UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ LAYS CRISTINA PEREIRA DE LIMA ROSILEI CARDOSO DE LIMA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO: UMA HISTÓRIA DE AMOR E LUTA PELA PRESERVAÇÃO DE SUAS TRADIÇÕES CURITIBA 2015 LAYS CRISTINA PEREIRA DE LIMA ROSILEI CARDOSO DE LIMA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO: UMA HISTÓRIA DE AMOR E LUTA PELA PRESERVAÇÃO DE SUAS TRADIÇÕES Trabalho apresentado ao curso de PósGraduação da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para a obtenção do título de Especialista em Educação do Campo. Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Borges da Silva. CURITIBA 2015 RESUMO O presente artigo faz uma análise reflexiva das transformações socioespaciais ocorridas nas comunidades faxinalenses do Município de Tijucas do Sul- (PR), dentre algumas das comunidades que se caracterizam com o sistema faxinal, a ênfase da respectiva pesquisa é na comunidade do Postinho que localiza-se a 25 quilômetros da sede do Município, que atualmente encontra-se com grandes dificuldades de permanência no lugar, devido à falta de políticas publicas que viabilizem a sustentabilidade dos sujeitos do campo. Os faxinais caracterizamse pelas florestas naturais de araucárias, o criadouro livre e comunitário de animais, a preservação da mão de obra familiar no cultivo agrícola além da preservação das tradições culturais. Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram a aplicação de entrevistas com a comunidade. Os referenciais teóricos trazem as reflexões de Tavares (2008), Simões (2008), Cunha (2006), Caldart (2004 e 2011), Arroyo (2011) e Molina (2011). Os resultados evidenciam que devido a falta de emprego para os jovens e adultos, e pela a falta de políticas publicas para uma educação dos sujeitos do campo, muitos moradores estão migrando para municípios vizinhos em busca de melhores condições de vida. Além disso, destaca-se a desagregação constante e a extinção de uma cultura rica e de conhecimentos empíricos desses sujeitos, como resultado da desvalorização do sujeito do campo. Palavras-chave: Comunidade tradicional. Faxinal. Desagregação. Políticas públicas. Permanência. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 01 – MAPA DO BRASIL DIVIDIDO POR REGIÃO COM ÊNFASE PARA O ESTADO DO PARANÁ................................................ 16 FIGURA 2 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DE ALGUMAS REGIÕES QUE POSSUEM O SISTEMA FAXINAL NO ESTADO DO PARANÁ................ 17 FIGURA 03 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL EM RELAÇÃO AO ESTADO DO PARANÁ................................. 18 FIGURA 04 – MAPA DO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL, LOCALIZANDO A COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO......... 21 FIGURA 05 – VISUALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA SEDE DE TIJUCAS DO SUL A COMUNIDADE DE POSTINHO............................................... 22 FIGURA 6 - CRIADOURO LIVRE DE ANIMAIS DE GRANDE PORTE NA COMUNIDADE DE POSTINHO.......................................................... 24 FIGURA 7 - CRIADOURO LIVRE DE ANIMAIS DE PEQUENO PORTE NA COMUNIDADE DE POSTINHO.......................................................... 24 FIGURA 8 - ESTRADA DE TERRA NA LOCALIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO.......................................................................................... 25 FIGURA 9 - MATA BURRO NA LOCALIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO................................................................................................ 25 FIGURA 10 – HORTA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO................................................................................................ FIGURA 11 – ALGUNS ALIMENTOS PRODUZIDOS 26 PELOS MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO........ 26 FIGURA 12 – MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO EM SUAS ATIVIDADES TRADICIONAIS.............................. 27 FIGURA 13 – MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO EM SUAS ATIVIDADES TRADICIONAIS.............................. FIGURA 14 – MORADORA DA COMUNIDADE E 27 ALGUNS ALIMENTOS PRODUZIDOS NA COMUNIDADE: MEL, QUEIJO, BOLACHA CASEIRA E DOCE DE ABÓBORA......................................... 28 FIGURA 15 – FAMÍLIA INDO PARA A ROÇA FAZER A COLHEITA DE MILHO NA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO.................... 28 FIGURA 16 – GRADE E ZORRA INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO PLANTIO DOS ALIMENTOS..................................................................... 29 FIGURA 17 – GRADE E ZORRA INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO PLANTIO DOS ALIMENTOS..................................................................... FIGURA 18 - OTILIA OLIVEIRA BISCAIA MORADORA 29 DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO FAZENDO FARINHA 30 DE MILHO................................................................................... FIGURA 19 – MONJOLO INSTRUMENTO UTILIZADO NO PREPARO DA FARINHA DE MILHO........................................................................... 30 FIGURA 20 – SURURUCA, PENEIRA UTILIZADA NA PRODUÇÃO DA FARINHA DE MILHO................................................................................. 31 FIGURA 21 – CAIXA DE CONCRETO UTILIZADA PARA DEIXAR O MILHO EM GRÃO SUBMERSO NA ÁGUA PARA AMOLECER............... 31 FOTO 22 - DONA MARIA DAS GRAÇA MANTINS MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO QUE AUXILIA E REALIZA OS BENZIMENTOS E TRATAMENTOS COM ERVAS MEDICINAIS.............................................................................................. FIGURA 23 – IGREJA CATÓLICA DA COMUNIDADE FAXINALENSE 32 DE POSTINHO.......................................................................................... 33 FIGURA 24 – IGREJAS EVANGÉLICAS DA COMUNIDADE DE FAXINALENSE DE POSTINHO................................................................ 34 FIGURA 25 - CAVALGADA TÍPICA DAS FESTAS RELIGIOSAS TRADICIONAIS DA COMUNIDADE.......................................................... 34 FIGURA 26 - FESTA JUNINA TRADICIONAIS DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO................................................................ 35 FIGURA 27 - MORADOR DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO VACINANDO OS ANIMAIS.................................................... 35 FIGURA 28 - LUIZ IDINAR PEREIRA DE LIMA E LIVINO FURTADO MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO ASSANDO COSTELA DE FOGO DE CHÃO, COMIDA TÍPICA DAS FESTAS DA IGREJA CATÓLICA DA COMUNIDADE.............................. 36 FIGURA 29 – ALCINDO PEREIRA DE LIMA E SEU FILHO ANTÔNIO ADEMIR PEREIRA DE LIMA MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO................................................................ 37 FIGURA 30 – PRESERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA E DAS MATAS DE ARAUCÁRIA NA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO........... 38 FIGURA 31 – KAROLINE KATZMANN JOVEM MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO....................................... 43 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - REALIDADE DA VIDA ACADÊMICA DOS JOVENS MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO........................................................................................ 41 GRÁFICO 2 - PRETENSÃO DOS JOVENS DE CONTINUAR VIVENDO NA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO.......................................................................................... 42 GRÁFICO 3 – FORMA COM QUE OS PROFESSORES DO CAMPO DO MUNÍCIO DE TIJUCAS DO SUL REALIZARAM SUA GRADUAÇÃO............................................................................................ 