DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS – DESER SECRETARIA DE AGRICULTURA FAMILIAR/ MDA (Convênio MDA 112/2006) A CADEIA PRODUTIVA DA PIMENTA Curitiba, Novembro de 2008 DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS RURAIS Monitoramento da Conjuntura de Mercado das Principais Cadeias Produtivas Brasileiras. (CONVÊNIO MDA Nº. 112/2006) DIRETORIA EQUIPE INTERNA Presidente: Luis Pirin – STR – Francisco Beltrão - PR Alvori Cristo dos Santos Área: Produção Familiar e Mercado, Redes e Sistemas Amadeu Antonio Bonato Área: Políticas Públicas, Redes e Sistemas, Desenvolvimento Institucional. Denilson Pasin Área: Desenvolvimento Institucional. Ézio Gomes Área: Produção Familiar e Mercado. Gerson Ferreira Lima Área: Desenvolvimento Institucional. Ivone Pereira Ataíde Área: Desenvolvimento Institucional. João Carlos Sampaio Torrens Área: Políticas Públicas, Redes e Sistemas. Marcos Antonio de Oliveira Área: Produção Familiar e Mercado. Moema Hofstaetter Área: Desenvolvimento Institucional. Thiago de Angelis Área: Produção Familiar e Mercado. . Vice-Presidente: Cláudio Risson – Cresol Central/SC e RS 1º Secretária: Sandra Nespolo Bergamin – Fetraf - Sul/CUT 2º Secretário: Marcio Luiz Cassel – STR de Sarandi/RS 1ºTesoureiro: Genês da Fonseca Rosa - Cresol Chapecó/SC 2ºTesoureiro: Ademir Luiz Dallazen - UNICAFES/PR Membros Efetivos: Avelino Callegari - ASSESOAR/PR Valdir Zembruski - STR de Xanxerê e Região/SC Gervásio Plucinski - COORLAC/RS Augusto V. Pinto - STR de Mallet/PR Bernardo Vergapolem - Ecoaraucária/PR Severine Carmem Macedo - Fetraf Brasil/CUT Membros Suplentes: Rinaldo Segalin - Ascooper/SC Denise Knereck - SINTRAF de Laranjeiras do Sul/PR Adir Fiorese - Cresol-Baser/PR Conselho Fiscal Efetivo: Celso Prando - STR Sananduva/RS Manoel Cardozo - Sintraf Itaperuçu/PR Vera Lucia Cecchin Dapont - STR Marmeleiro/PR EQUIPE TÉCNICA: Marcos A. Oliveira, Thiago de Angelis DESER – Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais Endereço: Rua Ubaldino do Amaral, 374 - Alto da Glória 80060-90 - Curitiba - PR Tel: (41) 3262-1842 - Fax: (41) 3362-3679 http://www.deser.org.br A CADEIA PRODUTIVA DA PIMENTA Sumário 1. Introdução............................................................................................................................... 2 2. A pimenta no mundo: produção, consumo e comércio.......................................................... 2 3. A pimenta-do-reino no Brasil: aspetos da Cadeia Produtiva ................................................. 4 3.1 Produção Brasileira .......................................................................................................... 4 3.2. Principais Regiões Produtoras......................................................................................... 6 3. 3. O Comércio Exterior Brasileiro ..................................................................................... 8 4. Importância da agricultura familiar na cadeia........................................................................ 9 4.1 Participação da Cultura na Composição da Renda......................................................... 10 5. Agricultura Familiar na cadeia............................................................................................. 12 5.1 As Regiões Pesquisadas ................................................................................................. 12 5.2 Características da agricultura familiar na produção....................................................... 13 5.3 Associações dos Agricultores Familiares na Produção.................................................. 14 6. Indústrias .............................................................................................................................. 15 6.1 Indústrias ........................................................................................................................ 15 7. Preços nos diversos níveis da cadeia.................................................................................... 16 8. Limites e perspectivas da agricultura familiar na cadeia ..................................................... 17 8.1 Dificuldades encontradas pelos agricultores na produção e comercialização................ 17 8.2 Projetos dos Agricultores e /ou de suas Organizações para Atuação na Cadeia............ 18 9. Conclusões ........................................................................................................................... 19 10. Contatos.............................................................................................................................. 20 11. Referências Bibliográficas ................................................................................................. 21 1 1. Introdução No Brasil, são produzidas algumas dezenas de variedades dessas pimentas. Entre elas, a pimenta-de-reino é uma das mais importantes no processo de obtenção de renda por parte dos agricultores, principalmente os familiares, nas Regiões Norte e Nordeste do país. Entretanto, a estrutura de seu mercado, bem como as formas de relacionamento entre os agricultores familiares e as empresas processadoras, bem como que empresas são estas, ainda são desconhecidas de boa parte dos agricultores familiares. Este estudo, por isto, tem como objetivo levantar a estrutura da cadeia de produção e comercialização da pimenta-do-reino no Brasil, bem como entender as dificuldades para a comercialização da produção de grupos, associações e cooperativas de agricultores familiares. 