), a que denominamos Universais Lingüísticos – traços comuns,
recorrentes, compartilhados por todas as línguas descritas que conhecemos – e contrastar o
resultado destas com postulados, amplamente divulgados e perpetuados no imaginário
coletivo, que incluem um conjunto de prescrições responsáveis por ‘atestar’, por atribuir, a
um dado sistema lingüístico o status de língua, o mesmo que dizer ‘correta’.
Figura 1 – Níveis de estrutura da língua portuguesa
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Reconhecer, politicamente, implica dar continuidade a luta pela nossa independência
lingüística, para que o peso da colonização sobre nossa sociedade não seja tão grande
quanto ainda é hoje (BAGNO, 2001). É não querer ocupar um lugar que não é nosso: o
lugar do colonizador, para quem os outros são os outros, e só.
E para quem, sob o título de ‘exótica’, ‘primitiva’, ‘bárbara’, ‘selvagem’ etc, tais
diferenças são consideradas deficiências, e, como tais, são largamente divulgadas, só tem
servido para imprimir, nos brasileiros, uma baixa auto-estima lingüística, entre outras, uma
das causas da expulsão dos alunos do sistema escolar.
Sistema este responsável por legitimar e, portanto, perpetuar, aqueles postulados
artificiais, advindos de um processo de colonização, cujo poema-epígrafe, deste capítulo, o
exemplifica, e mais, que não correspondem a nenhuma variedade lingüística real usada
pelos falantes brasileiros.
Portanto, o desafio que o professor-pesquisador brasileiro, da área da linguagem,
tem, a sua frente, no limiar do século XXI e do III milênio, é estudar o brasileiro, para que as
escolas deixem de ensinar o português, o que significa deixar de perpetuar um conjunto de
mitos, sem fundamento, entre estes, o de considerar diferenças lingüísticas “erros” e estes
serem advindos da “incompetência” da maioria dos brasileiros em falar a “língua de
Camões”. Aquela “boa”, “certa” e “bonita” língua falada pelos habitantes de um “paraíso
lingüístico” chamado Portugal, do outro lado do Atlântico.
A conseqüência mais desastrosa de um ensino pautado nesses pressupostos é o
preconceito lingüístico, que, ao lado de outros, segrega milhões de brasileiros há séculos. A
questão, como vemos, envolve a história da abordagem dos fatos da língua – abordagem,
esta, historicamente (re)vestida pela ideologia de quem detém o poder – que incorreu em
dois “equívocos”.
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O primeiro foi se dedicar exclusivamente à língua escrita, e, ao fazer isso, deixou de
fora toda a língua falada; o segundo, a forma de conceber a mudança das línguas – que é
simplesmente mudança e não “corrupção”, “ruína”, ou “decadência”, como acreditavam os
gramáticos alexandrinos3 – e muitos ainda acreditam.
Para Lyons (1968), esses dois equívocos se uniram para formar o “erro clássico” no
estudo dos aspectos da língua, e ainda se perpetuam nos dias atuais. A língua não pode ser
vista tão, simplistamente, como uma questão, apenas, de “certo” e “errado”, ou como um
conjunto de palavras que pertencem à determinada classe e se juntam para formar frases,
em volta de um sujeito e de um predicado.
Um sistema lingüístico é mais que tudo isso. É parte de nós mesmos, de nossa
identidade cultural, histórica, social. É na e pela língua que socializamos, interagimos,
desenvolvemos nosso sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade.
É ela que nos faz sentir pertencendo a um espaço, que confirma nossa declaração:
eu sou daqui. Falar, escutar, ler e escrever reafirmam, cada vez mais, nossa condição de
sujeito histórico, situado em um dado tempo e espaço. Além disso, a língua envolve valores,
mobiliza crenças e institui e reforça poderes.
A escola, ao oferecer aos alunos, como único modelo de língua “certa”, a ser imitado,
os textos dos “clássicos” da literatura, perpetua esses poderes. Em vez disso, ela deve ser
um espaço que proporcione a eles o contato com todos os gêneros textuais que circulam
socialmente, nos quais se concretizem os usos reais da língua.
Bagno (2001), ao analisar tais equívocos, os atribui, ainda, ao fato daqueles
gramáticos acreditarem que a língua poderia ser dividida, conforme Gráfico 14, como, aliás,
era dividida a sociedade da época.
Gráfico 1 – Língua escrita literária: o “ideal”
Língua escrita literária
Língua escrita
Língua falada
3
Segundo Bagno (2007), esses gramáticos foram os primeiros intelectuais que se dedicaram ao estabelecimento
e fixação de regras gramaticais. Eram filólogos e viveram na cidade de Alexandria, no Egito, no século III a.C.
4
Cf. Bagno (2001).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
51
A divisão a que Bagno (2001) se refere correspondia ao objeto de interesse dos
estudiosos daquela época – a língua escrita com finalidades literárias, que representava e
ainda representa um ínfimo percentual em relação ao universo da língua escrita, que, por
sua vez, também constituía e constitui apenas um espectro, dentro do universo total da
língua.
Consagrada, essa língua escrita literária começou a ser usada como um código de
leis, para julgar todo e qualquer uso oral ou escrito de uma língua. Devia servir de base para
a constituição de um “ideal” de língua escrita e falada.
Domínio de uma minoria que pertencia à aristocracia – a classe que detinha o poder
econômico e político e ditava as normas que consideravam “boas” e “certas”, em todos os
aspectos da vida social – esse modelo de língua foi transformado em instrumento de poder
e dominação de uma pequena parcela da sociedade sobre todos os demais membros desta.
Este pequeno universo, do total da língua, saiu “colonizando” todo o resto, criando
um império de idéias, noções e preconceitos sobre o que é e o que não é “língua”, que,
infelizmente, perdura quase inalterado até os dias atuais, no senso comum, mais ou menos
como representado no Gráfico 25.
Gráfico 2 – Língua-sociedade
5
Cf. Bagno (2001).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
52
Gramática tradicional
Língua escrita
Língua falada
A concepção de língua, expressa no Gráfico 2, pautou-se na tentativa de descrever o
que atualmente denominamos língua ‘portuguesa’. Usando as definições e os conceitos
aplicados, na Antiguidade clássica, ao grego e ao latim, os gramáticos tentaram “vestir”, esta
e outras línguas, com as mesmas “roupas” do latim e do grego, em vez de tentarem analisálas, e, com base nestas, descrever o que as caracterizava, suas peculiaridades.
Com base nesses pressupostos, ou seja, acreditam esses gramáticos que, do
mesmo modo como o português havia saído do latim, o português brasileiro saiu do
português europeu. No entanto, as pesquisas revelam que tanto o português europeu
quanto o brasileiro, em suas formas atuais, representam duas derivas diferentes. O
português falado em Portugal, atualmente, parte do português falado em Portugal até 1.500.
O português falado no Brasil, atualmente, parte do português falado em Portugal até 1.500,
mais o galego (do encontro destes na Península Ibérica), mais as línguas indígenas, as
africanas e as dos imigrantes.
Em ambos os casos, nenhum deles permaneceu “inalterado” esse tempo todo. Mas
visões ‘equivocadas’ dos fatos históricos, e perpetuadas em torno dos fatos lingüísticos, nos
fazem crer, ainda atualmente, que em Portugal o português permaneceu “puro” e, nós, os
colonizados, é que “corrompemos” e “arruinamos” uma língua que não é “nossa”, mas
apenas “emprestada”.
Essa atitude, “compreensível” para a época, ainda prevalece, pois a escala da
gravidade desses “erros” é inversamente proporcional à escala do prestígio social, ou seja,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
53
quanto mais pobre mais “erros” os ricos irão encontrar na língua do sujeito, conforme
Gráfico 36. Assim, nasce a noção de “erro” de português.
Gráfico 3 – Erro & Prestígio social
erro
PRESTÍGIO
ERRO
prestígio
As noções cristalizadas de “certo” e “errado” não podem ser aceitas, simplesmente,
por duas razões. A primeira, diz respeito à língua como sistema, cujos estudos de base
científica atestam que nenhum falante “erra” sua própria língua, a não ser um afásico. A
segunda, por razões históricas, baseadas em convenções sociais, ou seja, que determinam
o que representa ou não o falar mais aceito socialmente.
Portanto, não existem usos lingüisticamente ‘melhores’ ou mais ‘certos’ que outros;
existem, sim, aqueles, que adquiriram status, prestígio, mais que outros, por razões sociais,
determinadas econômica e politicamente pela comunidade que os “adota”. Dessa forma,
não é por acaso que o falar considerado ‘errado’ seja exatamente o do colonizado, o do
dominado e ou o da classe que não tem prestígio social, nem poder econômico e político.
O que causa espanto não é o fato da língua sempre ser companheira do poder, em
uma sociedade dividida em classes, e, sim, ainda, haver gramático, tentando analisar a
língua (no singular mesmo, pois este ‘estudioso’ ignora as demais, em torno de 200 línguas)
usada, no Brasil, com aquele mesmo aparato teórico-descritivo, que se baseia nos
postulados aristocráticos da gramática “tradicional”, mesmo com todos os estudos e
pesquisas empreendidos nos últimos anos pela lingüística moderna.
É preciso, portanto, ir além, avançar nas pesquisas, produzir conhecimento novo,
mais sintonizado com o pensamento científico contemporâneo, e cuja descrição, sistemática
e geral da realidade lingüística brasileira (imprescindível, sobretudo, à difusão de um ensino
6
Cf. Bagno (2001).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
54
adequado ao caráter multicultural do país) está a exigir, sem mais demora, um esforço
coletivo na tentativa de concretizar estudos mais amplos que levem a um conhecimento
global acerca dos fatos lingüísticos, ou seja, a diversidade das variações normativas. Estas,
sim, para Martin (2003), passíveis de descrição, explicação, análise e aplicação, em
situações reais de comunicação.
Essas reflexões, baseadas nas investigações lingüísticas mais recentes, conduzem,
cada vez mais, pesquisadores à indagação sobre o que observar e descrever em meio a
essa diversidade, com quais procedimentos e finalidades.
À observação e a descrição, pode-se afirmar, refere-se a fatos lingüísticos, ou seja,
às ocorrências/produções lingüísticas, assim, significa descrever o que a realidade lhes
impõe. Mas o que é um fato lingüístico? É a norma mais “correta”, “rebuscada”? Não! Esta é
a perspectiva dos gramáticos, como mencionado, anteriormente, posto que, historicamente,
a gramática é, antes de qualquer coisa, uma disciplina normativa. À lingüística, ciência da
linguagem humana, faz ver, em vez disso, que fato lingüístico é a pluralidade das normas,
resultante dos usos diversos que os falantes fazem de um dado sistema lingüístico, nas
mais diferentes práticas interlocutivas das quais participam cotidianamente.
É essa descrição que oferece a possibilidade de se chegar a delinear, com certa
precisão e objetividade, aspectos da heterogeneidade do falar brasileiro, seja no nível
fonético-fonológico, morfossintático, semântico-lexical e textual discursivo, cuja ausência
induz muitas pessoas (inclusive alguns “estudiosos” da língua “portuguesa”) a acreditarem
numa homogeneidade lingüística inexistente na Amazônia, ou em qualquer outro lugar do
mundo (FERREIRA et al 1994).
Por conseguinte, todas as línguas mudam no tempo e no espaço e variam. Ou seja,
a heterogeneidade lingüística está vinculada à social, sendo mais visível num país, cuja
extensão territorial é proporcional às desigualdades sociais, como é o caso do Brasil.
Tempo, espaço e variação remetem a diferentes sistemas culturais, desde os mais
remotos aos atuais, e ao processo de denominar pessoas, objetos, acontecimentos, etc,
usado pelo homem. Verifica-se, então, que o sentido desses denominativos é o ponto de
partida para as investigações, que, se antes, se definiam apenas como lingüística,
atualmente se inscrevem, também, no campo da geografia, da antropologia, da sociologia,
da psicologia e da educação, especialmente nas sociedades de cultura letrada, para
compreender a própria mentalidade do denominador, não só como elemento isolado, mas
como projeção de seu grupo social.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
55
Do ponto de vista histórico, o conhecimento da realidade lingüística do país, das
variadas áreas geográficas a serem identificadas e das diferenças que opõem determinadas
regiões a outras, pode revelar aportes que ampliem, entre outros estudos, a natureza do
peso da colonização do Brasil, construída, a duras penas, com o extermínio de centenas de
nações indígenas e o massacre de milhões de negros africanos, a constituição do português
falado no Brasil7.
Nesse sentido, o estudo em questão visa contribuir com a descrição e interpretação
das ocorrências de caráter semântico-lexicais, do dialeto8 falado na Microrregião
Marabá/Pará. E, assim, reunir dados, que, somados aos já existentes – resultantes de
pesquisas, similares, realizadas e outras em realização – revelem, de maneira mais ampla e
geral, as características da língua falada no Brasil. Posto que, a ausência de descrição é
uma das razões da crença no mito da homogeneidade lingüística.
Por isso, a necessidade de elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, que Nascentes
(1961) já antevia, como, também, sabia que só seria possível se iniciada com monografias,
dissertações, teses e outros estudos, de caráter regional, até se chegar aquele, de caráter
nacional.
Para a constituição dos Atlas, sem desconhecer a importância de outras áreas dos
estudos lingüísticos e minimizar a função de cada uma delas, na atualidade, urge que se
enfrente a descrição do funcionamento da língua falada no Brasil, no plano geográfico, cujo
procedimento mais adequado, para se pesquisar nesta amplitude continental, parece ser o
que propõe a Dialetologia – estudo relativo às questões diatópicas9 - cujo método – o
Geolingüístico – cartografa. Método, este, usado, pela primeira vez, por Jules Gilliéron, na
pesquisa que resultou no Atlas Lingüístico da França (BRANDÃO, 1991), primeiro trabalho,
nesta área, reconhecidamente elaborado com bases científicas.
Dialetologia associada à Sociolingüística – estudo da variação e da mudança na
língua em uso – em especial a fala, em meio a fatores diatrásticos10, nesse universo de
pesquisa, conformam os aportes teórico-metodológicos necessários à elaboração dos Atlas
7
Segundo Bagno (2001), dar voz à língua falada, neste país chamado Brasil, 92 vezes maior que Portugal,
habitado por uma população quase 17 vezes mais numerosa, é atribuir a importância que lhe foi expropriada
desde o processo colonizatório e vigora até os dias atuais, nesse império em que a Gramática Tradicional reina
sozinha.
8
Termo usado há séculos, desde a Grécia antiga, para designar o modo característico de uso da língua, por uma
dada comunidade, num determinado tempo e espaço geográfico.
9
São aquelas verificadas na comparação entre os modos de falar de lugares diferentes, como as grandes
regiões, os estados, as zonas rural e urbana, as áreas socialmente demarcadas nas grandes cidades etc.
10
São aqueles verificados na comparação entre os modos de falar de diferentes classes sociais, de grupos
etários, de grau de escolarização, de gênero, entre outros.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
56
lingüísticos, que sempre se constituíram em meta ou aspiração principal dos dialetólogos.
Assim, já se manifestava Alvar (1958:85 In FERREIRA; CARDOSO, 1994):
O grande interesse do Atlas está na grande massa de materiais que
oferece agrupados; mas, ainda, penso, que, sobretudo nas múltiplas
surpresas que oferece. A busca, sobre o terreno, dá generosamente frutos
para todos os lados. A descoberta de novos motivos de investigação e o
levantamento incessante de problemas são dados que depõem em seu
favor. As descobertas feitas por um Atlas são como brechas na muralha:
através das fendas será possível penetrar no ignorado. E será necessário
voltar sobre a brecha para ampliá-la e encontrar o fruto perseguido.
Ao reconhecer a urgência e a necessidade de vir o Brasil a ter seu Atlas lingüístico,
Silva Neto (1957), ao definir as atividades da Dialetologia no Brasil, inclui, entre estas, a
elaboração de Atlas regionais, que considera, com outros estudos, pré-requisito, condição
essencial para a elaboração do Atlas Nacional.
Não parece haver necessidade de argumentar em favor da realização de
Atlas Regionais, pois as razões são claras e óbvias para aqueles que a lançaram: a
vasta extensão do país e a dificuldade de locomoção, mais fácil de ser resolvida, no
interior de cada micro e mesorregião.
A ele (isto é, ao Atlas Nacional), havemos de chegar, mas há que se partir do
começo, se o quisermos realizar com segurança. Assim, os passos fundamentais
para o início desta grande obra nacional, devem envolver ações preliminares, como
sondagens experimentais, aplicação de questionários, bem como estudos de
natureza sócio-econômico-histórica sobre a região pesquisada, para, finalmente, se
chegar aos Atlas Regionais, que conduzirão ao Atlas Nacional.
Uma leitura panorâmica dos estudos dialetológicos, no Brasil, não prescinde das
proposições e o empenho de Amaral; Nascentes; Silva Neto e Rossi; por considerar, os
trabalhos, destes, referências para estudos de falares locais e/ou regionais.
A Amaral (1920) deve-se um dos primeiros estudos com esse caráter, no Brasil, cuja
obra O Dialeto Caipira é referência obrigatória, pois inaugura o estudo de língua no Brasil,
ao registrar vocábulos em uso entre ‘roceiros’ ou ‘caipiras’, cuja linguagem, em vários
aspectos, difere bastante da ‘gente’ da cidade, segundo o próprio autor. Nascentes (1939),
ao elaborar um Esboço Histórico da Filologia Portuguesa no Brasil, apresenta, na íntegra,
um projeto, segundo o qual, os livros didáticos relativos ao ensino da língua pátria só
seriam adotados nas escolas primárias e secundárias do Distrito Federal quando
denominassem de brasileira a língua falada e escrita no Brasil.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
57
Em 1961, o pai da Dialetologia no Brasil, como é conhecido Nascentes, lança a
segunda parte do Projeto Bases para a Elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, como o
complemento de um Questionário Geral (publicado pela Casa Rui Barbosa), dividido em
duas partes: a primeira, composta de questões e a segunda destinada a especificar o
Questionário Geral, ou seja, expressões ou nomes não muito comuns, com possíveis
significados. Estes, em grande parte, relativos a determinados fenômenos da suposta
pronúncia do português brasileiro, que, por si só, justificariam a importância da elaboração
de um Atlas lingüístico, quer regional, quer nacional.
Silva Neto, na obra Manual de Filologia Portuguesa: história, problemas e métodos
(1957), discute a noção de dialeto e adentra pela Geografia Lingüística, ao comentar alguns
Atlas Lingüísticos já publicados, e, ainda, confirma, como conseqüência desses estudos, a
produção do ‘verdadeiro’ dicionário da Língua Portuguesa. Em A Língua Portuguesa no
Brasil: problemas (1960), exemplifica, com pronúncias denominadas regionais, falares
urbanos e rurais para caracterizar a diferença, sem, no entanto, perder de vista a unidade,
que considera essencial no domínio lingüístico português. Em Introdução ao Estudo da
Língua Portuguesa no Brasil (1963), distingue dois ramos nos estudos brasileiros – a
história externa, de cunho etnográfico-social e a interna, propriamente a dialetologia, de
cunho filológico-lingüístico. O resumo relativo ao ramo externo, o referido autor se apóia na
história, formação e crescimento da sociedade brasileira, para situar a língua no que ele
considera ‘verdadeiro’ lugar: expressão de uma dada sociedade, portanto, inseparável da
história da civilização.
Rossi (1965), com a publicação do Atlas Prévio dos Falares Baiano – APFB, se
torna o primeiro autor de Atlas Lingüístico no Brasil. Nesta obra, as cartas fonéticas
apresentam a Bahia, as áreas lingüísticas do Brasil e os limites do falar baiano. Dois anos
depois desta publicação, o mesmo autor escreve um artigo sobre a origem, os
antecedentes e o Questionário do APFB, em especial o questionário-piloto, que serviu de
base para elaboração deste Atlas, bem como comenta os critérios de seleção das
localidades e o processo de elaboração e tipo de cartas.
1.2 DIALETOLOGIA E SOCIOLINGUISTICA: AS LÍNGUAS E QUEM FALA
O arcabouço teórico-metodológico, até, aqui, referido, é o aporte desta investigação
que pretende submergir num dado cenário, para, dele, emergirem dados da língua,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
58
passíveis de observação e descrição, especificamente, neste estudo, ocorrências
semântico-lexicais encontradas na fala dos moradores da Microrregião Marabá/PA.
O cenário, a que nos referimos, denominado rede de pontos lingüísticos, requer a
conjugação de fatores sócio-históricos e demográficos, do passado e do presente, para,
reunidos, possibilitar a explicação sobre o funcionamento de uma língua, que, por força de
Lei, denominamos ‘portuguesa’, e, assim, espelhar os usos que dela fazem os falantes
deste/neste cenário.
Algumas categorias, como língua, história, sociedade, identidade, dialeto, cultura,
educação, entre outras, emergem, conjuntamente, se amalgamam, nos desafiando. Nessa
trilha semântico-lexical, todos somos Teseu e precisamos de uma Ariadne11, a bela princesa
da mitologia grega. Nesse labirinto, que Hall (2006) destaca como efeito do processo de
globalização, o enfraquecimento do estado-nação e, conseqüentemente, a desestruturação
das identidades nacionais, como ponto de análise:
[...] um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as
sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as
paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e
nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações
como indivíduos sociais [...] (p. 9).
O mesmo autor aponta para outras transformações, como o aumento da resistência
à globalização das identidades nacionais, locais e particulares, que permanecem ainda
fortes, sendo colocadas acima das identidades “globais”, e, mais ainda, que as identidades
nacionais estão em declínio, mas novas identidades estão tomando seu lugar no front de
tensão entre o “global” e o “local”.
No entanto, como afirmara Marroquim (1945), numa espécie de desabafo: “[...] Nós,
no Brasil, presos à gramática ”portuguesa”, somos vítimas de uma desintegração dolorosa
de nós mesmos [...]. Regras de gramática rígidas e áridas baseadas em fatos lingüísticos
isolados do “homem” são camisas de força asfixiantes [...]” (p.124-5).
Diversidade que não anula a unidade, apenas lhe dá a verdadeira dimensão, ou seja,
aquela é inerente a todo e qualquer sistema lingüístico. Afirmar isso, no entanto, não basta,
é necessário constatar. Falantes de uma mesma língua, mas de regiões distintas, têm
características lingüísticas diversificadas e se pertencerem a uma mesma região também
não falam da mesma maneira, considerando os estratos sociais. Chega-se assim à noção
11
A bela princesa da mitologia grega – que ajuda o herói, Teseu, a se guiar pelo labirinto e matar o Minotauro,
com um novelo que ela desenrolava, para adentrarem e o enrolava para saírem da emaranhada construção.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
59
de dialeto ou variação, recorte que delineia semelhanças e contrastes lingüísticos
socioculturais.
Portanto, língua nada mais é que um conjunto de dialetos, estes, por sua vez,
constituem as múltiplas possibilidades de realização concreta daquela, pelos falantes de
qualquer sistema lingüístico. Ao contrário do que circula, historicamente, dialeto não é uma
língua menor, inferior, falada por pessoas analfabetas e/ou moradores das zonas rurais.
Para outros, nem língua é.
Na verdade, o critério definidor da diferença, que se cristalizou, entre língua e dialeto
foi o status social e não lingüístico. Dito de outra forma, o dialeto considerado de maior
prestígio social ganha o status de língua em oposição aos de menor, então, denominados
dialetos. Tal diferença entre língua e dialeto, confirma Coseriu (1982), é de status social
historicamente construído. Um dialeto, sem deixar de ser intrinsecamente uma língua, se
considera subordinado a outra língua, de ordem superior. Para ele, o termo dialeto,
enquanto oposto à língua, designa uma língua menor incluída em uma língua maior, que é,
justamente, uma língua histórica (ou idioma). Uma língua histórica não é um modo de falar
único, mas uma família histórica de modos de falar afins e interdependentes.
Os dialetos são membros desta família ou constituem uma dessas famílias.
Portanto, se pode denominar dialeto, tanto a variedade falada em uma região do país,
quanto às usadas por cada um dos segmentos que constituem a população que ali vive,
desde que se determinem as normas que as caracterizam.
O mesmo acontece na relação que estabelecemos entre falantes que moram na
capital e os que moram no interior, ou seja, quem mora naquela fala uma língua, e quem
mora, neste, fala um dialeto. Da mesma forma que se crer que falantes escolarizados falam
uma língua, já os não escolarizados falam um dialeto. Ou seja, em qualquer dos exemplos,
o critério usado sempre é o status social, o grau de prestígio social das pessoas que usam
este ou aquele dialeto.
O status social é sempre o do dominador, por essa razão fomos levados a crer,
nesses 5 (cinco) séculos, que o português falado em Portugal é Língua, os demais, falados
nos 8 (oito) países colonizados por este, são dialetos. E mais, outro equívoco é crer que o
dialeto que ganhou o status de língua não possui variação, é homogêneo.
Os estudos empreendidos pela ciência da linguagem, cada vez mais, reafirmam que
língua é um conjunto de dialetos e a variação é inerente a todo e qualquer dialeto, portanto,
mesmo aquele de “maior” prestígio apresenta variações.
60
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Da mesma forma, os estudos dedicados à análise do discurso revelam que conceitos
não nascem do nada e sim de um determinado conjunto de fatores, circunscritos a uma
dada época e espaço. Nesse prisma, de Saussure (2000) a Bakhtin (1988), o conceito de
língua implica o de sujeito, deixado de fora, pelo primeiro, no entanto, essencial ao segundo,
dentro dos estudos lingüísticos. A atitude do primeiro foi o ‘preço’ pago pela lingüística para
se “encaixar” nos paradigmas, de base estruturalistas, vigentes à época, para um
determinado saber ser considerado ‘científico’.
O sujeito, que não cabia nos moldes científicos estruturalistas, emerge nos estudos
empreendidos por Bakhtin, quase à mesma época, mas em espaços políticos diferenciados.
É nessa concepção de Bakhitin que compreendemos deva estar circunscrito o conceito de
língua, o que implica (co)relacioná-lo ao de sociedade, ou seja, reconhecer, segundo
Oliveira (1975)12, que, se os homens fazem a língua e não a língua os homens, é
necessário, portanto, contextualizá-los em um dado tempo e espaço. Nesta pesquisa, o
território é o amazônico, cujo mosaico lingüístico resulta do confronto das mais de 1.000
(mil) línguas indígenas, faladas pelos colonizados, com a língua dita portuguesa, a do
colonizador, interpostas pelas africanas, às custas da escravidão, e pela dos imigrantes13.
A Dialetologia, ao estudar os dialetos, adentra na complexidade dos diversos
contextos sócio-históricos de interação lingüística. Neste caso, em solo brasileiro,
pesquisará
o que resultou
desse
processo
colonizador,
o
português
brasileiro,
heterogeneidade de suas variantes regionais e sociais, também as normas socialmente
consentidas, além daquela idealizada por filólogos e gramáticos, coercitivamente veiculadas
pelas instituições, sobretudo, escolares.
Por que se afirma que falamos a língua portuguesa? Ao se fazer tal afirmação, na
verdade, está se tratando de uma língua que se tornou majoritária e oficial neste país
multilingüe
e
14
escamoteado
multidialetal
pela
dominação.
É
esse
multilingüismo/dialetalismo,
de todas as formas possíveis, que queremos tornar evidente, ou seja, a
realidade lingüística multifacetada. Retratar a heterogeneidade sincrônica do português
brasileiro é, vendo-se o presente, reconstituir o passado e presumir o futuro. É constatar que
nada na língua é por acaso.
12
Fernão de Oliveira foi um dos primeiros lingüistas a explicitar uma reflexão sobre língua e sociedade.
Pesquisas recentes, de geneticistas brasileiros, provaram que a esmagadora maioria das linhagens paternas
da população branca do país veio da Europa, no entanto, 60% das linhagens maternas são ameríndias ou
o
africanas. Cf. Revista Ciência Hoje, vol. 27, n 159, de abril de 2000, p. 16, “Retrato molecular do brasileiro”.
14
A última Constituição Brasileira (1988) demonstra um razoável avanço político e lingüístico ao registrar que
doravante o Português passaria a ser rotulado de língua oficial (língua da administração pública, do governo e
que deve ser aprendida nas escolas) e não de língua nacional, materna dos habitantes, que falam muitas línguas
locais diferentes.
13
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
61
Um passado em que índios brasileiros e suas línguas foram obrigados a iniciar um
percurso etnocida e glotocida conhecido, primeiro pelos colonizadores portugueses e
prosseguido pelas chamadas ‘frentes pioneiras’, que atualmente alcançam os limites últimos
da Amazônia brasileira.
Nesses quinhentos anos de destruição ininterrupta, sobrevivem cerca de 180 línguas
indígenas e cerca de 220.000 índios – seriam o dobro as línguas do século XVI ou, muito
mais, cerca de 1.500, o que impede de dizer (mas é o que se teima em afirmar!) que o Brasil
é um país monolingüe.
O processo colonizador e evangelizador dos séculos XVI e XVII utilizou, como
instrumento fundamental para a dominação, línguas indígenas brasileiras. Embora
homogeneizadora da atividade catequética – construiu um “tupi jesuítico” -, a língua geral da
costa, de base tupi, chegou a ser um risco para a hegemonia do português no Brasil,
juntamente com outras línguas gerais indígenas que foram veículos de intercomunicação
entre brancos, índios e negros, não só no litoral brasileiro, mas nas entradas paulistas; pelo
nordeste teria sido uma língua geral cariri e, na Amazônia, a língua geral, de base
tupinambá, é o antepassado do nheengatu, que persiste, atualmente, em área de complexo
multilingüismo no rio Negro. O que denominamos língua brasileira é o fruto vivo da morte de
outras línguas.
Exemplo dessa situação é a da área multilingüe do Tocantins, Sudeste do Pará,
onde convivem índios do tronco lingüístico jê (gaviões e xikrin) e seis grupos do tronco
lingüístico tupi, sobreviventes do contato com a sociedade dominante. São constatações
como essas que, de um lado, não nos permitem ignorar a perda progressiva das línguas
indígenas e o avanço inexorável da língua portuguesa, a depender do tempo e do tipo de
contato.
E, por outro, nos permitem constatar que muito provavelmente cada grupo indígena
em contato tem a sua própria história e vários fatores interagem para a perda ou a
manutenção de suas línguas, o que acontece, atualmente, analogamente, deve ter ocorrido
no passado. Informações históricas desse tipo são fundamentais para a reconstituição do
passado lingüístico do Brasil – e fontes como essas precisam ser sistematicamente
exploradas. Por exemplo, o censo de Anchieta para o Brasil, de 1583, indica a existência de
24.750 brancos, 14.100 negros, 18.500 índios (aldeados).
Dentre as línguas faladas por essa quantidade de negros, o percentual de falantes
bantu foi sempre superior, e quase sempre, maciçamente, em todo período do tráfico. Isso
nos possibilita entender de forma bastante clara porque são precisamente os itens lexicais
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
62
de origem bantu os que se registram com mais anterioridade, com maior grau de integração
morfológica e em maior número de campos semânticos no português do Brasil.
A posição relativamente proeminente do grupo não bantu, nos últimos séculos,
também implica o grande número de itens lexicais emprestados por essas línguas, embora
não integrados e particularmente restritos aos campos semânticos ligados à atividade ritual.
Portanto, não se pode negar que a história das línguas passa necessariamente pela história
demográfica de seus falantes. Como bem afirma Silva (2004, p. 23):
[...] Passados quase 5 séculos, está ainda por ser reconstruído, o
detalhamento possível, o processo de encontro politicamente assimétrico
15
entre a língua ‘portuguesa ’, língua de dominação, com muitas línguas
autóctones (nativas) e as diversas línguas aqui chegadas, primeiro as
africanas, depois as línguas de migrantes, que tornaram esta área
americana,
multilingüe
de
origem,
ainda
mais
complexa
lingüisticamente.[...].
Como essas situações de contato se estabeleceram em sucessivas e diversificadas
circunstâncias, ao longo dos 500 anos de história do ‘português’ no Brasil, ainda há muito a
ser desvelado, mas é importante afirmar explicitamente: que o português não foi e não é a
única língua falada no Brasil. O construto teórico relativo aos estudos dialetológicos no
Brasil e à forma como tem se delineado o marco metodológico destes, dentro dos estudos
lingüísticos, imprimem marcas para caminhos e perspectivas nesta área da linguagem,
associado aos princípios da sociolingüística, em busca da diversidade “ignorada”.
Da perspectiva sociolingüística, Labov (1983) e Tarallo (1986), nos estudos
empreendidos sobre variação lingüística, há muito mostraram que uma língua não é única e
homogênea, mas um conjunto de variedades, usadas, diferentemente, de acordo com a
época, o lugar, as características sociais do falante e a situação de comunicação.
Os estudos dedicados à Semântica Lexical de Pottier (1978), objeto da lexicologia,
nos remete à significação das palavras, a partir da distribuição do léxico por campo
semântico, isto é, associações para certo número de semantemas, como os termos para
partes do corpo humano, para os fenômenos atmosféricos etc. e, por famílias lexicais, isto
é, conjunto de palavras que têm em comum seu semantema, cuja função lexical se
multiplica pelos processos de derivação e composição.
Temos, portanto, de um lado, um conjunto de variáveis lingüísticas, todas as que a
análise permite descobrir, e de outro um conjunto de variáveis sociais, todas as que uma
teoria sociológica permite isolar. No meio social, essas variantes coexistem em seu campo
15
Português aqui entendido como língua oficial, imposta pelo dominador.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
63
natural de batalha. É o uso mais ou menos provável de uma ou de outra que iremos
analisar.
A variável lingüística, no nível semântico-lexical, objeto desta pesquisa, são formas
diferentes que permitem dizer a mesma coisa, ou seja, quando dois ou mais significantes
têm o mesmo significado (conceito), e quando as diferenças que eles representam têm
função outra, estilística ou social.
Dizer, por exemplo, conjutivite/sapatãu e dordói, evidentemente, manifestam
variáveis semânticas, resta saber a que função correspondem essas diferentes formas. Isso
nos remete à noção de signo lingüístico – na perspectiva saussureana – ou seja, uma
relação entre um significante e um significado e não entre uma palavra e uma coisa. Podese considerar que essas diferentes palavras se dividem, em seu uso, em uma escala de
faixas etárias, em ambos os pontos lingüísticos, conforme Figura 216.
Figura 2 – Variável: faixa etária
Pode-se, também, imaginar, que elas se dividam, segundo o grau de escolaridade,
posto que, entre os sujeitos desta pesquisa, os jovens já concluíram o Ensino Médio e os
adultos possuem baixa escolaridade, em ambos os pontos lingüísticos. Já a Figura 317
exemplifica uma variação determinada pelo sexo, e encontrada no ponto lingüístico
Marabá.
Figura 3 – Variável: sexo
16
Cf. Apêndice 1, desta Dissertação, que contém todos os dados resultantes da pesquisa de campo que compõe
este trabalho.
17
Idem.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
64
Ainda se pode imaginar que elas se dividam segundo o espaço geográfico,
conforme Figura 418, em que 100% dos sujeitos da Microrregião Marabá deram como
resposta gogó, diferente do tema proposto pelo ALiB que é pomo de adão.
Figura 4 – Variável: espaço geográfico
Teríamos, assim, um uso forçado, e o fato de utilizar um ou outro termo indicaria
que o falante se encontra nessa ou naquela categoria social (jovem, mulher, classe
enriquecida etc.). No entanto, o ato de nomear aponta para uma discussão decisiva nos
estudos da linguagem e que reformularemos nos seguintes termos: devemos tomar a
segmentação do mundo em classes como qualquer coisa de ordem do “já dado” ou “do
construído?” Em outras palavras, seria a estruturação do mundo em categorias algo
previamente constituído nas próprias coisas, dependeria ela das diferentes maneiras de
olhar para o mundo?
18
Idem.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
65
Se aderirmos à primeira hipótese, levantaremos uma teoria escorada no referente
externo à linguagem, ou seja, nas “próprias coisas”, supondo, portanto, que o homem tem
acesso direto a elas, independentemente de quaisquer filtros interpostos pela sua inserção
sócio-histórica ou cultural. De acordo com essa visão, línguas naturais seriam como que
nomenclaturas apensas às coisas de um mundo preliminarmente discretizado, recortado.
A segunda dessas hipóteses nos leva, ao contrário, a uma teoria da linguagem que
privilegia os diferentes modos de ver, de olhar, as coisas, concedendo prioridade ao ponto
de vista, não ao objeto. Isso implica, por exemplo, reconhecer que dois falantes,
pertencentes a comunidades distintas, ou a uma mesma comunidade, não vêem nunca
exatamente o mesmo mundo e nem do mesmo jeito. Sendo a Semântica o estudo
sistemático do significado constitui uma interrogação permanente dos estudos sobre a
linguagem desde seus primórdios.
Ou seja, em vez das relações linguagem-coisas, prefere examinar o que se passa
entre o fazer persuasivo de um locutor e o fazer interpretativo de um interlocutor; já não se
trata da relação linguagem-coisa ou linguagem-mundo, e sim das relações entre o que se
diz, o como se diz, e o porquê se diz ou, em termos mais modernos, entre significantes e
significados.
Tanto significante como significado fazem parte da linguagem humana: são as duas
faces do signo lingüístico. Uma das características deste signo, freqüentemente evocadas
pela lingüística, é o fato das diversas línguas naturais estabelecerem, cada qual, para uso
próprio, diferentes estruturações do “mundo” por elas concebido. Por isso, nessa
perspectiva, tanto o pólo da “palavra” quanto o do “conceito” são variáveis segundo a
inserção sócio-histórica das lexias que estejam em pauta.
Três dimensões estão nesse cenário: uma dimensão diatópica (correlata aos
lugares), uma dimensão diastrática (correlata aos grupos sociais)) e uma dimensão
histórica (correlata à sincronia/diacronia). Uma descrição que conjuga estas três dimensões
consiste precisamente em pesquisar o tipo de correlação entre variantes lingüísticas e
sociais, efetuando sistematicamente triagens cruzadas e interpretando os cruzamentos
significativos.
Por exemplo, é possível que, em um dado meio social, um falante utilize latrina,
enquanto os que o cercam utilizam reservado ou toalete, com o único propósito de chocar,
de infringir a norma daquele espaço, de se rebelar etc. Por um lado, a utilização dessa ou
daquela forma é inconsciente, involuntária, mas ela nos indica algo sobre a posição social
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
66
do falante, e, por outro, ela é consciente, voluntária e nos diz algo sobre o comportamento
do falante, que utiliza a língua para agir.
Portanto, há três fatores que condicionam a diversidade lingüística:
a) a identidade social do falante;
b) a identidade social do destinatário e
c) o contexto, situando-a, assim, no marco de uma análise lingüística que toma
emprestadas noções-chave da teoria da comunicação.
Do exposto, neste capítulo, não se pode ignorar que concepções e conceitos sobre
língua, norma “culta”, fala, e “erro” de português e tantos outros construtos, não são
questões exclusivamente lingüísticas. São produtos socioculturais, vinculados à esfera
política, transformados em instrumento de poder, de coerção e de submissão, marcados,
historicamente, pela exclusão e repressão de uma maioria por uma minoria detentora do
poder econômico. Infelizmente, temos que dizer: Uma língua vale quanto vale seus falantes!
Mesmo assim, é preciso nos “agarrar”, nos inspirar, na sabedoria de Freire (2006), expressa
na beleza dessas palavras:
[...] Sem um mínino de esperança, não podemos sequer começar o
embate, mas, sem o embate, a esperança, como necessidade ontológica,
se desarvora, se desendereça e se torna desesperança que, às vezes, se
alonga em trágico desespero. Daí a precisão de uma certa educação da
esperança. É que ela tem uma tal importância em nossa existência,
individual e social, que não devemos experimentá-la de forma errada,
deixando que ela resvale para a desesperança e o desespero [...] (p. 11).
Imbuídos dessa esperança utópica, que não significa impossibilidade, ‘mergulhamos’
no estudo deste universo de palavras, que forma, configura, caracteriza, identifica e
singulariza uma dada comunidade, cujo léxico recobre um conjunto de significados
normatizados, construídos e ou consentidos culturalmente.
1.3 LÉXICOS, SIGNIFICADOS E NORMAS
Este cenário a que denominamos de comunidade lingüística, segundo Labov (1983),
é um grupo de pessoas que compartilham um conjunto de normas comuns com respeito à
linguagem, e não como um grupo de pessoas que falam do mesmo modo. Nessa
perspectiva, norma é definida como sistema de realizações sociais e culturais avaliadas
positivamente por uma comunidade. É dessa concepção que nos valemos para ratificar que
todos os dialetos (sem exceção) têm uma norma. Cujo léxico veicula o significado de acordo
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
67
com um conjunto de regras que garantem a unidade do dialeto, limitando a variação e a
evolução lingüística na comunidade.
É em busca dessas normas comuns que se debruça este estudo para a constituição
da norma pedagógica do português, que, segundo Castilho (1998), deve ser uma das metas
das pesquisas que se preocupam com a inter-relação entre diversidade lingüística e ensino,
em outras palavras, com as possíveis aplicações dos saberes das ciências nelas envolvidas,
cujo interesse não deve estar centrado somente no poder explicativo de cada uma.
No entanto, quando uma língua se institucionaliza, por meio da criação de
instrumentos normativos como a gramática normativa e a ortografia, tende a escolher um
dos seus dialetos como norma padrão. É importante sublinhar que a ‘escolha’, para não
afirmar imposição, de uma dada norma como padrão se pauta por aspectos econômicos e
políticos, geralmente, relacionados com a localização das capitais políticas, culturais ou
econômica dos países. A língua portuguesa usou, como norma padrão, a partir do século
XX, os dialetos falados entre Coimbra e Lisboa, com especial relevo para esse último. No
Brasil, por exemplo, a norma padrão evoluiu do dialeto de Lisboa para o Rio de Janeiro e,
deste, para São Paulo, capitais políticas, econômicas e culturais.
A seleção dos critérios econômicos e políticos que interferem na língua estão muito
distantes dos critérios científicos. Há países, em que autênticas línguas são consideradas
apenas dialetos da língua oficial, quando, na realidade, não o são de todo. Não é preciso ir
muito longe; até o século XX, a língua galega foi considera um dialeto da língua castelhana.
Na realidade, a lingüística provou, ao longo do século XX, que o galego é uma variante
dialetal do português. De um ponto de vista legal, o galego é considerada uma língua
autônoma. De um ponto de vista científico, ela é estudada nas universidades como dialeto
do português.
Nessa perspectiva, uma é a língua que a escola pretende transmitir a seus alunos,
que se funda em uma tradição histórica idealizada e que continua nas gramáticas
pedagógicas; a outra19, é o português das falas correntes, do vernáculo, na definição
laboviana, que cada vez mais chega à escola, não só na fala do aluno pelo maior acesso,
embora insuficiente, como sabemos, dos segmentos empobrecidos, às instituições
escolares, mas também na dos professores que, atualmente, na sua maioria, por razões
históricas conhecidas, são provenientes desses mesmos segmentos da sociedade.
19
O poema Aula de Português, de Carlos Drummod de Andrade, revela bem esta situação ao afirmar: “(...) O
português são dois. O outro... mistério”.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
68
Esta tradição gramatical normativo-prescritiva institucionalizada via sistema escolar
nasceu da percepção da unidade do grego, apesar de sua diversidade, e se desenvolveu
em um esforço pedagógico para fixar a língua em um certo “estado de pureza”, para permitir
o estudo dos escritores clássicos gregos e, estes, por sua vez, servissem de modelo a ser
seguido. Define-se, desse modo, uma vertente na tradição das línguas que se tornou
hegemônica por mais de 20 séculos: a da tradição gramatical, como suporte da crítica
textual, que se concentra no estudo da língua escrita, conforme uma variante privilegiada
socialmente, e que, nas sociedades letradas, como a brasileira, coincide com a dos
escritores legitimados segundo os cânones literários, também construídos historicamente,
ignorando-se, portanto, as variantes faladas, que constituem a realidade, menos ou mais
hegemônica, de qualquer língua histórica, que, no entanto, precisa ser descrita.
Alguns desses equívocos, transpostos para outros setores da sociedade, fora do
mundo acadêmico e, portanto, sem fundamento científico, têm gerado distorções ainda mais
graves, transformando-se em rematadas inverdades, repetidas diariamente nos grandes
meios de comunicação, com danosas repercussões no ambiente escolar. Alguns desses
equívocos, sem fundamento, por exemplo, é considerar que:
um dialeto é uma língua menor.