44 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 9 2 DELINEAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO............................... 11 2.1 A LUTA DOS POVOS DO CAMPO POR UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E DIGNA AO SUJEITO DO CAMPO................................... 11 2.2 O ESTADO DO PARANÁ E O MODO DE VIDA PECULIAR DOS FAXINAIS.................................................................................................. 14 2.2.1 A possibilidade de reconhecimento do Faxinal de Postinho em Tijucas do Sul.................................................................................... 18 2.2.2 O Postinho e sua característica como faxinal............................. 20 2.3 A EDUCAÇÃO DOS JOVENS DA COMUNIDADE TRADICIONAL FAXINALENSE DE POSTINHO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE VIABILIZAM O DIREITO A “IGUALDADE”............................................................................................ 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 46 REFERÊNCIAS......................................................................................... 48 9 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem o intuito de apresentar e discutir as questões relacionadas aos faxinais, aos modos de ser e de viver destes povos. Respeitando esta diversidade buscamos neste trabalho a valorização e o reconhecimento dos diferentes aspectos presentes neste contexto. Nesse sentido apresenta-se a afirmação de Simões (2009, p.14) sobre as características das comunidades tradicionais, pois como aponta o autor as comunidades tradicionais de faxinais no Paraná permanecem sendo realidades visíveis nos dias de hoje, apresentando as particularidades desta população, como o uso coletivo da terra para a criação de animais, habitação, o uso da terra para o plantio, as festas tradicionais, a crença em benzimentos e curandeiros além da preservação das matas de araucária. O questionamento sobre o modo de vida das comunidades faxinalenses iniciou por sermos professoras e moradoras da comunidade do Postinho, que apresenta algumas das características do sistema faxinal e ao percebermos em nossa prática docente pouco, ou melhor, nenhum conhecimento sobre a realidade da comunidade faxinal, sentimo-nos instigadas a investigar e retratar a realidade vivenciada pelos moradores desta comunidade. A partir do momento de nossa inserção no curso de Pós-Graduação em Educação do Campo, no final do ano de 2013, pela Universidade TUITI do Paraná, tornou-se possível a realização desta pesquisa na comunidade do Postinho situada no perímetro rural aproximadamente 25 quilômetros distante da sede do município de Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba estado do Paraná. Mediante leituras realizadas constatamos as peculiaridades do modo de vida das pessoas da comunidade caracterizada como faxinal. Alguns dos autores que inspiraram nossa pesquisa foram: Simões (2009) que desenvolveu seu trabalho na comunidade Taquari dos Ribeiros propondo compreender os impactos da territorialidade e as Políticas Públicas Educacionais nas comunidades tradicionais faxinalenses, Tavares (2008) descreve os faxinais do estado do Paraná e as características deste modo de 10 vida em seus diversos aspectos e Caldart (2011) que traz reflexões sobre a luta dos povos tradicionais na perspectiva da Educação Básica do Campo. Um dos objetivos inerentes a esta pesquisa fez-se em torno da desagregação constante das famílias da comunidade de Postinho perante a falta de políticas públicas que garantam uma vida digna aos moradores do faxinal. Um dos fatores decorrente da desagregação deste povo, diz respeito à condição do acesso e à escolarização, pois na comunidade existe uma escola municipal que atende as crianças que estão nos anos iniciais de Pré-escola I e II ao 5º ano do ensino fundamental, e para aqueles que desejam dar continuidade a vida escolar é preciso se deslocar para a sede do Município de Tijucas do Sul. Neste sentido, alguns questionamentos se fizeram presentes, a saber: 1) se os jovens tem interesse em dar continuidade á vida escolar? Como irão fazer para conseguir dar essa continuidade? 2) se pretendem continuar morando nesta comunidade? 3) quais são as dificuldades que encontram nesta comunidade? Para dar conta de apresentar as reflexões propostas nos questionamentos desta pesquisa o trabalho encontra-se estruturado em cinco tópicos; no primeiro momento apresentamos uma reflexão sobre a luta dos povos do campo por uma educação de qualidade e digna ao sujeito do campo e as necessidades destes conhecimentos na formação docente. Em seguida traremos a gênese dos faxinais acompanhado do conceito e das características deste modo de vida, juntamente com um breve histórico dos faxinais no Estado do Paraná. Num terceiro momento retratamos o histórico e a possibilidade de reconhecimento do sistema faxinal no Município de Tijucas do Sul. Em um quarto momento, apresentamos um panorama das características dos faxinais que compreende a organização da comunidade do Postinho. Em seguida traremos a discussão da educação dos jovens da comunidade tradicional faxinalense do Postinho e as Políticas Públicas que viabilizam o direito a “igualdade” da população que reside no campo. Por fim apresentamos algumas reflexões sobre as dificuldades encontradas pelos jovens da comunidade em dar continuidade à vida escolar e da permanência dos moradores nesta comunidade. 11 2 DELINEAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO 2.1 A LUTA DOS POVOS DO CAMPO POR UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E DIGNA AO SUJEITO DO CAMPO. A partir da década de 60 a Educação dos Povos do Campo é uma luta que vem tendo grande intensidade, instigada pela proposta da pedagogia libertadora de Paulo Freire e expandida pelos movimentos sociais e sindicais contra uma lógica excludente historicamente no Brasil, uma característica é a educação como direito de poucos. Neste contexto surge o movimento nacional “Por uma Educação do Campo” que aliada aos órgãos governamentais, aos estudiosos das universidades e de um coletivo de sujeitos que indagavam as fragilidades sociais e educacionais, firmaram o compromisso de cobrar direitos no campo. A Educação do Campo denuncia todas as formas de exploração e das contradições presentes na sociedade lutando contra um sistema que oprime e desrespeita o sujeito do campo. Torna-se emergente repensar e levar em consideração a valorização da identidade, modos de vida, cultura e a relação do trabalho muitas vezes distantes da realidade vivida. Vivemos cotidianamente resistindo a uma sociedade capitalista e que não é nada fácil mudar um paradigma firmado num ideário urbano. O pensamento tradicional indica que só é possível realizar praticas pedagógicas distantes da realidade. Freire faz a reflexão sobre o ensino tradicional como um ensino bancário, neste sentido o conhecimento é depositado ao educando e sacado ao fim do período. Nesta perspectiva não há valorização do aprendizado e por consequência ficam de lado as indagações sobre as injustiças sociais que os alunos vivenciam. É preciso repensar numa concepção de Educação do Campo lutando por um projeto que ao invés do individualismo seja construído