2. A pimenta no mundo: produção, consumo e comércio Os principais países produtores de pimenta no mundo em 2007 foram, pela ordem, Vietnã, com 90 mil toneladas, Índia, com mais 50 mil toneladas, o Brasil, com aproximadamente 35 mil toneladas e mais a Indonésia e Malásia, com 25 mil e 20 mil toneladas cada uma, respectivamente. Estes números, correspondendo ao volume de pimenta que circula nos mercados internos e internacionais, corresponde ao volume produzido pelos principais produtores, o que corresponde a praticamente 80% de todo volume produzido no mundo, pouco superior a 271 mil toneladas. Até pouco anos atrás o principal produtor mundial era a Índia, mas o crescimento econômica na Ásia, principal região consumidora mundo, tem puxado o aumento da produção no Vietnã, que em 1995 era e apenas 10 mil toneladas, num aumento de 800% em apenas 12 anos, daquele ano até 2007. A principal região consumidora é, entretanto, a Ásia, com Índia e Tailândia à frente de um consumo que, respectivamente de 55 mil e 23 mil toneladas, ou de 78 mil toneladas, juntas correspondem a mais de 65% do consumo mundial. Fora desta região, merece destaque os volumes consumidos por México e Estados Unidos. Desta forma a Índia e Estados Unidos são os principais países importadores, seguido pela Tailândia e Malásia. Juntos, estes países importam, por quase 90% das importações mundiais de pimenta. No caso dos Estados Unidos, somente de 2 pimenta-do-reino são aproximadamente 15 mil toneladas importadas anualmente somente do Brasil. Em relação às exportações mundiais, que em 2007 atingiram mais de 201 mil toneladas, destacam-se como principais exportadores o Vietnã, seguidos do Brasil, Índia Malásia e Indonésia. Juntos estes países exportaram em 2007 aproximadamente 92% de toda exportação mundial. Pimenta: Balanço de Oferta e Demanda em países selecionados (2007) - em 1000 t. País Est. Inicial Produção Importação Consumo Exportação Est. Final Brasil 19,92 35,00 0,00 6,00 36,00 12,92 Preta 19,92 33,00 6,00 34,00 12,92 Branca 2,00 2,00 Índia 34,02 50,00 16,00 55,00 30,00 15,02 Preta 33,17 50,00 15,00 55,00 29,00 14,17 Branca 0,85 1,00 1,00 0,85 Indonésia 4,30 25,00 0,00 7,00 16,30 6,00 Preta 4,00 20,00 5,00 13,00 6,00 Branca 0,30 5,00 2,00 3,30 Malásia 20,20 20,00 7,00 3,50 19,00 24,70 Preta 17,45 16,00 5,60 2,80 15,20 21,05 Branca 2,75 4,00 1,40 0,70 3,80 3,65 Siri Lanka 1,50 14,64 0,07 6,40 8,50 1,31 Preta 1,50 14,64 0,07 6,40 8,50 1,31 Branca Vietnã 6,19 90,00 1,50 5,00 83,00 9,69 Preta 4,89 75,00 1,00 4,00 70,00 6,89 Branca 1,30 15,00 0,50 1,00 13,00 2,80 Tailândia 0,80 18,00 10,00 23,00 3,00 2,80 Preta Branca 0,80 18,00 10,00 23,00 3,00 2,80 Madagascar 0,57 3,00 0,00 1,50 2,00 0,07 Preta 0,57 3,00 1,50 2,00 0,07 Branca Camboja 0,00 1,40 0,00 1,00 0,40 0,00 Preta 1,40 1,00 0,40 Branca Equador 0,64 3,50 0,00 1,00 2,00 1,14 Preta 0,64 3,50 1,00 2,00 1,14 Branca Sub-Total 63,64 215,54 27,57 98,90 164,90 42,95 Preta 60,69 180,54 16,07 74,90 145,90 36,50 Branca 2,95 35,00 11,50 24,00 19,00 6,45 Outros 18,38 55,50 7,20 19,50 36,80 24,85 Preta 6,23 46,50 5,80 16,80 29,70 12,03 Branca 12,16 9,00 1,40 2,70 7,10 12,83 Mundo 82,02 271,04 34,77 118,40 201,70 67,80 Preta 66,92 227,04 21,87 91,70 175,60 48,53 Branca 15,11 44,00 12,90 26,70 26,10 19,28 Fonte: IPC. 3 Como se pode verificar, os volumes de pimenta em estoque final, que passa de um ano comercial a outro, é relativamente elevado. Em 2007 sobraram em estoques 67,8 mil toneladas de pimenta, o que representou 25% de toda produção mundial destinada ao comércio. Isto se explica pelo fato de muitas variedades serem de ciclo perene, o que indica em muitos casos uma produção quase que extrativista. Assim, os agricultores fazem a coleta quando há boa perspectiva de preços para o produto no mercado, como o inverso ocorrendo em caso contrário. De toda forma, os maiores estoques finais no mundo se concentraram, no final de 2007, na Malásia, Índia, Brasil e Vietnã. Desta forma, no mercado mundial há um fluxo de comércio que pode ser dividido em dois. Aquele oriundo das regiões produtoras na Ásia (Vietnã, Malásia e Índia, principalmente) com destino aos mercados daquele continente (China e Tailândia, principalmente), aos países europeus, secundariamente, e aos Estados Unidos, em terceiro lugar. Há, também, um fluxo que existente a América Latina (Brasil e Equador, principalmente) para os países da América do Norte (Estados Unidos e México), para a União Européia (Alemanha, Espanha, Holanda e França, principalmente) e para os países do Mercosul, tendo a Argentina como o principal destino, neste caso. 3. A pimenta-do-reino no Brasil: aspetos da Cadeia Produtiva 3.1 Produção Brasileira Os movimentos dos preços constituem-se, no Brasil, no principal fator para os movimentos de aumento e recuo na produção de pimenta-do-reino no Brasil. Os melhores preços desse produto para o produtor foram alcançados na década de 80, nos anos de 1984, 1986, 1987 e 1988. Neste período, a pimenta chegou a atingir um valor de R$ 16,00/kg. Com isto houve um aumento da área plantada, se refletindo mais tarde no início da década seguinte. Em 1991, o Brasil alcançou a produção histórica de 83 mil toneladas, ultrapassando produtores milenares como a Índia e Indonésia. No mesmo ano a pimenta-do-reino estava valendo em média R$ 2,00 / kg, os valores permaneceram nesse nível até a metade da década, havendo uma recuperação a partir de 1997, culminando em valores acima de R$ 8,00 / kg no ano de 1999. 