Um dialeto não é língua, é uma variante de uma língua. Por outro lado, qualquer
língua, por menos prestígio que tenha, não deixa de ser língua e não passa a ser dialeto só
por isso. Línguas como o Tétum (de Timor) ou o Potiguara (do Brasil) não é dialeto do
português, mas línguas tão dignas como qualquer outra e que, sendo minoritárias, merecem
ser protegidas e estudadas.
o português de Coimbra é a língua portuguesa e em Marabá, no Pará, fala-se um
dialeto ou corruptela.
O dialeto falado em Coimbra é tão correto como o dialeto paraense e vice-versa,
são apenas maneiras diferentes de realizar a mesma língua. Não há nenhum critério
científico que valide a superioridade de uma variante em relação à outra.
o crioulo cabo-verdiano é um dialeto do português.
O crioulo cabo-verdiano é uma língua e não um dialeto. Tem base lexical na
língua portuguesa, mas é diferente e tem seus próprios dialetos. O mesmo se aplica a
qualquer crioulo.
um dialeto é um linguajar sem regras.
Não existe nenhum dialeto sem a sua norma. Qualquer dialeto tem as suas
regras gramaticais, fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas e lexicais. Qualquer
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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falante de um dialeto conhece todas as suas regras intuitivamente. A questão é que, ao
longo desses séculos, a escola nada mais foi que um instrumento de reprodução da
sociedade na qual está inserida, e, portanto, detentora do privilégio de legitimar um padrão
normativizador, segundo a variante socialmente prestigiada, o que significa uma poderosa
peça dessa engrenagem ideológica, conforme Quadro 1.
Quadro 1 – Sistema, normas e falas
1. SISTEMA
(línguas)
2. NORMAS(culturais/sociais)
3. FALAS2.(dialetos)
Voltamos ao início deste capítulo, para reafirmar a necessidade de descrição das
línguas, como uma das funções prioritárias dos pesquisadores desta geração, ou seja, para
desvendar nossa realidade lingüística, e, assim, dispormos de dados que nos permitam
reajustar as normas pedagógicas no que for necessário. Esse desvendar, como já
afirmamos anteriormente, vem sendo feito, vigorosamente, nas três últimas décadas,
primeiro pelos dialetólogos, depois pelos sociolingüistas, mesmo que ainda sejam poucos os
estudos nesta área. Quanto ao reajuste da norma pedagógica, este deve ser efetivado nas
práticas de sala de aula, no cotidiano de muitos, não de todos os professores, sobretudo,
daqueles com uma boa formação lingüística, mas os instrumentos pedagógicos
“reajustados” ainda estão por vir.
Assim, aos poucos, iremos nos desvencilhando do legado que a Gramática
Tradicional nos imputou, como modelo de língua “exemplar", produto intelectual de uma
sociedade aristocrática, machista, escravagista, oligárquica e hierarquizada, um uso, com
base na escrita literária, característico de um grupo restrito de falantes: 20
do sexo masculino;
cidadãos (eleitores e elegíveis) livres (não-escravos);
20
Cf. BARROS, João. Gramática da Língua Portuguesa (1940), que registra a expressão "barões doutos", para
relacionar, claramente, a língua "certa" como a da aristocracia social e intelectual. E mais, uma vez que "barões"
é forma antiga de "varões" – homens – excluía, portanto, do "bem falar", todas as mulheres.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
70
membros da elite cultural (letrados) e da aristocracia política;
detentores da riqueza econômica.
Ao "eleger" o uso de um grupo restrito, muito mais que uma análise de língua ou
mesmo que a prescrição de formas "corretas" de uso da língua, sempre será uma tentativa
de selecionar para excluir, não de selecionar umas formas lingüísticas para excluir outras,
mas sim de selecionar determinados cidadãos e excluir a maioria, esta, lançada no
submundo do falar "errado", do "não saber pensar direito" e, conseqüentemente, do nãopoder falar, o que muitas vezes é o mesmo que não-poder-ser, conforme bem expressa a
Figura 521, ou seja, quanto mais prestígio mais poder e, entre ambos, a “boa” e “velha”
língua de Camões.
+ ESTIGMA
-renda
-escolaridade
+renda
+escolaridade
+ PRESTIGIO
Figura 5 – Estigma X Prestígio
O combate a esses postulados, sintetizados na Figura 5, requer assumirmos a
correlação entre o uso lingüístico e estratificação social. Isto é, as gramáticas das
comunidades de fala – dando voz à língua falada – regidas por fatores internos (lingüísticos)
e por fatores externos (sociais), status socioeconômico, grau de escolarização, faixa etária e
sexo. Isso significa reconhecê-las como legítimas. Os postulados sociolingüísticos, portanto,
nos ajudam a compreender a relação entre língua e sociedade, a partir do princípio da
diversidade lingüística, pois se inscreve na corrente das orientações teóricas contextuais
sobre o fenômeno da variação, que consideram as comunidades lingüísticas não somente
sob o ângulo das regras de linguagem, mas também sob o ângulo das relações de poder
que se manifestam na e pela linguagem.
Os estudos empreendidos nessa área, até então, atestam que nenhuma língua é
usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. Cada pessoa traz em si uma série
de características que traduzem, no seu modo de se expressar:
a região onde nasceu (variação diatópica) e
o meio social (variação diatrástica).
21
Cf. Bagno (2001).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
71
Enfim, o uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de
classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente, podemos afirmar
que o uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar
diferentes variedades de uma só forma da língua. Ao trabalhar com o conceito de variação
lingüística, assumimos que esta se dá em função do sujeitos do discurso e da variedade
cultural na qual estes estão inseridos.
No entanto, na prática, esquecemos que uma língua, além de uma gramática, tem
também um léxico, quer dizer, um conjunto relativamente extenso de palavras, à disposição
dos falantes, as quais constituem as unidades de base com que construímos o sentido de
nossos enunciados.
Dessa forma, ganha sentido afirmar que o léxico é mais que uma lista de palavras à
disposição dos falantes. É mais que um repertório de unidades. É um depositário dos
recortes com que cada comunidade vê o mundo, as coisas que a cercam, o sentido de tudo.
Por isso é que o léxico expressa, magistralmente, a função da língua como elemento que
confere às pessoas identidade: como indivíduo e como membro pertencente a um grupo.
Fernandes radicalizou esse poder de significação do léxico, ao afirmar: ”O que os olhos não
vêem, a língua inventa” (Millör, 1994, p. 285).
No âmbito da interação verbal, o léxico recobre diferentes funções. Como unidade de
sentido, as palavras constituem as peças com que se vai tecendo a rede de significados.
São elas que vão materializando, mediando as intenções do nosso dizer, associadas,
inseridas em outras variáveis.
Embora outras variáveis possam e/ou devam ser consideradas para uma
compreensão mais ampla da variação lingüística, de toda ordem, as aqui selecionadas (área
geográfica, renda, faixa etária, sexo e grau de escolarização), assim o foram, por se
mostrarem, em estudos similares, as mais relevantes para a compreensão do fenômeno em
estudo.
Isso porque entre os universais lingüísticos – elementos que caracterizam as línguas
do mundo inteiro – as semelhanças que as identificam, como línguas, é que todas elas
possuem diferenças quanto ao uso em relação à região, ao grupo social, à faixa etária, ao
nível de escolaridade e ao sexo.
Entre estas, todavia, chama a atenção o nível de escolaridade do falante, que, no
Brasil, está intimamente relacionado a status social. Por isso, neste tipo de pesquisa, é
imperiosa a opção, dentre os outros fatores selecionados, por sujeitos analfabetos e/ou de
baixa escolarização (no máximo até a quarta série do Ensino Fundamental) X concluintes do
72
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Ensino Médio. Tal opção fortalece o vínculo deste trabalho com a linha de pesquisa Saberes
Culturais e Educação na Amazônia: diversidade lingüística, de um Mestrado em Educação,
e se justifica, na medida em que pode contribuir com a construção de saberes lingüísticos
tão necessários a um ensino de línguas, melhor entendido pelos planejadores e professores,
se considerado de uma perspectiva da heterogeneidade dialetal.
Necessário, portanto, um giro lingüístico, isso implica descrições que revelem, entre
outros, aspectos semântico-lexicais da fala (objeto deste estudo) de sujeitos da região
pesquisada, até então nunca antes descritos, que servem bem de exemplo do que se
denomina norma oral – a da grande maioria da população brasileira – e constitui excelente
amostragem (dados) frente aos ‘padrões’ impostos que chegam atualmente às escolas, via
livro didático ou não, e que têm suscitado tanta polêmica, por vezes, por falta de
compreensão da dinâmica e sistematicidade inerente a todo sistema lingüístico, e outras por
concepções equivocadas sobre o que significa de fato saber uma língua. Mas ambas
responsáveis pela segregação de uma maioria de alunos, cujo desempenho escolar é
marcado pelo recorrente ‘fracasso’, quando o que é apenas diferença a escola se encarrega
de transformar e de perpetuar em deficiência.
Para finalizar este capítulo, reafirmamos a relevância e influência tanto da
Dialetologia quanto da Sociolingüística nas pesquisas sobre língua falada e, em
especial, sobre o fenômeno da variação lingüística, em diferentes comunidades de
fala.
Evidenciadas,
atualmente,
nos
estudos
lingüísticos,
empreendidos,
principalmente, nas últimas décadas, cuja elaboração de Atlas regionais, estudos
geolingüíticos e monografias dialetais no Brasil, exemplificam bem. Estas
publicações se constituem em pesquisas de cunho descritivo do fazer e do saber
lingüístico em numerosas localidades brasileiras.
No Capítulo II, que segue, apresentamos uma das possibilidades de
abordagem, de descrição do componente semântico-lexical. Para tanto, situamos o
método Geolingüístico, de tradição histórica e intelectual, nos estudos dialetológicos
–– com base na variável diatópica – geográfica e cultural – caracterizadora da rede
de pontos lingüísticos selecionada, nesta investigação, a Microrregião Marabá e na
variável diatrástica – social – singuladora do perfil da população-amostra desta
pesquisa, como status econômico, grau de escolarização, sexo e faixa etária.
A Geolingüística visa a explicitar a dimensão do conhecimento lingüístico,
dentro de um determinado contexto, por isso se revela significativa, na medida em
que contribui para o registro da memória de comunidades lingüísticas brasileiras.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Nela, evidenciamos o Questionário Semântico-Lexical – QSL (ALiB, 2001),
instrumento largamente utilizado na produção de dados, como os relativos a esta
investigação, entre estes, identificação, registro tabulação e cartografação das
ocorrências de natureza semântica. Ocorrências, estas, relacionadas a cada
pergunta, item ou questão, que se encontram visualizadas nas tabelas e cartas,
analisadas no Capítulo III deste trabalho.
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75
.1 TIPO DE ESTUDO
[...] é inegável que a gramática
[normativa] sempre esteve sintonizada
com a língua da classe mais
‘culta’ e mais abastada
(não existe, historicamente, uma ‘gramática’).
da língua dos pobres.
(Rodolfo Ilari e Renato Basso, 2006)
Afirmamos no Capítulo I, desta Dissertação, que ele se destinava à (re)constituição
de alguns construtos teóricos, necessários, como aportes, à análise do objeto de estudo
desta pesquisa. Basicamente, esta investigação se insere mais especificamente na
Dialetologia, que, por sua vez, se firma como ciência que estuda os dialetos, devido à
produtividade da Geolingüística, método cartográfico, amplo e reconhecidamente utilizado
como instrumento de produção de dados de campo, desde a publicação do Atlas Lingüístico
da França, elaborado por Jules Gilliéron, primeiro trabalho reconhecidamente científico na
área dos estudos dialetais.
Portanto, compor, nesta Dissertação, este Capítulo II, intitulado Geolingüística: o
método cartográfico, representa a decisão de revelar um percurso metodológico, que,
sabemos, ultrapassa o que é peculiar, ou próprio, à cartografia. Não ignoramos, assim, que
qualquer divisão entre aporte teórico e metodológico é meramente textual, posto que,
impossível operá-los separadamente, neste estudo, por exemplo, a Geolingüística, como
método da Dialetologia, são inseparáveis.
Inicialmente, o tipo de estudo – o geolingüístico e a abordagem – a qualiquantitativa.
É o Capítulo relativo aos aspectos histórico-econômico-sociais relativos ao local desta
pesquisa, a Microrregião Marabá e aos municípios que funcionaram como pontos
lingüísticos: Marabá e Palestina do Pará. Neste, também, constam a caracterização dos
sujeitos e do local das entrevistas; os materiais técnicos e instrumentos de produção dos
dados. Bem como informações sobre a organização das Tabelas e das Cartas Lexicais, e,
por fim, os procedimentos relativos à constituição e análise do corpus.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Corpus, este, constituído de dados extraídos da fala dos sujeitos nativos da região ,
que é a verdadeira língua natural22. Ela é que é a língua viva, em constante ebulição, em
constante transformação. A escrita é apenas uma tentativa ‘precária’ – porque não dá conta
de expressar todas as realizações possíveis da língua – de representá-la, e por não
compreender isso, muitas pessoas, entre elas alguns estudiosos da linguagem, ‘acreditam’
que falar é a mesma coisa que escrever, portanto devemos falar conforme a escrita, e mais
a escrita segundo a norma padrão vigente para este.
Isto porque, a língua escrita será sempre secundária, tem somente 10.000 anos,
enquanto a espécie humana fala, pelo menos, há um milhão de anos. Além disso, a maioria
das comunidades lingüísticas do mundo não possui um sistema escrito da língua que fala, e
mais, muitas pessoas não têm conhecimento, domínio da escrita e, nem por isso, em ambos
os casos, deixam de ter língua, de fazer uso de um dado sistema lingüístico.
Escrita e fala nunca foram e nunca serão a mesma coisa, pois são sistemas
diferentes, o primeiro é de base fonológica e o segundo ortográfica. E a ortografia de uma
dada língua, como sabemos, resulta de um ‘acordo’, de base não científica, pautado no
modelo dos escritos pelos ‘clássicos’ da literatura. Assim nasceu e se perpetuou a noção de
“erro” de português.
Considerar uma forma lingüística mais “certa” que a outra é a mesma coisa que
achar que os homens são mais inteligentes que as mulheres, que os homossexuais são
doentes e que os brancos merecem mandar nos negros. Essas noções equivocadas
“nascem”, exatamente, do fato de se tomar como padrão de ‘língua’ “certa” a escrita, e a
escrita literária. Paralelamente, ao operar com tais conceitos, a tradição gramatical, isolou a
língua de tudo que estava em cima, embaixo, em volta, dentro e fora dela. Nunca se
perguntou, por exemplo, “Quem pronunciou essa palavra, expressão, frase?” (BAGN0,
2007).
Só esse Quem, para ser respondido, exige uma série de informações: nacionalidade
do falante, origem geográfica, sexo, faixa etária, etnia, nível de escolarização e de renda
econômica etc. Poderíamos perguntar, ainda, “A que coisas do mundo real e/ou imaginário
se refere?”, “Quais as intenções do falante ao usar precisamente aquelas palavras, naquele
arranjo e não em outro?”, Que efeitos ele quis produzir em seus interlocutores?”, entre
outras tantas. O Quem (e algumas das questões que o envolvem) e “A que coisas do mundo
22
Língua natural seria aquela ‘apreendida’ ‘espontaneamente’ no seio de uma comunidade de fala.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
77
real e/ou imaginário se refere?” São questões, diríamos, mais específicas, sobre as quais
este Capítulo II se debruça.
Nele, expomos as trilhas que constituíram a elaboração desta Dissertação, que
tomou por base a Geolingüística, como método cartográfico utilizado em estudos de caráter
dialetológico, cujo reconhecimento científico, decisivamente, se deve a Jules Gilliéron, autor
do Atlas Lingüístico da França (BRANDÃO, 1991). Em linhas gerais, o método geolingüístico
reúne – somadas às leituras prévias que todo trabalho acadêmico requer – as seguintes
etapas:
estabelecimento de ponto(s) lingüístico(s);
definição dos critérios e seleção dos sujeitos;
elaboração e ou aplicação dos instrumentos de produção dos dados;
transcrição e sistematização dos dados para constituição do corpus;
elaboração de tabelas e registro em cartas especiais das formas lingüísticas,
neste estudo, as de caráter semântico-lexical;
análise quantiqualitativa das ocorrências, em comparação as propostas pelo
QSL.
Neste trabalho, para a produção dos dados, operamos com três (3) instrumentos:
Ficha da Localidade (Anexo A), Ficha do Sujeito (Anexo B) e Questionário SemânticoLexical – QSL (Anexo C), validados pela aplicação destes, mediados pela técnica da
entrevista gravada, realizada como piloto, em um dos pontos lingüísticos – Marabá, a título
experimental.
2.2 MESO-MICRORREGIÕES PARAENSES: REDE DE PONTOS LINGÜÍSTICOS
Para o estabelecimento e configuração da rede de pontos lingüísticos, desta
pesquisa, se levou em conta o fato do espaço territorial brasileiro ser dividido em
duas macro-unidades, e, estas, em micro unidades: a regional, constituída de
municípios e estados, e a político-administrativa, composta de micro, meso e região,
segundo fontes documentais, como os Censos, realizados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, relativos aos períodos de 1991 e 2000, e narrativas
orais de alguns moradores mais antigos da região pesquisada. O Mapa 1 registra
aspectos da divisão regional do estado do Pará.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Mapa 1 – Divisão Regional do Estado do Pará
23
Fonte: [email protected].
23
78
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
79
80
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
A origem do nome Pará vem do termo pa'ra – que significa rio-mar na língua
indígena tupi-guarani. É como os índios denominavam o braço direito do rio Amazonas,
engrossado com as águas do rio Tocantins. Esta característica o torna tão vasto que não se
consegue enxergar a outra margem, o que o leva a parecer mais um mar do que um rio.
Quando os portugueses ‘chegaram’ à terra deram o nome de Feliz Lusitânia, depois
substituído
pelo
de
Grão-Pará
(grande
rio),
para,
finalmente,
se
http://www.paraturismo.com.br/parateen/para_inicial.asp
-
tornar
Pará.
#
Este,
localizado no centro-leste da região Norte, é cortado pela linha do Equador em seu extremo
oeste e, no sentido oeste-leste, pelo rio Amazonas, em cuja foz, no Oceano Atlântico,
encontra-se o arquipélago do Marajó, e, neste, está, de mesmo nome, a maior ilha flúviomarítima do mundo.
O estado possui extensas áreas de florestas, que podem ser de várzea (próximas
aos rios e outros cursos de água) e de terra firme. Apresenta também regiões serranas,
entre as quais se destacam: a cordilheira do Tumucumaque, no extremo norte do estado; a
serra do Cachimbo, a sudoeste; e a serra dos Carajás, onde se localizam as maiores
reservas de ferro do mundo, além de outros minérios, como ouro, cobre e níquel. Cerca de
50% do potencial turístico de toda a Amazônia brasileira está no Pará. Praias de rios com
ondas, igarapés, sítios arqueológicos, mangues, ilhas selvagens, trilhas ecológicas, entre
tantos outros atrativos naturais.
O estado do Pará ocupa 16,66% do território brasileiro e 26% da Amazônia. A
capital, Belém, é um dos 143 municípios paraenses. Segundo maior estado brasileiro em
extensão territorial, cerca de 1.247.689,515 km², é maior que alguns países do mundo, se
fosse independente economicamente seria o 18º no ranking mundial. Tem uma população
estimada em 6.970.586, que resulta em uma densidade demográfica equivalente a 5,58
habitantes por km², conforme Quadro 2.
Quadro 2 – Área, população e densidade demográfica do estado do Pará
Capital
Área (km²)
Número de municípios
População residente (Censo 2000)
Belém
1.247.689,515
143
6.192,307
81
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
População residente (Censo 2005)
6.970.586
Densidade demográfica (Censo 2000)
5,58
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000, resultados do Universo.
Em território paraense, desta população estimada, cerca de sessenta mil são índios,
de várias tribos, como: Gaviões, Munduruku, Parakanã, Kaiapó, Tembé e Wai-Wai e SuruíSororó, entre outras, localizadas em grandes reservas, e mais de dez mil quilombolas
ocupam cerca de 150 comunidades. Os aspectos culturais demarcam, sobretudo, a
presença indígena, nas línguas, lendas, danças, gastronomias e artesanatos. Além dos
índios, os portugueses e os negros - estes em menor proporção - também marcam essa
formação.
Nas regiões antropizadas, isto é, ocupadas pelo homem, estão o maior rebanho de
búfalos do Brasil e o segundo maior rebanho de gado zebu. Além de produtor de carne e
laticínios, o Pará se destaca no setor agrícola, principalmente na fruticultura (com destaque
para o abacaxi, banana e coco, e as frutas regionais, como o açaí e o cupuaçu), e na
produção de grãos (soja, arroz, milho e feijão). O estado abastece, também, com pescado,
outras regiões do país. O maior volume de produção é oriundo da atividade extrativa. O
Pará exporta ferro, níquel, cobre, caulim, ouro e pedras preciosas, no setor mineral, além de
madeira e castanha-do-pará.
Na época da colônia, a província do Grão-Pará era separada do Brasil, e abrangia
toda
a
Amazônia
portuguesa,
incluindo
o
Maranhão.
A ‘invasão’ efetiva desta província iniciou na primeira metade do século XVII, para a
extração das "drogas do sertão" (corantes, couros, sementes oleaginosas e outros
produtos), e durou mais de um século. Foi somente um ano e um mês depois da
‘Independência’ do Brasil que a, então, província foi incorporada ao território brasileiro, pelo
ato de adesão, assinado em 15 de agosto de 1823, sob a mira dos canhões da frota imperial
de D. Pedro I.
Pouco depois, durante o período da Regência – o Grão-Pará era reduzido –, com a
criação da província do Rio Negro, engloba o Oeste amazônico. A situação de isolamento, a
que ficou relegada a província, a pobreza e a arbitrariedade dos governantes imperiais,
provocaram uma longa e sangrenta revolta: a Cabanagem, que durou trinta anos e
sacrificou um terço da população masculina do Estado.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Em meados do século XIX, a demanda de látex extraído da seringueira fez com que
Belém, o principal entreposto comercial da Amazônia, começasse a viver o período
conhecido como o Ciclo da Borracha, cujo auge acontece nas duas primeiras décadas do
século XX.
Nesse período, ocorre a fundação da República brasileira e o antigo Grão-Pará toma
a forma e os contornos que tem atualmente, com a criação do atual Estado do Amapá e a
definição das divisas com o Maranhão e o Amazonas.
Na República, o fluxo migratório que demanda o Estado diversificou-se, para incluir,
além de europeus, libaneses e outros povos de língua árabe, judeus de várias
nacionalidades e japoneses. O Pará tem a segunda maior concentração de orientais do
Brasil.
A partir da metade do século XX, o Pará “integrou-se” completamente ao Brasil com
a construção das estradas que ligam Belém às demais regiões do país. E, nas últimas três
décadas do século, iniciou um novo ciclo econômico, e saiu definitivamente do extrativismo
e da monocultura.
Atualmente, em termos regional e político, o estado é dividido em 6 (seis)
mesorregiões: Baixo Amazonas, Marajó, Belém, Nordeste, Sudoeste e Sudeste Paraense;
22 (vinte e duas) microrregiões e 143 (cento e quarenta e três) municípios. A formação das
mesorregiões leva em conta, principalmente, as semelhanças econômicas, sociais e
políticas, e a das microrregiões considera a estrutura produtiva de cada comunidade
econômica. O Quadro 3 apresenta cada uma das mesorregiões paraenses, com as
microrregiões respectivas e os municípios que as compõem.
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pa á
Quadro 3 – Estado do Pará: mesorregiões, microrregiões e municípios
24
Fonte: Extraído da revista “NOSSO PARÁ” – COLEÇÃO ESPECIAL. Belém: VER Editora, [ s.d.]. Paginação irregular.
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pa á
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Os municípios paraenses, considerando-se a área, são de grande, médio e pequeno
porte. Alguns deles chegam a ser, em extensão territorial, maior que alguns estados
brasileiros, como é o caso de Altamira, com 161.445.9 km2, é maior que o Amapá, Alagoas e
Sergipe, um pouco menor que Rondônia e correspondente a 50% da área do Rio Grande do
Sul.
Os municípios de maior área localizam-se nas mesorregiões sudoeste, cuja extensão
territorial é de 33,30%; baixo amazonas, com área de 27,27% e sudeste, com área de
23,31%, nesta última está localizada a microrregião Marabá, o espaço geográfico desta
pesquisa. O Mapa 2 apresenta as 6 mesorregiões e o percentual referente à extensão
territorial ocupada por elas no estado do Pará.
Quanto à população dos municípios paraenses, de acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia Estatística – IBGE (contagem da população – 2000), o Município de Belém
ocupa o 1º. lugar, com 1.280,614habitantes; Santarém, com 262.538; Marabá, com 168.020
e Castanhal, com 134.496. Ao comparar estes dados com as últimas estimativas do IBGE
(ano 2005), que são: Belém, com 1.405,871; Santarém, com 274.012; Marabá, com 195.807
e Castanhal, com 154.811, verifica-se que estes dois últimos municípios apresentaram um
número de habitantes superior ao estimado.
Os dados do IBGE (2005) revelam também, que, dos mais populosos municípios
paraenses, 2 se localizam na microrregião Belém (Belém e Ananindeua) e 1 na microrregião
Castanhal (Castanhal). Neles está a maior concentração demográfica do Pará, localizada no
entorno da capital paraense. Já Santarém e Marabá, cidades e, respectivamente,
microrregiões, são verdadeiras capitais regionais, a primeira, do baixo amazonas e, a
segunda, do sudeste paraense.
86
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Mapa 2 – Mesorregiões paraenses X Ocupação populacional
25
25
Fonte: Extraído da revista “NOSSO PARÁ” – COLEÇÃO ESPECIAL. Belém: VER Editora, [ s.d.]. Paginação
irregular.
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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O Mapa 3 destaca a mesorregião sudeste paraense, da qual fazem parte as
microrregiões: Tucuruí, Paragominas, São Félix do Xingu, Parauapebas, Redenção,
Conceição do Araguaia e Marabá. Esta, última, é a rede de pontos lingüísticos desta
pesquisa.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Mapa 3 – Mesorregiões Paraenses
26
89
26
Os mapas de número 3, 4, 5, 6 e 7 e todos aqueles referentes às cartas lexicais foram elaborados,
especificamente para este trabalho, em março de 2006, por Genival Crescêncio, pesquisador do Grupo
Espeleológico, da Casa da Cultura de Marabá.
90
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Metropolitana
De Belém
Baixo Amazonas
Marajó
Nordete
Paraense
Sudeste Paraense
Sudoeste Paraense
0
515km
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
91
A ocupação da mesorregião sudeste do Pará iniciou, timidamente, no século XVIII,
por meio da garimpagem e da pecuária extensiva. No entanto, somente na segunda década
do século XX é que se observa, nela, um contingente populacional mais estável, atraído
pelo proclamado ‘Eldorado’ do milagre econômico, por meio da coleta da castanha-do-pará
(Figura 6), o que fez de Marabá a mais importante cidade daquela época, na região, posição
que, aliás, ainda ocupa.
Figura 6 – Baldeação de Castanha-do-pará na Itaboca durante o verão – 1926
Fonte: Fundação Casa da Cultura de Marabá. Arquivo Fotográfico Miguel Pereira.
Quanto à garimpagem, segundo Salgado (1997) registram-se fatos vividos por
homens levados pelos ventos do sonho e da liberdade: assim se chegaram à Serra Pelada.
Ninguém foi levado à força, mas, uma vez lá, todos se tornaram escravos da possibilidade
da fortuna e da necessidade de suportar, sobreviver. Uma vez lá dentro, impossível sair: ali
estava a chance da fortuna. A única.
Cada vez que, em um barranco, se encontrava ouro, os transportadores de lama, de
terra, tinham o direito de escolher um dos sacos que transportavam. Ali dentro podia estar a
fortuna, a liberdade. A vida destes homens era uma seqüência alucinada de descidas ao
fundo do barranco e subidas delirantes até as alturas da mina, carregando nas costas um
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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saco de terra e o sonho de ouro. Não havia álcool, não havia mulheres. Havia uma indizível
necessidade de tudo. De afeto, de calor humano. Havia um perigo constante e uma vida
sem consolo. Escravos da solidão, revolviam a terra.
Quem chegava à ponta do barranco, pela primeira vez, tinha uma visão dilacerada e
definitiva do bicho-homem: havia ali 50 mil criaturas esculpidas em lama e sonho. Só se
ouvia o rumor humano, murmúrios e gritos silenciados, e o ruído de pás e enxadas
impulsionadas por mãos humanas. Nenhum som de máquina, nenhum som que não viesse
do homem (Figura 7).
Figura 7 – Trabalhadores da Serra Pelada
Fonte: Casa da Cultura. Foto de Sebastião Tapajós/Retratos do Brasil.
Paralelamente a esta paisagem, não podemos esquecer da numerosa população
indígena, quase totalmente dizimada, escravizada e aculturada, desde a chegada, às costas
brasileiras, no século XVI, dos europeus, principalmente o português, que encontraram mais
de um milhão de indígenas povoando as terras a serem colonizadas e, com eles, cerca de
300 línguas indígenas diferentes. Atualmente, no estado do Pará, conforme vimos,
anteriormente, sobrevivem sessenta mil índios e cerca de vinte e uma línguas indígenas são
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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faladas. Várias são as áreas de reservas a eles destinados. Destaca-se, entre as tribos, a
Suruí-Sororó (Figura 8).
Figura 8 – Tribo Indígena Suruí-Sororó
Fonte: Casa da Cultura de Brejo do Araguaia.
A chegada, porém, de consideráveis ‘investimentos’, que começaram a penetrar
neste território, identificados com parte do leste e especialmente com o sudeste do Estado,
por meio da Rodovia BR – 010, conhecida como Belém – Brasília, transformou esta
mesorregião em uma das áreas de maior dinamismo da Amazônia, não só do ponto de vista
da variedade de atividades, como também das tensões e problemas originados com a
chegada dos grandes capitais. Entre estes problemas, há que se evidenciar o cruel
desmatamento, ordenado pela cobiça, pela ganância dos poderosos, cujas conseqüências
desastrosas a história se encarrega de deixar registros, pelas incuráveis feridas,
principalmente, humanas.
A partir do final da década de 50, ao ser reconhecida como fronteira de recursos, a
mesorregião experimenta uma intensa revitalização, apoiada pela implantação de infraestrutura (energia, ferrovia e rodovias) e por diversos programas governamentais, entre os
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
quais
se
destacam
as
políticas
de
incentivos
fiscais,
coordenada
pela
antiga
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), atualmente Agência de
Desenvolvimento da Amazônia (ADA), entre outros financiamentos. A implantação do
Programa Grande Carajás representa o ponto ‘alto’ desses “regimes especiais” de
incentivos tributários e financeiros, extrapolando sua atuação e influência física para fora
dos limites da Mesorregião e, economicamente, complementando elos com regiões de alémmar.
O atual Projeto Ferro – Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce, delineado ainda
na década de 70 e baseado na existência de determinados terrenos, do período PréCambriano, reconhecidos como portadores de notável potencial mineral, representado por
jazidas de ferro, ouro, manganês, níquel, cobre, bauxita e cassiterita, entre outros minerais,
se constitui no principal empreendimento deste Programa, que ainda compreende outros
projetos de agricultura, pecuária, pesca, agroindústria, reflorestamento, beneficiamento de
madeiras, indústria siderúrgica, aproveitamento de fonte energética etc.
Fácil de imaginar o impacto de todos estes acontecimentos se desenrolando em área
denominada, pela floresta úmida amazônica, de terra firme e que se sustentava, até então,
pelo extrativismo vegetal, pela pecuária extensiva às margens do rio Araguaia, por uma
modesta agricultura de alimentos e por diversos garimpos de ouro, espalhados em sua
imensa superfície: graves tensões entre os habitantes pioneiros e os que chegavam em
ciclos sucessivos, conforme o avanço da fronteira. Cada um com problemas característicos,
entre eles, as modificações na relação de produção, as questões fundiárias e ambientais, o
estabelecimento de novas tecnologias, a disponibilidade de numerosa mão-de-obra, após a
implantação dos grandes projetos e o êxodo rural, estimulados por novas atividades
assalariadas.
A violência, sobretudo, advinda da guerra, pela posse da terra, como um barril de
pólvora se implantou no campo, num verdadeiro acinte à autoridade dos governos
(municipais, estadual e federal), que quase nada têm feito para acelerar o processo de
reforma agrária, numa região conhecida pelos grandes latifúndios que dispõe e marcada
pelos conflitos agrários.
Agrada muito, a certa ala de intérpretes raivosos dos acontecimentos que sucedem
nas frentes pioneiras da Amazônia, atribuir a tensão existente a um trabalho subversivo de
agitação política. O proselitismo existe – e teremos que conviver com ele, se realmente
cremos em uma proposta de democratização pra valer – mesmo que não o aceitemos e o
combatamos. Mas essa esmagadora tensão, de origem larvar, de raízes profundas,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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transcende a qualquer manifestação política: é um dado da realidade. Portanto, ignorá-la ou
colocá-la em plano secundário, só omitindo essas mortes violentas e estúpidas, que, cada
vez, freqüentam o noticiário dos jornais, como nódoa de barbarismo em nossos “projetos de
civilização”, não resolverá o problema da reforma agrária que assola e castiga o povo desta
região.
O fato mais desastroso em toda essa celeuma é se chegar à triste constatação que o
governo já possui milhões de hectares de terras desapropriadas e o processo de
assentamento de famílias, no campo, continua lento, quase imperceptível, poderíamos
assim dizer. O sul do Pará, por exemplo, é uma das maiores regiões de incidência de
conflitos fundiários e onde, inclusive, tem implantado uma Superintendência Especial do
INCRA.
Mas até quando teremos que assistir, perplexos, a essa verdadeira guerra entre
sem-terra e latifundiários, como, por exemplo, o triste episódio no conturbado município de
Eldorado dos Carajás, que foi palco, em 17 de abril de 1996, de uma das maiores
carnificinas que se teve conhecimento na região, em decorrência da famigerada briga pela
posse da terra. O solo, outrora rico e disputado pela fertilidade de ouro e minérios, que
atraiu, para esta região da Amazônia, milhares de brasileiros de todo o país em busca do
“Eldorado”, antagonicamente e cruelmente, é fertilizado pelo sangue de trabalhadores
mortos, num confronto com a Polícia Militar, pela posse da terra. Encerra-se, assim, um
protesto constituído, de aproximadamente, 1.500 sem-terra, que resultou no maior massacre
das lutas sociais do país, cujo registro da operação de trânsito rodoviário atesta: uma
carnificina com duas dezenas de trabalhadores mortos e mais de quarenta feridos.
Recolhidos num posto do Instituto Médico-Legal de Marabá, os corpos de Eldorado
dos Carajás trazem as marcas de um massacre. Manchas roxas informam que tomaram
chutes e pontapés, enormes buracos de balas e manchas de pólvora comprovam que foram
dados tiros à queima-roupa, membros mutilados e cabeças arrebentadas, denunciam uma
selvageria além de qualquer razão ou limite. Homens e mulheres, atacados na floresta,
“deixaram” sangue e pedaços de cérebros pelo chão e pela relva, são esses brasileiros,
chamados sem-terra, cidadãos que andam descalços, têm as roupas sujas de barro e só
costumam ser notícia sob forma de cadáver.
Acompanhada a estas guerras, pela posse da terra, a fome faz papel de estrela – é o
que nos revela um documentário de uma hora e meia, intitulado La Terre et la Peine (Terra
de Esperança), exibido em março de 1998, com sala cheia, a antiga Biblioteca Nacional da
França e, também, no XX Festival Internacional de Filmes Etnográficos e Sociológicos, no
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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cinema Real, em Paris27. Terra de Esperança é um documentário que protagonizou os semterra e posseiros dos municípios de Parauapebas, Curionópolis e São Félix do Xingu. É
produto de mais de 04 anos de trabalho entre pesquisas e viagens pela terra no sul do Pará,
na Amazônia brasileira. O método utilizado foi deixar que os sem-terra falassem, fazendo
com que os elementos básicos de suas vidas e da fronteira agrícola fossem mostrados
pelos seus depoimentos.
Neste documentário, a fome, no acampamento dos sem-terra, faz papel de estrela.
As cenas comentadas aparecem ilustrando o massacre. Baiana, uma senhora sem-terra e
sem marido, aparece matando uma galinha para preparar o ‘de comer’ de seus filhos. Fala
da sua angústia com a incerteza da alimentação diária. E demonstra revolta ao lembrar que,
diferentemente, de outros, no dia de eleição municipal, a comida aparece sendo fartamente
ofertada para eleitores ou não. Aproveitar o momento é a palavra de ordem. Depois, saiam
de baixo se um carro se aproximar, ninguém espere carona, mas atropelo.
Os fazendeiros, por sua vez, chegam ao absurdo de dizer para o governo que
cuidem da “ordem”, que o “progresso” eles sabem fazer. Ainda afirmam que não houve
massacre em Eldorado dos Carajás, mas um conflito entre policiais e sem-terra numa
operação de desobstrução de uma estrada. Para eles – quem não tem condições de
defender o que é seu não merece o que tem – afirma um deles.
No filme, os depoimentos e discussões fogem à banalização, como se trata a
questão da Amazônia, em que apenas o desmatamento é colocado em evidência. Uma
versão em português, do documentário, deverá ser providenciada e quem sabe difundida
nos canais brasileiros. Quem sabe assim a gente repense essa história de terra no Brasil.
Uma Terra que, em vez de túmulo, seja de Esperança.
As manifestações de milhares de sem-terra e agricultores familiares são um grito de
dor e de resistência, querendo mostrar aos donos de poder que não conseguirão tirá-los da
terra e da história, como sempre fizeram. Eles, os sem-terra, pedem à sociedade que os
compreenda, que, quando se arranca o poder de um pai de família de alimentar seu próprio
filho, lutar até o fim e de todos os modos, é a única reação natural e digna que se pode
fazer.
Querem, somente, que um Estado Democrático de direito cumpra a Constituição e
preserve o princípio da função sócio-ambiental da terra, desapropriando as áreas
improdutivas. Não aceitam a escravidão e o desrespeito do agro-negócio. Querem a
27
Notícia extraída do Jornal Correio do Tocantins. Marabá – PA, 31 de março a 2 de abril de 1988.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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dignidade, a garantia de alimentos e os empregos que surgem somente pela reforma
agrária. Exigem a imediata suspensão dos despejos e retirada do aparato policial. E afirmam
estar abertos ao diálogo, desde que sejam respeitados como cidadãos.
Existem também várias fazendas com trabalho escravo comprovado (Figura 9) – a
chamada “senzala amazônica”, em que os brasileiros podem ser divididos em três
categorias distintas. Uma, a mais bem remunerada, inclui os assalariados que tentam
incorporar à prática os direitos sociais previstos pela Constituição. Outra é a que luta pelos
direitos trabalhistas mais elementares, como ganhar um salário mínimo no final do mês e ter
registro na carteira de trabalho. E, a última, ignorada pelas estatísticas oficiais, é formada
por aqueles peões negros e brancos, que torcem para que a Lei Áurea entre vigor um
século depois que a princesa Isabel “declarou” extinção ao trabalho escravo. Em geral, eles
dormem ao relento, fazem apenas uma refeição por dia, trabalham sob mira de espingarda e
não recebem um salário no final do mês.
Figura 9 – Peões libertados pela PM:
do desemprego no Maranhão ao trabalho forçado no Sul do Pará
Fonte: Casa da Cultura de Marabá.
Soma-se, ainda, às mazelas, a situação de descalabro das estradas, a falta de
soluções para o problema fundiário e a ausência de eletrificação em diversos municípios,
mesmo com a Hidrelétrica de Tucuruí, fatores que aumentam as desigualdades e geram os
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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conflitos sociais. O que falta é vontade política: enquanto se gastam bilhões para salvar
bancos de falências, deixam-se abandonadas as estradas de uma região rica como a nossa,
inibindo a produção, matando seres humanos em suas pontes mal feitas e buracos
espalhados por toda parte. O sul e sudeste do Pará são a maior província mineral do
planeta e juntos têm o 4º rebanho de gado do país e não têm suas potencialidades
estimuladas, porque os recursos, concentrados nas mãos de poucos, são usados de acordo
com a conveniência destes.
Nessa selva, sem lei, que engloba o sul do Pará, as pessoas continuam,
violentamente, se matando. A Comissão Pastoral da Terra (CPT), ao divulgar relatórios
sobre assassinatos, atribui aos pistoleiros a maioria dos crimes cometidos contra lavradores
e trabalhadores rurais, enfatizando que contratar um pistoleiro no Brasil é tarefa tão fácil
quanto engraxar os sapatos ou trocar a camisa. Pistoleiros são os jagunços, àqueles que
têm como “profissão” eliminar quem represente um entrave aos interesses de terceiros – os
mandantes – dispostos a pagar o que for necessário para ter livre o seu caminho. A morte
de um posseiro, por exemplo, custa R$ 200,00 na tabela da pistolagem. Mas o preço pode
triplicar, caso a vítima seja sindicalista rural (Figura 10).
Figura 10 – A rota do tiro ao alvo
Fonte: Casa da Cultura de Marabá.
Ainda segundo este relatório, dependendo da importância da pessoa a ser assinada
e do grau de dificuldade para a execução do serviço, o preço aumenta, porém, em algumas
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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áreas de conflitos no sul e sudeste do Pará, o negócio pode ser fechado por menos de mil
reais.
A forma mais utilizada de escravidão é a decorrente da dívida. Nela, o salário pago
aos trabalhadores nunca é suficiente para saldar seus débitos junto ao empregador,
referente a transporte, comida, roupa e ferramenta. A maior parte das vítimas vem dos
estados nordestinos, sobretudo da Bahia, Piauí e Maranhão.
No entanto, é predominantemente, deste último, pelos altos índices de desemprego,
e por estar, geograficamente, mais próximo da região sudeste paraense, a origem de
escravos que vivem no sul do Pará.
Alem do massacre de Eldorado de Carajás, o documento da CPT aponta que 23
(vinte e três) trabalhadores foram mortos nos 630 (seiscentos e trinta) conflitos agrários
registrados no País, de janeiro a setembro do ano passado, e que há uma lista com nome
de 73 (setenta e três) líderes rurais marcados pra morrer. O estado que apresenta os
maiores índices de violência no campo é o Pará (Figura 11).
Figura 11 – Os números da CPT
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Fonte: Comissão de Pastoral da Terra – CPT/2006.
Os dados divulgados no último relatório da CPT, sobre a escravidão e a violência no
campo, revelam que, de janeiro a setembro de 2006, o Ministério do Trabalho localizou e
libertou 1.812 (mil e oitocentos e doze) trabalhadores rurais, que viviam em sistema de
escravidão. Para se ter idéia, em todo o ano de 2005, esse número chegou a 465 casos.
Ainda não se sabe, porém, se este crescimento assustador se deve ao recrudescimento
dessa exploração por parte dos fazendeiros ou a uma fiscalização mais rigorosa por parte
do governo.
Na tentativa minimizar essa violência desenfreada, o Prêmio Nobel da Paz, de 2005,
Adolfo Perez Esquivel, chegou a desembarcar em Marabá, onde foi participar de uma
manifestação em favor da paz. E, entre as autoridades, que o acompanhavam estavam o
Presidente e o Vice da Ordem do Advogados do Brasil, no Estado Pará, e representantes da
Comissão de Direitos Humanos. Denominado de Ato de Paz, este evento contou com,
aproximadamente, 5000 pessoas, além da participação de atores globais, como Paulo Betti,
Ângelo Antonio e Letícia Sabatela.
É impossível não notar, em meio a todos esses problemas, ou à custa deles, que a
região apresenta uma “crescente diversificação de atividades”, cuja posição geográfica
privilegiada facilita o acesso a todo o país, baseada numa rede de rodovias que constituem
estratégicos eixos de circulação de que dispõe a mesorregião para a sua vida de relações.
A variedade de vias de transporte, inclusive a fluvial, e sua posição geográfica, que,
atualmente, a situa como ponto de passagem para os diversos fluxos que chegam ou
demandam a todas as áreas da mesorregião, inclusive as importantes regiões minerais e o
traçado da Rodovia Amazônica (BR – 230), que atravessa seu território, pondo-a em contato
com o vasto interior amazônico, fazem de Marabá a principal cidade da mesorregião e da
microrregião Marabá, localizada no sudeste paraense, bem como a de maior fluxo
migratório.