um coletivo instigando e indagando as contradições presentes no cotidiano; e que ao invés de um ensino fragmentado haja um ensino interdisciplinar, significativo e coerente que envolva as questões da realidade, ou seja, fundamentada numa prática problematizadora que segundo Paulo Freire (1987) É preciso se libertar 12 das opressões que vivenciamos a todo o momento e para isso é preciso lutar coletivamente. Caldart traz reflexões a respeito da Educação do Campo como princípios extremamente importantes para formação humana: 1)Intencionalidade política; 2) Uma visão de totalidade na sociedade; 3) Relação de política agrária e uma política de educação frente a diversas aspectos (agricultura, saúde e educação); 4) A luta de uma agricultura capitalista exterminando o agronegócio lutando por um projeto educativo que favorece a agricultura familiar, agroecologia e a reforma agrária; 5) É preciso superar a visão de que o urbano se prevalece como desenvolvido e moderno desvalorizando a população do campo; 6) Luta pela garantia de políticas públicas que favoreçam o direito de educação em que esta seja no o sujeito tem direito de ser educado no lugar onde vive e do vinculada as suas necessidades tanto humana como sociais campo; 7) É preciso pensar em um projeto construído pelos sujeitos do campo e não para eles respeitando assim as organizações, as famílias, a comunidade, para que estes se assumam como sujeitos lutadores e construtores de seus direitos sociais (CALDART, 2004, p. 15-18). O decreto presidencial nº 7.352 de 4 de novembro de 2010 traz os princípios da educação do campo em seu art. 2o : I - respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia; II - incentivo à formulação de projetos políticopedagógicos específicos para as escolas do campo, estimulando o desenvolvimento das unidades escolares como espaços públicos de investigação e articulação de experiências e estudos direcionados para o desenvolvimento social, economicamente justo e ambientalmente sustentável, em articulação com o mundo do trabalho;III - desenvolvimento de políticas de formação de profissionais da educação para o atendimento da especificidade das escolas do campo, considerando-se as condições concretas da produção e reprodução social da vida no campo;IV - valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos pedagógicos com conteúdos curriculares e metodologias adequadas às reais necessidades dos alunos do campo, bem como flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;V - controle social da qualidade da educação escolar, mediante a efetiva participação da comunidade e dos movimentos sociais do campo (BRASIL, 2010). A educação é uma ligação entre descobrir o mundo e investir numa sociedade mais justa e igualitária para todos, por tanto a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento da educação qualitativa, pois ela é a ponte de ligação entre conhecimento e cultura, valores e identidade, porém desde que tenha um olhar aberto ao que há de mais humano, simples e avançado no 13 Campo Brasileiro, no entanto as escolas públicas ofertadas à população do campo em sua grande maioria encontram-se em condições precárias na estrutura física, sendo mais preocupante na estrutura pedagógica e de profissionais com visão ruralista/urbanista. No texto preparatório da primeira conferência nacional “Por Uma Educação Básica do Campo” os autores trazem os principais problemas enfrentados nas escolas do meio rural: Falta de infraestrutura e formação docente de qualidade; Ausência de apoio e ações de uma reconfiguração pedagógica; Currículo e calendário escolar distantes da realidade campesina; Falta de formação específica para a realidade do campo; Desarticulada as necessidades com relação ao trabalho dos diferentes grupos identitários: assalariados, camponeses movimentos e organizações sociais; Alheia a um projeto de desenvolvimento onde o campo e desvalorizado e o urbano enaltecido; Falta de organizações alternativas articulando o deslocamento dos jovens para estudar na cidade, desta forma trabalhando em prol da sua própria ruína; (FERNANDES; CERIOLI; CALDART, 2011, p. 38-39). Segundo o texto A Escola do Campo em Movimento no qual a autora Caldart (2011 p. 92-93) traz uma reflexão a respeito da educação nas escolas do campo partindo do Movimento Social Sem Terra MST, como exemplo de luta por uma educação como direito. Demonstrando, que ainda muitos são excluídos deste direito, pela condição de vida em que viviam, alegando também que as escolas tradicionais não tem lugar para os sujeitos sem-terra, assim como não tem lugar para o sujeito do campo, pois no que se refere a estrutura formal das escolas tradicionais estas não respeitam e não conhecem a realidade e os saberes, desses sujeitos. Desta forma foi percebendo-se está realidade em nosso entorno que destacamos a importância de lutar e buscar uma educação, que valorize os povos e comunidades tradicionais bem como está descrito no decreto 7352 de 4 de novembro de 2010 em seu artigo 6º: Art. 6o Os recursos didáticos, pedagógicos, tecnológicos, culturais e literários destinados à educação do campo deverão atender às especificidades e apresentar conteúdos relacionados aos conhecimentos das populações do campo, considerando os saberes próprios das comunidades, em diálogo com os saberes acadêmicos e a construção de propostas de educação no campo contextualizadas (BRASIL, 2010). 14 Podemos assim afirmar que a Educação do Campo precisa de um olhar atento e carinhoso a sua população, pois não basta ter escolas situadas no campo e didáticas impostas por uma sociedade que visa o pleno desenvolvimento do capital e enfatizar a valorização da área urbana, como se tudo o que há de melhor esta centrado nas grandes cidades. Para tanto se torna indispensável considerar os conhecimentos empíricos destes sujeitos e a sua realidade, respeitando e valorizando a identidade deste povo. Segundo Kolling, Cerioli e Caldart (2002, p. 88) sem reconhecer o campo e seus sujeitos não há como discorrer a propósito de uma educação digna aos povos tradicionais, é preciso compreender que são seres humanos que possuem direitos, constituíram e constituem a história, cultura e identidade que devem ser respeitados e legitimados perante seus direitos sociais e humanos. 2.2 O ESTADO DO PARANÁ E O MODO DE VIDA PECULIAR DOS FAXINAIS A gênese dos faxinais surge a partir da hipótese levantada pelo autor Tavares (2008, p.383) que aponta esse processo como uma herança cultural e social da aliança entre índios e negros indígenas escravocratas fugitivos de um sistema feudal, e que ao se encontrarem nas matas de araucária no Estado do Paraná surge á junção das culturas de cada grupo social como: o uso comum de terras para o plantio originário dos índios, a criação livre de animais pelos escravos africanos e a extração da erva mate por ambos os sujeitos sociais, constituindo assim as principais características do modelo de vida faxinal no início do século XVII, onde também imigrantes europeus, participantes da Guerra do Contestado, jesuítas espanhóis e principalmente camponeses do leste europeu, (Ucrânia e Polônia) contribuíram significativamente para a consolidação deste modelo de vida. Por meio da discussão que discorre o autor aponta que a formação do sistema faxinal está correlacionada á organização social, econômica e cultural que perpassa á décadas, e que é característico de comunidades do estado do Paraná. 