4 Em razão dos baixos preços durante quase toda a década de 90 a área plantada e conseqüentemente a produção brasileira estiveram em queda, vindo a crescer novamente posteriormente a 1999, coincidindo com uma nova subida de preços. Um outro fator causador do declínio da produção nacional de pimenta-doreino foi o aparecimento, da podridão das raízes, conhecida também por fusariose. A doença persiste atualmente, e diminuiu a longevidade dos plantios que passaram de 12 anos para 6 ou 7 anos de vida. Entretanto, após o ano de 2001 os preços aos agricultores voltaram a se recuperar mas, com o crescimento da produção de pimenta do Vietnã, mantiveramse abaixo dos R$ 3,00/kg. Esse novo ciclo de preços reduzidos não correspondeu pelo menos entre os anos de 2001 a 2003 numa diminuição da área plantada, ao contrário houve crescimento dessa variável, e aumento na produção de pimenta-doreino no período mencionado. Mais recentemente, partir de 2003, a área plantada continuou aumentando e, em 2006, chegou a 26,2 mil hectares em todo o Brasil, que resultou numa produção, de acordo com o IBGE, de 67 mil toneladas. Pimenta-do-reino: Área e Produção no Brasil (1990 Área Plantada Quantidade Anos (hectares) (toneladas) 1990 35.175 78.155 1991 38.191 83.906 1992 31.978 33.034 1993 29.816 42.270 1994 21.937 34.927 1995 23.574 33.852 1996 18.498 32.318 1997 12.414 22.359 1998 11.317 23.050 1999 13.399 27.727 2000 16.377 38.443 2001 20.750 49.018 2002 24.570 45.000 2003 25.969 67.197 2004 26.001 65.800 2005 26.151 79.102 2006 26.223 80.316 Fonte: IGBE (PAM-Pesquisa Agrícola Municipal. 5 3.2. Principais Regiões Produtoras A espécie de pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), se estabeleceu como cultivo racional após a introdução da cultivar Cingapura, pelos imigrantes japoneses em 1933, no estado do Pará. Até a década de 40, embora produzisse pimenta-do-reino, o Brasil importava parte do que consumia, tornando-se auto-suficiente em 1950. Atualmente, de acordo com o IBGE, o Estado do Pará é responsável por quase 84% da produção brasileira. Depois deste, o Espírito Santo responde por mais 10% desta produção, com o restante sendo distribuído em diversos Estados. De toda forma, entre 2003 e 2006, último ano em que há dados oficiais catalogados, a produção de pimenta-do-reino no Brasil aumentou quase 20%, demonstrando a importância desta cultura para a obtenção de renda dos agricultores, bem como refletindo os preços atuais do produto nos mercados interno e mundial. Pimenta-do-reino: Produção no Brasil por Estado Estado Pará 2003 2004 2005 2006 Part. (%) em 2006 Var. (03/06) 57.067 55.922 66.486 67.031 83,46 17,5 Espírito Santo 6.244 5.503 7.656 8.296 10,33 32,9 Bahia 36,6 2.714 3.079 3.636 3.708 4,62 Alagoas 199 365 371 391 0,49 96,5 Rondônia 497 464 345 293 0,36 -41,0 Maranhão 289 254 222 209 0,26 -27,7 Paraíba 144 161 164 164 0,20 13,9 2 - 129 109 0,14 5.350,0 26 42 75 102 0,13 292,3 Amazonas Mato Grosso 4 4 12 9 0,01 125,0 Ceará 10 6 6 4 0,005 -60,0 Brasil 67.197 65.800 79.102 80.316 100,00 19,5 Acre Fonte: IGBE (PAM-Pesquisa Agrícola Municipal. No Pará, as principais regiões produtoras estão descritas nas tabelas abaixo. Naquele Estado, entre 2003 e 2006 houve uma aumento de mais de 17% na produção. Embora em algumas mesorregiões tenha ocorrido um pequeno recuo na produção, houve aumento de mais de 47% da produção na principal região produtora, o Nordeste Paraense. 6 Pimenta-do-Reino: Mesorregiões produtoras (2003 e 2006) Volume produzido (t) Local Brasil Pará Baixo Amazonas – PA Marajó – PA 2003 67.197 57.067 3.118 45 2006 80.316 67.031 2.295 100 Metropolitana de Belém – PA Nordeste Paraense – PA Sudoeste Paraense – PA Sudeste Paraense – PA 3.763 31.911 7.629 10.601 3.188 46.923 7.344 7.181 Var. (% 19,52 17,46 -26,40 122,22 -15,28 47,04 -3,74 -32,26 Fonte: IGBE (PAM-Pesquisa Agrícola Municipal. Por microrregião produtora, no Pará as mais importantes são as de Guamá, Cametá e Tomé-Açu. Em todas elas houve aumento da quantidade produzida desde 2003, chegando, até 2006, a 86%, 88% e 4,9%, respectivamente. Pimenta-do-Reino: Microrregiões produtoras (2003 e 2006) Volume produzido (t) Local 2003 2006 Var. (% 80.316 Brasil 67.197 19,52 Pará Tomé-Açu – PA Paragominas – PA Guamá – PA Cametá – PA Bragantina – PA Altamira – PA Castanhal – PA Itaituba – PA Santarém – PA Salgado – PA Tucuruí – PA 57.067 10.667 9.583 8.326 6.459 5.113 4.108 3.633 3.521 3.087 1.346 833 67.031 17,46 11.190 4,90 6.177 -35,54 15.493 12.186 6.809 86,08 88,67 33,17 4.489 3.008 2.855 2.235 1.245 817 9,27 -17,20 -18,92 -27,60 -7,50 -1,92 Fonte: IGBE (PAM-Pesquisa Agrícola Municipal. Em relação aos municípios produtores, o com maior participação na produção brasileira é São Mateus, no Espírito Santo que, sozinho, produz quase 8% de toda produção no Brasil. Todos os outros, a partir do segundo, estão localizados no Pará, destacando-se Concórdia do Pará e Baião, ambos com mais de 6% da produção total do Brasil, entre outros. 