Diariamente, chegam pessoas das mais diversas partes do Brasil em busca de dias
‘melhores’. As raízes da maioria dos habitantes do sul do Pará, nome pelo qual é mais
conhecida essa região, estão além das fronteiras do estado. A cultura, com todos os
elementos que ela comporta, entre eles a língua, vem nas “bagagens” e é desdobrada junto
com os “cabedais” dos migrantes.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Da mesma forma, com esse cenário, é impossível ignorar que a história paraense
moderna se confunda com a história do descaso e da violência. Nessa paisagem está a
microrregião Marabá (Mapa 4), que reúne 05 (cinco) municípios: Brejo Grande do Araguaia,
Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia, São João do Araguaia e Marabá, e, nela,
localizada a rede de pontos lingüísticos selecionada.
Ancorados nos princípios teórico-metodológicos que ancoram este trabalho, o estudo
na microrregião, em questão, pretende submergir num cenário para dele emergirem dados
passíveis de observação e descrição da linguagem, especificamente, de aspectos
semântico-lexicais, na perspectiva da educação na Amazônia.
O cenário, a que nos referimos, foi o local selecionado para esta pesquisa de caráter
lingüístico. No entanto, um estudo deste caráter requer a conjugação de fatores sóciohistóricos e demográficos, do passado e do presente, que, reunidos, poderão explicitar a
(re)constituição de uma língua, que, por força de Lei, denominamos ‘portuguesa’, e, assim,
espelhar os usos que dela fazem seus falantes. Por essa razão, inicial e preliminarmente,
algumas categorias, como sociedades, histórias, línguas, dialetos, culturas, demografias e
educação, entre outras, emergem, conjuntamente, para estabelecer um amálgama, uma
trilha, que nos permita compreender a história lingüística deste espaço chamado amazônico.
Os dados seguintes referem-se à Microrregião Marabá e, nela, Marabá e Palestina
do Pará, dois dos cinco (5) municípios que compõem esta microrregião, e que, neste estudo,
funcionaram como pontos lingüísticos representativos da mesma.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Mapa 4 – Microrregião Marabá no Estado do Pará
A microrregião Marabá possui considerável plantel bovino, o que
torna a pecuária para corte sua principal atividade. A agricultura
consiste numa força complementar, voltada para a produção de
alimentos.
A implantação de um distrito industrial na cidade de Marabá acena com a
industrialização da região, aproveitando-se principalmente da existência da estrada de Ferro
Carajás e de inúmeras rodovias que partem em várias direções.
Diferentemente de outros trabalhos, tradicionalmente realizados, de natureza
dialetal, neste, não consideramos, prioritários, critérios como antiguidade e isolamento, para
selecionar os pontos lingüísticos representativos da microrregião, e, sim, o aspecto
econômico, conjugado com a distribuição espacial e aspectos relativos aos estudos
lingüísticos já desenvolvidos ou não na área geográfica em questão.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
103
Assim, entre aqueles 5 (cinco) municípios que integram a microrregião Marabá,
foram selecionadas 2 (duas) localidades, como pontos lingüísticos: Marabá e Palestina do
Pará.
A primeira, pelo fato de ser considerado o pólo de maior desenvolvimento
econômico, inclusive da mesorregião sudeste paraense, e está localizada, geograficamente,
no extremo oeste desta micro.
A segunda, por estar localizada no extremo leste da micro, constituindo um limite
interno, interestadual, com o estado do Tocantins, e ser a menos desenvolvida desta micro.
E pelo fato de haver um léxico nunca antes descrito e cartografado em nenhuma destas
localidades.
Apresentamos, a seguir, tanto pelas fotos da vista aérea dos municípios de Marabá e
Palestina do Pará, seguidas dos mapas geográficos, estes dois pontos lingüísticos, locais
desta pesquisa. A essas figuras, seguem informações sobre localização geográfica, área,
ato de criação, dados populacionais e densidade demográfica, atividades econômicas
predominantes, e aspectos sócio-histórico-culturais, entre outros, resultantes da aplicação
de um dos instrumentos de produção de dados, já mencionado, a Ficha da Localidade
(Anexo A), cujas fontes foram documentos oficiais (Prefeitura, IBGE, Arquivos Públicos,
Bibliotecas e Casas de Cultura) e alguns dos moradores mais antigos dos referidos pontos.
2.2.1 PONTO LINGÜÍSTICO 1: MARABÁ
Formada, atualmente, por três grandes núcleos populacionais: Marabá Pioneira,
Nova Marabá e Cidade Nova, o município de Marabá é considerado a cidade mais
importante do sudeste paraense.
Sem ser projetada, uma cidade, para bem dizer, nascida da própria terra, criada pela
necessidade da região e fundada por um homem comum, o comerciante mateiro Francisco
Coelho, era, então, um pequenino lugarejo, um barracão de taipa encravado naquela
estreita faixa de terra entre os dois rios, Tocantins e Itacaiúnas (Figura 12). Assim nasceu a
cidade de Marabá (Mapa 5), despontando por entre as folhagens verde da Amazônia, onde
o som da viola e do pandeiro se confundiam com a estranha voz da natureza ainda virgem.
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Figura 12 – Vista aérea de Marabá – confluência dos rios Itacaiúnas e Tocantins
Fonte: Fundação Casa da Cultura de Marabá. Foto de Miguel Pereira. Arquivo Fotográfico Miguel Pereira.
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Mapa 5 – Município de Marabá
0
20
40 km
105
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Latitude Sul: - 5.5º (sul)
Coordenadas: 5º 22’ 07”
Longitude: - 50.5º (oeste)
49º 07’ 04”
Limites:
Ao Norte
Itupiranga, Jacundá e Rondon do Pará
Ao Sul
São Geraldo, Curionópolis, São Felix do Xingu e Parauapebas
A Leste
Bom Jesus do Tocantins e São João do Araguaia
A Oeste
São Felix do Xingu e Senador José Porfírio
NOME OFICIAL
Marabá
ÁREA
15. 092 Km²
ATO DE CRIAÇÃO
Lei 1.278, de 27/02/1913
GENTÍLICO
Marabaense
DISTÂNCIA DA CAPITAL
485 Km
COMO CHEGAR
106
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Quadro 4 – Dados populacionais e densidade demográfica de Marabá
Total de população residente estimada para 2005
Densidade demográfica
Urbana
168.020
11,13
28
134.373
Densidade demográfica
Rural
8,90
33.647
Densidade demográfica
Homens
Densidade demográfica
Mulheres
2,22
84.709
5,61
83.311
HISTÓRICO DA LOCALIDADE
A denominação “Marabá” é atribuída a Francisco Coelho da Silva, em 1905. É um
topônimo de origem indígena, que poderá ser tupi ou tapuia, pois ambas as nações
estiveram na região. Se de origem tupi, origina-se da decomposição mara=subará (mar,
águas) e bá=bau (parente, semelhante), cujo significado seria: “semelhante ao mar”. Tal
hipótese se justifica pelo fato de Marabá estar situada na confluência do rio Tocantins com o
rio Araguaia. Segundo Sampaio (1970)29, o nome Marabá é originário do vocábulo “mairabá”, que significa “filho de francês com mulher índia” ou “filho de índia com estrangeiro”.
28
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000, resultados do Universo.
29
Cf. SAMPAIO, Teodoro. O Tupi na Geografia Nacional. São Paulo: EDUSP.
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Figura 13 – Batelões usados como abrigo – Marabá Pioneira
Fonte: Casa da Cultura de Marabá.
A denominada Marabá pioneira (Figura 13), iniciada com a navegação pelos rios
Tocantins, Araguaia e Itacaiúnas, tem mais de três séculos de história. À frente, os
aventureiros Daniel de La Touche e Francisco Cadeira Castelo Branco, o povoamento da
bacia do Itacaiúnas tem, na formação do município de Marabá, um capítulo especial. A
região mesmo explorada pelos portugueses, ainda no século XVI, permaneceu sem
ocupação definitiva durante quase 300 anos. A partir de 1892, é que começa a colonização
efetiva, com o burgo agrícola localizado a 11 milhas abaixo da foz do Itacaiúnas. Data desse
período o primeiro ciclo econômico da colônia, baseado na extração de caucho de borracha.
A transferência do burgo para o pontal do Itacaiúnas começou a se concretizar em
1898, quando para lá se mudaram os comerciantes e sócios Francisco Casimiro de Souza e
Francisco Coelho da Silva. O termo Marabá, que para os indígenas designava o filho do
prisioneiro ou estrangeiro, ou o filho de índia com branco, acabou denominando o burgo
(Figura 14), quando houve a mudança oficial e definitiva para o pontal, em novembro de
1904.
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Figura 14 – Burgo agrícola
Fonte: Casa da Cultura de Marabá.
A base econômica iniciou com o ciclo da borracha, e, paulatinamente, despontou o
da castanha-do-pará. Marabá cresceu e, ao mesmo tempo, a fama da sua “riqueza”, que
corria de ‘boca em boca’, atraiu milhares de aventureiros dos mais longínquos rincões deste
país.
O então povoado se transformou em tumultuoso aglomerado humano, onde a lei era
quase desconhecida e primava o rápido ‘enriquecimento’, para tanto, valiam todos os
recursos. Mas já, nessa época, o pequeno vilarejo também hospedava homens, cujas idéias
provocaram as primeiras manifestações a favor da sua independência, e da criação do
município de Marabá. No início de 1908, vários destes cidadãos se dirigiram ao Governo do
Estado para tal solicitação, com o principal argumento da necessidade de autoridades que
impusessem a lei e a ordem. No entanto, somente em 27 de fevereiro de 1913, foi votada
pelo Legislativo Estadual e sancionada pelo então Governador do Estado, o Dr. Enéas
Martins, a lei que criava este município. Embora, somente em 05 de abril, daquele mesmo
ano, se instalou o Município de Marabá.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Um fenômeno que não podemos deixar de mencionar são as enchentes. Marabá
“sofre”, periodicamente, com enchentes de maior ou menor intensidade. Era crença popular
que, de 20 em 20 anos, a cidade seria assolada pelas grandes cheias. Entretanto, na
década de 70, estas ocorreram com maior freqüência, contrariando essa assertiva popular.
Há registro de grandes cheias em 1906, 1910, 1926, 1957, 1968, 1974, 1978, 1979 e 1980.
Esta última, segundo depoimento de moradores mais antigos, foi a maior de toda a sua
história. Nesta cheia, nenhum torrão de chão ficou fora da água. Muitas cumieiras das casas
desapareceram sob as águas. O nível do Rio Tocantins, medido pelo serviço de Hidrologia
do Departamento de Águas e Energia Elétrica, do Ministério de Minas e Energia, atingiu
17,42 metros. Para se ter idéia do contraste, esse nível desce à marca de 1,20 a 1,50
metros, quando registra a menor altura. O Gráfico 4 apresenta uma Tabela dessas
enchentes referente ao período de 1977 a 2002.
Gráfico 4 – Nível de água/enchente
Fonte: Pasta Enchentes da Biblioteca Frederico Morbach.
Há quem pergunte o porquê dessas freqüentes enchentes. Algumas pessoas
atribuem – nas ao maior índice pluviométrico nas cabeceiras dos rios Tocantins, Araguaia e
Itacaiúnas, outras, porém, acham que o fenômeno é conseqüência do desmatamento
intensivo que vem ocorrendo na região. Com isso, há maior infiltração de água no solo,
acarretando a lixiviação do solo e carreando as substâncias nutrientes para a calha dos rios.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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A enchente de 1926 causou sérios danos à cidade, que permaneceu imersa por mais de 30
dias (Figura 15).
Figura 15 – Enchente de 1926
Fonte: Fundação Casa da Cultura de Marabá. Arquivo Fotográfico Miguel Pereira.
Eis alguns excertos que Yoshioka (1986, pp. 20 e 21)30 extraiu do Relatório do então
Juiz de Direito da Comarca de Marabá, Dr. Pio de Andrade Ramos, apresentado ao então
Secretário Geral do Estado, Dr. Deodoro de Mendonça:
[...] Quando cheguei àquelle município em 22 de maio do corrente anno, fui
residir em uma pequena barraca, na Povoação de Lago Vermelho, em cuja
localidade se achava provisoriamente a séde da Comarca. A 29 do mesmo
mez fiz uma digressão à cidade, e ao povoado do Amapá. Pude então
contemplar os estragos causados pelas águas que haviam transformado a
formosa urbs do Itacayuna em uma verdadeira tapera.
E para mais justificar esta última denominação, um grande aspecto
de tristeza pairava sobre todo o ambiente.
Destroços de toda espécie, escombros de prédios derruídos,
enchendo as ruas, atulhando as praças, interceptando todas vias e
passagens; uma interminável e dolorosa esqueletaria de casas que foram
de taipa ou tabique agora arrasadas, reduzidas ao madeirame arruinado e
penso, inclinadas sobre esteios partidos ou arrancados dos alicerces
defeitos; tal era o quadro pungente e desolador que nos deparava aquellas
ruínas.
30
YOSHIOKA, Reimer. Avaliação de Implantação de Núcleo Urbano. São Paulo, 1986 (mimeo.).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Da igreja singela e formosa, recentemente construída, sob a
invocação de São Félix, via-se sobre os entulhos, apenas o campanário ao
lado e, à frente, um lindo torreão, zimborio da saudade e da esperança,
erguido ainda, mais inclinado na direção do Itacayuna, como ultima
trincheira que houvesse defendido aquelle reducto sagrado.
E para completar o scenario, mal se viam alguns vegetais, erguidos,
murchos, enlameados.
[...] Em junho, começou a reconstrucção, desde que não foi possivel
um accórdo sobre a mudança da cidade, para outro ponto inaccessivel às
enchentes.
[...] E, em meiados de setembro, Marabá, renascida, deparava-se
sorridente, numa casaria nova, recém pintada, que lhe dava o encanto e a
faceirice da novidade e da moda.
Sobre a tapera, ressuscitava, ainda mais graciosa e bonita do que
fôra a cidade destruída (Estado do Pará, 1927, pp. 70 e 71).
Antes dessa cheia, já em 1906 e, depois, em 1910, inundações tremendas
derrubaram tudo. A cheia de 1947 causou prejuízos consideráveis. Os barcos aportavam à
porta do Palacete Augusto Dias, atualmente sede da Câmara Municipal de Vereadores, com
água atingindo quase um metro sobre o piso do pavimento inferior. Entretanto, a cheia de
1980 (Figura 16) foi a que atingiu maior nível, com água chegando a altura do teto do
pavimento inferior deste mesmo prédio da municipalidade.
Figura 16 – Enchente de 1980 – Praça Duque de Caxias
Fonte: Fundação Casa da Cultura de Marabá. Fotógrafo João Salame, 1980.
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Se o drama de 1926 atingiu toda a população, a cheia de 1980 foi muito mais
danosa, uma vez que a população era superior e o volume de mercadorias e os
investimentos atingidos pelas águas eram consideravelmente superiores. Mesmo com esse
prejuízo a velha Marabá renasce e revigora. Marabá reflete as duas estações. Na época do
“verão”, que vai de maio a outubro, período de poucas chuvas, diminui a vazão dos rios, e, o
“inverno”, que pega os meses de novembro a abril, com muita chuvas, os rios subindo, e a
população em expectativa, preparando-se para mudar a qualquer momento.
A enchente de 1980, afirmam os moradores, foi a mais “democrática”, pois atingiu a
todos, ricos e pobres. Entretanto, se a enchente “socializa” os pertences dos pobres, os
ricos possuem alternativas, mandando seus familiares para Belém ou mesmo para suas
fazendas com o mesmo conforto existente no centro urbano de Marabá.
À época não faltavam afirmações de autoridades governamentais sobre a
necessidade de desativar a velha Marabá, interditar as casas e responsabilizar as pessoas
“imprudentes” que teimam em retornar às suas casas na área “condenada”. Mas essa
preocupação com a desativação é rapidamente esquecida, por existir contradições no seio
das próprias autoridades governamentais. E, por outro lado, a desativação da velha Marabá
não é tão simples assim, primeiro pelos investimentos representados pelas construções,
segundo porque muitas atividades econômicas se realizam às margens do rio (Figura 17).
Não se pode esquecer também os fatores culturais dos habitantes, que encontram no rio o
lazer, associado à pesca, inclusive para subsistência da população ribeirinha.
Figura 17 – Travessa Parsondas de Carvalho – Marabá Pioneira
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Fonte: Casa da Cultura de Marabá.
Interessante observar que, apesar dos transtornos, a enchente vira atração turística,
e se torna comum água e tecnologia e barcos e celulares se misturarem pelas ruas. Água e
barco mantêm a inalterabilidade dos elementos da natureza, essenciais, eternos, vitais,
porém, também, mortíferos.
A água, mesmo violenta, como costuma ficar, descendo seus rios numa revolta
diluviana, causando caos ao cais, e a madeira, arrancada com violência da terra,
transformada em tora e acalmada em barco, combinam com o ‘marabazinho’ que envelhece;
já a tecnologia desponta contrastante, ao acaso, oriunda da engenhoca cinzenta do homem,
a serviço dos anseios e desejos.
O cheiro que exalava dos depósitos de castanhas, a brisa do rio impregnada de
húmus, folhas e águas é o último reflexo da trajetória orgânica da vida, que volta de onde
começou. Para onde vai o vento? Será que entra pelas narinas e penetra o ser em sua
profundeza e se transforma em força muscular, alegria, inspiração, medo?
O Tocantins mostra sua força hercúlea, apolínea, o Itacaiúnas, como um filho
pródigo, distante, incorpora-se ao pai, de modo mais intenso e alastrador, obedecendo-o. O
declínio do mundo, as corredeiras, os pirucabas, fazem o rio correr para a foz, arrastando a
argamassa, a pedra, a cal e os bustos da praça. Trabalho para o pedreiro e o construtor na
labuta dos próximos sóis.
Os vendedores de espetinho e cachaça tomam a vez das agências bancárias, a
água engole a laje asfáltica, o lixo metamorfoseia-se em grãos, em partículas, em átomos,
em água; a energia elétrica dá lugar ao clarão da lua e tudo parece correr para o túnel do
passado, início dos tempos, princípio de tudo, amálgama de Gaia, água.
Por outro lado, a situação é dramática, especialmente, para as famílias desabrigadas
que fazem o que podem para fugir de seus lares: de canoa, carro de mão, charrete e até
carregando a mobília nas próprias costas. Os carros disponibilizados pela Prefeitura não
dão conta de transportar, satisfatoriamente, milhares de pessoas atingidas pelas cheias.
O desespero toma conta, principalmente, daqueles flagelados, desempregados e
sem renda para manter a família, que, sem outra possibilidade, ficam alojados
precariamente no Clube de Mães, nos pavilhões da feira coberta da velha Marabá, no
Parque de Exposição Agropecuário e em outros alojamentos de condições precárias
disponibilizados pela Prefeitura.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Outro dilema enfrentado pelos desabrigados é o calor causticante que faz debaixo
dos barracões de brasilit e no interior das minúsculas barracas de lona, onde muitos passam
à noite, porque durante o dia preferem ficar de fora das sufocantes casinhas de lona.
Uma cidade de antagonismos sobre a muralha do ‘marabazinho’ infiltra-se no rio.
Telhados são ilhotas de argila, como o sol de antonho representa o ouro congelado depois
de milhares de anos, aos poucos uma cidade se incorpora à paisagem líquida e plúmbea
(Figura 18). A cidade desce, o sol despenca, a lua lamenta.
Figura 18– Avenida Silvino Santis – Nova Marabá
Fonte: Casa da Cultura de Marabá.
Nessa época é comum, entre os governos, ações integradas para minimizar a
calamidade que assola as famílias flageladas. Em operação conjunta com a Prefeitura local,
o governo do estado encaminha para Marabá toneladas de medicamentos e suprimentos
alimentares. São medicamentos relacionados a tratamento ou prevenção de diarréia,
problemas respiratórios, doenças de pele, febre amarela, dengue, entre outros males
endêmicos.
Aliados a interesses políticos, é comum, nessa época, a visita de Secretários de
Estado, Deputados e até de Governador, apenas para ‘avaliar’ a dimensão dos problemas
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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causados pelas enchentes e também conhecer os alojamentos onde ficam as famílias
desabrigadas.
À medida que as águas vão baixando na Marabá Pioneira, recomeça a ansiedade
das pessoas para voltarem a habitar as casas que vão ficando livre das águas, no velho
núcleo, ainda com ruas tomadas de lama, lodo, lixo e, provavelmente, com focos de
doenças de toda sorte. Com a diminuição do nível das águas, um carro fumacê do Distrito
de Endemias da Fundação Nacional de Saúde é utilizado para lançar inseticida, por meio da
fumaça, para erradicação do mosquito transmissor de malária, dengue e outras doenças
comuns nessa ocasião. Também são preparados e distribuídos folders informativos para as
famílias atingidas pelas cheias.
Para a retirada de espessas camadas de lodo e lama deixados pelas águas da cheia
e limpeza das artérias pavimentadas é utilizado um carro pipa com jato d’água. Por todos os
lados, é possível ver pessoas lavando e pintando aquelas casas que estão fora d’água, no
afã de voltarem o quanto antes a morar no velho lar. Na medida em que os moradores
promovem limpeza em suas residências vão tirando o lixo direto da rua. Esses dejetos
costumam ser retirados pouco a pouco por caminhões disponibilizados pela Prefeitura. O
fornecimento de energia elétrica, que esteve cortado durante os dias mais críticos da
enchente, começa a ser normalizado, à medida que as águas vão saindo das ruas.
ATIVIDADES ECONÔMICAS PREDOMINANTES
Há, em Marabá, um pólo econômico diversificado, inclui pecuária, agricultura, pesca
e distrito industrial. Firma-se como um dos mais importantes municípios do Estado. A
Estrada Ferro-Carajás e as várias rodovias que ligam o município, às outras regiões do país,
beneficiam o distrito industrial e podem ajudar a transformar Marabá num pólo turístico entre
o sul do Pará e a região nordeste.
Segundo o Censo Agropecuário de 1995, este setor predominava em 66% das
propriedades e a pecuária era desenvolvida em 20% delas, nesta se destacam rebanhos
bovinos, bubalino, eqüino, suíno e muar, uma espécie de mula. O tipo de agricultura
predominante é de subsistência, com a produção de arroz, feijão, mandioca, manga, laranja
e banana.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Quanto ao extrativismo, dados do escritório do SEBRAE, em Marabá, indicam um
declínio na oferta de madeira em tora, lenha, castanha-do-pará e carvão vegetal, mesmo
sendo este último essencial para funcionamento dos fornos das siderúrgicas.
No setor pesqueiro, a produção excedente é destinada à exportação. Após o período
do defeso (novembro, dezembro e janeiro), os rios da região são fartos em pescada branca,
piau, curimatá, tucunaré, mapará, misto e branquinha.
Com sólidas redes de lojas e de supermercados, que já se estenderam a outros
municípios e regiões, o comércio de Marabá também é o mais importante da mesorregião.
Ainda segundo os dados do SEBRAE, em Marabá, há 203 indústrias, que utilizam matériaprima, insumos oriundos do próprio município. A indústria siderúrgica (principalmente ferrogusa) é a mais importante, com uma produção anual de 180 mil toneladas. Em segundo
lugar está a indústria madeireira, com 57.796 metros cúbicos de madeira nobre (entre elas
mogno, ipê, sucupira e jatobá), e a fabricação de telhas e tijolos, com mais de 19 mil
unidades. Além disso, há fábricas de carrocerias e cabines para caminhão, de
beneficiamento de borracha natural, de carvão vegetal, de estruturas pré-moldadas de
cimento, de calçados, de confecções, de gelo, de sorvetes, de artefatos de couro, de doces
em massa e calda, de laticínios, de beneficiamento de produtos vegetais e uma
engarrafadora de água mineral.
O setor terciário, representado pelo comércio, também é expressivo. O SEBRAE
relacionou 2.198 estabelecimentos, entre varejistas, atacadistas e 490 atuando na prestação
de serviços empresas prestadores de serviço. São micros, pequenas e grandes empresas,
que movimentam a economia municipal, além daquelas que atuam no setor informal.
2.2.2 PONTO LINGÜÍSTICO 2: PALESTINA DO PARÁ
Com uma área territorial de 984 Km², localizada na região sudeste paraense,
microrregião de Marabá, Palestina do Pará (Figura 19) está a 600 km da capital do Estado,
Belém. Pelo IBGE, Palestina tem uma população estimada em 7.544 habitantes, esse
número é levado para 10.000 habitantes, de acordo com os dados da Fundação Nacional de
Saúde – FNS. O processo de ocupação, “espontânea”, do núcleo urbano, de Palestina do
Pará (Mapa 6) iniciou na década de 50.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Figura 19 – Vista aérea de Palestina do Pará
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Fonte: Arquivo Público do Gabinete do Prefeito de Palestina do Pará. Acessada em 2007.
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Mapa 6 – Município de Palestina do Pará
0
20
40 km
120
Latitude: - 5.8º (sul)
Coordenadas: 05º 44’ 30”
Longitude: - 48.4º (oeste)
8º 19’ 01”
Limites:
Ao Norte
Brejo Grande do Araguaia
Ao Sul
São Geraldo do Araguaia
A Leste
Estado do Tocantins
A Oeste
Brejo grande do Araguaia
NOME OFICIAL
Palestina do Pará
ÁREA
984 Km²
ATO DE CRIAÇÃO
Lei 5.689 de 13/12/1991
GENTÍLICO
Palestinense
DISTÂNCIA DA CAPITAL
600 km
COMO CHEGAR
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Quadro 5 – Dados populacionais e densidade demográfica de Palestina do Pará
Total de população residente
Densidade demográfica
7.544
31
0,007
Urbana
3.840
Rural
3.704
Homens
4.003
Mulheres
3.541
HISTÓRICO DA LOCALIDADE
Ao desembarcar às margens do rio Araguaia, mais precisamente em 1958, Olindo
Ribeiro de Souza observou que sua orla não era propícia para o plantio por causa das
constantes enchentes deste rio. Pernambucano, de Araripina, vindo da cidade de
Araguatins, antigo Estado do Goiás, atualmente Tocantins, em busca de terra para plantar e
sustentar sua família, por indicação de um amigo que lhe informou sobre o lugar, aquele
homem resolveu, então, explorar em direção ao interior.
Insatisfeito, por estar numa imensidão de terras e não poder fazer uso dela, o
colonizador resolveu investigar, junto ao Cartório de Registro de Imóveis de Marabá, a
titulação daquelas terras, e com base na pesquisa, realizada no referido cartório, fora
informado que aquela região não tinha dono. Foi então que, em 21 de abril de 1958,
31
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000, resultados do Universo.
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juntamente com sua família, Olindo chegou à região para se fixar definitivamente.
Posteriormente, por seu intermédio, chegaram Nilo Lopes, Adão e Mico Preto, todos vindos
de Araguatins. Estes primeiros habitantes viviam da caça, pesca, de roçadas de mandioca,
arroz, milho e da colheita de babaçu.
Durante algum tempo, este núcleo (Figura 20) ficou conhecido como “Centro do
Olindo”, conforme especificado nos documentos de nomeação das primeiras professoras
que vieram a lecionar na região, após funcionar a primeira escola.
Figura 20 – Início da ocupação de Palestina do Pará
Fonte: Casa da Cultura de Brejo Grande do Araguaia.
Com a chegada de protestantes, Olindo passou a freqüentar a igreja destes e, certo
dia, lendo a Bíblia, gostou da palavra Palestina. Laconicamente foi até a sede do município
de São João do Araguaia solicitar, ao então Prefeito, que mudasse o nome da localidade, de
Centro do Olindo para “Nova Palestina”. Em 1963, no documento de nomeação da 3ª
professora da escola local, já vinha especificada a denominação Nova Palestina, que
permaneceu até 1991, quando foi desmembrada do município de Brejo Grande do Araguaia
e emancipada cidade, pela Lei nº. 5.689, de 13 de dezembro de 1991, com o nome de nome
de Palestina do Pará.
O município possui elevadas altitudes, como a cachoeira de Santa Isabel do
Araguaia (Figura 16) e a Serra das Andorinhas, localizada no extremo sul do município,
além de colinas entre chapadas e terras alagadas (Figura 21). Quanto ao solo, predominam
os tipos arenosos e argilosos. O clima insere-se na categoria de equatorial superúmido, tipo
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Am, na classificação de kóppen, no limite de transição para o Aw. A temperatura média
anual varia de 26 a 35ºC. O período mais chuvoso ocorre, notadamente, de novembro a
abril.
Figura 21 – Cachoeira de Santa Isabel do Araguaia
Fonte: Arquivo Público do Gabinete do Prefeito de Palestina do Pará. Acessada em 2007.
Na vegetação predomina a floresta densa, com cerrados e floresta aberta mista
(cocal). Grande parte da cobertura vegetal nativa foi derrubada para dar lugar a pastagens e
ao cultivo de arroz, feijão, milho, mandioca e banana, que, na maioria das vezes, é para a
subsistência das próprias famílias dos colonos, ensejando, neste caso, o aparecimento de
áreas de capoeira. O relevo (Figura 22) é relativamente movimentado, apresentando áreas
colinosas, cristas, chapadas em área sedimentares e apreciáveis várzeas, e a hidrografia é
constituída por um dos trechos sinuosos do rio Araguaia, que serve de limite natural com o
estado do Tocantins.
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Figura 22 – Terras alagadas em Palestina do Pará
Fonte: Arquivo Público do Gabinete do Prefeito de Palestina do Pará. Acessada em 2007.
A Lei de criação não estabelece distritos, menciona apenas Palestina do Pará como
sede municipal, entretanto, com base nos limites territoriais, definidos pela mesma, passou a
fazer parte do município as seguintes localidades (vilas): Santa Izabel do Araguaia, Porto
Jarbas Passarinho, Posto Fiscal Jarbas Passarinho, Nova Vida, popularmente conhecida
como Vila Viração e São Pedro. Mesmo situado numa das regiões mais prósperas do
Estado, em termos de potencialidades naturais e econômicas, a qualidade de vida da
população, deste município, é precária.
A
área
rural
apresenta-se
descaracterizada,
observando-se
uma
grande
concentração de fazendas, que, paulatinamente, vão substituindo a vegetação nativa por
grandes áreas de pastos. Proliferam-se as queimadas, que, além de causarem alterações
na temperatura, contribuem, juntamente com a poeira levantada do leito das rodovias, para
a poluição do meio ambiente. Devido aos reflexos da vegetação, o clima da região passa
por consideráveis alterações nos últimos anos.
O núcleo urbano de Palestina apresenta uma topografia plana em toda extensão e
tem como principais condicionantes à sua expansão o rio Araguaia, localizado no quadrante
sudoeste. Quanto ao uso do solo, predomina o residencial, sendo as condições de moradia
da maioria das casas extremamente precárias, prevalecendo às construções de um
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pavimento, entre construções de alvenaria, de madeira e taipa. Algumas ainda são cobertas
de palha de babaçu, mas, a maioria, é de telha de barro ou fibrocimento.
A partir de 1964, com a descoberta de um garimpo de diamantes, na localidade do
Itamerim (hoje pertencente ao município de Brejo Grande do Araguaia), houve um fluxo
migratório considerável de pessoas para as localidades mais próximas, entre elas,
Palestina, situada a 20 km do Itamerim. Foi nessa época que a população de Palestina
passou a manter relações com outras localidades e a economia, que era de subsistência,
passou por uma ligeira ascensão, em função do garimpo, para onde era comercializada toda
produção de cereais, até que se extinguiu, vindo a cair a produção local.
A descoberta da jazida de diamante na pequena Vila de Itamerim despertou o
interesse de muitas pessoas, que, em meio às dificuldades financeiras ou a ganância pela
riqueza facilitada, enfrentaram obstáculos, como a falta de estradas e transportes, para
chegarem ao local do garimpo. As pessoas locomoviam-se no estreito caminho no meio da
mata, na maioria das vezes a pé ou montadas em lombos de animais. Um dos mais
antigos32 garimpeiros de Palestina do Pará33, senhor Galdenço Pereira da Silva:
[...] nós ia para o garimpo por um ramal (caminho), trabalhei lá durante seis
meses e não arrumei nada. [...] O garimpo era na beira da grota, cada
pessoa que chegava escolhia um lugar e fazia a sua cata (buraco ou
barranco de onde se tira o minério). Lá só deu muito serviço e pouco
diamante (In Ferreira, 2002).
Segundo o senhor Galdenço, ex-garimpeiro do Itamerim, pessoas de diversas
regiões do estado vieram à procura de diamantes, mas o garimpo só funcionou com
entusiasmo por dois anos.
Outro fato ocorrido na região, à mesma época, e que merece atenção, foi a Guerrilha
do Araguaia, movimento armado, liderado por militantes de esquerda, que se fixaram, na
região do Baixo Araguaia e do Médio Tocantins, a fim de (re)conhecer a selva amazônica e
todos os benefícios e obstáculos proporcionados pela floresta e, sucessivamente, combater
a ditadura estabelecida no País, desde 1964, período em que o Brasil ainda era governado
pelo regime militar. Os “terroristas”, como eram conhecidos os militantes, ajudavam os
moradores da região com distribuição de remédios, medicamentos, feituras de partos e
ainda realizavam pequenas cirurgias e alfabetizavam.
32
Relatos resultantes de entrevistas gravadas pelo pesquisador, devidamente autorizadas, inclusive, para
publicação, com alguns moradores mais antigos.
33
Há poucos registros, na própria localidade, que documentem aspectos sobre a região. Por isso, neste trabalho,
nos valemos das entrevistas, mencionadas anteriormente e de outros escritos, entre estes, o Trabalho de
Conclusão de Curso (2002) intitulado “O Fluxo Migratório na Transamazônica”, de autoria de Edmilson Paes
Ferreira, aluno do Curso de História, da Universidade Federal do Pará.
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As forças de repressão do governo, ou seja, o exército, a fim de inibir os
esquerdistas, realizaram três grandes campanhas para eliminar o foco guerrilheiro do
Araguaia, e abriu 85 km de estrada, conhecida como Operacional 3, que permitia o acesso
às matas, cortando o território dos atuais municípios Brejo Grande do Araguaia e Palestina
do Pará. O conflito iniciou em abril de 1972 e terminou em janeiro de 1975. A escolha de
começar o movimento guerrilheiro partindo da selva amazônica foi uma estratégia da
esquerda, pois a área de conflito era desprovida dos poderes públicos e o exército brasileiro
não tinha experiência em combate na floresta.
Considerando que os guerrilheiros tinham o apoio dos moradores da região, pelos
serviços que prestavam às comunidades, o exército tentou deturpá-los, divulgando que os
paulistas (como os guerrilheiros ficaram conhecidos) eram assaltantes, estupradores e as
mulheres, prostitutas, em São Paulo.
Outra tática do exército foi transformar os pequenos agricultores em guias e castigar
cruelmente aqueles que eram suspeitos de colaborarem com os guerrilheiros. As pessoas
que se negassem a colaborar com ele eram aprisionadas e torturadas, uma forma usada
para amedrontar a população e encurralar os guerrilheiros.
Segundo o Sr. Francisco Marciel, um outro morador mais antigo, o modo como o
exército conduziu a Guerrilha deixou seqüelas visíveis, até hoje, em alguns munícipes,
principalmente naqueles que serviram forçosamente de guias. Segundo ele:
[...] o pior de tudo, foi os combates dos soldados contra os guerrilheiros.
Eles (os guerrilheiros) era gente boa, compravam mercadorias da gente
aqui, eles eram pessoas refugiadas do PC do B. Já os soldados tiravam o
povo da roça, empatando o povo de trabalhar para se transformar em guias
do exército dentro da mata [...].
[...] os soldados do exército bateram, espancaram e amedrontaram todos
aqueles que eram suspeitos de saber onde os guerrilheiros estavam. Em
suma, em três grandes combates o exército, envolvendo aproximadamente
10.000 homens, assassinaram brutalmente aqueles que ficaram na história
como os Guerrilheiros do Araguaia (Entrevista gravada em dezembro de
2006).
Ele conta, ainda, que, no ano de 1970, o Governo Federal, cujo presidente era o
General Emílio Garrastazu Médici, utilizando o rádio, meio de comunicação mais acessível à
época, anunciou que iria construir a estrada da Transamazônica. Essa construção também é
uma lembrança revitalizada na memória do seu Marciel:
[...] foi uma surpresa para nós, peguei pelo rádio que o governo ria
construir uma estrada por nome de Transamazônica, saindo de João
Pessoa até a divisa do Brasil com a Bolívia. Só que ela iria ser efetuada do
Estreito para cá, para lá ela já era ligada e depois virava Transamazônica
(Entrevista gravada em dezembro de 2006).
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Outro morador, entre os mais antigos, o senhor João Bezerra Diniz, também narra
esse episódio marcante para suas vidas:
[...] eu vi no rádio o presidente Médici dizendo que ia fazer uma estrada
chamada Transamazônica, que iria cortar de João Pessoa até chegar em
Humaitá, no Amazonas. [...] aí eu fui lá em Araguatins e disse para o
Baiano Vermelho: Baiano, vai acabar esse negócio de motor, aqui, nesses
dias, não vai custar muito não, vai passar uma estrada aqui por perto. Ele
ficou duvidando, ai eu disse para ele: – aí vem umas máquinas pesadas
que nunca achou um pau para dá mais que dois empurrão. Tu pode ligar o
rádio que vai passar de novo (In FERREIRA, 2002).
Com a construção da rodovia, no início na década de 1970, e dos lotes de terra
doados pelo governo, por meio do Instituto Brasileiro de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA, vieram inúmeras famílias, ocasionando um outro fluxo migratório para a região. Este
fluxo resulta da propaganda enganosa do governo, de “dar”, às margens da rodovia, um lote
de terra de 100 hectares, casa e salários referentes aos seis primeiros meses, para quem ali
viesse a se estabelecer, além de assistência técnica e crédito com juros baixos.
Ainda de acordo com o Plano de Integração Nacional – PIN, lançado em junho de
1970, seria destinado um percentual de 30% de fundos de incentivos fiscais para financiar a
construção de 5.000 km da estrada Transamazônica – (BR 230), ligando o nordeste à
Amazônia. Segundo o comunicado oficial do governo, essa rodovia atravessaria a Belém
Brasília, na altura de Marabá, às margens do Tocantins, para, em seguida, cruzar a bacia do
Xingu e Tapajós e alcançar Humaitá, onde se encontraria com a estrada Porto Velho –
Manaus. Com seu 1750 km, a estrada poderia se chamar Transamazônica.
Este foi o discurso oficial, na prática ocorreu o inverso, os nordestinos serviram de
cobaias para dar sustentáculos a um plano ambicioso do governo federal – que lançou o
projeto oficial de colonização, que era unir “homens sem terra no Nordeste à terra sem
homens na Amazônia”.
Mas somente os militares e grandes fazendeiros foram privilegiados, enquanto os
migrantes foram simplesmente jogados às margens da Transamazônica “recebendo”
apenas a terra. Até os produtos cultivados pelos colonos eram escoados em lombos de
animais, carroças e, às vezes, nas próprias costas dos colonos, pois a maior parte dos
produtos era colhida em épocas de fortes chuvas, o que piorava ainda mais o tráfego nas
vicinais.
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O fato é que o governo criara a impressão que, com tais projetos, era possível
produzir um excedente de alimentos básicos, como feijão e arroz, a fim de compensar a
perda da produção, decorrente da concentração, cada vez maior, no sul do Brasil, da
produção de soja para exportação. Mas como seria possível produzir uma grande
quantidade de alimentos se os colonos receberam do governo somente as terras. Em vista
disso, praticavam ‘mal’ a agricultura de subsistência.
Antes da colonização, a região era desprovida de centros urbanos que pudessem
atender às necessidades sociais, econômicas e culturais da nova população do meio rural.
Por isso, além das agrovilas, eram previstos as ‘agrópolis’, que eram pequenos centros
urbanos, e as ‘rurópolis’, que deveriam oferecer maior amplitude de serviços.
A agrovila era a concretização da agrópolis, como se fosse um bairro rural,
construída num espaço de 10 km, às margens da rodovia, no meio da selva amazônica, com
capacidade para atender até 70 famílias, com escolas primárias, igrejas, escritório do Banco
do Brasil, posto de comunicações e de saúde. Seriam nas agrovilas que os colonos
encontrariam seu ponto de apoio e moradia, mas faltou infra-estrutura que possibilitasse
melhores condições de vida para os moradores.
Durante o dia, os colonos iriam trabalhar em seus lotes de terra, cuidando de seus
afazeres agrícolas e, à tarde, voltariam para casa, na maioria das vezes, situadas nas
agrovilas, carregando ferramentas de trabalho e uma vasilha para pôr água.
A construção dessas rodovias substituiu os meios de transportes aquáticos
(pequenas embarcações) existentes, tradicionalmente, na Amazônia, pelo terrestre,
proporcionando, assim, mais agilidade e rapidez no escoamento de mercadorias e no
deslocamento de pessoas. A região ganhou outras formas de desenvolvimento, importando
mercadorias para o consumo local e exportando minérios ou produtos de origem florestal.
Entretanto, esse “desenvolvimento” não chegou para os pequenos colonos. Aqueles
que moravam nas vicinais ou agrovilas continuaram isolados. As rodovias serviram mais
para retirar matéria-prima, como o minério e madeiras da Amazônia, que era vendida para
outros países por preços irrisórios, provocando ainda mais o empobrecimento da região.
A
construção
de
rodovias,
nessa
região
amazônica,
embora
importante,
desapropriou muitos grupos indígenas (Figura 23), que há séculos habitavam esta área, e,
por não ser bem “planejada”, pouco contribuiu para melhorar a situação de vida dos antigos
e novos habitantes, iludidos pelas grandiosas promessas governamentais.
Figura 23 – Índios da Tribo Suruí-Sororó
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Fonte: Casa da Cultura de Brejo Grande do Araguaia.
Alguns anos após o término da rodovia, o governo cortou os investimentos que eram
necessários para a conservação da mesma. A famosa Transamazônica ficou quase
intrafegável no inverno e, nos meses de sol, os buracos e a poeira dificultavam
sobremaneira o tráfego. Com isso, os colonos ficavam cada vez mais isolados, sem ter
como comprar ou vender sua produção. Sobre isso relata o senhor João Bezerra Diniz,
outro dos moradores antigos da região:
[...] o primeiro fracasso da estrada foi em 1974, que embrejou tudo,
naqueles lugares de corte estourou tudo, aí eles drenaram, aí melhorou, aí
de 80 para cá foi abandonada de vez e nós não tinha condição de sair para
vender o legume e comprar as coisas para casa (In FERREIRA, 2002).
Diante dos fatos, a situação para os militares não era das mais confortáveis, pois
eles precisavam, a qualquer custo, integrar a Amazônia para não entregá-la a grupos
estrangeiros que ameaçavam invadi-la, além da seca que assolava o nordeste e da baixa
produção de produtos agrícolas básicos, para atender às regiões sul e sudeste do Brasil,
que concentravam todas as terras produtivas no cultivo de soja para exportação.
Diante do novo caos que se estabelecia, o governo, mais uma vez, tentava, a
qualquer custo, atrair pessoas, sobretudo do nordeste, para colonizar a Amazônia, com
promessas tentadoras, que, segundo discurso do governo, sofria uma calamidade natural –
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a seca, e do estado de Goiás (atualmente Tocantins), por se tratar de uma região de
fronteira. Sobre essa colonização, o Presidente do INCRA, à época, senhor José de Moura
Calvacanti, discursou, e, contundentemente, posicionou-se:
[...] Virão cerca de cem mil famílias, mas, não virão como arigós, de
lamentável minoria para a Amazônia. [...] Agora, os nordestinos serão
localizados em colônias na margem da Transamazônica e contarão com
total assistência governamental, inclusive casas, terra de boa qualidade e
ainda assistência social [...] (In FERREIRA, 2002).
Segundo o senhor Alcides Pereira da Silva, um dos migrantes, e morador de
Palestina do Pará, o INCRA disponibilizava até carros para buscar migrantes em qualquer
parte do Brasil e, sobre isso, afirmou: [...] bastava só a pessoa ir lá na sede do INCRA e
dizer que queria morar na Transamazônica, que o INCRA mandava um caminhão buscar a
família e as coisas dele de qualquer lugar (In Ferreira, 2002).
Com isso, as pessoas que estavam sofrendo, por falta de alimentos em seus locais
de origem, vieram arriscar sua sobrevivência na Amazônia, entretanto, mais uma vez, foram
enganados pelos discursos escabrosos do governo, como nos relata a senhora Raimunda
Siqueira Gomes Leal: [...] nessa região, aqui nossa, o governo não deu casa, não tinha
escola, não tinha nada, nós vivemos aqui isolados, quem sobreviveu é porque teve sorte e
foi só trabalhando (In FERREIRA, 2002). Para a senhora Zenaide Lopes Guimarães,
migrante, e, atualmente, professora na Vila do Porto Jarbas Passarinho (distrito de Palestina
do Pará), a doença - especialmente a malária - foi um dos grandes obstáculos que os
migrantes encontraram:
[...] a maior dificuldade que encontrei aqui foi a doença, vi muita gente
morrer de malária, no hospital de Marabá, de Araguatins e aqui mesmo,
gente morria de malária direto, a vida aqui era muito difícil. Muitos colonos
não resistiram, vendo seus familiares morrer de doença, venderam os lotes
e foram embora. Os que permaneceu no local tiveram que conviver com a
falta de um posto de saúde e também a falta de transporte para que
pudessem se locomover rapidamente (Entrevista gravada em dezembro de
2006).