15 O Paraná é um dos 26 estados do Brasil e está situado na Região Sul do País. Faz divisa com os Estados de São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, fronteira com a Argentina e o Paraguai e limite com o Oceano Atlântico. Ocupa uma área de 199.880 km². Sua capital é Curitiba, e outras importantes cidades são Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, Ponta Grossa, Cascavel, Guarapuava e Paranaguá. O clima paranaense apresenta diferenças marcantes, dependendo da região de tropical úmido ao norte a temperado úmido ao sul. A população é formada por descendentes de várias etnias: poloneses, italianos, alemães, ucranianos, holandeses, espanhóis, japoneses e portugueses, e por imigrantes procedentes, em sua maioria, dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. As economias dos municípios da Região Metropolitana de Curitiba estão entre as maiores do Estado. Em razão do dinamismo da indústria e dos serviços, Curitiba, São José dos Pinhais e Araucária são os municípios mais representativos no PIB do Paraná. No interior do Estado, Londrina e Maringá têm forte presença da agroindústria e dos serviços e, em Foz do Iguaçu, sobressaem às atividades ligadas ao turismo e à produção de energia elétrica. Já no litoral, Paranaguá se destaca pelas atividades ligadas ao Porto. Segundo o Ipardes, o Paraná é o maior produtor nacional de grãos, apresentando uma pauta agrícola diversificada. A utilização de avançadas técnicas agronômicas coloca o Estado em destaque em termos de produtividade. A cana-de-açúcar, o milho, a soja, a mandioca e o trigo sobressaem na estrutura produtiva da agricultura local, observando-se, em paralelo, forte avanço de outras atividades, como a produção de frutas. Na estrutura industrial do Estado, predominam os segmentos de veículos automotores, alimentos e refino de petróleo, responsáveis aproximadamente 58% do valor da transformação da indústria estadual. por 16 FIGURA 01 – MAPA DO BRASIL DIVIDIDO POR REGIÃO COM ÊNFASE PARA O ESTADO DO PARANÁ Fonte: portuguesdobrasil.com.br Tavares traz em sua tese a pesquisa de Chang realizada no ano de 1988 como uma das pesquisas pioneiras da descoberta sobre o sistema faxinal do Paraná, pois aos olhos do autor: Chang realizou uma das pesquisas pioneiras sobre os faxinais do Paraná, portanto, fundamental para que o meio acadêmico tomasse conhecimento dessa forma de organização social camponesa. Sendo a pesquisa de Chang a mais abrangente sobre o tema é, portanto, a mais divulgada e conhecida e possivelmente a mais polêmica. (TAVARES 2008, p.447). Os faxinais no Paraná, segundo Rocha e Martins (2007, p.209) se caracteriza assim: Faxinais são comunidades rurais que se estabeleceram no centro-sul do Paraná e que se constituíram historicamente como mecanismo de autodefesa do campesinato local buscando assegurar sua 17 reprodução social em conjunturas de crise econômica como a do tropeirismo e durante o ciclo da erva-mate, ou seja, entre meados do século XIX e a década de 30 do século XX. Tais comunidades possuem formas peculiares de apropriação do território tradicional, baseadas no uso comunal das áreas de criadouros de animais, recursos florestais e hídricos e no uso privado das áreas de lavoura, onde é praticada a policultura alimentar de subsistência com venda de pequeno excedente. Baseados em normas de conduta e de uso ambiental próprias, sobretudo na combinação de uso comum e privado dos recursos naturais, os faxinais são considerados uma forma de organização camponesa diferenciada no sul do país. (ROCHA, MARTINS, 2007, p.209) No estado do Paraná segundo Silva (2005) a distribuição de faxinais é assim: 14 faxinais na região de Guarapuava (...) nos municípios de Prudentópolis, Turvo e Pinhão (...) 15 faxinais na região de Irati (...) nos municípios de Rebouças, Mallet, Rio Azul e Inácio Martina (...) 02 faxinais na região de Pitanga (...) no município de Boa Ventura de São Roque (...) 03 faxinais na região de Ponta Grossa, Imbituva e Imbaú (...) 03 faxinais na região de União da Vitória (...) situados nos municípios de São Mateus e Antônio Olinto (...) e 07 faxinais na região de Curitiba (...) situados nos municípios de Mandirituba e Quitandinha (SILVA, 2005, p. 42). FIGURA 2 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DE ALGUMAS REGIÕES QUE POSSUEM O SISTEMA FAXINAL NO ESTADO DO PARANÁ Fonte: https://www.google.com.br 18 2.2.1 A possibilidade de reconhecimento do Faxinal de Postinho em Tijucas do Sul O município de Tijucas de Sul tem a sua economia voltada principalmente para agricultura e reflorestamento, possui poucas indústrias, um comércio pequeno, mas estável, cerca de 30 haras (devido ao clima propício para a criação de cavalos) e um potencial para o ecoturismo e o turismo rural. Vide figura 2. FIGURA 03 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL EM RELAÇÃO AO ESTADO DO PARANÁ Município de Tijucas do Sul Fonte: IPARDES, 2015. O munícipio de Tijucas do Sul é eminentemente rural e é uma das cidades mais antigas do estado do Paraná, porém teve sua emancipação somente no ano de 1951. Tijucas do Sul foi palco de um marco histórico e 19 significativo no cenário sociopolítico paranaense, por meio da Revolução Federalista, na qual seu povo lutou bravamente por seus ideais e na defesa de seu território. Segundo o censo do IBGE de 2010 o município de Tijucas do Sul tem aproximadamente 14.537 habitantes distribuídos entre 44 comunidades e dentre elas, a comunidade de Postinho que apresenta algumas das características do sistema faxinal, como o criadouro livre e comunitário de animais, a mão de obra familiar na subsistência das famílias, o respeito pelas tradições religiosas e a preservação das matas de araucária. O pesquisador Tavares traz em sua tese de doutorado a seguinte definição do sistema faxinal: Formação social tipicamente camponesa, silvo-agro-pastoril, com tradição secular de terras de uso comum, independente da propriedade ser privada ou não, que constrói, mantém e reconstrói seu território em uma combinação de três elementos inseparáveis (...) 1. Terras de uso comum no criadouro comunitário ou comumterras de criar e viver (...) 2. Cercas das terras de uso comum no criadouro comunitário ou comum- delimitam o criadouro das terras agrícolas (...) terras agrícolas- majoritariamente de propriedade privada e posses individuais (2008, p.573 – 574, grifos do autor). Nesse momento podemos articular que as particularidades presentes na descrição da tradição faxinalense é algo tipicamente encontrado na região do Centro-Sul do Paraná, tal qual apresenta o uso coletivo das terras de criar, a mão de obra familiar nas questões agrícolas, à crença na religiosidade e principalmente a preservação das matas de araucária. Segundo uma pesquisa realizada no ano de 2005 por Souza, com relação ao mapeamento social dos faxinais no Estado do Paraná juntamente com a rede Puxirão a qual trata do reconhecimento de comunidades tradicionais, discorrem sobre a hipótese de haver 9 comunidades tradicionais de faxinal no município de Tijucas do Sul, contudo em nosso trabalho apresentamos as peculiaridades da comunidade de Postinho que traz a identidade de um povo com gênese tipicamente camponesa . Na dissertação realizada por Cruz tendo como tema a reestruturação do Projeto Político-pedagógico das escolas municipais localizadas no campo no município de Tijucas do Sul, no desenvolvimento de sua pesquisa do Mestrado 20 em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná no ano de 2014, ressalta a pertinente questão exposta em torno da comunidade de Postinho. Segundo a autora a comunidade de Postinho tem a seguinte particularidade: Uma comunidade que apresenta características