7 Pimenta-do-Reino: Produção por Município em 2006 Município Estado Volume (t) Part. (%) Brasil ES 6.400 7,97 São Mateus - ES PA 5.400 6,72 Concórdia do Pará - PA PA 4.900 6,10 Baião - PA PA 3.900 4,86 Cametá - PA PA 3.520 4,38 Garrafão do Norte - PA PA 2.880 3,59 Nova Esperança do Piriá - PA PA 2.625 3,27 Igarapé-Açu - PA PA 2.556 3,18 Rurópolis - PA PA 2.550 3,17 Dom Eliseu - PA PA 2.376 2,96 Capitão Poço - PA Fonte: IGBE (PAM-Pesquisa Agrícola Municipal. 3. 3. O Comércio Exterior Brasileiro O Brasil produz três tipos de pimenta para serem comercializadas no mercado internacional: a pimenta-preta, pimenta branca e em pequena escala a pimenta verde. Todas essas pimentas são a Piper nigrum, a diferença está no estádio de maturação em que são colhidas, e o beneficiamento dado a cada uma delas. Uma vez que o país não tem a necessidade de importar pimenta para atender o consumo interno, a maior parte da produção é exportada. Projeções da Comunidade Internacional da Pimenta-do-Reino informam que em 2005 o país exportará 35.000 toneladas de pimenta, sendo 30.000 toneladas de pimenta preta, e 5.000 toneladas de pimenta branca. Em 2007, o Brasil exportou 37 mil toneladas de pimenta-do-reino, o que significou um valor total de R$ 111,69 milhões. Este volume é 7% inferior ao de 2006, mas 8,8% acima do exportado em 2005. Os principais destinos da pimenta-do-reino exportada a partir do Brasil são os Estados Unidos, com pouco mais de 41% dos volumes exportados, seguido pela Alemanha, Espanha e Holanda. Desde o início dos anos 2000, o Brasil apresentou um aumento de 106% nos seus volumes exportados, que passou de 20,44 mil toneladas em 2000 para 42,2 mil toneladas em 2006. O principal fator para este comportamento foram as exportações para os Estados Unidos, que passaram, no mesmo período, de menos de 8 mil toneladas anuais para 17,3 mil toneladas em 2006, numa evolução de mais de 117% em apenas 6 anos. 8 Pimenta-do-reino: exportaçaões a partir do Brasil por destino (anos selecionados) País 1996 Alemanha 1999 4.677 2000 3.955 2.532 2003 2004 4.013 2005 2006 5.392 6.427 6.439 Argentina 1.338 797 925 1.166 1.377 1.407 1.053 Espanha 1.529 685 1.309 4.585 5.097 2.981 3.091 Estados Unidos 4.798 8.074 7.999 14.137 17.633 15.804 17.335 França 1.777 831 723 1.372 2.176 1.973 1.458 México 1.476 396 1.054 1.484 2.652 1.845 2.064 Holanda 4.040 3.379 2.232 5.207 1.621 2.493 2.785 0 0 146 0 15 26 894 19.635 18.117 16.920 31.964 35.963 32.956 35.119 4.543 1.499 3.529 7.007 7.040 5.466 7.081 24.178 19.616 20.449 38.971 43.003 38.422 42.200 Rússia Sub-Total Outros Total Fonte: Mdic/Seces. Elaboração: Deser. Em t. Estas exportações saem principalmente do Pará, Espírito Santo e Minas Gerais. Juntos, os volumes que saem destes Estados com vistas ao mercado mundial correspondem a 98% do total exportado pelo Brasil. Somente do Pará sai um volume de aproximadamente 80% do total do volume exportado por ano a partir do Brasil. Pimenta-do-reino: exportaçaões a partir do Brasil por Estado (anos selecionados) País 1996 1999 2000 2003 2004 2005 2006 Espírito Santo Minas Gerais Pará 2.183 0 21.324 1.442 0 17.531 1.710 0 17.114 1.856 857 32.535 5.445 2.496 33.416 4.195 4.121 29.563 5.305 2.178 33.931 Sub-Total 23.507 18.973 18.824 Outros 671 644 625 Total 24.178 19.617 19.449 Fonte: Mdic/Seces. Elaboração: Deser. Em t. 35.248 3.723 38.971 41.357 1.647 43.004 37.879 545 38.424 41.414 786 42.200 4. Importância da agricultura familiar na cadeia A partir da definição de a agricultura familiar diz respeito a estabelecimentos com áreas de até 200 hectares, onde o principal insumo de trabalho é a mão-deobra familiar, estima-se que o estado do Pará possua em média 93% de propriedades nessa categoria, ocupando 32% da área agrícola do Estado. Da mesma forma, a partir dos dados do censo agropecuário do IBGE de 1996, e considerando um dos aspectos da definição, que enquadra estabelecimentos de até 200 hectares na categoria da agricultura familiar, concluiu-se que no estado do 9 Pará 88% da pimenta-do-reino produzida teve origem na agricultura familiar, correspondendo na época a um valor da produção de 16 milhões de reais. Produção da pimenta-do-reino, percentual e valor da produção correspondente por grupos de área total dos estabelecimentos em 1996. Produção de Valor da Percentual da Grupos de Área Total Pimenta produção Produção (%) (toneladas) (Reais) Menos de 1 há 49 0,39% 66.606,47 1 a menos de 2 há 31 0,24% 43.246,74 2 a menos de 5 há 213 1,69% 280.199,32 5 a menos de 10 há 200 1,59% 274.599,33 10 a menos de 20 há 543 4,33% 787.553,68 20 a menos de 50 há 2.585 20,61% 3.765.151,08 50 a menos de 100 há 2.751 21,94% 3.939.370,84 100 a menos de 200 há 3.212 25,62% 4.636.938.74 