Simultaneamente à colonização, por pequenos agricultores, houve também a
colonização por fazendeiros, estes receberam do Governo Federal as chamadas glebas,
correspondentes a 604 alqueires de terra (em disparidade aos 100 hectares “doados” aos
pequenos agricultores), essas ficavam a uma distância de 10 km da rodovia, ou seja, depois
da área demarcada para a colonização, conforme relatos do senhor Arlindo da Cruz Brito,
emigrante do Estado da Bahia:
[...] vendi tudo que tinha lá (na Bahia) e vim para cá em 1978, aqui não
tinha mais terra vazia, aí eu comprei uma gleba, a 10 km da Vila Santana
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(atual distrito do município de Brejo Grande do Araguaia), depois comprei
os lotes da frente até chegar na estrada, aí busquei todos os meu
familiares e fomos trabalhar dentro dela (In FERREIRA, 2002).
Os pequenos agricultores que foram assentados pelo INCRA, a partir de 1971,
quando começou oficialmente a demarcação de terra na região, receberam um lote de terra
medindo 100 hectares. Mas diante das dificuldades enfrentadas pela falta de apoio do
governo, da inexistência de estradas para escoamento da produção e das péssimas
condições de vida, muitos colonos começaram a vender seus lotes, o que proporcionou um
aumento de latifúndios na Transamazônica.
O INCRA “doava” aos migrantes apenas 100 hectares de terra, mas houve pessoas
que utilizaram estratégias ilegais, conforme nos relata o senhor Francisco Marciel Lima,
migrante e atual morador de Palestina do Pará:
[...] A colonização da nossa região virou fazenda. O Antonio do Carlos fez
uma treita na frente da Transamazônica, ele pegou uma certa quantidade
de pessoas dele, para tomar a frente da estrada, para que ele pudesse
pegar por trás, aí ele fundou uma fazenda muito grande. [...] E, outros iam
comprando os lotes dos outros colonos, o que resultou é que a área de
colonização se transformou quase toda em fazendas (Entrevista gravada
em dezembro de 2006).
Dos colonos que “receberam” os 100 hectares de terra do governo, poucos mantêm
esta propriedade. A região está quase toda nas mãos de latifundiários, que transformaram a
área em pastagem para a criação de gado.
Os colonos que venderam seus lotes para os latifundiários, mais tarde, começaram a
trabalhar para os próprios fazendeiros, a fim de garantir a sua sobrevivência, e outros foram
embora para outras áreas de colonização ou para seus locais de origem. Os latifundiários
vêem na terra seu próprio bem e nela cultivam lavouras, criam gados e se apropriam da
mão-de-obra barata, ou seja, dos migrantes, para a feitura de serviços, como: roços, fazer
cercas, cuidar de gado, zelar de lavoura etc.
A abundância de mão-de-obra era tudo que os fazendeiros precisavam para dar
procedimentos aos seus serviços, com custos cada vez mais baixos, pois, à medida que
aumentava a procura por estes serviços, diminuíam os preços pagos por essas atividades.
Fatores que revitalizam o contraste na Amazônia, ou seja, enquanto alguns - os pequenos
agricultores, lutam pela sobrevivência, outros – os latifundiários, conseqüentemente, ficam
ainda mais ricos.
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A maioria dos migrantes não sabia e não sabe ler nem escrever, vivia e vive
basicamente do trabalho no campo, de fazenda em fazenda, para garantir o pão de cada
dia. Os chamados “peões” são “atraídos” por uma espécie de “gato” (encarregado de
executar um determinado serviço na fazenda), quando as atividades chegavam ao fim, eram
dispensados. A saída era procurar outro emprego, em outra fazenda, isso se tornou um
“círculo vicioso”.
O gigantesco projeto do Governo Federal, de povoar, inicialmente, com 100 (cem)
mil famílias, o grande vazio demográfico no meio da selva Amazônica, às margens da
Transamazônica, chegou ao fim com apenas 10 (dez) mil famílias, ou seja, 10% do total
propagado pelo governo. O fracasso do processo de colonização se deu porque o governo
não honrou com os compromissos assumidos com os colonos. Sob essa ótica, afirma
Hebett (1989, p. 88):
Os frutos da colonização oficial não corresponderam, nem de longe, às
expectativas despertadas por uma propaganda irresponsável motivada por
objetivos políticos ou puramente comerciais. Seria injusto atribuir ao INCRA
todas as frustrações. Muitos dos fracassos registrados se devem muito
mais à política agrícola global do Estado.
O INCRA foi incumbido de dar seguimento ao Programa para que o mesmo pudesse
alcançar seus objetivos – ocupar a região demograficamente vazia, proporcionar a
segurança interna, minimizar as tensões sociais, principalmente a nordestina, sem mexer
com a elite agrária existente na região. Sob esse enfoque, Ianni (1978) assinala que, na
prática, ao mesmo tempo em que crescia extensivamente o capitalismo na região, havia
uma espécie de reforma agrária, em que os trabalhadores rurais, desempregados ou super
explorados, camponeses e operários buscavam terras virgens ou devolutas para ali construir
seu lugar.
ATIVIDADES ECONÔMICAS PREDOMINANTES
Como podemos observar, a ocupação de Palestina está, historicamente, desde o
início, ligada à atividade agrícola, uma vez que seus primeiros moradores partiram de suas
regiões de origem, a maioria do nordeste do País, em busca de terras férteis para o plantio,
fixando, na região, a cultura de arroz, de milho, de feijão e de mandioca.
Mesmo com a importância, já demonstrada, na cultura de grãos, em particular a de
arroz, o município não dispõe de uma estrutura de armazenamento adequada, forçando os
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produtores a venderem sua produção, inclusive na “folha”, às beneficiadoras locais. Estas
passam a estocar a produção até a entressafra, quando, então, o arroz é vendido a preço
mais elevado. A ausência de incentivos governamentais para o desenvolvimento de
atividades agrícolas e a carência de infra-estrutura a estas atividades são responsáveis
pelos baixos índices de produtividade e, conseqüentemente, pelos reduzidos ganhos reais
do produtor. Quanto ao extrativismo, ainda predomina a extração de babaçu (Figura 24),
representando importante complemento na renda familiar dos pequenos produtores, apesar
dos processos de derrubadas dos babaçuais ter se intensificado nos últimos anos, em
decorrência do desenvolvimento da pecuária.
Figura 24 – Coco babaçu
Fonte: Casa da Cultura de Brejo Grande do Araguaia.
Esta atividade, além de ser considerada sinal de pobreza,
é realizada
exclusivamente por mulheres, as chamadas “quebradeiras de coco”, que são discriminadas
e, às vezes, ameaçadas na luta pela preservação dos babaçus, já que desenvolvem seus
trabalhos em fazendas de propriedade de terceiros.
Esse conflito decorre do fato da quebra do coco se dá no próprio local de extração,
ocasionando, conforme alegação dos fazendeiros, o ferimento das patas do gado pela casca
do coco quebrado. Apesar de ser considerado de pequeno valor, o babaçu gera inúmeros
subprodutos que ajudam na complementação da renda familiar. A casca serve para produzir
o carvão, o bagaço é utilizado como ração para pequenos animais e a amêndoa dá origem
ao azeite e até mesmo à produção de sabonete artesanal.
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Neste sentido, existe um projeto, em andamento, que pretende fortalecer o
desenvolvimento dessa atividade, denominado “Mulheres, Participação e Preservação do
Meio Ambiente”, uma iniciativa do Sindicato dos trabalhadores Rurais, encaminhado à
Embaixada do Canadá, para captar recursos necessários à sua implementação. O projeto
prevê que os produtos possíveis de serem derivados são: chocolate, azeite, cocada, bolo,
sabão, sabonete e ração.
Registra-se,
também,
no
município,
a
atividade
pesqueira,
desenvolvida,
principalmente, na sede e nas Vilas Santa Izabel do Araguaia e Jarbas Passarinho, devido
suas
localizações
ribeirinhas.
Mesmo
caracterizando
uma
alternativa
viável
ao
desenvolvimento econômico, o município não vem sendo explorado com este fim. A fim de
fortalecer a atividade pesqueira foi fundada a colônia de pescadores, cuja sede funciona na
cidade de Araguatins, município vizinho, no estado do Tocantins, no entanto, inexiste
estrutura de apoio e de escoamento da produção para outros mercados.
A atividade industrial está concentrada basicamente nos setores oleiro-cerâmico e de
produção de alimentos. O primeiro restringe-se à produção de tijolos e telhas, por meio de
quatro olarias, sendo três de pequeno porte, localizadas junto à área ribeirinha e uma de
grande porte, pertencente à Associação de Moradores de Palestina do Pará, localizada na
estrada de acesso à Rodovia Transamazônica, considerada pelos oleiros a mais importante,
com uma capacidade de produção de dez mil tijolos/dia. Com o objetivo de gerar empregos
e propiciar a melhoria das moradias dos habitantes do município, a partir da utilização de
argila, recurso natural disponível na região, aos poucos a palha de babaçu e a taipa são
substituídas pela alvenaria. Registra-se, ainda, uma produção artesanal de banco de
madeiras, com assento em couro de gado, somente para o mercado local e os trabalhos em
palha, de uma moradora da sede do município, dona Eva, que confecciona bolsas, cestos,
peneiras, e outros produtos, já divulgados pela Casa da Cultura de Marabá.
A atividade comercial é incipiente. Existem, em média, 80 estabelecimentos
varejistas de apoio local, cujas fontes abastecedoras são de outros centros urbanos e até de
outros Estados, como o Maranhão e Tocantins, por exemplo. O setor de prestação de
serviços conta com apenas alguns hotéis, tipo dormitório, posto de combustível, feira livre
para o pequeno produtor, açougues e os serviços de água, correios e delegacia, estes
últimos, instalados em prédios da Prefeitura. Não existe matadouro, mercado municipal,
agência bancária, dentre outros serviços essenciais à comunidade.
A população fica à mercê dos serviços oferecidos na cidade de Araguatins, no
estado do Tocantins, ou em Marabá. Não existe sistema de esgoto e drenagem pluvial,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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embora não haja erosão e nem empoçamento de água no leito das vias urbanas, devido ao
solo ser arenoso.
Por estar inserido em uma região onde os problemas sociais se acumulam em
conseqüência ou priorização de interesses que beneficiam uma parte da população – aquela
que detém os grandes empreendimentos econômicos, voltados para pecuária, agricultura e
extrativismo – os movimentos sociais, na medida do possível, tentam influenciar nas
decisões políticas da comunidade, por intermédio de ações populares e inúmeras
reivindicações encaminhadas ao poder público local, que, na maioria das vezes, não são
atendidas, tampouco respeitadas pelos governantes.
Os reflexos dessa segregação há muito repercute negativamente e se faz sentir no
meio ambiente, na saúde, na educação, enfim, na qualidade de vida da população. Nesse
sentido, a Guerrilha do Araguaia, a título de exemplo, se manifestou positivamente, uma vez
que a população, mesmo reprimida, adquiriu forças para se organizar, não só no sentido de
reivindicar o atendimento de suas necessidades básicas, mas também de fazer justiça, às
vezes, ‘com as próprias mãos’.
Além de Associações de Moradores e Sindicato de Produtores Rurais, o município
conta, atualmente, com mais duas entidades sociais - a Associação das Mulheres de
Palestina e o Clube de Jovens. Ambas não dispõem de sedes próprias. As reuniões da
Associação das Mulheres são realizadas nas residências das associadas e do Clube de
Jovens na Escola Municipal 21 de Abril. A primeira tem, como objetivo, a proteção e a
assistência às mães carentes e, a segunda, tem como principal finalidade a educação de
jovens para serem integrados ao mercado de trabalho. A população carece de incentivos à
cultura e ao lazer, pois as opções são raras, mesmo existindo recursos naturais possíveis de
serem explorados para este tipo de atividade, como também para o turismo.
Um desses é o rio Araguaia, cujas praias Beira Rio (Figura 25) e Pedral da Viração,
que distam, aproximadamente, de 2 a 3 km, respectivamente, do núcleo urbano, da sede do
município. De uma terceira praia do rio Araguaia, que banha a localidade de Santa Izabel,
avista-se, no verão, a Cachoeira de Santa Izabel, espetáculo de rara beleza. Principalmente
na época do veraneio, no mês de julho, estas praias são visitadas por turistas de localidades
mais próximas, não banhadas pelo rio Araguaia.
Figura 25 – Praia Beira Rio-Palestina do Pará
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16
Fonte: Arquivo Público do Gabinete do Prefeito de Palestina do Pará. Acessada em 2007.
Se existem no município alternativas, propiciadas pelos recursos naturais, o mesmo
nem sempre acontece com outros espaços de laser. A única praça existente, além de
pequena, carece de cuidados e infra-estrutura que garantam conforto e diversão à
comunidade, outra opção é uma orla inacabada, num espaço privilegiado, que, também, por
falta de infra-estrutura adequada e energia elétrica, vive abandonada.
O futebol é o esporte mais freqüente em todo município, praticado também pelas
mulheres. Para o incentivo às práticas desportivas, a Secretaria de Educação, Cultura e
Desporto dispõe de uma quadra polivalente na Escola Municipal Adélia Vaz e de um ginásio
coberto, que fica no centro da cidade. Estes espaços são utilizados pelos alunos e pela
comunidade em geral para torneios de vôlei, basquete e futebol de salão. Existem ainda
dois campos de futebol, com condições inadequadas de uso, onde são realizados torneios,
disputados, inclusive, com agremiações de outras localidades.
Além de bares, como o I. P. Souza Lanches, que funciona diariamente, os clubes
sociais e os salões de dança, todos particulares, funcionam, na maioria das vezes, nos finais
de semanas, para festas dançantes. Quanto às manifestações populares, a maioria das
atividades, atualmente, não conta com o incentivo do poder público local e se refere
basicamente a danças folclóricas – quadrilhas e boi-bumbá (Figura 26), como a dança da
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Sussa, dos grupos folclóricos das Vilas São Pedro e Nova Vida (viração). Estas danças de
origem africana foram introduzidas no município pelos nordestinos.
Figura 26 – Grupo de dança folclórica boi-bumbá
Fonte: Casa da Cultura de Brejo Grande do Araguaia.
Ainda por iniciativa da população, foram formados dois grupos de teatro, o
Independente, com aproximadamente 20 pessoas e o Clube de Jovens, que fazem
apresentações ao ar livre, por falta de espaço adequado.
Em todo o município só existe uma biblioteca, localizada na sede, restrita apenas a
uma sala, cujas instalações, equipamentos e pouco acervo bibliográfico, são inadequados
para atividades de leitura e consulta. A principal festividade religiosa é a do padroeiro do
município Sagrado Coração de Jesus, que acontece no mês de junho, organizada por uma
comissão constituída de pessoas da comunidade da igreja católica. Durante nove noites,
funciona um arraial, com pequenas barracas armadas em frente à igreja, sendo que, na
última noite, além do arraial, é celebrada uma missa, em que acontecem cerimônias de
batizado e crisma.
Palestina do Pará também sofre com a cheia do Araguaia e vive momentos
angustiantes provocados pela enchente. Segundo autoridades do município, mais de 500
famílias tiveram suas casas invadidas pelas águas na última enchente, como também suas
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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roças, sítios e fazendas, o que tem comprometido grande parte da produção agrícola. A Vila
Jarbas Passarinho (Figura 27), no Porto da Balsa, ficou totalmente submersa pelas águas
do rio Araguaia, o que obrigou as famílias a buscarem abrigos em barracões cedidos pelo
DNER, no município de Araguatins, estado do Tocantins, como também às margens da
Rodovia Transamazônica, do lado do Pará.
Figura 27 – Vila Jarbas Passarinho – cheia de 2005
Fonte: Arquivo Público do Gabinete do Prefeito de Palestina do Pará. Acessada em 2007.
Desse modo, se pode concluir que este município se apresenta totalmente carente,
tanto em termos infra-estruturais como econômicos. Neste último, se concentra a maior
responsabilidade com o futuro do município e, para onde, prioritariamente, devem ser
direcionados esforços, no sentido de solucionar os problemas que inibem o desenvolvimento
das atividades agrícolas, pecuárias, extrativistas e comerciais, que, sem dúvida, trarão
retornos financeiros capazes de reverter o quadro de pobreza que assola o município.
O perfil econômico, por exemplo, precisa ser reformulado, principalmente no que se
refere à atividade agrícola, para que esta atividade possa se desenvolver em nível mais
elevado, em todo território municipal, uma vez que, nos moldes em que é desenvolvida, na
maioria das localidades (agricultura de subsistência), apresenta baixos rendimentos, sem
contar com os entraves da comercialização que agravam mais ainda essa situação.
O reconhecimento da rede de pontos lingüísticos, previamente selecionados,
proporcionou produzir os dados sobre as localidades (informações históricas, atividades
culturais, condições sócio-econômicas, fotografias de locais e eventos representativos,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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assim como sobre os indivíduos que se envolveram com a pesquisa, sobretudo os sujeitos).
Bem como proporcionou, também, informar às lideranças locais sobre a importância e
finalidade deste tipo de pesquisa, isso permitiu que algumas dessas pessoas, em alguns
casos, auxiliassem na seleção dos sujeitos. Este reconhecimento permitiu também iniciar a
mediação dos diálogos entre pesquisador e sujeitos (o que inclui desde a concessão à
realização das entrevistas), cujo perfil está delineado no item seguinte.
2.3 SUJEITOS
Seguindo os princípios do método Geolingüístico e os aportes da Dialetologia, devem
ser respeitados, na composição da população-amostra, alguns critérios que configurem o
perfil desejável do sujeito para o tipo de pesquisa que se propõe realizar. Assim, os sujeitos,
desta investigação, deveriam atender aos seguintes requisitos:
serem nativos do ponto lingüístico pesquisado;
não terem vivido mais de 1/3 de suas vidas fora do lugar onde nasceram;
quanto ao nível socioeconômico, todos deveriam possuir renda igual ou inferior
a dois (2) salários mínimos vigentes à época da pesquisa;
quanto à faixa etária, deveriam estar situados em uma das duas: adulta (a partir
de 50 anos) e jovem (entre 18 e 30 anos), pela impossibilidade de se
documentar três diferentes faixas etárias, pois demandaria mais tempo e
acarretaria mais custos. E, também, porque pessoas de faixas etárias mais
distanciadas, permitem confrontar mais adequadamente os usos que fazem da
língua, o que propicia a análise da variação e da mudança lingüísticas, mais
evidenciadas quanto mais distantes forem as faixas etárias;
quanto à escolaridade, deveriam estar em um dos dois níveis: analfabetos ou
com baixa escolarização (até a quarta série do Ensino Fundamental) ou com o
Ensino Médio completo;
quanto ao sexo, homens e mulheres.
O Gráfico 5 reúne o perfil desejável para a composição da população-amostra, deste
tipo de pesquisa.
20
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Gráfico 5 – Perfil desejável dos sujeitos
SUJEITO
SEXO
RENDA
ESCOLARIDADE
FAIXA ETÁRIA
Ensino Médio
M
02
B
04
18 a 30 anos
(jovem)
F
02
B
Ensino Médio
M
02
B
Até a 4ª série do Ensino
04
Fundamental (zona rural)
50 a 65 anos
(adulta)
F
02
B
Até a 4ª série do Ensino
Fundamental (zona rural)
Os critérios de seleção dos sujeitos, deste tipo de pesquisa, têm, nessas variáveis, a
referência necessária, tanto a questões lingüísticas, quanto a aspectos sociais, que as
envolvem. O Quadro 6 reúne, de fato, as características dos sujeitos que, estabelecidas,
constituíram a população-amostra da Microrregião Marabá, para esta pesquisa. Com
exceção do fato de todos serem moradores da zona urbana.
21
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Quadro 6 – Perfil da população-amostra
SUJEITOS
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
Sujeito 1
Sujeito 2
Sujeito 3
Sujeito 4
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Adulto
Adulto
Jovem
Jovem
Baixa escolaridade
Baixa escolaridade
Ensino Médio
Ensino Médio
Os dados relativos aos sujeitos que constituíram a população-amostra foram
produzidos por meio de 01 (um) dos instrumentos de produção de dados, a Ficha do Sujeito
(Anexo B), cujo objetivo foi registrar algumas características, destes, conforme seguem.
Dos oito (8) sujeitos, quatro (4) são nativos de Marabá, entre eles estão o S1MBE e
S2FBE – isto é, da faixa etária adulta, com baixa escolaridade, masculino e feminino,
respectivamente. O primeiro, com 61 anos de idade, católico, casado, pescador, profissão
que, segundo ele, o orgulha por haver aprendido, desde criança, com seu pai. O segundo,
com 60 anos de idade, católica, viúva, filha de doméstica e pai, cuja profissão era quebrar
pedras, residentes em um dos bairros situados na periferia, área ribeirinha do núcleo
Marabá Pioneira. Ambos são alunos de um Programa de Alfabetização para Adultos – Brasil
Alfabetizado, do Governo Federal.
O S3MEM e o S4FEM são masculino e feminino, respectivamente, com Ensino
Médio completo, da faixa etária jovem, também residentes do núcleo Marabá Pioneira. Ele,
evangélico, solteiro, filho de professora, só aos 30 anos, conseguiu se profissionalizar como
torneiro mecânico. Ela, católica, casada, e, embora haja concluído o Ensino Médio, com 30
anos de idade, ainda não havia conseguido emprego formal, trabalha, em casa, como
doméstica.
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Os outros 4 (quatro) são de Palestina do Pará. Entre eles estão o S1MBE e S2FBE,
ou seja, aqueles da faixa etária adulta e de baixa escolaridade. O primeiro (S1MBE), do
sexo masculino, vive no centro urbano da cidade, é filho de pai e mãe lavradores. Com 63
anos de idade, católico, casado, e, da mesma forma que os demais, também, lhes foi tirada
a oportunidade de ter acesso à educação formal, e, por conseguinte, não sabe ler nem
escrever. É lavrador e vive basicamente do trabalho no campo, de fazenda em fazenda,
para garantir o sustento da família.
O segundo (S2FBE), filha de pai lavrador e mãe quebradeira de coco, do sexo
feminino, reside na zona rural de Palestina, na comunidade Viração, há uns 03 km da sede
do município. Aos 57 anos de idade, católica, casada, trabalha ativamente ao lado do
esposo, como lavradora, de fazenda em fazenda, para ajudar no sustento da família.
Entre os sujeitos da faixa etária jovem e com Ensino Médio completo estão o S3MEM
e o S4FEM. O sujeito do sexo masculino, filho de lavrador e professora, tem 21 anos de
idade, é evangélico, desempregado e reside no centro urbano da cidade. O outro, do sexo
feminino, filha de lavrador e doméstica, é católica, desempregada e reside em um dos
bairros periféricos deste município.
2.4 MATERIAL TÉCNICO, APLICAÇÃO DO QSL, TRANSCRIÇÃO GRAFEMÁTICA DOS
DADOS E CONSTITUIÇÃO DO CORPUS
A realização deste tipo de pesquisa requer gravadores, fitas, pilhas e acessórios
(etiquetas de identificação, máquina fotográfica, gravuras, bloco para anotação, lapiseira,
etc.). Nesta pesquisa, nas entrevistas, foram usados: 01 microcassette recorder, de marca
Panasonic, modelo RN – 405; 09 fitas, de marca Sony, microcassett, mc 60; pilhas
Panasonic, power alkaline AA; além de papel, lápis, caneta, etc. Convém destacar, estes
são apenas alguns dos pequenos custos, iniciais, de uma pesquisa de campo, com essa
dimensão geográfica.
Custos, estes, que exigem do pesquisador consideráveis recursos financeiros, entre
outros, para custear transporte, hospedagem, alimentação, entre outras despesas, como a
aquisição dos materiais técnicos listados, anteriormente, que devem ser de qualidade. Ainda
há casos em que o pesquisador, ao contactar os sujeitos, constata, principalmente, a
ausência de alimentação mínima, o que o faz contribuir, de alguma forma, no momento da
entrevista.
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Todo esse aparato técnico visa, o mais possível, documentar as formas lingüísticas
encontradas na localidade pesquisada, de forma segura e com qualidade. No entanto, a
maioria deste material é necessária à aplicação do QSL (Anexo C), na perspectiva
Geolingüística, cuja produção dos dados, relativos às ocorrências semântico-lexicais, na
Microrregião Marabá, resulta desta aplicação aos sujeitos que constituem a populaçãoamostra.
O QSL é um dos 3 (três) instrumentos de produção de dados em Geolingüística. Este
consiste em um conjunto de questões, de cunho descritivo, cujo objetivo é investigar a
designação, atribuída pelo sujeito da pesquisa a determinados objetos do mundo referencial
ou imaginário, por meio da técnica da entrevista gravada. Pretende-se documentar a
diversidade sinonímica, ou seja, as ocorrências lexicais usadas, oralmente, e relacionadas a
um dado conceito.
Configura-se como um instrumento de cunho onomasiológico34, pois se parte do
‘significado’ (‘conceito’ ou ‘noção’) para estudar suas manifestações no plano dos signos ou
lexemas, unidades lexicais que nomeiam objetos, atividades, fenômenos naturais, entre
outros. Segmentado em domínios, denominados Campos Semânticos (CS), procura abarcar
o universo de possibilidades de identificação de elementos do mundo biossocial. Contempla
questões gerais e universais, cujos resultados podem subsidiar estudos comparativos com
os correspondestes dos demais Atlas estaduais, regionais, entre outros.
Composto de 196 (Cento e noventa e seis) perguntas, que consistem na descrição de
um dado objeto do mundo referencial ou imaginário, nomeado conforme dicionarizado, visa
ampliar o universo de possibilidades dos lexemas usados em um determinado ponto
lingüístico. Essa nomeação – respostas/ocorrências – proposta no QSL, serve tão somente
para guiar o pesquisador.
A 1ª. versão do QSL, datada de 1998, foi elaborada por um grupo de pesquisadores
(lingüistas) da região Sul e Sudeste – membros do Comitê responsável por coordenar as
pesquisas para a construção do Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB). O QSL, inicialmente,
seria aplicado nos pontos lingüísticos sugeridos por Nascentes (1939), no entanto, aos
poucos, e, mais freqüentemente, na última década, tem sido largamente usado por
pesquisadores de diferentes regiões do Brasil. E tais usos, entre outras finalidades,
contribuem para o debate sobre a validade, deste, nos diversos eventos, sobre a temática,
34
Do grego onómasis, 'designação nominal', é o estudo das expressões de que dispõe uma língua para traduzir
determinada noção, e parte do significado para estudar o significante. Significado e Significante são as duas
faces da unidade psíquica que é o signo lingüístico, como definido, pelo pai da Lingüística Moderna, Saussure
(1916).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
24
promovidos pelo referido Comitê, que reconhece e acolhe, como pertinentes, as reflexões
que se impõem, e os obriga a reelaborá-lo. Ou seja, são esses mesmos usos que permitem,
também, a formulação dos enunciados (das perguntas) que o compõem.
A 2ª. versão do QSL, datada de 2001, visava atender à solicitação de diversos
pesquisadores interessados em conhecer este instrumento e propiciar as aplicações, de
caráter experimental, previstas e realizadas em diferentes pontos do país. A partir do que se
revelou um instrumento produtivo para coletar dados da língua falada, mas isso não significa
que ele esteja isento de críticas, entre as quais a de ser composto somente de questões
fechadas.
Dois aspectos ser observados quando se trata da produtividade deste instrumento,
na perspectiva do método Geolingüístico. O primeiro diz respeito à relação entre os campos
semânticos que compõem o QSL, à região pesquisada e aos sujeitos. O segundo, à forma
como os sujeitos reagem aos tipos de enunciados que constituem o QSL. A título de
exemplo, podemos citar o Campo Semântico (CS) V (Atividades Agropastoris), que pode
não ser produtivo se aplicado a uma região em que tal atividade não exista ou nunca existiu,
ou, mesmo existindo, o(s) sujeito(s) selecionado(s) nunca teve/tiveram ou não tem/têm
nenhuma relação com elas.
Quanto à formulação dos enunciados (questões), não significa que as respostas dos
sujeitos devam coincidir com as propostas pelo QSL (ALiB, 2001). O que se busca é a
lexia/ocorrência usada e a constatação da presença ou não de ocorrências previamente
previstas no QSL. São esses fatores que podem atestar a produtividade de uso do
instrumento em questão. Por exemplo, se for constatado um número considerável de
questões não respondidas, por alguma razão, entre elas, por exemplo, o fato do sujeito
afirmar não conhecer determinado objeto ou fenômeno, ou, ainda, afirmar conhecer, mas
alegar não saber o nome, há que se revê-lo, reelaborá-lo, adequá-lo.
O que, no entanto, não impede a aplicação deste instrumento, desde que o
pesquisador saiba analisar a produtividade ou não, em um dado no contexto, dele, a partir
do objetivo da pesquisa que se propõe realizar. Do mesmo modo, não o impede, também,
de excluir ou incluir outros campos ou questões consideradas mais pertinentes à área
geográfica em estudo e aos sujeitos da pesquisa, aqueles que nela vivem.
Dependendo da natureza e do objetivo do estudo, por exemplo, se visa registrar o
maior número possível das palavras que constituem o léxico recorrente entre pescadores,
podem ser elaborados questionários específicos, da mesma forma com outras profissões,
eventos, entre outros. Portanto, a utilização, na íntegra, tal como proposto, do QSL (ALiB,
25
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
2001), não é uma “camisa de força”, que engessa o pesquisador. Ele deve ser usado, na
íntegra ou não, de acordo com os objetivos da pesquisa. Neste trabalho, foi usada na
íntegra a 2ª versão do QSL (2001), composto de 196 (Cento e noventa e seis) questões,
distribuídas em 14 (quatorze) Campos Semânticos, conforme Quadro 7.
Quadro 7 – Campos Semânticos do Questionário Semântico-Lexical – QSL (ALiB, 2001)
Nº do
CS
Nome do CS
Nº Abs. CS
I
Acidentes Geográficos
07
II
Fenômenos Atmosféricos
14
III
Astros e Tempo
16
IV
Flora
06
V
Atividades Agropastoris
23
VI
Fauna
26
VII
Corpo Humano
32
VIII
Convívio e Comportamento Social
06
IX
Ciclos da Vida
19
X
Religiões e Crenças
09
XI
Festas e Divertimentos
10
XII
Habitação
07
XIII
Alimentação e Cozinha
08
XIV
Vestiário
06
14
Total de questões
196
Fonte: ALiB (2001).
A formulação inicial das 196 questões que compõem o QSL objetiva assegurar, em
razoável grau de uniformidade, a intercomparabilidade dos dados produzidos, em um dado
local, acrescentando-se, em alguns casos, gravuras que visam auxiliar o desenvolvimento
do diálogo, no entanto, compete ao entrevistador, fazer as adequações necessárias, no
momento da entrevista.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
26
Em meio a essas teias, neste trabalho, como já mencionado, inicialmente foi
realizado um piloto, em caráter experimental, a fim de analisar, avaliar, a produtividade dos
dados, que resulta da relação entre a aplicação do QSL, o ponto lingüístico e a populaçãoamostra, ambos selecionados previamente. Para tanto, foi selecionado o município de
Marabá, um dos pontos lingüísticos, e nele aplicados estes instrumentos. O critério de
seleção desta localidade residiu no fato de Marabá ser considerada a cidade pólo mais
importante, pelas potencialidades sócio-econômicas, da Mesorregião Sudeste Paraense.
A experiência propiciada pelo piloto é significativa, primeiro pelo reconhecimento do
ponto lingüístico selecionado previamente; pela seleção da população amostra, e, na
medida em que, ao produzir dados de qualquer natureza, exige, principalmente, de jovens
pesquisadores, um mínimo de exercício, de preferência realizado in locu, por e com um
pesquisador mais experiente, nesta área, que, como em qualquer outra, sempre será um
labirinto para quem nela nunca adentrou.
A abordagem do sujeito, por exemplo, exigiu calma e paciência, requereu conversa
introdutória, e, só depois, bem depois, ao se perceber um momento mais “descontraído” e o
ambiente (com um mínimo de ruído externo, por conta da qualidade da gravação), propícios,
se convidava às pessoas a responder ao Questionário.
E foi em meio a tantas dúvidas, incertezas, anseios, medos, mas, ao mesmo tempo,
a curiosidade, a novidade e tantas outras expectativas, nos impulsionavam, nos motivavam,
a iniciar o trabalho de campo, em caráter experimental, a partir das contribuições da Profª.
Orientadora. Para a produção dos dados do piloto, foram necessários quatro (4) dias para
entrevistar dois (2) sujeitos. Inicialmente, dois (2), destes dias, foram, incansavelmente,
dedicados a encontrar os sujeitos com o perfil delineado, que permitisse diminuir, o mais
possível, intercomparações equivocadas dos dados produzidos.
Assim, se fez necessário ajustarmos a seleção dos sujeitos a um conjunto de dados
que precisava estar sob controle: naturalidade, com precisão do local de nascimento, grau
de escolaridade, profissão, domicílios e período de permanência em cada um deles, viagens
efetuadas e duração de cada uma delas, naturalidade e profissão dos pais e renda familiar.
Os ajustes, aparentemente, nos fazem pensar que são dificuldades insuperáveis. E
algumas delas parecem ser mesmo. Por exemplo, encontrar o sujeito que atendesse ao
perfil requerido pelo tipo de pesquisa que nos propomos a realizar não foi fácil. Houve,
nesses dias de muitas caminhadas, momentos de desânimo, pois quando acreditávamos
haver encontrado o sujeito, segundo o perfil traçado, faltava, a este, às vezes, apenas um
item do conjunto do perfil que precisava estar sob controle. A título de exemplo,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
27
encontramos um jovem, na faixa etária estabelecida, com Ensino Médio completo, nascido
em Marabá, sem nunca haver morado em outra localidade, no entanto, a profissão – guarda
rodoviário – o expunha ao contato com variados dialetos, de outras localidades, o que
poderia influenciar na fala dele.
Somente no terceiro (3º.) dia de trabalho de campo, conseguimos encontrar os
sujeitos com o perfil delineado. Assim, começamos a agendar as entrevistas, conforme
convinham a eles. No dia e hora marcados, sempre iniciávamos com uma breve conversa,
nos apresentando, com o objetivo de diminuir o grau de formalidade, típico deste tipo de
trabalho.
Essas conversas, preliminares, envolviam jogos, diversões, plantas, animais,
vestuário, tempo, alimentação e cozinha, corpo humano, entre outros, sem ainda o caráter
de entrevista. Informávamos da necessidade de gravar, e solicitávamos, deles, autorização,
sempre concedida, sem problema.
Cada sessão de entrevista durou, em média, quatro (4) horas. Houve necessidade,
por exemplo, de entrevistarmos um sujeito em dois dias, e, em vários momentos diferentes,
pois o mesmo, operado do coração, cansava, então era preciso parar e retornar em outros
momentos. Os outros dois (2) sujeitos, devidamente contactados, foram entrevistados, no
mês seguinte.
O mérito, desta etapa da pesquisa, sem dúvida é testar muito mais a nós mesmos,
nossa resistência física, nosso desânimo, por vezes assustador, que testar os instrumentos
de método Geolingüístico, para proceder a uma análise relativa à produtividade deles, ou
seja, a necessidade ou não de ajustes das questões do QSL, como reformulações e/ou
supressão de algumas delas, considerando, sobretudo, aspectos históricos, sócioeconômicos e culturais e assim elaborar a versão final a ser aplicada a todos os sujeitos,
bem como limites e possibilidades reais da pesquisa.
Os dados produzidos, nesta primeira etapa, foram inicialmente transcritos e
registrados, e, após avaliá-los, como processo metodológico adequado, tanto no que dizia
respeito ao perfil desejável dos sujeitos, quanto à produtividade do QSL, optamos por
considerar esses dados já produzidos não mais como piloto e sim com dados pertinentes à
analise, ou seja, constituidores do corpus. Assim, demos continuidade à pesquisa no
município de Palestina do Pará – o outro ponto lingüístico, com 4 sujeitos, com o mesmo
perfil dos sujeitos de Marabá. Perfazendo, então, dois pontos lingüísticos e um total de 8
(oito) sujeitos, 4 em cada localidade.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Em geral, os sujeitos que constituíram a população-amostra desta pesquisa
demonstraram boa vontade para responderem as questões propostas (196) do QSL. Ao
mesmo tempo, observamos, nos escolarizados, uma aparente intranqüilidade, talvez, pela
(in)certeza quanto ao conceito de “certo” ou “errado” sobre as respostas dadas, e por
saberem que uma das características do perfil do sujeito era haver concluído o Ensino
Médio, e, assim, deduziam que, de certa forma, estavam sendo avaliados por este nível de
escolaridade. Da mesma forma que a sociedade, de uma maneira geral, costuma avaliar as
pessoas pela maneira como se expressam oralmente. Fator este ainda mais evidente na
entrevista com um dos sujeitos, do sexo feminino e Ensino Médio completo, que recorria,
com o olhar, quase sempre, ao seu cônjuge, para confirmar ou não as respostas dadas, e
que, a pedido dela, permaneceu no local da entrevista para acompanhá-la.
Paradoxalmente, os sujeitos da faixa etária adulta, de 50 a 65 anos, analfabetos ou
com até a 4ª série do Ensino Fundamental, demonstraram menos “timidez” para responder
ao Questionário, talvez pelo mesmo fator, mas diametralmente inverso, ou seja, sabiam que
o nível de escolarização, no caso deles pouca escolaridade, era um dos elementos que
constituía o perfil desejável para que fossem entrevistados. As respostas, naturalmente,
eram justificadas com histórias de vida, especialmente as relacionadas ao labor, que, às
vezes, emocionava, neste caso, um dos sujeitos do sexo feminino.
Em todas as entrevistas foram gravadas tanto as falas dos sujeitos como as do
pesquisador, no entanto, só foram transcritas as respostas referentes às questões propostas
pelo QSL, de forma grafemática, conforme os sinais definidos por Marcuschi (1986), para
este tipo de trabalho. Este tipo de transcrição, convencionado para aspectos semânticolexicais, é uma tentativa de representar, o mais possível, a fala, que é diferente da
ortografia, forma padrão da escrita da língua, como, por exemplo, menino(forma ortográfica)
e mininu(forma grafemática).
Os dados selecionados para formação do corpus foram constituídos pelas lexias
(formas lingüísticas) que caracterizam, somente, variação semântica, ou seja, mudança de
significado do signo lingüístico. Aquelas que caracterizam somente variação de natureza
fonética, por não alterarem o significado, como, por exemplo, troca de fonemas, como /g/
pelo /k/, em gangorra/cangorra; de gênero, como /u/ por /a/, em gêmiu/gêmia; de número,
como /ø/ por /s/, em coscaø/coscas, entre outras, foram agrupadas e passaram a equivaler
a uma única ocorrência; como, também, para efeito de análise, foi considerada apenas a
primeira lexia dada como resposta, pelo sujeito, à mesma questão, as demais foram
excluídas, mesmo que registradas.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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2.5 ELABORAÇÃO DE TABELAS, CARTAS LEXICAIS E ANÁLISE DO CORPUS
A organização das ocorrências de natureza semântico-lexical, gravadas e transcritas,
em Tabelas, resultantes da aplicação do QSL, encontradas na fala dos moradores da
Microrregião Marabá, ao mesmo tempo em que favoreceu proceder a uma análise de base
quantitativa, por permitir identificar as lexias de freqüência igual ou superior a 75% e nãocoincidentes com as propostas pelo QSL (ALiB, 2001) – objeto de estudo desta pesquisa –
permitiu selecionar, dentre estas, aquelas passíveis de serem cartografadas e os elementos
para a análise qualitativa.
A cartografação é o registro, em Cartas Lingüísticas, no estudo em questão, do tipo
lexical, ou seja, de diferentes expressões, lexias, palavras, encontradas, na fala dos sujeitos,
empregadas para nomear um mesmo conceito. A cartografia é, portanto, uma maneira de
representar a distribuição diatópica, assinalando a presença/ausência de ocorrências
semântico-lexicais e de associar essas variáveis às diatrásticas, do tipo: gênero, sexo, faixa
etária e grau de escolaridade e o nível sócio-econômico dos sujeitos.
Inicialmente, foi elaborado um quadro para cada ponto lingüístico da Microrregião
Marabá, por questão e campo semântico e nele registradas graficamente todas as
ocorrências semântico-lexicais, por sujeito; bem como foi usado o símbolo NR (não
respondeu) para indicar ausência de respostas), a fim de, além de constituir um acervo
lexical, contrastar sexo, grau de escolaridade, faixa etária e pontos lingüísticos, e também
permitir uma visualização de todas as ocorrências encontradas, por questão e campo
semântico, o que possibilitou compará-las às lexias propostas pelo QSL, para identificar as
não-coincidentes, entre ambos, tomando-as por base para a análise.
Os resultados obtidos possibilitam nos aproximar, quem sabe, o mais possível, do
estabelecimento de formas semânticas, recorrentes na região pesquisada, ou seja,
definidoras da(s) norma(s), segundo Coseriu (1982), e, portanto, caracterizadora(s) da
comunidade lingüística em questão. Material, este, objeto de análise do Capítulo III, bem
como a relação desta com práticas educativas que se processam nesse espaço amazônico,
mais especificamente o escolar.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
3.1 FACES SECRETAS DAS PALAVRAS
Penetra surdamente no reino das palavras.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra...
Trouxeste a chave?[...]
(Carlos Drummond de Andrade. Procura da Poesia
Poesia.)
O poeta da linguagem, o poeta da palavra, como Drummond era
homenageado, como poucos soube ser um ‘adversário’ à altura do poder da
palavra. Não se furtava de ‘lutar’ com elas, mesmo sabendo ser a luta mais vã.
A exemplo de Drummond, no poema epígrafe, este Capítulo III é um convite
a “penetrar no reino das palavras”, das ocorrências semântico-lexicais, encontradas
na Microrregião Marabá. Cujas trilhas, a exemplo do labirinto da bela princesa
Ariadne, foram adentradas, como descritas no Capítulo II. Imersas nas enchentes
que a banham, literalmente, imprimindo em cada uma as faces de seus usuários,
como bem afirma Cunha (2004):
Com a palavra criaram-se e destruíram-se mundos, selaram-se
destinos, elaboraram-se ideologias, proferiram-se maldições e
blasfêmias, expressaram-se ódios, mas também com ela – e só com
ela –, em tantos e tão desvairados povos, falou-se de amor,
consolaram-se aflições e levaram-se preces ao seu Deus. Ela tem
sido, através do tempo, a mensageira do bem e do mal, da alegria
e da dor.
Para penetrar ‘surdamente no reino’ dessas ocorrências semântico-lexicais,
nesta Microrregião, foi preciso boiar sempre, como há mais ou menos 1 (um) ano,
ao sobreviver a uma das muitas “enchentes” neste Mestrado – o Exame de
Qualificação – diante daquela douta Banca Examinadora, quando minha mente
havia sido tomada por um dilúvio.
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De um lado, era preciso responder a razão que me levava a me desafiar
nesta aventura, neste empreendimento, enfim, nesta pesquisa. Por outro lado, já
adentrando aquela estreita faixa de terra, entre os rios Tocantins e Itacaiúnas, não
havia mais como voltar, o jeito era “pisar na várzea”, “na lama” e “no sangue” dos
náufragos, era preciso “mergulhar” e “boiar”. E assim o foi... durante mais 1 (um)
ano.
Quanto à primeira questão, reitero o afirmado no início deste trabalho, que
dois temas são de meu interesse estudar: língua e educação, pois têm pautado
minha trajetória acadêmica, mais especificamente a educação formal. Todos os
dias, a sala de aula, os alunos, me desafiam, e com eles a complexidade do
cotidiano escolar, em que ressoam outros cotidianos – o da família, o da igreja, o do
grupo, o da cidade, relacionados a diferentes culturas, múltiplas linguagens,
imagens e discursos plurais, redesenha-se, assim, um cenário em que língua e
cultura, saberes indissociáveis que são, já implicam multiplicidades e desafios
permanentes. Enquanto isso, a escola tende a hierarquizá-los e a fragmentá-los,
artificialmente, marcada que é pela ordem dos livros didáticos sob a hegemonia da
escrita.