de um faxinal. Os moradores preservam costumes típicos culturais na comunidade, embora haja a degradação da mata nativa por meio da plantação de pinus e eucalipto, através das grandes empresas reflorestadoras. Há, ainda, na comunidade criadouro livre (CRUZ, 2014, p.133). Diante da descrição de Cruz apresentamos que com o passar do tempo comunidade do Postinho vem sofrendo algumas interferências no âmbito ecológico, pois segundo CORONA e SILVA que no ano de 2010 realizaram uma pesquisa pela Universidade Federal do Paraná UFPR apresentando como o tema de trabalho, “O global e o local: as empresas reflorestadoras e a comunidade cabocla de Postinho na Região Metropolitana de Curitiba”, tendo como objetivo principal do referido trabalho a analise no processo de mudança vivenciado pelos agricultores familiares desta comunidade bem como o confronto com as pressões e limitações que interferem na permanência em quanto formato social e cultural desta população. Os desafios mencionados por elas, é de que os moradores desta comunidade defrontam-se com as empresas reflorestadoras que estão estabelecidas na comunidade à aproximadamente 20 anos, a qual priorizam a plantação de pinus e eucalipto, sofrendo fortes alterações ambientais e assim extinguindo as características da vegetação natural desse local e o trabalho das famílias que residem nesta área. Essa dinâmica coloca em risco as condições no âmbito ecológico e social dos moradores, pois a localidade do Postinho sofre com as alterações ambientais por meio da retirada da mata nativa e o plantio de eucalipto e pinus, embora alguns dos moradores sustentem suas famílias com o árduo trabalho braçal exercido para essas empresas, não percebem que as mesmas estão explorando e ajudando na desapropriação de uma cultura e da desagregação de suas famílias por exigir a mão de obra barata e um rendimento de serviço. 2.2.2 O Postinho e sua característica como faxinal 21 A comunidade faxinalense de Postinho está localizada a aproximadamente 25 quilômetros da sede do Município de Tijucas do Sul estado do Paraná, faz divisa com Rodeio de Santa Cruz, Serra do Quiriri que pertence ao estado de Santa Catarina, Piraí, Taquaroca e Inga pertencentes ao estado do Paraná, vide figura 04. FIGURA 04 – MAPA DO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL, LOCALIZANDO A COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO Fonte: Câmara Municipal de Tijucas do Sul. 22 FIGURA 05 – VISUALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA SEDE DE TIJUCAS DO SUL A COMUNIDADE DE POSTINHO Fonte: Google Earth Segundo entrevistas com os moradores da comunidade de PostinhoPR, este nome surgiu em meados do ano de 1930 por meio da instalação de um posto fiscal que cubava caminhões carregados de madeira, instalado na divisa entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, na qual a população referia-se a Postinho com a intenção de identificar onde se localizava o posto fiscal que controlava a entrada e saída de caminhões madeireiros. Simões (2009 p. 12) descreve as comunidades faxinalenses do estado do Paraná como uma realidade concreta e contemporânea, fato esse observado na comunidade de Postinho, pois a mesma possui o uso coletivo da terra para a criação de animais, o plantio para subsistência familiar, a preservação das matas de araucária, a realização de festas tradicionais com comidas típicas, a prática de benzimentos e a crença das ervas medicinais na cura de doenças. Douglas Grzebieluka realizou uma pesquisa entorno das comunidades faxinais na tese de Mestrado em Gestão do Território pela Universidade Estadual de Ponta Grossa com o tema do referido trabalho: Comunidades de faxinal e suas dinâmicas sócio-espaciais: da formação à desagregação de uma tradição no município de Tibagi (PR) no ano de 2010, o qual o autor descreve 23 que o modo de vida faxinalense torna-se reconhecido como modo de vida tradicional a partir do ano de 2005, inserindo-se na luta pelos direitos de suas vivencias. A partir deste momento esse povo leva a nomenclatura de comunidade faxinalense. Grzebieluka (2010, p.47) destaca em seu trabalho o autor Löwen Sahr que traz algumas reflexões entorno das características das comunidades faxinalenses: Associam a pecuária, a agricultura, e o extrativismo, num sistema singular; Partilham o chão, ou seja, as terras do criadouro são de uso comum; Criam de forma coletiva animais de pequeno e grande porte soltos e misturados; Praticam uma agricultura de subsistência com instrumentos tradicionais (enxada, tração animal); Partilham as sementes, criações, produtos através de trocas; Praticam uma cultura de extrativismo (erva-mate, madeira, pinhão); Desenvolvem uma atividade agroflorestal e prezam pela conservação da biodiversidade; Possuem uma forte convivência e integração com o meio ambiente; Possuem uma historia e uma cultura própria; Preservam e respeitam as suas tradições, os seus costumes e a sua cultura (festas, rezas); Praticam uma religiosidade popular; Apresentam uma vida comunitária, solidaria e de união; Integram em sua convivência famílias com terra e famílias que não tem terra; Possuem normas e fazem acordos baseados na cultura e tradição; Trabalham de forma solidária em Multirões/Puxirões; Partilham os bens, os serviços e os conhecimentos; Lutam pela sobrevivência; Possuem alegria de viver, amor a natureza, liberdade, esperança, confiança e união. (GRZEBIELUKA, 2010, p.47. Apud SAHR, 2005, p.57). Uma das características marcante do sistema faxinal é o criadouro livre e comunitário dos animais, em que os moradores deixam os animais de pequeno e grande porte soltos em terras de criar, buscando na natureza seu alimento, este tipo de particularidade ocorre pela confiança existente entre os moradores destas comunidades, pois, Grzebieluka, diz que: A utilização de espaços coletivos para a criação de animais em ambiente da Floresta com Araucária é a característica que diferencia os Faxinais das outras comunidades tradicionais. Este principio é resultante da relação de confiança entre os faxinalenses (GRZEBIELUKA, 2010, p. 47-48) 24 FIGURA 6 - CRIADOURO LIVRE DE ANIMAIS DE GRANDE PORTE NA COMUNIDADE DE POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 7 - CRIADOURO LIVRE DE ANIMAIS DE PEQUENO PORTE NA COMUNIDADE DE POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. As comunidades faxinalenses destacam-se pelos cenários encontrados no meio rural os quais possuem aspectos peculiares da tradição camponesa , contendo estradas de terra, mata-burro, porteiras, casas de madeira, igrejas, bares, escola, comércio de pequeno porte, tanques de peixe, monjolo e hortas aos arredores das casas, deste modo Grzebieluka destaca que: 25 Nas comunidades rurais integradas ao Sistema Faxinal, encontramos uma paisagem rural típica com a presença de estradas de terra, porteiras, mata-burros, casas de madeira, casa de comercio, bares, igrejas, escolas, e barracões comunitários. Encontram-se também tanques de peixe, moinho, monjolos, fornos de pedra (...) (GRZEBIELUKA, 2010, p. 53-54). FIGURA 8 - ESTRADA DE TERRA NA LOCALIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 9 - MATA BURRO NA LOCALIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. 26 As comidas típicas deste povo é um diferencial presente na comunidade, pois na maioria são feitas do cultivo e de recursos próprios contidos na comunidade como o leite tirado da vaca e transformado em queijo, o mel extraído das abelhas, os ovos, os legumes e verduras das hortas. FIGURA 10 – HORTA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 11 – ALGUNS ALIMENTOS PRODUZIDOS PELOS MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. 