200 a menos de 500 há 1.480 11,80% 2.346.480,80 Total Agricultura Familiar 11.064 88,21% 16.140.147,00 500 a menos de 1.000 há 880 7,01% 1.275.650,20 1.000 a menos de 2.000 há 279 2,22% 480.174,00 2.000 a menos de 5.000 há 111 0,88% 154.676,80 5.000 a menos de 10.000 há 47 0,37% 84.703,20 10.000 a menos de 100.000 há 156 1,24% 199.260,00 100.000 há e mais Total “Agricultura Não Familiar” 1.473 11,72% 2.194.464,20 Total Geral 12.537 100% 18.334.611,20 Fonte: PAM IBGE, 2005 As informações demonstram que a cultura da pimenta-do-reino no Estado do Pará é essencialmente uma atividade desenvolvida pela agricultura familiar. Portanto, tanto a manutenção da cadeia produtiva e da posição que o Brasil ocupa no cenário mundial depende diretamente do desempenho da agricultura familiar em relação à cultura. 4.1 Participação da Cultura na Composição da Renda Estudos sobre sistema de produção e manejo dos recursos naturais da agricultura familiar no nordeste paraense, principal mesorregião produtora de pimenta-do-reino no Pará. Especificamente no município de Capitão Poço, realizados em 2001 e 2002 pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará, verificou a existência de quatro tipos de sistemas de produção praticados pelos agricultores no município: 10 1) Culturas temporárias; 2) Culturas temporárias e permanentes; 3) Culturas temporárias, permanentes e pecuária; 4) Apenas cultura permanente A tabela seguinte mostra a área utilizada pelos agricultores para cada componente agrícola dos diferentes sistemas de produção mencionados. Uso da terra nas propriedades contempladas em 2001/2002 por sistema de produção. Sistema de produção Área utilizada Culturas temporárias Culturas permanentes Pastagens Vegetações Utilização limitada Total 1. Culturas temporárias 2. Culturas temporárias e permanentes 3. Pecuária, culturas temporárias e permanentes. 4. Apenas culturas permanentes (ha) 2,3 (%) 6,0 (ha) 2,7 (%) 6,1 (ha) 3,3 (%) 4,7 (ha) 0 (%) 0 1,2* 3,1* 4,9 11,0 3,3 4,7 3,9 13,9 5* 25,2 1,4 13,1* 66,1 3,7 5,2* 30,2 2,2 11,7* 68,0 5,0 30,4 31,4 2,4 42,9 44,3 3,4 2,5* 21,8 0 8,9* 77,6 0 70,8 100 28,1 100 38,1 100 44,4 100 (Wiesenmüller, *Na época do estudo área não produtiva Os diferentes componentes agrícolas dos quatro sistemas de produção apresentaram os seguintes valores de rendimento bruto demonstrados na tabela. Rendimento bruto específico (em reais /hectare) dos componentes agrícola para os sistemas de produção, 2001 / 2002. Sistema de produção Componente agrícola Culturas temporárias Culturas permanentes Pecuária 1. Culturas temporárias 2. Culturas temporárias e permanentes 3. Pecuária, culturas temporárias e permanentes 4. Apenas culturas permanentes 301 460* 641* - - 276 553 283 99 - - (Wiesenmüller, 2002) *Valor constituído pela soma dos rendimentos originados do componente “culturas temporárias” e das culturas temporárias consorciadas no componente “plantios permanentes”. 11 Entre as culturas temporárias mais plantadas identificadas por este trabalho com freqüência de mais de 80% estavam a: mandioca, milho e o feijão caupi. No caso das culturas permanentes destacaram-se a pimenta-do-reino, a laranja e o maracujá. Apesar deste estudo não apresentar a participação individual das diferentes culturas temporária ou permanente no rendimento bruto específico, tampouco fazer referências especiais à pimenta-do-reino. Este, no entanto possibilita algumas conclusões úteis: as culturas temporárias proporcionaram um rendimento por área utilizada maior para os sistemas 2 e 3, por estarem consorciadas no mesmo espaço com as culturas permanentes. No sistema 3 para o componente “culturas permanentes”, o autor do estudo menciona que os agricultores deste grupo diversificaram ao máximo seus plantios, associando vários tipos de culturas permanentes e temporárias na mesma área, por isso obtiveram um valor superior em relação aos outros sistemas, equivalente a R$ 553,00/ha. Já os sistemas 2 e 4 que cultivaram monocultivos (a pimenta está incluída), apenas enriquecendo com o feijão e o milho renderam valores menores de R$ 276,00/ha a R$ 283,00/ha. Mas em todos os casos da produção vegetal os rendimentos superaram os do componente “pecuária”, que rendeu o menor valor de todos por área utilizada igual a R$ 99,00/ha. O estudo mostrou que a diversificação dos plantios aparentemente aumentou a média do rendimento bruto por área. Indicando que a diversificação dos sistemas de produção é uma estratégia para a melhoria no nível de renda dos agricultores. 