Nessa maré multicultural, as palavras rompem o silêncio e invadem os limites
do espaço e do tempo. Um dos nossos desafios, como educadores, é trabalhar,
segundo Almeida: [...] nesse universo de pessoas com suas confusas histórias
de oralidade, de alfabetização, de escrita e também suas novas histórias de
habitantes da atual sociedade de imagem e som (2001, p. 21). Então, o que
me instigou, a me desafiar, deriva da docência – ser professor.
Quanto à segunda questão, o adentrar, este é necessário para professor ser.
E ser, nesse universo conceitual, pressupõe uma atitude de mediador do
conhecimento,
produzido
socialmente
e
significado
culturalmente,
pela
mobilização dos “fios” que o tecem e dos “fios” que nós, alunos e professores,
trazemos de nossas próprias histórias. Tecem-se, assim, novos conhecimentos, ou
novos olhares sobre os mesmos.
Mas isso requer se apropriar de um conjunto de saberes lingüísticos
necessários a um ensino de língua ‘materna’, mais honesto, em meio à diversidade
lingüístico-cultural, sabendo-se que o acervo lingüístico de uma dada comunidade
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
espelha a própria história da mobilidade sócio-espacial do homem. Isso implica
compreender as redes de saberes e poderes e os discursos sobre estes. Portanto,
ensinar – ser professor – exige construir, produzir conhecimento.
A constituição deste capítulo visa, portanto, situar a variação lingüística nos
fatos da linguagem, resguardados os limites que nossa compreensão alcança, com
tudo o que estes fatos comportam, desde aqueles relativos à sociedade, história,
língua, identidade, educação, entre outros, delineados no Capítulo I. À luz dos
aportes
teórico-metodológicos
da
dialetologia,
da
geolingüística,
da
sociolingüística, e da norma lingüística, esta reflexão se insere na correlação, mais
especificamente, da variação semântico-lexical com outras abordagens, em
especial, educação e cultura.
Para dar conta deste estudo, delineia-se, aqui, um breve panorama do
fenômeno
da
variação
lingüística;
seguido
da
descrição,
tabulação
e
cartografação; e interpretação e análise quantiqualitativa das ocorrências
semântico-lexicais encontradas na fala dos moradores da Microrregião Marabá.
Entre estas, priorizamos aquelas cuja freqüência foi igual ou superior a 75% e nãocoincidentes com as propostas pelo QSL (ALiB, 2001), a fim de estabelecer uma
comparação que permitisse configurar as lexias encontradas na região pesquisada,
contextualizada no Capítulo II.
E, a partir desses dados, identificar ou não o estabelecimento de uma norma
semântica, caracterizadora e definidora do falar local, bem como chamar a
atenção para a necessidade da escola incorporar o estudo das variações
lingüísticas como parte de um saber necessário à formação de um sujeito reflexivo,
capaz de aprender a respeitar as diferenças e assim ajudar a construir uma
sociedade mais solidária, justa e democrática e, por fim, a escola deve entender
que saber uma língua (saber a gramática de uma língua) não tem nada a ver com
a ortografia desta. São dois saberes diferentes. Um é natural, o outro é artificial. Por
isso, são necessárias pesquisas que descrevam então como são as línguas, como
funcionam e os usos que delas fazem seus falantes.
A pesquisa em foco é um empreendimento científico que se insere nessa
descrição, como premissa básica para a compreensão do comportamento das
34
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
palavras e isso está relacionado com mentalidades, concepções e crenças
dominantes no período e com as estruturas, formas sociais, em vigor na época.
Que saberes lingüísticos circulam este universo escolar e nele a questão do
ensino na Microrregião Marabá, localizada em um espaço que denominamos
amazônida, cujo foco é o eterno embate entre ‘um ideal lingüístico’ e ‘vários usos
reais lingüísticos ’ Ou seja
– a língua – ‘carteira de identidade lingüística de
pertença a uma comunidade; onde
a escola é o cenário, e, nela, técnicos,
professores, alunos e pais são apenas coadjuvantes e, aos legisladores, sempre
protagonistas, cabe ‘decidir’ que variação será eleita padrão, norma de maior
prestígio social, de status de língua ‘boa’, ‘bonita’ e ‘certa’.
Por isso, não é de se estranhar os inúmeros jornais e revistas que dedicam
tantas colunas aos palpiteiros, travestidos de ‘conselheiros gramaticais de plantão’,
sobre a ‘boa’ e ‘certa’ língua, no entanto, recheados de equívocos sem base
científica. O que encontraríamos nesses escritos não seria muito diferente do
espanto dos portugueses frente à língua dos gentios, quando “chegaram” ao Brasil,
que, para eles, carecia de três letras: o F, L e R, sem elas, segundo os colonizadores,
não
teriam
Fé,
Lei
e
Rei,
e,
desta
maneira,
viveriam
sem
justiça
e
desordenadamente.
Nenhuma língua, enquanto tiver falantes, pode resistir às mudanças que
ocorrem em suas estruturas com o tempo. O que cria a ilusão de que as línguas não
mudam no tempo e no espaço é o fato de, na imensidão territorial do Brasil, de
norte a sul, ‘compartilharmos’, apenas nos livros didáticos e dicionários, uma
morfologia semelhante e um vocabulário (léxico) comum, embora saibamos que
essas mesmas palavras dicionarizadas nem sempre tenham o mesmo significado em
cada uma de nossas regiões, estados, cidades etc.
Isso porque para (re)conhecer de fato um enunciado é preciso ir além da
morfologia e do léxico, é preciso, a exemplo de Drummond, (...)Penetrar
surdamente no reino das palavras(...)Elas têm mil faces secretas sob a face neutra
(...). É preciso se ‘embrenhar’ no campo da semântica, bem como das intenções
que comandam esse ou aquele uso. É admitir, como se admite, a diferença entre
as culturas. Se reconhecemos que toda cultura está estreitamente relacionada com
a ecologia (solo, clima, topografia, hidrografia etc.) e também com os fatores
35
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
etnográficos (a composição étnica da população), por que somente com a língua
seria diferente Ou seja, se há diferentes culturas, por que a língua seria a
mesma Assim
a
variação,
independente
do
ensino
de
língua,
aflora
reiteradamente.
Essas reflexões, por sua vez, nos permitem pontuar alguns elementos,
evidenciados por esta análise e necessários, mas ausentes dos debates sobre
políticas públicas, em especial aqueles relativos às práticas educativas. Quase
sempre planejadores, gestores educacionais, docentes, entre outros, e nas
propostas pedagógicas presentes na região amazônica, nas mais diferentes
administrativas, inclusive na Microrregião Marabá. Rever conceitos e concepções,
principalmente aqueles que dizem à língua, deve ser entendido como uma forma
de interação e interlocução diversificada, possuidora de uma pluralidade de
normas de uso, porém dotada de uma norma sistêmica.
Com esta apresentação, nos propomos a oferecer uma explicação teóricometodológica que não ignora a relação entre variáveis lingüísticas e variáveis
sociais, e atestar um paradoxo, ou seja, embora se diga que aqui “todo mundo fala
português”, existem “portugueses” que valem mais que outros. Em outras palavras,
onde existe variação existe avaliação e esta é social.
Isso significa que não podemos esquecer que, na origem das discussões
sobre o nome e a denominação, se encontra toda uma reflexão sobre a linguagem
e o sentido, o significado, em razão do plano conceitual (o outro lado do signo
lingüístico). Por exemplo, ainda se questiona se conceitos seriam ou não
independentes de contexto ou situação e se seriam realmente universais.
Diferentemente, os significados sempre são qualificados como dependentes e
compreendidos como não universais. Ainda que alguns autores postulem uma
semântica de valores universais de significação, atualmente, conceitos passaram a
ser percebidos em frames, que interferem sobre os significados, oferecendo-lhes
domínios ou escopos de referência.
Isso ocorre porque a percepção cognitiva nos oferece a possibilidade de
observar outras condições, por exemplo, que interferem sobre diferentes definições
para um mesmo termo e também diferentes e multiplicadas apresentações de um
termo. À luz desse princípio, se trata de uma concepção de semântica fundada
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
36
sobre uma percepção de padrões cognitivos culturalmente modelados, de tal
forma que as lexias, os enunciados e toda a linguagem, podem ser vistos em meio à
vigência de determinados “padrões de conhecimento” que seriam conformados
pelas diferentes “culturas”. Essas distinções dariam margem a determinados
padrões de representação e de expressão de um conhecimento sobre um
determinado objeto (a nomeação).
Essa perspectiva da significação, ou seja, a dimensão cultural das lexias e
enunciados, é, ainda, um estudo em desenvolvimento, entretanto, qualquer
investigação que envolva aspectos conceituais será melhor compreendida à luz
dessa dimensão.
Então, quando ‘apreendemos’ uma língua, é necessário ‘aprendermos’
também a utilizá-la a partir de um contexto de uso. Compreender a gramática35 de
uma língua é operar com o funcionamento das regras de formação e de
combinação dos elementos dessa língua, bem como novos signos introduzidos
pelos sujeitos, nas comunidades em que estão inseridos, são repostas a mudanças
culturais e tecnológicas. E, em toda comunidade de fala, são freqüentes as formas
lingüísticas em variação, que são, portanto, diversas maneiras de se dizer a mesma
coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade36.
Ao trabalhar com o conceito de variação lingüística, pretendemos demonstrar
que a língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de
maneira uniforme em todo o território brasileiro, conforme bem assinalou Cunha:
Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e,
ainda num só local, apresenta um sem-número de diferenciações.
(...) Mas essas variedades de ordem geográfica, de ordem social e
até individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da
forma que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não
prejudicam a unidade superior da língua, nem a consciência que
têm os que a falam diversamente de se servirem de um mesmo
instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção (1984,
p. 23).
35
Gramática, aqui, entendida como um conjunto de regras (estratégias) que o falante emprega com a finalidade de produzir
comunicação coerente, em uma dada comunidade lingüística, independente de ser escolarizado ou não. Diferente de norma,
que focaliza a língua como um modelo ou padrão ideal de comportamento compulsório em qualquer situação de fala ou
escrita, cujo critério definidor é social e não lingüístico.
36
‘Valor de verdade’ significa que a variante selecionada não altera o significado e/ou gera ambigüidade, naquele dado
contexto. Não significa, nesta acepção, certa ou errada, falsa ou verdadeira.
37
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
E mais, à luz do(s) paradigma(s) do multiculturalismo e do contexto
educacional brasileiro, essa diversidade lingüística é um dos aspectos que nos
singulariza, como pessoas, na medida em que compõe nossa identidade, ou seja,
a maneira como nos relacionamos no e com o mundo neste espaço amazônico.
A variação de um dado sistema lingüístico se dá em função do sujeitos do
discurso e de diversos fatores, como
região,
faixa
etária,
classe
social
e
grau de
escolarização, são responsáveis pela variação da língua. Não há hierarquia entre
esses variados usos, assim como não há uso lingüisticamente melhor que outro. Em
uma mesma comunidade lingüística, portanto, coexistem usos diferentes, não
existindo um padrão de linguagem que possa ser considerado superior.
O que determina a escolha de tal ou tal variedade é a situação concreta de
comunicação. A possibilidade de variação da língua expressa a variedade cultural
existente em qualquer grupo. Basta observar, por exemplo, no Brasil, que,
dependendo do tipo de colonização, a que uma determinada região foi exposta,
os reflexos desta estarão presentes de maneira indiscutível.
A variação lingüística manifesta-se, portanto, em todos os níveis de
funcionamento da língua. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo,
porque os níveis não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem,
sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário (léxico). Vejamos. No nível
fonético-fonológico, por exemplo, o /l/ final de sílaba é pronunciado como
consoante pelos gaúchos, enquanto em quase todo o restante do Brasil é
vocalizado, ou seja, pronunciado como um /u/; o /r/ retroflexo; o /ʃ/ africado de
paraenses e cariocas.
No nível morfossintático, muitas vezes, por analogia, por exemplo, algumas
pessoas conjugam verbos irregulares como se fossem regulares: "cabeu", em vez de
"caibo", "ansio", em vez de "anseio"; certos segmentos sociais não realizam a
concordância entre sujeito e verbo, e isto ocorre com mais freqüência se o sujeito
está posposto ao verbo. Há ainda variedade em termos de regência: "eu lhe vi", em
vez de "eu o vi".
No nível semântico-lexical, algumas palavras são empregadas em um sentido
específico de acordo com a localidade. Exemplos: em Portugal diz-se "miúdo", ao
passo que, no Brasil, se usa " moleque", "garoto", "menino", "guri"; as
gírias
são,
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
tipicamente, um processo de variação vocabular. Na Microrregião Marabá, por
exemplo, as lexias “serraçãu”, “nevi”, “neblina”, equivalem a “nevoeiro“, tema
proposto pelo (QSL, ALiB, 2001). Assim, existem dois tipos de variedades lingüísticas:
os
dialetos
(variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua, ou
seja, os emissores); os registros (variedades que ocorrem em função do uso que se faz
da língua, as quais dependem do receptor, da mensagem e da situação).
registro
A variação dialetal pode ser dividida em: regional,
social, etária
divide-se em:
e
grau de formalismo, modalidade de uso
sintonia.
e
profissional.
A variação de
Cada pessoa traz em si
uma série de características que traduzem, no seu modo de se expressar: a região
onde nasceu, o meio social em que foi criada e/ou em que vive, a profissão que
exerce, a sua faixa etária, o seu nível de escolaridade.
Os exemplos, a seguir, ilustram esses diferentes tipos de variação:
a região onde nasceu (variação
regional):
aipim, mandioca, macaxeira (para
designar a mesma raiz); tu e você (alternância do pronome de tratamento e
da forma verbal que o acompanha); vogais pretônicas abertas em algumas
regiões do Nordeste; o /ʃ/ africado do carioca e o /s/ sibilado mineiro;
o meio social em que foi criada e/ou em que vive; o nível de escolaridade
(no caso brasileiro, essas variações estão normalmente inter-relacionadas
(variação
social):
substituição do /l/ por /r/ (crube, pranta, prástico); eliminação
do /d/ no gerúndio (correndo/correno) e troca do /a/ pelo /o/ (saltar do
ônibus/soltar do ônibus);
a profissão que exerce (variação
infarto/fazer
um
infarto)
e
profissional):
jargão
linguagem médica (ter um
policial
(elemento/pessoa;
viatura/camburão);
a faixa etária (variação
etária):
irado, sinistro (termos usados pelos jovens para
elogiar, com conotação positiva, e, pelos mais velhos, com conotação
negativa).
Os estudos e pesquisas empreendidos concluem que há dialetos de
dimensão territorial, social/profissional, de faixa etária, de sexo, histórica e outras,
Nem todos os autores apresentam a mesma divisão para estas variedades,
sobretudo porque elas se superpõem, e seus limites não são bem definidos.
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Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
O segundo tipo de variedade que as línguas podem apresentar diz respeito
ao uso que se faz delas, em função da situação em que o usuário e o interlocutor
estão envolvidos.
Para se fazer entender, qualquer pessoa precisa estar em sintonia com o seu
interlocutor e isto é facilmente observável na maneira como nos dirigimos, por
exemplo, a uma criança, a um colega de trabalho, a uma autoridade. Escolhemos
palavras, modos de dizer, para cada uma dessas situações. Tentar adaptar a
própria linguagem à do interlocutor já é realizar um ato de interlocução. Pode-se
dizer que o nível de linguagem deve se adaptar à situação. Quanto às variações
de registro, estas podem ser de três tipos:
grau de formalismo, modalidade
e
sintonia.
Cada
tipo não aparece isolado, eles se correlacionam.
Assim, temos, do francês, a lexia colibri – resposta proposta pelo ALiB –
substantivo masculino e beija-flor [beijar + flor] – lexia encontrada na Microrregião
Marabá, cuja freqüência alcançou 100%, ou seja, foi a resposta de todos os sujeitos
e não coincidente com aquela. Também um substantivo masculino, designação
comum às aves apodiformes, troquilídeas, de vôo muito veloz, e que se alimentam
de néctar das flores e de insetos minúsculos, chupa-flor, chupa-mel, colibri, cuitelo
(muito usado em Portugal), guainumbi, guanambi, guanumbi, guinumbi, pica-flor.
Floreio e/ou golpe do jogo da capoeira, no qual o jogador, com o apoio de uma
das mãos no chão, projeta o tronco sobre a cabeça e, simultaneamente,
impulsiona uma das pernas à frente, na direção do adversário.
Nessa mesma via, temos onda de mar – resposta proposta pelo ALiB,
e
banzeiro – lexia encontrada na Microrregião Marabá, cuja freqüência também
alcançou 100%, é um adjetivo, diz-se do mar que se agita vagarosamente e em
pequenas ondas. Entre outras definições, nos interessa aquela que equivale à triste,
melancólico: ex. “cantando com desentôo na voz apagada e rouca as modinhas
banzeiras da senzala”, na obra de Francisco Ribeiro Sampaio, denominada
Renembrancas.
Mais
especificamente,
na
Amazônia,
sucessão
de
ondas
provocadas pela passagem da pororoca ou de uma embarcação a vapor, no rio.
Nostalgia mortal que atacava os negros trazidos escravizados da África. Triste,
abatido; pensativo. Surpreendido, pasmado, sem jeito, sem graça, encafifado.
Exemplos como estes nos remetem a, pelo menos, duas abordagens dos fatos
lingüísticos (estes, objeto da ciência da linguagem – a lingüística), não,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
40
necessariamente, excludentes: a diacrônica e a sincrônica. A primeira estuda as
variações/mudanças pelas quais os elementos de um dado sistema lingüístico
passam ao longo do tempo (análise histórico–comparativa). A segunda descreve e
analisa a posição e as funções dos elementos que compõem um dado sistema
lingüístico, em um determinado tempo e espaço (análise contrastiva). A diacronia
prioriza registrar a história interna da língua, como sistema, estrutura e a sincronia
prioriza descrever e analisar os usos que os falantes fazem da língua em um dado
espaço e momento da história e correlacioná-los a fatores externos à língua como
sistema.
Por estarem situados tanto geográfica como historicamente, posto que são
usos de sujeitos reais, homens e mulheres e não de um suposto falante-ouvinte
“ideal”, preconizado por Chomsky (1965), os dados constituidores deste trabalho
não prescindem dessas duas abordagens. No entanto, é sempre bom lembrar o
mestre de Genebra, Saussure (2000), para quem os estudos sincrônicos devem
prevalecer sobre os diacrônicos.
Portanto, sincrônica/diacronicamente, ao registrá-los e descrevê-los, se
analisa e se historicia, não necessariamente nesta ordem, ao mesmo tempo. Assim,
esse ‘falante-ouvinte ideal’, no entanto, não parece ser tão “falante-ouvinte”, nem
tampouco “ideal”, posto que teria que pertencer a uma comunidade lingüística
homogênea, e, todo falante, escolarizado ou não, percebe que a língua falada na
comunidade lingüística na qual está inserido, nas diversas situações de interlocução
que participa, é, a um só tempo, heterogênea e diversificada (TARALLO, 1994).
Nessa perspectiva, as considerações, a seguir, versam sobre limites,
possibilidades e domínios do QSL, como instrumento de produção de dados,
expressos nas Tabelas. Algumas reflexões antecedem à análise das Tabelas,
ensejadas por aspectos característicos da própria estrutura do QSL, cuja
organização, o entrevistador deve ter o melhor domínio possível, ou seja, exercitar
a habilidade de alterá-lo, adaptá-lo e reformulá-lo, conforme os objetivos da
pesquisa; os sujeitos e a região pesquisada. Em outras palavras, o QSL deve ser
sempre considerado como um guia, um roteiro. Uma reflexão diz respeito aos
anunciados – todos na forma interrogativa – dessa forma, aparentemente,
obedece a um único padrão sintático, o que induz à crença que este funciona em
41
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
todas as regiões do país. No entanto, qualquer falante/ouvinte brasileiro, sem muito
esforço, distingue, como diferentes, enunciados do tipo:
1) Como se chama, aqui, para um rio pequeno?
2) Como chamam, aqui, um rio pequeno?
3) Como chamam, aqui, para um rio pequeno?
4) Como se diz quando a fêmea de um animal perde a cria?
5) Como chamam isso? (Mostrar um objeto)
Os enunciados de 1 a 5 exemplificam diferentes arranjos sintáticos que os
falantes utilizam para perguntar o nome de um objeto, fato etc. As evidentes
diferenças co-existem em uma mesma região ou comunidade lingüística, bem
como em diferentes regiões e comunidades lingüísticas. Paralelamente a estrutura
dos enunciados, outra questão imperiosa diz respeito à abordagem dos sujeitos,
pelo pesquisador, durante a entrevista. Isso significa que abordagem destes está
diretamente relacionada à seleção do enunciado, cuja organização sintática
pode ou não ser partilhada por ambos; aspecto este facilitador ou não da
instauração do processo interlocutivo entre os sujeitos. Isso nos ajuda a
compreender e, quem sabe, explicar a ausência de respostas/ocorrências
constatadas na Microrregião Marabá (Tabela 1) para algumas questões propostas
pelo QSL.
Como tudo muda, estudos e pesquisas empreendidos nas três últimas
décadas, veementemente, insistem na relação entre língua e sociedade e na
possibilidade, virtual e real, de sistematizar, ao descrever a variação existente e
própria das línguas faladas. A heterogeneidade não necessariamente exclui a
noção de sistema, ao contrário, sistematicidade e heterogeneidade equacionamse entre si.
Os dados produzidos foram agrupados em Tabelas, Gráficos e Cartas
Lexicais. Pode parecer que, ao transformá-los em percentuais, pretendamos que,
por si só, expliquem o fenômeno da variação. No entanto, se faz necessário que os
mesmos sejam analisados e devidamente relativizados, pois indicam uma, dentre
outras,
tendência
geral
que
mascara,
por
assim
dizer,
uma
série
de
condicionamentos, que se entrecruzam e geram diferentes combinações de
significantes/significados, quanto ao sentido/conceito que encharcam as lexias.
Como bem assinala Perini (2004), cada língua é um retrato do mundo, tomado de
42
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
um ponto de vista diferente, e que revela algo não tanto sobre o próprio mundo,
mas sobre a mente do ser humano. Nessa perspectiva, para proceder a uma
análise inicial, agrupamos os dados em Tabelas, numeradas de 1 (um) a (dois), cujos
objetivos seguem.
Tabela 1 – demonstrar a quantidade de questão respondida versus não
respondida, por Campo Semântico.
Tabela 2 – demonstrar, a título de exemplo, o registro de todas as
ocorrências por questão e Campo Semântico, neste caso, Acidentes Geográficos,
encontradas na fala dos sujeitos, por ponto lingüístico.
Os dados expostos nas Tabelas de 1 e 2, em questão, resultam da aplicação
do QSL (composto de 196 questões, distribuídos em 14 Campos Semânticos), a 8
(oito) sujeitos, que constituíram a população-amostra da região pesquisada, 4
(quatro) destes são de Marabá e 4 (quatro) de Palestina do Pará, municípios que
funcionaram como pontos lingüísticos, representativos da Microrregião Marabá. Os
dados da Tabela 1 estão organizados da seguinte maneira: na coluna 1, os
números romanos identificam os Campos Semânticos; na 2, o nome dos campos
semânticos: na 3, a quantidade de questões contidas em cada campo; na 4, a
quantidade de questões respondidas e na 5, a quantidade de questões não
respondidas por ordem crescente de ausência em cada campo.
Tabela 1 – Campos Semânticos: questão respondida X não respondida
Campo Semântico
N°
NOME
Quantidade Questão
CS
Respondida
Não Respondida
IV
Flora
06
05
01
VIII
Convívio e Comportamento Social
06
05
01
XIV
Vestiário
06
05
01
I
Acidentes Geográficos
07
05
02
II
Fenômenos Atmosféricos
13
11
02
IX
Ciclos da Vida
19
17
02
XIII
Alimentação e Cozinha
08
06
02
VII
Corpo Humano
32
29
03
X
Religiões e Crenças
09
06
03
XII
Habitação
06
03
03
III
Astros e Tempo
16
12
04
VI
Fauna
26
21
05
XI
Festas e Divertimentos
19
14
05
43
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
V
Atividades Agropastoris
14
Total
23
14
09
196
153
43
Fonte: pesquisa de campo 2006/2007.
A Tabela 1 demonstra a quantidade de questão respondida versus não
respondida, por Campo Semântico. Os dados, nela expostos, permitem avaliar o
índice de produtividade do uso do QSL, como instrumento de produção de dados,
nesta pesquisa, na Microrregião Marabá e com os sujeitos selecionados.
A leitura da Tabela 1 revela que:
das 196 questões, apenas 43 (25%) não foram respondidas, por, pelo
menos, um sujeito, e 153, equivalente a 75%, o foram.
esta quantidade de questões respondidas atestou a produtividade deste
instrumento, neste tipo de pesquisa.
em todos os 14 CS, houve, pelo menos, uma questão não respondida,
ausências assim distribuídas:
a) nos CS, IV, VIII e XIV, uma em cada um;
b) nos CS I, II, IX e XIII, duas em cada um;
c) nos CS VII, X e XII, três em cada um;
d) no CS III, quatro;
e) nos CS VI e XI, cinco em cada um; e
f) no CS V, nove.
Constatamos, assim, que no CS V – Atividades Agropastoris – está
concentrado o maior número de questões sem respostas. Há inúmeras razões que
justificam a ausência de resposta, em cada um dos CS, mencionadas
anteriormente. No entanto, evidenciamos, aqui, o CS V, considerando que este
concentra a maior quantidade de questões não respondidas. Como base na
análise da entrevista gravada, são os sujeitos jovens e escolarizados os responsáveis
pela maioria dessas ausências, aliado ao fato de ambos, terem residido, até a data
da entrevista, na zona urbana, ou seja, se pressupõe pouco ou nenhum contato
destes sujeitos com atividades agropastoris, tampouco convivência com questões e
objetos relacionadas ao meio rural.
44
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Essas constatações são indicadores da necessidade outras pesquisas para
que tais dados, de fato, se confirmem ou não, e, nelas, sujeitos da faixa etária
adulta, preferencialmente, devam ser selecionados entre os residentes na zona rural
e os mais jovens na zona urbana, das localidades que funcionarem como pontos
lingüísticos.
A elaboração de Tabelas, como a 2, que segue, tem a função de
exemplificar, como podem ser tabuladas as ocorrências encontradas, em um dado
Campo Semântico, e como estas podem ser registradas em Cartas Lexicais. Para
tanto, selecionamos, como exemplo, aquelas do Campo Semântico I – Acidentes
Geográficos,
que,
após
transcritas,
grafematicamente,
foram
organizadas,
tabuladas e cartografadas, somente, a título de exemplo, posto que não é o objeto
de estudo desta pesquisa. Apresentamos, a seguir, a Tabela 2, seguida das Cartas
Lexicais, numeradas de 1 a 7.
Tabela 2 – Campo Semântico I: acidentes geográficos
45
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Quantidade
Questão
Lexia QSL (ALiB, 2001)
(QSL)
de
Ocorrências
Lexias
(questão)
06
01
04
onda de mar
córrego
redemoinho (de água)
02
03
05
07
foz
onda de rio
terra umedecida pela
chuva
%
onda
06
75
banzeru du má
01
12,5
NFR
01
12,5
grota
03
37,5
corgu
02
25
lagu
02
25
riu pequenu
01
12,5
rededuinhu/redemuinhu/ridimunh
u/
05
62,5
04
02
25
01
12,5
ponti
05
62,5
pinguela
02
25
bausa di bananera
01
12,5
incontru das água
02
25
incontru dus riu
02
25
cabiçera
02
25
boca du ri
01
12,5
NFR
01
12,5
banzeru
06
75
banzeru du riu
01
12,5
maré
01
12,5
molhada
04
50
terra úmida
01
12,5
rispingada
01
12,5
úmida
01
12,5
umidade
01
12,5
ridemoinhu/ridimunhi d’água
funiu
reboju
pinguela
Nº
Abs.
03
Fonte: pesquisa de campo 2006/2007.
02
Ponto
Lingüístico
Ocorrências de Maior Freqüência
03
04
03
05
M
P. P.
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
100%Semântico
TOTAL
24 dados da Tabela
- 2, relativa ao Campo
Conforme demonstram
os
I
46
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
freqüência que variam de 12,5% a 62,5%, entre estas estão banzeru du má (12,5%),
relativa à questão 6; grota (37,5%), corgu (25%), lagu (25%) e riu pequenu (12,5),
relativas à questão 01; rededuinhu/redemuinhu/ridimunhu/ridemoinhu/ridimunhi
d’água (62,5%), funiu (25%) e reboju ( 12,5%) relativas à questão 04; ponti (62,5%),
pinguela (25%) e bausa di bananera (12,5%), relativas à questão 02; incontru
das’água (25%), incontru dus riu (25%), cabiçera (25%), boca du ri (12,5%), relativas à
questão 03; banzeru du riu (12,5%) e maré, (12,5%), relativas à questão 5; molhada
(50%), terra úmida (12,5%), rispingada (12,5%), úmida (12,5%) e umidade (12,5%),
relativas à questão 07. Esses dados revelam que das 7 (sete) questões, 2 (duas)
lexias,
do
CS
I,
coincidiram
com
as
propostas
pelo
QSL,
são
elas:
rededuinhu/redemuinhu/ridimunhu/ridemoinhu/ridimunhi d’água e pinguela. Ainda,
assim, a primeira obteve 62,5% de freqüência, pois ao lado co-ocorreram outras
variantes: funiu, com 25% e reboju, com 12,5% de freqüência. Quanto à segunda,
esta equivale a 25% de freqüência, co-ocorreram com ela, ponti (62,5%) e bausa di
bananera (12,5%). Os dados também expressam que, quando há várias lexias como
resposta a uma mesma questão, ou seja, quando as lexias co-ocorrem o percentual
de freqüência de cada uma delas diminui. E quanto menos ocorrências registradas,
como resposta a uma mesma questão, o percentual de freqüência aumenta.
Constatamos, no CS I, que mesmo as lexias de maior freqüência onda (75%) coocorre com banzeru du má (12,5%) e banzeru (75%) co-ocorre com banzeru du riu
(12,5%) e maré (12,5%). Isso significa que, para 7 (sete) questões, houve 24 (vinte e
quatro) ocorrências, ou seja, mais ou menos 03 (três) ocorrências por questão. O
mesmo objeto ou fenômeno recebeu + ou – três denominações diferentes, ou, dito
de outra forma, do universo de 07(sete) questões dirigidas a 08 (oito) sujeitos, 06
(seis) deles, em 02 questões, somente, denominaram um mesmo objeto ou
fenômeno com um mesmo nome. A partir desta Tabela foram selecionadas as
Cartas Lexicais, numeradas de 01 a 07, pela ordem decrescente de freqüência das
lexias no corpus, não seguem, portanto, o número de ordem do QSL. Nelas estão
registradas todas as ocorrências, relativas ao CS I, por questão, considerando 8
(oito) sujeitos e 2 (dois) pontos lingüísticos. As cartas apresentam, no centro da
página, a numeração e o nome dela, em seguida, abaixo do nome da carta, a(s)
lexias propostas pelo QSL (ALiB, 2001) e, dentro da Carta Lexical, está(ao)
registrada(s) a(s) todas as ocorrências encontradas nos pontos lingüísticos,
referentes às questões do CS I, pela freqüência. No lado esquerdo, no canto inferior,
47
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
estão os códigos dos sujeitos, que indicam o gênero, a faixa etária e o grau de
escolaridade, estes mesmos sujeitos estão ao lado das ocorrências nas Cartas.
Fábio
Rogério
Rodrigues
Gomes
48
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Quantidade
Campo
Semântico
I–Acidentes
Geográficos
de questão
(CS)
Nº da
Questão
Lexia do QSL (ALiB,
2001)
Nº de
Ocorrência = ou superior a 75% de freqüência no
corpus, não coincidentes com as do QSL (ALiB)
Sujeitos
PL
Ocorrências
Lexias
Nº Abs.
%
05
onda de rio
02
banzeru/banzeru du riu
07
75,0
X
xx
-x
xx
xx
06
onda de mar
02
onda
06
75,0
X
--
xx
xx
xx
13
-
13
2
3
4
4
07
-
-
-
2
Tabela 5 – Ocorrências não-coincidentes, com o QSL, por Campo Semântico, com freqüência igual ou superior a 75% no corpus.
41
IV–Flora
banana dupla
01
banana gêmia(s)/gemi/gêmia(s)
06
75,0
X
x-
x-
xx
xx
-
1
06
-
06
1
1
2
2
06
-
-
49
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
V–Atividades
49
mandioca/aipim
01
macaxera
08
100
X
xx
xx
xx
xx
08
-
08
2
2
2
2
23
Agropastoris
VI–Fauna
-
-
-
1
67
colibri
01
bejaflô
08
100
X
xx
xx
xx
xx
76
crina da cauda
01
rabu du cavalu/rabu
08
100
X
xx
xx
xx
xx
89
bicho de fruta
02
bichu da goiaba
08
100
X
xx
xx
xx
xx
88
libélula
02
cambitu
07
87,5
X
-x
xx
xx
xx
91
pernilongo
02
murissoca
07
87,5
X
xx
xx
-x
xx
69
galinha d’angola
02
angulista
06
75,0
X
xx
xx
x-
x-
78
anca
03
trasera/trasera du cavalu
06
75,0
X
xx
x-
-x
xx
50
-
50
13
13
11
13
26
-
-
-
7
50
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
VII–Corpo
Humano
32
94
pomo de adão
01
gogó
08
100
X
xx
xx
xx
xx
102
dentes caninos
02
preza
07
87,5
X
xx
xx
xx
-x
108
cego de um olho
02
caôi/caoiu/caolhu
07
87,5
X
xx
xx
xx
x-
109
vesgo
02
zanoi/zanoiu
07
87,5
X
xx
xx
-x
xx
96
seios
02
peitu
05
75,5
X
xx
xx
x-
--
104
dentes molares
03
quexau
06
75,0
X
xx
xx
-x
-x
105
desdentado
03
banguelu/banguelas
06
75,0
X
x-
x-
xx
xx
106
fanhoso
02
foêi
06
75,0
X
-x
-x
xx
xx
115
meleca
02
cataraca/catarata
06
75%
X
xx
xx
-x
-x
121
axila
03
suvacu
06
75,0
X
x-
xx
xx
-x
64
-
64
17
18
16
13
-
VIII–Convívio e
06
Comportamento
Social
-
-
127
mau pagador
01
veacu/velhacu
08
100
X
xx
xx
xx
xx
128
assassino pago
01
pistoleru
08
100
X
xx
xx
xx
xx
16
-
16
4
4
4
4
-
IX–Ciclos da Vida
19
e
10
-
2
140
filho mais novo
01
caçula
08
100
X
xx
xx
xx
xx
137
ama-de-leite
01
mãi di leiti
07
87,5
X
xx
xx
x-
xx
15
-
15
4
4
3
4
08
100
X
xx
xx
xx
xx
XI–Festas
Divertimentos
-
10
159
bolinha de gude
01
2
peteca
51
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
Divertimentos
160
estilingue
02
baladera
07
87,5
X
x-
xx
xx
xx
164
cabra-cega
01
cobracega
07
87,5
X
-x
xx
xx
xx
22
-
22
4
6
6
6
08
100
X
xx
xx
xx
xx
1
08
-
08
2
2
2
2
prizilha/grampu
06
75,0
X
x-
xx
xx
x-
-
XIII–Alimentação
187
-
cigarro de palha
-
01
3
porronca
08
e Cozinha
-
196
XIV–Vestiário
06
Fonte: pesquisa de campo/2006/2007.
-
grampo (sem pressão)
-
02
-
-
-
1
06
-
06
1
2
2
1
-
-
-
30
-
-
-
-
-
-
-
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
52
Os dados expostos na Tabela 5 revelam que 10 (dez) lexias alcançaram 100%
de freqüência em todo o corpus, ou seja, elas foram as respostas dadas por todos
que constituíram a população-amostra, um total de 8 (oito) sujeitos, e nenhuma
destas coincidiu com a proposta pelo ALiB (2001).
As 10 (dez) perguntas que
originaram essas lexias estão distribuídas em 7 (sete), dos 14 (quatorze) campos
semânticos que compõem o QSL (2001).
Os dados revelam, também, que 09 (nove) lexias alcançaram 87,5% de
freqüência em todo o corpus, ou seja, elas foram as respostas dadas por 7 (sete)
que constituíram a população-amostra, de um total de 8 (oito) sujeitos, e nenhuma
destas coincidiu com a proposta pelo ALiB (2001).
Os dados revelam, ainda, que 06 (seis) lexias alcançaram 75,5% de
freqüência em todo o corpus, ou seja, elas foram as respostas 6 (seis) que
constituíram a população-amostra, de um total de 8 (oito) sujeitos, e nenhuma
destas coincidiu com a proposta pelo ALiB (2001).
Os mesmos dados, além de indicarem as lexias, cuja freqüência foi igual ou
superior a 75%, fazem referência às não coincidentes com o QSL e também indicam
as variáveis sexo, faixa etária e grau de escolaridade dos sujeitos entrevistados. A
análise, a seguir, refere-se aos dados informados na tabela 4 e segue a ordem
crescente de freqüência por Campo Semântico. O Gráfico 6 sintetiza os dados da
Tabela 5 e apresenta o resultado da comparação das lexias entre Microrregião
Marabá e ALiB, objetivo geral deste trabalho.
Gráfico 6 – Lexias coincidentes X não-coincidentes
53
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
A importância e ou a necessidade de se estabelecer um percentual de
freqüência de usos lingüísticos não reside tanto no quantitativo, em si, e sim naquilo
que este aspecto pode nos revelar, ou seja, por um lado, a interpretação das
estruturas lingüísticas como manifestação das capacidades cognitivas e da
organização
conceitual
do
conhecimento,
e
por
outro,
como
atividade
experienciada. Assim, os dados indicam que:
73 ocorrências alcançarem um percentual igual ou superior a 75% de
freqüência, isso equivale a, mais ou menos, ¼ de um total de 196 questões;
123 ocorrências não alcançaram freqüência igual ou superior a 75% de
freqüência, isso equivale a, mais ou menos, ¾ de um total de 196 questões;
das 73 ocorrências que alcançaram a freqüência estabelecida, 43
coincidiram com as propostas pelo ALiB, o equivalente a, mais ou menos, 52% de
freqüência neste corpus;
dessas 73, 30 ocorrências não coincidiram com as propostas pelo ALiB, o
equivalente a 42% de freqüência neste corpus.
Este quantitativo baixo de ocorrências não coincidentes, aparentemente,
parece ser um percentual pouco representativo, como diferenciador e ou
singularizador de um falar característico da Microrregião Marabá, no entanto, pode
nos indicar uma significativa diversidade de formas lingüísticas, neste estudo,
diferentes variantes semântico-lexicais de um mesmo conceito. Vejamos:
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
54
o fato de 73 ocorrências, de um total de 196, alcançarem o percentual
de freqüência igual ou superior a 75%, por si só, revela que há várias outras lexias coocorrendo, por isso poucas alcançaram este percentual;
neste universo de 73 lexias, o fato de 30 delas não coincidiram, ou seja,
quase 50%, constitui um percentual significativo como indicador da variedade de
ocorrências;
para atingir o percentual estabelecido foi preciso que, no mínimo, seis (6)
sujeitos dessem, como resposta, a mesma lexia, ou seja, mais da metade dos oito (8)
sujeitos da população-amostra; e
para que uma dada lexia, ou um conjunto delas, seja reconhecida como
componente do acervo lexical de uma dada localidade, se faz necessário qua a
maioria dos sujeitos dela(s) faça uso, e 75%, estatisticamente, tem sido uma
freqüência considerável, por se mostrar pertinente, em trabalhos desta natureza, ou
seja, um dos parâmetros, mas não o único e nem analisado isoladamente,
adequados para avaliar o uso efetivo de dada ocorrência.
O uso generalizado de expressões de expressões como variação, freqüência,
fenômeno lingüístico, heterogeneidade dialetal, preconceito lingüístico, e outras
tantas da mesma natureza, reafirma ser fundamental que se realizem mais e mais
pesquisas quantiqualitativas com dados produzidos em circunstâncias reais, seja do
“português” considerado padrão ou não-padrão, a fim de que se possa identificar
quais são a variação e a verdadeira extensão e intensidade desta, que, conforme
atesta a literatura, sabemos ser de pequena magnitude, inversamente proporcional
a dimensão territorial do Brasil.
O objetivo central deste trabalho foi registrar, comparar e analisar as
ocorrências semântico-lexicais encontradas na Microrregião Marabá, que são, na
maioria das vezes, consideradas “erros” exclusivos de falantes não escolarizados.
Enfatizamos que é quase impossível empreender tal pesquisa ignorando a
existência inquestionável de condições sócio-históricas propícias à variação, neste
estudo, a semântica-lexical, em terra brasileira, marcadas por um multilingüismo
generalizado entre falantes adultos que, no início do ‘contato, não partilhavam
língua comum, em um contexto de colonização e de conseqüentes relações
lingüísticas e sociais assimétricas.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
55
Descrever aspectos lingüísticos, neste espaço, de contato permanente com
diferentes culturas, advindas do fluxo migratório, que, na região pesquisada, é
constante, entre outros fatores, permite construir esse herbário do qual nos fala o
autor, não só para guardá-la e, sim, para compreender as outras redes de saberes
que se entrelaçam na e pela língua, que fazem esta variar, mudar, do mesmo jeito
que ela, a lingua, muda esses mesmos saberes, pelos seus dizeres, conscientes que
as mudanças diatópicas, diastráticas e diafásicas, porém, não ocorrem de forma
homogênea, em um dado espaço e nem ao mesmo tempo.
Isso significa que a variação está relacionada à comunidade lingüística, que
sempre a apresentará, e mais, em todos os níveis que compõem a estrutura da
língua usada por ela. Sendo os signos lingüísticos produzidos no seio de uma
comunidade de fala, são formas convencionais, portanto, resultam de processos
ativos entre sujeitos, e envolvem diversos fatores, tais como: grupos etários, gênero,
grau de escolarização, classe social, e outros, conforme segue uma das
possibilidades de análise desses dados.
O Campo Semântico I – Acidentes Geográficos registra as lexias onda (75%) e
banzeru/banzeru du má (87,5%), como as de maior freqüência neste Campo. A
primeira lexia foi respondida exclusivamente pelos sujeitos do sexo feminino das
faixas etárias jovem e adulta, escolarizadas e não escolarizadas (S2FBE, S4FEM) e
pelos sujeitos do sexo masculino da faixa etária jovem. A segunda foi respondida
exclusivamente pelos sujeitos do sexo feminino das faixas etárias jovem e adulta,
escolarizada e não escolarizada (S2FBE, S4FEM) e pelos sujeitos do sexo masculino
da faixa etária jovem.
Nos Campo Semântico II – Fenômenos Atmosféricos, III – Astros e Tempos não
foi registrada nenhuma lexia com freqüência igual ou superior a 75%, que não
coincidisse com aquelas propostas pelo QSL, Comitê do ALiB(2001).
O Campo Semântico IV – Flora registra a lexia banana gêmia/gemi/gêmia(s)
(75%), ocorrência mais recorrente entre os sujeitos da faixa etária jovem e
escolarizada, isto é, S3MEM e S4FEM.
56
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O Campo Semântico V – Atividades Agropastoris registra a lexia macaxera
(100%), ocorrência informada por todos os sujeitos, isto é S1MBE, S2FBE, S3MEM e
S4FEM.
O Campo Semântico VI – Fauna registra as lexias: trazera/trazera du cavalu
(75%), cuja recorrência foi maior entre os sujeitos do sexo masculino da faixa etária
adulta e feminino da faixa etária jovem (S1MBE e S4FEM); angulista (75%), mais
recorrente entre os sujeitos masculino e feminino da faixa etária adulta (S1MBE e
S2FBE); cambitu (87,5), com recorrência entre os sujeitos do sexo feminino da faixa
etária jovem e adulta e masculino da faixa etária jovem (S2FBE, S3MEM e S4FEM);
murissoca (87,5), recorrente entre os sujeitos da faixa etária adulta do sexo feminino
e masculino e jovem do sexo feminino (S1MBE, S2FBE e S3MEM) e bichu da goiaba,
bejaflô e rabu du cavalu, cuja freqüência de 100% revela que elas, as lexias, foram
respondidas, com o mesmo sentido, mesmo entre sujeitos e municípios distintos.