27 FIGURA 12 – MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO EM SUAS ATIVIDADES TRADICIONAIS. Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 13 – MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DO POSTINHO EM SUAS ATIVIDADES TRADICIONAIS. Fonte: As autoras, 2014. 28 FIGURA 14 – MORADORA DA COMUNIDADE E ALGUNS ALIMENTOS PRODUZIDOS NA COMUNIDADE: MEL, QUEIJO, BOLACHA CASEIRA E DOCE DE ABÓBORA Fonte: As autoras, 2014. Na comunidade do Postinho as pessoas cultivam os alimentos, preparam as terras, plantam e colhem os produtos utilizando a mão de obra familiar e a utilização da tração animal como a carroça, arado, cultivador, grade, zorra, entre outras. FIGURA 15 – FAMÍLIA INDO PARA A ROÇA FAZER A COLHEITA DE MILHO NA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. 29 FIGURA 16 – GRADE E ZORRA INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO PLANTIO DOS ALIMENTOS. Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 17 – GRADE E ZORRA INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO PLANTIO DOS ALIMENTOS Fonte: As autoras, 2014. O monjolo é um instrumento típico de muita utilidade para o uso dos moradores da comunidade faxinalense de Postinho o qual serve para a produção de farinha de milho. A senhora Otilia Oliveira Biscaia moradora da 30 comunidade tem 91 anos e ainda costuma fazer a farinha de milho para o consumo da família, segundo o relato da senhora Otilia Biscaia: Pa pode faze a farinha é perciso debuia o mio e aventa ele na sururuca que é um tipo de penera dai dexa de moio no demoiador 24 hora, dai põe pa pindoca no munjolo por 1 hora depois penera a farinha e leva pa torra no forno dai ta pronta pa gente come. (sic) FIGURA 18 - OTILIA OLIVEIRA BISCAIA MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO FAZENDO FARINHA DE MILHO Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 19 – MONJOLO INSTRUMENTO UTILIZADO NO PREPARO DA FARINHA DE MILHO. Fonte: As autoras, 2014. 31 FIGURA 20 – SURURUCA, PENEIRA UTILIZADA NA PRODUÇÃO DA FARINHA DE MILHO. Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 21 – CAIXA DE CONCRETO UTILIZADA PARA DEIXAR O MILHO EM GRÃO SUBMERSO NA ÁGUA PARA AMOLECER Fonte: As autoras, 2014. Os moradores da comunidade faxinalense de Postinho ainda possuem a tradição de seus antepassados como benzimentos, simpatias e chás na busca pela cura das doenças. Esses benzimentos são feitos por pessoas mais velhas, onde seus ensinamentos são passados de geração para geração. Grzebieluka assinala os seguintes fotos a cerca das crenças dos faxinalenses: A crença em Benzedeiras, sempre esteve presente entre os moradores das comunidades rurais. A distância, aliada a falta de transporte, fazia das benzedeiras pessoas de destaque nas 32 comunidades. Sempre que surgiam problemas de saúde com as crianças, procurava-se uma benzedeira para que ela fizesse um benzimento e posteriormente receitasse um chá. Muitos moradores mantêm em seu quintal remédios caseiros como a hortelã, arruda e outras (GRZEBIELUKA, 2010, p.113). FOTO 22 - DONA MARIA DAS GRAÇA MANTINS MORADORA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO QUE AUXILIA E REALIZA OS BENZIMENTOS E TRATAMENTOS COM ERVAS MEDICINAIS Fonte: As autoras, 2014. Dona Maria da Graça Martins é moradora da comunidade faxinalense de Postinho e utiliza-se muito dos recursos naturais para curar algumas doenças e fazer seus benzimentos segundo ela: Eu uso muito as erva pa faze chá pa cura as pessoa, aprendi uns bensimento com minha família e hoje ajudo aqueles que presiza, tem muita gente que desconhece as coisa que eu tenho no quintar, tem muita erva pa tudo quanto e dor (sic) As atividades culturais presentes na comunidade faxinalense do Postinho são fortemente ligadas com a religiosidade dos moradores, uma das principais tradições na contemporaneidade deste povo é a cavalgada típica das festas da igreja católicas. A festa junina é também uma questão tradicional e religiosa que reverencia aos Santos. Encontram-se ainda as missionárias que são responsáveis por levar nas casas dos moradores a Santa Nossa Senhora de Fátima que é a Padroeira da comunidade, além disso, realizam o terço com as famílias mais próximas em forma de agradecimento. 33 No que tange a religião católica, é realizada uma vez por mês a missa com a presença de um padre, o qual se desloca da sede do município de Tijucas do Sul até a localidade e aos domingos os ministros das comunidades presidem as rezas com na comunidade. Uma questão de suma importância é o respeito à diversidade religiosa, pois na comunidade do Postinho encontra-se também a religião evangélica que possui sua doutrina de acordo com o estatuto de cada igreja e suas crenças, perante esta tradição religiosa é fortemente presente os cultos e as vigílias que são dias de oração, reflexão e louvor. FIGURA 23 – IGREJA CATÓLICA DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO. Fonte: As autoras, 2014. 34 FIGURA 24 – IGREJAS EVANGÉLICAS FAXINALENSE DE POSTINHO. DA COMUNIDADE DE Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 25 - CAVALGADA TÍPICA TRADICIONAIS DA COMUNIDADE. Fonte: As autoras, 2014. DAS FESTAS RELIGIOSAS 35 FIGURA 26 - FESTA JUNINA FAXINALENSE DE POSTINHO . TRADICIONAIS DA COMUNIDADE Fonte: As autoras, 2014. FIGURA 27 - MORADOR DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO VACINANDO OS ANIMAIS. Fonte: As autoras, 2014. 36 FIGURA 28 - LUIZ IDINAR PEREIRA DE LIMA E LIVINO FURTADO MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO ASSANDO COSTELA DE FOGO DE CHÃO, COMIDA TÍPICA DAS FESTAS DA IGREJA CATÓLICA DA COMUNIDADE. Fonte: As autoras, 2014. Os moradores desta comunidade descreveram que a vida era simples onde com pouco se tinha muito, pois para o cultivo e sustento da família havia a união no trabalho, e após um longo e cansativo dia de trabalho nas roças prevalecia a roda de conversa na varanda das casas com os vizinhos e ainda apreciando um chimarrão e uma “pura branquinha” (cachaça). Com relação ao plantio existia ainda o chamado “Pixirum” que era um grupo de pessoas que trocavam dias de serviços nas lavouras, e após o dia de trabalho o dono do terreno que se estava trabalhando oferecia um jantar com muita bebida e até um sanfoneiro para tocar um “bailinho” em forma de agradecimento. De acordo com o Senhor Alcindo Pereira de Lima morador do Faxinal da Comunidade do Postinho: Nos dia de hoje ainda agente ve as familha junto trabalhando na lavora e i passia de tarde na casa do vizinho pa prozia um pouco, e o “pixirum” não existe mais. Os bicho andum sorto por ai e agente so cerca o pedaço de terra que pranta. Mais a vida desse povo já foi mior porque hoje não da de vive so da lavora, presizamo busca arguma coisa que de mais lucro. (sic). 37 FIGURA 29 – ALCINDO PEREIRA DE LIMA E SEU FILHO ANTÔNIO ADEMIR PEREIRA DE LIMA MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO. Fonte: As autoras, 2014. O pinheiro é uma árvore nativa peculiar do estado do Paraná que é considerado símbolo do estado e das comunidades tradicionais de faxinal, a preservação do ecossistema perante os moradores do faxinal esta inteiramente ligada com a conservação de paisagens naturais do ambiente, que abrilhantam o dia-a-dia das pessoas que habitam esse belo lugar. Os moradores da comunidade faxinalense do Postinho retiram dos pinheiros o pinhão para o consumo próprio e a vendo como forma do aumento da renda familiar. Outra árvore nativa que auxilia os moradores no aumento da renda familiar é a erva mate que é uma espécie encontrada em meio às matas de araucária pelo fato de ser beneficiada pela projeção das sombras das araucárias. 