5. Agricultura Familiar na cadeia 5.1 As Regiões Pesquisadas O levantamento de informações sobre a atuação dos agricultores familiares na cadeia da pimenta foi realizado no município de Baião que pertence à mesorregião do IBGE denominada Nordeste Paraense. Este foi o escolhido por apresentar uma expressiva produção de pimenta e porque integra um importante pólo de produção da pimenta no Estado. Fazem parte também desta região os municípios de Mocajuba e Cametá. Os três municípios juntos em 2003 produziram 5.485 toneladas de pimenta-do-reino, segundo o IBGE. 12 Na ocasião do levantamento em Baião foi possível estabelecer contato com agricultores dos municípios vizinhos acima citados. De acordo com o Banco da Amazônia (BASA), Baião tem sido nos últimos anos a localidade com o maior número de financiamentos à cultura da pimenta-do-reino pelo PRONAF em todo Estado do Pará. 5.2 Características da agricultura familiar na produção No Nordeste Paraense, onde se incluí o pólo pimenteiro formado por Baião, Cametá e Mocajuba, é usual ainda a prática da agricultura itinerante ou migratória. Este tipo de agricultura busca suprir as necessidades nutricionais das culturas, com nutrientes acumulados na vegetação secundária, que cresce durante o período de pousio entre dois cultivos (capoeira), e que utiliza por falta de melhor opção, a queima no preparo da área. Como cultivos alimentares, planta-se milho, feijão caupi, arroz e mandioca. Geralmente a pimenta-do-reino é plantada em sistema de monocultivo, por se tratar de uma espécie trepadeira são usados tutores de madeira para conduzir a planta. Neste caso, a pimenteira inicia a produção a partir de 2 anos de idade, o período de safra acontece de setembro a novembro. Para a produção de pimenta tipo preta a colheita é feita quando as espigas apresentam as drupas (frutos) completamente desenvolvidas, de coloração verdeclaro ou amarelada. Em seguida é feito o debulhamento, os agricultores familiares realizam essa operação de forma manual, já os grandes produtores utilizam debulhadores mecânicos. Há também casos de pequenos produtores que não costumam debulhar a pimenta, e esperam as espigas se desprenderem do pedúnculo durante a secagem ao sol. O debulhamento consiste na separação das espigas de pimenta do pedúnculo a que estão aderidas, depois de separados os frutos são levados ao sol para secarem. Após a secagem os frutos são acondicionados em sacos de 50 quilos e comercializados. No caso da produção de pimenta-do-reino tipo branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam coloração amarela ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem serem debulhadas, então são mergulhadas e maceradas em tanques ou nos rios. Posteriormente a maceração e 13 lavagem a pimenta é seca ao sol, e depois embalada em sacos de 50 quilos para ser comercializada. 5.3 Associações dos Agricultores Familiares na Produção Na região acima descrita, foram encontradas as seguintes associações: 1) Município de Baião 9 Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Baião 9 Associação de Produtores Rurais de Baião 9 Associação de Pequenos Produtores Rurais 2) Município de Cametá 9 Associação Terra Firme 9 Associação 25 de julho 3) Município de Mocajuba 9 Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Mocajuba Ao todo, representam cerca de 450 agricultores e, juntas, totalizam uma produção de 440 toneladas na maioria de pimenta-do-reino tipo preta seca e embalada. No todo o Estado calcula-se que haja 50 mil famílias envolvidas na produção da pimenta-do-reino. Os canais de comercialização dos agricultores dessas associações são os compradores locais que estão mais próximos às comunidades rurais ou aqueles instalados nas sedes dos municípios. De acordo com os agricultores entrevistados é comum haver corretores de pimenta dos exportadores, cujo trabalho é negociar a compra da pimenta junto aos agricultores antes ou durante o período de colheita. Por outro lado, a associação representante dos exportadores a ABEP nega a existência de corretores ligados às exportadoras de pimenta, e afirmou que esses trabalham de forma autônoma oferecendo o produto no mercado. Ainda segundo a ABEP, os compradores que adquirem a pimenta diretamente dos agricultores não têm relação alguma com as empresas exportadoras, mesmo que existam nos municípios alguns estabelecimentos negociadores de pimenta 14 pertencentes aos exportadores. Em relação à essa informação, na oportunidade do levantamento foi possível identificar em Baião um local de propriedade de uma empresa que comercializava a pimenta para outros estados e exterior. Assim, parece haver na verdade um pouco de cada situação. Os comércios que adquirem diretamente a pimenta dos agricultores nas comunidades e municípios podem ser independentes, mas também existem indícios que alguns dos estabelecimentos pertencem às empresas exportadoras. Destaca-se, ainda, que os corretores de pimenta talvez não tenham um vínculo empregatício com as exportadoras, mas também não deixam de ser acionados por estas empresas, já que na ocasião de uma visita a determinada exportadora, o entrevistado confirmou que de maneira esporádica as exportadoras se valem dos serviços de corretores. 