O Campo Semântico VII – Corpo Humano registra as lexias: seios, quexau e
cataraca/catarata (75%), com ocorrência de maior freqüência entre os sujeitos do
sexo masculino e feminino da faixa etária adulta (S1MBE e S2FBE); banguelu e foêi
(75%), mais recorrente entre os sujeitos do sexo masculino e feminino da faixa etária
jovem (S3MEM e S4FEM); suvacu (75%), com maior recorrência entre os sujeitos do
sexo feminino da faixa etária adulta e masculino da faixa etária jovem (S2FBE e
S3MEM); preza e caoi/caoiu/caolhu (87,5%), mais recorrente entre os sujeitos do
sexo masculino da faixa etária jovem e adulta e feminino da faixa etária adulta
(S1MBE, S2FBE e S3MEM); zanôi/zanoiu (87,5%), com maior recorrência entre os
sujeitos do sexo feminino da faixa etária jovem e adulta e masculino da faixa etária
adulta (S1MBE, S2FBE e S4FEM) e gogó cuja freqüência (100%), a única lexia, deste
campo, respondida com sentido semelhante entre todos os sujeitos.
O
Campo
diferentemente
do
Semântico
anterior
VIII
e
dos
–
Convívio
demais,
e
todas
Comportamento
as
lexias,
nesse
Social,
caso,
veacu/velhacu e pistoleru, obtiveram 100% de freqüência.
O Campo Semântico IX – Ciclos da Vida registra as lexias mãi di leiti (87,5%),
com recorrência maior entre os sujeitos do sexo feminino da faixa etária jovem e
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
57
adulta e masculino da faixa etária adulta e adotivu (100%), ocorrências informada
por todos os sujeitos.
NO Campo Semântico X – Religiões e Crenças não foi registrada nenhuma
lexia com freqüência igual ou superior a 75%, que não coincidisse com aquelas
propostas pelo QSL, Comitê do ALiB(2001).
O Campo Semântico XI – Festas e Divertimentos registra as lexias baladera e
cobra cega (87,5%), com recorrência maior entre os sujeitos do sexo feminino da
faixa etária jovem e adulta e masculino da faixa etária jovem (S2FBE, S3MEM e
S4FEM) e peteca (100%) ocorrência informada por todos os sujeitos,
NO Campo Semântico XII – Habitação não foi registrada nenhuma lexia com
freqüência igual ou superior a 75%, que não coincidisse com aquelas propostas pelo
QSL, Comitê do ALiB (2001).
O Campo Semântico XIII – Alimentação e Cozinha obteve somente lexia
porronca, cuja freqüência é de 100%, portanto, respondida por todos os sujeitos.
O Campo semântico XIV – Vestiário registra a lexia prizilha/grampu (75%) com
recorrência maior entre os sujeitos adultos do sexo feminino e jovens do sexo
masculino, isto é, (S2FBE e S3MEM).
O mestre de genebra, o suíço F. Saussure, ao estabelecer a dicotomia
langue(língua) & parole(fala), e, ao se propor a estudar a primeira e não a
segunda, posto que, por ser, esta, uma realização individual do falante, de um
dado sistema lingüístico, a heterogeneidade lhe era peculiar. Saussure, assim já
previu que, por ser individual, outros fatores implicariam nas realizações, entre estes,
por exemplo, o fato de ser homem, mulher, etc., confirmada pelos dados
analisados.
O baixo percentual de 30 ocorrências não coincidentes com as do ALiB, já
referido neste trabalho, voltamos a reafirmar, pode nos conduzir, inicialmente, a
inferir que não há, de fato, uma considerável diversidade semântico-lexical
(plurilingüismo), na forma de nomear um mesmo signo lingüístico, por falantes
localizados geograficamente nos extremos do Brasil, ao considerarmos que Marabá
está no Norte do País e o QSL foi elaborado no Estado do Paraná, Sul do Brasil.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
58
Há que se considerar o fato de um dos critérios estabelecidos para a
composição do corpus, sobre análise diz respeito à freqüência das lexias, que
deveriam ser igual ou superior a 75%. Este percentual indica, portanto, o contrário,
ou seja, entre os próprios sujeitos, há um considerável índice de ocorrências com
baixa freqüência, ou seja, inferior a 75%, o que permite reavaliar a afirmação inicial,
acerca da ausência de diversidade semântico-lexical entre os falares desta e
daquela região. Significa dizer que esta baixa freqüência revela, talvez, a
diversidade entre os falares dos próprios sujeitos moradores de uma mesma região,
ou melhor, uma microrregião, onde predomina um fluxo migratório, no caso, a
Microrregião Marabá.
Historicamente, as cidades de Marabá e Palestina do Pará iniciam a natureza
do processo de povoamento da Microrregião da pesquisa em questão, advinda,
muitas vezes, de famílias inteiras, principalmente dos Estados do Maranhão, Espírito
Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Minas Gerais, e outros, atraídos pelas
“promessas” governamentais de possibilidades da posse da terra para investimentos
econômicos, que lhes permitissem subsistir, originando a um caldeamento étnico
diversificado.
A imensidão territorial, a “olhos vistos”, ainda “inexplorada”, frente àqueles
Estados, oferecia novas e “promissoras” possibilidades de investimentos em
latifúndios e matas, cujos benefícios se originaram da pecuária extensiva,
agroindústria e o beneficiamento de madeira, por meio de indústrias madeireiras.
Tarallo (1994) afirma que, para compreender a história de qualquer língua,
devemos levar em consideração dois fatores que concorrem para explicar as
mudanças ocorridas num sistema lingüístico: os fatores externos e os fatores internos.
Os primeiros compreendem aspectos político, social e cultural da comunidade em
questão, aos segundos correspondem todos os processos ocorridos internamente no
sistema lingüístico, entre os quais se destacam as variações fonéticas, morfológicas,
sintáticas e semânticas, esta última, objeto deste estudo.
O estado político e social da comunidade é um elemento de atuação na relativa
fixidez ou na mobilidade, neste caso, do material semântico das línguas. Os estudos
lingüísticos revelam que, nas épocas de calma e estabilidade, as línguas se mantêm
como que estacionárias, ao passo que, nos momentos de instabilidade e agitação,
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
59
de abalos profundos e principalmente de reversão social, acelera-se o ritmo e
aumenta o vulto das variações e transformações dialetais.
A Microrregião Marabá apresenta uma singularidade, caracterizada pela não
estabilidade populacional, que segue o próprio fluxo migratório. Nesse caso,
haveria uma equação entre este estado e a co-ocorrência de inúmeras variáveis
semânticas registradas.
Isso significa que certos fatores, ‘estranhos’ ao mecanismo interno das línguas, agem
extrinsecamente sobre a realidade lingüística, condicionando os usos de umas ou
outras lexias. É o caso da formação populacional de Marabá e Palestina do Pará,
composta de sujeitos de várias cidades do Brasil. Tal fator, ligado à instabilidade
política e social, age como elemento externo e propiciador de variações
lingüísticas, em geral, e semântico-lexical em particular.
O estado de desagregação das forças de coesão social, a mobilidade geográfica,
permite que a língua, desembaraçada das peias que lhe entravavam os seus
movimentos, recupere a sua original liberdade e desenvolva à larga seus
movimentos embrionários ou suas tendências. De modo que a mobilidade
geográfica é ambiente propício à diversidade lingüística.
Há muito mais probabilidade de persistirem as variações, em uma comunidade,
quando deixa de ser homogêneo o meio lingüístico. É o caso destas cidades, onde
uma leva de imigrantes, de diversas regiões, se fixou. Com o passar de algum
tempo, apreendem as variações uns dos outros. Porém, já a realizam com as
variações. Os filhos desses imigrantes, caso estejam estes aglomerados num mesmo
ponto, provavelmente ainda conservarão algumas das variações dos avós e pais, e
assim por diante.
Os dados analisados na Tabela 5 permitiram a elaboração das Cartas
Lexicais, numeradas de 1 (um) a 14 (catorze), que seguem, e registram as
ocorrências, cuja freqüência, no corpus, foi igual ou superior a 75% e não
coincidentes com as lexias propostas pelo QSL (ALiB, 2001).
Segundo a ordem do QSL: apresentamos, no centro, o Nº da Carta e o
campo semântico, em seguida, no centro a(s) lexias propostas pelo QSL (ALiB, 2001)
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
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e, dentro da Carta Lexical, está(ao) registrada(s) todas as lexias cujo índice foi igual
ou superior a 75% de freqüência e não coincidentes com as propostas pelo QSL. No
lado esquerdo, no canto inferior estão os códigos dos sujeitos, que indicam o
gênero, a faixa etária e o grau de escolaridade. Os ícones, ao lado do código dos
sujeitos, os identificam e acompanham as suas respostas, ou seja, as lexias dentro da
carta.
61
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Carta Lexical 1 – Campo Semântico I – Acidentes Geográficos
onda de mar – onda de rio
onda
banzeru
onda
banzeru
0
100km
62
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S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 2 – Campo Semântico II – Fenômenos Atmosféricos
tromba d’água
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0
63
100km
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64
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
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65
Carta Lexical 3 – Campo Semântico III – Astros e Tempos
0
100km
66
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S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 4 – Campo Semântico IV – Flora
banana dupla
banana gêmia (s) / gêmi
gêmias
0
100km
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67
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
Carta Lexical 5 – Campo Semântico V – Atividades Agropastoris
mandioca/aipim
PALESTINA DO PARÁ
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68
macaxera
macaxera
0
100km
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69
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 6 – Campo Semântico VI – Fauna
anca – libélula – bicho de fruta – pernilongo – colibri – galinha de angola – crina da cauda
70
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trazera
cambitu
bichu da goiaba
murissoca
bejaflô
angulista
rabu du cavalu
trazera
cambitu
murissoca
trazera
bichu da goiaba
bejaflô
0
100km
ra bu d u c
avalu
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71
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 7 – Campo Semântico VII – Corpo Humano
seios – vesgo – axilas – dentes molares – dentes caninos - pomo de adão – meleca -desdentado – fanhoso - cego de um
olho
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peitu
zanoi
suvacu
quexau
gogó
banguelu
72
catarata
foêi
zanôiu
suvacu
preza
quexau
preza
caôi
foeî
0
100km
caôi
cataraca
gogó
73
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S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 8 – Campo Semântico VIII – Convívio e Comportamento Social
mau pagador - assassino pago
vecu / velhacu
pistoleiro
pistoleiro
vecu / velhacu
0
100km
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74
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
Carta Lexical 9 – Campo Semântico IX – Ciclos da Vida
ama de leite – filho mais novo
PALESTINA DO PARÁ
75
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mãi di leiti
caçula
mãi di leiti
caçula
0
100km
76
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S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 10 – Campo Semântico X – Religiões e Crenças
feitiço
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0
77
100km
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78
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 11 – Campo Semântico XI – Festas e Divertimentos
bolinha de gude – estilingue – cabra cega
peteca
cobra cega
baladera
peteca
baladera
cobra cega
0
100km
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79
MARABÁ
Carta Lexical 12 – Campo Semântico XII – Habitação
pessoa sem sorte no jogo
PALESTINA DO PARÁ
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0
80
100km
81
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S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 13 – Campo Semântico XIII –Alimentação e Cozinha
cigarro de palha
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala na/da microrregião Marabá/Pará
82
porronca
porronca
0
100km
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83
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
Carta Lexical 14 – Campo Semântico XIV – Vestiário
grampo (sem pressão)
prizilha / prizia
prizilha
0
100km
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84
S1MBE
S2FBE
S3MEM
MARABÁ
PALESTINA DO PARÁ
3.3 VERNÁCULO E ENSINO
O léxico de uma língua, usado por uma dada comunidade lingüística, é um
baú de memórias da convivência entre diferentes povos, de diferentes países e
entre pessoas de um mesmo país, de um mesmo estado, de uma mesma
comunidade de fala. Inúmeros são os vocábulos veacu, bejaflô, gogó, peteca,
porronca, entre outros que alcançaram 100%, ou seja, foram respostas de todos os
sujeitos e não coincidentes com as do ALiB.
Essas ocorrências são algumas detectáveis por falantes da Microrregião
Marabá, mas o serão por todos os falantes brasileiros? Então, perante as diferenças
registradas, estaremos nós diante de uma única e invariável língua? Assim, a
manutenção
dessas
variedades,
que
vivem
em
diferentes
culturas,
no
enquadramento do que se denomina língua portuguesa, é, em primeira análise,
uma ‘opção’ política, jamais lingüística. Se a língua é um fator de identificação
cultural, como conjugar esta definição com o fato de se afirmar ser, a mesma, a
língua falada, como língua materna, por pessoas com diferentes referências
culturais?
Há muito, nos mais diferentes espaços e práticas educativas, e mais
especificamente nas escolas, se perpetuam concepções equivocadas que se
criaram em torno do que é linguagem, língua, gramática e “erro” de português. Os
equívocos são vários, vão desde a crença ingênua que, para se garantir
“eficiência” nas atividades de fala, de leitura e escrita, basta estudar gramática
(nomenclatura gramatical), até a pergunta: se não é para ensinar gramática,
então, é para ensinar o quê Ora, no mundo contemporâneo, e, em conseqüência
na escola, cada vez mais culturas se interpenetram, constituindo o mosaico
fragmentário em que vivemos, urge conhecê-lo, quem sabe, encontrar as respostas
a estas questões, se elas estiverem assim tão prontas como muitos pensam,
equivocadamente.
Geraldi, ao repensar este mosaico, e a relação deste com o ensino que se
processa na escola, em meio a essa diversidade lingüístico-cultural, afirma:
Das pesquisas lingüísticas contemporâneas podem ser retiradas três
grandes contribuições para o ensino da língua materna: a forma de
196
conceber a linguagem e, em conseqüência, a forma como define
seu objeto específico, a língua; o enfoque diferenciado da questão
das variedades lingüísticas e a questão do discurso, materializado
em diferentes configurações textuais (1996, p. 65).
Essas contribuições, obviamente, não são estanques, ao contrário,
interligam-se. Assim, as diferentes formas lingüísticas emergem das situações de
interlocuções entre os sujeitos nelas envolvidos.
A essas diferentes formas lingüísticas denominamos variedades lingüísticas. A
que usamos resulta daquela falada no grupo social do qual fazemos parte, que, por
sua vez, remetem a sistemas de referências. Usar uma dada variedade lingüística é
dominar um sistema de referências.
Desse espaço singular, a Microrregião Marabá, a necessidade de escrever,
registrar e analisar a diversidade lingüística (fonético-fonológica, morfossintática,
semântica e textual), se deve à ausência de trabalhos dessa natureza, na região
pesquisada, o que impede a compreensão, de forma adequada, de várias
questões lingüísticas, entre estas, as ocorrências semântico-lexicais presentes na fala
dos moradores da Microrregião Marabá. Alia-se a uma imensa expectativa, a de
que tal saber possa ser utilizado, em especial, pelos professores, na mediação das
interlocuções nos espaços educativos, especialmente na escola, única instituição
autorizada a ‘dizer’ e a ‘ensinar’ qual ‘língua’ se deve falar e escrever, cujo fazer,
há séculos tem ‘legitimado’ o ‘monolinguismo’, e impedido o acesso e
permanência, com qualidade, de alunos advindos dos rincões de miséria que
assola este estado, língua, esta, dita ‘padrão’, e que estes não dominam.
A exemplo das enchentes que assolam esta Microrregião, também podemos
construir uma noção de língua que derrube a fortaleza da gramática tradicional,
em que a língua idealizada ficou presa, nos últimos dois milênios, fato este
resultante de equívocos que perduram em torno das palavras língua e gramática.
Sobre este aspecto Antunes In BAGNO (2001, p.11) afirma:
Falar ou escrever não é apenas uma questão de gramática, de
morfologia ou de sintaxe, não é apenas uma questão de executar,
certo ou errado, determinados padrões lingüísticos. Não é tampouco
formar frases, nem sequer juntá-las, por mais bem formadas que elas
estejam.
197
Falar ou escrever é ativar sentidos e representações já sedimentados
que sejam relevantes num determinado modelo de realidade e para
um fim específico; é, antes de tudo, agir, atuar socialmente; é, nas mais
diferentes oportunidades, realizar atos convencionalmente definidos,
tipificados pelos grupos sociais, atos normalizados, estabilizados em
gêneros, com feição própria e definida. É uma forma a mais de,
tipicamente, externar intenções, de praticar ações, de intervir
socialmente, de “fazer”, afinal.
Para que o acesso à palavra possa resultar numa forma de acesso das
pessoas ao mundo e recobre, assim, um sentido humanizador, o que,
nesse vasto mundo, não é rima, mas pode ser uma solução.
Alcançar estes objetivos, propostos pela
autora, nos
desafia, como
educadores, à organização de um trabalho pedagógico de qualidade, que
proporcione oportunidade de aprendizagem a todos os alunos, como cidadãos,
com direitos e deveres de participação social.
A consciência crítica sobre a diferença começa pela distinção das
variedades do idioma. A percepção do diferente é o primeiro passo para uma
sociedade que se pretenda igualitária, em que, em maior ou menor grau, raças,
cores, credos, espelham uma característica inerente aos seres humanos: a
diversidade. Romper a “barreira” lingüística é superar o isolamento entre pessoas de
diferentes culturas, inclusive dentro de uma mesma comunidade lingüística, como o
é a Microrregião Marabá.
E isso porque cada língua é um retrato do mundo, tomado de um ponto de
vista diferente, e que revela algo não tanto sobre o próprio mundo, mas sobre a
mente do ser humano. Por isso, a diversidade lingüística, seja entre falantes de um
mesmo idioma ou de idiomas diferentes, é parte inerente a este amálgama
cristalizado de multiculturalismo.
Afinal, é impossível sentir-se parte de uma realidade sem interagir com ela.
Imagine-se em um lugar onde não é possível entender o que as pessoas falam,
tampouco o que significam os milhares de avisos, placas, propagandas espalhadas
pelas ruas. Vivemos em sociedades icônicas, em cada segmento dos espaços
deixamos nossa marca. Símbolos que não só refletem o que somos, como também
nos situam, dão indicações, informam, permitem nosso passo ou o interditam. Sem a
possibilidade de comunicação com o mundo que nos rodeia, nos perdemos nele e,
198
com isso, perdemos parte da condição de sujeitos. É o que Bagno (2001)
denominou de diglossia.37
Em meados do século XX, muitos países empreenderam campanhas maciças
de alfabetização, porque alguns sociólogos argumentavam que esta era a
habilidade pessoal básica para as pessoas acessarem ao mundo da experiência
indireta. Por outro lado, alguns antropólogos discutiam a relação entre pensamento
lógico
e
pré-lógico
e
pensamento
alfabetizado
e
pré-alfabetizado,
pois
acreditavam que era a alfabetização o que tornava o pensamento abstrato
possível. Alguns historiadores também avaliaram a alfabetização, em distintos
períodos, cujo foco eram as conseqüências econômicas, sociais e políticas
decorrentes.
Cerca de 20 anos depois, houve reação àqueles que, ao escreverem sobre
alfabetização – como tecnologia neutra e uniforme –, ou seja, abordada fora de
seu contexto social, exageraram na distância entre culturas orais e alfabetizadas,
forma de subestimar as realizações e ignorar os recursos de sociedades sem
alfabetização, a dos iletrados.
Em analogia aos usos da língua, pelo dos falantes, no Brasil, há que se
reportar, pelo menos, a dois domínios: nível de escolaridade e status social, cuja
cultura imperiosa do domínio de uma única norma, para a fala e a escrita da
língua, é condição para “ascender” socialmente. Atualmente, a escola ‘alfabetiza’,
mas, ignora a diversidade lingüística que se revela, não padrão, com mais
evidência na fala, é uma forma de subestimar, mais que dialetos, seus sujeitos, e
ignorar o bilingüismo, o plurilingüismo e o multilinguismo, é torná-los ‘sem-lingües’.
Sob o título “Baixa escolaridade é predominante”38, a reportagem chama a
atenção para uma, entre tantas, das graves questões brasileiras: os adolescentes
infratores. O tema não é novidade, todos os dias está estampado nas ruas. Mas
nunca será demais voltar a ele, não para preencher colunas de jornais ou engrossar
as estatísticas das mazelas do Brasil, e sim para nos forçar a não esquecer jamais.
37
Cf. Bagno (2001), para quem o termo, do grego, significa “duas línguas”. Termo usado em lingüística para designar uma
situação em que duas línguas são usadas ao mesmo tempo por uma mesma comunidade de falantes, sendo que uma delas em
geral tem um status sociocultural mais prestigioso que a outra.
38
Reportagem publicada no Jornal O Liberal, de 04/03/2007. Caderno Atualidades, p. 9.
199
Paralelamente à estreita relação entre baixa escolaridade e adolescentes
infratores, há outros dados assustadores. 60% desses jovens vivem apenas com a
mãe ou em famílias recombinadas (a mãe e seu companheiro). Mas é rara a perda
total do vínculo familiar, em torno de 5% destes. A freqüência escolar da família
desses jovens também é baixa. Apenas 50% possuem o Ensino Fundamental
completo, 20% são analfabetos e 10% concluíram o Ensino Médio.
No Pará, entre 2003 e 2006, 13.280 (Treze mil, duzentos e oitenta) jovens
cumpriram medidas sócio-educativas e entre estes 160 (Cento e sessenta) eram do
sexo feminino. O perfil das famílias desses menores não é nada alentador. 60% delas
não possuem emprego formal, 15% dependem de pensões do INSS e o restante não
tem atividade geradora de renda. Marabá ocupa o quinto lugar neste cenário
(1,67%). Fator comum a todos: baixa escolaridade, que os impede, entre outros, de
ter acesso ao mercado de trabalho.
Esse cenário de violência que envolve crianças e adolescentes não é
resultante da baixa escolaridade e sim de outros fatores dos quais esta é uma das
conseqüências. O Quadro 8 retrata, em parte, o cenário educacional brasileiro, em
comparação ao internacional.
Quadro 8 – Educação: o Brasil no cenário internacional
O Brasil
O resto do mundo
Indicadores
Índices
Situação real
Situação atual
Analfabetismo
74%
das pessoas entre 15 e 64 anos são
semi-analfabetas.
situação parecida com a dos Estados
Unidos no século XIX.
Repetência
32%
dos estudantes são reprovados na 1ª.
série do Ensino Fundamental.
apenas 07 países no mundo se saem
pior que do que o Brasil neste
medidor, entre eles Laos e Gabão.
Escolas
37º.
foi o lugar em que as escolas
brasileiras ficaram em leitura, 40º.
em ciências e 41º. em matemática.
de uma lista que comparou 41
países.
Jornada de Estudos
(em anos)
6
é tempo em que os brasileiros
passaram em sala de aula.
nos países desenvolvidos, a média é
de 12 anos.
Ensino Superior
20%
dos jovens brasileiros chegam à
universidade.
em países vizinhos ao Brasil, como
Venezuela e Peru, esse número é de
40% (dobro).
200
Artigos Científicos
23º.
foi o lugar que o Brasil ficou em
número de publicações.
em uma lista de 25 países.
Fonte: Revista Veja, de 07/03/2007.
O Quadro 8 revela diversos fatores cujo conjunto traça o perfil e as causas
dessa ‘baixa escolaridade’, ou seja, ela não ‘anda’ só. No entanto, numa
sociedade, como a nossa, quem não domina a norma escrita, dita ‘padrão’, da
língua ‘portuguesa’, falada e escrita no Brasil, acaba discriminado e prejudicado,
tanto no seu desenvolvimento escolar quanto fora da escola.
Nesse sentido, registrar, descrever e analisar sincronicamente aspectos
semântico-lexicais é expor uma diversidade lingüística, de natureza diatópica que,
no ambiente escolar e nos livros didáticos, se finge não existir, e mais, responsável,
entre outros fatores, pela repetência, evasão, reprovação, etc..., como revelam os
dados expostos no Quadro 9, divulgados na primeira semana de fevereiro de 2007,
relativos ao Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb). É o exame do Ministério
da Educação que testa os conhecimentos de Português e Matemática dos alunos
de 4ª. e 8ª. séries do Ensino Fundamental e 3º. ano do Ensino Médio. Na
comparação com 1995, os estudantes brasileiros, em todas as séries, têm
desempenho pior que há dez anos.
Quadro 9 – Desempenho dos alunos no SAEB/MEC
7 a 14
15 a 17 de
anos
O desempenho dos alunos no Saeb caiu. O governo diz que e porque o numero
matriculas aumentou
anos
Níveis
de
Ano
ensino
O Desempenho
em 03
língua
95
97
99 01
05
portuguesa
Desempenho
em 05
95 O
97
99 01 03
matemática
3ºEM
290
284
267 262 267 258 282 289 280 277 279 271
8ªEF
256
250
233 235 232 232 253 250 246 243 245 230
4ªEF
188
187
171 165 169 172 191 191 181 176 177 182
1995
– 2005
1995 - 005
O número
de matrículas
%
90
97
67
82
201
Fonte: Dados SAEB/MEC-2007.
Considerando esses percentuais, bem melhor visualizados no Gráfico 7, é
importante reexaminar a relação entre pesquisa, neste caso, a lingüística, e ensino,
que deve ser uma das prioridades das universidades deste país. A efetivação de
investigações aprofundadas sobre a realidade lingüística do Brasil, seja da forma
falada, escrita, jornalística, acadêmica ou literária, e outras, dela decorrentes, é
tarefa fundamental. É esse o desafio!
Gráfico 7 – Desempenho dos alunos em língua portuguesa
Fonte: Dados SAEB/MEC.
Freire39 dizia que consciência crítica é “um pensar que percebe a realidade
como processo, que a capta em constante devenir e não como algo estático”. A
consciência crítica também é lingüística. Para além do domínio da ‘norma
padronizada’, a escola deve ser espaço de discussões sobre preconceitos,
arbitrariedade, relação língua e sociedade, tão recorrentes para uma consciência
crítica que podem ser suscitadas a partir das diferenças.
39
Cf. Revista Língua. Ano II – Número 16, fev. /2007 p. 45.
202
Na abordagem que se pretende crítica, a escola, as aulas de línguas, devem
ser espaços em que se reflita, sobre estas, como função social e assim potencializar
os educandos para que se percebam e se sintam sujeitos de sua história, exercendo
plenamente sua cidadania. O desenvolvimento de uma educação lingüística pode
auxiliar os na construção de uma consciência crítica.
Por isso, outras questões se impõem, para, quem sabe, assim, um dia
chegarmos ao Atlas Lingüístico do Brasil – ALiB, sonho acalentado, há décadas,
pelos dialetólogos, e que, se já elaborado, muito teria contribuído para a
superação do mito da unidade que segrega milhões de brasileiros ao anonimato.
Esses aspectos, no entanto, só serão relevantes, se, ao mesmo tempo,
consideramos questões do tipo: o que e como ensinar. O Quadro 10 (Neves, 1990:
14)40 resulta de uma pesquisa efetuada pela referida autora entre os professores de
São Paulo. Ela revela o que de fato os professores avaliam como importante a ser
ensinado em sala de aula.
Quadro 10 – Aula de língua portuguesa
40
1
Classe de palavras
39,71 %
2
Sintaxe
35,85 %
3
Morfologia
10, 93 %
4
Semântica
3,37 %
5
Acentuação
2,41 %
6
Silabação
2,25 %
7
Texto
1,44 %
8
Redação
1,44 %
9
Fonética e fonologia
0,96 %
10
Ortografia
0,80 %
11
Estilística
0,32 %
12
Níveis de linguagem
0,32 %
13
Versificação
0,16 %
Cf. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na Escola. São Paulo: Contexto, 1990.
203
Ao analisar o Quadro 10, pela ordem de freqüência, os exercícios de
reconhecimento das classes e das funções sintáticas ocupam a maior parte das
aulas de língua portuguesa. Estes exigem por sua vez, o domínio metalingüístico, ou
seja, obriga o aluno, a saber, o nome da língua, em vez e proporcionar a ele
práticas de usos desta língua. Bagno In (IRANDÉ, 2007) resume claramente o quadro
atual do ensino que se processa atualmente, no espaço-tempo sala de aula –
rarefeito e, portanto, precioso em um país de tradição educacional paupérrima
como o nosso – com essas aulas de nomenclatura gramatical, rigidamente fixadas
há séculos.
Portanto, mais especificamente, no que se refere ao ensino de línguas,
pesquisas revelam, cada vez mais, a necessidade urgente de discussões e reflexões
acerca do objeto e do objetivo deste ensino – que, até então, ignora a diversidade
lingüística – da função da escola, do professor e do aluno, frente a esta, ou seja, de
uma educação lingüística que se concentre no que é relevante para a função
humana e intelectual de todos nós.
Sem esconder a realidade sociocultural intrisincamente excludente que é a
nossa. Sem fazer a propaganda enganosa que basta “saber gramática” para ser
capaz de ler e escrever produtivamente e nem que “saber português” é gramática de
“ascensão social”.
Para tanto, é preciso ter-se a visão da multidimensionalidade da língua no
país, não apenas para efeito de precisar e demarcar espaços geolingüíticos, e, sim,
para contribuir, de forma direta, para um adequado equacionamento entre a
realidade de cada área e o ensino de língua que nela se processa.
Pessoas, como nós, que vivem em uma sociedade, com uma tradição escrita
imposta, baseada em uma história literária, e m sistema educacional organizado em
função dela, de perpetuá-la, se “acostumaram” a ter uma idéia de língua como
sinônimo de gramática e esta um conjunto de ‘regras’ para o “bem” falar e o “bem”
escrever.
Antunes (2007) afirma que esse ideário é tão forte e influente, ainda, que se
transformou em ‘crença’, o que dificulta propor ao grande público o debate sobre
‘gramática, imagine sobre questões lingüísticas. Estas, então, as pessoas, em geral,
acham que “não lhes dizem respeito”, “não têm nada a ver” com suas atividades
profissionais, com suas relações familiares, com suas interações nos diferentes
204
espaços em que atuam. Questões lingüísticas, dizem, “são questões para
professores de línguas ou para gramáticos, não nos pertencem”.
No entanto, “esquecemos” que as práticas educativas são instituídas
socialmente, são produções culturais. A língua é uma atividade social, um trabalho
coletivo, um processo, um fazer-se permanente e coletivo, empreendido por todos
os seus falantes, cada vez que eles interagem nas mais diversas situações
interlocutivas, em diferentes espaços discursivos.
A questão que se impõe é como desconstruir todo um folclore, toda uma
superstição que gira em torno dos fatos lingüísticos na nossa cultura, e, assim, não
continuar a perpetuar injusta e injustificavelmente um conjunto de mitos sem
fundamento. Essa questão nos obriga a um questionamento sobre legitimidade
lingüística, sobre política lingüística. E requer uma abordagem dos processos
históricos, sociais e políticos que levaram à constituição do cânone lingüístico atual.
Na esfera estritamente lingüística, implica mostrar, cientificamente, o que é e
qual norma lingüística, considerando a polissemia do termo? Como admitir vários
nomes para um mesmo objeto e um mesmo objeto apresentar diferentes
significados e o sistema escolar admitir apenas um correto? Norma lingüística
corresponde ao uso estatisticamente dominante ou ao uso valorizado por um
determinado grupo – o grupo socialmente dominante –, que produz assim o “bom
uso”, que irá eclipsar as normas de outros grupos? Norma e ensino. O que ensinar?
Assim,
Se, como resultado da intervenção dos lingüistas, o tema da
variação acabou incorporado pelo discurso pedagógico, podemos
dizer que não conseguimos ainda construir uma pedagogia
adequada a essa área. Talvez porque não tenhamos, ainda, como
sociedade, discutido suficientemente, no espaço público, nossa
heterogênea realidade lingüística, nem a violência simbólica que a
atravessa (FARACO. In Bagno, 2007, p. 17).
Nenhuma das variáveis selecionadas para este trabalho pode, por si só,
explicar as variações e mudanças que ocorrem nos sistemas de uma dada
comunidade lingüística. Esquivas e desafiadoras elas são, contraditórias e fortuitas,
mas regulares e inconscientes. Apenas é lícito dizer que algumas dessas causas
explicarão alguns câmbios lingüísticos. A verdade é que elas – e outras
desconhecidas – agem de certo, mas, sem continuidade, cruzam-se aqui, retraem-se
205
ali, chocam-se acolá. Umas se mostram mais poderosas, como o menor esforço ou
as influências de substrato; outras mais fracas, como a persistência da linguagem
infantil; outras talvez inoperantes, como o clima ou a raça, que, portanto, não serão
causas. É provável até que um dos grandes fatores seja o acaso metafísico, embora
contra essa hipótese valha o argumento da regularidade e coerência do processo.
De qualquer modo, mesmo de forma não consciente, as variações/mudanças
lingüísticas são fenômenos humanos e, como tais, extremamente complexos,
fenômenos
em
que
rezam
fatores
fisiológicos,
psicológicos,
sociológicos,
mesológicos. Nunca talvez se lhe poderá apontar a causa predominante, nem lhe é
adequado esse tratamento racionalista que lhe querem emprestar certos autores.
No entanto, há que se dizer alguma coisa sobre os efeitos dessas variações.
A primeira e mais importante conseqüência das variações é a ruptura do liame
gramatical com a escola. Quer dizer: por força das mutações de sons divergentes
por causa da diversidade de situação fonética, deixa-se de perceber a relação que
unia o significante ao significado.
Uma conseqüência é a perda da consciência da composição e da derivação,
os dois processos básicos de formação de palavras no sistema denominado língua
“portuguesa".
Assim é que, por apofonia41, per mais dare deu perdere em latim, português
perder. Mas quem de nós, atualmente, sente em perder qualquer relação etimológica
com dar? Conhecer e nome são palavras corradicais, já que se encontram na raiz
latina gno, mas quem o diria? Insosso deriva de sal e ninguém espontaneamente o
pode perceber. É que em latim salsus, “salgado”, recebendo o prefixo in, produziu,
por apofonia, insulsus, de cujo acusativo procede o português insosso. Treva e
tenebroso são palavras corradicais, do mesmo modo que saudade e solteiro, do
mesmo modo que dez e onze (um-decim: “um mais dez”), do mesmo modo que
faculdade, fazer, artífice, fácil, fatura, malfeitor, benefício, dificuldade, feitiço, tanto é
verdade que todas estas palavras estão à base de fac.
Outro efeito é o aparecimento de formas convergentes. Por tal se entende o
vocábulo único resultante da transformação de dois ou mais étimos. Assim, de rideo
e de rivu, latinos, temos o português rio, que, por isso mesmo, representa duas
palavras completamente estranhas uma à outra: primeira pessoa do indicativo
41
Variação em vogal de raiz ou de afixo que pode resultar em mudança de significação ou de função gramatical.
206
presente de rir e “corrente d’água”. São é o ponto de convergência de quatro
cadeias evolutivas, na origem das quais estão respectivamente sunt, sum, sanu e
sanctu. Sunt e sum deram som na língua arcaica, e o o nasal acabou ditongando-se,
surgindo então a forma única são: “eu são”, “eles são”; sanu, “sadio”, por perda
normal do -n- intervocálico, continua em são; sanctu deu santo, que em virtude de
posição ante-tônica (fonética sintática), perdeu a sílaba final, transformando-se em
san, ditongado depois em são: “São Joaquim”, “São Bento”. Manga identifica em
português dois étimos distantes: manica, do latim, “parte do vestuário”, e manga, do
malaiala, nome de certo fruto.
As formas convergentes são sempre um resultado fortuito, mas merecem
registro e estudo, porque sob um mesmo vocábulo escondem palavras
fundamentalmente diversas, que não podem ser confundidas nem examinadas sob
um mesmo prisma. Nos dicionários, por exemplo, devem constituir cada uma um
verbete autônomo.
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso
de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social
para classe social, e assim por diante. Nem individualmente, podemos afirmar que o
uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar
diferentes variedades de uma só forma da língua.
Câmara Jr. (1970) observa que a variação semântica não deve ser analisada
isoladamente, como acontece de maneira geral na gramática tradicional. Para ele, o
sentido não é um conceito independente, mas está ligado à forma, pois a lexia é
uma unidade de forma e de sentido.
Ao longo desses séculos, a escola não é mais do que um instrumento de
reprodução da sociedade na qual está inserida e o privilégio de um padrão
normativizador, segundo a variante socialmente dominante, é uma poderosa peça
dessa engrenagem ideológica.
Uma das tarefas dos pesquisadores desta geração é desvendar nossa
realidade lingüística e reajustar a norma pedagógica no que for necessário. Esse
desvendar vem sendo feito vigorosamente nessas três últimas décadas, primeiro
pelos dialetólogos, depois pelos sociolingüistas; o reajuste da norma pedagógica se
faz na prática da sala de aula, no cotidiano de muitos, não de todos os professores,
207
sobretudo daqueles com uma boa formação lingüística, mas os instrumentos
pedagógicos “reajustados” estão por vir.
O modelo de língua ideal que os gramáticos tradicionalistas tentam impor fez
nascer a distância entre a língua real, usada por falantes reais, e aquela, idealizada.
A conseqüência mais desastrosa desse ‘hiato’ foi a criação de uma série de mitos
que, além de violentar, baixam profundamente a auto-estima lingüística de milhões
de brasileiros, que acham que “não sabem falar português”, e, ainda, prejudicam
seriamente o ensino de língua.
Seria muita ingenuidade considerar que o português brasileiro e o português
europeu trilharam caminhos idênticos, ao longo desses 500 anos, pois ambos
apresentam diferenças inquestionáveis, as aqui apresentadas são apenas algumas
delas.
208
Para alguém, como eu, que aprendeu, nestes dois anos de mestrando, do
CCSE/UEPA, que, ainda, há muito a aprender, me parece que a primeira lição a ser
aprendida, por aqueles que, como eu, se aventuram pelos labirintos dos saberes
lingüísticos, é aquela anunciada por Bagno (2001), nas primeiras páginas do
Capítulo I, desta Dissertacao: não se permitir viver o sério perigo do esquecimento
do nosso passado, cujas faces secretas estão sob a face neutra das palavras.
Ao olhar para este reino encantado das palavras – as ocorrências semântico-lexicais
aqui registradas, era como se elas me perguntassem: Trouxeste a chave?
A ‘chave’ era um dos objetivos - estabelecer uma análise comparativa, de
cunho semântico-lexical, entre as ocorrências semântico-lexicais, registradas na
Microrregião Marabá, com as propostas pelo QSL (ALiB, 2001). Para tanto, partimos
da hipótese que o acervo semântico-lexical, usado por moradores nativos da
Microrregião Marabá/PA, era diferente se comparado ao proposto pelo Questionário
Semântico Lexical - QSL (ALiB, 2001).
Para comprovação desta hipótese, se estabeleceu, como objetivo geral, analisar as
ocorrências semântico-lexicais, de natureza diatópica e diatrástica, encontradas na fala de
moradores desta Microrregião, situada na Mesorregião Sudeste Paraense, em comparação
às referidas anteriormente.
Os dados estudados permitiram identificar diferenças entre os dois pontos
lingüísticos (Marabá e Palestina do Pará), representativos da Microrregião, bem como entre
esta e as propostas pelo QSL. Trata-se do significante das expressões, o que ocasiona
diferença de léxico ou entre os falares das referidas localidades ou em relação às propostas
pelo QSL.
Reconhecer que a variação lingüística não resulta apenas das capacidades
cognitivas do homem e sim da interação dos fatores estritamente lingüísticos e dos fatores
sociológicos, abriria campo para os estudos desses fatores e para o desenvolvimento de
perspectivas teóricas nesta área, mas o espaço de discussão sobre as relações entre língua
e cultura ainda caminha a passos lentos.
Neste espaço, reunimos uma breve síntese sobre os resultados desta pesquisa, cuja
descrição, organização, cartografação e análise de um léxico nunca antes descrito, é um
passo decisivo para o conhecimento, registro e análise das variantes lingüísticas, de cunho
semântico, e sociais do português brasileiro, sobretudo, de uma região marcada pelo fluxo
migratório, como é o caso da Microrregião Marabá, local desta pesquisa.
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
201
Nessa perspectiva, talvez, possamos, preencher as inúmeras lacunas relativas aos
estudos sobre o português falado na Microrregião Marabá e dar continuidade aos estudos
dessa natureza, no Estado do Pará, a fim de contribuir, ora para desconstruir idéias
cristalizadas e equívocos sobre o falar paraense, ora para confirmar suposições feitas sobre
este falar, uma vez que, a produção de dados, resultados da pesquisa in locu, permite fazer
afirmações com bases científicas sobre o que é uma língua e os usos que os falantes dela
fazem, neste caso, o dialeto denominado paraense.
Essas ‘vozes’, a exemplo do convite que nos faz Drummond, nos versos: “Penetra
surdamente, no reino das palavras...” Chega mais perto e contempla as palavras...”, também
nos convidam a tentar ‘descobrir’ as ‘faces secretas’, sob a face neutra representada pelas
ocorrências semântico-lexicais identificadas e cartografadas nesta Microrregião.
As ‘faces secretas’ são as memórias desta comunidade lingüística e nos revelam as
designações que os falantes/ouvintes atribuem ao mundo/espaço dito real. E, ao mesmo
tempo, são ‘chaves’ que possibilitam compreender como esse mundo/espaço é elaborado e
reelaborado pelos falantes/ouvintes, como membros desta comunidade lingüística e
segmentos sociais, em suas relações intersubjetivas.
A ‘face neutra’, ou seja, as ocorrências semântico-lexicais funcionam como ‘nome
fantasia’, para rotular, etiquetar, um conjunto de saberes e poderes, que resultam de um
intenso fluxo migratório, que ecoam nas práticas de interlocução, em especial as
experienciadas na instituição escolar, que, infelizmente, permeada por concepções
equivocadas sobre o que é uma língua e os usos que dela fazem os sujeitos, ignora o
fenômeno da variação lingüística, em todos os níveis da estrutura da língua, porque não o
(re)conhece, e, ao agir dessa forma, revela que confunde:
fala (sistema fonológico) com escrita (sistema ortográfico);
“erro” de português com desvio ortográfico, quando se trata de escrita;
diferença (variação) com deficiência;
língua com gramática normativa;
avaliação com julgamento.
Confusões, essas, que Bagno (2002) tenta esclarecer, ao afirmar: [...] Enquanto a
língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém seu curso, a gramática
normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um
terreno alagadiço, à margem da língua (p. 9-10).
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
202
A escola pode e deve ser o espaço da (com)vivência que nos (re)construa como
sujeitos reflexivos, capazes de operar com saberes, outros, que ressignifiquem concepções
e essas possam nortear o fazer educativo, cotidianamente, e possibilitem a alunos e
professores mediarem saberes que iluminem um ensino de língua eficiente, que forme, de
fato, leitores e escreventes. E, assim, aos poucos, preenchermos a lacuna desse tipo de
estudo lingüístico, cuja literatura da área atesta, já há algum tempo, a inexistência de dados
que revelem, de maneira mais ampla e geral, características do português falado no Brasil,
pela ausência de descrição, como esta, que me desafiei a realizar e cuja conseqüência é um
ensino de uma suposta língua que ninguém domina, ‘morta’ que está nas gramáticas. Isso
porque acreditamos que o acervo lingüístico de uma comunidade espelha a própria história
da mobilidade sócio-espacial do homem.
A existência de variedades lingüísticas é um fato inegável. Este trabalho, por
exemplo, reflete, além da diversidade diatópica, formas variantes entre os próprios sujeitos
nativos dos pontos lingüísticos (a social), ao mesmo tempo, índices sobre a origem da
formação desta Microrregião, cuja marca singular é a migração constante. Como é a
diferença, entre os modos de falar, que identifica, nada mais justo que descrevê-la, para,
assim, inscrevê-la no conjunto dos saberes necessários à compreensão deste espaço
amazônico.
Assim, na tentativa de vislumbrar tecer fios, entrelaçados de significados, como o
fazem as aranhas, com outros estudos que investiguem a fala, e conseqüentemente um
ensino de língua ‘materna’ que não a ignore, priorizamos correlacionar esse conjunto de
dados às práticas educativas e, em especial, aquelas que se processam na sala de aulas,
inclusive as de uma língua, que, por força de Lei, somos obrigados a denominar portuguesa.
Ensejando, por fim, a questão central deste estudo que é a variação lingüística, que
a muito merece entrar pela “porta da frente”, ou seja, estar, ao lado de tantas outras, no
centro dos inúmeros debates sobre multiculturalismo, pluralidade, identidade, educação,
entre outros tantos temas, considerados relevantes, menos este ilustre desconhecido, por
isso, infelizmente, quase sempre ausente, o que ajuda a perpetuar o mito da língua única,
em um país multicultural.
As nossas ‘avenidas dos sonhos’, metaforicamente, foram as trilhas cartográficas
percorridas, para a composição deste trabalho, que:
evidenciaram que a heterogeneidade lingüística, atualmente envolta em estigma
e preconceito social, é inerente à qualquer sistema lingüístico, a língua;
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
203
reafirmaram que esta heterogeneidade deve e precisa ser entendida à luz do
contexto lingüístico-social que cerca cada uma das comunidades de fala.