38 FIGURA 30 – PRESERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA E DAS MATAS DE ARAUCÁRIA NA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO Fonte: As autoras, 2014. Perante a pesquisa realizada na comunidade de Postinho, além do favorável fato de sermos moradoras desta localidade é fácil descrevê-la como sendo um privilégio das pessoas que nela habitam, pois a vida é simples e tranquila, a felicidade é encontrada nas pequenas coisas da vida, como um simples cumprimento entre os moradores, o respeito mútuo e a solidariedade é presente entre as pessoas. Como mostra o referente trabalho a comunidade faxinalense de Postinho apresenta inúmeros aspectos do sistema faxinal, embora este modo de vida defronte-se com uma série de conflitos, iniciando pelo fato da dificuldade encontrada pelos jovens em dar continuidade aos estudos e a falta de emprego aos moradores percebe-se a importância da manutenção e preservação desta tradição, pois citamos abaixo o Decreto Estadual nº 3446/1997 que descreve o sistema faxinal como um modo de vida camponesa reconhecido pelas políticas públicas: Art.1º - Ficam criadas no Estado do Paraná, as Áreas Especiais de Uso Regulamentado - ARESUR, abrangendo porções territoriais do Estado caracterizados pela existência do modo de produção denominado “Sistema Faxinal”, com os objetivos de criar condições para a melhoria da qualidade de vida das comunidades residentes e a manutenção do seu patrimônio cultural, conciliando as atividades agrosilvopastoris com a conservação ambiental, incluindo a proteção da Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná). § 1º - Entende-se por Sistema Faxinal: o sistema de produção camponês tradicional, característico da região Centro-Sul do Paraná, 39 que tem como traço marcante o uso coletivo da terra para produção animal e a conservação ambiental. Fundamenta-se na integração de três componentes: a) produção animal coletiva, à solta, através dos criadouros comunitários; b) produção agrícola - policultura alimentar de subsistência para consumo e comercialização; c) extrativismo florestal de baixo impacto - manejo de erva-mate, araucaria e outras espécies nativas. § 2º - A ARESUR, na perspectiva do desenvolvimento do Sistema Faxinal, observará as disposições legais aplicáveis as Áreas de Proteção Ambiental - APAs, no que couber. § 3º - O Secretário do Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos definirá, através de ato administrativo apropriado, as ARESUR, caso a caso, por faxinal, contendo no mínimo: denominação, superfície e limites geográficos, diretrizes para conservação ambiental e instrumentos de apoio como: diagnóstico, justificativas, mapa e memorial descritivo. Art.2º - Só poderão ser registrados no Cadastro Estadual de Unidades de Conservação - CEUC, os faxinais que atenderem ao conceito contido no parágrafo 1º do artigo 1º. § 1º - Os faxinais registrados no CEUC, deverão ser anualmente avaliados e receberão tratamento diferenciado, levando-se em conta, dentre outras, variáveis como: densidade populacional, qualidade de vida das populações residentes, organização e participação comunitária e nível de comprometimento e empenho dos municípios para o desenvolvimento social e econômico dos mesmos. § 2º - Somente poderão ser consideradas para efeito dos benefícios previstos na Lei Complementar Estadual nº 59/91 e demais normas pertinentes, as áreas de criadouros comunitários dos faxinais registrados no CEUC, diferenciados por estágios de desenvolvimento. § 3º - Tanto a criação, quanto o benefício financeiro passível de ser creditado, de acordo com o previsto na Lei Complementar Estadual nº 59/91, poderão ser feitos a partir de manifestação de interesse do município, devendo para tal além da solicitação, apresentar proposta negociada com as comunidades, das ações a serem desenvolvidas, a partir, dentre outras, das variáveis a serem avaliadas anualmente, conforme previsão contida no § 1º, deste artigo. Art.3º - As Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento e da Cultura, desenvolverão programas e projetos específicos visando atingir os objetivos previstos no artigo 1º do presente Decreto. Art.4º - O presente Decreto será regulamentado no que for necessário ao seu perfeito cumprimento. Art.5º - Este Decreto entra em vigor nesta data, revogando-se as disposições em contrário (PARANÁ, 1997) Ao observarmos as preocupações citadas pelos moradores da comunidade do Postinho e ao analisar o decreto 3446/1997 percebe-se a importância do reconhecimento e a manutenção deste modo peculiar de vida encontrado nos faxinais, o qual é de extrema importância para as gerações 40 futuras no que diz respeito à preservação dos fatos históricos, culturais, ambientais e sociais dos sujeitos do campo. 2.3 A EDUCAÇÃO DOS JOVENS DA COMUNIDADE TRADICIONAL FAXINALENSE DE POSTINHO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE VIABILIZAM O DIREITO A “IGUALDADE”. A pauta da questão educacional é de suma importância e um dos fatores decorrente da desagregação deste povo, diz respeito à condição do acesso à escolarização, pois na comunidade existe uma escola municipal que atende as crianças que estão nos anos iniciais da Pré-escola I e II ao 5º ano do ensino fundamental, e para aqueles que desejam dar continuidade a vida escolar é preciso se deslocar para a sede do Município de Tijucas do Sul o qual se localiza á aproximadamente cerca de 25 quilômetros de distância e aqueles que pretendem ir em busca de uma especialização necessitam se deslocar para a cidade de São José dos Pinhais que da aproximadamente 70 quilômetros de distância da comunidade, portanto não conseguem continuar morando nesta comunidade e precisam ir embora para casa de parentes ou pagar aluguel em uma cidade mais próxima. Segundo Cruz retrata a dificuldade encontrada pelos jovens em dar continuidade a vida escolar após a conclusão do 5º ano do ensino fundamental: É uma comunidade bastante carente e com condições econômicas extremamente precárias. É considera uma localidade de difícil acesso, estrada de chão e quando chove fica difícil a locomoção dos moradores e alunos. Os moradores questionam sobre a distância para os alunos estudarem na sede (6º ao 9º ano e ensino médio) e pela falta de políticas públicas de incentivo a agricultura camponesa (CRUZ, 2014, p.135). Ao analisarmos o questionamento de Cruz e realizarmos uma pesquisa com aproximadamente 20 jovens moradores da comunidade de Postinho o gráfico abaixo retrata a realidade dos jovens que lutam por uma educação do campo de qualidade, tal qual percebemos ainda que este direito não foi conquistado pela falta de políticas públicas que garantam uma educação digna aos povos do campo. 