6. Indústrias 6.1 Indústrias O estudo demonstrou que, ao passar pelos intermediários nos municípios de origem, o destino da pimenta-do-reino acaba sendo as empresas exportadoras. Essas empresas estão localizadas num raio de 100 quilômetros da capital Belém, à exceção de algumas poucas empresas situadas no Estado de São Paulo e Espírito Santo. Entre as exportadoras que se encontram neste raio segue abaixo uma relação: 1) Comércio Importação e Exportação Cepal Ltda / Ananindeua-PA; 2) Tropoc Ltda / Castanhal-PA; 3) Agropel Importação e Exportação / Ananindeua-PA; 4) T.T. Comércio Ltda / Castanhal-PA; 5) Medeiros Comércio Importação e Exportação Ltda ;/ Castanhal-PA; 6) Okajima AgroComércio e Indústria Ltda / Castanhal-PA; 7) SKO Importação e Exportação / Castanhal-PA; 8) Amazon PIper Importação e Exportação / Castanhal-PA; Toda empresa exportadora deve obrigatoriamente possuir uma estrutura de limpeza e classificação para atender os contratos internacionais. Os exportadores são responsáveis pelo beneficiamento final da pimenta que passa por algumas etapas: ventilação, lavagem, secagem, classificação e 15 acondicionamento do produto. Esse processamento é importante para livrar a pimenta de fungos, e da contaminação por outros microorganismos como os coliformes fecais e a Salmonella spp. A primeira fase que é a ventilação tem o objetivo de eliminar pedras, talos, pedaços de ramos, pimenta chocha e folhas secas. Em seguida a pimenta passa por uma lavagem, depois é seca em secadores a uma temperatura acima de 70º C. O ponto ideal de umidade para a pimenta preta é de 11 a 15%, enquanto que para branca é de 15% de umidade. A etapa da secagem é seguida pela padronização e classificação que obedece a resolução no 176, de 27/06/1989 do Conselho Nacional do Comércio Exterior Encerrada a classificação a pimenta pode ser embalada em sacos duplos de polipropileno de 50 quilos. Os exportadores para comercializarem a pimenta contam com os serviços de agentes de comercialização que intermedeiam a venda do produto no exterior. Como o Brasil faz parte da IPC, pode por meio da instituição obter o contato de todos os importadores de pimenta do mundo para facilitar suas negociações internacionais. No Brasil os grandes compradores de pimenta são as empresas atacadistas do estado de São Paulo, que tratam de distribuí-la ao varejo ou indústrias do país. A ABEP identifica que a FUCHS empresa multinacional é uma importante compradora do mercado interno de pimenta e condimentos em geral, tendo uma base industrial no estado de Minas Gerais. 7. Preços nos diversos níveis da cadeia Como o Brasil exporta quantidade significativa de pimenta é no mercado mundial que são regulados os preços do produto. Neste caso, especialmente pelas safras vietnamitas, tem sido um dos parâmetros de formação do preço da pimentado-reino no mundo, em função da capacidade produtiva obtida nesse país nos últimos anos e, ainda, por demonstrar que a cultura expandiu de maneira sustentável no Vietnã, pois o nível de produção atingido pelo país vem se mantendo sem grandes oscilações negativas entre as safras. Outro aspecto relevante é que o crescimento se deu de maneira rápida e vertiginosa, resultando num aumento da oferta do produto, ocasionando um rebaixamento dos preços. 16 Evolução dos preços médios de exportação (FOB Pará), 2000 a 2004 Preço Médio FOB Pará Ano (US$ / tonelada) 2000 3.388 2001 1612 2002 1.556 2003 1.497 2004 1.484 2005 1.364 2006 2.044 2007 2.880 Fonte: ABEP, Midc/Sesex e Pesquisa de Campo. A partir e 2006, entretanto, refletindo mais o crescimento da economia e do consumo mundial, houve uma recuperação dos preços, com estes já chegando próximos daqueles do início dos anos 2000, próximos aos US$ 3,000/t. Os preços recebidos pelos agricultores no primeiros semestre de 2008, no município de Baião, variaram entre R$ 2,10 / kg a R$ 2,80 / kg. Ao final do período, com o aumento da oferta os preços chegaram a R$ 2,90 / kg da pimenta. Em relação ainda a preços é importante ressaltar que a balança comercial da pimenta como todo produto de exportação enfrenta um período de lucros deprimidos devido à política cambial de valorização da moeda nacional sobre o dólar. 8. Limites e perspectivas da agricultura familiar na cadeia 8.1 Dificuldades encontradas pelos agricultores na produção e comercialização Para os agricultores a indicação de que a situação de reprimidos preços da pimenta-do-reino, em contraposição aos altos custos de produção, se caracteriza como a maior dificuldade para desenvolver a cultura no momento. Afirmam os agricultores que um dos fatores que impulsionaram a elevação dos custos de produção foi a escassez das estacas usadas como tutores, conseqüentemente havendo o encarecimento deste material. A cultura da pimenta é exigente em nutrição não admitindo a redução drástica de fertilização, e como a podridão das raízes (fusariose) fatalmente infecta as plantações o uso de agrotóxicos é massivo para adiar a sua infestação e assegurar 17 a produção. Como neste tipo de manejo é impossível reduzir ou eliminar estes gastos, é freqüente o agricultor se encontrar inadimplente com o financiador, ou endividado no comércio. Isto coloca os produtores em uma situação frágil em relação à comercialização, é comum os agricultores negociarem a pimenta “na folha”, ou seja antes do período de colheita o produto já foi comprado por um preço a critério exclusivo do atravessador. Apontam, ainda, os agricultores para a falta de condições financeiras e estruturais para realizar o escoamento da produção como um grande obstáculo, que os torna dependentes dos atravessadores e dos valores assim por eles estipulados. Até mesmo os intermediários, se recusam a buscar pimenta em lugares de difícil acesso, e optam em atuar em locais mais acessíveis. A falta