Isso tudo para nos ajudar a combater, no que diz respeito à educação, julgamentos
equivocados e discriminatórios sobre heterogeneidade lingüística, e a complexa rede de
conseqüências sociais, culturais e políticas que ela suscita e é suscitada, nas práticas
educativas, que se processam em vários espaços, entre estes, a escola, que se encarregam
de perpetuá-los.
A escola, que deveria ser um espaço acolhedor, de exercício de práticas de inclusão,
de respeito às diferenças, de socialização, de interlocução entre os sujeitos nela presentes,
se destina, se reduz, se resume, a reproduzir mecanismos de exclusão. E o ensino de
língua ‘portuguesa’ que se pratica, atualmente, em nossas escolas, é uma poderosa arma,
responsável, usada oficialmente, para estigmatizar os que não dominam a “boa” língua, e
assim dissemina e perpetua o preconceito lingüístico, mais um entre os muitos já existentes.
Isso porque, muitas vezes, e com tanta intensidade, na “casa da palavra, onde o
silêncio mora” (Caetano Veloso, “Terceira Margem do Rio”, Circuladô), cada palavra dita
implica o silêncio de inúmeras outras a dizer. E sobre esse poder das palavras, Cecília
Meireles nos alertou, na obra de sua autoria, O Romanceiro da Inconfidência, ao sintetizá-lo:
[...] Ai palavra! Ai Palavra! Que estranha potência a vossa! [...].
Cartografia Lingüística e Educação na Amazônia: um estudo semântico-lexical da fala dos moradores na/da microrregião Marabá/Pará
204
RELATIVAS À REGIÃO
ATZINGEN, Noé. Vocabulário Regional de Marabá. Fundação Casa da Cultura de
Marabá/Projeto Usimar: Cultural, 2004.
FIRMINO, Ana Izabel Pantoja. (coord) Sul e Sudeste do Pará Hoje – Associação dos
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MARABÁ. Boletim Técnico. N. 2. Fundação Casa da Cultura, 2003.
MONTEIRO, João Brasil. Marabá: caminho das águas. Marabá: (s/ed.), 2002.
MORAES, Almir Queiroz de. Pelas Trilhas de Marabá. Marabá: Chromo Arte, 1998.
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217
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APÊNDICE
1 – Quadro de todas as ocorrências semântico-lexicais de Marabá e Palestina do Pará: campo semântico, tema (QSL, 2001 – ALiB),
questão, sujeito, ocorrência e ponto lingüístico
CAMPO SEMÂNTICO – I – ACIDENTES GEOGRÁFICOS
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 1. Como se chama aqui um rio pequeno, de uns dois metros de largura?
Marabá
CÓRREGO
S1MBE
Palestina
grota
corgu
Marabá S2FBE
Palestina
lagu
grota
Marabá
Palestina
grota
S3MEM
riu piquenu
Marabá
Palestina
corgu
S4FEM
corgu
Questão 2. ... tronco, pedaço de pau ou tábua que serve para passar por cima de um ...
PINGUELA
S1MBE
bausa di bananera
ponti
S2FBE
pinguela
pinguela
S3MEM
ponti/canoa
ponti
S4FEM
ponti
ponti
Questão 3. ... o lugar onde o rio termina ou encontra com outro rio?
FOZ
S1MBE
boca du ri
S2FBE
S3MEM
S4FEM
incontru das água
incontru dus riu
NFR incontru das água
cabicera
incontru dus riu
Questão 4. Muitas vezes, num rio, a água começa a girar, formando um buraco na água que puxa para baixo. Como se chama isto?
cabicera
S1MBE
REDEMOINHO
(DE ÁGUA)
Funiu
S2FBE
ridimunhu
funiu
S3MEM
reboju
S4FEM
banzeru
rededuinhu
banzeru
S3MEM
Banzeru
banzeru
ridimunhi da água
Questão 5. ... o movimento da água do rio? (imitar o balanço das águas)
ONDA DE RIO
S1MBE
banzeru du riu/marezia/onda das água
banzeru
S2FBE
maré
banzeru
S4FEM
Banzeru
banzeru
219
Questão 6. ... o movimento da água do mar? (imitar o balanço das águas)
ONDA DE MAR
S1MBE
S2FBE
banzeru du má
NR onda
Questão 7. Depois da chuva a terra fica _________?onda
TERRA
UMIDECIDA
PELA CHUVA
S1MBE
onda
S2FBE
terra úmida
umidadi
Molhada
S3MEM
onda
onda
S3MEM
molhada
S4FEM
Onda
onda
S4FEM
Rispingada
molhada
úmida
molhada
CAMPO SEMÂNTICO – II – FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
REDEMOINHO
(DO VENTO)
Questão 8. ... o vento que vai virando em roda e levanta poeira, folhas e outras coisas leves?
Marabá
ridimunhi
S1MBE
Palestina
ridimunhu
Marabá S2FBE
Palestina
ridimuinhi ridimunhu
Marabá
S3MEM
Palestina
redumuinhu
redemoinhu
Marabá
S4FEM
Palestina
redemuinhu
ridimunhu
S3MEM
relampejandu
S4FEM
relâmpagu
Questão 9. ... uma luz que risca o céu em dias de chuva?
RELÂMPAGO
RAIO
S1MBE
relâmpagu
relampu
S2FBE
relâmpagu
relampi
relâmpagu
Questão 10. ... uma luz forte e rápida que sai das nuvens, podendo queimar uma árvore, em dias de mau tempo?
relâmpagu
220
S1MBE
curiscu
curiscu
S2FBE
Raiu
curiscu
S3MEM
Raiu
raio
S4FEM
raiu
raiu
trovãu
S4FEM
truvãu
truvãu
Questão 11. ... o barulho forte que se escuta logo depois de um __________ (cf. item 10)?
TROVÃO
S1MBE
NFR
truvãu
S2FBE
truvãu
truvãu
S3MEM
Truvãu
Questão 12. ... uma chuva com vento forte que vem de repente, geralmente no verão?
S1MBE
TEMPORAL
temporau
chuva di primavera
S2FBE
tempestadi
di vetania
chuva
S3MEM
chuvarada
S4FEM
temporau
temporau
temporau
Questão 13. Existem outros nomes para __________ (cf. item 12)
NOMES
ESPECÍFICOS
PARA
TEMPORAL
S1MBE
NFR
chuva di primavera
S2FBE
NFR
chuva di pedra
S3MEM
chuva forti / chuva grossa temporau
S4FEM
chuva rápida / pé d’água
tempestadi
S3MEM
chuva passagera
di manga
S4FEM
chuva passagera
di manga
Questão 14. ... uma chuva de pouca duração, muito forte e pesada?
TROMBA
D’ÁGUA / PÉ
D’ÁGUA
S1MBE
temporau
chuva di manga
S2FBE
chuva passagera chuva
di manga
chuva
chuva
221
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 15. É uma chuva bem fininha?
Marabá
GAROA
S1MBE
Palestina
chuva di amolhá abestadu / garoinha
lubrina
Marabá S2FBE
Palestina
Chuviscanu
lubrina
Marabá
S3MEM
Palestina
chuva fina/chuvendu fininhu neblina
Marabá
S4FEM
Palestina
chuvisu / chuva di molhá besta
lebrina
Questão 16. Durante uma chuva pode cair pedacinhos de gelo. Como chamam para isso ?
S1MBE
CHUVA DE
PEDRA
chuva di pedra
S2FBE
chuva di pedra
chuva di pedra
S3MEM
chuva di granizu
di granizu
chuva di pedra
S4FEM
chuva
chuva di granizu
chuva di pedra
Questão 17. Quase sempre, depois de uma chuva, aparece no céu uma faixa com listras coloridas e curvas (mímica). Que nomes dão a essa faixa?
ARCO - ÍRIS
S1MBE
arcu-iri
arcuí
S2FBE
Arcuíris
arcuí
S3MEM
arcuíris
arcuíris
S4FEM
Arcuíris
arcuíris
Questão 18. De manhã cedo, a grama geralmente está molhada. Como chama aquilo que molha a grama?
ORVALHO
S1MBE
Uruvai
uruvai
S2FBE
Orvalhu
serenu
S3MEM
molhadas
orvalhu
S4FEM
Serenu
serenu
Questão 19. Muitas vezes, principalmente de manhã cedo, quase não se pode enxergar por causa de uma coisa parecida com fumaça, que cobre tudo. Como
chamam isso?
NEVOEIRO
ESTIAR /
COMPOR O
TEMPO
S1MBE
serraçãu
serraçãu
S2FBE
Nevi
nevi
S3MEM
Neblina
neblina
S4FEM
Neblina
Questão 20. Como dizem aqui quando termina a chuva e o sol começa a aprecer
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
nevi
222
u sou clariô/u sou abriu
clariô u céu
passô a chuva
u tempu
alimpô
cabô a chuva
u céu ta clariandu
u sou abriu
clariô u tempu
CAMPO SEMÂNTICO – III – ASTROS E TEMPOS
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
NASCER DO
SOL
Questão 21. O que é que acontece de manhã cedo?
Marabá
S1MBE
clariá du sou/raiá du sou
saindu
Palestina
u sol tá
Marabá S2FBE
Palestina
u sol vêi nacendu
as barra veiî clarianu
Marabá
S3MEM
Palestina
u u sol tá nascendu
clariô u dia
Marabá
S4FEM
Palestina
u dia istá clariandu nacer du
sou
223
Questão 22. E o que acontece no final da tarde?
S1MBE
PÔR DO SOL
u sou tá si pondu
u sou tá si ponu
S2FBE
u sou si põi
S3MEM
anoitecendu
u sou tá si pondu
S4FEM
escurecenu
istá iscurendu /chegandu a
noiti pô du sou
Questão 23. ... a claridade do céu antes de __________ (cf. item 21)?
ALVORADA
CREPÚSCULO
S1MBE
S2FBE
S3MEM
rompê da aurora
u céu vem clarinu
auvorada
anoitecenu
raiu du sou
NFR
Questão 24. ... a claridade que fica no céu depois do __________ (cf. item 22)?
S4FEM
auvorecê
NFR
S1MBE
clariá da noite/a noiti vem chegandu
claridadi da lua
S4FEM
NFR
NFR
S2FBE
NFR
sou
raiu du
S3MEM
Nuvem dourada
NFR
Questão 25. De manhã cedo, uma estrela brilha mais e é a última a desaparecer. Como chamam esta estrela?
ESTRELA
MATUTINA
S1MBE
istrela da manhã
dauva
istrela
S2FBE
istrela dauva
istrela dauva
S3MEM
NFR
S4FEM
istrela cadenti istrela da
istrela dauva manhâ
Questão 26. De tardezinha, uma estrela aparece antes das outras, perto do horizonte, e brilha mais. Como chamam esta estrela?
ESTRELA
VESPERTINA
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
istrela da boca da noiti
istrela
istrela cadenti
NFR
NFR
papassea
istrela
papassea
NFR
NFR
Questão 27. De noite, muitas vezes pode – se observar uma estrela que se desloca no céu e faz um risco de luz. Como
chamam isso? (Identificar
os verbos usados para identificar os movimentos da estrela cadente)
ESTRELA
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
224
CADENTE
istrela di cauda/istrela di rabu
guii
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
istrela velaçãu
S1MBE
Palestina
Marabá S2FBE
Palestina
camim di sãu tiagu
camin di sãu tiagu camim de sãu tiagu
camin di sãu tiagu
Questão 29. ... parte do dia quando começa a clarear?
S1MBE
AMANHECER
deus ti guii
istrela cadenti
istrela cadenti
istrela cadenti
istrela cadenti
Questão 28. Numa noite bem estrelada, aparece uma banda ou faixa que fica no céu de fora a fora, onde têm muitas estrelas muito perto uma das
outras. Como chamam esta banda ou faixa?
Marabá
VIA LÁCTEA
istrela deus ti
S2FBE
nacendu u dia
u dia vêim raianu
u dia nacenu
u dia claru
Marabá
S3MEM
Palestina
cruzeru du su
NFR
Marabá
S4FEM
Palestina
céu istreladu
NFR
S3MEM
S4FEM
auvovercendu / amanhecendu /
cagá dus pintu clarianu
amanhecê du dia amanhecendu
Questão 30. E quando o sol se põee __________ (cf. item 21)?
ENTARDECER
S1MBE
boca da noiti
anoitecenu
S2FBE
a noiti vêim
iscurecendu anoitecenu
S3MEM
u dia ta si findandu
iscurecenu
S4FEM
Intardecê
S2FBE
boca da noiti
S3MEM
S4FEM
boquinha da noiti
boquinha da noiti
fim di tardi
Questão 31. ... o começo da noite?
S1MBE
ANOITECER
boca da noiti
boquinha da noiti
MESES DO ANO
Questão 32. Quais são os meses do ano?
noiti
Anoitecendu
anoitecendu
225
S1MBE
janeru/fevereru/marçu/abriu/mai/junhu/julh
u/ agostu/setembru/otubru/novembru
/dezembru
janeru/fevereru/marçu/abriu/mai/junhu/julh
u/ agostu/setembru/otubru/novembru
/dezembru
S2FBE
janeru/fevereru/marçu
/
abriu/mai/junhu/julh
u/
agostu/setembru/otub
ru/novembru/dezembr
u
S3MEM
janeru/fevereru/marçu/abriu/m
aiu/
junhu/julhu/agostu/setembru/
outubru/novembru/dezembru
janeru/fevereru/marçu/abriu/m
aiu/
junhu/julhu/agostu/setembru/
outubru/novembru/dezembru
S4FEM
janeru/fevereru/marcu/abriu/
maiu/junhu/julhu/agostu/setem
bru/otubru/novembru/dezembru
janeru/fevereru/marcu/abriu/
maiu/junhu/julhu/agostu/setem
bru/otubru/novembru/dezembru
janeru/fevereru/marçu
/
abriu/mai/junhu/julh
u/
agostu/setembru/otub
ru/novembru/dezembr
u
Questão 33. Alguns desses meses têm outro nome, por exemplo, junho, julho, etc.?
MESES COM
NOMES
ESPECIAIS
S1MBE
janeru/abriu/mai/julhu/setembru/dezembru
S2FBE
fevereru/maiu/junhu/
setembru/dezembru
Junhu/julhu/novembr
u/dezembru
S3MEM
abriu/fevereru/julhu/dezembru
janeru/fevereru/maiu/julhu/deze
mbru
S2FBE
Ontêim
S3MEM
Ontêim
S4FEM
janeru/abriu/junhu/otubru/
dezembru
jeneru/fevereru/junhu/julhu/de
zembru
janeru/junhu/julhu/novembru/dezembru
Questão 34. o dia passou? [o senhor já almoçou (ou jantou) hoje? Quando foi que almoçou (ou jantou) pela última vez?]
ONTEM
S1MBE
onti
onti
onti
onteiî
S4FEM
ontêim
onteiî
226
Tema proposto
pelo (QSL, 2001) –
ALiB
Questão 35 ... o dia que foi antes desse dia? [E um dia para trás?]
Marabá
ANTEONTEM
S1MBE
antonti
Palestina
antionti
Marabá S2FBE
Marabá
Palestina
Palestina
Ontem di onti antonti antiontêim
S3MEM
antis di onteiî
Marabá
S4FEM
Palestina
Antiontêim
antis di onteiî
Questão 36. ... o dia que foi antes de __________ (cf. item 35)? [E mais um dia para trás]
S1MBE
TRASANTONTEM
quarta - fera passada
treisontonti
S2FBE
S3MEM
S4FEM
treisnontonti
treisdiontonti
antisdionti
NFR
tresontonti
antonti
227
CAMPO SEMÂNTICO – IV – FLORA
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
TANGERINA /
MEXERICA
Questão 37. ... as frutas menores que a laranja, que se descascam com a mão, e, normalmente, deixam um cheiro na mão? Como elas são? (pedir
para descrever)
Marabá
S1MBE
tangirina/mixirica
Palestina
tangirina
Marabá S2FBE
tangirina
tangirina
Marabá
tangirina
S3MEM
tanja
Marabá
S4FEM
mixirica/tangirina
tangirina
S4FEM
Amenduiî
minduim
Questão 38. ... o grão coberto por uma casquinha dura, que se come assado, cozido, torrado ou moído?
AMENDOIM
S1MBE
menduiî
bundubim
S2FBE
Menduiî
S3MEM
bundubim Amenduiî
amendoim
Questão 39. ... umas florezinhas brancas com miolo amarelinho, ou florezinhas secas que se compram na farmácia e servem para fazer um chá
amarelino, cheiroso, bom para dor de barriga de nenê/bebê e até também para acalmar? (Mostrar)
CAMOMILA
S1MBE
aufavaca/perpétua/hosrtelã/camumila
NFR
S2FBE
camumila
S3MEM
aufazema ervacidera / camumila
NFR
S4FEM
camumila
camomila
Questão 40. ... cada parte que se corta do cacho da bananeira para põr para madurar?
PENCA
S1MBE
penca di banana
penca
S2FBE
penca di banana penca
S3MEM
penca di banana
penca
S4FEM
penca di banana
penca
Questão 41. ... duas bananas que nascem grudads?
BANANA
DUPLA
PARTE FINAL
DA INFLORES_
CÊNCIA DA
BANANEIRA
S1MBE
Gemi
ingemada
Questão 42. ... a ponta roxa no cacho da banana
S2FBE
Gêmia
ingemadu
S3MEM
banana gêmias
gêmias
S4FEM
banana gêmia
gêmias
228
S1MBE
pauma da banana / coraçãu da banana
manga
S2FBE
Imbigu
banana
S3MEM
mangará da pinta da banana
coraçãu
S4FEM
olhu da bananera
coraçãu
229
CAMPO SEMÂNTICO – V – ATIVIDADES AGROPASTORIS
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 43. O que é que se corta da planta, quando se colhe o milho?
Marabá
ESPIGA
ispiga
S1MBE
Palestina
ispiga
Marabá S2FBE
Palestina
ispiga
ispiga
Marabá
Palestina
Ispiga
S3MEM
Marabá
ispiga Palestina
ispiga
S4FEM
ispiga
Questão 44. Quando se tira da __________ (cf. item 43) todos grãos do milho, o que sobra?
SABUGO
S1MBE
Sabugu
S2FBE
sabugu sabugu
sabugu
S3MEM
sabugu
sabugu
S4FEM
sabugu du milhu
sabugu
Questão 45. Depois que se corta o pé de arroz ou de fumo, ainda que fica uma pequena parte no chão. Como se chama essa parte?
SOCA /
TOUCEIRA
S1MBE
soca
troncu
S2FBE
troncu du arroiz
tronquera
S3MEM
raiz / troncu
NFR
S4FEM
tocu du arroiz
NFR
Questão 46. ... flor grande, amarela, redonda, com uma rodela de sementes no seio?
GIRASSOL
S1MBE
girassou
girassou
S2FBE
girassou
mirassou
S3MEM
Girassou
girassou
S4FEM
girassou
girassou
Questão 47. Onde é que ficam os grãos de feijão, no pé antes de ser colhido?
VAGEM DE
FEIJÃO
MOINHA
S1MBE
bagi
bagi
S2FBE
bagi
casca du fejãu
S3MEM
casca du fejãu
casca di fejãu
S4FEM
fava
bagi du fejãu
Questão 48. Depois de colher e secar o feijão, alguns costumam bater com uma vara para soltar os grãos da __________ (cf. item 47) e a palha vai
virando um pó. Como se chama esse pó da palha do feijão batido?
230
S1MBE
xerenhi
muim
S2FBE
paia batida
bagaçu
S3MEM
Puaca
S4FEM
NFR Puaca
NFR
Questão 49. ... aquela raiz branca por dentro, coberto por uma casca marrom, que se cozinha para comer?
MANDIOCA /
AIPIM
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
S1MBE
macaxera
S2FBE
macaxera
macaxera
S3MEM
Macaxera
macaxera
S4FEM
macaxera
macaxera
Questão 50. Tem um tipo de __________ (cf. item 49) que não serve para comer e se rala para fazer farinha (polvilho, goma). Como se chama essa
raiz?
Marabá
MANDIOCA
macaxera
S1MBE
mandioca
Palestina
mandioca
Marabá S2FBE
Palestina
mandioca mandioca
Marabá
Palestina
mandioca
S3MEM
mandioca
Marabá
S4FEM
Palestina
mandioca
mandioca
Questão 51. ... um veículo de uma só roda, empurrado por uma pessoa, para pequenas cargas em trechos curtos?
CARRINHO DE
MÃO
S1MBE
carriî di mãu
carru di mãu
S2FBE
carru di mau
carriî di mãu
S3MEM
carinhu di mãu
S4FEM
cariî di mãu carru di mãu
carriî di mãu
Questão 52. ... as duas partes em que a pessoa segura para empurrar o __________ (cf. item 51)?
HASTES DO
CARRINHO DE
MÃO
S1MBE
cabu du carriî di mau
CANGALHA
S1MBE
Culera
CANGALHA
S2FBE
S3MEM
S4FEM
perna du carru di mãu
braçu du carrinhu de mãu
braçu du carru di mau
pegadô du carriî di mãu
braçu
du no
carrinhu
di de
mãu
braçu
du carru di mãu
Questão 53. ... a armação de madeira, em forma de forquilho (mímica), que se
coloca
pescoço
animais (porco,
terneiro/bezerro,
carneiro,
vaca) para não vararem a cerca?
cabu du carru
furquia
S2FBE
cambitu
furquia
S3MEM
NFR
NFR
Questão 54. ... armação de madeira que se coloca no lombo do cavalo ou do burro para levar cestos ou cargas?
S4FEM
Cangalha
furquia
231
S1MBE
Cangaia
S2FBE
cangaia cangalha
cangaia
S3MEM
NFR
S4FEM
cangaia cangalha
cangaia
Questão 55. ... esses cestos de vime, de taquara, de cipós trançados, para levar batatas(mandioca, macaxeira, aipim etc...), no lombo do cavalo ou
do burro?
JACÁ
S1MBE
caçuá / paneru
S2FBE
jacá jacá
jacá
S3MEM
paneru
S4FEM
cangaia cochu
jacá
caçuá
S3MEM
NFR
NFR
S4FEM
NFR
cestu
jugo
Marabá
Palestina
NFR
S3MEM
ovelha recêi-nascida filhoti di ovelha
S4FEM
NFR
Questão 56. E, se forem de couro, com tampa?
BOLSA
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
S1MBE
Caçuá
S2FBE
jacá
Questão 57. ... a peça de madeira que vai no pescoço do boi, para puxar o carro ou arado?
Marabá
CANGA
caçuá
canga
S1MBE
Palestina
canga
Marabá S2FBE
Palestina
Canga
Marabá
Palestina
canga NFR
S3MEM
S4FEM
canga
Questão 58. ... a cria da ovelha logo que nasce?
BORREGO (DO S1MBE
NASCER ATÉ...) filha di carneru
cabritim
S2FBE
ovelha
cabritim
filhoti di ovelha
Questão 59. ... a cria da ovelha, quando vai crescendo?
CORDEIRO
FÊMEA QUE
ESTÁ PARA DAR
S1MBE
carneru refeitu
marã
S2FBE
carnerinhu
S3MEM
marã ovelha nova
NFR
S4FEM
ovelhinhas
Questão 60. ... a fêmea de um animal que está´prestes a/nos dias de dar cria dar cria?
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
carnerim
232
CRIA
tá dandu cria
mojada
ela vai dá cria
mojada
tá para parí
prenha
pertu di parí
mojada
Questão 61. Como se diz quando a fêmea de um animal perde a cria?
S1MBE
PERDA DA CRIA
S2FBE
perdeu
perdeu a cria
perdeu a cria
perdeu a cria
S3MEM
perdeu a barrigada / barrigada
perdida
S4FEM
perdeu a cria
NFR
perca da cria
Questão 62. ...´´égua quando está velha?
ÉGUA VELHA
S1MBE
égua véia
égua véa
S2FBE
Caduca
S3MEM
égua vea égua velha égua veia
S4FEM
égua velha
égua veia
Questão 63. ...homem que é contratado para trabalhar na roça do outro?
TRABALHADOR S1MBE
DE ENXADA
EM ROÇA
juquireru
ALHEIA
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– AliB
PICADA
piãu
S2FBE
S3MEM
S4FEM
trabalhadô/ piãu diara
diarista/trabalhadô rurau/bóia fria
piãu
Piau
diara
Questão 64. O que é que abre com o machado, com o facão, a foice para passar por um mato fechado?
Marabá
pinicada
S1MBE
Palestina
Marabá S2FBE
picada Palestina
camiî
picada
Marabá
Palestina
trilha
S3MEM
vareda
Marabá
Palestina
Roça
S4FEM
vareda
Questão 65. ... o caminho, no pasto, onde não cresce mais grama, de tanto o animal
TRILHO
S1MBE
camiî
vareda
S2FBE
capuera
vareda
S3MEM
caminhu
camiî
S4FEM
picada barrida
picada barrida
233
CAMPO SEMÂNTICO – VI – FAUNA
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
URUBU
Questão 66. ... ave preta que come animal morto, podre?
Marabá
urubu
S1MBE
Palestina
urubu
Marabá S2FBE
Palestina
Urubu
Marabá
Palestina
urubu Urubu
S3MEM
urubu
Marabá
Palestina
urubu
S4FEM
urubu
Questão 67. ... o passarinho bem pequeno, que bate muito rápido as asas, tem bico comprido e voa de flor em flor?
COLIBRI
S1MBE
beja - flô
beja - flô
S2FBE
beja - flô
beja - flô
S3MEM
beja – flô
beja - flô
S4FEM
beja - flô
beja - flô
Questão 68 ... a ave que faz o ninho com terra, nos postes, nas árvores e até nos cantos da casa?
JOÃO DE BARRO
S1MBE
juãu di barru
juãu di barru
S2FBE
NFR
NFR
S3MEM
juãu di barru
juãu di barru
S4FEM
juãu di barro
juãu di barro
Questão 69. ... a ave de criação parecida com a galinha, de penas pretas com pintinhas brancas?
GALINHA
D’ANGOLA
S1MBE
angulista / capoti
angulista
S2FBE
Angulista
angulista
S3MEM
guiné
guiné
S4FEM
Guiné
guiné
234
Questão 70. ... a ave do mato, de bico curvo e penas coloridas; quando presa, pode aprender a falar
PAPAGAIO
S1MBE
Papagai
papagai
S2FBE
Papagaiu
papagaiu
S3MEM
Papagai
papagai
S4FEM
Papagaiu
S2FBE
Sura
sura
S3MEM
suru
suru
S4FEM
suru
suru
S2FBE
cotó
cotó
S3MEM
sem rabu
sem rabu
S4FEM
Rabicó
rabicó
papagaiu
Questão 71. ... uma galinha sem rabo?
SURA
S1MBE
sura
sura
Questão 72. ... um cachorro de rabo cortado?
COTÓ
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
GAMBÁ
S1MBE
bicó
bicó
Questão 73. ... o bicho que carrega os filhotes numa bolsa que tem na barriga e solta um cheiro muito ruim?
Marabá
gambá
S1MBE
Palestina
gambá
Marabá S2FBE
Marabá
gambá
gambá gambá
S3MEM
gambá
Marabá
gambá
S4FEM
gambá
Questão 74. ... as patas dianteiras do cavalo?
PATAS
DIANTEIRAS
DO CAVALO
S1MBE
mãu du cavalu
mãu du cavalu
S2FBE
pé du cavalu
pé du cavalu
Questão 75. ... o cabelo em cima do pescoço do cavalo?
CRINA DO
PESCOÇO
S3MEM
patas dianteiras
S4FEM
patas dianteiras
mãus du cavalu mãus du cavalu
235
S1MBE
quilina
quilina
S2FBE
quilina
quilina
S3MEM
cabelu du cavalu cabelu du cavalu
S4FEM
quilina
S3MEM
S4FEM
quilina
Questão 76. ... o cabelo comprido na traseira do cavalo?
S1MBE
CRINA DA CAUDA
rabu
rabu
S2FBE
rabu du cavalu
rabu du cavalu
rabu
rabu
rabu du cavalu
rabu du cavalu
Questão 77. ... a parte do cavalo onde vai a sela?
S1MBE
LOMBO
costa du cavalu
costa du cavalu
S2FBE
costa du cavalu
S3MEM
S4FEM
rabu du cavalu
lombu
lombu
pelu du cavalu
S3MEM
Trasera
trasera
S4FEM
trasera
trasera
S3MEM
chifu chifri
chifri
S4FEM
chifri
chifri
NFR
Marabá
Palestina
tronchu
pelu du cavalu
Questão 78. ... a parte larga atrás do __________ (cf. item 77)?
ANCA
S1MBE
trasera
trasera
S2FBE
garupa
garupa
Questão 79. O que o boi tem na cabeça?
CHIFRE
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
UM SÓ CHIFRE
S1MBE
chifi
S2FBE
chifi chifu
Questão 80. O animal que tem um só __________ (cf. item 79) porque o outro não nasceu?
Marabá
NR
S1MBE
Palestina
NFR
Marabá S2FBE
Palestina
tronchu
tronchu
Marabá
Palestina
NFR
S3MEM
Questão 81. ... a cabra que não tem __________ (cf. item 79)
CABRA SEM
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
S4FEM
tronchu
236
CHIFRE
Moxa
moxa moxa
moxa
NFR
NFR
moxa
moxa
S2FBE
moxu
moxu
S3MEM
NFR
NFR
S4FEM
Moxu
moxu
S2FBE
ubru
ubru
S3MEM
peitu
peitu
S4FEM
ubru
ubru
rabu
S3MEM
orelha / rabu
S4FEM
rabu rabu
rabu
S4FEM
mancu
caxingandu
S4FEM
mosca di privada varejera
varijera
Questão 82. ... o boi sem __________ (cf. item 79)
BOI SEM CHIFRE
S1MBE
moxu
moxu
Questão 83. ... a parte da vaca onde fica o leite?
ÚBERE
S1MBE
ubri
ubri
Questão 84. ... a parte com que o boi espanta as moscas?
RABO
S1MBE
rabu
rabu
S2FBE
Rabu
Questão 85. ... o animal que tem a perna mais curta e que puxa uma perna?
MANCO
S1MBE
alejadu
mancu
S2FBE
coxo / mancu
S3MEM
coxó mancu
mancu
Questão 86. ... um tipo de mosca grande, esverdeada, que faz um barulhão quando voa?
MOSCA
VAREJEIRA
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
SANGUESSUGA
S1MBE
varijera
mosca azul
S2FBE
varijera
mutuca
S3MEM
varejera
Questão 87. ... um bichinho que se gruda nas pernas das pessoas quando elas entram num banhado ou córrego??
Marabá
Chamixuga
S1MBE
Palestina
chamixuga
Marabá S2FBE
Palestina
chamixuga chamixuga
Marabá
S3MEM
Palestina
Sanguissuga
sanguissuga
Marabá
S4FEM
Palestina
Chamixuga
chamixuga
237
Questão 88. ... o inseto de corpo comprido e fino, com quatro asas bem transparentes, que voa e bate a parte traseira na água?
LIBELULA
S1MBE
corta água
cambitu
S2FBE
cambitu
cambitu
S3MEM
cambitu
cambitu
S4FEM
cambitu
cambitu
Questão 89. ... aquele bichinho branco, enrugadinho, que dá em goiaba, em coco?
BICHO DE
FRUTA
S1MBE
bichiî da goiaba
bichu da goiaba
S2FBE
bichu da gaiaba
S3MEM
bichu da goiaba bichu da goiaba
da gaiaba
Questão 90. ... aquele bicho que dá em esterco, embichu
pau podre?
S1MBE
CORÓ
Congu
bichu da goiaba
S2FBE
broca
micobri
S4FEM
bichu da goiaba
S3MEM
broca
Congu
S4FEM
cupim
cupiî
cupim
Questão 91. ... aquele inseto pequeno, de perninhas compridas, que canta no ouvido das pessoas, de noite? (imitar o zumbido)
PERNILONGO
S1MBE
murissoca
murissoca
S2FBE
murissoca
murissoca
S3MEM
carapanã
murissoca
S4FEM
murissoca
murissoca
238
239
240
CAMPO SEMÂNTICO – VII – COPRPO HUMANO
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
PÁLPEBRAS
Questão 92. ... esta parte que cobre o olho? (apontar)
Marabá
capela du oi
S1MBE
Palestina
pestana
Marabá S2FBE
Pestana
capela du oi
Marabá
Páupebra
S3MEM
S2FBE
pé – du – ovido
fonti
S3MEM
Lombu
fonti
S4FEM
Fonti
fonti
gogó
S3MEM
Gogó
gogó
S4FEM
Gogó
gogó
pestana
Marabá
Páupebra
S4FEM
pestana
Questão 93. ... isto? (apontar)
NUCA
S1MBE
Cangoti
fonti
Questão 94. ... esta parte alta do pescoço do homem? (apontar)
POMO DE ADÃO
S1MBE
Gogó
gogó
S2FBE
Gogó
Questão 95. ... o osso que vai do pescoço até o ombro? (apontar)
CLAVÍCULA
S1MBE
Cantarera
calvica
S2FBE
Cravícula
cantarera
S3MEM
Cavícula
cravícula
S4FEM
Sabonetera
cavícula
Questão 96. ... a parte do corpo da mulher com que ela amamenta os filhos?
SEIOS
ÚTERO
S1MBE
Peitu
peitu
S2FBE
Peitu
peitu
S3MEM
Peitu
Questão 97. ... parte do corpo da mãe onde fica o nenê/bebê antes de nascer?
seius
S4FEM
Seius
seius
241
S1MBE
Utru
ventru
S2FBE
Barriga
S3MEM
buxu barriga
S4FEM
úteru Ventri
S3MEM
S4FEM
ventri
Questão 98. ... isto? (apontar)
S1MBE
CALCANHAR
Carcanhá
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 99. ... isto? (apontar)
Marabá
TORNEZÊLO
Canela
carcanhá
S1MBE
Palestina
regetu
S2FBE
Regetu
caucanhá
Caucanhá
Marabá S2FBE
Palestina
batata da perna
Marabá
Palestina
Panturrilha
caucanhá
caucanhá
tornozelu
Marabá
Palestina
canela
S3MEM
caucanhá
S4FEM
tornozelu
ôssu
gostosu
Questão 100. ... o osso redondo que fica na frente do
joelho?
S1MBE
RÓTULA
Juei
S2FBE
bola du juelhu
S3MEM
bulacha cabeça du juei
juelhu
S4FEM
bulacha du juei
rótula
NFR
Questão 101. Que sente uma criança quando se passa o dedo na sola do pé?
CÓCEGAS
S1MBE
Cosca
S2FBE
cosca
cosca
S3MEM
Cosca
cósega
S4FEM
Coscas
cosca
S2FBE
presa Presa
presa
S3MEM
Presa
presa
S4FEM
caninu
presa
cosca
Questão 102. ... esses dois dentes pontudos?
DENTES
CANINOS
S1MBE
presa
Questão 103. ... os últimos dentes, que nasce quando a pessoa já é adulta?
DENTES DO
242
SISO
S1MBE
quexau
denti queru
S2FBE
Dentiqueru denti queru
S3MEM
denti di insisu
S4FEM
denti queru NFR denti
queru
Questão 104. ... esses dentes grandes no fundo da boca, vizinhos dos __________ (cf. item 103)?
DENTES
MOLARES
S1MBE
Quexau
quexau
S2FBE
quexau
quexau
S3MEM
panela
quexau
S4FEM
molares
quexau
Questão105. ... a pessoa que não tem dentes?
DESDENTADO
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
FANHOSO
S1MBE
banguelu
boca muxa
S2FBE
Banguelu
S3MEM
disdentadu banguelu
banguela
S4FEM
Banguelas
banguelu
Questão 106. ... a pessoa que parece falar pelo nariz? (imitar)
Marabá
fainhosu
S1MBE
Palestina
foeî
Marabá S2FBE
Palestina
Fanhosu
Marabá
Palestina
foeî Fuêi
S3MEM
Marabá
foeî Palestina
foêi
S4FEM
foeî
Questão 107. ... alguma coisa que cai no olho e fica incomodando?
CISCO
S1MBE
ciscu
algueru
S2FBE
broca / musquitu ciscu
S3MEM
ciscu
ciscu
S4FEM
Ciscu
ciscu
S4FEM
caolhu
cegu du olhu
Questão 108. ... a pessoa que tem só um olho?
CEGO DE UM
OLHO
VESGO
S1MBE
Caôi
S2FBE
S3MEM
caôi/cegueta/galu cegu
caolhu
caolhu
caôio
Questão 109. ... a pessoa que tem os olhos olhando em direção diferentes? (completar com um gesto dos dedos)
S1MBE
caôio
S2FBE
S3MEM
S4FEM
243
zanôi
zanôiu
Zanôi
zanôiu
vesga / ligação invertida
zanôiu zanôi / zaroi / vesgu
zanôiu
Questão 110. ... a pessoa que não enxerga longe, e tem que usar óculos?
MÍOPE
S1MBE
míupi
curtu da vista
S2FBE
míupi
vista curta
S3MEM
Míupi
S4FEM
ruim das vista Míupi
ruim das vista
Questão 111. ... a bolinha que nasce na __________ (cf. item 92), fica vermelha e incha?
TERSOL
S1MBE
trêis sou
CONJUTIVITE
S1MBE
dordói
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
S2FBE
S3MEM
Tersou / caui trêis
tersou
sou o olho fique vermelho e amanheça grudado?
Questão 112. ... a inflamação no olho que faz com que
dordói
S2FBE
dordói
S3MEM
dordói conjutivi
tersou
sapatãu
S4FEM
tersou
trêis sou
S4FEM
conjutiviti
sapatãu
Questão 113. ... aquela pele branca no olho que dá em gente velha?
Marabá
CATARATA
trêis sou
cataraca
S1MBE
Palestina
catarata
Marabá S2FBE
Palestina
carni cricida
Marabá
S3MEM
Marabá
Palestina
Palestina
avelidi carni cricida / piterúgenu catarata catarata
S4FEM
catarata
Questão 114. ... este barulhinho que se faz? (soluçar)
SOLUÇO
S1MBE
soluçu
soluçu
S2FBE
soluçu
S3MEM
soluçu Soluçu
S4FEM
Soluçu
soluçu
S4FEM
cataraca bustela
cataraca
soluçu
Questão 115. ... a sujeirinha dura que se tira do nariz com o dedo?
MELECA
S1MBE
Cataraca
cataraca
S2FBE
cataraca
cataraca
S3MEM
meleca
244
Questão 116. ... a pessoa que tem um calombo grande nas costas e fica assim? (mímica)
CORCUNDA
S1MBE
cocundu / sanfona
lumbin
S2FBE
cacunda
S3MEM
lombin corcundu
cocunda
S4FEM
Cacunda
cacundu
Questão 117. ... a pessoa que come com a mão esquerda, faz tudo com essa mão? (completa com o gesto)
CANHOTO
S1MBE
canhotu
canhotu
S2FBE
canhotu
canhotu
S3MEM
canhota
canhotu
S4FEM
canhotu
canhotu
S2FBE
quetequi
coxó
S3MEM
alejadu
alejadu da perna
S4FEM
perneta
NFR
Questão 118. ... a pessoa que não tem uma perna?
PERNETA
S1MBE
Saci
coxó
Questão 119. ... a pessoa que puxa de uma perna?
S1MBE
S2FBE
MANCO
cochu/aqui ta rasu, aqui tá fundu
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 120. ... a pessoa das pernas curvas para os lados?
PESSOA DE
PERNAS
ARQUEADAS
Marabá
S1MBE
perna di cangaia
mancu
aqui tá fundu, aqui tá
rasu/mancu/perneta
mancu
Palestina
cambota
Marabá S2FBE
Palestina
perna di cangaia
cambota
S3MEM
aqui tá fundu, aqui tá rasu /
mancu
S4FEM
mancu
mancu
Marabá
S3MEM
Palestina
perna di alicati
cambota
caxinganu
Marabá
S4FEM
Palestina
cambota / perna di alicati
cambota
Questão 121. ... esta parte aqui?
AXILA
S1MBE
Suvacu
suvaquera
S2FBE
Suvacu
suvacu
S3MEM
Suvacu
suvacu
S4FEM
aquissilas
suvacu
245
Questão 122. ... o mau cheiro embaixo dos braço?
CHEIRO NAS
AXILAS
S1MBE
Suvaquera
inhaca di gambá
S2FBE
deriba boi
inhaca
S3MEM
Suvaquera
catinga nu suvacu
S4FEM
Inhaca
inhaca
Questão 123. Se uma pessoa come muito e sente que vai por/botar para fora o que comeu, se diz que vai o quê?
VOMITAR
S1MBE
Vumitá
lançá
S2FBE
Vomitá
provocá
S3MEM
Vomitá
S4FEM
vomitá vomitá / baudiá
CAMPO SEMÂNTICO – VIII – CONVÍVIO E COMPORTAMENTO SOCIAL
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
PESSOA
TAGARELA
Questão 124. ... a pessoa que fala demais?
Marabá
faladô
S1MBE
Palestina
Marabá S2FBE
Palestina
linguarudu
Marabá
Palestina
faladera
S3MEM
Marabá
Palestina
tagarela
Questão 125. ... a pessoa que tem dificuldade de aprender as coisa?
PESSOA PUCO
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
S4FEM
baudiá
246
INTELIGENTE
burru
buru
burru
buru
Questão 126. ... a pessoa que não gosta de gastar seu dinheiro, e às vezes, até passa dificuldades para não gastar?
PESSOA SOVINA
S1MBE
pãu duru
S2FBE
nonô correa
S3MEM
mãu di vaca
S4FEM
mãu di vaca
S3MEM
velhaca
S4FEM
veacu
S3MEM
pistoleru
S4FEM
pistoleru
Questão 127. ... a pessoa que deixa suas contas penduradas?
MAU PAGADOR
S1MBE
veacu
S2FBE
veacu
Questão 128. ... a pessoa que é paga para matar alguém?
ASSASSINO
PAGO
S1MBE
pistoleru
S2FBE
pistoleru
Questão 129. ... a pessoa que mora e trabalha para si nas terras de outra pessoa?
POSSEIRO
S1MBE
grileru
S2FBE
roceru
S3MEM
grileru
S4FEM
sêi terra
247
CAMPO SEMÂNTICO – IX – CICLOS DA VIDA
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 130. As mulheres perdem sangue todos os meses. Como se chama isso?
Marabá
MESNTRUAÇÃO
S1MBE
mulhé tá di bodi / mestruação
Palestina
menstruada
Marabá S2FBE
Misntruação
mestruação
Marabá
S3MEM
mestruação / ficá di bodi
mestruada
Marabá
S4FEM
Menstruação
minstruação
Questão 131. Numa certa idade acaba a/o __________ (cf. item 130). Quando isso acontece, se diz que a mulher __________ .
S1MBE
ENTRAR NA
MENOPAUSA
Menopausa
cabô a regra
S2FBE
amarandu u facãu
S3MEM
marrô u facãu
Menopausa
S4FEM
menopausa
Menopausa
menopausa
248
Questão 132. ... a mulher que ajuda a criança nascer?
PARTEIRA
S1MBE
Partera
S2FBE
partera Partera
partera
S3MEM
Partera
partera
S4FEM
Partera
partera
Questão 133. Chama-se a __________ (cf. item 132) quando a mulher está para __________?
S1MBE
DAR À LUZ
ganhá mininu
ganhá neneiî
S2FBE
dá luiz a criança
S3MEM
prá ganhá criança
tá prá pari
S4FEM
parí
tá pra
parí
Questão 134. ... duas crianças que nasceram no mesmo parto?
GÊMEOS
S1MBE
Gêmiu
gemis
S2FBE
Gêmius
gemis
S3MEM
Gêemius
gêmius
S4FEM
Gêmius
gêmius
abortu
S4FEM
Abortu
abortu
abortá
S4FEM
perdê u mininu
abortá
Questão 135. ... Quando a mulher grávida perde o filho, se diz que ela teve __________ .
ABORTO
S1MBE
Abortu
perdeu u mininu
S2FBE
Aborto
abortu
S3MEM
Abortu
Questão 136. Quando a mulher fica grávida, mas não quer ter a criança, ela toma remédio para quê?
ABORTAR
S1MBE
Abortá
Tema proposto pelo
(QSL, 2001) – ALiB
S2FBE
Perdê matá a criança
S3MEM
Abortá
Questão 137. Quando a mãe não tem leite e outra mulher amamenta a criança , como chamam essa mulher?
Marabá
AMA-DE-LEITE
matá u mininu
mãi di leiti
S1MBE
Palestina
mãi di leiti
Marabá S2FBE
Palestina
mãi di leiti mãi di leiti
Marabá
Palestina
mãi di leiti
S3MEM
Marabá
S4FEM
Palestina
NFR mãi di leiti
mãi di leiti
249
Questão 138. O próprio filho da __________ (cf. item 137) e a criança que ela amamenta são o que um do outro?