41 GRÁFICO 1 - REALIDADE DA VIDA ACADÊMICA DOS JOVENS MORADORES DA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO. 6% 17% Alunos que concluiram o ensino médio Transferidos Alunos que não concluiram o ensino médio 77% Fonte: Organizado pelas autoras, 2014. É neste pensamento que Caldart descreve que a Educação precisa ser no e do campo. No: pois o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o lugar em que vive e, sobretudo com a sua participação vinculada em sua cultura e suas necessidades (CALDART, 2002, p.18). As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica tratam da educação do campo como algo inerente à própria sociedade, algo a ser valorizado e tratado com a deferida importância. A Educação do Campo, tratada como educação rural na legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social e com as realizações da sociedade humana (BRASIL, 2013, p.267). Ainda sobre a educação do campo e sua importância dentro do sistema educacional brasileiro, a Resolução CNE/CEB 1 de 3 de abril 2002. (Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de 2002. Seção 1, p. 32) traz no artigo 1º: 42 Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, 2013, p.282) Perante os descritos acima percebemos que o governo federal dispõe de leis e diretrizes para que a educação do campo seja entendida como algo essencial a sociedade e a preservação de suas tradições e respeitando as raízes do povo brasileiro, porém na maioria das vezes a realidade vivenciada pelas comunidades tradicionais é o oposto ao que se esta enfeitada nas leis e nos discursos políticos, pois como discorre Simões (2009, p.43) muitos dos direitos desta população são negados, combatidos, marginalizados e o Estado contribui com a injustiça social perante o homem do campo. GRÁFICO 2 - PRETENSÃO DOS JOVENS DE CONTINUAR VIVENDO NA COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO. 20 18 16 14 Alunos que pretendem permanecer morando na localidade 12 10 Alunos que não pretendem permaner na comunidade 8 6 4 2 0 Fonte: Organizador pelas autoras, 2014. Segundo o resultado apontado no gráfico 2 que foi obtido por meio de questionários respondidos pelos jovens da comunidade do Postinho foi 43 possível compreender o quanto é preocupante a visão dos entrevistados, pois o sentimento de pertença desses sujeitos está corroído pelo sentimento de descaso e abandono perante a sociedade. Os jovens trazem consigo uma angústia gerada pela falta de recursos essenciais para a permanência, o qual garanta uma vida digna e de qualidade aos moradores do campo, dentre alguns dos questionamentos fazem-se presentes: a falta de emprego, a dificuldade de acesso à educação superior, os cursos técnicos e a tecnologia. Segundo a jovem moradora da comunidade faxinalense de Postinho Karoline Katzmann, que hoje tem 14 anos de idade e cursa o 9º ano do ensino fundamental na sede do município de Tijucas do Sul, descreve as dificuldades de permanecer morando na comunidade de Postinho: Pretendo ir embora quando estiver na hora de cursar uma faculdade, pois aqui faltam oportunidades de estudo e emprego, as dificuldades são muitas desde a falta de internet para pesquisas até a falta de empregos e cursos profissionalizantes (sic). FIGURA 31 – KAROLINE KATZMANN COMUNIDADE FAXINALENSE DE POSTINHO. Fonte: As autoras, 2014. JOVEM MORADORA DA 44 O sentimento que os jovens moradores da comunidade faxinalense de Postinho possuem em relação a dar continuidade aos estudos é descrito por Caldart no texto A Escola do Campo em Movimento como uma visão de um circulo vicioso imposta pelas elites brasileiras: Um dos entraves ao avanço da luta popular pela educação básica do campo é cultural. As populações do campo incorporam em si uma visão que é um verdadeiro círculo vicioso: sair do campo para continuar a ter escola, e ter escola para poder sair do campo. Ou seja, uma situação social de exclusão, que é um dos desdobramentos perversos da opção de (sub) desenvolvimento do país, feita pelas elites brasileiras, acaba se tornando uma espécie de bloqueio cultural que impede o seu enfrentamento efetivo por quem de direito. As pessoas passam a acreditar que para ficar no campo não precisam mesmo de “muitas letras” (CALDART, 2011, p.110-111). A população do campo tem uma grande dificuldade em dar continuidade aos estudos, pois como mostra a pesquisa realizada com professores da rede educacional do município de Tijucas do Sul, em sua grande maioria optaram por fazer faculdade com ensino a distância que por sua vez é uma alternativa que garante o acesso e a permanência dos mesmos. Observe o gráfico 3: GRÁFICO 3 – FORMA COM QUE OS PROFESSORES DO CAMPO DO MUNÍCIO DE TIJUCAS DO SUL REALIZARAM SUA GRADUAÇÃO. Tijucas do Sul: 12% Graduação por ensino presencial Graduação por ensino a distância 88% Fonte: As autoras, 2014. 45 Segundo os entrevistados esta opção feita pela maioria é devido ao difícil acesso a faculdades que exigem a presença diária e a utilização da internet como meio de comunicação entre professores e alunos, pois nas comunidades do município de Tijucas do Sul a internet é um meio de comunicação utilizado pela minoria das pessoas. Caldart traz sua contribuição perante a permanência das pessoas do campo e o acesso à educação: O campo é um lugar de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a sua identidade cultural. O campo não é só o lugar da produção agropecuária e agroindustrial, do latifúndio e da grilagem de terras. O campo é espaço e território dos camponeses e quilombolas. É no campo que estão as florestas, onde vivem as diversas ações indígenas. Por tudo isso, o campo é lugar de vida e sobre tudo de educação (CALDART, 2011, p. 137). 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse trabalho foi retratar a realidade vivenciada pelos moradores da comunidade tradicional do Postinho que por sua vez apresenta um aporte significativo para a compreensão da realidade e das dificuldades enfrentadas pelos povos das comunidades faxinalenses. Neste sentido a intenção foi de trazer reflexões a respeito do modo de vida dos faxinais e as características presentes na comunidade faxinalense do Postinho, as dificuldades que este povo enfrenta para continuar morando nesta localidade, a falta de emprego que garanta o sustento das famílias e a vida digna desses sujeitos. O campo é um lugar de partilha em que estão presentes os valores sociais, econômicos e culturais de um retrato de vida simples mais com muitas contribuições perante a história deste país. Todavia, os problemas enfrentados pelos moradores das comunidades faxinalenses impõem aos moradores um ritmo diferente de vida e uma cultura em declínio, que acaba não resistindo as fortes pressões de uma sociedade capitalista. Visto que as políticas públicas voltadas aos moradores do campo e respectivamente do pequeno produtor rural são falhas, deixam estas comunidades a mercê da própria sorte, facilitando assim os conflitos decorrentes da falta de apoio do poder público, o qual gera a desagregação constante desta população. Outra questão inerente ao campo é que mais que um perímetro não urbano o campo é um espaço de vivências educativas e culturais entre os sujeitos e a terra. É pela educação dos Jovens e a dificuldade enfrentada por eles que se deve pensar em uma educação que atenda as especificidades destes sujeitos. Na comunidade faxinalense de Postinho é comum os jovens terem que se deslocar da comunidade onde vivem para assim dar continuidade a vida escolar, percorrendo aproximadamente cerca de 25 Km de distância em estradas de chão até a sede do município de Tijucas do Sul, ou em muitas situações acabam deixando suas famílias e indo morar com parentes nos centros urbanos para ingressar na faculdade em busca de uma vida menos sofrida e mais remunerada. 47 Esta pesquisa visou compreender a realidade de povos tradicionais frente a diversas determinações, também, gostaríamos não apenas de concluir uma tarefa acadêmica, mas sim buscar respostas satisfatórias que amenize a angústia que os moradores trazem em seu olhar, na busca de uma vida melhor e permanente nesta localidade. 48 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010. Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA. 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