de uma política governo foi também listada pelos agricultores, como uma das causas do cenário desfavorável. Os produtores acreditam que deveria haver mais incentivo ao financiamento de infra-estrutura para armazenagem, com isso o agricultor poderia estocar o produto e negociá-lo em épocas mais propícias. Nesse aspecto foi citado que houve uma tentativa de algumas associações de Baião de comercializarem a pimenta através de uma cooperativa, mas a idéia fracassou justamente pela inexistência de uma estrutura ideal de armazenagem, e pelo boicote dos atravessadores ao produto da cooperativa. Finalmente, para os agricultores citaram que a assistência técnica deficiente também se constitui em uma dificuldade, porque faltam mais orientações principalmente para combater a fusariose nos cultivos. 8.2 Projetos dos Agricultores e /ou de suas Organizações para Atuação na Cadeia Em relação aos projetos, por enquanto não há da parte dos agricultores entrevistados ou de suas associações propostas para atuação na cadeia produtiva. Tampouco foi informado algum projeto na região, ou no estado com este objetivo. Se verifica, ao contrário, o interesse crescente de abandonar a cultura da pimenta, em virtude da crise dos preços. Inclusive a Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA), antiga SUDAM, realizou estudos sobre produtos potenciais na região, onde estão localizados os municípios de Baião, Cametá e Mocajuba. A partir desta pesquisa que já foi apresentada a comunidade, a ADA juntamente a Eletronorte, se encarregarão de apoiar e desenvolver determinadas 18 cadeias produtivas com o engajamento dos agricultores familiares, e de outros setores da região. Com esta perspectiva os agricultores não descartam a possibilidade de deixar de lado a pimenta, e pleitearem o engajamento no projeto, principalmente porque a ADA e Eletronorte se comprometeram em dar todo suporte necessário. 9. Conclusões Constatou-se, através deste estudo exploratório, que a cultura da pimenta-doreino em muitos casos está inserida em sistemas de produção de baixa diversificação. Além do agricultor mostra ter incorporado a prática da agricultura de insumos químicos por vezes até mecanizada, resultando nos altos custos de implantação e manutenção da cultura. Nesta situação, e diante destes condicionantes, o agricultor se torna cada vez mais vulnerável às variações de preços dos produtos agrícolas, cujo impacto tem sido a descapitalização crescente deste agricultor. As próprias organizações sociais são outro agravante, uma vez que, de um modo geral, parecem ter sido criadas mais pela exigência do financiamento bancário, do que pela vontade conjunta de solucionar problemas relacionados à produção ou comercialização, já que o associativismo e a auto-gestão são ainda elementos novos para estes agricultores, pois é perceptível que os produtores desejam a interferência externa, não que esta seja dispensável, na resolução dos gargalos enfrentados ao lidar com a cadeia produtiva. Assim, e numa perspectiva real dentro das condições existentes é estratégico em médio prazo principalmente da parte dos agentes financiadores uma ação mais efetiva de incentivo ao cultivo da pimenta em sistemas de produção que se mostrem flexíveis às mudanças do mercado. Ou seja, mais diversificados, proporcionadores de segurança alimentar, e de mais produtos comercializáveis. Para num futuro essa medida possa ser combinada a projetos de verticalização, e comercialização da produção agrícola. 19 10. Contatos Instituições e ou Empresas FETAGRI (Federação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura do Pará) Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Baião (Obs: O sindicato é o melhor meio de contatar as associações entrevistadas neste estudo) Okajima AgroComércio e Indústria Associação Brasileira de Exportadores de Pimenta Embrapa CPATU Basa (Banco da Amazônia) Contato Telefone Carlos Augusto Santos Silva Ver com Fetagri (91) 32412419 (91) 31412419 Hugo (91)3721Luiz de 7192 Souza Teodoro (91) Nagano 32334185 Alfredo Homma E-mail Cidade/Estado [email protected] Belém-PA [email protected] Belém-PA Castanhal-PA [email protected] (91) [email protected] 32770088 Ormeu (91) de Faria 4008Pires 3430 ou (GERAC) 40083383 Belém-PA Belém-PA Belém-PA 20 11. Referências Bibliográficas ABEP. Estatísticas. www.abep.com.br, acesso em novembro de 2005. ANAIS DA REUNIÃO SOBRE PIMENTA-DO-REINO. Belém, 1999. BRAZILIAN PEPPER TRADE BOARD. Relatórios. www.peppertrade.com.br, acesso em agosto e setembro de 2008. DUARTE, M. R, ALBUQUERQUE. Colheita e pós-colheita. Embrapa Belém, 2001. EMBRAPA. Pimenta-do-reino. www.embrapacpatu.gov.br, acesso outubro de 2005. FILGUEIRAS, G. S., SANTOS M. S., SANTANA, A.C., HOMMA. A. K. Fatores de crescimento da produção de pimenta-do-reino no estado do Pará no período de 1979 a 2001. Publicação BASA Belém, 2002. IBGE. Produção Extrativa Vegetal. www.ibge.gov.br, acesso outubro e novembro de 2005. REPORT OF THE PEPPER MEETING OF THE INTERNATIONAL PEPPER COMMUNITY. Indonesia Jacarta, 2004. WIESENMÜLLER J. Sistemas de produção e manejo dos recursos naturais da agricultura familiar no nordeste paraense. NAEA Belém, 2004, 32p. 21