S1MBE
IRMÃO DE LEITE
irmãu di leiti
primus irmãu
S2FBE
irmãu di leiti
S3MEM
irmãu di leiti
irmãu di leiti
S4FEM
NFR
irmãu di leiti
irmãu di leiti
Questão 139. ... a criança que não é filho verdadeiro do casal, mas que é criado por ele como se fosse?
S1MBE
FILHO ADOTIVO
Adotivu
filhu adotivu
S2FBE
di criaçãu / adotadu /
adotivu
S3MEM
S4FEM
Adotivu
adotivu Adotivu
adotivu
Questão 140. ... o filho que nasceu por último?
FILHO MAIS NOVO
S1MBE
Caçula
S2FBE
caçula Caçula
caçula
S3MEM
Caçula
caçula
S4FEM
Caçula
caçula
garotu
S3MEM
Pirralhu
pixoti
S4FEM
Garotu
mininu
S3MEM
moçota Pirralha
moçinha
S4FEM
Garotinha
minina
Questão 141. ... a criança de 05 a 10 anos, do sexo masculino?
MENINO
S1MBE
Rapaiziî
mulequi
S2FBE
Nenêi
Questão142. E se for do sexo feminino, como se chama?
MENINA
S1MBE
Mocinha
garotinha
S2FBE
Neném
Questão 143. ... a pessoa que acompanha uma moça quando ela sai com o namorado?
ACOMPANHANTE
DOS NAMORADOS
S1MBE
Ispiãu
S2FBE
vigia Fiscau
vigia
S3MEM
pasteu / sigura vela
sigura vela
S4FEM
cendi vela / vendi pasteu
250
sigura vela
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
MARIDO
ENGANADO
Questão 144. ... o marido que a mulher passa para trás com oro homem?
Marabá
S1MBE
Cornãu
Palestina
boi
Marabá S2FBE
Palestina
aruá / rei du busu cornu
Marabá
Palestina
Chifrudu
S3MEM
cornu
Marabá
Palestina
Cornu
S4FEM
chifrudu
Questão 145. ... a mulher que se vende para qualquer homem?
S1MBE
PROSTITUTA
garota di programa
rapariga
S2FBE
quenga / chifrera /
galinha / rapariga
/safada
S3MEM
puta
Rapariga
S4FEM
vadia
prostituta / garota di programa
prostituta
Questão 146. Numa conversa, para falar de uma pessoa que já morreu, geralmente as pessoas não a trata pelo nome que tinha em vida. Como é
que se refere a ela?
DEFUNTO
S1MBE
Finadu
finadu
S2FBE
Falecida
finadu
S3MEM
Finadu
S4FEM
finadu Difuntu
finadu
Questão 147. Quando um homem fica viúvo e casa de novo, o que a segunda mulher é dos filhos que ele já tinha?
S1MBE
MADRASTA
Madrasta
S2FBE
madrasta
Madrasta
madrasta
S3MEM
Madrasta
madrasta
S4FEM
Madrasta
madrasta
Questão 148. ... a pessoa que tem o mesmo nome da gente?
XARÁ
S1MBE
Xará
xarapin
S2FBE
Xará
xarapin
S3MEM
Xará
xará
S4FEM
Xará
xará
251
252
CAMPO SEMÂNTICO – X – RELIGIÕES E CRENÇAS
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 149. Deus está no céu e no inferno está ___________ .
Marabá
DIABO
diabu
S1MBE
Palestina
diabu
Marabá S2FBE
Palestina
Demoî
cãu
Marabá
Palestina
Diabu
S3MEM
S4FEM
diabu
Diabu
Diabu
Questão 150. O que algumas pessoas dizem já ter visto, à noite, em cemitérios ou em casas, que se diz que é do outro mundo?
FANTASMA
FEITIÇO
S1MBE
Fantasma
S2FBE
auma Visagu
S3MEM
auma Visagi
visagem
Questão 151. O que certas pessoas fazem, botam, por exemplo, nas encruzilhadas, para prejudicar alguém?
S4FEM
Assombração
auma
253
S1MBE
Dispachu
feitiçu
S2FBE
Macumba
feitiçu
S3MEM
Macumba
S4FEM
NFR Macumba
macumba
Questão 152. ... o objeto que algumas pessoas usam para dar sorte ou afastar males?
AMULETO
S1MBE
Simpatia
S2FBE
NFR Amuletu
NFR
S3MEM
Simpatia
amuletu
S4FEM
Talismã
rezadera
S4FEM
Rezadera
muletu
Questão 153. ... uma mulher que cura, tira o mau olhado através de rezas e simpatias?
BENZEDEIRA
S1MBE
rezadera / curandera
terecozera
S2FBE
Benzedera
S3MEM
ciantista Curandera
benzedera
Questão 154. E se for homem?
BENZEDOR
S1MBE
Curanderu
S2FBE
terecozeru Benzedô
ciantista
S3MEM
Curanderu
rezadô
S4FEM
benzedô / rezado
benzedô
Questão 155. ... a pessoa que trata de doenças através de ervas e plantas?
CURANDEIRO
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
MEDALHA
PRESÉPIO
S1MBE
Pageleru
ciantista
S2FBE
Curanderu
raizeru
S3MEM
Curanderu
curadera
S4FEM
Curandera
curandero
Questão 156. ... a chapinha de metal com um desenho de santo que as pessoas usam, geralmente no pescoço, presa numa corrente?
Marabá
Medalhina
S1MBE
Palestina
medalha
Marabá S2FBE
Palestina
Medalha
cauçufissu
Marabá
Palestina
Pingenti
S3MEM
pingenti
Marabá
S4FEM
Palestina
medalha / pingenti
Questão 157. No natal, monta-se um grupo de figuras representando a Virgem Maria, São José, o Menino Jesus etc. Como chamam isso?
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
pingenti
254
Presépiu
presépiu
Presépiu
andô NFR
NFR
Presépiu
presépiu
255
256
CAMPO SEMÂNTICO – XI – FESTAS E DIVERTIMENTOS
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Sigla
s
S=
suj
eit
o
Questão 158. ... a brincadeira em que se gira o corpo sobre a cabeça e acaba sentado? (mímica)
1 = númeroMarabá
identificador do sujeito
BOLINHA DE
GUDE
S1MBE
sautu mortau
Palestina
Marabá S2FBE
Palestina
tiuba Carambela
Marabá
S3MEM
Palestina
tiuba Cambalhota
virá carambola
Marabá
S4FEM
Palestina
Cambaiota
carambola
Questão 159. ... as coisinhas redondas de vidro com que os meninos gostam de brincar?
S1MBE
Peteca
peteca
S2FBE
Peteca
S3MEM
peteca Peteca
peteca
S4FEM
Peteca
peteca
Questão 160. ... o brinquedo feito de uma forquilha e duas tiras de borracha (mímica), que os meninos usam para matar passarinho?
ESTILINGUE
S1MBE
Baladera
badogui
S2FBE
Baladera
baladera
S3MEM
Baladera
baladera
S4FEM
Baladera
baladera
S4FEM
pipa/papagaiu
papagaiu
Questão 161. ... o brinquedo feito de varetas cobertas de papel que se empina no vento por meio de uma linha?
PAPAGAIO DE
PAPEL
S1MBE
papagai/curica/guinadera
papagaiu
S2FBE
Pipa
papagaiu
S3MEM
Papagaiu
papagaiu
257
Questão 162. ... o brinquedo de papel sem varetas que se empina no vento por meio de uma linha?
PIPA
S1MBE
Bermudãu
papagaiu
S2FBE
Papagai
S3MEM
pipa Pipa
papagaiu
S4FEM
Pipa /
papagaiu
Questão 163. ... a brincadeira que uma criança fecha os olhos, enquanto as outras se escondem em algum lugar, e depois vai procurá-las?
ESCONDEESCONDE
S1MBE
cobra cega
indurina
S2FBE
Podri
indurina
S3MEM
iscondi iscondi
duiscondi
S4FEM
iscondi iscondi
cobra cega
S4FEM
cobra cega
sisconda
Questão 164. ... a brincadeira em que uma criança, com olhos vendados, tenta pegar as outras?
CABRA-CEGA
ema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
PEGA-PEGA
S1MBE
NFR
S2FBE
cobra cega cobra cega
cobra cega
S3MEM
cobra cega
cobra cega
Questão 165. ... uma brincadeira em que uma criança corre atrás das outras para tocar numa delas antes que alcance um ponto combinado?
Marabá
S1MBE
Palestina
Palestina
Trisca
Palestina
NFR
Marabá S2FBE
Palestina
Coladu
NFR
S2FBE
posti/paredi
Marabá
Palestina
cola pega
pega
S3MEM
garrafãu
Marabá
Palestina
Trisca
mancha
S4FEM
NFR
S4FEM
birita
Questão 166. ... esse ponto conbinado?
FERROLHO
S1MBE
Mancha
mancha
S3MEM
Banderinha
mancha
Questão 167. ... uma brincadeira em que as crianças ficam em círculo, enquanto outra vai passando com um objeto que deixa cair atrás de uma
delas e esta pega o objeto e sai correndo?
CHICOTEQUEIMADO/SILÊ
NCIO
ATRÁS/GATO E
RATO
S1MBE
NFR
NFR
S2FBE
cumpadi malaquia
cobra laquixia
S3MEM
NFR
NFR
S4FEM
NFR
NFR
258
Questão 168. ... uma tábua apoiada no meio, em cujas pontas sentam duas crianças e quando uma sobe, a outra desce? (mímica)
GANGORRA
S1MBE
Cangorra
gangorra
S2FBE
Gangorra
S3MEM
gangorra Gangorra
gangorra
S4FEM
Gangorra
gangorra
Questão 169. ... uma tábua, perdurada por meio de cordas, onde uma criança senta e se move para frente e para trás?
S1MBE
BALANÇO
S2FBE
Trapéis
balançu
balançu
balançadô
S3MEM
balançu / cadera de embalu
balançu
S4FEM
balançadô
Balançu
Questão 170. ... a brincadeira em que as crianças riscam uma figura no chão, formada por quadrados numerados, jogam uma pedrinha (mímica) e
vão pulando com uma perna só? (solicitar a descrição)
AMARELINHA
S1MBE
macacu
NFR
S2FBE
Macacu
cancãu
S3MEM
Macacu
cancãu
S4FEM
Amarelinha
cancãu
Questão 171. ... a pessoa que rouba no jogo?
PESSOA QUE
AGE COM
DESONESTIDA
DE NO JOGO
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
PESSOA QUE
TEM SORTE NO
JOGO
PESSOA SEM
SORTE NO
S1MBE
S2FBE
Pilantra
mãu ligera
Ladraãu
S3MEM
treiteru
S4FEM
Desonesta
ladrãu
Trapassera
ladrãu
Questão 172. ... a pessoa que tem sorte no jogo?
Marabá
S1MBE
fulana qui dá sorti nu jogu
Palestina
sortista
Marabá S2FBE
Palestina
Sortudu
Marabá
Palestina
sortista
Sortudu
S3MEM
Marabá
Palestina
sortuda
Sortudu
Questão 173. ... a pessoa que não tem sorte no jogo?
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
S4FEM
sortudu
259
JOGO
pessoa qui dá azá
sem sorti Azaradu
sem sorti
Azarada azarentu
Azaradu
azaradu
S3MEM
Craqui
S4FEM
fera Artilheu
artileru
S2FBE
perna di pau
S3MEM
S4FEM
ruim jogadô
ruim/ perna de pau perna de pau
perna di pau
perna di pau
S2FBE
bom di perna dançadera
S3MEM
Dançarinu
S4FEM
pé di vaussa
boa di salãu
Questão 174. ... a pessoa que joga bem? [Pelé foi o quê?]
BOM JOGADOR
S1MBE
Craqui
S2FBE
artista rei/bom di bola
rê
Questão 175. ... a pessoa que joga mau?
S1MBE
MAU JOGADOR
perna dura
ruim jogadô
Questão 176. ... a pessoa que dança muito bem?
PESSOA QUE
DANÇA MUITO
BEM
S1MBE
Dançarinu
dançarina
dança muitu bem
260
261
CAMPO SEMÂNTICO – XII – HABITAÇÃO
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 177. ... aquela pecinha de madeira, que gira ao redor de um prego, para fechar a porta, janela ...?
Marabá
TRAMELA
Tramela
S1MBE
Palestina
tramela
Marabá S2FBE
Marabá
Palestina
Palestina
Tramela
tramela Tramela
S3MEM
Marabá
tramela Palestina
Tranca
S4FEM
tramela
Questão 178. Quando uma janela tem duas partes, como se chama a parte de fora que é formada de tirinhas horizontais que permitem a ventilação
e a claridade? (mostrar gravura)
VENEZIANA /
TAMPO
S1MBE
Iscama
NFR
S2FBE
cansela
janeziana
S3MEM
Gradeadu
NFR
S4FEM
NFR
NFR
S4FEM
mancha di fumaça
NFR
Questão 179. ... aquilo, preto que se forma no chaminé, na parede ou no teto da cozinha, acima do fogão a lenha?
FULIGEM
S1MBE
NFR
pucumã
S2FBE
fumacê
pucumã
S3MEM
NFR
cinza
boi di fogu
S3MEM
Isqueru
isqueru
Questão 180. Para acender o cigarro, eu uso fósforo ou ________ .
ISQUEIRO
S1MBE
Isqueru
isqueru
S2FBE
Isqueru
S4FEM
Isqueru
Questão 181. ... aquele objeto que se usa para clarear no escuro e se leva na mão assim? (apontar)
LANTERNA
S1MBE
S2FBE
S3MEM
S4FEM
isqueru
262
Lanterna
lanterna Lanterna
lantarina lamparina/lanterna
lanterna
Lanterna
lanterna
Questão 182. ... a cinza quente que fica dentro do fogão a lenha?
BORRALHO
S1MBE
Burralhu
S2FBE
cinza Burrai
CAMPO SEMÂNTICO – XIII – ALIMENTAÇÃO E COZINHA
cinza
S3MEM
Cinza
cinza
S4FEM
Cinza
NFR
263
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
CARNE MOÍDA
Questão 183. ... a carne depois de passada na máquina?
Marabá
carni muída
S1MBE
Palestina
muída
Marabá S2FBE
boi raladu
muída
Marabá
S3MEM
carni muída
muída
Marabá
muída
S4FEM
muída
Questão184. ... Quando uma pessoa acha que comeu demais, ela diz: comi tanto que estou __________ .
EMPANTURRADO(A)/CHEIO( S1MBE
A)
Anciosu
S2FBE
buxu inxadu Chea
oufandu
S3MEM
Impapuçada
cheiu
S4FEM
chea / satisfeita
barriga chea
Questão 185. ... uma pessoa que normalmente come demais?
GLUTÃO
S1MBE
Gulosu
isgulamidu
S2FBE
Gulosu
S3MEM
cumilãu/
gulosu mortu di fomi
S3MEM
bebu Bêbadu
beberãu
S4FEM
Bêebada
cachaceru
S3MEM
Porronca
porronca
S4FEM
Porronca
porronca
S3MEM
bagana Bagana
pitocu
golosu
S4FEM
Gulosa
mortu di fomi
Questão 186. Que nomes dão a uma pessoa que bebeu demais?
BÊBADO
(DESIGNAÇÕES)
S1MBE
chea du’aucu
pingunçu
S2FBE
Beberãu
Questão 187. Que nomes dão ao cigarro feito pela própria pessoa , enrolado à mão?
CIGARRO DE
PALHA
S1MBE
Porronca
porronca
S2FBE
Porronca
porronca
Questão 188. ... o resto do cigarro que se joga fora?
TOCO DE
CIGARRO
S1MBE
Bagana
tocu
S2FBE
Bagana
Questão 189. Que nomes dão aqui para bebida alcoólica feita de cana-de-açúcar?
S4FEM
Bagana
pitocu
264
S1MBE
S3MEM
caninha da roça
Pinga
S4FEM
AGUARDENTE
dosi/birita/cachaça
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
Questão 190. ... um lugar pequeno, com um balcão, onde homens costumam ir beber __________ (cf. item 189) e onde também se pode comprar
alguma outra coisa?
Marabá
BODEGA
S1MBE
Butecu
cachaça sertaneja
S2FBE
Gingibira
Palestina
mercearia
Marabá S2FBE
Palestina
Quitanda
butequi
NFR
Marabá
Palestina
Merciaria
S3MEM
Marabá
sutiã
S3MEM
cachaça/pinga
Marabá
S4FEM
Palestina
butecu bar mercearia
NFR
botequi
CAMPO SEMÂNTICO – XIV – VESTIÁRIO
Tema proposto
pelo (QSL, 2001)
– ALiB
SUTIÃ
Questão 191. Que peça do vestiário serve para segurar os seios?
Marabá
porta sei
S1MBE
Palestina
sutiãu
Marabá S2FBE
corpeti
corpeti
sutiã
Marabá
Sutiã
S4FEM
sutiã
Questão 192. Que roupa o homem usa debaixo da calça?
CUECA
S1MBE
cueca
cilora
S2FBE
cueca
cueca
S3MEM
cueca
cueca
S4FEM
Cueca
cueca
Questão 193. Que roupa a mulher usa debaixo da saia?
CALCINHA
ROUGE
S1MBE
caucinha
S2FBE
S3MEM
caucinha/
caçola caucinha
Questão 194. ... aquilo que as mulheres passam no biquim
rosto, nas bochechas, para ficarem rosadas?
biquim
caucinha
S4FEM
Caucinha
caucinha
265
S1MBE
Rugi
rugi
S2FBE
Rugi
S3MEM
rugi Taucu NFR
S4FEM
Blanchi
pó compaquitu
Questão 195. ... um objeto fino de metal, para prender o cabelo? (mostrar)
GRAMPO (COM
PRESSÃO)
S1MBE
Grampu
prizilha
S2FBE
Pregado
grampu
S3MEM
Piranha
prizilha
S4FEM
grampu di cabelu
S3MEM
grampu/prizia
S4FEM
piranha Prisilha
prendedor
Questão 196. ... um objeto de metal, para prender o cabelo? (mostrar)
GRAMPO (SEM
PRESSÃO)
S1MBE
Prisia
grampu
S2FBE
Prisilha
prizilha
grampu
266
267
1.
NOME OFICIAL
268
2.
NOME REGIONAL
3.
a)
NOME(S) DADO (S) AOS HABITANTES
Pelos próprios habitantes
b)
Pelos habitantes de outras localidades
4. NÚMEROS DE HABITANTES
a)
b)
Oficial: aproximadamente
Cálculo do sujeito aproximadamente
5. ATIVIDADES ECONÔMICAS PREDOMINANTES
6. INDÚSTRIAS CASEIRAS
7. SUBLOCALIDADES
8. COMUNICAÇÕES: (viárias, fluviais, marítimas, ferroviárias, etc.)
Acesso por carro, ônibus e barcos
9. DADOS SOBRE A INFRAESTRUTURA DA LOCALIDADE (alojamentos, escolas hospitais, etc.)
10. DADOS SOBRE EMIGRAÇÃO
269
11. DADOS SOBRE IMIGRAÇÃO
12. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DA LOCALIDADE
13. HISTÓRICO SUCINTO DA LOCALIDADE (COMO SURGIU, DATA DA FUNDAÇÃO,
PRIMEIROS HABITANTES)
14. OBSERVAÇÕES GERAIS
270
A – Ficha da localidade
1.NOME COMPLETO:
2.ENDEREÇO:
3.NOME PELO QUAL É CONHECIDO:
4. SEXO: masculino (
)
feminino (
B – Ficha do sujeito
ALCUNHA:
)
DATA
12.
NATURALIDADE
DA APLICAÇÃO:
DO MARIDO OU DA MULHER:
5. IDADE:
anos
julga (diz) ter:
/Profissão:
Parece (calculo) ter:
LOCAL
13.
COMDA
QUE
ENTREVISTA:
IDADE CHEGOU A ESTE LUGAR? (caso pai, mãe ou esposa não seja daqui):
6. ESTADO CIVIL:
solteiro ( )
casado ( ) viúvo ( )
outro ( )
QUANTIDADE
14.
PROFISSÃO DO
DE FITAS:
SUJEITO:
7. LOCAL DE NASCIMENTO:
15. ONDE EXERCE:
8. JÁ VIAJOU: sim ( )
não (
Nº DAS FITAS
)
Para onde?:
Por quanto tempo?
16. SALÁRIO: menos de um salário mínimo ( )
mais de um salário mínimo (
9. DOMICÍLIOS E TEMPO DE PERMANÊNCIA FORA DA LOCALIDADE:
17.ESCOLARIDADE:
10.NATURALIDADE DO PAI:
18.CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS APARENTES: tímido (
11. NATURALIDADE DA MÃE:
19.RELIGIÃO
20.GRAU DE ESPONTANEIDADE DA FALA:
OBSERVAÇÕES:
ENTREVISTADOR:
)
/Profissão:
)
viúvo ( )
/Profissão:
sarcástico (
)
271
C – Questionário Semântico-Lexical (QSL: ALiB, 2001)
272
CAMPO SEMÂNTICO – I – ACIDENTES GEOGRÁFICOS
Questão 1. Como se chama aqui um rio pequeno, de uns dois metros de largura?
CÓRREGO
Questão 2.... tronco, pedaço PINGUELA o de pau ou tábua que serve para passar por cima de um ...
PINGUELA
Questão 3.... o lugar onde o rio termina ou encontra com outro rio?
FOZ
Questão 4. Muitas vezes, num rio, a água começa a girar, formando um buraco na água que puxa para baixo. Como se chama isto?
REDEMOINHO (DE ÁGUA)
Questão 5.... o movimento da água do rio? (imitar o balanço das águas)
ONDA DE RIO
Questão 6.... o movimento da água do mar? (imitar o balanço das águas)
ONDA DE MAR
Questão 7. Depois da chuva a terra fica _________?
273
TERRA UMEDECIDA PELA CHUVA
CAMPO SEMÂNTICO – II – FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS
Questão 8.... o vento que vai virando em roda e levanta poeira, folhas e outras coisas leves?
REDEMOINHO (DO VENTO)
Questão 9.... uma luz que risca o céu em dias de chuva?
RELÂMPAGO
Questão 10. ... uma luz forte e rápida que sai das nuvens, podendo queimar uma árvore, em dias de mau tempo?
RAIO
Questão 11. ... o barulho forte que se escuta logo depois de um __________ (cf. item 10)?
TROVÃO
Questão 12. ... uma chuva com vento forte que vem de repente, geralmente no verão?
TEMPORAL
Questão 13. Existem outros nomes para __________ (cf. item 12)
NOMES ESPECÍFICOS PARA TEMPORAL
Questão 14. ... uma chuva de pouca duração, muito forte e pesada?
TROMBA D’ÁGUA / PÉ D’ÁGUA
Questão 15. É uma chuva bem fininha?
GAROA
Questão 16. Durante uma chuva podem cair pedacinhos de gelo. Como chamam para isso?
CHUVA DE PEDRA
Questão 17. Quase sempre, depois de uma chuva, aparece no céu uma faixa com listras coloridas e curvas (mímica). Que nomes dão a essa faixa?
274
ARCO – ÍRIS
Questão 18. De manhã cedo, a grama geralmente está molhada. Como chama aquilo que molha a grama?
ORVALHO
Questão 19. Muitas vezes, principalmente de manhã cedo, quase não se pode enxergar por causa de uma coisa parecida com fumaça, que cobre tudo. Como chamam isso?
NEVOEIRO
Questão 20. Como dizem aqui quando termina a chuva e o sol começa a aparecer
ESTIAR / COMPOR O TEMPO
CAMPO SEMÂNTICO – III – ASTROS E TEMPO
Questão 21. O que é que acontece de manhã cedo?
NASCER DO SOL
Questão 22. E o que acontece no final da tarde?
PÔR DO SOL
Questão 23. ... a claridade do céu antes de __________ (cf. item 21)?
ALVORADA
Questão 24... a claridade que fica no céu depois do __________ (cf. item 22)?
CREPÚSCULO
Questão 25. De manhã cedo, uma estrela brilha mais e é a última a desaparecer. Como chamam esta estrela?
ESTRELA MATUTINA
Questão 26. De tardezinha, uma estrela aparece antes das outras, perto do horizonte, e brilha mais. Como chamam esta estrela?
ESTRELA VESPERTINA
Questão 27. De noite, muitas vezes pode – se observar uma estrela que se desloca no céu e faz um risco de luz. Como chamam isso?
ESTRELA CADENTE
275
Questão 28. Numa noite bem estrelada, aparece uma banda ou faixa que fica no céu de fora a fora, onde têm muitas estrelas muito perto uma das outras. Como chamam esta banda ou faixa?
VIA LÁCTEA
Questão 29. ... parte do dia quando começa a clarear?
AMANHECER
Questão 30. E quando o sol se põe __________ (cf. item 21)?
ENTARDECER
Questão 31. ... o começo da noite?
ANOITECER
Questão 32. Quais são os meses do ano?
MESES DO ANO
Questão 33. Alguns desses meses têm outro nome, por exemplo, junho, julho, etc.?
MESES COM NOMES ESPECIAIS
Questão 34. O dia passou? [o senhor já almoçou (ou jantou) hoje? Quando foi que almoçou (ou jantou) pela última vez?].
ONTEM
Questão 35 ... o dia que foi antes desse dia? [E um dia para trás?]
ANTEONTEM
Questão 36. ... o dia que foi antes de __________ (cf. item 35)? [E mais um dia para trás]
TRASANTEONTEM
CAMPO SEMÂNTICO – IV – FLORA
Questão 37. ... as frutas menores que a laranja, que se descascam com a mão, e, normalmente, deixam um cheiro na mão? Como elas são? (pedir para descrever)
TANGERINA / MEXERICA
Questão 38. ... o grão coberto por uma casquinha dura, que se come assado, cozido, torrado ou moído?
276
AMENDOIM
Questão 39. ... umas florzinhas brancas com miolo amarelinho, ou florzinhas secas que se compram na farmácia e servem para fazer um chá amarelinho, cheiroso, bom para dor de barriga de nenê/bebê e até também para acalmar?
(Mostrar)
CAMOMILA
Questão 40. ... cada parte que se corta do cacho da bananeira para pôr para madurar?
PENCA
Questão 41. ... duas bananas que nascem grudadas?
BANANA DUPLA
Questão 42. ... a ponta roxa no cacho da banana
PARTE FINAL DA INFLORESCIÊNCIA DA BANANEIRA
CAMPO SEMÂNTICO – V – ATIVIDADES AGROPASTORIS
Questão 43. O que é que se corta da planta, quando se colhe o milho?
ESPIGA
Questão 44. Quando se tira da __________ (cf. item 43) todos os grãos do milho, o que sobra?
SABUGO
Questão 45. Depois que se corta o pé de arroz ou de fumo, ainda que fica uma pequena parte no chão. Como se chama essa parte?
SOCA / TOUCEIRA
Questão 46. ... flor grande, amarela, redonda, com uma rodela de sementes no seio?
GIRASSOL
Questão 47. Onde é que ficam os grãos de feijão, no pé antes de ser colhido?
VAGEM DE FEIJÃO
Questão 48. Depois de colher e secar o feijão, alguns costumam bater com uma vara para soltar os grãos da __________ (cf. item 47) e a palha vai virando um pó. Como se chama esse pó da palha do feijão batido?
MOINHA
277
Questão 49. ... aquela raiz branca por dentro, coberto por uma casca marrom, que se cozinha para comer?
MANDIOCA / AIPIM
Questão 50. Tem um tipo de __________ (cf. item 49) que não serve para comer e se rala para fazer farinha (polvilho, goma). Como se chama essa raiz?
MANDIOCA
Questão 51. ... um veículo de uma só roda, empurrado por uma pessoa, para pequenas cargas em trechos curtos?
CARRINHO DE MÃO
Questão 52. ... as duas partes em que a pessoa segura para empurrar o __________ (cf. item 51)?
HASTES DO CARRINHO DE MÃO
Questão 53. ... a armação de madeira, em forma de forquilha (mímica), que se coloca no pescoço de animais (porco, terneiro/bezerro, carneiro, vaca) para não vararem a cerca?
CANGALHA
Questão 54. ... armação de madeira que se coloca no lombo do cavalo ou do burro para levar cestos ou cargas?
CANGALHA
Questão 55. ... esses cestos de vime, de taquara, de cipós trançados, para levar batatas (mandioca, macaxeira, aipim etc.), no lombo do cavalo ou do burro?
JACÁ
Questão 56. E, se forem de couro, com tampa?
BOLSA
Questão 57. ... a peça de madeira que vai ao pescoço do boi, para puxar o carro ou arado?
CANGA
Questão 58. ... a cria da ovelha logo que nasce?
BORREGO (DO NASCER ATÉ...)
Questão 59. ... a cria da ovelha, quando vai crescendo?
CORDEIRO
Questão 60. ... a fêmea de um animal que está prestes a/nos dias de dar cria?
FÊMEA QUE ESTÁ PARA DAR CRIA
Questão 61. Como se diz quando a fêmea de um animal perde a cria?
278
PERDA DA CRIA
Questão 62. ...égua quando está velha?
ÉGUA VELHA
Questão 63. ...homem que é contratado para trabalhar na roça do outro?
TRABALHADOR DE ENXADA EM ROÇA ALHEIA
Questão 64. O que é que abre com o machado, com o facão, a foice para passar por um mato fechado?
PICADA
Questão 65. ... o caminho, no pasto, onde não cresce mais grama, de tanto o animal
TRILHO
CAMPO SEMÂNTICO – VI – FAUNA
Questão 66. ... ave preta que come animal morto, podre?
URUBU
Questão 67. ... o passarinho bem pequeno, que bate muito rápido as asas, tem bico comprido e voa de flor em flor?
COLIBRI
Questão 68 ... a ave que faz o ninho com terra, nos postes, nas árvores e até nos cantos da casa?
JOÃO DE BARRO
Questão 69. ... a ave de criação parecida com a galinha, de penas pretas com pintinhas brancas?
GALINHA D’ANGOLA
Questão 70. ... a ave do mato, de bico curvo e penas coloridas; quando presa, pode aprender a falar
PAPAGAIO
Questão 71. ... uma galinha sem rabo?
SURA
Questão 72. ... um cachorro de rabo cortado?
279
COTÓ
Questão 73. ... o bicho que carrega os filhotes numa bolsa que tem na barriga e solta um cheiro muito ruim?
GAMBÁ
Questão 74. ... as patas dianteiras do cavalo?
PATAS DIANTEIRAS DO CAVALO
Questão 75. ... o cabelo em cima do pescoço do cavalo?
CRINA DO PESCOÇO
Questão 76. ... o cabelo comprido na traseira do cavalo?
CRINA DA CAUDA
Questão 77. ... a parte do cavalo onde vai a sela?
LOMBO
Questão 78. ... a parte larga atrás do __________ (cf. item 77)?
ANCA
Questão 79. O que o boi tem na cabeça?
CHIFRE
Questão 80. O animal que tem um só __________ (cf. item 79) porque o outro não nasceu?
UM SÓ CHIFRE
Questão 81. ... a cabra que não tem __________ (cf. item 79)
CABRA SEM CHIFRE
Questão 82. ... o boi sem __________ (cf. item 79)
BOI SEM CHIFRE
Questão 83. ... a parte da vaca onde fica o leite?
ÚBERE
Questão 84. ... a parte com que o boi espanta as moscas?
RABO
280
Questão 85. ... o animal que tem a perna mais curta e que puxa uma perna?
MANCO
Questão 86. ... um tipo de mosca grande, esverdeada, que faz um barulhão quando voa?
MOSCA VAREJEIRA
Questão 87. ... um bichinho que se gruda nas pernas das pessoas quando elas entram num banhado ou córrego??
SANGUESSUGA
Questão 88. ... o inseto de corpo comprido e fino, com quatro asas bem transparentes, que voa e bate a parte traseira na água?
LIBÉLULA
Questão 89. ... aquele bichinho branco, enrugadinho, que dá em goiaba, em coco?
BICHO DE FRUTA
Questão 90. ... aquele bicho que dá em esterco, em pau podre?
CORÓ
Questão 91. ... aquele inseto pequeno, de perninhas compridas, que canta no ouvido das pessoas, de noite? (imitar o zumbido)
PERNILONGO
CAMPO SEMÂNTICO – VII – CORPO HUMANO
Questão 92. ... esta parte que cobre o olho? (apontar)
PÁLPEBRAS
Questão 93. ... isto? (apontar)
NUCA
Questão 94. ... esta parte alta do pescoço do homem? (apontar)
POMO DE ADÃO
281
Questão 95. ... o osso que vai do pescoço até o ombro? (apontar)
CLAVÍCULA
Questão 96. ... a parte do corpo da mulher com que ela amamenta os filhos?
SEIOS
Questão 97. ... parte do corpo da mãe onde fica o nenê/bebê antes de nascer?
ÚTERO
Questão 98. ... isto? (apontar)
CALCANHAR
Questão 99. ... isto? (apontar)
TORNOZELO
Questão 100. ... o osso redondo que fica na frente do joelho?
RÓTULA
Questão 101. Que sente uma criança quando se passa o dedo na sola do pé?
CÓCEGAS
Questão 102. ... esses dois dentes pontudos?
DENTES CANINOS
Questão 103. ... os últimos dentes, que nasce quando a pessoa já é adulta?
DENTES DO SISO
Questão 104. ... esses dentes grandes no fundo da boca, vizinhos dos __________ (cf. item 103)?
DENTES MOLARES
Questão 105. ... a pessoa que não tem dentes?
DESDENTADO
Questão 106. ... a pessoa que parece falar pelo nariz? (imitar)
FANHOSO
Questão 107. ... alguma coisa que cai no olho e fica incomodando?
282
CISCO
Questão 108. ... a pessoa que tem só um olho?
CEGO DE UM OLHO
Questão 109. ... a pessoa que tem os olhos olhando em direção diferente? (completar com um gesto dos dedos)
VESGO
Questão 110. ... a pessoa que não enxerga longe, e tem que usar óculos?
MÍOPE
Questão 111. ... a bolinha que nasce na __________ (cf. item 92), fica vermelha e incha?
TERSOL
Questão 112. ... a inflamação no olho que faz com que o olho fique vermelho e amanheça grudado?
CONJUNTIVITE
Questão 113. ... aquela pele branca no olho que dá em gente velha?
CATARATA
Questão 114. ... este barulhinho que se faz? (soluçar)
SOLUÇO
Questão 115. ... a sujeirinha dura que se tira do nariz com o dedo?
MELECA
Questão 116. ... a pessoa que tem um calombo grande nas costas e fica assim? (mímica)
CORCUNDA
Questão 117. ... a pessoa que come com a mão esquerda, faz tudo com essa mão? (completa com o gesto)
CANHOTO
Questão 118. ... a pessoa que não tem uma perna?
PERNETA
Questão 119. ... a pessoa que puxa de uma perna?
MANCO
283
Questão 120. ... a pessoa das pernas curvas para os lados?
PESSOA DE PERNAS ARQUEADAS
Questão 121. ... esta parte aqui?
AXILA
Questão 122. ... o mau cheiro embaixo dos braços?
CHEIRO NAS AXILAS
Questão 123. Se uma pessoa come muito e sente que vai por/botar para fora o que comeu, se diz que vai o quê?
VOMITAR
CAMPO SEMÂNTICO – VIII – CONVÍVIO E COMPORTAMENTO SOCIAL
Questão 124. ... a pessoa que fala demais?
PESSOA TAGARELA
Questão 125. ... a pessoa que tem dificuldade de aprender as coisas?
PESSOA POUCO INTELIGENTE
Questão 126. ... a pessoa que não gosta de gastar seu dinheiro, e às vezes, até passa dificuldades para não gastar?
PESSOA SOVINA
Questão 127. ... a pessoa que deixa suas contas penduradas?
MAU PAGADOR
Questão 128. ... a pessoa que é paga para matar alguém?
ASSASSINO PAGO
Questão 129. ... a pessoa que mora e trabalha para si nas terras de outra pessoa?
POSSEIRO
CAMPO SEMÂNTICO – IX – CICLOS DA VIDA
284
Questão 130. As mulheres perdem sangue todos os meses. Como se chama isso?
MENSTRUAÇÃO
Questão 131. Numa certa idade acaba a/o __________ (cf. item 130). Quando isso acontece, se diz que a mulher __________ .
ENTRAR NA MENOPAUSA
Questão 132. ... a mulher que ajuda a criança nascer?
PARTEIRA
Questão 133. Chama-se a __________ (cf. item 132) quando a mulher está para __________?
DAR À LUZ
Questão 134. ... duas crianças que nasceram no mesmo parto?
GÊMEOS
Questão 135. ... quando a mulher grávida perde o filho, se diz que ela teve __________ .
ABORTO
Questão 136. Quando a mulher fica grávida, mas não quer ter a criança, ela toma remédio para quê?
ABORTAR
Questão 137. Quando a mãe não tem leite e outra mulher amamenta a criança , como chamam essa mulher?
AMA-DE-LEITE
Questão 138. O próprio filho da __________ (cf. item 137) e a criança que ela amamenta são o que um do outro?
IRMÃO DE LEITE
Questão 139. ... a criança que não é filho verdadeiro do casal, mas que é criado por ele como se fosse?
FILHO ADOTIVO
Questão 140. ... o filho que nasceu por último?
FILHO MAIS NOVO
Questão 141. ... a criança de 05 a 10 anos, do sexo masculino?
MENINO
285
Questão 142. E se for do sexo feminino, como se chama?
MENINA
Questão 143. ... a pessoa que acompanha uma moça quando ela sai com o namorado?
ACOMPANHANTE DOS NAMORADOS
Questão 144. ... o marido que a mulher passa para trás com oro homem?
MARIDO ENGANADO
Questão 145. ... a mulher que se vende para qualquer homem?
PROSTITUTA
Questão 146. Numa conversa, para falar de uma pessoa que já morreu, geralmente as pessoas não a trata pelo nome que tinha em vida. Como é que se refere a ela?
DEFUNTO
Questão 147. Quando um homem fica viúvo e casa de novo, o que a segunda mulher é dos filhos que ele já tinha?
MADRASTA
Questão 148. ... a pessoa que tem o mesmo nome da gente?
XARÁ
CAMPO SEMÂNTICO – X – RELIGIÕES E CRENÇAS
Questão 149. Deus está no céu e no inferno está ___________ .
DIABO
Questão 150. O que algumas pessoas dizem já ter visto, à noite, em cemitérios ou em casas, que se diz que é do outro mundo?
FANTASMA
Questão 151. O que certas pessoas fazem, botam, por exemplo, nas encruzilhadas, para prejudicar alguém?
FEITIÇO
Questão 152. ... o objeto que algumas pessoas usam para dar sorte ou afastar males?
AMULETO
286
Questão 153. ... uma mulher que cura, tira o mau olhado através de rezas e simpatias?
BENZEDEIRA
Questão 154. E se for homem?
BENZEDOR
Questão 155. ... a pessoa que trata de doenças através de ervas e plantas?
CURANDEIRO
Questão 156. ... a chapinha de metal com um desenho de santo que as pessoas usam, geralmente no pescoço, presa numa corrente?
MEDALHA
Questão 157. No natal, monta-se um grupo de figuras representando a Virgem Maria, São José, o Menino Jesus etc. Como chamam isso?
PRESÉPIO
CAMPO SEMÂNTICO – XI – FESTAS E DIVERTIMENTOS
Questão 158. ... a brincadeira em que se gira o corpo sobre a cabeça e acaba sentado? (mímica)
BOLINHA DE GUDE
Questão 160. ... o brinquedo feito de uma forquilha e duas tiras de borracha (mímica), que os meninos usam para matar passarinho?
ESTILINGUE
Questão 161. ... o brinquedo feito de varetas cobertas de papel que se empina no vento por meio de uma linha?
PAPAGAIO DE PAPEL
Questão 162. ... o brinquedo de papel sem varetas que se empina no vento por meio de uma linha?
PIPA
Questão 163. ... a brincadeira que uma criança fecha os olhos, enquanto as outras se escondem em algum lugar, e depois vai procurá-las?
ESCONDE-ESCONDE
Questão 164. ... a brincadeira em que uma criança, com olhos vendados, tenta pegar as outras?
287
CABRA-CEGA
Questão 165. ... uma brincadeira em que uma criança corre atrás das outras para tocar numa delas antes que alcance um ponto combinado?
PEGA-PEGA
Questão 166. ... esse ponto combinado?
FERROLHO
Questão 167. ... uma brincadeira em que as crianças ficam em círculo, enquanto outra vai passando com um objeto que deixa cair atrás de uma delas e esta pega o objeto e sai correndo?
CHICOTE-QUEIMADO/SILÊNCIO ATRÁS/GATO E RATO
Questão 168. ... uma tábua apoiada no meio, em cujas pontas sentam duas crianças e quando uma sobe, a outra desce? (mímica)
GANGORRA
Questão 169. ... uma tábua, perdurada por meio de cordas, onde uma criança senta e se move para frente e para trás?
BALANÇO
Questão 170. ... a brincadeira em que as crianças riscam uma figura no chão, formada por quadrados numerados, jogam uma pedrinha (mímica) e vão pulando com uma perna só? (solicitar a descrição)
AMARELINHA
Questão 171. ... a pessoa que rouba no jogo?
PESSOA QUE AGE COM DESONESTIDADE NO JOGO
Questão 172. ... a pessoa que tem sorte no jogo?
PESSOA QUE TEM SORTE NO JOGO
Questão 173. ... a pessoa que não tem sorte no jogo?
PESSOA SEM SORTE NO JOGO
Questão 174. ... a pessoa que joga bem? [Pelé foi o quê?]
BOM JOGADOR
Questão 175. ... a pessoa que joga mau?
MAU JOGADOR
Questão 176. ... a pessoa que dança muito bem?
PESSOA QUE DANÇA MUITO BEM
288
CAMPO SEMÂNTICO – XII – HABITAÇÃO
Questão 177. ... aquela pecinha de madeira, que gira ao redor de um prego, para fechar a porta, janela ...?
TRAMELA
Questão 178. Quando uma janela tem duas partes, como se chama a parte de fora que é formada de tirinhas horizontais que permitem a ventilação e a claridade? (mostrar gravura)
VENEZIANA/TAMPO
Questão 179. ... aquilo, preto que se forma na chaminé, na parede ou no teto da cozinha, acima do fogão a lenha?
FULIGEM
Questão 180. Para acender o cigarro, eu uso fósforo ou ________ .
ISQUEIRO
Questão 181. ... aquele objeto que se usa para clarear no escuro e se leva na mão assim? (apontar)
LANTERNA
Questão 182. ... a cinza quente que fica dentro do fogão a lenha?
BORRALHO
CAMPO SEMÂNTICO – XIII – ALIMENTAÇÃO E COZINHA
Questão 183. ... a carne depois de passada na máquina?
CARNE MOÍDA
Questão 184. ... Quando uma pessoa acha que comeu demais, ela diz: comi tanto que estou __________ .
EMPANTURRADO (A) /CHEIO (A)
Questão 185. ... uma pessoa que normalmente come demais?
GLUTÃO
289
Questão 186. Que nomes dão a uma pessoa que bebeu demais?
BÊBADO (DESIGNAÇÕES)
Questão 187. Que nomes dão ao cigarro feito pela própria pessoa, enrolado à mão?
CIGARRO DE PALHA
Questão 188. ... o resto do cigarro que se joga fora?
TOCO DE CIGARRO
Questão 189. Que nomes dão aqui para bebida alcoólica feita de cana-de-açúcar?
AGUARDENTE
Questão 190. ... um lugar pequeno, com um balcão, onde homens costumam ir beber __________ (cf. item 189) e onde também se pode comprar alguma outra coisa?
BODEGA
CAMPO SEMÂNTICO – XIV – VESTIÁRIO
Questão 191. Que peça do vestiário serve para segurar os seios?
SUTIÃ
Questão 192. Que roupa o homem usa debaixo da calça?
CUECA
Questão 193. Que roupa a mulher usa debaixo da saia?
CALCINHA
Questão 194. ... aquilo que as mulheres passam no rosto, nas bochechas, para ficarem rosadas?
ROUGE
Questão 195. ... um objeto fino de metal, para prender o cabelo? (mostrar)
GRAMPO (COM PRESSÃO)
Questão 196. ... um objeto de metal, para prender o cabelo? (mostrar)
GRAMPO
(SEM
PRESSÃO)
290
Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Sociais e Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
Travessa Djalma Dutra, s/n – Telégrafo
66113-200 Belém-PA
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perpétuo socorro